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VOZES em defesa da fé

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A<Utem pouco
a neipcito da fèiblia
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Milhões de pessoas pe­ rências à Sagrada Escri­
lo mundo a fora acham tura, de uso frequente.
consolo na Bíblia. Acham Nos Estados Unidos, a
inspiração e guia para os revista Time, no seu nú­
altos e baixos da sua vi­ mero de 8 de maio de
da diária em ler-lhe e 1950, publicou um inqué­
reler-lhe as páginas. . . ao rito promovido entre 2.000
menos os trechos fa­ jovens entre 18 e 29 anos
voritos. de idade. Dos 79% que
Quem quer que tem es­ disseram “acreditar na
cutado programas de per­ Bíblia”, 77% confessaram
guntas de rádio sabe que nunca a terem lido. Sem
a Bíblia é o “best seller”, ou o dúvida, se tal inquérito fôsse fei­
livro mais vendido, em todo tem­ to em todo o país, o resultado
po no mundo. Se fôsse conheci­ mui certamente seria o mesmo.
do o número de Bíblias publica­ Muitíssimas pessoas que “acredi­
das desde a invenção da impren­ tam na Bíblia”, até mesmo as que
sa, seria uma cifra astronómica. falam sobre a Bíblia, raramente
, Mas, infelizmente, nem todos serão achadas lendo-a.
os exemplares da Bíblia em cir­
culação são lidos. Isto é espe­ Não é aqui nosso intuito dis­
cialmente verdadeiro dos que são cutir as várias razões que há para
distribuídos em terras pagãs, on­ essa vasta apatia para com a lei­
de os nativos às vêzes os usam tura da Bíblia. Mas queremos as­
como calço para roupas e sapa­ sinalar que, mesmo entre os que
tos, como papel de cigarros e ou­ lêem a Bíblia, muitíssimos sabem
tras coisas. pouquíssimo sobre ela. Como re­
Em muitos lares cristãos a Bí­ sultado disto, as novas interpre­
blia fica juntando pó nas estan­ tações da Bíblia têm lançado as
hes e não é lida com regularidade sementes da desunião entre os
— se sequer é lida. Professores cristãos e têm causado efeitos que
3m colégios e universidades quei- não são nem bons em si nem be­
-cam-se da “ignorância da Bíblia” néficos para a sociedade. Êles têm
— ignorância que torna impos- levado a descrédito a Bíblia e
3Ível aos seus estudantes com­ mesmo o Cristianismo, especial­
preenderem e apreciarem refe­ mente nas mentes das muitas
V ozes n. 41 — 1 1
pessoas que têm pouco interesse Felizmente, nem todos os leite
prático na religião e apenas um res da Bíblia, e. nem todos os qu
magro conhecimento de primeira professam moldar as suas vida
mão da Bíblia. pelos ensinamentos de Jesus Cris
to, tomam estes ao pé da letr;
Bíblia mal compreendida Do contrário o mundo pululari
Por certo, é por falta de re­ de monstros de um só ôlho e c
flexão sôbre a Bíblia que muitos um só braço; a população seri
leitores a compreendem mal, visto notàvelmente diminuída pelos qr
saberem Ião pouco sôbre ela. A morressem de mordida de cobi
Bíblia não pode proteger-se con­ ou de bebida de veneno morta
tra o mau uso dela por homens Na verdade, ainda haveria mej
mal orientados. E, mesmo se na mo discípulos de Cristo no mui
leitura das suas páginas muitas do? E, se todos os cristãos fossei
pessoas honestas e sinceras hau­ pacifistas absolutos, seria cois
rem altos ideais e a coragem pa­ simples para uma nação agres
ra viverem verdadeiramente vidas sora o invadir o nosso país, ei
nobres, outras haurem nessas mes­cravizar-nos todos e destruir a 1
mas páginas princípios e práti­ berdade na nossa terra.
cas estranhas, alarmantes e mes­ Terá Cristo usado alguma ve
mo subversivas, e, como resulta­ linguagem figurada? Terá d ir
do, exercem má influência. gido algumas das suas palavrí
Vez por outra lemos nos jor­ aos indivíduos como cidadãos pr
nais notícias de pessoas que ar­ vados e não à sociedade em g<
rancaram fora os olhos ou de­ ral? Teriam sido algumas da
ceparam uma das mãos em obe­ suas diretrizes meramente ei
diência àquilo que pensavam ser forma de conselho, e não de obr
o correto significado da palavra gação estrita — não pretendei
de Cristo: “Se teu ôlho direito do ser condições absolutament
te escandaliza, arranca-o e ati- indispensáveis para nos torna:
ra-o para longe de t i . . . ” (Mtmos seus discípulos, mas sim coi
5, 20-30). Lemos notícias de ou­ selhos para aquêles que quiserei
tras que bebem veneno ou se dei­ renunciar a tudo para o imitarei
xam picar por cobras venenosas tão de perto quanto possível?
para provarem a sua fé nas pa­
lavras de Cristo: “Tomarão ser­ Sentido exato
pentes nas mãos; e, se beberem Se o conselho do Senhor par
algo mortífero, isso não lhes fa­ não resistir ao mau dissesse res
rá mal” (Mc 16, 18). Outras re­ peito aos governos tanto como ao
cusam usar armas em favor de indivíduos, qual seria então o sig
seu país contra agressores, e ba­ nificado das palavras de S. Paul(
seiam essa sua atitude nas pa­ quando disse que “os podêres qu<
lavras de- Cristo: “Não resistas existem são ordenados por Deu$
ao mau”, e “apresenta-lhe a ou­ e por Deus foram munidos da
tra face” (Mt 5, 39). espada para executarem a vin*
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gança contra os malfeitores” ções e limitações à luz de ou­
(Rom 13)? Como pode um go­ tras passagens da Bíblia igual­
verno manter a ordem e prote­ mente importantes.
ger os seus cidadãos se não pode
repelir pela fôrça a ameaça de Em todo caso, alguém está len­
invasão (1 Tim 2, 1-2) e pren­ do mal a Bíblia. Ou os pronun­
der e punir justamente aqueles ciamentos de Cristo devem ser en­
que ameaçam a paz? tendidos literalmente, e então es­
A maioria dos leitores da Bí­ tão errados os que os tomam fi­
blia sérios e bem-intencionados guradamente, ou devem ser to­
não tomam ao pé da letra êsses mados figuradamente, e então os
pronunciamentos que citamos. Ou, literalistas é que estão errados.
se o fazem, reconhecem que ês­ Alguém precisa de uma me­
ses pronunciamentos têm restri­ lhor compreensão da Bíblia.

