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ISSN 1517-5545, Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 1999, Vol. 1, n° 2, 179-187 Terapia comportamental e andlise funcional da relac&o terapéutica: estratégias clinicas para lidar com comportamento de esquiva! Maria Zilah da Silva Brandao” Universidade Estadual de Londrina Instituto de Psicoterapia e Anélise do Comportamento Resumo 5 prineipios da Psicoterapia Funcional Analitica (FAP) sto derivados de uma postura beha~ viorista radical, cuja idéia bésica € que os comportamentos clinicamente relevantes ocorrem na sessdo,no contexto da interagao paciente-terapeuta. Desta forma os comportamentos esto sujeitos, a intervengao clinica com base na observacdo € modelagem direta, por meio de reforgamento natural na sessio. O presente trabalho considera a contribuigdo deste enfoque (FAP)'na siste- matizagao de estratégias que enfocam a relagio terapéutica, o “aqui e agora” da sesso de andlise comportamental. Propde ainda o estudo de um caso clinico onde o paciente, um homem de 42 anos, com histéria de algumas tentativas de suicidio, aprende a identificar, analisar ¢ modificar sua esquiva compulsiva de situaedes diticeis ou “dolorosas” a partir da andlise da telagdo terapéutica. A esquiva é considerada tum comportamento clinicamente relevante, uma vez. que seu excesso ou déficit pode gerar outros problemas comportamentais. Outras consideragBes sobre comportamento de esquiva © anilise funcional da relagdo terapéutica so apresentadas, e os resultados destas, estratégias so discutidos em termos de viabilidade do método para a pessoa do psicoterapeuta. Palavras-chave: esquiva; terapia de acetagao; psicoterapia analitico-funcional; tolerancia emocional; andlise clinica comportamental, Summary Behavioral therapy and functional analysis of the therapeutic relationship: clinic strategies, to deal with avoidance behaviors. The principles of Functional Analytic Psychotherapy (FAP) come from a radical behaviorist position, in which the main idea is that Clinically Relevant Behaviors occur during the psychotherapy session, in therapist-client interaction. Thus, behaviors can be submitted to clinic intervention based on observation and direct modeling, by natural reinforcement during session. This project considers the contribution of this approach (FAP) in the systematization of strategies that focus on the therapeutic relationship, on the “here and now” of the behavioral analysis session. This project also suggests a case study in which the patient, a42 years, old man who tried suicide a few times, learns how to identify, analyze and change his compulsive avoidance of “hard” and painful things due to the therapeutic relationship analysis, The avoidance is considered a Clinically Relevant Behavior since its excess ot deficit can originate other behavioral problems. Other considerations about avoidance behavior and functional analysis of the therapeutic relationship are here presented, and the results of these strategies are discussed in terms. of viability of the method for the psychotherapist. Key words: avoidance; acceptance therapy; functional analytic psychotherapy; emotional tolerance; behavioral clinic analysis 1. Trabalho apresentado no XXVI Congresso Interamericano de Psicologia, em Sao Paulo - Julho de 1997. 2. Docente da Universidade Estadual de Londrina e Psicoterapeuta do Ceniro Londrinense de Andlise do Comportamento. 179 Maria Zilah da Silva Brandao “lientes freqtientemente vém para a tera pia, desejando livrar-se de seus sentimentos dolorosos (ansiedade, depressdo, medo, solidao etc.). Eles freqientemente nio se acham habili- tados a tolerar ou se livrar destes sentimentos esperam que seus terapeutas possam promover a cura (Kohilenberg, 1987). Essa expectativa, por parte dos clientes, é decorrente de suas experiéi que a esquiva foi apropriada ¢ resultou na icias anteriores, em remogiio do estimulo aversivo puiblico e, conse- qlientemente, do estado emocional que ele evocava. No entanto, tanto a emogao negativa como comportamento de esquiva, foram cau- sados pela situago aversiva. Embora seja fécil explicar o sentimento como causa da esquiva e, assim, querer livrar-se dele, ambos so produtos de uma mesma situagio externa. O fato de os dois comportamentos ocor- rerem juntos (esquiva e sentimento), propiciam a explicagio de um pelo outro. Além disso, 0 contexto sécio-verbal de nossa comunidade aceita e reforga as relagdes sentimento-agdes piiblicas como causais. E assim dificil para os clientes que procuram psicoterapia aceitarem que ndo ha uma forma direta de se eliminarem emogdes ruins. Comportamentos de esquiva, fuga ou ataque, que sfo funcionais para se livrar de muitas situagdes aversivas piblicas, nfo so eficazes em reduzir sentimentos dolorosos. ‘Atacar aspectos privados da estimulagdo aver- siva poderia envolver atacar 0 “eu”, € ndo os eventos exteros que causaram a emogao nega- tiva, assim como a esquiva dessa situagio. Sidman (1989), considera a esquiva como um comportamento adaptativo