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ESTUDO DA PLANTA DE AMENDOIM

Gil Miguel de Sousa Câmara1

2. A PLANTA DE AMENDOIM

2.1. Classificação Botânica


O amendoim é uma planta Magnoliopsida (Dicotiledoneae), pertencente à família
Fabaceae (Leguminosae) e ao gênero Arachis. Apesar do grande número de espécies
conhecidas, a única cultivada é Arachis hypogaea L., jamais encontrada em estado
selvagem.
O nome botânico dado à espécie fundamenta-se nas características da planta e
se refere ao modo do vegetal frutificar, ou seja, a planta emite flores na parte aérea,
porém, desenvolve os seus frutos debaixo (hypo) da terra (gaea).
Atualmente considera-se que a espécie Arachis hypogaea L. apresenta duas
subespécies: hypogaea e fastigiata. Dentro da primeira subespécie encontra-se a
variedade botânica hypogaea ao qual pertencem os amendoins do grupo vegetativo
Virgínia, também conhecido como tipo Runner. Na subespécie fastigiata encontra-se a
variedade botânica fastigiata com os amendoins do grupo vegetativo Valência e a
variedade botânica vulgaris com os amendoins do grupo vegetativo Spanish. Na tabela
1 encontra-se a atual classificação botânica do amendoim, segundo Cronquist (1981) e
Krapovickas & Gregory (1994).

2.2. Descrição Agrobotânica


A planta é anual, herbácea, pubescente, ramificada, de porte ereto ou rasteiro.
O sistema radicular é constituído de uma raiz principal pivotante e vigorosa, que pode
atingir profundidades superiores a 1,30 m. Dessa raiz, surgem numerosas raízes
laterais que se subdividem formando um conjunto bastante ramificado. Embora possa
atingir grande profundidade, cerca de 60% desse sistema se encontram nos primeiros
30 cm do solo (INFORZATO & TELLA, 1960). Como leguminosa, a planta apresenta
nódulos em seu sistema radicular, devido à presença de bactérias fixadoras do
nitrogênio atmosférico pertencentes ao gênero Rhizobium, do mesmo grupo do caupi.
Cerca de 15 dias após a emergência da planta, surgem os primeiros nódulos em
grande quantidade. São pequenos e se distribuem por todo sistema radicular,
principalmente nos primeiros 15 cm do solo.

1
Professor Associado do Departamento de Produção Vegetal da USP/ESALQ e responsável pela disciplina de
graduação LPV-506: Plantas Oleaginosas. Av. Pádua Dias, 11. Caixa Postal 9. 13418-970. Piracicaba-SP.
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Tabela 1. Classificação botânica do amendoim

Divisão Magnoliophyta
Classe Magnoliopsida
Ordem Fabales
Família Fabaceae
Subfamília Papilionaceae
Gênero Arachis
Espécie Arachis hypogaea (L.)
Subespécie hypogaea
Variedade hypogaea
Grupo vegetativo Virgínia
Subespécie fastigiata
Variedade fastigiata
Grupo vegetativo Valência
Variedade vulgaris
Grupo vegetativo Spanish
2n = 40

A parte aérea consta de uma haste principal com comprimento variável de 15 a


70 cm e ramificações primárias que podem medir de 20 cm a 70 cm de comprimento,
de acordo com os cultivares e as condições do ambiente. Alguns tipos de amendoim
apresentam ramificações secundárias. As hastes são de coloração verde ou purpúrea.
As folhas são alternas, constituídas de um pecíolo longo, de 4 a 9 cm de
comprimento e de dois pares de folíolos ovalados e elípticos. Na base do pecíolo
encontram-se duas estípulas longas de forma lanceolada.
As flores surgem nas axilas das folhas em inflorescência do tipo espiga que
produzem de três a cinco flores. A inflorescência é semelhante a um ramo vegetativo,
de dimensões muito reduzidas. Numa mesma axila normalmente abre-se uma flor por
vez, sendo rara a abertura de duas ao mesmo tempo. A flor é séssil e completa. O
cálice é verde e composto de cinco sépalas soldadas nas hastes, formando um tubo
calicinal que se insere na axila da folha; na parte superior ele é bilabiado, sendo o
lábio superior formado de quatro sépalas soldadas e o lábio inferior de somente uma
sépala. A corola é amarela com cinco pétalas inseridas na parte superior do tubo
calicinal; a pétala maior é o estandarte que apresenta diversos tons de amarelo, às
vezes com estrias de coloração diferente e que permitem diferenciar tipos e cultivares;
duas pétalas menores formam as asas, de tonalidade mais clara do que o estandarte e
finalmente, duas pétalas unidas nos seus bordos inferiores constituem a quilha ou
carena que envolve as anteras e o estigma. O gineceu consta de um ovário séssil, com
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dois a cinco óvulos, localizado ao nível da inserção do tubo do cálice; de um estilo que
percorre todo o comprimento do tubo, se recurva na corola e termina num estigma
pequeno em forma de clava. O androceu é formado por dez estames sendo oito
funcionais e dois estéreis reduzidos aos filetes; as anteras são de dois tipos: quatro
longas e quatro globosas.
Os frutos são vagens indeiscentes, uniloculadas, estranguladas, de cor amarelo
palha, com superfícies mais ou menos reticuladas, encerrando uma a cinco sementes
presas à face interna e ventral do pericarpo.
As sementes constam de um tegumento seminal delgado e do embrião. O
tegumento pode ser branco, rosado, vermelho, roxo, ou negro, inclusive manchado de
branco e vermelho. O embrião é constituído por dois cotilédones volumosos, ricos em
óleo e proteína e um eixo reto compreendendo um epicótilo de três gemas, uma apical
e duas cotiledonares, os elementos de seis a oito folhas e uma radícula; esta é
perceptível externamente como um pequeno bico branco das sementes.

