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Apresentação
Para este ensaio final do curso de Patrimônio Cultural ministrado pela Professora Ana
Beatriz Vianna elegemos como tema o processo de destruição/ressignificação do
monumento em homenagem a Galileu Galilei feito por Wilde Lacerda na decáda de 70
do século passado. A obra - que havia somente um apelo visual em sua concepção –
desperta interesse sonoro/acústico quando alguns dos estudantes da UFMG passam a
lançar pedras contra a mesma. Ao fazermos a apuração desse processo pretendemos
compreender e analisar as diversas divergências ideológicas que se apresentam entre os
alunos e funcionários da universidade diante de tal peripécia. Para isso, além dos textos
discutidos em sala de aula, utilizaremos como recurso investigativo um breve
questionário contendo 6 perguntas – que deverão ser respondidas individualmente -
destinadas aos alunos e funcionários. Também faremos uso de informações fornecidas
por Raquel Furtado - aluna do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais
Móveis da Escola de Belas Artes e que pretende transformar o seu trabalho de restauração
desse monumento em seu trabalho de conclusão de curso - durante entrevista concedida
à rádio UFMG educativa.
O caso do “Geni”, apelido dado pelos estudantes ao monumento com provável
referência a música “Geni e o Zepelim” de Chico Buarque, apresenta-se para nós como
uma discussão repleta de potencialidades no campo socio-político. O embate gerado por
esse novo modo de se relacionar com a obra nos revela um pouco como a sociedade pensa,
assimila e se relaciona com o patrimônio cultural em sua volta. Parece existente um
conflito ideológico entre um discurso mais conservador que busca preservar a concepção
da obra e outro que propõe uma maior liberdade quanto à possibilidade de ressignificação
da mesma.
Ensaio
Diante essa perspectiva colocada por Lima, em que o patrimônio cultural, além de
público, necessita estar em constante diálogo com aqueles que o utilizam dando sentido
à sua existência, torna-se fundamental abrirmos tal discussão sobre a ressignificação dos
objetos. Em artigo publicado nos “Seminários Temáticos Arte e Cultura Popular”, a
pesquisadora Regina Abreu (UNIRIO) abre seu texto citando uma pesquisa feita por
Maurice Halbwachs (Escola Sociológica Francesa) a qual afirma a existência de uma
“dinâmica entre lembranças e esquecimentos, ou seja, de que todas as sociedades
precisam lembrar de umas e coisas e esquecer outras tendo em vista a necessidade de
atualização permanente dos laços sociais” (ABREU, 1997, p.53). Ao dialogarmos tal
efeito com o caso “Geni”, há uma possível tentativa de compreendermos alguns dos
fenômenos sociais que se fazem presentes diante tal acontecimento. O processo
dinâmico ocorrido entre o ato de lembrar e o ato de esquecer parece-nos, em parte, uma
explicação condizente com a realidade dos fatos.
A partir dessa perspectiva sobre os diferentes modos que a sociedade se relaciona com o
patrimônio, podemos analisar mais uma vez o caráter das ideologias presentes no caso
“Geni”. Aqueles que prezam pela preservação do seu significado original estariam em
proximidade com o tradicionalismo substancial enquanto aqueles que permitem a
atribuição de um novo significado ao objeto estariam em acordo com o modo
participacionista.
1. O que é patrimônio ?
2. Para quem é esse patrimônio ?
3. O artista têm controle sobre sua obra?
4. Ressignificação pode ser a destruição da obra?
5. Pra quem os patrimônios do campus existem?
6. O que você acha dessa nova interação criada com a “Geni”?
Nome: S
Curso: Geografia
Período: 2°
1. Pra mim patrimônio é qualquer coisas que tenha valor material ou imaterial para
sociedade, pode ser um prédio público uma obra de arte, um conjunto
arquitetônico.
2. Esse patrimônio é para sociedade, ele tem que ser preservado porém tem que ser
público.
3. Acho que o artistas enquanto vivo tem algum tipo de controle, mas mesmo assim
não muito pois a partir do momento que ele expõe aquela obra. Ela vai ser vista
por milhares de pessoas, cada uma dessas pessoas vai interpretar a sua maneira.
Ainda mais nos dias atuais, que as obras são abstratas ou seja cada indivíduo vai
ter sua interpretação subjetiva da obra. Nem sempre apontam um caminho direto,
sobre o que artista queria dizer sobre sua obra. Então eu acho que o artista não
tem muito controle sobre sua obra.
4. Eu acho que ressignificação não deve implicar em destruição, pois eu entendo
uma ressignificação como uma nova forma de interpretar aquela obra. Se você
destrói essa obra esse significado é perdido.
5. Esse monumentos existem para comunidade acadêmica, para os funcionários
terceirizados, todos que circulam pelo campus.
