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O PATRIARCA YUHANNA MARUN

Neutralidade e dialogo

Terminada a guerra entre os dois generais bizantinos e os militares da nação


maronita, o Patriarca Yuhanna Marun conseguiu tomar uma posição de
independência e de neutralidade frente ao Império Bizantino de um lado e ao
Império Árabe do outro lado, mantendo inclusive, com competência, sabedoria e
coragem, relações de amizade com os dois Impérios inimigos.

O melhoramento dessas relações com os bizantinos aconteceu após a época de


Justiniano II. O Patriarca foi respeitado pelos principais dirigentes em
Constantinopla. Segundo alguns historiadores, o Imperador Tibério III (698-705),
em sinal de amizade e de alta consideração, mandou, a São Yuhanna Marun, uma
rosa de ouro acompanhada por uma carta. Nesta carta ele sugeriu a Sua Beatitude
de enviar, à Corte de Constantinopla, três jovens maronitas, para uma preparação
militar adequada, com os oficiais do Palácio Imperial, a fim de se erguerem mais
tarde ao alto grau de generais de sua nação maronita.

O Patriarca Georges, maximita Melquita, nomeado por Justiniano II em 686, faleceu


em Constantinopla no ano 702. O Imperador Tibério III não se interessou em
nomear outro Patriarca para a sede de Antioquia, já que esta estava ocupada por
São Yuhanna Marun. Por isso alguns historiadores pensam que a instituição do
Patriarcado Maronita foi neste mesmo ano ou um pouco mais tarde.

Assim, a neutralidade do primeiro Patriarca Maronita e a liberação da Nação


maronita da influencia bizantina facilitaram o dialogo com os Omyades. Segundo
alguns historiadores, entre eles Ibm Assaker, em sua obra ?Historia de Damasco?,
muitos Califas Omyades e muitos príncipes visitavam os conventos maronitas na
Síria e passavam alguns meses à procura de descanso, de cuidados médicos e para
aproveitar da extraordinária atmosfera literária, cientifica e cultural que reinava
neles. Nestes mosteiros foram descobertos também inscrições árabes da época
pré-islamica.

Além de califas e príncipes árabes, aqueles conventos foram freqüentados por


ministros e escritores, durante as épocas Omyades e Abassides. Os mosteiros
permaneceram prósperos até o século XIII. Muitos poetas cantaram com belos
poemas, a beleza natural, artística, arquitetônico dessas construções , exaltando
nelas centros de filosofia, de poesia, de medicina, de musica, de literatura, sem
esquecer do bom vinho.

Entre os Califas que viveram umas temporadas, e alguns morreram nestes


mosteiros, podemos citar Abdel Malek Ibn Marwan (685-705) que permanecia
quase toda a primavera no convento de Mar Marun, no subúrbio de Damasco. O
califa Alwalid Ibn Abdel Malek (705-715) viveu nos últimos anos de sua vida,
morreu e foi enterrado neste convento. Omar Ibn Abdel Aziz (717-720) visitava
freqüentemente o convento de Mar Semaan o Stylita, próximo de Maarat
Annehman. Os casamentos de alguns príncipes Omyades foram celebrados no
mosteiro de são Marun. Dos mosteiros mais freqüentados pelas autoridades
muçulmanas são aqueles conventos da província de Apaméia (Síria Central) e de
Damasco.

O historiador sírio Mohammed Kurd Ali disse de um deles: ? O Convento de Marun


encontrava-se na encosta do Monte Qassim frente a Damasco do lado oeste. Ele
estava rodeado de jardins e continuou florescente até o século VII da Hegira (
século XIII) foi freqüentado por Califas, poetas, príncipes e homens de letras. E
quando o califa Almaamoun veio de Bagdad a Damasco, residiu em Dayr Muran (
Convento de Marun). O mosteiro foi visitado também por vários Califas Abassides,
como Alrachid (766-786), Alwatheq (842-846).

Convém lembrar que os tratados trilaterais entre os Califas Omyades, os


Imperadores Bizantinos e os Mardaitas Maronitas aconteceram na época de São
Yuhanna Marun. Para se liberar das incursões dos Maradat dentro da capital do
Islam e de outras cidades importantes, o Califa Abdel Malek teve que pagar-lhes
anualmente uma quantia considerável de dinheiro e de tratá-los como o Estado
islâmico tratava os cidadoes islâmicos. Não foram mais considerados como
cidadoes de segunda classe. Toda vez que os Califas atrasavam no pagamento do
tributo, os Mardaitas. do cimo do mosteiro de são Marun frente a Damasco, faziam
lembrar aos responsáveis islâmicos, em voz alta, as suas obrigações determinadas
pelo tratado.