2.3. Características dos Principais Constituintes da Planta

2.3.1. Ramas
As ramas apresentam bom valor nutritivo como forragem. Os folíolos
constituem a parte mais rica das ramas e seu conteúdo em minerais é cerca de duas
vezes maior do que o das hastes. O feno de amendoim, quando convenientemente
preparado, se destaca como fonte de proteína. Constitui um valioso subproduto a ser
utilizado como alimento para o gado. Sua composição, em comparação com a alfafa, é
apresentada na tabela 2. Para a utilização do feno de amendoim pode-se prever o
consumo de 1,0 kg por dia, como complemento da ração.

Tabela 2. Composição do feno de amendoim (%)


Extrato Não Extrato Proteína
Feno Umidade Proteína Celulose Cinza
Nitrogenado Etéreo Digestível
Amendoim 9,5 9,5 45,3 3,1 24,3 8,2 6,1
Alfafa 9,1 14,7 37,3 1,9 28,4 8,4 11,0

As quantidades de ramas produzidas por área variam de acordo com o cultivar


e as condições ambientais de cultivo. Uma estimativa precisa destes valores é difícil,
ainda mais, considerando-se que na fase de maturação dos frutos pode haver queda
de folíolos, naturalmente, ou por ataque de doenças. Para culturas bem conduzidas,
livre de pragas e doenças, com utilização de cultivares precoces e uma população de
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plantas de 250 mil a 300 mil por hectare, a produção de forragem fenada pode ser
estimada entre 3 a 5 toneladas por hectare.

2.3.2. Frutos (cascas e sementes)


A casca representa cerca de 25 a 35% da massa dos frutos secos. Seu principal
constituinte é a celulose que corresponde a 60 a 65% do total dos componentes. O
teor de proteína situa-se entre 6 e 7% e quanto a elementos minerais, é relativamente
pobre. Uma tonelada de cascas contém de 8 a 10 kg de nitrogênio, 0,3 a 0,5 kg de
fósforo, 6 a 8 kg de potássio, 1,5 a 2,5 kg de cálcio , 0,8 a 1,2 kg de magnésio e 0,7 a
0,8 kg de enxofre (tabela 3).
A semente, normalmente, apresenta 6 a 8% de umidade, 22 a 30% de proteína,
43 a 54% de materiais graxos (lipídios), 10 a 16% de carboidratos, 3 a 4 % de fibras e
1 a 3% de minerais. Contém, também, vitaminas como a B1, B2 e Niacina, que fazem
parte do complexo B, e a Vitamina E que desempenha importante papel sobre a
função reprodutora (tabela 3).
O tegumento seminal (película que envolve os cotilédones) representa 3% em
massa da semente; os cotilédones, 94% e o restante do embrião, 3%. Devido ao
tamanho, são os cotilédones que encerram a maior quantidade de proteínas, assim
como de óleo, cujo conteúdo varia de 45 a 50%.

2.4. Grupos Vegetativos e Cultivares


Os cultivares de amendoim existentes no mundo são diferenciados em tipos ou
grupos vegetativos, cujas classificações fundamentaram-se em características
hereditárias fenotípicas bem definidas, pouco influenciáveis pelas condições
ambientais. Assim, foram apresentadas propostas para classificação considerando-se
o porte das plantas, duração do ciclo vegetativo, o tamanho dos frutos, o número de
sementes por frutos, o período de vida latente das sementes, o tipo de ramificação
quanto a disposição das gemas reprodutivas e vegetativas.
A classificação hoje aceita leva em conta várias dessas características e
fundamenta-se na ordem de aparecimento das gemas reprodutivas e vegetativas nos
ramos. Classificações sucessivas de Gregory et al. (1951), Bunting (1955), Smartt
(1961) e Krapovickas & Gregory (1994) podem ser consideradas aperfeiçoamentos de
um mesmo sistema de classificação.
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Tabela 3. Participação percentual dos componentes do fruto do amendoim

Constituintes do Fruto
Componentes casca1 semente2
(%) (kg/t) (%) (kg/t)
Umidade - - 6- 8 60 - 80
Celulose 60 - 65 600 - 650 - -
Carboidratos 6- 7 60 - 70 10 - 16 100 - 160
Proteínas - - 22 - 30 220 - 300
Óleo - - 43 - 54 430 - 540
Fibras - - 3- 4 30 - 40
Nutrientes - - - -
N 0,80-1,00 8,0 - 10,0 5,43 54,3
P 0,03-0,05 0,3 - 0,5 0,58 5,8
K 0,60-0,80 6,0 - 8,0 0,75 7,5
Ca 0,15-0,25 1,5 - 2,5 0,13 1,3
Mg 0,08-0,12 0,8 - 1,2 0,30 3,0
S 0,07-0,08 0,7 - 0,8 0,25 2,5
1 A casca representa cerca de 25 a 35% do peso dos frutos secos.
2 Sementes (peso em %): película- 3%; cotilédones - 94% ; eixo embrionário - 3%.

Fonte: Sichmann (1972); Câmara et al. (s/d).