Coisas que você deve saber


para compreender a Bíblia
Quanto mais sabemos critos parte em hebraicc
. sôbre a vida e tempos de parte em aramaico e pai
• Shakespeare, e sôbre as te em grego.
■pessoas a respeito das O mais antigo dêsses li­
! quais êle escreveu, tan- vros foi escrito talvez uns
■to melhor podemos com- 1.400 anos antes de Cris­
■preender e apreciar as to, e outros a vários in­
i suas movimentadas peças. tervalos até o Livro da
Isto também é verdade a Revelação ou Apocalipse,
respeito da Bíblia. que foi escrito pelo fim
Todavia, muitas pessoas do século primeiro da era
começam a ler a Bíblia cristã. Destarte, há um
com pouco ou nenhum conheci- intervalo dc 1.200 a 1.500 anos
| mento do seu fundo de cena ou entre a escrita do primeiro li­
dos seus autores humanos. vro e a escrita do último livro
na coleção que veio a ser conhe­
Falamos de “autores” porque cida como a Santa Bíblia ou as
a Bíblia não é um livro sõ, es­ Sagradas Escrituras.
crito por um só autor num só tem­
po e numa só língua. E* uma co­ O número de títulos de livros
leção de livros originalmente es­ arrolados no índice de versões pro­
testantes é de 39 para o Antigo blia foi coligida pela Igreja Cris­
Testamento e de 27 para ò Nôvo, tã, que, entretanto, não chegou
num total de 66. No índice das a uma decisão final por vários
versões católicas, o número de tí­ séculos depois da inauguração do
tulos dados para o Antigo Testa­ cristianismo. A Igreja primitiva
mento é de 46 e, para o Nôvo, de responde pela coleção do Nôvo
27 — num total de 73 livros. Testamento nas Sagradas Escri­
A razão para esta diferença se­ turas. A Igreja existiu e funcio­
rá discutida mais adiante. O nou por vários séculos antes que
ponto aqui a acentuar é simples­ a coleção fôsse completada e ofi­
mente que a Bíblia não é um só cializada.
livro composto por um só autor, Destarte, a Bíblia que os Ju ­
e sim uma série de livros compos­ deus usam hoje em dia contém so­
tos por muitos autores diferentes, mente o Antigo Testamento, e só
crevendo em períodos de tempo aquêles livros do Antigo Testa­
•amente separados, usando lín- mento que os Rabis em Jamnia
variadas, e refletindo as decidiram que deviam ser incluí­
\s de pensamento da época dos no elenco bíblico. A Bíblia
e eles escreveram, Cristã contém, em aditamento ao
érie de livros que formam que está na Bíblia Judaica, vá­
igo Testamento foi reuni- rios outros livros que faziam par­
ela Sinagoga, isto é, pelas te da tradução grega do Antigo
aridades religiosas judaicas, Testamento hebraico, ou que fo­
^om toda probabilidade, estas não ram escritos originalmente em
alcançaram um decisão final até grego e aditados à versão. Mas,
o sínodo de Jamnia na Palesti­ desde o século dezesseis, a Bíblia
na, levado a efeito em fins do geralmente usada pelos protes­
primeiro século cristão, por volta tantes omitem aquêles livros dc
do ano 90. Havia ao mesmo tem­ Antigo Testamento que a primitiva
po em circulação entre os judeus Igreja Cristã recebeu (não sem
de fora da Palestina uma tra­ dúvidas e hesitação em alguns lu­
dução grega das Escrituras he­ gares, é verdade; mas pelo fim
braicas. Essa versão continha vá­ do século quinto essas dúvidas
rios livros que. foram excluídos do foram tôdas resolvidas) da ver­
rol bíblico organizado e concluído são grega em aditamento aos do
pelos Rabis em Jamnia. Essa tra­ Antigo Testamento judaico fixa­
dução grega, com o seu conteúdo dos em Jamnia.
completo, é que foi adotada pela A vasta maioria dos livros do
primitiva Igreja Cristã e, mais Antigo Testamento foram escri­
tarde, declarada oficial pelas au­ tos originalmente em hebraico.
toridades da Igreja. Somente dois livros, Sabedoria e
Segundo dos Macabeus (presen­
A Igreja precedeu a Bíblia temente omitido da Bíblia pro­
A série de livros contida na testante), foram compostos origi­
seção do Nôvo Testamento na Bí­ nalmente em grego. Porções de
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Daniel (2, 4; 7, 28) e de Esdras ou razão, uma petição legalt pes­
(4, 7; 6, 18 e 7, 12-26) foram ori­ te, morte, pasto. Somente as ou­
ginalmente escritas em aramaico. tras palavras na sentença é que
Do Nôvo Testamento, todos os podem ser invocadas para deci­
livros foram escritos originària- dir qual o significado pretendido.
mente em grego, exceto o Evan­ Quanto à ausência de espaço en­
gelho segundo S. Mateus, o qual tre as palavras, prontamente pode
foi escrito originàriamente em ser mostrado quão fàcilmente êsse
aramaico. Tal é a posição comu- arranjo pode levar a compreensões
mente mantida na Igreja primi­ variantes. Eis aqui um exemplo de
tiva. uma fiada de letras do alfabeto
Essas línguas antigas diferem sem espaço. Experimentem lê-la:
consideràvelmente das nossas lín­ TODOSACODEMAMÃO. Intro­
guas modernas em construção, sin­ duzindo espaço aqui e ali, pode
taxe e método de escrita. Primei­ ela resultar como: TODOS ACO­
ramente, a forma das letras do DEM À MÃO, ou TODO SACO
alfabeto sofreu mudança ou evo­ DE MAMÃO, ou TODO SA­
lução no correr dos séculos. A CODE MAMÃO.
princípio foi usada a escrita fe­
nícia; esta gradualmente mudou Caprichos de linguagem
para a escrita aramaica, e de­ Em hebraico, e menos freqiien-
pois, pelo tempo de Nosso Senhor temente em grego, a mudança ou
ou pouco mais tarde, entrou em omissão de espaço pode levar a
uso a forma das letras hebraicas uma considerável mudança no
familiares nas Bíblias hebraicas sentido. Da mesma sorte, a in­
impressas na época atual. serção de vogais variantes pode
alterar apreciàvelmente o senti­
Causa de confusão do de um texto. Por exemplo, no
Nos manuscritos primitivos não Salmo 91, nas traduções do latim
lavia espaço entre as palavras. e do grego antigos, fala-se de
Não havia vogais no texto, nem “negócio que perambula no es­
oontuação e nem escrita com mi­ curo”. A Versão protestante ma­
núsculas. A escrita não continha neja a frase corretamente quan­
nada a não ser consoantes, para do a reproduz como: “pestilência
ns quais as vogais tinham de ser que anda na escuridão”. A va­
"omecidas de memória. Isto tor­ riação é o resultado do supri­
nou-se uma fonte de confusão. mento de vogais diferentes. Os
:?or exemplo, as três consoantes antigos tradutores liam dabar; os
D-B-R podem ser lidas ou como outros leram deber.
iabar (dois “aa” longos) ou co­ Êstes poucos exemplos mos­
mo dabar (um “a” longo e um tram claramente as dificuldades
■reve), ou como deber ou dober, inerentes à feitura da correta re­
em conformidade, pode signi- produção de um velho texto he­
icar êle falou, êle governou, uma braico. Verdade é que por volta
palavra, um negócio, uma causa do século sétimo da era cristã
■ozes n. 41 — 2 5
foram aditadas vogais ao texto Pode você lê-lo?
hebraico, mas então o latim, o Suponha que uma passagem
grego, o siríaco e outras antigas muito familiar da Bíblia na Ver­
versões jò tinham estado em exis­ são portuguêsa seja aqui mencio­
tência e em uso por séculos. nada sem vogais, sem espaça­
Também é verdade que o espaça­ mento, tôda em maiusculas. Eis
mento e a pontuação foram adi­ aqui como ela aparece, e o lei­
tados com o correr do tempo, mas tor provàvelmente terá muita di­
não bastante cedo para que os ficuldade em reconhecer a pas­
primeiros tradutores fossem por sagem :
eles beneficiados ou ajudados. E, PNSSQSTSNSCSSNTFCDSJTN
de qualquer modo, não podemos M
com razão perguntar se foram VNHNSTRNSJFTTVNTDSSMN
sempre corretos aquêles que espa­
çaram as palavras e aditaram as TRRCMNC
vogais ao texto? PNSSDCDDDNHJPRDNSSNSS
SDVDSSSMCMNSPRDMSSNSS
Não poucas vezes tradutores SDVDRS
nodernos dos textos originais NNSDXSCRMTNTÇMSLVRNSD
.fastam-se dos espaçamentos e ML
/ocalização aditados pelos erudi­ Isso é a Oração Dominical! Mu­
tos judeus por volta do século sé­ de as letras para as do alfabeto
timo A. D., e extraem sentidos hebraico, e imagine a dificuldade
largamente diferentes um do ou­ de entender um texto original he­
tro. Um só exemplo bastará. E* braico sem espaçamento ou seni
tirado do Salmo 2, 11. Vejam as vogais.
variações: Os hebreus que escreveram o
“King James”: Serve ao Senhor Antigo e muita coisa do Nôvc
com mêdo, e alegraste com tre­ Testamento não pensaram, e con­
mor, Beija o filho para que não seguintemente não se exprimiram
se encolerize. do mesmo modo a que nós do sé­
Moffat: Adora o Eterno reve­ culo vinte estamos acostumados.
rentemente, treme e submete-te a Sim, é verdade que Deus é o
principal autor da Bíblia; êle ins-
êle, prestarlhe homenagem ver­ pirou-a tôda; mas também é ver­
dadeiramente. dade que êle entornou o seu pen­
Goodspeed: Serve o Senhor com samento no molde da mentalidade
mêdo, beija-lhe os pés com tremor. hebraica e permitiu que êle fôsse
expresso em conformidade. As­
Romana: Serve o Senhor reve­ sume êle, pois, alguns dos carac-
rentemente, e alegrarte nele; com terísticos e algumas das limita­
tremor presta-lhe homenagem. ções do frágil molde da lingua­
Douay-Rheims: Serve o Senhor gem humana.
com mêdo e alegrarte nêle com Os leitores da Bíblia deveriam
tremor. Abraça a disciplina. entender alguns dos caracterís-
6
ticos da mentalidade hebraica que nhecida expressão “milénio”, que
condicionaram a mensagem da re­ quer dizer um período de gran­
velação divina que Deus desejou de felicidade e prosperidade. No
comunicar através das páginas da mesmo livro, os números sete e
Bíblia. doze absolutamente não designam
Primeiramente, a mentalidade uma quantidade matemática, mas
hebraica não era analítica, isto é, simplesmente uma plenitude rela­
não tomava à parte, não fracio­ tiva, enquanto que três e meio
nava nos seus elementos compo­ designam alguma coisa breve ou
nentes as idéias de que tratava. incerta.
Nós, por outro lado, somos trei­
nados, por educação, na . técnica Números por nomes
laboratória de decompor máqui­ Com relação ao assunto de nú­
nas e compostos químicos para meros, devemos lembrar uma an­
ver de que é que são feitos e como tiga prática de designar indiví­
operam. O hebreu era inclinado, duos pelos equivalentes numéricos
de preferência, a reunir e com­ dos seus nomes. Êste expediente
binar fragmentos de pensamen­ era usado especialmente quando
tos e idéias correlatas, e expri­ o nome não podia ser menciona­
mi-los em largos princípios gerais. do sem a pessoa correr o risco
Por exemplo, nós gostamos de ci­ de ser prêsa pela polícia secreta
fras exatas; os autores da Bíblia e lançada em prisão ou aos leões
contentavam-se com expressões na arena.
vagas tais como “setenta vêzes Em tempos antigos, antes da
sete” (Mt 18, 22), a saber, inú­ introdução dos números arábicos
meras vêzes. no mundo ocidental, as letras do
alfabeto eram usadas para expri­
Significado diferente também mir números. As dez primeiras
“Mil” significa um número inde­ letras do alfabeto faziam as vê­
finidamente grande. Especialmen­ zes dos números de um a dez; as
te no Apocalipse os números são letras da décima primeira em di­
usados em sentido simbólico, e ante faziam as vêzes dos núme­
grande êrro cometeria quem os ros de cem, duzentos, etc. Confor-
quisesse tomar com exatidão arit­ memente a isso, a bêsta no Apo­
mética. Os mil anos durante os calipse (13, 18), cujo número é
quais é dito que os justos reina­ o de um homem, 666, designa uma
rão com Cristo (Apoc 20, 4) que­ entidade histórica ou política.
rem dizer um período de tempo Dois eminentes comentadores pro­
indefinido, e pela maioria dos in­ testantes (Swete e Charles) suge­
térpretes (acatólicos e católicos) rem Nero ou César, visto como o
são entendidos como para desig­ valor numérico das letras que
narem todo o período messiânico formam êstes nomes totaliza 666.
ou cristão desde o primeiro Pen­ Foi êsse imperador romano quem
tecostes até o fim do mundo. Essa iniciou o govêmo civil romano na
passagem deu origem à bem co­ sua embriaguez de perseguição
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contra os cristãos, a qual durou pelo menos de exprimir, matizes
por bem mais de duzentos anos, mais finos de sentimento ou de
e assim Nero 6 um símbolo ade­ emoção. Assim, por exemplo, a
quado de qualquer monarca ou mentalidade judia, no tempo em
governo civil perseguidor. que o Antigo e o Nôvo Testa­
Os hebreus também tinham um mento foram escritos, via de re­
modo seu de contar os anos do gra não distinguia exatamente
reinado de um homem, modo es­ entre amor, atração e preferência,
se que é algo desconcertante para de um lado, e desgosto, aversão
o exato historiador do século vin­ e ódio, do outro. Destarte, a de­
te. Êles também contavam uma claração aparentemente dura de
parte de um dia, ano ou mês co­ Nosso Senhor quando disse: “Se
mo uma unidade inteira. Assim, alguém vem a mim e não odeia
é possível que um rei tenha ocu­ seu pai e sua mãe e sua mulher
pado o trono por apenas alguns e seus filhos e seus irmãos e suas
dias, e, no entanto, se alguns irmãs, e mesmo a sua própria
dêsses dias caíssem no encerra­ vida, não pode ser meu discípulo”
mento de um ano e o resto no co- (Lc 14, 26), perde tôda a sua
mêço de um nôvo ano, esse rei se­ dureza repulsiva quándo nos lem­
ria dito como tendo reinado por bramos de que “odiar”, de acordo
dois anos. Destarte, a permanência com o modo de falar hebreu, sim­
de Cristo no túmulo durante o pe­ plesmente quer dizer “amar me­
ríodo entre o seu sepultamento e a nos” ou “dar a preferência a ou­
ressurreição é contada como ten­ tro”. Quando lemos: “a Jacob
do sido de três dias, embora pro- amei, mas a Esaú odiei” (Rom
vàvelmente êle tenha passado me­ 9, 13, citado de Mal 1, 2-3), o
nos de trinta e seis horas no tú­ sentido é simplesmente: “Preferi
mulo. Porém, já que algumas des­ Jacob a Esaú”.
sas horas caíam no findar da sex­
ta-feira e algumas outras no co- Outra diferença
mêço do domingo, de acordo com Além disto, a mentalidade he­
o antigo método judeu de contar braica não distinguia cuidadosa­
o tempo pode ser veridicamente mente entre diferentes graus de
dito que êle passou três dias no responsabilidade para uma ação.
túmulo. Da mesma sorte, quaren­ Por exemplo, se uma pessoa que
ta anos é um número redondo pode impedir uma ação não o faz,
designando rudemente uma gera­ muitas vêzes o escritor hebreu
ção que pode variar em extensão. atribuirá essa ação àquele que
não interveio para impedi-la, em­
Matizes de significado bora a responsabilidade imediata
Outro característico do modo seja realmente atribuível a outro.
judeu de pensamento e de ex­ Lemos, por exemplo, que “haverá
pressão que pode ser desorienta- mal numa cidade, e o Senhor não
dor para leitores ocidentais é o o fêz” (Amós 3, 6). Esta ques­
hábito de deixar de reconhecer, ou tão oratória não quer dizer que
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o Senhor, que é sempre bom e mentos nas mãos de Deus para
não pode ser a causa direta do punir os judeus pelos seus pe­
mal moral, ou mesmo querer o cados. Neste sentido — sentido
mal físico por amor desse mesmo perfeitamente inteligível — Deus
mal, é a causa direta do mal. Mas criou o mal.
permite-o como um castigo para A mente hebraica tinha pouco
o povo pela maldade e infidelida­ uso para o abstrato; preferia
de dêste. E o escritor hebreu, se­ muito exprimir princípios abstra­
guindo o seu pendor não-analítico, tos em têrmos concretos. Assim,
diz, com efeito, que Deus é a cau­ em vez de dizer que aquêles que
sa de todo o mal numa cidade. fóssem seus discípulos verdadei­
Mas nós sabemos que o escritor ros deveriam estar preparados pa­
sagrado quer dizer que Deus não ra sacrificar até mesmo aquilo
faz o mal, apenas o permite. que nos é mais caro, de prefe­
rência a o negarem, o Mestre diz:
«Eu crio o mal» “Se teu olho direito te escanda­
Outra passagem que fàcilmen- liza, arranca-o”; e S. Paulo, para
te pode chocar o leitor não es­ exprimir a boa-vontade dos Gá-
clarecido da Bíblia é Isaías 45, 7, latas em fazerem os maiores sa­
onde é dito: “Eu crio o mal: eu, crifícios por amor dêle, diz que
o Senhor, faço tôdas as coisas”. êles teriam arrancado os olhos e
Entretanto, se o leitor estiver fa­ lhos teriam dado (Gál 4, 15).
miliarizado com as normas do pen­ Nosso Senhor, em vez de dar
samento hebreu e levar em conta expressão ao princípio incolor e
o trecho inteiro onde essa afir­ não imaginoso de que nós não de­
mação ocorre, poderá extrair des­ vemos apontar os insignificantes
sas palavras um significado mui defeitos do nosso próximo, quan­
satisfatório. A idéia que permeia do nós mesmos estamos desfigu­
essa passagem é a de que a rados por deficiências, põe isso
Providência de Deus controla e neste expressivo e gráfico modo
enforma o destino de Israel. Êle de dizer: “Por que notas o ar-
causou as vitórias de Ciro sobre gueiro (isto é, partlculazinha) que
os babilónios, para que Ciro per­ está no ôlho de teu irmão, mas
mitisse aos judeus voltarem para não consideras a trave que está no
sua terra, restabelecerem o seu teu próprio ôlho? (Mt 7, 3).
culto religioso em Jerusalém, e as­
sim preservarem o conhecimento Que quer dizer?
e o culto do único Deus verdadei­ O modo judeu é fazer abrange-
ro e a esperança do Redentor doras afirmações gerais sem res­
futuro. Semelhantemente, Deus trições ou qualificações quais­
ocasionou os males que afligiram quer, no entanto, é inteiramente
os judeus em castigo dos seus pe­ óbvio que devem ser feitas res­
cados — males que os visitavam trições. Por exemplo, Jesus diz ca­
por intermédio dos monarcas as­ tegoricamente: “Ninguém pode
sírios e babilónios como instru­ servir a dois senhores” (Mt 6,
9
24). 0 sentido óbvio é que nin­ Depois há o termo “irmão”,
guém pode servir a dois senhores que facilmente pode desorientai
que 6e opõem um ao outro; mas, um leitor pouco avisado da Bí­
se os senhores estiverem em har­ blia. Nos tempos antigos, em cír­
moniosa subordinação ou coorde­ culos hebreus, êsse têrmo era usa­
nação entre si, não sòmente po­ do não sòmente para designai
demos, mas até devemos, servir a aquêle parente que tem o mesmc
ambos. Assim, S. Paulo manda- pai ou os mesmos pais, mas tam­
nos sermos sujeitos às autoridades bém para indicar parentes mais
civis (Rom 13, 1-6). E certamente distantes, tais como primos, tios
isto é compatível com a nossa etc. E* muito fácil verificar êstí
obediência e serviço devidos a sentido mais lato do têrmo “irmão*
Deus, enquanto a autoridade ci­ no uso bíblico. Por exemplo, en
vil não exigir para si mesma o Génese 13, 8, Abraão diz a Lot;
direito de desrespeitar a lei de “Somos irmãos”, e por Génese 11
Deus, e assim ficar dentro do seu 27 nós sabemos que Lot era so­
próprio domínio. E o próprio Mes­ brinho de Abraão.
tre nos manda dar a César as coi­ Assim, quando achamos, nos
sas que são de César e a Deus as Evangelhos, que Tiago, José, Ju­
que são de Deus (Mt 22, 21). das e Simão são chamados “os
Afirmações gerais na Bíblia não irmãos” de Cristo, não quer istc
devem, pois, ser tomadas em sen­ dizer que êles fossem filhos d<
tido absolutamente literal. Maria, mãe de Jesus. Em parte
Também deve ser lembrado que alguma nos Evangelhos são êles
palavras de uso corrente em he­ chamados filhos de Maria, nen
braico, aramaico ou grego há há ali nenhuma indicação de que
dois mil anos, quando traduzi­ Maria tivesse quaisquer outros
das ao pé da letra para uma lín­ filhos afora Jesus Cristo. Seguin­
gua do século vinte, nem sem­ do o uso da linguagem então do­
pre têm sentido exatamente idên­ minante, aos primos de Jesus se
tico ao que comportavam em tem­ aludiria como a seus “irmãos”.
pos antigos. Por exemplo, João
(2, 4) apresenta Jesus dirigin- Sim — E quem é que está certo?
do-se a sua mãe como “Mulher”. Outra fonte de dificuldade pa­
Hoje em dia seria considerado ra chegar a uma correta com­
altamente desrespeitoso para um preensão da Bíblia é sua abun­
filho o dirigir-se assim a sua dante linguagem simbólica c fi­
mãe. Mas nos tempos antigos as­ gurada. Se certas expressões de­
sim não era. Nos círculos tanto vem ou não ser tomadas ao pé
grego como judeu, êsse termo era da letra é coisa que tem dado
considerado como indicativo do origem a agudas divergências. 0
mais alto respeito, equivalente a exemplo mais famoso é o das
"Minha Senhora”, como se pode palavras de Jesus: “Isto é meu
verificar consultando qualquer corpo... Isto é meu sangue..."
bom léxico completo. (Mc 14, 22-24). Os católicos en­
10
tendem cssàs palavras ao pé da sas variantes é que afetam o sen­
letra; a maioria dos protestan­ tido substancial das passagens, e
tes entendem-nas figuradamente. tais passagens podem ser sempre
Quem é que está certo? corrigidas à luz de outras passa­
O exemplo mais conhecido da gens que tocam no mesmo assunto,
linguagem simbólica deve ser e nas quais não há dificuldade
achado no Apocalipse. A descri­ textual. Mas essas cópias diferen­
ção do céu, das bêstas e do dra­ tes complicam para os peritos o
gão, e muitas outras coisas, são problema de recuar até o texto
tôdas simbólicas e fazem as vê- original da palavra inspirada.
zes de realidades inteiramente
diferentes daquilo que as pala­ Para sentido claro
vras exprimem no seu sentido li­ E* a tarefa dos críticos tex­
teral. O leitor não treinado da tuais o restaurarem o texto da
Bíblia pode ser fàcilmente de­ Bíblia tão estritamente quanto
sencaminhado por esse modo de possível de acordo com a leitu­
expressão. ra original. Ao fazerem isto, ês-
Até à invenção da imprensa ses crítjcos têm o auxílio de ver­
pelo ano de 1450, as Escrituras sões antigas, de citações do texto
eram laboriosamente copiadas à em escritos antigos, e as cópias
mão. Há muitos milhares de exem­ manuscritas na língua original.
plares manuscritos da Bíblia, to­ Investigando tôda a evidência e
tal ou parcial, em hebraico, gre­ seguindo um conjunto de regras
go, latim e outras línguas an­ bem fixado para decidir sobre o
tigas, para não falarmos dos correto vocabulário do texto, usu­
exemplares manuscritos em lín­ almente pode-se chegar a uma
guas modernas. Quando cópias restauração comparativamente cer­
de qualquer documento são ma­ ta do mesmo. Não é, entretan­
nuscritas, é inevitável comete- to, tarefa fácil, e sempre fica
rem-se enganos. Êstes são devi­ um certo número de textos onde
dos a má interpretação ou a ig­ hipóteses e conjeturas mais ou
norância, ou a má leitura da menos plausíveis, mas longe de
cópia principal, ou a alterações certas, devem ser empregadas a
deliberadas. fim de chegar a um sentido in­
Foi avaliado que há cerca de teligível. Particularmente no An­
duzentas mil variantes somente tigo Testamento, há algumas pas­
nas cópias manuscritas existen­ sagens onde o texto hebraico foi
tes do Nôvo Testamento. A vas- tão mal copiado, que se tomou
s ta maioria destas não afetam o sem sentido. Em tais casos, se
sentido de nenhum modo essen- as antigas versões não resolve­
j ciai, visto consistirem em varia- rem a dificuldade, os críticos te­
j ções na ordem das palavras, na rão de se satisfazer com con­
! substituição de sinónimos, em so- jeturas prováveis quanto ao mo­
letração diferente, e assim por do como o texto originalmente se
diante. Somente umas quinze des­ apresentava.
11

