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- introdução
O útero pode ser dividido em colo, corpo e fundo uterino (parte superior do
útero, que fica acima de uma linha imaginária no nível das trompas uterinas). O colo
uterino tem um epitélio colunar, glandular monoestratificado que reveste sua parte
interna, no canal endocervical, que produz o muco do colo uterino, lubrificando-o e
facilitando a entrada do espermatozóide para permitir a gravidez. Na parte externa, o
colo é revestido por um epitélio escamoso e poliestratificado. Este epitélio é mais
resistente do que o colunar, protegendo o colo das agressões da vagina (pH ácido,
presença de germes, trauma da atividade sexual). Ele não é queratinizado (como a
pele), permitindo que sejam observados os vasos da submucosa do colo uterino,
dando a coloração rósea do colo uterino.
A transição entre o epitélio monoestratificado para o poliestratificado é abrupta,
e chamada de junção escamo-colunar. Nesta área, existe grande proliferação celular,
sendo a área mais suscetível às transformações neoplásicas.
Em diversas situações como traumas, alterações hormonais (gravidez, uso de
contraceptivos), na queda da imunidade (diabetes, HIV, tabagismo), o epitélio
glandular se exterioriza formando a chamada ectopia. Esta região de ectopia, formada
por um epitélio glandular exteriorizado no colo uterino, é recoberto lentamente por um
epitélio metaplásico na tentativa de recompor o epitélio escamoso original do colo
uterino, formando um terceiro epitélio dito terceira mucosa ou zona metaplásica.
A maioria dos cânceres do colo do útero se inicia nas células que revestem o
mesmo, na transição entre as partes interna (células glandulares colunares do canal
endocervical) e externa (células escamosas) do colo uterino, na chamada junção
escamo-colunar (JEC). Menos comumente, iniciam-se da parte interna do colo uterino,
no canal endocervical. Desta forma, existem basicamente, dois tipos principais de
câncer do colo de útero, o carcinoma de células escamosas (na junção escamo-
colunar) e o adenocarcinoma (no canal endocervical). Cerca de 80% a 90% dos
cânceres cervicais são carcinomas de células escamosas.
Durante as 3 últimas décadas os adenocarcinomas cervicais estão se tornando
cada vez mais comuns. Esse tipo de câncer de colo do útero se desenvolve a partir
das células glandulares produtoras de muco da endocérvice.
Embora quase todos os cânceres cervicais sejam ou carcinomas de células
escamosas ou adenocarcinomas, outros tipos de câncer também pode se desenvolver
no útero. Entre os outros tipos estão cânceres do colo do útero que têm características
comuns aos carcinomas de células escamosas e aos adenocarcinomas, são os
denominados carcinomas adenoescamosos ou carcinomas mistos, o melanoma,
sarcoma, e linfoma, que ocorrem mais frequentemente em outras partes do corpo.
O carcinoma de colo uterino é o segundo tumor mais frequente na população
feminina, atrás do câncer de mama, e a quarta causa de morte de mulheres por
câncer no Brasil. Prova de que o país avançou na sua capacidade de realizar
diagnóstico precoce é que na década de 1990, 70% dos casos diagnosticados eram
da doença invasiva. Ou seja: o estágio mais agressivo da doença. Atualmente 44%
dos casos são de lesão precursora do câncer, chamada in situ.
O INCA (Instituto nacional do câncer) tem estimativas de 15.590 novos casos
para o ano de 2014 e 5.160 mortes.
- prevenção do câncer de colo
As células normais do colo do útero podem gradualmente desenvolver
mudanças pré-cancerosas que podem ou não, evoluir para o câncer. Essas mudanças
pré-cancerosas são denominadas neoplasia intraepitelial cervical (NIC), lesão
intraepitelial escamosa e displasia. Estas alterações podem ser detectadas por
exames anuais de prevenção.
George Papanicolau, foi o primeiro a observar que a coleta de células do colo e
sua observação corada no microscópio, poderiam ser importante fator para
diagnóstico e prevenção. Nesta época, e classificou o exame, que recebeu seu nome,
em cinco categorias, de acordo com o estádio de normalidade ou não em relação ao
câncer de colo. Mais recentemente, na cidade americana de Bethesda, a citologia
oncológica do colo uterino recebeu nova classificação de interpretação de resultados
tentando padronizar os achados patológicos e determinando a conduta a ser tomada.