Assim, todos os cultivares de amendoim são separados em duas grandes séries:


a Série de Ramificações Alternadas que corresponde a amendoins do grupo Virgínia,
também conhecidos como do tipo Runner e a Série de Ramificações Seqüenciais nas
quais se incluem os grupos de amendoim Spanish e Valência.
As características principais da Série de Ramificações Alternadas (grupo
Virgínia) são: a) não se formam flores nos nós (axilas das folhas) da haste principal; b)
nas ramificações, os dois primeiros nós da base apresentam sempre gemas vegetativas
e os ramos apresentam, alternadamente, dois nós com gemas vegetativas e dois nós
com gemas reprodutivas, até terminarem com nós estéreis; c) o porte da planta pode
ser rasteiro ou ereto; d) as plantas são bastante ramificadas e seus ramos são
compridos; e) o ciclo vegetativo é longo, atingindo 120 a 150 dias em clima tropical; f)
os frutos são grandes, normalmente com duas sementes, raramente três; g) as
sementes apresentam, após a maturação fisiológica, um período de dormência,
variável de um a quatro meses de acordo com o cultivar; h) o óleo contido nas
sementes é pobre em ácidos graxos insaturados e a relação entre ácido oléico e ácido
linoléico é superior a dois.
As características principais da Série de Ramificações Sequenciais (grupos
Spanish e Valência) são: a) formação de flores nos nós (axilas das folhas) da haste
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principal; b) nas ramificações, os nós, a partir da base, apresentam sucessivamente


(sequencial) gemas reprodutivas em número variável antes de surgir um nó com gema
vegetativa, havendo certa irregularidade nessa sucessão; c) o porte das plantas é
sempre ereto; d) as plantas são pouco ramificadas, normalmente, com 4 a 6
ramificações primárias além da haste principal; e) o ciclo vegetativo é curto (cultivares
precoces) atingindo 90 a 110 dias em clima tropical; f) os frutos concentram-se na
base das plantas devido a maior quantidade de flores acumuladas nos primeiros nós
dos ramos; g) as sementes não apresentam período de vida latente, podendo, se
houver condições, germinar dentro do próprio fruto após a maturação fisiológica; h) o
óleo contido nas sementes é rico em ácidos graxos insaturados e a relação entre ácidos
oléico e linoléico é inferior a dois (GILLIER & SILVESTRE, 1970).
Os grupos Spanish e Valência se assemelham vegetativamente. No grupo
Spanish a haste principal tem menos inflorescências e seu comprimento é
aproximadamente igual aos dos ramos. A cor das hastes é normalmente verde. No
grupo Valência a haste principal se destaca sobre os ramos e raramente o número de
ramificações primárias é maior que quatro. As hastes freqüentemente são de coloração
marrom avermelhado. O elemento que melhor diferencia os dois grupos é o fruto: no
Spanish o fruto é pequeno (1 a 3 cm) contendo, quase invariavelmente, duas sementes
e no Valência, o fruto é longo (1 a 6 cm), contendo até seis sementes, comumente, três
a quatro (GILLIER & SILVESTRE, 1970).
Os grupos vegetativos se distribuem no mundo de acordo com as suas
exigências ecológicas e também, em função de como se deu a difusão da espécie
cultivada. Os grupos vegetativos pertencentes à Série de Ramificações Seqüenciais
predominam nos cultivos da América Latina, na Índia e na Indonésia. O grupo
Valência é mais cultivado nas regiões do Mediterrâneo, na Hungria e na Ucrânia. Na
África, Argentina e Estados Unidos, predominam os amendoins do grupo Virginia
pertencente à Série de Ramificações Alternadas, embora se encontrem nas regiões
equatoriais os grupos Spanish e Valência.
Os cultivares dos grupos Spanish e Valência de ramificações seqüenciais foram
os mais cultivados no Brasil, devido à facilidade de arranquio manual proporcionada
pelo porte ereto, e ao ciclo curto e ausência de dormência nas sementes, permitindo
dois cultivos anuais na maioria das regiões produtoras.
No estado de São Paulo, o cultivar preferido pelos agricultores sempre foi o
“Tatu”, lançado oficialmente nos anos quarenta. Ao longo dos anos noventa, o
predomínio absoluto foi do cultivar Tatu, tanto o de película vermelha, denominado
“Tatu Vermelho” (cor característica desse cultivar), como o de película creme,
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denominado “Tatu Branco”, responsáveis por, praticamente, 95% da área cultivada,