I
Prontamente será avaliado que crituras. Êles precisam ter o do­
êste assunto de variantes tex­ mínio das línguas bíblicas, sei
tuais nos manuscritos torna di­ capazes de decifrar manuscrito*
fícil a tarefa de chegar ao sig­ antigos e de entender e aplicai
nificado das cópias originais. E’ cuidadosamente princípios que go­
trabalho de peritos bem adestra­ vernam a restauração do textc
dos restaurar o texto das Es­ correto da Bíblia.

M as... será que você tem


a ftíblia completa?
Uma questão de impor­ Ora, que são êsses Apó
tância básica para os lei­ crifos? São os sete livro*
tores da Bíblia é a do nú- * que a Bíblia usada pels
mero de livros que deve­ Igreja Católica durant<
riam estar incluídos na séculos sempre conteve <
Bíblia como sendo a pa­ ainda contém hoje. Mas
lavra de Deus inspirada. desde o século dezesseis
A Versão protestante êsses livros foram usua]
(ao menos nas edições co- e geralmente omitidos na*
mumente circulantes) tem versões protestantes. As­
menos sete livros do que sim, a “British and Fo-
a Bíblia que a Igreja Ca­ reign Bible Society” teir
tólica usa. Será possível que os a regra que proíbe a inclusão doí
usuários desta versão tenham ti­ Apócrifos nas Bíblias que ela dis­
do uma Bíblia incompleta desde tribui. Será possível que a Bíblia,
que essa versão foi feita pela
primeira vez? tão familiar a milhões de leitores
e rotulada “A Santa Bíblia con­
No número de maio de 1950 de tendo o Antigo e o Novo Tes­
The Christian Herald, destacado
periódico protestante, à página tamento” etc., seja uma Bíblia
56, saiu um anúncio que dizia: incompleta? Bem: se o título da
A BÍBLIA COMPLETA. O que Versão Smith-Goodspeed “A Bí­
isso quer dizer é que a edição blia Completa” é o correto, então
aí anunciada contém aquilo que pareceria que as edições da Bí­
se tornou conhecido entre os pro­ blia que omitem os Apócrifos são
testantes como os Apócrifos. incompletas!
12
O Jornal do Pastor é citado res católicos têm a Bíblia com­
nesse mesmo anúncio, onde é dito: pleta? Será que, na sua Versão,
“Já não podemos entender o Nôvo os protestantes têm a Bíblia na
Testamento sem os Apócrifos, co­ sua integridade, e portanto a com­
mo não podemos entender a vida pleta mensagem de Deus, ou será
americana contemporânea sem o que os católicos entremearam às
conhecimento da Guerra Civil”. Escrituras genuinamente inspira­
Quem foi que esteve sonegando das alguns livros que são de ori­
dos leitores da Versão protestan­ gem meramente humana? Esta
te durante todos êsses séculos es­ importante questão deveria ser
sa porção do Antigo Testamento resolvida satisfatoriamente por
sem a qual escassa esperança ha­ todo leitor da Bíblia antes de
veria de estender o Nôvo Tes­ empreender haurir a mensagem
tamento, a porção mais vital e divina das páginas da Sagrada
mais importante da Bíblia? Escritura.
Os nomes dêsses sete livros são: Muitos cristãos concordam em
Tobias, Sabedoria de Salomão, que a Bíblia é formada de livros
Eclesiástico (Sabedoria de Jesus inspirados por Deus. A inspira­
filho de Sirac), Judite, I e II ção divina é a única basè sobre a
Macabeus, Baruc. Eruditos não- qual qualquer livro tem um justo
católicos tais como o Dr. Good- lugar na Bíblia. A inspiração di­
speed e Sir Frederic Kenyon de­ vina pode ser descrita como se­
ploram o fato de serem os Apó­ gue: de maneira peculiarmente
crifos geralmente omitidos das sua, Deus move e induz o autor
modernas edições protestantes da humano a escrever, e de tal modo
Bíblia. o assiste enquanto êle escreve,
que êste concebe retamente na
Os Apócrifos sua mente e escreve aquelas coi­
A Igreja Católica, que na prá­ sas e só aquelas coisas que Deus
tica tinha aceitado os chamados deseja sejam escritas.
Apócrifos desde o comêço do Cris­ Êsse impulso divino, todavia, é
tianismo como parte da palavra uma coisa secreta e oculta. Não
inspirada por Deus, oficialmente pode ser descoberto pela qualida­
ensinou o caráter inspirado dê- de ou pelo caráter do livro, ou
les no decreto publicado no Con­ pelo conteúdo do livro, ou pela im­
cílio de Trento em 1545. Êsse de­ pressão que êle produz no leitor.
creto não acrescentava doutrina A própria palavra do escritor hu­
nova à verdade cristã, mas sim­ mano é, em si mesma, garantia
III «111

plesmente afirmava solenemente insuficiente de haver êle escrito


aquilo que tinha sido a crença da sob o impulso divino. Porquanto
Igreja desde o comêço. como podemos estar seguros de
Isto suscita uma importante estar êle falando a verdade? Êle
questão: terão os leitores da Ver­ pode, mesmo, nem se dar conta
são Protestante uma Bíblia in­ do fato de estar escrevendo sob
completa, ao passo que os leito­ influência divina. O único, por­
13
tanto, que pode testificar o fato vê cada um de nós de um tut
de haver sido um livro escrito sob divino, todo nosso, mas planej
essa especial influência e direção as coisas de tal modo que a h
divina, que é chamada inspiração manidadc em geral aprendes
>divina, é o próprio Deus, e são dos Apóstolos e dos seus suc<
aquêles que êle escolhe para lhes sores nomeados a verdade re\
comunicar essa informação. lada. “Ide c ensinai a tôdas
nações”.
O modo de Deus Depois da morte dos Apósl
De dois modos pode Deus tor­ los, o ofício de ensinar foi co
nar conhecido o fato da inspira­ fiado à Igreja. Essa Igreja é, :
ção. Pode revelá-lo aos seus re­ dizer de S. Paulo, a “Igreja
presentantes oficiais, os profetas Deus vivo, a coluna e o fund
nos tempos do Antigo Testamen­ mento da. verdade” (1 Tim
to, e os Apóstolos nos tempos do 15). Essa Igreja é “o corpo
Novo Testamento. Êles, por sua Cristo”, e Cristo lhe é a “cat
vez, proclamarão o fato ao resto ça” (Col 1, 18). Nesse caso, aqui
da humanidade, enquanto Deus que a Igreja faz, o seu Cabe
garante a veracidade dêle por também faz; o que a Igreja e
milagres. Mas, se assim o pre­ sina oficialmente, o seu Cabe
ferir, pode também Deus revelá- também ensina, e, portanto, ês
lo aos leitores individuais da Bí­ ensino deve ser verdadeiro.
blia. Mas, se êle preferiu fazer Se investigarmos o ensino <
esta revelação privada, agiu de Igreja nos primeiros séculos <
um modo diferente da sua manei­ sua existência, acharemos que e
ra de agir nos tempos do Antigo usava a Bíblia grega, e ma
e do Nôvo Testamento. tarde a Bíblia latina na Igre,
Como pode ser visto através ocidental. Foi a Escritura grej
das páginas do Antigo Testamen­ que S. Paulo recomendou a 1
to, Deus comunicava-se, com o móteo (2 Tim 3, 15). Como 1
povo em geral, por intermédio dos móteo era um judeu que fala^
seus representantes escolhidos, grego, devia ter sido educa<
Moisés e os profetas. Nos tem­ no uso da Escritura grega,
pos do Nôvo Testamento, as in­ desta é que S. Paulo escreve: “T
dicações todas apontam uma con­ da a Escritura é inspirada p<
tinuação dessa mesma maneira de D e u s...” (2 Tim 3, 15). A Ei
agir. Êle falou à humanidade por critura grega continha os chame
intermédio de seu Filho encar­ dos Apócrifos, os sete livros
nado, Jesus Cristo. Jesus, por seu porções de outros livros que sã
turno, falou aos Apóstolos, e es­ omitidos em muitas edições da Bi
tes, por sua vez, foram comuni­ blia em uso entre os não-católicos
car à humanidade a mensagem Prova incontroversa mostra qui
de Jesus divinamente revelada. a Igreja Católica como um tod<
Deus não envia seu Espírito continuou a usar essa Bíblia com
Santo a cada indivíduo; não pro­ pleta pelos séculos adiante. &
14
depois da divisão operada no tem­ Escritura ou não. São Jerônimo,
po do surgimento do Protestan­ embora não entusiasta dêsses li­
tismo foi que sete dêsses livros vros, incluiu-os na sua versão la­
vieram, pouco a poucp, a ser omi­ tina por deferência para com o
tidos da Bíblia pelos grupos que uso e crença prevalentes na Igre­
deixaram a Santa Madre Igreja. ja, e até mesmo os menciona
Porém, a princípio, mesmo êles, como Escritura aqui e acolá nos
incluíram os Apócrifos. Segundo seus escritos.
Goodspeed (A História da Bi- Naquele tempo a Igreja ainda
blia, p. 168), “êles ainda acham não falara oficialmente. Mas, do
lugar em tôdas as impressões com­ século quinto ao dezesseis, portan­
pletas da Versão "King James” de to durante mais de mil anos, o
1611... Contêm muita coisa de mundo cristão inteiro sob a lide­
interêsse literário e histórico, e rança da Igreja, “a coluna e o
algumas passagens de real valor fundamento da verdade”, foi unâ­
religioso”. nime em considerar êsses livros
O Arcebispo Anglicano Abbot, como parte genuína da palavra
em 1615, proibiu a omissão dês­ inspirada por Deus.
ses livros nas edições impressas
da Bíblia, porém a primeira Bí­ Livros omitidos
blia inglêsa impressa que fêz o
seu aparecimento* nos Estados Então por que foi que, no sé­
Unidos omitiu-os, e cada impres­ culo dezesseis, êsses livros come­
são subsequente da Bíblia para çaram a desaparecer da Bíblia?
uso geral entre os não católicos Parece que os “Reformadores”
nesse país tem seguido o mau preferiram seguir a lista judaica
exemplo da primeira impressão. dos livros inspirados. Essa lista
Em 1826, como já mencionado, a foi traçada no sínodo de Jamnia
“British and Foreign Bible So- na Palestina por volta do ano 90.
Note-se a data: cinquenta anos,
ciety” (Sociedade Bíblica Britâ­ e mais, depois do estabelecimento
nica e Estrangeira) adotou uma
resolução ou regra de que nunca da Igreja. Êsse sínodo foi domi­
imprimiria ou faria circular exem­ nado pelos fariseus. Se se desejar
plares da Bíblia que contivessem saber o que Jesus Cristo pen­
êsses sete livros. sava dos Fariseus, leia-se Ma­
teus 23. Os homens reunidos nes­
Aqui, pois, há evidência de se sínodo estabeleceram regras
que a Igreja Católica, a única muito estreitas, nacionalistas e “a
Igreja cristã em existência du­
rante dezesseis séculos, deu ao priori”, para determinar o que
povo a Bíblia completa, inclusi­ era um livro inspirado: 1) De­
ve os chamados Apócrifos. Ver­ via êle ser antigo em origem,
dade é que, durante os quatro isto é, escrito antes que a suces­
primeiros séculos, houve algumas são dos profetas fôsse quebrada
dúvidas sobre se êsses livros de­ por volta do tempo de Esdras no
veriam ser considerados como século quarto antes de Cristo; 2)
15
Devia ter sido escrito na Pales­ te, os quais entretanto nunca si
tina; 3) Devia ter sido escrito citados no Nôvo Testamento.
em hebraico. A outra única alternativa pai
aceitar a autoridade da Igreja
Um pedaço de História aceitar a própria autoridade pr
Tais princípios presumem, com vada da pessoa, e apelar pai
não boa razão, que Deus só po­ João 14, 26 e 16, 13, onde Jesi
dia inspirar um escritor dentro prometeu enviar o Espírito Sai
dos limites da Terra Santa, e que to para ensinar tôda a verdad
a única língua que o Deus oni­ Na realidade, entretanto, isto nã
potente e onisciente condescende­ significa que o Espírito Sanl
ria em permitir seria o hebraico. ensinará tôda a verdade diretí
Isso, por certo, excluiria a pos­ mente a cada indivíduo, mas si]
sibilidade de muitos escritores do à Igreja, que, por sua vez, ei
Novo Testamento serem inspira­ sinará tôda a verdade e será
dos, visto terem escrito em gre­ guia infalível para a fé dos ii
go, exceto S. Mateus, e visto qua­ divíduos. Esta é a única inte;
se todos os livros do Nôvo Tes­ pretação que a Bíblia e a exp<
tamento terem sido compostos fo­ riência nos permitem dar a esse
ra da Palestina. palavras. A Bíblia força esta ii
Os Apóstolos não foram do terpretação porque o sistema c
mesmo pensar dos Fariseus em Deus é sempre só se comunica
Jamnia. Há prova abundante de diretamente com os seus repr<
haverem êles usado o Antigo Tes­ sentantes escolhidos e oficiai
tamento grego, e de haverem lido transmitindo estes, por seu tu;
os Apócrifos e refletido nos seus no, a verdade divina ao povo e]
escritos a influência deles. Se o geral. A experiência força est
leitor tem à mão um exemplar interpretação porque a explica
dos Apócrifos, a fim de verifi­ ção alternativa não tem levado
car a afirmação precedente, pode outra coisa senão à confusão n
comparar as seguintes passagens: mundo religioso. Há literalmei
Compare Tiago 1, 19 com Ecle­ te centenas de seitas, diferind
siástico 5, 11. umas das outras, embora cad
Compare 1 Pedro 1, 6-7 com uma pretendendo ter a correta ir
Sabedoria 3, 5-7. terpretação da palavra inspirad
Compare Hebreus 11, 34-35 com por Deus, e ser guiada pelo Es
2 Macabeus 6, 18; 7, 42. pírito Santo. Deus não é o Deu
Compare Romanos 1, 18-32 com da inconsistência e da confusãc
Sabedoria 13, 1; 15, 15. mas sim da consistência e di
E’ verdade que as passagens unidade de doutrina.
precedentes e outras que pode­ Por estas razões é que, acei
riam ser citadas nunca são men­ tando a autoridade da sua Igreja
cionadas expllcitamente. Mas há mesmo como ela falava anterior-
alguns livros cujo direito a um mente à Reforma, quando era a
lugar na Bíblia ninguém discu­ única Igreja cristã, o leitor ca­
16
tólico da Bíblia tem a convicção ra a nossa salvação. .. então tor­
imperturbável de que a sua Bí­ na-se imperativamente importan­
blia é a Bíblia completa. te, para cada um de nós pessoal­
O menos que qualquer pessoa mente, compreender claramente e
sensata deveria fazer seria apren­ aceitar ou rejeitar a evidência que
der a verdade sobre a Igreja Ca­ está tão livremente disponível.
tólica. Porquanto, se é verdade, Tudo o que pedimos a qualquer
como temos sustentado desde o pessoa sensata fazer é: INVES­
tempo de Cristo, que esta é a TIGAR!
Igreja que o Salvador fundou pa­