e bastante generalizado entre as espécies, pois impede a punigo, mas também reconhece seu lado preju- dicial. Com o tempo, ndo apenas fugiremos ou evitaremos estimulos aversivos, mas também todas as situag6es, objetos ou pegas associadas a 180 la. Como tiltima consegiiéneia, diz que a 0 pode levar ‘nossa propria conduta a tornar-se um conjunto de sinais de iminente punigao reforgamento negativo. Tais sinais tornam-se eles mesmos punidores e reforcadores negativos, assim finalmente nos punimos por simplesmente nos comportarmas. Tudo 0 ‘ue fazemos se torna reforgador negativo. € ha apenas um mado de escaparmos de nés mesmos* (Sidman, 1989, p.133). Disse, referindo-se ao suicidio, suicida nao s6 tenta inutilmente li- vrar-se de seus sentimentos dolorosos (esquiva emocior al), como também no consegue obter reforgadores por meio de outtos comportame: tos. Portanto sistemas coercitivos produzem respostas de fuga e esquiva que se tornam disfuncionais. As principais conseqiiéncias da esquiva sto: + Falta de contato com reforgadores positivos e conseqtientes déficits com- portamentais; + Recorréncia de respostas emocionais ou sentimentas dolorosos; + impossibitidade de sentimentos positi- vos que as situagdes evitadas poderiam produzir + aumento do potencial aversive da situagao evitada; + generalizagtio de respostas emocio- nais para outras situagdes, objetos ou pessoas ; * proprias respostas emocionais se tor- nam reforgadores negativos e o indivi- duo passa a querer controlé-las. Assim, as queixas emocionais de nossos clientes parecem frutos de uma longa histéria de estimulagao aversiva e comportamentos de fuga-esquiva, que ja estiio trazendo uma série de conseqiiéncias. Terapia comportamental ¢ andlise funcional da relacao terapeatica. Se n&o € possivel nem desejével se esquivar ou controlar emogdes que foram induzidas por esse esquema previamente avaliado, como entio ajudaremos nossos clientes a reduzir seu sofrimento? A resposta nao parece ser simples. Segundo Sidman (1989, pag.139), sempre que tivermos de fazer alguma coisa sobre a esquiva induzida pelo controle aversivo, inclusive terapia, haverd a necessidade de dois passos preparatérios: 1, Reconhecer 0 comportamento-pro- blema como esquiva; 2, Analisar as contingéncias passadas as atuais que podem estar mantendo 0 comportamento, -nta uma Kohlenberg (1987/1991) apr abordagem para psicoterapia (a Psicoterapia Analitico Funcional ~ FAP), embasada no behaviorismo radical, que se tem mostrado itil em reduzit a esquiva emocional e, assim, produzir novos repertérios comportamentais. O amago da proposta de Kohlenberg é que os comportamentos clinicamente relevantes (CRB.s), que constituem os comportamentos- problema, e as methoras dos clientes sao reproduzidos na relagdo terapéutica, e cabe a0 terapeuta reconhecé-los, identificd-los e anali- si-los funcionalmente, 10 momento em que estio acontecendo, isto é, no “aqui e agora” da relagto terapéutica, A esquiva emocional pode ser um CRBI, isto é, um comportamento problema, Assim, Kohlenberg acrescenta a proposta de Sidman a idéia de que o compor- tamento de fuga-esquiva além de ser observado € analisado funcionalmerite, deve ocorrer na sesso terapéutica, O trabatho da Psicoterapia Analitico Funcional (FAP) é baseada em dois prineipios bisicos (Koblenberg, 1987): 181 1, Todo comportamento é modelado por contingéncias; 2. Quanto mais perto, em termos de es- pago e tempo, o reforcamento estiver da resposta desejada, maior ¢ melhor seri o seu efeito ou a probabilidade de aumentar sua freqiléncia. A relagao terapéuti ‘deais, para que esses principios sejam colo- cados em pritica. Em alguns casos, 0 compor- tamento de esquiva emocional & visto como comportamento problema, ele ocorre na sesso (em momentos de intimidade e afeto), e ao ser observado e sinalizado pelo terapeuta, coloca 0 cliente em contato com a situagdo aversiva € traz assim condigdes com os sentimentos que ela produz. Nesse momento, é fundamental que o cliente, sem po- der se esquivar da situagao © do sentimento, possa aprender a tolerar suas préprias reagdes emocionais, vivenci-las. Isso caracteriza um processo denominado Aceitagdo, descrito em todas as psicoterapias ¢ definido por Kohlenberg € Cordova (1994), como “tolerar ou agi emogdes associadas com uma situago aversiva sem fugit, escapar ou atacar (pdg.126)” , ou “estat em contato com estimulos que evocam sentimentos dolorosos” . tar as Assim, a estratégia terapéutica envol- veria, na seqtléncia, aceitagio dos sentimentos perante a situago aversiva, Hayes em 1987, 1991 e 1997, jé propés formalmente a Terapia de Aceitagdo e Compro- misso como estratégia clinica, para lidar com a Esquiva Emocional desadaptativa. Kohlenberg € Cordova (1994), associam essa proposta 4 Psicoterapia Analitico Funcional, uma vez que acreditam que a aceitagaio deve ser produzidana relaed6 terapéutica Esses autores propdem imaginar um cliente com hist6ria desastrosa em relaciona- mentos intimos. Esse cliente pode também se

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