distribuindo-se os 5% restantes com outros genótipos.
Comparativamente a outras espécies como soja e feijão, sementes de amendoim
de elevada qualidade fisiológica são mais difíceis de se obter, devido aos seguintes
fatores: a) a semente se desenvolve sob o solo em ambiente mais úmido, exigido
melhor qualidade de colheita e de secagem; b) a semente possui elevado teor de óleo,
que se oxida rapidamente em condições adversas de armazenamento; c) sendo uma
cultura de rotação, predomina em solos de fertilidade média a baixa, nem sempre
corrigidos e devidamente adubados para a produção de amendoim, fazendo com que
as sementes sejam de qualidade inferior.
Devido à dificuldade de se obter quantidades significativas de sementes de boa
qualidade, o seu preço acaba se tornando mais elevado, onerando o custo de
produção. Isto faz com que o produtor utilize grãos como sementes, ou sementes de
menor tamanho, portanto mais leves, reduzindo assim, o seu custo. Em contrapartida,
a freqüência dessa atitude levou a uma certa degeneração varietal do cultivar Tatu no
estado de São Paulo, resultando em perda de qualidade da semente e de
produtividade.
Para resolver essa situação, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC)
desenvolveu, ao longo dos anos 1980 e 1990, um trabalho de “seleção por tamanho”,
resultando na seleção e obtenção de sementes genéticas de maior tamanho, isto é,
com ocorrência de peneiras superiores a 22 em freqüência acima de 48%. Como
resultado, surgiu o cultivar IAC Tatu ST (seleção por tamanho), que é o mesmo e
antigo cultivar Tatu, porém, selecionado por tamanho maior.
O cultivar IAC Tatu ST, de ramificação seqüencial, do grupo Valência, apresenta
ciclo vegetativo durante o período das águas de 90 a 110 dias. Suas vagens são
levemente estranguladas, de retículos pouco pronunciados, contendo três a quatro
sementes bem unidas, com película de coloração vermelha, com teor de óleo de 46%. A
renda média, isto é, a relação percentual de sementes para frutos é de 68%, ou seja,
de cada 25 kg de amendoim em vagem obtém-se 17 kg de grãos beneficiados.
Simultaneamente (anos 19980 a 1990), como resultado de intensa pesquisa e
observação por parte do Programa de Melhoramento Genético de Amendoim do IAC,
surgiu um novo cultivar denominado IAC-Caiapó, cujas principais características são
apresentadas na tabela 5. Esse cultivar, de ciclo mais longo e hábito de vegetação
mais prostrado, se destacou em meados dos anos 1990 até a virada do milênio, pela
sua ampla adaptabilidade ao sistema totalmente mecanizado de colheita de amendoim
na região paulista de Ribeirão Preto, Jaboticabal e adjacências, aonde evoluíram as
operações mecanizadas de arrancamento e enleiramento das plantas. Além disso,
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apresenta moderada resistência às principais doenças do amendoim e produtividade


agrícola superior à do cultivar Tatu. Porém, ao contrário deste, apresenta ciclo
cultural mais longo e dormência nas sementes, de maneira que, sua utilização, é mais
indicada para um único cultivo anual, correspondente ao “amendoim das águas”.
Além de IAC Tatu ST e IAC Caiapó, nas tabelas 4 e 5 são apresentadas as
principais características dos cultivares de amendoim de porte ereto (tabela 4) e
rasteiro (tabela 5), disponíveis aos produtores de amendoim das regiões Sul, Sudeste e
Centro Oeste do Brasil, durante os anos 1990 e início dos anos 2000.

Tabela 4. Características de cultivares de amendoim de porte ereto

Cultivares
Características Tatu IAC IAC
IAC 5 IAC 22
Comum Tatu ST 8112

Ciclo (dias) 90-110 90-110 110-120 110-120 110-120

Sementes/fruto 3-4 3-4 2 2 2

Dormência da
Não Não Leve Leve Leve
semente

Cor do
Rosa
Vm Vm Vm Castanha
tegumento Claro
Peso de
100 sementes 40-42 42-44 44-46 44-46 44-46
(g)
Renda
16-18 16-18 16-18 16-18 17-18
(kg grão sc-1 25 kg)
Renda (%) 64-72 64-72 64-72 64-72 68-72
Peneiras
18-22 20-24 22-26 22-26 20-26
predominantes:

Relação O/L 0,9-1,1 0,9-1,1 1,0-1,2 1,0-1,2 1,0-1,2

Produtividade
2.800 3.100 3.800 3.800 3.700
Média (kg ha-1)

Produtividade
4.000 4.500 5.000 5.000 5.000
Máxima (kg ha-1)
Doenças foliares: S S S S S
Fontes: Câmara et al. (s/d); Godoy (2000); Tasso Jr et al. (2004).
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Tabela 5. Características de cultivares de amendoim de porte rasteiro

Cultivares
Características
IAC-Caiapó Runner IAC 886

Ciclo (dias) 130-140 130

Sementes/fruto 2 2

Dormência da semente Acentuada Acentuada

Cor do tegumento Castanha Rosada


Peso de 100 sementes (g) 44-48 46-50
Renda
18-20 18-20
(kg grão sc-1 25 kg)
Renda (%) 72-80 72-80

Peneiras predominantes: 22-26 22-28

Relação O/L 1,8-2,0 1,6-1,8

Produtividade
4.000 4.500
Média (kg ha-1)

Produtividade
6.000 6.500
Máxima (kg ha-1)
Doenças Foliares

Mancha castanha MR S

Mancha preta MR S

Ferrugem MR S

Verrugose MR MR

Mancha barrenta R MR
Fonte: Tasso Jr. (2004).

Em meados dos anos 1990 iniciou-se a mudança no sistema de produção das


lavouras de amendoim do estado de São Paulo, que foi se consolidando ao longo da 1ª
década dos anos 2000 e continua no momento. A principal mudança foi a substituição
do trabalho manual de colheita, por outro totalmente mecanizado.
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Em contrapartida, houve a necessidade de mudança da base genética de


produção, deixando-se de usar, progressiva e cada vez menos cultivares de porte ereto
e precoces (grupos Spanish e Valência), substituindo-os por novos cultivares de porte
prostrado e ciclo mais longo (grupo Virginia).
Momentos antes, em 1987, foi identificada nos Estados Unidos dentro do grupo
Virgínia (Runner) uma nova linhagem de amendoim muito rica em ácido oleico (O),
alterando a relação deste ácido graxo com o linoleico (L). Essa característica, definida
por sequência específica de alelos denominados Ol1 e Ol2 passou a ser incorporada a
outros genótipos de amendoim, independentemente de grupos vegetativos.
Atendendo a demanda específica do mercado agroindustrial de amendoim,
passou-se a ter novos cultivares denominados alto-oleicos (AOL), com valores muito
elevados para a relação oleico/linoleico (O/L), da ordem de 70 a 80 para alguns
genótipos. Atualmente já se utilizam e cresce a demanda por novos cultivares do tipo
AOL no Brasil, alguns já desenvolvidos pelo Programa de Melhoramento Genético do
IAC (tabela 6).

