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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000133171

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1030331-10.2016.8.26.0576, da Comarca de São José do Rio Preto, em que é apelante
GLOBORR INDUSTRIA E COMERCIO, IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA., é
apelado ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 11ª Câmara de Direito Público


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores OSCILD DE LIMA


JÚNIOR (Presidente) e JARBAS GOMES.

São Paulo, 5 de março de 2018.

Marcelo L Theodósio
Relator
Assinatura Eletrônica

11ª Câmara de Direito Público


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576

Apelante: Globorr Industria e Comercio, Importacao e Exportacao Ltda.


Apelado: Estado de São Paulo
Comarca: São José do Rio Preto
JUÍZO DE 1º GRAU: MARCO AURÉLIO GONÇALVES
Voto nº 11142
RELATOR: MARCELO L THEODÓSIO

APELAÇÃO DA EMPRESA EMBARGANTE - Embargos à


execução - Alegação da irregularidade da CDA, em especial
quanto aos itens I, 1 e II, 5, do AIIM e a abusividade dos juros,
sustentando a inconstitucionalidade da Lei Estadual n.º 13.918/09,
bem como quanto à multa, entende ser confiscatória.

Multa fiscal e juros moratórios (taxa Selic) - Admissibilidade


Multa - Exegese dos artigos 87 e 98 da Lei nº 6.374/89 e Lei
Estadual nº 9.399, de 21.11.1996 - Redução da multa ao patamar
de 20% (Orientação do C. STF), multa aplicada pelo fisco em
percentual elevado no patamar de 100% (fls. 85/87).

Quanto aos juros moratórios estipulados pela Lei nº 13.918/2009 -


Incidência afastada pelo Colendo Órgão Especial deste Egrégio
Tribunal de Justiça de São Paulo, de relatoria do Des. Paulo Dimas
Mascaretti na Arguição de Insconstitucionalidade nº
0170909-61.2012.8.26.0000, j. em 27/02/2013 - Atualização do
débito fiscal limitada à taxa Selic - O afastamento dos juros
previstos pela Lei Estadual nº 13.918/09 não tem o condão de
suspender a exigibilidade da integralidade do débito.

Precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo e do E.


Superior Tribunal de Justiça Sentença que julgou parcialmente
procedentes os embargos, mantida, com observação (redução das
multas para 20% (vinte por cento) - Recurso da empresa
embargante, parcialmente provido (redução das multas para
20% (vinte por cento).

Trata-se de embargos à execução fiscal proposta por


GLOBORR INDÚSTRIA E COMÉRCIO, IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA em
face da FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, alegou o embargante (1/15), em
síntese, a irregularidade da CDA, em especial quanto aos itens I, 1 e II, 5, do AIIM e a

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 2/17


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abusividade dos juros, sustentando a inconstitucionalidade da Lei Estadual n.º 13.918/09.


Finalmente, quanto à multa, entende ser confiscatória.

O embargado apresentou impugnação (fls. 104/111).

Houve réplica, reafirmando as teses da petição inicial (fls.


227).

A r. sentença prolatada em 1° de dezembro de 2016 (fls.