Traduções da Bíblia ...


boas e más
Nem todos os que leem faz uma versão incorreta
a Bíblia se dão conta de da Bíblia. O simples fato
quanto dependem da exa­ de aquêle que isso faz po­
tidão da tradução que der pensar que está afir­
usam. As traduções po­ mando corretamente as
dem ser boas ou más. vistas do Todo-Poderoso
Tem sido política da é sem escusa.
Igreja desde os primeiros A Igreja Católica insis­
tempos prover o povo da te em que as traduções da
Bíblia traduzida para uma Bíblia para línguas co­
língua que êle possa com­ muns usadas pelo povo de­
preender. Se às vêzes a vem ser acompanhadas de
Igreja achou necessário proibir o notas explicativas dos trechos
uso de certas traduções, foi por­ mais difíceis ou obscuros. Do con­
que essas traduções eram erró­ trário, a mente não adestrada po­
neas, e portanto desorientadoras, de prontamente entender mal e
apresentando-se sob falsas pre­ torcer o sentido, para sua pró­
tensões. Em vez de ser a pala­ pria perdição, como S. Pedro diz
vra de Deus, elas realmente eram (2 Ped 3, 15-16). Quem quer que
apenas a palavra do homem. sustente que a Bíblia é perfeita­
Grande crime é apresentar como mente clara e pode ser fàcilmenr
palavra de Deus aquilo que não te compreendida sem auxílio de no­
passa de palavra do homem fa­ tas de rodapé, está em contradi­
lível, e isso é precisamente o que ção com essa passagem da segun­
17
da epístola de S. Pedro, e desa­ língua das escolas e das univer­
fia fatos de experiência que se sidades. As aulas nas grandes
multiplicaram pelos séculos. universidades medievais eram da­
A Igreja Católica, portanto, das em latim. As línguas moder­
aprova traduções e promove a nas não se desenvolveram senão
circulação da Bíblia entre o povo, pouco antes da Reforma. Quan­
mas somente em traduções que do elas começaram a ser comu-
tenham sido profundamente exa­ mente faladas, traduções da Bí­
minadas, pelos seus mestres com­ blia foram feitas e publicadas
petentes, quanto à exatidão e à nessas línguas.
fidedignidade. Essa atitude ofi­
cial da Igreja foi sumàriamente A Bíblia antes de Lutero
afirmada pelo Papa Benedito XV
na sua carta encíclica dirigida ao Contrário à falsa opinião, lar­
mundo em data de 15 de setem­ gamente difundida, de que Lu­
bro de 1920: "O nosso único de- tero foi o único que deu a Bíblia
lejo quanto a todos os filhos da ao povo na língua que este podia
greja é que, saturando-se da Bí­ entender, há o inquestionável fa­
blia, possam chegar ao superior to histórico de haverem catorze
;onhecimento de Jesus Cristo”. edições da Bíblia em alemão e
Nos tempos primitivos, os cris­ cinco em holandês feito o seu
tãos eram, na maior parte, de lín­ aparecimento antes de Lutero te r
gua grega, mas, por volta do ano dado a sua tradução ào mundo de
150, o latim veio a ser cada vez língua alemã. Na biblioteca dos
mais adotado como a língua co­ Irmãos Paulinos, anexa à igreja
mum. A primeira tradução lati­ de S. Paulo Apóstolo na cidade
na das Escrituras fez então o de New York, há um exemplar
seu aparecimento. Uns 250 anos da nona edição de uma Bíblia ale­
mais tarde, S. Jerônimo, que por mã impressa por A. Cogurger em .
muitos é aclamado como o maior Nuremberg, no próprio ano em \
erudito da Escritura em todos os que nasceu Martinho Lutero. Uma j
tempos, fêz uma versão inteira­ tradução em espanhol foi publi­
mente nova, para o latim, dos. tex­ cada em 1478. Na Itália, havia ;
tos originais do Antigo Testamen­ uma versão italiana tão popular, ;
to. No mesmo período apareceram que foi reimpressa dezessete vê- :
versões em siríaco, gótico, em vá­ zes antes da publicação da edição ;
rios dialetos egípcios e assim por alemã de Lutero. Na França, tra- j
diante, conforme o requeriam as duções da Bíblia em francês fo- ,
necessidades. ram publicadas de 1478 em di- {
Até quase o tempo da Refor­ ante.
ma, o latim continuava sendo a
língua do público leitor. De fato, Traduções portuguesas '
a base de toda educação era a Leonel Franca, S.J., em Catolicis­
gramática latina. Todo aquêle que mo e Protestantismo, 2• ed. (Agir), .
podia ler, podia ler latim. Era a p. 203 s., escreve: “Portugal, ape- ;
sar da semelhança de idioma fa­ Desde 1611 vastos progressos
cilitar nêle o uso das versões es­ foram feitos na restauração dos
panholas, teve também muito ce­ textos originais, devidos ao des­
do a sua tradução vernácula. cobrimento de muitas novas có­
Fernão Lopes, na sua Crónica pias manuscritas. Conseguinte­
d'El-Rei D. João, refere que esse mente, foi necessária uma revi­
rei (1385-1433) mandara tradu­ são. Foi ela publicada entre 1881
zir quase todo o Nôvo Testamen­ e 1885, e então foi declarado que
to e já sob o reinado de D. o texto grego do Nôvo Testamen­
Dinis os monges de Alcobaça, com to seguido em 1885 diferia, em
uma “História d’abreviado Tes­ 5788 passagens, do texto grego
tamento Velho”, haviam também no qual a “King James” origi­
vertido os Atos dos Apóstolos. nal se baseara. Uma revisão pos­
Remontam, portanto, aos prin­ terior foi publicada nos Estados
cípios do século XIV as primei­ Unidos em 1901. Porém, desde en­
ras versões portuguêsas dos Li­ tão, mais outras novas descober­
vros Santos de que temos atual­ tas e estudos resultaram num
mente conhecimento”. texto grego ainda melhor, e, as­
sim, em 1946, houve outra revi­
Bíblia anglo-saxônia são da Versão “King James” do
Na Inglaterra, versões, ao me­ Nôvo Testamento. Feição saliente
nos das partes mais populares e desta versão é que a conhecida
mais úteis da Bíblia, para idio­ conclusão do Pai-Nosso: “pois teu
ma anglo-saxônio, fizeram o seu é o reino e o poder e a glória
aparecimento já desde 670. A ver­ para sempre, Amém”, é relegada
são manuscrita geralmente atri­ a uma nota de rodapé com estas
buída a Wicliff pode absoluta­ palavras: “Muitas autoridades, al­
mente não ter sido obra dêle. A gumas delas antigas, acrescenta­
matéria é discutida. Desde o tem­ vam isso de alguma forma”. Os
po de Lutero houve uma cons­ editores vieram a concordar com
tante sucessão de Bíblias inglesas a versão católica, que nunca con­
impressas, cada qual aproveitan- teve essas palavras. Essas pala­
do-se das suas predecessoras e vras conclusivas são, sem dúvida,
corrigindo alguns dos seus erros uma interpolação, um subsequen­
ou inexatidões, até que finalmen­ te aditamento ao texto, e não fa­
te ali apareceu a merecidamente ziam parte da Oração Dominical
famosa Versão “King James” de conforme Nosso Senhor a ensinou.
1611. Era ela baseada em tôdas
as suas predecessoras, mas foi A Oração Dominical
bem sucedida em eliminar mui­ Uma breve explicação de como
tos erros delas. Contudo era im­ essas palavras vieram a ser in-
perfeita, principalmente por cau­ sertas nos manuscritos gregos do
sa dos textos grego e hebraico Nôvo Testamento pode ser aqui
imperfeitos nos quais ela se de interesse. A essas palavras
baseou. acrescentadas alude-se às vêzes
19
como ao “final protestante da bido, que tinha essas palavras, i
Oração Dominical”. Isto só é ver­ ram elas postas na versão pi
dade no sentido de ser essa in­ testante corrente. Mas, uma v
tercalação corrente em círculos que os católicos fizeram a si
protestantes, porém ela estava em tradução daquilo que naquele tei
uso séculos antes do surgimento po era o texto latino muito nu
dos Reformadores, e é derivada cuidado, o qual omitia essas p
de fontes católicas. A sua forma lavras, elas não são achadas i
mais antiga é achada no Didaché, tradução feita pelos católicos e
documento cujo título completo é 1582.
“A Doutrina dos Doze (Apósto­
los)”, e que foi composto ainda Os católicos ingleses
no século segundo depois de Os católicos ingleses, no tei
Cristo. po em que numerosas versões i
Essas palavras eram comumen- glêsas estavam sendo publicad
te apensadas às orações públicas pelos protestantes, lutavam cc
da Igreja no fim de cada invoca­ tremendas dificuldades. Êles n
ção. Mesmo quando a Oração Do­ eram tolerados na Inglaterra;
minical era recitada, essas pala­ sua propriedade era então co
vras seriam acrescentadas no fim, fiscada. Muitos eram enforcadc
mui provàvelmente como hoje o esquartejados ou estripados pe
final “Glória ao Pai e ao Filho única razão de recusarem tran
e ao Espírito Santo” é frequen­ ferir a sua fidelidade do suce
temente acrescentado ao final das sor de S. Pedro em Roma pa;
orações. Aqueles que copiavam os o polígamo e divorciado Henriqi
manuscritos do Evangelho segun­ VIII, rei da Inglaterra. Todavi
do S. Mateus haviam-se acostu­ a despeito dessas dificuldades, p
mado tanto a ouvir essas pala­ deram êles dar a lume uma tr
vras aditadas no fim da Oração dução das Escrituras. O Nô1
Dominica], que, quando as viam Testamento foi publicado em 158
faltando nos seus manuscritos do mas o Antigo Testamento, devic
Evangelho, concluíam que alguém a dificuldades financeiras, ni
intencionalmente as omitira. As­ foi publicado até 1609. Como esí
sim, um copista e depois outro in­ tradução foi feita e publicada pa
seriu essas palavras, até que elas te em Rheims e parte em Douay,
se introduziram em grande núme­ conhecida como a versão Rheim!
ro de cópias. Mas durante todo Douay. Genuína erudição entro
o tempo os manuscritos mais an­ na sua feitura, porém ela era ei
tigos e mais fidedignos não as tremamente servil e literal na su
tiveram. A versão latina não as aderência ao latim da Vulgatí
tinha, porém elas se introduziram Contudo, tinha certas expressõe
naquilo que foi o texto grego vigorosas e cheias de fôrça, <
“Recebido” ou aceito. Uma vez responde pela introdução, no vo
que os protestantes fizeram a sua cabulário inglês, de palavras d<
tradução do Texto Grego Rece­ derivação latina que ainda são di
20
uso corrente. Essa versão foi re­ Para os que desejarem verifi­
vista pelo Bispo católico inglês car os fatos e algarismos aqui
Challoner em 1749-1752. dados no tocante a traduções da
Dentro da última metade do sé­ Bíblia para o alemão e outras
línguas modernas, recomendamos
culo, ou que tal, numerosas ver­ um livro que não pode ser sus­
sões da Bíblia, ou de parte dela, peitado da menor parcialidade ca­
fizeram o seu aparecimento. Al­ tólica: “The Cambridge Modern
gumas delas foram preparadas History” (A História Moderna
por acatólicos e algumas por de Cambridge”), Vol. I, pp. 639-
católicos. 641 em particular.