2.5. Fenologia Descritiva do Amendoim


Fenologia é a parte da Botânica voltada à identificação e descrição das
sucessivas etapas de crescimento e desenvolvimento de um vegetal. Cada etapa,
momento, estágio ou estádio de desenvolvimento fenológico de uma determinada
espécie, corresponde a uma expressão morfológica (fenotípica), que por sua vez,
relaciona-se a um ou mais eventos fisiológicos.
Agronomicamente, o conhecimento detalhado da fenologia de uma espécie
cultivada constitui-se em ferramenta auxiliar e eficaz para a identificação do estado
atual de desenvolvimento da cultura. Através do monitoramento fenológico de uma
espécie cultivada, o produtor e ou o técnico responsável poderá prever ou identificar a
ocorrência de problemas relacionados ao ambiente ou à tecnologia da produção,
adotando com maior precisão, estratégias ou medidas práticas de manejo de forma a
prevenir ou corrigir o problema em questão.
O desenvolvimento dos sucessivos estádios fenológicos depende do adequado e
proporcional suprimento dos fatores de crescimento que se encontram no ambiente de
produção. Depende também das interações entre a planta e os fatores do meio,
principalmente os de natureza climática. Assim, a duração entre dois eventos
fenológicos sucessivos pode variar de situação para situação, o que torna imprecisa a
cronologia dos eventos observados. Independente desta, mais cedo ou mais tarde os
eventos fenológicos sucessivos ocorrerão; um após o outro.
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Tabela 6. Características de cultivares de amendoim com característica alto oleico

Cultivares
Características IAC IAC IAC IAC
503 505 OL 3 OL 4

Ciclo (dias)

Sementes/fruto

Dormência da
semente

Cor do

tegumento
Peso de
100 sementes
(g)
Renda
(kg grão sc-1 25 kg)
Renda (%)
Peneiras
predominantes:

Relação O/L

Produtividade

Média (kg ha-1)

Produtividade

Máxima (kg ha-1)


Doenças foliares:
Fontes:
TABELA A SER PREENCHIDA PELOS ALUNOS DA DISCIPLINA - 2016

A precisão da fenologia fundamenta-se no fato de que as plantas crescem e se


desenvolvem de maneira organizada e seqüencial, através de sucessivas e distintas
etapas. Por exemplo: nas angiospermas somente haverá formação de sementes, se
houver a concomitante formação dos frutos; estes dependem da ocorrência prévia do
florescimento e fecundação das flores; por sua vez, as estruturas reprodutivas da
planta só poderão surgir após o desenvolvimento dos sucessivos estádios fenológicos
vegetativos, que darão o suporte necessário aos órgãos de reprodução da planta.
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A presente descrição dos estádios de desenvolvimento da planta de amendoim


(Arachis hypogaea L.) tem por objetivo, padronizar e melhorar a comunicação entre as
pessoas direta ou indiretamente relacionadas ao ensino, pesquisa, difusão de
tecnologia e assistência técnica na cultura do amendoim, de maneira que possam: a)
estabelecer uma referência de desenvolvimento mais precisa para especificar os
requerimentos de luz, umidade, temperatura e nutricionais do amendoim; b)
identificar os períodos críticos da espécie quanto à competição interespecífica pelos
fatores de crescimento e às deficiências hídricas; c) estabelecer os momentos
fenológicos mais adequados para adoção de medidas de proteção vegetal da cultura
como aplicação de herbicidas, fungicidas, inseticidas e reguladores de crescimento e d)
ajudar na identificação do ponto de maturidade a campo para efeito de realização da
colheita do amendoim.
Durante o ciclo de vida, o vegetal superior apresenta duas fases bem
características: a vegetativa e a reprodutiva, sendo que a partir de um determinado
momento do ciclo fenológico do amendoim, ambas ocorrem concomitantemente. Esta
descrição fenológica fundamenta-se na observação morfológica dos eventos vegetativos
e reprodutivos que se sucedem durante a vida de uma planta ou de uma cultura de
amendoim. Entretanto, antes da descrição propriamente dita, serão revistos conceitos
básicos de botânica relacionados às principais estruturas morfológicas da planta de
amendoim.

2.5.1. Conceitos básicos


Nó: corresponde ao ponto de inserção de uma folha na haste principal da
planta ou em uma de suas ramificações.
Nó vegetativo: sinônimo de nó.
Axila foliar: refere-se ao ângulo formado entre o pecíolo da folha e a haste ou
ramificação na qual está inserida.
Nó maduro: nó vegetativo que apresenta uma folha madura.
Folha madura: considera-se uma folha de amendoim fisiologicamente madura,
isto é, atuando predominantemente como fonte fisiológica de fotoassimilados, a partir
do momento que atinge 50% de sua expansão final, em condições ambientais
favoráveis ao crescimento e desenvolvimento vegetativo.
Cicatriz foliar: toda folha ao terminar a sua função entra em processo de
senescência (amarelecimento) seguido de abscisão (queda). Entretanto, o tecido da
base do pecíolo foliar localizado no ponto de inserção da folha na haste permanece
aderido, formando uma cicatriz denominada cicatriz foliar.
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Cotilédones: são estruturas de armazenamento de sais minerais e substâncias


orgânicas macromoleculares que atuarão como reservas nutritivas durante os estádios
iniciais de crescimento e desenvolvimento da planta. Junto com o eixo hipocótilo-
radícula, constituem o embrião da semente.
Folha verdadeira ou tetrafoliolada: após a emergência dos cotilédones a
planta do amendoim (Arachis hypogaea L.) desenvolve somente folhas típicas dessa
espécie, com pecíolo longo (longopeciolada) e composta de quatro folíolos distribuídos
em dois pares: um terminal e outro sub-apical.