230/235), deu parcial provimento aos embargos, tão somente para determinar sejam
retificados os cálculos constantes da(s) CDA(s), excluindo-se dos mesmos os valores de
juros calculados na forma da Lei n.º 13.918/09, fazendo incidir apenas a Taxa SELIC,
bem como para reduzir o valor da multa para o percentual de 100% do valor do tributo,
tudo para extinguir o feito com julgamento do mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC,
aplicável por força dos artigos 1º da Lei nº 6.830/80 e 771, parágrafo único do CPC.
Dada a sucumbência recíproca, condenou as partes no pagamento proporcional das
custas e dos honorários advocatícios fixados em percentual calculado sobre a diferença
entre o valor pretendido e o valor obtido com a r. sentença. Todavia, deve-se ter em
mente a regra do trazida pelo § 3º do art. 85, do CPC/15, agora os honorários devidos
pela Fazenda devem ser estabelecidos em percentuais variáveis conforme o benefício
econômico obtido. Contudo, se tal regra vale para a Fazenda, por equidade, também
vale para a parte contrária, sob pena de se ferir de morte o princípio da igualdade. Assim,
fica estabelecido que se utilizará o menor percentual da faixa do benefício econômico
obtido. Todavia, também por equidade, deve-se observar que o percentual utilizado deve
ser sempre o menor se os benefícios econômicos obtidos pelas partes estiverem em
faixas diferentes, ou seja, se, por exemplo, após a liquidação por cálculos, for verificado
que a Fazenda sucumbiu em 30 mil salários mínimos, pagará honorários
correspondentes a 3% deste valor, já que este é o menor índice para a faixa. Mas, se o
percentual devido pela Fazenda for de 3%, esses mesmos 3% deve ser o percentual a
ser ser utilizados para calcular o montante de honorários devido pela parte contrária.
Assim, se a parte tiver sucumbido em 10 mil salários mínimos, ao invés de pagar o
percentual de 5% de horários, pagará 3%. É que o legislador poderia ter feito tal escolha,
mas ao fazê-lo, estava subordinado ao princípio da igualdade. Se favorecer o Estado,
impõe-se o favorecimento do indivíduo, porque não existe qualquer motivo para o
tratamento desigual. No caso de oposição de embargos de declaração manifestamente

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 3/17


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protelatórios, aplicar-se-á multa de até 2% sobre o valor da causa, nos termos do artigo
1.026, § 2º, do CPC, e, em caso de reincidência, a multa será elevada em até 10%, nos
termos do § 3º do mesmo artigo.

Inconformada, a empresa embargante interpôs recurso de


apelação às fls. 237/244, requerendo, em suma, seja dado provimento ao apelo, para
julgar procedente a ação.

Não houve contrarrazões.

É O RELATÓRIO.

O recurso da empresa embargante, comporta parcial


provimento (redução das multas ao patamar de 20%).

Enquanto a multa é aplicada como penalidade pelo não


cumprimento da obrigação tributária no prazo estipulado pelo ente tributante, os juros
moratórios mostram-se como uma espécie de indenização devida ao credor pela demora
no pagamento. Em vista disso, decidiu o Egrégio STJ que "é legítima a cumulação da
multa fiscal com os juros moratórios”, por não configurar bis in idem.

No mais, a multa de mora tem previsão legal nos artigos 87


e 98 da Lei nº 6.374/89, pois trata-se de sanção pecuniária de caráter penal pelo
inadimplemento da obrigação.

Assim, "não pago o tributo no prazo legal, corre contra a


devedora multa, juros e correção monetária, incidindo esta sobre a totalidade do débito.
A multa é devida, tendo caráter punitivo, não se confundindo com os juros".

A Lei Estadual nº 9.399, de 21.11.1996, que deu nova


redação ao art. 87, da Lei Estadual nº 6.374/89, dispõe que:

"Artigo 1º - Passam a vigorar com a seguinte redação os


Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 4/17
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dispositivos a seguir indicados da Lei nº 6.374/89, de 1º de


março de 1989:
X O art. 87 e seus parágrafos:
“Art. 87 O débito fiscal relativo ao imposto declarado ou
transcrito pelo fisco, nos termos dos artigos 56 e 58 e a
parcela devida por contribuinte enquadrado no regime de
estimativa, quando não recolhido no prazo fixado pela
legislação, fica sujeito à multa de 20% (vinte por cento)
sobre o valor do imposto corrigido monetariamente.”
Finalmente, "há compatibilidade entre a multa de mora, os
juros moratórios e a correção monetária, que são
instituições legais e distintas, a primeira similar de cláusula
penal, os segundos fruto do capital e a última critério de
atualização da dívida fiscal". Grifo nosso.

A multa aqui exigida, de seu turno, não é de natureza


moratória, e sim propriamente punitiva, sancionatória, e sua exigência acha-se ao
amparo do princípio da legalidade. Como decidido pelo E. Superior Tribunal de Justiça
em caso análogo:

"1. Multa e juros devidos, na relação tributária em exame,


por: a) a recorrida, por ter efetuado lançamento a maior e
ilegal em escrita fiscal, beneficiando-se de indevida correção
monetária do saldo credor do ICMS, no período de 1994 a
1999, não está isenta de arcar com a multa legal e a
totalidade dos juros devidos; b) o fato de ter agido sob o
amparo de medida liminar judicial, posteriormente cassada,
não afasta a sua responsabilidade pelas obrigações
acessórias acima identificadas; c) o fisco, mesmo no
período da vigência da liminar, não estava impedido de
lavrar autuação; só não podia exigir tributo; d) ser
impossível, por interpretação analógica, o afastamento de
multa prevista em lei; e) ao ser mantido, pelo acórdão
recorrido, a cobrança da obrigação principal,
consequentemente, a ela se incorporam os juros e multa

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 5/17


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previstas em lei; f) a indevida escrituração e apropriação de


créditos na escrita fiscal está plenamente reconhecida,
inexistindo norma legal que beneficie a recorrida para isenta-
la da multa e dos juros.
2. Obediência ao princípio da legalidade. Impossibilidade de,
por interpretação analógica, isentar-se o contribuinte de
multas e juros.
3. Ilicitude reconhecida e determinação do pagamento da
obrigação tributária (lançamento do crédito a maior do ICMS
feito indevidamente) pelo acórdão recorrido. Não há amparo
legal para a exclusão da multa e dos juros. 4. Recurso
provido." (STJ, R.Esp. 1015421-RS, 1a Turma, j . 20.5.2008,
DJe 23.6.2008, Rei. o Min. JOSE DELGADO).

Apesar disso, embora certo que a penalidade esteja prevista


no regulamento do ICMS, é admissível a sua redução, porquanto fixá-la no patamar de
50% ou mais, do valor do tributo a título de penalidade revela-se confiscatório no caso.

Destaca-se, pois, que conforme fls. 85/87, constou


multa em percentuais de 100% (cem por cento).

É certo que a tese do confisco também não encontra


guarida na boa doutrina, conforme a lição de HUGO DE BRITO MACHADO (Curso de
Direito Tributário, 15ª. Ed.Malheiros, p. 37/38):

"A vedação do confisco é atinente ao tributo. Não à


penalidade pecuniária, vale dizer, à multa. O regime jurídico
do tributo não se aplica à multa, porque tributo e multa são
essencialmente distintos. O ilícito é pressuposto essencial
desta, e não daquele. No plano estritamente jurídico, ou
plano da Ciência do Direito, em sentido estrito, a multa
distingue-se do tributo porque em sua hipótese de incidência
a ilicitude é essencial, enquanto a hipótese de incidência de
tributo é sempre algo ilícito. Em outras palavras, a multa é
necessariamente uma sanção de ato ilícito, e o tributo,

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 6/17


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pelo contrário, não constitui sanção de ato ilícito. No plano


teleológico, ou finalístico, a distinção também é evidente. O
tributo tem por finalidade o suprimento de recursos
financeiros de que o Estado necessita, e por isto mesmo
constitui uma receita ordinária. Já a multa não tem por
finalidade a produção de receita pública, e sim
desestimular o comportamento que configura sua
hipótese de incidência, e por isto mesmo constitui uma
receita extraordinária ou eventual. Porque constitui
receita ordinária, o tributo deve ser um ônus suportável, um
encargo que o contribuinte pode pagar sem sacrifício do
desfrute normal dos bens da vida. Por isto mesmo é que
não pode ser confiscatório. Já a multa, para alcançar sua
finalidade, deve representar um ônus significativamente
pesado, de sorte a que as condutas que ensejam sua
cobrança restem efetivamente desestimuladas. Por isto
mesmo pode ser confiscatória".

Porém, a despeito da possibilidade das multas poderem, no


plano doutrinário, ser confiscatórias, é importante para que não se tornem espoliativas,
destrutivas da própria atividade econômica do devedor, e do próprio recolhimento de
outros tributos, que também se submetam aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, cuja aplicação se baliza pela gravidade das infrações. Essa é a
orientação do C. STF:

“1. Recurso extraordinário. Repercussão geral. (omissis) 4.