U/ocê £4tá jpntjpcmacfa pana


compneencftn a (fiíb íia ?
Muitas pessoas fizeram forma sistemática. Mesmo
um genuíno esforço para uma leitura superficial
ler a Bíblia, mas aban­ do Livro inspirado de­
donaram-na. “Não pude veria convencer uma pes­
fazer dela pé com cabe­ soa razoável de que os
ça”, dir-lhe-ão elas. livros individuais ou todos
Tais pessoas raramente êles juntos não tiveram
são de censurar. A ver­ em mira ensinar todas
dade é que elas não es­ as verdades da revela­
tavam preparadas para ção divina aos que as es­
ler e apreciar a Bíblia. tão aprendendo pela pri­
Para elas, a Bíblia é tão meira vez.
confusa como o seria um livro Leia o Antigo Testamento, e
da mais alta matemática para al­ verá que êle contém as tradições
guém que nunca tivesse aprendido mais primitivas do gênero hu­
os elementos da aritmética. mano, as leis, as cerimónias para
A Bíblia nunca pretendeu ser culto, a história, a moral e a li­
um livro de texto para os que teratura devocional do povo judeu,
I mal sabem rabiscar no estudo da que viveu, por dois mil anos ou
J religião revelada. A verdade de mais, sob a especial providência
I Deus revelada não é apresentada de Deus.
! metodicamente na Escritura. O No Novo Testamento o leitor
i ensino de Cristo não é dado de achará quatro breves relatos da
21

I
vida, das palavras e ações de Conhecimento preliminar
Jesus Cristo, um resumo da As dificuldades que as pessoas
atividade dos Apóstolos, ou pe­ experimentam em ler as Escri­
lo menos de vários dêles, na turas não são inteiramente devi­
Igreja primitiva, juntamente com das à obscuridade da linguagem,
cartas de instrução e de direção nem às verdades inspiradas e su­
moral, dirigidas por S. Paulo à blimes de que elas tratam. Essa
Igreja em lugares particulares; dificuldade também é causada pe­
e, igualmente, cartas de Pedro, lo fato de as pessoas começarem
Tiago, João e Judas aos cristãos a lê-las sem o necessário prepa­
em geral, etc. ro, sem o conhecimento prelimi­
Todos os escritos do Artigo nar que elas pressupõem nos lei­
tores. A Bíblia contém muitas
Testamento foram dados por alusões, insinuações e ilustrações
Deus por meio de escritores que que não podem ser correta e ple­
se dirigiam aos que possuíam a namente compreendidas sem esse
fé judaica. Êles podiam presu­ preparo.
mir, e presumiram, que os seus
leitores estariam familiarizados A Bíblia é incompleta em si
com os ensinamentos religiosos mesma, e só pode ser compreen­
dessa fé. Os escritos do Nôvô dida quando lida à luz da Fé cris­
tã preservada e ensinada pela
Testamento também são dirigidos Igreja. Os que lêem a Bíblia sem
á crentes da Fé cristã, e, embora êsse ensino e prévia instrução to­
sendo livros inspirados, presu­ pam com inelutável dificuldade, c
mem que a verdade revelada já há muitos erros em que podem
era conhecida e aceita. cair.
Em parte nenhuma esses escri­ Tome, como exemplo, a questãc
tos inspirados se apresentam co­ proposta ao Apóstolo Filipe nos
mo um completo manual, ou li­ Atos (cap. 8) por alguém qu«
vro de texto, da revelação cris­ achou necessário assegurar a sue
tã. Falam dela como de algo já salvação: "Que deverei fazer pa­
comunicado, já crido. Aludem a ra ser salvo?” O Apóstolo respon­
ela como a algo já conhecido e deu e disse em substancia: “Crí
simplesmente necessitando de ex­ no Senhor Jesus Cristo e sê ba­
plicação. A finalidade dêles era tizado: e serás salvo”. Aqui está
sòmente confirmá-la, e induzir uma questão muito simples, ex­
pressa de maneira a mais simples
os cristãos a praticarem-na de possível; a resposta parece igual­
acordo com~ as exigências de mente chã e simples. Duas coi­
Cristo. Tais escritos nunca pre­ sas são requeridas: crer no Se­
tenderam ser a única e direta nhor Jesus Cristo e ser batizado
fonte da verdade cristã para aquê- Mas será isto tão simples assim*
les que nunca tinham ouvido fa­ Suponha que o inquiridor fosse
lar dela antes. atraído pela religião judaica é ti-
22
vcsse algum conhecimento elemen­ critura foi escrita por inspiração
tar do ensino dela concernente ao de Deus e deveria ser usada para
Messias prometido predito pelos ensinar, reprovar, corrigir, ins­
profetas judeus; nesse caso a truir, aperfeiçoar o homem de
crença em Jesus Cristo como o Deus, e prepará-lo para tôda
Messias prometido teria para êle obra boa. Mas não reconhece a
alguma significação. Mas supo­ Bíblia como sendo uma apresen­
nha que a questão fôsse formu­ tação sistemática da verdade di­
lada por um pagão que não co­ vina, nem como suficiente para
nhecesse nada da religião judai­ ensinar a verdadeira fé a um
ca; então a resposta seria sem leitor que para isso não esteja
sentido e, certamente, não sim­ preparado por uma instrução
ples nem suficiente. preliminar.
Leitura insuficiente Deus não escreveu nada
A resposta do Apóstolo só se O princípio em que a Igreja
torna verdadeira, plena e ade­ insiste é um princípio muito
quada para todos os homens quan­ simples e razoável, que se har­
do êles têm o ensino tradicional
do que é crer no Senhor Jesus moniza com os fatos históricos.
Cristo e ser batizado. Os que não A revelação original de Deus não
têm nenhuma compreensão da foi feita à humanidade por es­
Doutrina Cristã acharão pràtica- crito nem por meio de um livro.
mente impossível obter um conhe­ Foi feita, no comêço, imediata­
cimento adequado dela pela lei­ mente pelo próprio Deus, a certos
tura da Bíblia. Mas, quando êles indivíduos que a comunicaram
têm essa compreensão, não podem aos outros. Os homens conhece­
achá-la somente na Escritura, po­ ram e creram a verdade, conhe­
dem achá-la também exposta de ceram e creram a única religião
forma mais atrativa e impressiva. verdadeira, ao menos na sua subs­
As Escrituras têm em mira aque­ tância, muito tempo antes que o
les que possuem a Fé cristã e primeiro livro fôsse escrito.
aquêles que, ao menos até certo Os primitivos crentes sob a dis-
ponto, já foram instruídos nas pensação cristã tiveram a Fé cris­
doutrinas e preceitos do Evan­ tã ensinada a si oralmente por
gelho. aquêles que haviam sido oralmen­
A Igreja Católica nunca fêz ob­
jeção à leitura da Bíblia, nem a te instruídos pelo próprio Cris­
desencorajou. Pelo contrário, sem­ to. A Fé assim pregada e trans­
pre considerou a leitura da Bí­ mitida pelos Apóstolos aos seus
blia como desejável ou proveito­ sucessores era possuída por aquê­
sa. Aprova e sempre aprovou o les que liam qualquer livro da
uso da Bíblia, e só faz e só tem Escritura; e, à luz dêsse conhe­
feito objeção ap mau uso dela. A cimento, êles interpretavam e
Igreja Católica sustenta que a Es­ compreendiam a Escritura.
23
Regra universal oposto ao seu ensino. O ensino c
Algo desta sorte é, òbviamente, Igreja foi recebido do nosso Di\
necessário no caso de tôda lin­ no Salvador, e de Deus igualmei
guagem, escrita ou não escrita. te provém o ensino achado na E
A linguagem escrita não é inte­ blia. Não pode haver oposição e
ligível para os que ignoram os tre êles.
caracteres em que ela é escrita, Não quer isto dizer que os c
ou que nunca aprenderam a ler. tólicos só possam ler as Esci
E’ igualmente ininteligível para turas quando um sacerdote es
os que, embora conheçam o alfa­ à mão para fornecer a corre
beto e sejam capazes de ler, con­ interpretação delas, ou que ni
tudo não entendem o significado tenhamos o livre uso da nos:
das palavras escritas. A compre­ própria razão e entendimento j
ensão de uma palavra vem de lermos as Escrituras e lhes d
dentro da mente, e não de fora, senvolvermos e aplicarmos o se
e, se o sentido não estiver na tido. Isso não significa que
mente em algum grau, não há erros dos transcritores e trad
capacidade para entender o que tores não possam ser corrigidc
ela significa. ou que, ao corrigi-los, não pc
samos usar de todos os auxíli
A Igreja Católica segue, por­ que possam ser derivados da hi
tanto, uma regra universal que 6 tória, da crítica e da ciência. N;
essencial para a compreensão de significa que não possamos us
qualquer ensinamento por lingua­ as ciências físicas e a literatui
gem escrita ou não escrita. Do os fatos trazidos à luz pelos e
próprio Cristo recebeu a Igreja ploradores e estudiosos da hisi
a Doutrina Cristã. Pondo os mem­ ria natural, para ilustrarmos
bros da Igreja de posse dessa ajustarmos o sentido literal
doutrina de uma maneira com­ texto sagrado. Significa simpl<
preensível para as mentes da­ mente que não estamos em libe
queles a quem se está dirigindo, dade para interpretar as Esc:
ela fornece a luz e a direção ne­ turas num sentido que seja co
cessárias para os habilitar a ler trário ao ensino da Igreja cor
a Bíblia com proveito e sem per­ êste veio até nós desde o tem
verterem as palavras dela para de Cristo e dos seus Apóstoh
sua própria perdição. Assim, os católicos, preparad
A Igreja Católica concita seu por uma compreensão da Doutri]
povo a ler a Bíblia com espírito Cristã que recebem da Igreja, p
reverente, visto ela conter a pa­ dem estudar as próprias Esci
lavra de Deus revelada e o pró­ turas e trazer à sua Fé nova >
prio Deus nos falar através das da e vigor hauridos nas págim
suas páginas. Ela também nos inspiradas. E, com esta menta
concita a lermos as Escrituras dade, o eminente leigo católi
sob a sua guia e direção, e a não Orestes A. Brownson concitai
as entendermos de modo nenhum os católicos a irem às Escritun
24
e a estudá-las como o fizeram os ta, mais enérgica, e mais capaz
cristãos das passadas gerações. de resistir às seduções do êrro e
“Recebamos a sublime instru­ às tentações do vício. A nossa de­
ção”, escreveu êle, “como foi di­ voção tornar-se-á mais ardente,
tada pelo Espírito Santo, numa mais sólida, mais duradoura, ema­
linguagem mais bela e mais su­ nando de um fixo e inalterável
blime do que jamais se originou princípio de convicção, e não de
ou jamais poderia originar-se de um mero sentimento temporário
homens não-inspirados. A nossa ou de uma excitação emocional;
Fé aproveitará com isso; tornar- e a nossa moral conformar-se-á
se-á mais ampla, mais pura, mais a um padrão mais alto e tomar-
sublime e mais compreensiva; tor­ se-á capaz de maiores sacrifícios
nar-se-á mais forte, mais robus­ e de ações mais heroicas”.