2.5.2. Critérios para identificação fenológica do amendoim


A descrição fenológica fundamenta-se na observação detalhada da haste
principal da planta, registrando-se a quantidade de nós formados e as respectivas
folhas maduras e ou estruturas de reprodução associadas.
Assim, o primeiro critério a ser observado refere-se à formação sucessiva de
nós maduros ao longo da haste principal.
O segundo critério refere-se à definição ou identificação de nó maduro para
efeito de caracterização de um determinado estádio fenológico vegetativo.
O terceiro critério, aplicável em nível de lavoura ou cultura de amendoim
refere-se à observação de uma amostra de plantas representativa de um universo de
indivíduos (população de plantas) localizados em área considerada agronomicamente
uniforme. Dessa forma, considera-se que a cultura se encontra em um determinado
estádio fenológico quando 50% das plantas apresentam morfologia caracteristicamente
descritora do estádio considerado.

2.5.3. Período vegetativo (V)


A identificação dos diversos estádios de desenvolvimento vegetativo
fundamenta-se na observação dos nós vegetativos sucessivamente formados sobre o
caule ou haste principal da planta de amendoim, iniciando-se a observação a partir da
emergência da planta.
Os nós vegetativos são utilizados para a determinação dos estádios fenológicos
por serem estruturas permanentes na planta e, portanto, identificáveis a qualquer
momento, enquanto as folhas podem se desprender da planta e cair ao solo (abscisão
natural ou perda acidental). Quando ocorre a abscisão das folhas, os respectivos nós
são facilmente identificáveis seja pela presença das estípulas, pelas cicatrizes que
deixam os pecíolos foliares ou pela presença de uma ramificação que se origina na
axila foliar (CHOLAKY, 1985).
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Para efeito de facilidade e agilidade descritiva, criaram-se as escalas fenológicas,


as quais fundamentam-se na associação ou combinação de letras e números (escala
alfa-numérica), cada qual identificando um estádio característico. Normalmente,
utilizam-se as letras maiúsculas “V” e “R” para identificar os estádios fenológicos
vegetativos e reprodutivos, respectivamente.
Os principais estádios fenológicos vegetativos do amendoim, seus símbolos e
respectivas descrições são apresentados a seguir:
Estádio VE: a planta de amendoim apresenta emergência do tipo epígea, isto
é, os dois cotilédones da semente são elevados acima da superfície do solo. Entretanto,
a emergência do tipo epígea não é tão proeminente nesta espécie, pois, normalmente,
na emergência epígea do amendoim os cotilédones emergem e se abrem muito rentes à
superfície do solo. Não raro, se apresentam parcialmente acima da superfície do solo.
Neste estádio também se observam as primeiras estruturas vegetativas da planta,
correspondentes às primeiras seis a oito folhas tetrafolioladas, parcialmente expostas
e ainda fechadas. Devido ao tamanho da semente e da plântula do amendoim observa-
se, previamente ao VE a rachadura (“cracking”) do solo (CHOLAKY, 1985).
Estádio V1: estádio fenológico vegetativo do primeiro nó maduro. O primeiro
nó situado acima do nó dos cotilédones apresenta a primeira folha madura, isto é, a
primeira folha tetrafoliolada com os quatros folíolos abertos, expandidos e em posição
horizontal. Observa-se o crescimento inicial de um par de ramos vegetativos de
inserção oposta na base da haste principal, que se desenvolvem a partir das gemas
localizadas no nó dos cotilédones, sendo um em cada axila cotiledonar.
Estádio V2: estádio fenológico vegetativo do segundo nó maduro. O segundo nó
vegetativo localizado na haste principal da planta e situado acima do primeiro nó (V1)
apresenta a segunda folha madura, isto é, a segunda folha tetrafoliolada com os
quatros folíolos abertos, expandidos e em posição horizontal. Simultaneamente ao
crescimento da haste principal, onde as folhas tetrafolioladas se inserem
alternadamente, o par de ramos basais prossegue o seu crescimento vegetativo
emitindo, também de forma alternada, suas folhas tetrafolioladas. Entre os estádios V3
e V5 os cotilédones murcham e caem. O desenvolvimento de folhas na planta
prossegue continuamente.
Estádio Vn: estádio fenológico vegetativo do “enésimo” nó maduro, ou seja,
“enésimo” nó vegetativo localizado próximo à extremidade apical da haste principal da
planta. Corresponde ao último nó superior da haste principal em que se observa uma
folha madura.
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2.5.4. Período reprodutivo (R)


