REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMPOSSIBILIDADE DO REEXAME DE PROVAS. SÚMULA N. 279 DESTE SUPREMO TRIBUNAL. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.
Relatório
1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III,
alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado da Turma Recursal de Rondônia:
“Contrato de venda e compra. Sem registro em cartório.
Propriedade. Comprovada. Contrato mais antigo. Contratos particulares de compra e venda e cessão de direitos de posse, são hábeis para comprovar a propriedade de imóvel, mesmo que não averbados em Cartório de Registro de Imóveis, pois em nossa região é comum o uso de tais contratos, mais conhecidos como ‘contratos de gaveta’. Quando há dois contratos desta espécie, será válido o mais antigo e, ainda, o mesmo será analisado com as demais provas trazidas aos autos, sendo certo que o mais crível e lastreado de provas será o válido” (fl. 173).
2. O Recorrente alega que o Tribunal a quo teria contrariado o art.
5º, inc. LV, da Constituição da República.
Argumenta que “os documentos apresentados nos autos comprovam a
propriedade e a posse legítima do requerente, tendo em vista que o mesmo apresentou uma cadeira de vereadores e compradores, com os devidos documentos de recibos referentes aos lotes (9 e 10) em discussão a partir de 1985, todos devidamente autenticados e sem rasuras” (fl. 193).
Sustenta que “os documentos apresentados pelo recorrido não provam a
veracidade dos fatos, quanto a sua legítima posse do imóvel” (fl. 194).
Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.
3. Razão jurídica não assiste ao Recorrente.
4. O Tribunal a quo afirmou que:
“Analisando os autos verifico que as partes juntaram aos autos
contratos particulares de compra e venda e cessão de direitos de posse, comprovando a propriedade do imóvel (fl. 13/22 e 110/112). Contudo, nenhuma das partes averbou o referido imóvel no Cartório de Registro de Imóveis. Contudo, em nossa região é comum o uso de tais contratos, mais conhecidos como ‘contratos de gaveta’, sendo que já está sedimentado tanto na doutrina como na jurisprudência, que eles também produzem efeito jurídico quando usados de boa-fé. Observo que os recorridos apresentaram documentos de compra e venda mais antigos, ou seja, iniciando uma ‘cadeia’ de venda e compra anterior ao do recorrente, além disso, demonstraram que estavam pagando regularmente o IPTU, demonstrando assim, a veracidade de suas alegações. Ademais, verifico que as testemunhas arroladas pelo recorrente em nada ajudaram, pois não souberam informar, de forma coesa, a propriedade do recorrente. Em contra-partida, as testemunhas dos recorridos trouxeram informações críveis que comprovam a propriedade destes, sendo que algumas delas, inclusive, participaram da negociação direta da área, objeto da lide. Por fim, tenho que o recorrente não trouxe aos autos prova contundente e crível de que é proprietário do imóvel em apreço, tendo apenas alegado e nada provado” (fl. 174-175).
Para se concluir de forma diversa do que foi decidido pelas
instâncias originárias, seria necessária a análise do conjunto probatório constante dos autos, procedimento incabível de ser adotado validamente no recurso extraordinário, conforme dispõe a Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal.
Nesse sentido:
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA LEGAL.
O recurso extraordinário não é meio próprio a alcançar-se exame de controvérsia equacionada sob o ângulo estritamente legal. RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MOLDURA FÁTICA. Na apreciação do enquadramento do recurso extraordinário em um dos permissivos constitucionais, parte-se da moldura fática delineada pela Corte de origem. Impossível é pretender substituí- la para, a partir de fundamentos diversos, chegar-se a conclusão sobre a ofensa a dispositivo da Lei Básica Federal. AGRAVO – ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – MULTA. Se o agravo é manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do Código de Processo Civil, arcando a parte com o ônus decorrente da litigância de má-fé” (RE 471.247-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe 11.2.2011).
“AGRAVO REGIMENTAL. REINTEGRAÇÃO DE
POSSE DE VEÍCULO AUTOMOTOR. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279/STF. Para se chegar a conclusão diversa daquela a que chegou o acórdão recorrido, seria necessário reexaminar os fatos da causa, o que é vedado na esfera do recurso extraordinário, de acordo com a Súmula 279/STF. Agravo regimental a que se nega provimento” (AI 702.280-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe 28.11.2008).
“ACÓRDÃO QUE DECIDIU A CONTROVÉRSIA
COM BASE NA PROVA DOS AUTOS E NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL PERTINENTE. Caso em que ofensa à Carta da República, se existente, dar-se-ia de forma reflexa ou indireta, não ensejando a abertura da via extraordinária. Incidência, ainda, no caso, da Súmula 279 desta colenda Corte. Agravo desprovido” (AI 457.368-AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Primeira Turma, DJ 21.10.2005).
Não há, pois, o que prover quanto às alegações do Recorrente.
5. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art.
557, caput, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).