A prevenção do carcinoma cervical baseia-se na educação sexual como parte
importante da prevenção do carcinoma cervical, orientando-se o uso correto de
preservativos, desmotivando a promiscuidade sexual e o início precoce da atividade
sexual.
- fatores de risco
O fator de risco mais importante para desenvolvimento de lesões pré-
neoplásicas e de carcinoma invasor do colo é a infecção pelo papiloma vírus humano
(HPV). Aqui importante é entender a associação do vírus como um co-fator tumoral, eu
seja, ele participa, tem importante ação determinante, mas não obrigatoriamente, sua
infecção irá causar o câncer. A infecção pelo HPV é muito frequente, sendo a doença
venérea mais comum no mundo, atingindo quase 15% da população. Em geral, a
infecção é transitória, regredindo espontaneamente na maioria das vezes. Num
pequeno número de casos, a infecção persiste, e especialmente as causadas por vírus
oncogênicos, tem potencial em determinar lesões precursoras que podem evoluir para
o câncer de colo uterino. Existem centenas de vírus HPV, sendo 13 deles com
potencial oncogênico de alto, médio ou baixo risco. Os tipos 16 e 18 estão presentes
em 70% dos casos de câncer de colo uterino. Já as formas 6 e 11 são encontrados em
90% doas condilomas genitais e papilomas laríngeos, sendo considerados não
oncogênicos.
Outros fatores de risco secundários, são o início de atividade sexual precoce,
grande número de parceiros, baixo nível socioeconômico. O tabagismo também tem
influência porque a nicotina altera ou diminuí a ação da IgA relacionada com a
proteção de mucosas. Fatores como carências alimentares de vitamina C, caroteno e
folato. O uso de anticoncepcional hormonal oral foi aventado como fator de risco,
contudo, talvez a mudança de comportamento sexual da mulher em não utilizar o
condom durante a atividade sexual, dada à proteção contraceptiva da pílula, seria o
real fator de risco.
- conização à laser
Tem eficiência semelhante à conização tradicional, principalmente em casos de
lesões pequenas e identificáveis pelo exame colposcópico, e aquelas onde suspeita-
se de acometimento endocervical. Evidentemente, apresenta maior custo, pela alto
custo do aparelho. As evidências mostram que não há técnica cirúrgica claramente
superior para o tratamento das neoplasias intraepiteliais do colo. No entanto, deve se
dar preferência para o uso da conização clássica nos casos em que a lesão se
estenda profundamente pelo canal cervical e nos casos com diagnóstico de
adenocarcinoma in situ.
A histerectomia abdominal ou vaginal pode ser aceita como tratamento para as
pacientes com prole formada. É indicada para os casos em que o cone apresenta
margens comprometidas também em pacientes com prole formada.
Uma alternativa nas situações em que as margens do cone estão
comprometidas é o seguimento com citologia e colposcolpia, inicialmente trimestrais e
posteriormente semestrais, durante dois a três anos. Esta conduta é realizada porque
muitas lesões, podem regredir pela defesa imunitária da própria paciente. Se houver
condições locais pode ser efetuada nova conização, o que ainda é discutido por
muitos autores.
Para pacientes consideradas inoperáveis por doenças associadas, radioterapia
é a alternativa – braquiterapia. Durante a gravidez não está indicado tratamento para
lesões pré-invasoras do colo. No entanto, a paciente deve ser acompanhada com
exames trimestrais (citologia, colposcopia e eventualmente nova biópsia) para se
detectar a evolução para lesão invasora. Terminada a gestação, é feito a conduta
definitiva.
- adenocarcinoma in situ
Estas pacientes apresentam maior frequência de margens comprometidas nos
cones de doença residual mesmo com margens livres e taxas mais altas de
recorrência do que as que apresentam lesões epidermóides in situ. Por isso, a
histerectomia deve ser considerada tratamento mais seguro para estas pacientes.
- lesões microinvasoras até 3mm – Estadio Ia1
A frequência de linfonodos comprometidos é cerca de 1%, que torna a
linfadenectomia desnecessária. São as seguintes as alternativas para o tratamento
destas pacientes:
Conização com bisturi ou laser: Para mulheres que optam pela preservação da
fertilidade. O tratamento é suficiente para os casos em que não há invasão do espaço
vascular e linfático e o cone apresenta margens livres.