Multa moratória. Patamar de 20%. Razoabilidade.
Inexistência de efeito confiscatório. Precedentes. A
aplicação da multa moratória tem o objetivo de sancionar o
contribuinte que não cumpre suas obrigações tributárias,
prestigiando a conduta daqueles que pagam em dia seus
tributos aos cofres públicos. Assim, para que a multa
moratória cumpra sua função de desencorajar a elisão
fiscal, de um lado não pode ser pífia, mas, de outro, não
pode ter um importe que lhe confira característica

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confiscatória, inviabilizando inclusive o recolhimento de


futuros tributos. O acórdão recorrido encontra amparo na
jurisprudência desta Suprema Corte, segundo a qual não é
confiscatória a multa moratória no importe de 20%
(vinte por cento). 5. Recurso extraordinário a que se nega
provimento. (RE 582461/SP, Rel. Ministro GILMAR
MENDES, Plenário, j. 18.5.2011) (Grifos nossos).

Portanto, segundo os princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade, sendo certo, a redução da multa capitulada, conforme AIIM (fls.
76/84), para 20% (vinte por cento), e não como constou na r. sentença de 1º Grau.

Além disso, admite-se a cumulação da penalidade com os


juros vez que estes têm função remuneratória do capital e aquela, como já dito, punitiva.

Quanto aos juros, a questão foi examinada pelo Órgão


Especial desta Colenda Corte, por ocasião do julgamento da Arguição de
Inconstitucionalidade nº. 0170909-61.2012.8.26.0000, realizado em 27/02/2013, por meio
de V. Acórdão publicado em 26/03/2013, da lavra do Eminente Des. PAULO DIMAS
MASCARETTI, assim ementado:

“INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE - Arts. 85 e


96 da Lei Estadual nº 6.374/89, com a redação dada pela
Lei Estadual nº 13.918/09 - Nova sistemática de composição
dos juros da mora para os tributos e multas estaduais
(englobando a correção monetária) que estabeleceu taxa de
0,13% ao dia, podendo ser reduzida por ato do Secretário
da Fazenda, resguardado o patamar mínimo da taxa SELIC
- Juros moratórios e correção monetária dos créditos fiscais
que são, desenganadamente, institutos de Direito Financeiro
e/ou de Direito Tributário - Ambos os ramos do Direito que
estão previstos em conjunto no art. 24, inciso I, da CF, em
que se situa a competência concorrente da União, dos
Estados e do DF - §§ 1º a 4º do referido preceito
constitucional que trazem a disciplina normativa de

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correlação entre normas gerais e suplementares, pelos


quais a União produz normas gerais sobre Direito Financeiro
e Tributário, enquanto aos Estados e ao Distrito Federal
compete suplementar, no âmbito do interesse local, aquelas
normas - STF que, nessa linha, em oportunidades
anteriores, firmou o entendimento de que os Estados-
membros não podem fixar índices de correção monetária
superiores aos fixados pela União para o mesmo fim (v. RE
nº 183.907-4/SP e ADI nº 442) - CTN que, ao estabelecer
normas gerais de Direito Tributário, com repercussão nas
finanças públicas, impõe o cômputo de juros de mora ao
crédito não integralmente pago no vencimento, anotando a
incidência da taxa de 1% ao mês, “se a lei não dispuser de
modo diverso” - Lei voltada à regulamentação de modo
diverso da taxa de juros no âmbito dos tributos federais que,
destarte, também se insere no plano das normas gerais de
Direito Tributário/Financeiro, balizando, no particular, a
atuação legislativa dos Estados e do DF - Padrão da taxa
SELIC que veio a ser adotado para a recomposição dos
créditos tributários da União a partir da edição da Lei nº
9.250/95, não podendo então ser extrapolado pelo legislador
estadual - Taxa SELIC que, por sinal, já se presta a impedir
que o contribuinte inadimplente possa ser beneficiado com
vantagens na aplicação dos valores retidos em seu poder no
mercado financeiro, bem como compensar o custo do
dinheiro eventualmente captado pelo ente público para
cumprir suas funções - Fixação originária de 0,13% ao dia
que, de outro lado, contraria a razoabilidade e a
proporcionalidade, a caracterizar abuso de natureza
confiscatória, não podendo o Poder Público em sede de
tributação agir imoderadamente - Possibilidade, contudo, de
acolhimento parcial da arguição, para conferir interpretação
conforme a Constituição, em consonância com o julgado
precedente do Egrégio STF na ADI nº 442 - Legislação
paulista questionada que pode ser considerada compatível

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 9/17


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com a CF, desde que a taxa de juros adotada (que na


atualidade engloba a correção monetária), seja igual ou
inferior à utilizada pela União para o mesmo fim - Tem lugar,
portanto, a declaração de inconstitucionalidade da
interpretação e aplicação que vêm sendo dada pelo Estado
às normas em causa, sem alterá-las gramaticalmente, de
modo que seu alcance valorativo fique adequado à Carta
Magna (art. 24, inciso I e § 2º) Procedência parcial da
arguição.”.