s
e

Intuito real da Bíblia:-ensinar a religião


Os leitores da Bíblia ensino é preeminentemen­
têm muitos interêsses, e te doutrinário.
cada um dêles volve-se Por certo, muitas vê-
para as páginas dela a zes os autores da Bíblia
fim de satisfazer o seu falam de fenômenos natu­
interêsse particular. rais, dos céus, da terra,
Alguns usam a Bíblia do sol, da lua e das es-
como um livro de devo­ trêlas, e descrevem o uni­
ção, no qual acham pen­ verso físico conformemen-
samentos e inspiração pa­ te à concepção popular e
ra oração e meditação. em linguagem prevalente-
Para outros, a Bíblia é mente do tempo. Mas o
um objeto de estudo. Êstes estão seu intuito não é ensinar ciência,
interessados em literatura orien­ e êles não estão escrevendo um
tal, em história antiga, em mo­ relato científico.
ral, em formas de culto e coi­ E, embora contenha muitos fa­
sas semelhantes. tos históricos fidedignos, a Bí­
Mas, seja qual fôr o seu intuito blia não é primàriamente uma
especial ao ler a Bíblia, cada um história do povo judeu ou de
deveria ter em mente que a Bí­ qualquer outra nação. Mesmo na­
blia é um livro religioso. O seu queles livros da Bíblia em que é
25
copiosa a história, os fatos nar­ tante que a passagem do temi
rados, os detalhes selecionados e opera em todas as coisas. Ef imi
a maneira como eles são agru­ tável, e a sua vida não é medic
pados e apreciados indicam da pelo tempo (SI 101, 26-28; H<
parte dos escritores o objetivo de 1, 10-12). Não está limitado a u
ensinar algo de muito mais valor único lugar, mas está presente o:
do que os simples fatos que êles de quer que as suas criaturi
registam: — ensinar grandes ver­ necessitem que a sua onipotênc
dades religiosas. as conserve em existência (J<
Essas verdades não são siste- 23, 24). Conhece a mais íntin
màticamente dispostas ou expres­ natureza de tudo o que êle fc
sas em têrmos técnicos abstratos O seu conhecimento penetra a
e precisos. São apresentadas de "o fundo das profundezas. .. n
maneira concreta, popular e des­ corações dos homens, nas part
critiva, adaptada do melhor mo­ mais ocultas” (Ecle 23).
do à compreensão do povo para Êle é bom... e não há impe
o qual foram intentadas. feição de mal nêle ou no s<
Deus, como revelado a nós nas trato com os homens (Lv 11).
páginas da Escritura, é realíssi­ justo, e os seus juízos são just
mo. E* tão real, que só "o insen­ e perfeitos (SI 118); mas sobi
sato disse no seu coração: Não tudo é misericordioso c benig:
há Deus” (Salmo 13, 1). (SI 103), e, na medida em q
“São vãos todos os homens nos os homens em particular entra
quais não há o conhecimento de em causa, muito exorável c o s
Deus e que, através dessas coi­ amor a êles e a tudo o que c
sas boas que são vistas, não gran­ fêz (Jo 3).
jearam poder de conhecer Aquêle
que é, e, nem observando as Somente um único Deus
obras, reconheceram quem era o Qualquer leitor da Bíblia fica
Obreiro.. Êles não devem ser impressionado com a enfática i
desculpados, porque, se puderam sistência sôbre o fato de não li
saber tanto para explorar o cur­ ver senão um único Deus verd
so das coisas (o mundo e tudo deiro: não há outros (Dt 6, 4 ;
nêle), como não descobriram de Cor 7, 4). Todavia, quando a h
preferência o Senhor delas?” manidade progredira suficienl
(Sab 13, Rom 1, 19-20). mente e foi capaz de libertar-
Os característicos distintivos de dos supersticiosos conceitos p
Deus são, igualmente, realíssimos. pulares de muitos deuses, o úi
"Deus é espírito” (Jo 4, 24), e, co Deus verdadeiro revelou-se c
como tal, não pode ser visto nem mo realmente é: Três Pesso
tocado nem de qualquer forma Divinas; Três Pessoas indivídua
percebido pelos sentidos humanos. mente distintas; Três Pesso
Diferentemente de tudo o que co­ cada qual divina porque ca<
nhecemos neste mundo, êle não qual possuindo uma só e mear
é afetado pela mudança cons­ natureza divina — "o Pai, o I
26
lho e o Espírito Santo” (Mt 28, os fêz do n a d a ...” (2 Mac 7,
19). Êste fato foi dado a conhe­ 28). Tôdas as coisas, visíveis e
cer pelo “Filho unigénito, que invisíveis, que são distintas de
está no seio do Pai”, e que se Deus são criaturas de Deus. “O
fêz homem e “habitou entre nós” céu e a terra passarão”, e, pas­
(Jo 1). sando, serão transformados num
“nôvo céu e numa nova terra”
Como os homens o viram (Mt 5, 18; 2 Pedro 3, 13).
Enquanto a Escritura contém
muita informação valiosa concer­ A alma do homem
nente a Deus, relativamente tem E’ com o homem e com as suas
pouca coisa a dizer no tocante ao relações com Deus que a Bíblia
vasto universo do qual fazemos está principalmente relacionada.
parte. Ela não vai além da des­ Como tudo o mais no mundo, to­
crição das aparências exteriores do homem é criatura de Deus. O
dos céus e da terra, do vasto seu corpo é formado de material
teto abobadado dos céus, da pla­ preexistente, e é vivificado e ani­
na extensão da terra, e do movi­ mado por uma alma espiritual
mento do sol de horizonte para e imortal que é criação direta de
horizonte. Êstes são descritos co­ Deus (Gn 2, 7). Os sêres huma­
mo aparecem aos sentidos huma­ nos diferem em espécie dos ou­
nos, e em termos e em idéias do­ tros animais na terra (Gn 2, 20).
minantes no tempo. Que tais con­ A sua superioridade acha-se prin­
ceitos e linguagem nem sempre cipalmente na sua alma (Mt 16,
concordem com os conceitos cien­ 16), porque na sua alma é que
tíficos de tais coisas hoje esta­ êles trazem a imagem e seme­
belecidos, isto não quer dizer que lhança de Deus (Gn 1, 20). São
os escritores tenham sido culpa­ todos uma grande família huma­
dos de êrro. Êles não estiveram na (At 17, 26), descendentes do
em êrro mais do que o moderno primeiro par humano.
cientista que sabe que a terra A condição em que Deus pre­
gira em relação ao sol e que, no tendeu que vivessem os primei­
entanto, diz ao seu amigo que ros homens e mulheres e os seus
irá caçar “ao nascer do sol”. A descendentes difere vastamente
linguagem dêles não pretendia ser daquela em que achamos a famí­
científica. Como muitas vêzes tem lia humana vivendo atualmente.
sido dito, êles não estavam inte­ A condição do primeiro homem e
ressados em saber como vão os da primeira mulher era, original­
céus, mas sim em como ir para mente, feliz e privilegiada. Êles
o céu. eram inocentes do mal (Gn 3, 5)
A única verdade básica concer­ e gozavam uma especial familia­
nente ao universo repetidamente ridade com Deus (Gn 2, 19). O
acentuada na Bíblia é: “Contem­ sofrimento de doença e de toda
plai o céu e a terra e tudo o que dor física devido ao trabalho ou
neles está, e considerai que Deus a qualquer outra causa eram-lhes
27
I
desconhecidos. Êles sabiam da O homem precisa dc Deus \
morte corporal somente como um Mesmo se ainda possuía a in- j
possível castigo da deslealdade ao tcligência como parte essencial da
seu Criador, a cuja vontade, co­ natureza humana, e mesmo se, co- .
mo criaturas morais responsá­ mo agente livre, ainda havia nêle
veis, êles eram obrigados a obe­ a capacidade de fazer algum bem,
decer. o primeiro homem, e tôda a hu­
Não diversamente de uma pes­ manidade dêle descendente em
soa que sempre gozou excelente estado semelhante, não podiam
saúde, que não sabe o que é es­ restabelecer-se na condição pri­
ta r doente, que raramente obser­ vilegiada sem o auxílio especial
vou em primeira mão uma doen­ do Deus misericordioso de cuja
graça e amizade êles haviam de- .
ça grave ou a morte, e que to­ caído. Mas, logo depois do de­
ma as bênçãos de uma boa saúde sastroso pecado do primeiro ho­
algo como coisa pressuposta até mem, a êle e a tôda a família \
perderem-na, o primeiro homem humana foi prometido um Reden­
perdeu o seu estado feliz e pri­ tor (Gn 3, 15) — um Redentor
vilegiado. De que modo essa con­ que em tôda parte é chamado um
dição em que ele vivia foi per­ “segundo Adão”, pelo qual seria
dida — pela sua deliberada de­ restaurado tudo o que o “primei­
sobediência à ordem de Deus — ro Adão” perdeu para si e para
! vivamente descrito no primeiro a sua posteridade. Porém, mes­
Livro da Bíblia (Gn 3). Depois mo antes que o Redentor real­
disso, o homem é sujeito à dor mente aparecesse no mundo, Adão
física, ao sofrimento e à morte. e os seus descendentes podiam
E' propenso ao êrro, e tem uma merecer o misericordioso perdão
inclinação para o mal que é des­ de Deus pela fé no Redentor pro­
crita como uma “lei nos seus metido e mediante um humilde
membros, em luta contra a lei do pesar dos seus pecados (SI 1,
seu espírito” (Rom 7, 23, 24). 3, 4-19).
Ademais, as nefastas consequên­ A medida que o tempo passava
cias do seu pecado e o estado pe­ (quanto, ninguém pode dizer, pois
caminoso a que êle foi reduzido não há cômputo completo e conse­
foram compartilhados pelos seus cutivo de tempo no Antigo Tes­
tamento), as consequências do pe­
filhos e herdados pela família cado do homem apareceram cada.
humana inteira: “Assim como vez piores na família humana a t €
por um só homem (Adão) o pe­ onde esta se espalhara pela t e r r a .
cado entrou neste mundo, e pelo As várias tribos e povos esque­
pecado a morte; assim também a ceram o único Deus verdadeirai
morte passou a todos os homens, que os criara, e caíram nas m a is
naquele todos pecaram” (Rom grosseiras espécies de superstição
5, 12). Foi então que Deus escolheu
28
Abraão, separou-o dos seus as­ dos sofrimentos que êle seria for­
sociados adoradores de ídolos na çado a aturar nas mãos dos seus
Mesopotâmia, e dos descenden­ contemporâneos é dada (Sab 2,
tes dêle formou um povo, pecu­ 11- 20 ).
liarmente seu, os filhos de Is­ Estas e muitas outras predi­
rael. Êstes deviam ser um “reino ções concernentes ao Messias fo­
sacerdotal e uma nação santa” ram cumpridas na vida e caráter
(Êx 19, 6). Era sua missão pre­ de Jesus Cristo. Êle veio ao mun­
servar o conhecimento e serviço do do, e nêle se focalizaram tôdas,
Deus verdadeiro, e dêles a salva­ as profecias do pasado. Dêle ir­
ção deveria ser estendida aos gen­ radiaram tôdas as obras milagro­
tios (Gn 12, 3). sas que eram esperadas no Re­
No seio dêsse povo escolhido, dentor futuro. Êle era o Filho
a esperança no Messias ou Re­ de David, que aceitou o título de
dentor do mundo foi guardada “Messias” (Jo 4, 25, 26) e “Filho
viva. Essa esperança originava- do Homem” (Jo 1, 51). Descre­
se da promessa de livramento fei­ veu a sua própria missão como
ta depois do pecado do chefe de sendo a de redimir o mundo (Mt
| tôda a humanidade, e foi gra­ 20, 28), e praticou as obras que
dualmente desenvolvida e levada a só por Deus onipotente podiam
designar uma pessoa possuidora ser efetuadas, e que deram apro­
de característicos que cada ge­ vação divina às suas pretensões
ração haveria de apreciar. A Lc 7, 22).
Abraão, êle era prometido como
uma fonte de bênçãos para tôdas «Ouvi-o»
as nações (Gn 22, 17, 18); a Tudo o que é dito de Jesus pode
Judá, como um grande condutor ser resumido nas palavras de
(Gn 40, 10); a Moisés, como o Deus Pai: “Êste é meu Filho
autor de um nôvo regime (Dt bem-amado. Ouvi-o”.
18, 18). Sob os Reis, foi êle des­ Êle nasceu rei (Mc 15, 2), mas
crito como alguém cujo govêrno declarou que o seu “reino não
santo se estenderia a tôdas as na­ era dêste mundo” (Jo 18, 36).
ções (2 Rs 7, 11-16), e como uma Os seus mundanizados contempo­
pessoa padecente que, morrendo, râneos recusaram reconhecê-lo co­
expiaria os pecados do povo (Is mo o poderoso libertador do povo
50, 3). judeu que êles haviam esperado.
Em vez disso, fizeram-no matar
Cristo predito por se haver solenemente procla­
Em livros posteriores da Bí­ mado verdadeiro Filho de Deus
blia, novos e mais distintivos ca­ (Lc 22, 71). Mas êle ressuscitou
racterísticos do Messias foram dos mortos como havia predito e
descritos. Êle era “o Filho do Ho­ como também haviam predito os
mem” (Dan 7, 13), “o desejado profetas muito tempo antes dêle
de tôdas as nações” (Ageu 2, 8). (Mt 16, 21), assim tornando evi­
Até mesmo uma viva descrição dente que êle era “o Cristo” pro­
29
metido séculos antes (At 2, 36), Igreja infalível
e que “não há salvação em ne­ Contudo, não quer isto neces
nhum outro, pois não há outro sàriamente dizer que todos oi
nome sob o céu dado aos homens membros da Igreja ou os suces
pelo qual devamos ser salvos” (At sores dos Apóstolos se provassen
4, 12). fiéis à graça de Deus, porquanto
Quando Jesus Cristo deixou es­ Cristo previu a sua Igreja com<
ta terra, a fundação da sua Igre­ formada tanto de bons como d
ja era um fato consumado. Con­ maus (Mt 13, 21 ss.), c mesme
forme registado nos Evangelhos, às vêzes, governada por aquêle
êle escolhera e adestrara os seus que se provariam indignos do sei
Apóstolos para a continuação da encargo (Lc 12, 42-46). Mas que
sua missão entre os homens, e, dizer que a Igreja de Cristo, cor
depois da sua partida, era nêles Pedro e seus sucessores no lu
e por meio dêles que êle devia gar a êles dado por Cristo,
fazer a conquista religiosa do protegida por Cristo (“Eis que e
mundo (Jo 20, 21; Mt 28, 19-20; estou convosco todos os dias a t
At 1, 8). o fim dos séculos”), continuar
sempre no mundo a missão, a £
De fato, mal havia êle deixa­ divinamente confiada, de ensina
do a terra, aquêle a quem êle, e santificar os homens de boa
que a si mesmo se chamara o vontade.
Bom Pastor, confiara pessoal­
mente o cuidado do seu rebanho Quando êstes, ou sejam os por
(Jo 21, 15), o Apóstolo Pedro, tos mais salientes da Bíblia, s ã
começou a exercer o seu ofício e cuidadosamente considerados, dc
a ensinar e a governar a Igreja ve-se ter em- mente que o corp
com autoridade (At 1, 15 ss.; da verdade divinamente revelad
2, 4 ss.; 5, 1 ss.). Todos os que ela contém tornou-se mais cia
Apóstolos, com Pedro à frente, ramente definido através de fase
começaram a cumprir a missão de gradual e progressivo deser
que lhes dera o Senhor. volvimento. Conforme Agostinhc
o grande intérprete da Bfblíc
Como homens mortais, os Após­ elegantemente o define, “o Nôv
tolos passariam, mas a Igreja, Testamento está latente no An
com os seus sucessores legais no tigo, e o Antigo Testamento esto
ministério (At 20, 28; Tito 1, patente no Nôvo”. Quer dizer: ■
5 ss.), os quais eram delegados Antigo Testamento só é correta
para ensinar e levar os Sacra­ mente entendido na sua realiza
mentos de Cristo aos homens para ção no Nôvo, e o Nôvo Testameni
sua santificação e salvação (Tito to só é corretamente entendid
3, 5), estava fundada para durar como sendo o cumprimento d:
até o fim dos tempos e para fi­ Antigo.
car sendo para sempre “a coluna E', pois, um êrro ler os livro-
e fundamento da verdade”. do Antigo Testamento e espera-
30
nchar neles muitas verdades, tais Na Bíblia achamos Deus edu­
como a sobrevivência pessoal do cando a humanidade com a Reve­
homem e a sua ressurreição na lação divina que sempre foi dada
vida futura, tão claramente defi­ em forma de ensinamento divino
nidas como nos ensinamentos de adaptado às maneiras e condições
Cristo. Êrro ainda maior é citar dos tempos. O Antigo Testamen­
passagens do Antigo Testamento to foi um “mestre” para os ju­
como se a crença numa sobrevi­ deus, apontando distintamente
vência pessoal após a morte não para Cristo e educando-os por
existisse. graus lentos em mira à vinda
-Êrro é também, e mui trágico, dêle (Gál 3, 23-25). De tempo
ler as páginas do Antigo Testa­ em tempo novas verdades eram
mento e aplicar aos cristãos as feitas conhecer por Deus, e ou­
doutrinas achadas nelas, como se tras eram tornadas mais claras ã
Cristo, que veio cumprir e aper­ medida -que a humanidade esta­
feiçoar o Antigo Testamento, ain­ va preparada para as receber:
da não houvesse vindo. Tal é o “Deus, que em diversos tempos
êrro dos que consideram a liber­ e de diversas maneiras falou em
tação do homem do pecado atra­ tempos passados aos pais pelos
vés da Redenção de Cristo como profetas, últimamente, nestes dias,
devida meramente ao ato legal do falou-nos por seu Filho, a quem
perdão de Deus. Êsses ignoram constituiu herdeiro de tôdas as
a real mudança interior do ho- coisas, e por quem também fêz
i mem, de um estado de pecado pa­ o mundo; o qual, sendo o res­
ra um estado de gôzo da graça plendor da sua glória e a ima­
! vivificante de Deus, pela qual os gem da sua substância, e susten­
• cristãos novamente se tornam fi­ tando tôdas as coisas pela pala­
lhos adotivos de Deus. Tal é tam- vra do seu poder, efetuou a pu­
i bém o êrro dos que quereriam rificação do homem do pecado, e
• obrigar os cristãos a viverem de tomou assento à destra da Ma
i acordo com preceitos tais como jestade nas a ltu ra s...11 (Hei
: a observância sabática que Deus 1, 1-3).
i impôs à humanidade antes da vin- No tempo passado, Deus sem­
= da de Cristo, e que agora deve pre deu o seu ensino por inter­
i ser obedecida como mandada por médio de um docente vivo; hoje
s Cristo e aplicada pela sua Igreja. o dá por intermédio do corpo do­
cente vivo da sua Igreja.

