You are on page 1of 3

16/04/2018 Mais um suicídio na UFMG: o que isso nos mostra sobre a universidade

www.esquerdadiario.com.br / Veja online / Newsletter

Esquerda Diário

Lunes 16 de Abril de 2018


17:24 hs.

Mais um suicídio na UFMG: o que isso nos mostra


sobre a universidade
Pammella Teixeira
Belo Horizonte

Maria Eliza
Estudante de Ciências Biológicas na UFMG

Neste mês mais dois um colegas da UFMG escolheram o suicídio, provavelmente como
forma de interromper todo o sofrimento que vinham enfrentando. Um deles disse a uma
amigo dias antes que estava "a ponto de explodir". Esse não é o primeiro caso de
estudantes que, claramente, estão perto dos limites suportáveis de uma vida saudável,
física e mentalmente, na universidade. É urgente discutir a relação entre a saúde mental e
a universidade.

Ver online

Recentemente, no dia 8 de abril, um estudante de Engenharia Civil na UFMG cometeu suicídio.


Em luto, os colegas da vítima tiveram aulas e provas canceladas. Dias antes de interromper sua
vida, o estudante desabafou com um amigo, dizendo que estava "a ponto de explodir" devido à
rotina universitária, que é repleta de pressões, cobranças, assédios, sobrecarga de atividades,
etc. Na mesma semana um mestrando da escola de veterinária da UFMG também foi vítima.
Por mais amplas que sejam as hipóteses sobre o porquê de alguém cometer suicídio, os
números são claros: 39% dos estudantes, contra 6% da população em geral, sofrem de
depressão.

http://esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=22594 1/3
16/04/2018 Mais um suicídio na UFMG: o que isso nos mostra sobre a universidade

Sobre os casos recentes de suicídio na universidade, a reitoria da UFMG soltou uma nota vaga,
que nem diz se tratar de dois suicídios e em que se isenta da responsabilidade sobre a morte
dos estudantes.

Uma rápida pesquisa nas notícias do último ano ou uma breve navegação por páginas de
interação da UFMG (Spotteds) já são suficientes para provar que há algo de muito errado com a
saúde mental dos estudantes em uma das mais renomadas universidades brasileiras. Em maio
de 2017, o tema tomou as redes sociais e os corredores da UFMG quando em apenas duas
semanas aconteceram dois casos de suicídio de estudantes e uma tentativa em que a vítima
sobreviveu. Entretanto, são dezenas de casos de tentativas de suicídio todos os anos, que
levam ou não à morte, sem que isso venha a público ou se torne uma preocupação real da
administração da universidade.Mas o que estaria tão errado? O que a universidade tem a ver
com isso?

Desde a forma de ingresso na universidade, através do vestibular, que vem carregado de um


altíssimo nível de cobrança sobre o “candidato à vaga” (seja pessoal, familiar ou da própria
sociedade), até o nível de cobrança dos professores nas disciplinas, provas, trabalhos, noites
em claro, estágios e cursos de pós-graduação, a competição de tantas tarefas com a vida
social, levando ao isolamento, individualismo e solidão.

Isto ainda passa pela forma como o conhecimento e a produção deste é encarada dentro das
universidades – de forma elitista e produtivista, sendo tratado “de cima para baixo” e estando a
serviço do lucro de alguns, e não da realização dos sonhos de tantos estudantes, tampouco da
melhoria das condições de vida na sociedade.

Não esqueçamos também das precárias ou inexistentes políticas de assistência e permanência


estudantil, que tornam ainda mais difícil o percurso por uma universidade, especialmente para a
juventude pobre, negra, LGBT, para os estudantes que mudam de cidade para estudar, para os
que precisam conciliar trabalho e estudo.

Pode te interessar: Suicídios aumentam 12% em 4 anos no Brasil, governo responde com
demagogia

A profundidade dos efeitos destes exemplos e a combinação entre eles se escancara nos
relatos de jovens universitários depressivos e a cada vez que nos salta aos olhos o número
crescente de suicídios, que são a expressão cabal da falência do sistema capitalista – a ponto
de convencer as pessoas que a própria vida não vale ser vivida.

É importante lembrar que as questões sociais e políticas que atingem toda a sociedade se dão
dentro dos muros da universidade também e devemos levar isso em consideração ao pensar
sobre a saúde mental dos estudantes e os fatores que possam estar associados a isso e
contribuir com esse cenário tão preocupante.

A depressão é um sintoma social, não um problema meramente biológico e individual. Não há


assistência psicológica – que inclusive não é de fácil acesso – que mude o cenário de crise
mundial do capitalismo, com a alta do desemprego, substancial piora das condições de vida das
massas, desmonte da educação e da ciência, ataque aos direitos democráticos, etc. Isso tudo
nos atinge diretamente, tanto objetivamente – porque não temos bolsas, moradia, transporte,
lazer, enfim... boas condições para estudar – quanto subjetivamente, pois somos uma geração
com frágeis perspectivas de futuro, que para muitos será nos empregos mais precários, com
péssimos salários, com frustrações profissionais, etc.

É como está aqui nessa matéria do Esquerda Diário: “Ainda que não possamos dizer que o
capitalismo gera de forma mecânica as doenças mentais, podemos dizer que as instituições do
capitalismo contemporâneo as fortalecem e as alimentam, as aceleram ou as potencializam: a
escola, a família, a moda, os partidos, a televisão, os meios de comunicação de massas.”... e as
universidades! Sim, infelizmente as universidades fazem parte do grupo de“instituições do
capitalismo contemporâneo” e podemos ver isso quando pensamos em exemplos cotidianos
que, quando elencamos, se revelam inúmeros e profundos.

Esse tema tem que ser discutido amplamente pelo conjunto dos estudantes. Nós, que nos
organizamos no grupo de mulheres Pão e Rosas, juventude Faísca e construímos o Esquerda
Diário, queremos fazer uma discussão viva sobre a saúde mental, com assembleias e reuniões
que se liguem à necessidade de ação, para que possamos não apenas identificar os problemas,
mas também superá-los,lutando para transformar não só a universidade e a produção de
conhecimento como também toda sociedade capitalista e produtivista em que vivemos. O DCE,
que deve ser o órgão de organização estudantil de toda a universidade, e as demais entidades

http://esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=22594 2/3
16/04/2018 Mais um suicídio na UFMG: o que isso nos mostra sobre a universidade

de base de cada curso e prédio têm que convocar assembleias e reuniões, como espaços
democráticos onde os estudantes possam discutir e se organizar.

Leia também:MANIFESTO Para questionar a Universidade e a sociedade de classe

Redes sociais Subscreva-se com uma mensagem de


Whatsapp por seu celular
/ esquerdadiario
+55 (11) 9630-2530
@EsquerdaDiario
contato@esquerdadiario.com.br

www.esquerdadiario.com.br / Avisos e notícias em seu e-mail clique aqui

http://esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=22594 3/3

You might also like