Portanto, como entendeu esta Corte, a nova sistemática de


cobrança de juros moratórios incidentes sobre tributos e multas no âmbito do Estado de
São Paulo, decorrente das inovações impostas pela Lei Estadual nº 13.918/09, que
redundou na aplicação de taxa de juros de 0,13% ao dia, contraria a razoabilidade e
proporcionalidade, a caracterizar natureza confiscatória, além de violar a competência
concorrente entre União, Estados e Municípios para legislar sobre Direito Financeiro e
Tributário (CF, art. 24, inciso I e §§ 1º a 4º). Assim, é necessário se conferir à referida
norma estadual interpretação conforme à Constituição, em consonância com o julgado
precedente do Colendo STF na ADI nº. 442, a fim de que a taxa de juros adotada pelo
Estado de São Paulo (que engloba a correção monetária) para a atualização monetária
de seus tributos seja, sempre, igual ou inferior à utilizada à União para o mesmo fim.

E, embora se trate de decisão que não ostenta caráter


vinculante, e que não foi proferida erga omnes, por compartilhar do seu entendimento
adoto-a como razão de decidir.

O Estado de São Paulo ao editar a Lei nº 10.175/98,


determinou a suspensão da atualização monetária dos créditos tributários com base
na variação da UFESP, como dispunha o art. 97, da Lei Estadual nº 6.374/89. Assim
dispõem seus artigos 1º e 2º:

“Artigo 1º - Os impostos estaduais, não liquidados nos


prazos previstos na legislação própria, ficam sujeitos a juros
de mora.

Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 10/17


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§ 1º - A taxa de juros de mora é equivalente:

1 por mês, à taxa referencial do Sistema Especial de


Liquidação e de Custódia SELIC, para títulos federais,
acumulada mensalmente; (...)

Artigo 2º - A partir de 1º de janeiro de 1999 fica suspensa a


atualização monetária dos débitos fiscais.

§ 1º - Os débitos fiscais anteriores a 1º de janeiro de 1999,


ainda que constituídos após essa data, serão atualizados
monetariamente, nos termos da legislação aplicável a cada
caso, até 1º de janeiro de 1999, devendo, a partir desta
data, ser grafados em reais, observado, então, o disposto
no artigo 1º.”

Dessa forma:

“... Solidou a jurisprudência dos Tribunais superiores em


admitir ambos esses critérios de correção monetária nas
execuções fiscais referentes a ICMS, desde que, quanto à
aplicação da UFESP, os índices adotados não sejam
superiores aos federais de mesmos fins, o que não se
contrastou analiticamente na espécie”. Esse é o
entendimento firmado pelo Pleno do Colendo Supremo
Tribunal Federal ao julgar, em 1995, o RE 154.273 (Ministro
ILMAR GALVÃO), orientação abonada por vários e
sucessivos julgados dessa Corte.

A correção da dívida efetivou-se pela variação da taxa


referencial do SELIC, em harmonia com o entendimento
jurisprudencial que entende válida a aplicação da norma do
art. 1º da Lei de São Paulo 10.175/1998, unificando-se, num
só índice, as taxas de depreciação monetária e de juros
(AgR no Ag 649.394 STJ 1ª Turma Ministro LUIZ FUX;
REsp 753.207 STJ 2ª Turma Ministro FRANCISCO
PEÇANHA MARTINS; EREsp 623.822 STJ 1ª Seção
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Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI; REsp 617.867 STJ


1ª Turma Ministro LUIZ FUX).”1

Portanto, passou-se a aplicar a taxa SELIC como índice de


correção monetária e de juros moratórios, de forma legítima.