31
^Ç?S2S?SHS25iSÍS2S2S2S2S2S25ES2S2S2S32S?5?W5?5c52S2S252S2S2S2

S i j a eótaó teqtaó
guando /e t a Íilb/ía
^ £|5?52S252SES2S2SZS2S2525?52S2SaES2S2S22
Como qualquer outro li­ vêzes sucede, então esi
vro que tenha vindo até êle realmente envenena:
nós dos tempos antigos, a do as fontes da verda<
Bíblia deve ser interpre­ divina. Por isto, é <
tada segundo as regras maior importância cons
fundamentais ditadas pelo guir a verdadeira mens
senso comum. Essas re­ gem de Deus e ter i
gras devem ser seguidas guma garantia razoáv
para se ler a Bíblia inte­ de se ter a correta coi
ligentemente tanto como preensão da mensagem c
para estudá-la cientifica- vina.
mente. Devemos, antes de tuc
O que todo leitor sincero da Bí­ estar certos de obter o corre
blia procura é a mensagem que significado das palavras indh
Deus deseja comunicar à huma­ duais. E* óbvio que, a menos q
nidade. Na verdade, é imperati­ entendamos o significado de ca<
vo que o leitor aprenda correta­ palavra separada, não podem
mente a mensagem revelada por esperar obter o sentido da se
Deus; do contrário estar-se-á ilu­ tença formada por essas palavr*
dindo a si mesmo em pensar que Ilustremos a regra por uma p
tem a mensagem divina. Isto oca­ lavra aparentemente simples: j
sionará agir êle sob a noção equi­ Ela é de mui frequente ocorre
vocada de estar apoiado pela au­ cia, especialmente nos escritos
toridade divina, quando não tem S. Paulo. Diz êle, por exempl
nada senão a sua própria auto­ "Concluímos que o homem é ju
ridade falível, que entendeu mal tificado pela fé sem as obras <
e lastimàvelmente frustrou a men­ lei” (Rom 3, 28). Que é que
sagem que Deus procurou comu­ quer aí dizer? A resposta é \
nicar. E não infreqiientemente talmente importante, porque de
sucede bradar êle e correr à im­ depende a santificação e salvaçi
prensa para proclamar o que pen­ do homem. “A fé”, dizem algun
sa ser a mensagem divina, quan­ "é a experiência emocional <
do isso é somente o seu falível aceitar Jesus como meu Salv;
modo de ver daquilo que a pa­ dor pessoal, e de gozar a cons
lavra inspirada significa. Se su­ quente segurança de que pelos m
cede estar enganado, como tantas ritos dêle eu sou redimido, salv
32
[estinado a uma eternidade de Isto, por certo, é absurdo. Toda­
elicidade no céu”. “Fé”, segundo via esta posição tem sido tomada
utros, “é a minha convicção in- por alguns leitores de S. Paulo.
electual de que Jesus é verda- Voltando à passagem supraci­
leiro Deus e verdadeiro homem, tada, de Rom 3, 28, — achamos
le que é meu Senhor, e de que menção de obras da lei. O sen­
i sua palavra é definitiva e deve tido da passagem só pode ser
er incondicionalmente aceita. De- apreendido se estiver claro o que
ro ser sujeito a êle. Devo dedi- se entende por atos da lei. Serão
ar-me a êle sem reserva, e con- atos prescritos pela lei de Moi­
iiderar meu mais sagrado dever sés? E, se o são, entender-se-ão
icertar com a vontade dêle, meu todos êles, ou só alguns? Quer
Senhor, e executá-la tão exata e isso dizer simplesmente a cir­
>rontamente quanto o permitir a cuncisão e outras práticas ceri­
ragilidade humana”. Há uma moniais prescritas pela Lei Mo­
rasta diferença nestes dois con- saica? Aqui estão questões de
:eitos de fé. Qual é o de S. grande importância, até mesmo
Paulo? Não propomos discutir de importância eternamente de­
iqui a matéria, mas simplesmen- cisiva. Elas exigem uma resposta
e. assinalar que matérias de vi- certa.
al importância, para cada um O nexo das palavras, na sen­
jessoalmente, pendem da defini- tença, uma com a outra, deve ser
:ão que aceitarmos ou da com- determinado. Podemos acertar com
Dreensão que tivermos de fé. o que é o sujeito, com o qu€
é o predicado, com o que são os
Que é a «Fé»? modificadores de cada um, e as­
Em Rom 14, 23, lemos: “Aque­ sim por diante. Isto, por certo,
le que duvida, se comer, está con- é feito pelos tradutores, mas às
:enado, porque não obra segun- vêzes há lugar para discordân­
:o a fé; pois tudo o que não é cia quanto ao modo como êles
segundo a fé é pecado”. Deveria constroem as partes de uma sen­
ser óbvio que é extremamente di­ tença. Também devemos deter­
fícil para a média dos leitores minar se o verbo é indicativo ou
acar desta passagem o verdadei- imperativo. Em grego, as duas
o sentido, ou mesmo entender formas às vêzes são idênticas.
srretamente a palavra fé. Al- Aqui está um exemplo: João, 6,
suns leitores têm tirado estra­
nhas conclusões da última par- 39 reza na Versão “King James”:
3 dêsse versículo. Têm concluí- Perscrutai as Escrituras. Porém
lo que todo ato do indivíduo sem todas as versões modernas dispo­
% é pecaminoso, tais como, por níveis ao escritor no momento
scemplo, o afeto natural que uma traduzem: Vós perscrutais os Es­
aãe tem a seu filho, ou os atos crituras (Versão-Modêlo Revista,
^iridosos de um homem natural- 1946); Vós estudais a fundo as
■ente dotado de bom coração. Escrituras (Goodspeed). Assim
33
também muitas outras versões tr in a ... para que, assim fazen­
modernas. do, estivessem seguros da vida
Eis aqui o que um moderno eterna. Nosso Senhor não deu ta l
comentador não-católico tem a di­ ordem ou segurança.
zer sobre essas palavras: “Je­ Deve ser levado em considera­
sus aqui não está exortando os ção o contexto. Por “contexto”
Judeus; está argumentando com entende-se a conexão da afirm a­
êles, e censurando-os pela sua ção com aquilo que vem antes
obstinada rejeição d’Ê le... e com aquilo que a segue. As con­
“Era um dizer rabínico que clusões mais ridículas podem s e r
“aquêle que adquiriu as pala­ deduzidas das Escrituras se a s
vras da Lei adquiriu a vida eter­ passagens forem extraídas sem
na”; e é a esta espécie de supers­ referência ao seu quadro. Ju d a s
tição que se referem as palavras “foi e enforcou-se” (Mt 27, 5 ) .
“Vós investigais as Escrituras, “Vai e faze assim também” (L c
porque nelas pensais ter a vida 10, 37). Òbviamente tal uso d a
eterna”. . . Em sentenças cate­ Escritura é estúpido; todavia, h a ­
góricas, dokein (pensar), em verá algo mais absurdo do que
João, indica uma opinião enga­ as citações cortadas do seu con­
nada ou inexata; húmeis dokeite texto que são feitas para enca­
significa “pensais erradamente”. recer alguma teoria ou condenar
algum ponto de vista?
Por que perscrutar as Escrituras? O exemplo precedente é absur­
“Não é possível tratar ereunate do, porém casos semelhantes, não
(vós investigais) como um impe­ menos absurdos, podem ser acha­
rativo, e fazer justiça a essas dos em publicações largamente
considerações. Por que haveriam difundidas. Lê-se: “S. João no
os judeus de ser mandados pers­ Apocalipse pinta a falsa Igreja
crutar as Escrituras por susten­ (Católica Romana) como uma
tarem uma opinião errada a res­ mulher perdida “vestida de púr­
peito da sua própria santidade? pura e escarlate, e enfeitada com
A leitura delas pela maneira for­ ouro e pedras preciosas e corc
mal dos Rabis não traria consigo jóias, chamada Babilónia a gran­
a posse da vida e te rn a ...” (Ar­ de”. . . governada por um ho­
cebispo Bernard [Anglicano] no mem de mistério, o anticristo. . . *
Comentário Crítico Internacional). Quem quer que leia inteligente­
Freqiientemente, entretanto, es­ mente o contexto dessa passageim
sas palavras são interpretadas no Apocalipse não pode deixar dtj
pelos advogados das Escrituras concordar com os mais destaca­
como a única regra de fé e como dos comentadores não-católicos
o meio plenamente suficiente de em que essa descrição se aplici,
salvação, como prova conclusiva ao antigo Império Romano que:
de haver Cristo mandado todos perseguia os cristãos, e a todo?
os cristãos lerem as Escrituras os similares governos persegui­
como a única fonte da sua dou­ dores. Os que estiverem interes­
34
sados nisso podem consultar des­ está em oposição direta à pala­
tacados comentadores não-católi- vra escrita de Deus quando não
cos do Apocalipse. só não insiste em que seus bis­
pos sejam homens casados, como
Mais confusão também quando, pelo contrário,
Eis aqui outro exemplo de ar­ insiste em que êles sejam celiba­
rancar uma passagem do seu tários. Um comentador não-cató­
contexto e lc-la em sentido con­ lico que segue as regras da inter­
trário à intenção do autor. Mar­ pretação diz-nos o que S. Paulo
cos 7, 9: “Rejeitais completamen­ realmente quis dizer: “A frase
te os mandamentos de Deus, para poderia implicar que um bispo
poderdes guardar a vossa própria deva ser um homem casado. . .
tradição”. Todo leitor razoável mas tal requisito dificilmente
pode prontamente inferir dos ver­ seria coerente com o ensino de
sículos adjacentes dêsse capítulo Nosso Senhor (Mt 19, 12) e de
que Jesus disse essas palavras a S. Paulo (1 Cor 7, 7-8); por isto,
respeito dos fariseus. Porém cer­ o escritor só está cogitando do
tos leitores levianos da Bíblia verdadeiro caráter de um bispo
procuram aplicar essa referência se êle é casado; como no versí­
à Igreja Católica, por haver a culo 4 êle só trata da relação aos
Igreja Católica retido sempre, filhos dêle se êle tem filhos”.
através dos séculos, uma viva Não só os versículos imediata­
consciência de tudo o que Cris­ mente adjacentes, mas também (
to ensinou, e porque a Igreja in­ contexto remoto devem ser toma
siste em chamar a essa viva cons- dos ém consideração para deter­
1ciência “tradição divina”, embora minar a mensagem divina. Por
1ela não apareça na Bíblia. Como isso entendemos que o conteúdo
a tradição divina ensinada pela inteiro da mensagem da verdade
Igreja Católica é somente aquilo revelada, como apresentada nas
que o próprio Cristo ensinou, òb- páginas da Bíblia, deve ser le­
viamente néscio é sugerir que vado em consideração para se
| Cristo haja condenado tal ensino. chegar a uma correta compreen­
■ são da mensagem e ao seu
| Outro êrro significado.
l Agora tomemos outro exemplo. Deus é um bom mestre, e adap­
Ao escrever a Timóteo estipulan­ tou a sua mensagem à fase de
do as qualificações dos bispos, S. desenvolvimento intelectual e de
Paulo diz que o bispo deve ser ir­ progresso moral do seu povo. E
repreensível, marido de uma só foi por isto que não preferiu, nos
mulher (1 Tim 3, 2). Alguns lei­ tempos do Antigo Testamento,
to re s da Bíblia, menosprezando fazer qualquer revelação clara e
o fato de S. Paulo, noutros lu­ explícita acêrca das condições dos
gares, aconselhar o celibato, ime­ espíritos saídos dêste mundo.
diatamente saltam para a con­ Realmente, há ali passagens que
clusão de que a Igreja Católica poderiam fàcilmente induzir o lei­
35
tor bisonho à falsa conclusão de abusos e erros particulares cc
haverem alguns escritores do An­ tra os quais as palavras de i
tigo Testamento sustentado que sus foram dirigidas.
o destino do homem depois da
morte era uma completa cessação Há 19 séculos
do ser, uma redução ao nada, o Outra consideração coadjuva
aniquilamento da natureza total te é a interpretação dada às ]
do homem na morte. Mas, se es­ lavras do Senhor por aquêles ç
sas passagens forem lidas à luz mais de perto estiveram assoe
de outras mensagens do Antigo dos a êle, e que portanto es
Testamento, ver-se-á que havia na vam em excelente posição pa
mente dos Israelitas uma convic­ compreender o pleno significa
ção definida de que o espírito do delas. O fato de 1.900 anos í
homem sobrevivia à morte do cor­ separarem da estada de Cri
po. Com o progredir do tempo, na terra coloca-nos numa gn
essas noções sôbre a vida após a de desvantagem.
morte, a princípio muito vagas, Um só exemplo ilustrará ê
pouco a pouco se tornaram mais princípio. Jesus disse: “A n
explícitas. guém chameis vosso pai na ten
Finalmente, no Nôvo Testa­ pois um só é vòsso Pai, aqu
mento é claramente afirmado não que está nos céus” (Mt 23, !
somente que há sobrevivência do Estas palavras foram ditas
espírito do homem após a morte, referência às práticas dos fa
mas também que essa sobrevivên­ seus, que gostavam dos títulos
cia será feliz e infindável para tissonantes, cobiçavam-nos àvi<
os bons, e desgraçada e intérmi­ mente, e com louca vaidade
na para os deliberadamente maus. deleitavam em ser chamados c
Ademais, é tornado claro que, no êles. Se podemos julgar por
fim dos tempos, os corpos dos formação colhida nos escritos :
bons e dos maus ressuscitarão bínicos, Deus nosso Pai dos ci
igualmente para a vida e serão já não estava nas mentes dos
reunidos ao espírito ou à alma cribas contemporâneos de Jes
para fruírem a recompensa ou so­ mais do que como um Rabi g
frerem o castigo merecidos pela rificado. Dizia-se que Deus gi
alma enquanto permaneceu no tava três horas cada dia es1
corpo na terra. dando a Lei, que observava e>
Há outra espécie de contexto tamente as suas regras, que i
que não deve ser menosprezada zia votos, e que pela fiel obs<
se quisermos chegar à correta vância delas era recompensa
compreensão do ensino de Jesus. pelo grande Sinédrio celeste. F
Êste é chamado o contexto his­ receria, pois, que, quando êl
tórico, e quer dizer as condições procuravam e conseguiam o titi]
do tempo, a concepção mental da­ de Rabi (mestre) ou Pai, coni
queles a quem as palavras foram deravam-se como a fonte últir
originàriamente dirigidas, e os do seu ensino e da autorida
36
legal. Deixavam de reconhecer a mesmo, senão um estado divina­
sua - completa dependência d e mente autorizado que tinha as
Deus, que é só quem é a Infinita suas raízes no céu, na paterni­
Sabedoria e a Infinita Ciência, e, dade de Deus e de Nosso Senhor
como tal, a única fonte original Jesus Cristo. Nesta qualidade, Pe­
de tôda sabedoria e ciência hu­ dro era um humilde instrumento
manas. Os fariseus foram, des- nas mãos de Deus.
sarte, denunciados por Nosso Se­
nhor por causa da sua arrogância Significado de «Pai»
e vaidade, e os Apóstolos e to­ Que essa é a coVreta compre­
dos os seguidores de Jesus foram ensão das palavras de Nosso Se­
advertidos de os não imitarem nhor parece claro pela prática de
nesses vícios. “A ninguém cha­ S. Paulo, que aceitou o título de
meis rabi, pois sois todos irmãos”. “pai”. Escreve êle aos Coríntios:
Naquele tempo a hierarquia “Embora tenhais dez mil instru­
cristã ainda não fôra estabeleci­ tores em Cristo, não tendes mui­
da; os Apóstolos ainda não ha­ tos pais: pois em Cristo Jesus
viam sido incumbidos de irem gerei-vos por meio do evangelho”
pelo mundo e ensinarem tôdas (1 Cor 4, 15). Noutro trecho
as nações. Os Apóstolos naquele Paulo chama a Timóteo seu fi­
tempo ainda eram dados a ques­ lho (1 Tim 1, 2). Se Timóteo
tionar entre si quanto a quem era é filho de Paulo, então Paulo é
o maior, e a perguntar se lhes pai dêle em algum sentido. S.
seriam concedidos os primeiros Paulo gerou os Coríntios, é p:
assentos no reino do Mestre, dêles em algum sentido, porqua
i quando êle fôsse estabelecido. Os to precisamente o ato de gen
i Apóstolos precisavam dessa ad­ é que toma alguém pai. Pauli
vertência, porém ela não exclui não atribuiu essa paternidade aoi
a subseqiiente designação de um seus próprios esforços. Torna per­
i dêles como o Apóstolo-chefe, que, feitamente clara a sua concepção
■ subordinado a Jesus, fôsse chefe do seu papel como pai. “Fale o
i e guia dos outros. homem de nós como de ministros
De fato, o Mestre predisse que de Cristo e dispensadores dos mis­
■ Pedro deveria fortalecer a fé de térios de Deus” (1 Cor 4, 1).
- seus irmãos (Lc 22, 32), e de- “Eu plantei, Apoio regou, mas
- signou-o como o pastor para ve- foi Deus quem deu o crescimento”
- lar pelo rebanho do Mestre na (1 Cor 3, 6). Paulo considera-se
- terra, os seus cordeiros e as suas meramente um instrumento de
■ ovelhas (Jo 21, 15-16). Assim Deus; a vida espiritual e o seu
- Pedro veio a ser o representan­ incremento são obra do próprio
te terreno, o vigário do Bom Pas­ Deus. Se Paulo houvesse atribuí­
tor Jesus Cristo, e portanto um do isso a si mesmo e aos seus
pai para o rebanho. Isto não que­ esforços exclusivos e àquilo que
ria dizer um “pai na terra” cuja êle mesmo havia pessoalmente
" paternidade se originasse dêle concedido aos Coríntios e a Timó­
37
teo, então estaria violando o es­ mano e animal. Deve, pois, aí
pírito da proibição do Senhor de sentido ser figurado.
se chamar a alguém na terra Quando a interpretação fi&
“Pai”. rada resultar em contra-senso
Outra indicação de que não é absurdo ou contradição, o sen
absoluta a proibição do Senhor do deve ser literal. Por exemp
de chamar a alguém "pai” na ter­ quando Nosso Senhor nos dii
ra é o fato de êle nos dizer: que devemos comer a sua cai
"Honra teu pai e tua mãe” (Mc e beber o seu sangue (Jo 6), de
10, 19). ter pretendido ser literalmei
compreendido, porquanto a fif
O que o Senhor teve em mira ra de linguagem “comer a a
quando fêz o reparo em questão ne de alguém” em uso bíbl
foi isto: "Não andeis atrás de quer dizer caluniar, devorar a
títulos vãos e altissonantes, nem putação de um homem por f
façais praça dêles ostensivamen­ sidade. Pedir Jesus tal coisa
te”. Mas a mentalidade semítica um absurdo. Entretanto, não
nunca estava satisfeita com uma ria absurdo beber vinho que
afirmação abstrata dessa espécie, presente o sangue de Cristo
e por isto tornou-a concreta o simbolize, e muitos pensam ç
isando os próprios títulos que os tal foi o sentido pretendido p
ariseus em vão procuravam e Mestre. Mas, se assim é, enl
kstadeavam com ostentação. outra dificuldade se nos depa
A linguagem na Bíblia deve Metáfora tal nunca é achada
ser entendida literalmente, exceto Bíblia; ela era desconhecida
onde a interpretação literal re­ auditório a que Jesus se esta
dunda num absurdo. Uma regra dirigindo. Por que haveria Nos
geral a seguir para determinar Senhor de usar linguagem fig
se a linguagem é figurada ou li­ rada para veicular verdade t
teral é esta: sempre que a inter­ tremendamente importante, quí
pretação literal resultar em óbvio do tal linguagem não seria ent*
contra-senso, incongruência ou dida, e seria mesmo extremam*
falsidade, o sentido figurado de­ te repulsiva para os seus ouvi
ve ser aceito. Por exemplo, quan­ tes judeus? Os judeus considei
do Jesus chamou rapôsa a Anti- vam um pecado até mesmo toc
pas, da família de Herodes, òbvia- o sangue, e o pensamento de t
mente o que êle quis dizer foi bê-lo teria sido abominável pa
que êsse governante tinha al­ êles. A conclusão forçosa pa
guns dos conhecidos característi- nós é a de que Nosso Senh
cos dêsse animal, e não que êle pretendeu que suas palavras fc
era um animal irracional dessa sem tomadas ao pé da letra.
espécie, pois é fato histórico bem Outro absurdo resulta da e
estabelecido que Antipas era um. plicação figurada da passagem <
ser humano. Um ser humano não João 6, concernente ao pão (
pode ser ao mesmo tempo ser hu­ vida. Nosso Senhor insistiu sôbí
88
a necessidade de comer a s u a . m eu sangue”. Era prática de Nos­
carne e de beber o seu s a n g u e , so Senhor, quando usava lingua­
a despeito da revulsão do seu a u ­ gem figurada que pudesse ser mal
ditório. E isso deve ter sido p o r entendida, abandonar a forma fi­
haver êle querido ser entendido g u ra d a de linguagem e falar com
no chão e óbvio sentido das p a ­ literalidade severamente chã. Is­
lavras. Êle não teria perm itido to êle o fêz na sua conversa com
que um mal-entendido alien a sse Nicodemos (Jo 3, 1-12); com os
clêle o povo que êle viera in s tru ii” discípulos, em mais de uma oca­
e salvar. Mas não retirou n e m siã o registada nos Evangelhos
explicou de outro modo n enhum a (M t 16, 6-16; Jo 11, 11-14; Jo
parte da sua afirmação. U m a 4, 32-34; Jo 8, 32-34). Em Jo 6,
simples palavra poderia ter d e s ­ h á uma questão de vital impor­
tituído as palavras de todo v e s ­ tâ n c ia para a vida e bem-estar
tígio de rcpulsividadc. Isto só p o ­ esp iritu al dos seus seguidores.
de significar que êle quis ser l i ­ U s a r linguagem figurada que
teralmente entendido. pudesse dar ocasião a que os seus
Há outro absurdo se tom arm os seguidores o abandonassem, é
o sentido figurado das p alav ras processo inimaginável da parte
“comer minha carne e beber o do meigo Salvador.