Os últimos anos de vida de Yuhanna Marun não foram tão agitados como os
precedentes. Conseguindo tomar uma posição de independência e de neutralidade
frente aos Impérios bizantinos e árabes, ele consagrou os últimos anos de calmaria
para completar a organização administrativa do país, para construir novas igrejas,
novas escolas, para incentivar o amor ao trabalho, à ordem, para consolidar no seu
povo o espírito de iniciativa e de independência. Assim, a união e a solidariedade
fortaleceram os Maronitas e os levaram a salvaguardar a sua liberdade e a
transformar a sua Igreja em Nação, como foi explicado anteriormente. Segundo o
historiador Inglês Gebbon, essa nação, apesar do numero reduzido de seus
membros, conseguiu realizar mais proezas úteis que aquelas realizadas pelo
grande Império de Bizâncio que a perseguiu.

Seu principal chefe político e religioso, seu fundador Yuhanna Marun faleceu
provavelmente no ano 707, em Kfarhay (região de Batrun) Além de uma grande
capacidade missionária, política e militar, ele mostrou uma alta superioridade
intelectual, escrevendo varias obras teológicas, históricas e litúrgicas.

Obras de Yuhanna Marun.

O estudo da autenticidade das obras de São Yuhanna (João) Marun exige uma
pesquisa profunda e detalhada, o que ultrapassa os limites de nosso trabalho. É
preferível agora citar as obras atribuídas ao primeiro patriarca Maronita ,
insistindo mais sobre a sua principal obra teológica ? Exposição da fé ? que já foi
estudada por vários pesquisadores cujas conclusões aceitamos voluntariamente. A
tradição oral e muitos historiadores enumeram as seguintes obras:

1 ? Exposição da fé .
2 ? Refutação dos Monofisitas e dos Nestorianos.

3 ? Tratado sobre o ?Trisagion?.

4 ? Tratado sobre o Sacerdócio.

5 - comentário da Missa,

6 ? Liturgia ( Anáfora) da Missa.

Do livro ?Exposição da fé ? existem dois manuscritos, o ? Paris Syriaque 203?,


copiado em 1470, e o ? Vaticanus Codex Ecchellensis 14, copiado em Haquel
(Jebeil) em 1392. J. S. Assemani apresentou um resumo do manuscrito do Vaticano,
com algumas anotações . F. Nau publicou uma tradução francesa do manuscrito de
Paris.

Os dois manuscritos compreendem, além do texto siríaco original, uma tradução


em língua árabe preparada pelo bispo maronita Thomas de Kfar-tab no ano 1100.
O tradutor, na sua introdução, confirma que a obra teológica foi escrita por São
João Marun, no primeiro mosteiro de são Marun, na província de Apaméia e
dirigida, de modo especial, à população do Líbano.

A obra ? Exposição da fé? cita e comenta, entre outras coisas, 67 fragmentos


autênticos de 24 obras patrísticas. Acerca de outras obras de São Yuhanna Marun
convém informar o seguinte: o ?Tratado sobre o sacerdócio? foi publicado com
notas criticas por Michel Breydy. A ?Refutação dos Monofisitas e dos Nestorianos?
foi traduzida em Frances por F. Nau.

Veracidade da tradição

Para concluir e resumir, fazemos nossa a opinião de Michel Breydy. Os argumentos


em favor da biografia tradicional de Yuhanna Marun podem ser recuperados ao
reconstruirmos a biografia do Papa Martin I. As conclusões deduzidas apóiam-se
facilmente sobre os 67 fragmentos tirados de 24 obras patrísticas e agrupados na
obra ?Exposição da fé? do primeiro Patriarca maronita.

Assim, após quase 1300 anos, a existência de São yuhanna Marun, sua santidade e
a legalidade de sua eleição patriarcal para a sede de Antioquia se baseiam melhor
sobre argumentos literários, litúrgicos e de tradição que sobre documentos
históricos escritos. A penúria destes documentos se deve, notadamente, ao
incêndio criminoso da rica biblioteca do mosteiro principal de são Marun sobre o
Oronte e a um conjunto de fatores político-religiosos do Oriente Próximo.

Com isso chegamos a uma conclusão que nos parece certa e definitiva, a daqueles
que confirmam a veracidade da tradição referente à santidade e à doutrina católica
de São Yuhanna Marun, à autenticidade de suas obras teológicas e à legitimidade
de sua eleição como primeiro Patriarca Maronita Antioqueno. A eleição aconteceu,
provavelmente, no ano 685. A partir desta data, os Maronitas sob a direção de São
João Marun e de seus sucessores, como chefes espirituais e temporais do povo
maronita, eram intransigentes em tudo o que dizia respeito à sua independência
nacional. Fora dessas situações eles mantiveram boas relações com o Império
Bizantino e com o Império árabe Omyade até o fim deste ultimo no Oriente, ano
750.

O segredo dessa força dos Maronitas, naquela época e durante todos os séculos de
sua independência, consiste na unidade, na solidariedade e na coesão do grupo que
os distingue. Eles formaram um só bloco, compacto, solidário, animado e inspirado
pelos ideais cristãos e por uma aspiração profunda à liberdade e à soberania
nacional.

Padre Emile EDDE M.L.

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