O E. Superior Tribunal de Justiça também já se pronunciou


acerca da legalidade da aplicação da taxa SELIC como índice de correção monetária,
nos Emb. Diverg. em Resp nº 623.822-PR, j. 24.08.05, D.O. 12.09.05, Rel. MIN. TEORI
ALBINO ZAVASCKI:

"TRIBUTÁRIO. ICMS. JUROS DE MORA PELA TAXA


SELIC. LEGALIDADE.
1. É legítima a utilização da taxa SELIC como índice de
correção monetária e de juros de mora, na atualização dos
débitos tributários pagos em atraso, diante da existência de
lei estadual que determina a adoção dos mesmos critérios
adotados na correção dos débitos fiscais federais.
Precedentes: EREsp 418940/MG, 1ª S., Min. Humberto
Gomes de Barros, DJ 09.12.2003; Resp 552049/SC, 2ª T.,
Min. Castro Meira, DJ 27.06.2005; Resp 586219/MG, 1ª T.,
Min. Teori Albino Zavascki, DJ 02.05.2005.
Embargos de divergência a que se dá provimento'.".

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Esta Egrégia 11ª Câmara de Direito Público já se


pronunciou quanto ao tema em voga, para tanto, destaca-se, pois, as ementas dos
eminentes Desembargadores Relatores LUIS GANZERLA e AROLDO VIOTTI:

"MANDADO DE SEGURANÇA - ICMS - Adesão ao


Programa Especial de Parcelamento de débitos Juros de
mora calculados nos termos da Lei Estadual nº 13.918/2009
- Pretensão de correção do débito, com exclusão dos juros,
tidos por inconstitucionais e aplicação do teto da Taxa
SELIC - Inconstitucionalidade da Lei Estadual n.º 13.918/09
reconhecida pelo C. Órgão Especial desta Corte - Sentença
de concessão da segurança mantida - Reexame necessário
e apelo fazendário não providos". (TJSP, Apelação /
Reexame Necessário nº 1037365-24.2014.8.26.0053, da
Comarca de São Paulo, em que são apelantes FAZENDA
DO ESTADO DE SÃO PAULO e JUIZO EX OFFICIO, 11ª
Câmara de Direito Público, Rel. Des. LUIS GANZERLA, j.
em 30/6/2015);

"Ação declaratória de inexistência de relação jurídica. Auto


de Infração e Imposição de Multa para cobrança de débitos
de ICMS. Incidência de juros de mora e multa. Alegação de
inconstitucionalidade da exigência dos juros de mora em
índices superiores àqueles previstos para os créditos
tributários federais (taxa SELIC), assim previstos na Lei
Estadual nº 13.918/09. Inconstitucionalidade da Lei Estadual
n.º 13.918/09 reconhecida pelo C. Órgão Especial desta
Corte. Competência concorrente (art. 24, l c.c. §§ 1º e 4º da
CF). Sentença de procedência mantida. Recursos oficial,
este tido por interposto, e voluntário improvidos". (TJSP,
Apelação nº 1044955-52.2014.8.26.0053, da Comarca de
São Paulo, em que é apelante FAZENDA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 11ª Câmara de Direito Público, Rel. Des.
AROLDO VIOTTI, j. em 31/3/2015);
Apelação nº 1030331-10.2016.8.26.0576 -Voto nº 11142 - ARG 13/17
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E, ainda:

"TRIBUTÁRIO - APELAÇÃO - Mandado de Segurança -


Programa Especial de Parcelamento PEP do ICMS -
Pretensão de correção do débito, com exclusão dos juros,
tidos por inconstitucionais e aplicação do teto da Taxa
SELIC, no cálculo do débito do Parcelamento Especial nº
20004701-9 - Inconformismo - Cabimento -
Inconstitucionalidade da Lei estadual 13.918/09 declarada
pelo Plenário deste Tribunal de Justiça - Inviabilidade de
aplicação do critério de atualização determinado por aquele
diploma - Precedentes deste Tribunal e do STF - Taxa de
juros aplicável ao montante do imposto ou da multa que não
pode exceder à Selic utilizada pela União para o mesmo fim
- Sentença mantida - Recursos oficial e voluntário não
providos". (TJSP, Apelação / Reexame Necessário nº
4008972-71.2013.8.26.0506, da Comarca de São Paulo, em
que são apelantes FAZENDA DO ESTADO DE SÃO
PAULO e JUIZO EX OFFICIO, 9ª Câmara de Direito
Público, Rel. Des. REBOUÇAS DE CARVALHO, j. em
11/3/2015);

"EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Ação declaratória de


inexistência de relação jurídico-tributária cumulada com
repetição de indébito. ICMS. Autos de Infração e Imposição
de Multa AIIM's. Créditos tributários quitados à vista e por
meio de programas de parcelamento. Insurgência em face
do índice de juros de mora aplicado, bem como em face da
forma de cálculo das multas punitivas. Sentença de primeiro
grau que julgou improcedente a ação. Acórdão que deu
parcial provimento ao apelo da autora para julgar
procedente em parte os pedidos e determinar o afastamento
do cômputo dos juros sobre os créditos tributários em
discussão com base na Lei Estadual nº 13.918/09, lei esta

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que alterou a redação do artigo 96 da Lei Estadual nº


6.784/89, o qual passou a prever a aplicação de juros de
mora no percentual de 0,13% ao dia, substituindo-os pela
taxa SELIC. Omissão, contradição ou obscuridade. Não
ocorrência. Caráter nitidamente infringente dos embargos.
Impossibilidade do recurso visando a modificação do
julgado. Prequestionamento. O propósito de
prequestionamento dos embargos deve estar condicionado
à existência de algum dos vícios indicados no artigo 535 do
CPC. O julgador não está obrigado a mencionar
expressamente todos os dispositivos legais e constitucionais
alegados para futura interposição de outros recursos.
Embargos rejeitados". (TJSP, Embargos de Declaração nº
1018701-42.2014.8.26.0053/50000, da Comarca de São
Paulo, em que é embargante FAZENDA DO ESTADO DE
SÃO PAULO, 9ª Câmara de Direito Público, Rel. Des.
OSWALDO LUIZ PALU, j. em 4/2/2015);

"ICMS - Programa Especial de Parcelamento. Juros


moratórios calculados nos moldes previstos nos artigos 85 e
96 da Lei Estadual nº 6.374/89, com a redação dada pela
Lei nº 13.918/2009. Observância da decisão proferida pelo
Órgão Especial deste Egrégio Tribunal de Justiça, quando
do julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade nº
0170909-61.2012.8.26.0000, Rel. Des. Paulo Dimas
Mascaretti, em 27/02/2013, que acolheu parcialmente a
aludida arguição, “para conferir interpretação conforme a
Constituição, em consonância com o julgado precedente do
Egrégio STF na ADI nº 442 Legislação paulista questionada
que pode ser considerada compatível com a CF, desde que
a taxa de juros adotada (que na atualidade engloba a
correção monetária), seja igual ou inferior à utilizada pela
União para o mesmo fim (...)”. Imposição da sistemática de
cálculo dos juros moratórios já declarada inconstitucional
viola os princípios da legalidade e da segurança jurídica, em

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especial, pela natureza “ex lege” da obrigação tributária.


Acolhimento parcial da pretensão, apenas para determinar o
refazimento do cálculo da planilha de fls. 47-51, adotando-
se a ele a mesma data e condições já aceitas pela
impetrante, sendo que em relação aos juros moratórios, o
percentual ilegalmente utilizado com base na Lei Estadual
nº 13.918/09 deverá ser substituído pela taxa SELIC.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO". (TJSP, Apelação
nº 1017409-56.2013.8.26.0053, da Comarca de São Paulo,
8ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. JARBAS GOMES,
j. em 26/11/2014).

Em vista disso, a atualização do débito deve se limitar à


taxa Selic.

Considera-se prequestionada toda matéria


infraconstitucional e constitucional, observando-se que é pacífico no Egrégio Superior
Tribunal de Justiça que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação
numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida. E
mais, os embargos declaratórios, mesmo para fins de pré-questionamento, só são
admissíveis se a decisão embargada estiver eivada de algum dos vícios que ensejariam
a oposição dessa espécie recursal (STJ, EDROMS 18205 / SP, Ministro FELIX
FISCHER, DJ 8/5/2006, p. 240).

Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso da


empresa embargante, a fim de reduzir as multas para 20% (vinte por cento). No mais,
mantida a r. sentença tal como lançada.

MARCELO L THEODÓSIO
Relat or

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