v Por que a B íb lia necessita


lde um in té r p r e t e autorizado

Considerando tudo o que que todos os homens se


está envolvido na conve­ salvem e venham ao co­
niente compreensão da Bí­ nhecimento da verdade”.
blia, é claro que ola é um E S. Pedro recomenda que
livro difícil de ser enten­ cada um esteja sempre
dido. Essa dificuldade é preparado “para dar uma
experimentada até mesmo resposta a todo aquêle que
por especialistas em es­ vos peça uma razão da es­
tudos bíblicos altamente
educados e profundamen­ perança que está em vós”
te versados, e, em grau (1 Ped 3, 15). Cristo exi-
muito maior, pela mé­ ge como indispensável pa-
dia dos leitores. nossa eterna salvação que nós
Contudo, conforme S.. gi*eiamos o que êle ensinou (Mc 16*
nos diz (1 Tim 2, 4), Deus ^6) . Mas como podemos crer senão

39
sabendo com certeza o que Nos­ 17), Jesus Cristo ainda fala a<
so Senhor nos tornou conhecido? mundo, e transmite a tôda a hu
A sua exigência seria desarrazoa­ manidade não somente a verdadi
da e incapaz de cumprimento se divina, mas também a sua autên
êle não houvesse fornecido meios tica e correta interpretação. /
de acertarmos de algum modo, no Igreja está sempre alerta parj
século vinte, clara, inequívoca e advertir contra teorias perigosa
plenamente com aquilo que êle en­ e falsas que estão em conflito cor
sinou aos Apóstolos e que êstes os ensinamentos morais e doutri
ensinaram a outros no século pri­ nários dados a conhecer à hu
meiro. Deve êle, pois, ter forne­ manidade pelo divino Filho d
cido os meios de chegarmos à sua Deus, Nosso Senhor Jesus Crist<
plena mensagem e à correta in­ A Igreja fala clara, definida
terpretação dela. Êle é bom ete­ concisamente. Não tergiversa ei
rnais, é sobejamente razoável, pa­ decisões vitais, não contemporiz
ra exigir o impossível. nem se compromete quando se trs
Neste ponto Protestantes e Ca­ ta da verdade de Deus revelach
tólicos separam-se e discordam fun­ Como o seu divino Fundador,
damentalmente. Mil e quinhentos Igreja fala “como quem tem av
anos depois do estabelecimento da toridade..” (Mt 7, 29).
Igreja Cristã, “a coluna e o funda­ Esta pretensão a uma autori
mento da verdade” (1 Tim 3, 15), dade divinamente conferida e fi
os Reformadores protestantes re­ nal em assuntos de verdade rc
jeitaram a autoridade da Igreja velada soa arrogante para mui
viva que chegara até êles atra­ ta gente. Se o é ou não é, ist
vés dos séculos. Substituíram-na depende dà evidência histórica o
pela autoridade da Bíblia, como Escriturária, depende das pala
cada leitor a interpreta por si vras, das intenções e promessa
mesmo. A mensagem essencial de de seu Divino Fundador. Milhõe
Cristo foi inscrita nas páginas de pessoas no correr dos século
de um livro inspirado, diziam êles, estiveram convictas, e convicta
e cada leitor que é sincero e ho­ estão hoje, de que a evidênci;
nesto na sua procura da verda­ é inteiramente satisfatória. Acei
de terá o auxílio infalível do Es­ tam a inflexível e infalível auto
pírito Santo para ler e compre­ ridade da Igreja, e, na sua fé
ender corretamente êsse livro. têm achado livramento da dúvida
Para os católicos, a Igreja é e da procura perpétua, e têm al
sempre foi “a coluna e o funda­ cançado uma certeza religiosa qui
mento da verdade”. Foi com a é a fonte de uma profunda pa:
Igreja que Jesus prometeu fi­ da alma.
car, e nela e por meio dela êle A Bíblia não pode explicar-
fala autoritária e inerràvelmente se por si mesma. Não pode pro­
à humanidade. Por meio do orga­ testar contra a má interpreta­
nismo vivo que, consoante S. Pau­ ção de mentes humanas falíveis,
lo, é o corpo de Cristo (Col 1, ou corrigi-la. E, como um livre
40
sujeito a má interpretação, pode O Cristianismo será porventu­
ser mal usado e tornado desen- ra uma religião a ser achada no
caminhador, fonte de dúvida, de livro de um autor cuja voz é
desunião e de confusão. Em tal para sempre silenciosa? Ou é
situação, quem é que pode estar uma religião de Autoridade, viva,
certo do conteúdo, do sentido e da alerta, sempre pronta a falar cla­
importância da mensagem de ra e forçosamente para procla­
Deus? Quem é que está certo e mar a verdade de Deus... para
quem é que está errado entre as interpretá-la e salvaguardá-la de
muitas pessoas inteligentes que ser adulterada, torcida e diluí­
do mesmo texto tiram sentidos
diferentes c contraditórios? da. .. uma Autoridade que é iner-
A vinda de Cristo à terra como rável porque por meio dela Jesus
o Mestre dos homens teria sido Cristo se perpetua no mundo co­
vã se êle não houvesse deixado mo o Mestre inerrável do seu
nenhum meio de os homens sabe­ amado povo?
rem o que òle disse e quis dizer. Na interpretação de quem crerá
Mas, no seu amo..- â humanida­ o leitor? A interpretação de quem
de, Cristo forneceu «s meios pelos seguirá? Com o seu destino eter­
quais podemos sm .-•r e compre­ no em risco, é terrivelmente im­
ender o seu ensiim. Deixou para portante para decidir — e de­
nós uma I r reja conte divina­ cidir direito.
mente protegida Cnro e espe-
cificamente incumi.-Ida de falar Investigue! Procure honesta, in­
com autoridade, quando outras teligente, piedosamente, e achará
vozes só falam com confusão. a verdade.

41
Mas você compreende realmente a Bíbliaf

Conteúdo:

• Muitísimos sabem pouquíssimo a respeito d;


Bíblia.

• Coisas que você deve saber para compreende


a Bíblia.

• Mas. . . será que você tem a Bíblia completa

• Traduções da Bíblia. . . boas e más.

• Você está preparado para compreender a Bíblia

• Intuito real da Bíblia: ensinar a Religião.

• Siga estas regras quando ler a Bíblia.

• Por que a Bíblia necessita de um intérprete au


torizado.

Êste caderno foi preparado pelos Cavaleiros de Co­


lombo e traduzido para o português com a devida
autorização.
Cum approbatione ecclesiastica

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