6. Eu acho que essa interação foi equivocada, pois causou uma deterioração no
monumento. Porém é interessante, talvez o artista não imaginou que sua obra
também poderia ser usada como instrumento musical, eu não sabia porém achei
interessante.
Nome: T
Curso: Artes Plásticas
Período: 8°
1. O patrimônio, é quando você tem posse de algo. Exemplo: aquela estátua pertence
a ufmg, então pode ser vista como patrimônio da universidade. Existem diferenças
o patrimônio cultural material e imaterial, o imaterial por exemplo a cultura como
danças, músicas, modo de falar. O material pode ser um objeto físico, como essa
escultura. Se ela for um patrimônio cultural, ela merece ser preservada porém se
tratarmos ela enquanto um simples patrimônio ele está sujeita a intervenções da
universidade.
2. Nesse caso específico da “geni” é da UFMG, temos que lembrar que nossa
universidade é pública. Ela é para qualquer pessoa que queiram estudar, pesquisar,
trabalhar ou observá-la. Ela é de qualquer pessoa que frequente o campus, ele está
lá para qualquer pessoa que queira ver.
3. Em certos aspectos sim, existem diferenças principalmente referente ao local que
você coloca sua obra. O monumento por exemplo, é óbvio que uma estátua está
no local para permanecer como está. É facilmente identificável enquanto
monumento, porém é difícil identificar sua relação com meio, pois é cercado por
pedras emite sons enquanto objeto sonoro, não existem uma orientação direta que
o relaciona. Não existem uma galeria, um pedestal que o eleve, está no
chão.Vários fatores que confundem a relação espectador obra.
4. Nesse aspecto essa ressignificação pode destruir uma obra sim, essa obra não foi
feita para essa interação. Quando você interage de certa forma você está
destruindo, ela não foi feita para essa interação.
5. Os patrimônios existem para em primeiro lugar a UFMG, obras de artes objetos
coisas de peso, estão alí para aumentar o poder instituição. Ter essas coisas no
campus dão poder para instituição.
6. Eu não concordo com o modo como essa interação é feita, se objetivo é ser sonoro
é necessário uma orientação dessa interação. Para que essa obra não seja destruída
no processo.
Nome: J
Curso: Ciências Sociais
Período: 7°
Conclusão
Nós, enquanto sociedade, desprezamos nossa história, nossos espaços de memória,
nossos patrimônios, porém, como ocorrido na música de Chico Buarque, voltamos atrás
e “mudamos de idéia”. Essa noite “Geni” pode nos “salvar” no sentido de redimir
identidades. “Geni” representa nossa baixa auto estima coletiva que despreza nossas
identidades. Ela é de “tudo que é nego torto”, tortos coletivamente por um processo
sistémico de homogeneização social fruto de uma mentalidade colonizada que
estabeleceu um estado nação através da negação de identidades. Nosso monumentos
patrimônios refletem uma estrutura social de dominação de classes. Quantos monumentos
fixados no campus da UFMG relacionam-se com as maneiras de pensar dos estudantes
que ali frequentam ? Os monumentos não deveriam representar nossas memórias,
identidades e saberes? A construção da nossa identidade coletiva passa por entender
nossas relações com os objetos presentes em nosso cotidiano e se os mesmos são capazes
de nos representar.
Apesar de termos a intenção de deixarmos evidente ao leitor nossa posição que preza
por uma utilização mais “livre” daquilo que chamamos de patrimônio público,
gostariamos de demonstrar também que, para nós, o debate encontra-se em aberto.
Reconhecemos e respeitamos o trabalho de restauração feito pela aluna Raquel Furtado e
estamos a par de sua forma de pensar o uso desse patrimônio diferente daquela exposta
por nós durante o trabalho. A forma de utilização do “Geni” deve ser pensanda
coletivamente de forma que consigamos dialogar com todos que frequentam o espaço do
campus da UFMG. Sendo assim, deixamos dirigida à toda comunidade a seguinte
questão: qual seria então uma possível solução para atendermos as diferentes formas de
pensar e de utilizar o “Geni”? Para nós, apresenta-se como possível solução a troca do
material utilizado para se produzir som no objeto. Em vez da utilização de pedras
gostariamos de propor o uso daquelas bolinhas infantis de borracha, popularmente
conhecidas como bolinhas “perereca”. Essa bolinhas, além de produzirem uma outra
sonoridade ao monumento, poderiam colaborar para a não danificação do mesmo pois
não são agressivas ao inox quanto são as pedras.
Referências Bibliográficas
ABREU, Regina. “Patrimônio cultural: tensões e disputas no contexto de uma nova ordem discursiva”.
In: Seminários temáticos de arte e cultura popular. Museu Casa do Pontal. ano?
p.53-63
LIMA, T. A. “Um passado para o presente: preservação arqueológica em questão. Revista do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional”. v. 33, p. 5-21, 2007.