Estimulada pelas condições ambientais, principalmente de temperatura e
umidade, a planta de amendoim muda da fase de desenvolvimento vegetativo para o
reprodutivo. Entretanto, observa-se nos cultivares de amendoim a simultaneidade
entre o florescimento e formação dos primeiros frutos e a atividade vegetativa, através
da continuação do crescimento das ramificações primárias, folhas e raízes.
Entretanto, este crescimento vegetativo paralisa antes do ponto de maturidade
fisiológica das vagens.
A identificação dos estádios reprodutivos do amendoim fundamenta-se na
observação da evolução do desenvolvimento das estruturas reprodutivas, a saber:
florescimento; formação de ginóforos; crescimento e desenvolvimento das vagens;
crescimento e desenvolvimento das sementes; maturidade fisiológica e maturidade de
campo.
As etapas de crescimento e desenvolvimento reprodutivo do amendoim são
semelhantes àquelas descritas por Fehr & Caviness (1977) para a soja, com exceção
do estádio R2, que se refere à formação e crescimento dos ginóforos e do estádio R9 que
significa o momento de maturidade avançada no campo, aplicável somente aos
amendoins que apresentam dormência de sementes (CHOLAKY, 1985).
Estádio R1: estádio fenológico reprodutivo do início do florescimento. É
caracterizado pela antese da primeira flor em qualquer nó vegetativo da planta, seja na
haste principal, seja em alguma ramificação primária. Lembrar que plantas do grupo
Virgínia não produzem flores na haste principal.
Estádio R2: corresponde ao início da formação do primeiro ginóforo, porém,
sem penetrar no solo. Este estádio ocorre, aproximadamente, entre 9 e 11 dias após o
estádio R1. O ginóforo origina-se no meristema localizado na base do ovário, que entra
em atividade estimulado pela autofecundação da flor. Segundo Smith (1960),
transcorrem de 5 a 7 dias entre a fertilização da flor e a visualização do alongamento
geotrópico do ginóforo, o qual demanda de um a dois dias para atingir o solo.
Estádio R3: estádio fenológico reprodutivo do início da formação da primeira
vagem. Este estádio ocorre, aproximadamente, entre 7 e 9 dias após o estádio R2.
Caracteriza-se pelo desenvolvimento inicial do fruto. Este se apresenta com diâmetro
igual ou com o dobro do diâmetro do ginóforo correspondente. Neste estádio,
intensifica-se a formação de ginóforos e frutos pela planta. Esta se apresenta com
elevada e constante taxa de acúmulo de matéria seca (McCLOUD, 1974; McGRAW,
1977).
Estádio R4: corresponde à etapa de vagem completamente formada. Este
estádio se caracteriza pela presença de pelo menos uma vagem formada,
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completamente desenvolvida, conforme as características que identificam a vagem


formada pelo cultivar ao qual pertence. Nesta etapa, a taxa de crescimento
vegetativo é máxima. Entretanto, a partir deste momento, aumenta gradativamente
a participação das vagens na produção de matéria seca total da planta (McGRAW,
1977).
Os estádios reprodutivos R1, R2, R3 e R4 são muito semelhantes para os
amendoins dos tipos Virgínia, Valência e Spanish, sendo que nestes dois últimos as
plantas são eretas e os frutos menores (CHOLAKY, 1985).
Estádio R5: estádio fenológico reprodutivo do início da granação ou da
formação inicial da semente. Observa-se logo após o estádio R4, sendo mais fácil de
ser visualizado por meio de corte transversal na vagem. O estádio R5 se caracteriza
quando 50% das plantas apresentam pelo menos uma vagem com sementes que
possuem cotilédones desenvolvidos e visíveis após o referido corte transversal. Não há
presença de endosperma líquido nas sementes.
Estádio R6: corresponde ao estádio de semente completamente formada.
Porém, fisiologicamente ainda imatura. Praticamente, as sementes se apresentam com
o máximo volume, ocupando as cavidades correspondentes e delimitadas pelas
constrições do fruto. O tecido da parede interna do fruto anteriormente tenro e
esponjoso, agora se apresenta mais consistente e com aspecto de algodão. Neste
estádio a semente possui entre 40 e 45% de sua matéria seca final. Se colhida e seca
artificialmente, o seu tamanho é reduzido a 50%. O estádio R6 não marca o final do
crescimento da semente. Ocorre antes que o fruto atinja o peso correspondente ao seu
desenvolvimento completo (CHOLAKY, 1985). Segundo McGraw (1977) e Boote (1982),
o período de formação das vagens bem granadas vai de R4 até uma a duas semanas
após R6, conforme o grupo vegetativo do cultivar de amendoim em observação.
Estádio R7: estádio fenológico reprodutivo do início da maturidade fisiológica.
Corresponde à presença de pelo menos um fruto com início do escurecimento da cor
no interior do pericarpo. A massa seca do fruto situa-se entre 85 e 90% da massa seca
total do fruto maduro. Em condições de lavoura, este estádio indica que a maioria das
vagens se encontra na metade da formação das sementes.
Estádio R8: corresponde à fase de maturidade de campo ou maturidade de
colheita. Neste estádio, 70 a 75% dos frutos apresentam coloração no interior do
pericarpo variando de castanho a marrom escura. No interior dos frutos as sementes
apresentam mudança na cor do tegumento, o qual se apresenta com a cor
característica do cultivar. A quantidade de frutos maduros é variável em função dos
cultivares e da interação destes com o ambiente durante o processo de maturação
final das vagens e sementes. Por exemplo: 70% nos cultivares do grupo Virgínia; 80%
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para os cultivares dos grupos Spanish e Valência. A determinação precisa do estádio


R8 requer o prévio arranquio de algumas plantas representativas da lavoura. Nestas,
observam-se as seguintes características: a) coloração interna da parede da vagem,
que deve apresentar algumas manchas escuras, resultantes da compressão das
sementes; b) coloração do tegumento da semente, que deve estar mudando para a cor
característica do cultivar ao qual pertence.
Estádio R9: corresponde à fase de maturidade avançada de campo. Trata-se
de fase avançada de maturidade, não sendo, portanto, um estádio reprodutivo
propriamente dito. Aplica-se mais aos cultivares do grupo Virginia da Série de
Ramificações Alternadas que apresentam dormência das sementes e, portanto,
suportam melhor a condição de chuva durante o momento de maturidade para
colheita (R8). Caracteriza-se pela cor escura (alaranjada a pardacenta) das sementes
no interior do fruto e pela deterioração dos ginóforos com desprendimento dos frutos.
Na prática, não convém deixar o amendoim no campo nessas condições.
Na figura 1, apresenta-se o esquema ilustrativo do ciclo cultural do amendoim,
correspondente a cultivares de ciclo precoce pertencentes ao grupo vegetativo
Valência.

Figura 1. Esquema do ciclo cultural do amendoim, cultivar Tatu.


Fonte: Câmara et al. (s/d).
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2.6. Ciclo Cronológico e Fenológico dos Cultivares Precoces


Descreve-se a seguir, o crescimento e desenvolvimento dos amendoins de ciclo
precoce com base na fenologia e cronologia observadas em condições de lavoura
conduzida no ciclo “das águas” no estado de São Paulo (figura 1).
A emergência da cultura (VE) ocorre de 7 a 8 dias após a semeadura. Esse
período pode ser variável em função da presença de condições favoráveis de
temperatura, umidade e aeração no solo e do vigor das sementes utilizadas e da
profundidade de semeadura. A emergência é do tipo epígea, ou seja, por ação do
hipocótilo os cotilédones emergem acima da superfície do solo. O crescimento do
hipocótilo depende da profundidade que foi colocada a semente; sendo essa
profundidade excessiva (acima de 10 cm), as reservas dos cotilédones podem esgotar-
se, sem que estes saiam do solo, prejudicando o desenvolvimento inicial da planta. As
reservas contidas nos cotilédones vão sendo consumidas pela planta em crescimento e
se esgotam 10 a 15 dias após a emergência (entre os estádios V3 e V5), quando os
mesmos murcham e caem.
A fase de crescimento vegetativo ou de pré-floração dura, aproximadamente, 20
a 25 dias. O período inicial de crescimento, isto é, da emergência até o início do
florescimento (R1) é lento. Devido à existência das gemas cotiledonares, um primeiro
par de ramos primários é visível a partir de 7 a 10 dias após a emergência. O
crescimento vegetativo continua após o aparecimento das primeiras flores e torna-se
mais lento na frutificação (R3/R4), só paralisando próximo ao final do ciclo (R7/R8).
O período de florescimento se inicia (R1) cerca de 4 semanas após a emergência,
atinge o máximo em 6 a 7 semanas, para, posteriormente, decrescer regularmente.
Flores podem surgir na planta até próximo ao final do ciclo. A quantidade de flores
produzidas é grande, no entanto, no máximo 25 a 30% chegam a produzir frutos
normais. A constituição da flor de amendoim é própria para a autopolinização, embora
possa haver cruzamento; porém, a taxa de cruzamento é bastante baixa. A fertilização
se dá antes da abertura da flor e a duração desta é muito curta; um botão visível à
tarde será flor aberta na manhã seguinte e murcha na tarde deste mesmo dia.
Geralmente, as flores que surgem no início do período de florescimento são as que
possuem maior coeficiente de aproveitamento; as que surgem tardiamente não
encontram tempo suficiente para transformar-se em frutos normais, devido ao ciclo
curto do amendoim.
Aproximadamente uma semana após a fecundação da flor, o tecido intercalar
situado na base do ovário começa a crescer e o ovário se torna uma estrutura
alongada e pontiaguda, que trás os óvulos na sua extremidade (R2). Essa estrutura é
conhecida pelo nome de ginóforo, esporão ou “peg”. O crescimento do ginóforo é lento
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nos primeiros dias mais logo ele se torna mais rápido e, dotado de geotropismo
positivo, encaminha-se para o solo onde penetra. O comprimento do ginóforo depende
da distância da flor ao solo, sendo maior quanto mais distante a flor, alcançando,
porém, um máximo de comprimento de 15 a 20 cm. Se pela distância que tem a
percorrer não alcançar o solo ou se este estiver mal preparado, endurecido, não
permitindo a penetração, o ginóforo acabará murchando. Uma vez no interior do solo,
o ginóforo assume posição parcial ou totalmente horizontal, iniciando-se em seguida, o
desenvolvimento do fruto (R3) e das sementes (R5). O fruto só se forma em ausência de
luz (fototropismo negativo) e as primeiras vagens somente são visíveis 25 a 30 dias
após o início do florescimento. Na terra, a região de frutificação do amendoim situa-se
na profundidade de 2 a 10 cm abaixo da superfície do solo.
O período que se segue ao início da frutificação, com duração aproximada de 40
a 50 dias, caracteriza-se como a fase de desenvolvimento dos frutos (R3/R4) e de
maturação das sementes (R5 a R7), até atingir o ponto de colheita (R8). Quanto mais
longo for este período, maior será o peso das vagens na colheita e as sementes serão
da melhor qualidade, com maior teor de óleo. Na formação da vagem se distinguem
duas etapas: i) em primeiro lugar, o desenvolvimento da casca enquanto a semente
tem uma evolução muito lenta; ii) a seguir, o crescimento da semente. O período de
maturação é muito difícil de precisar. A semente está fisiologicamente madura,
quando atinge máximo peso e vigor; porém, nesta ocasião, o teor de umidade ainda é
alto, não sendo viável a colheita, que deverá se processar na maturação morfológica,
determinada pela aparência da planta, do fruto ou da semente e do teor de umidade
desta.

2.7. Referências Bibliográficas

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