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Apresentação Chile – Set 2018

 Ressalvas
- Agradecimentos
- Desculpas por falar em Português / Ajuda dos colegas no processo de
compreensão
- Apresentação menos teórica e menos acadêmica que a dos colegas. Formato de
Relato de Experiência com algumas incursões teóricas e questionamentos
metodológicos.
- um campo muito novo para mim e estou aqui para aprender com os colegas.

Sou um Historiador. Um historiador em Desfazimento. Em desconstrução. Não porque


quero deixar de fazer ou estudar a história, mas porque a historiografia, enquanto campo de
saber acadêmico, se mostra, ainda hoje, muito sectário e fechado a mudanças. Comecei
minha atividade enquanto pesquisador interessado em compreender as imagens na história
e o uso das imagens na historiografia, ou, como preferem os historiadores tradicionalistas, as
imagens como fonte da pesquisa historiográfica. [Aqui, já um problema central, que
procurarei elucidar no decorrer da minha apresentação]. Minha tentativa inicial era utilizar a
análise do discurso e a teoria Foucaultiana para analisar as imagens e a visualidade. No
entanto, essas referências mostraram seus limites quando meu interesse se voltou para além
da representação e da interpretação. O meu esforço atual busca superar uma tradição
historiográfica que constrói não só a narrativa, mas também seus documentos
essencialmente a partir da significação. Como nos coloca W. J. T. Mitchel, faz-se necessário
superar uma tradição de alcance da imagem a partir de questões como “o que diz essa
imagem”, ou, ainda mais problemático, “o que quis dizer o autor dessa imagem”. Ou, ainda,
como Hans Ulrich Gumbrecht, superar o legado do campo hermenêutico, tão enraizada na
História enquanto disciplina.
Busco, ainda, encontrar uma resposta satisfatória aos questionamentos que minha
filha, de 2 anos, me impõe diariamente. Dou-lhes um exemplo. Há poucos dias, enquanto
assistíamos youtube juntos, ela pareceu em dúvidas sobre qual próximo vídeo escolher.
Procurei sugerir um que ela até então gostava muito: um episódio da Marsha e o Urso em
que a personagem, uma garota, também em seus 2 ou 3 anos, cai de uma árvore e perde os
sapatos. A personagem do vídeo não chora, mas a sua expressão é de tristeza. Quando
questionada se queria ver àquele vídeo, minha filha, sem qualquer hesitação, respondeu:
“não, papai, esse eu não quero, porque se não a Marsha vai cair e eu gosto muito dela e eu
não quero que ela chore.” Ao que só pude responder: “Ah, tá certo, filha. Entendi.” E deixei
que ela, livremente, escolhesse ao que assistir.
Como compreender o afeto de uma criança por algo que, enquanto materialidade
física, palpável, não existe? Como explicar, ainda, a compreensão da criança de que o vídeo
só se realiza ao olhar, diante do olhar? Enquanto mídia, a imagem já existe, mas pode não
existir caso não seja exibida. Sua existência é condicional. Caso ele não se realize aos olhos,
seus efeitos serão inexistentes.
Mais que responder a essas perguntas especificamente, procuro compreender a sua
condição de existência. O que elas nos colocam é a imanência do corpo e seus mecanismos
de realização: a memória e a experiência. O apelo corpóreo, sensorial, que o sentido não
consegue transmitir, para parafrasear Gumbrecht.
Para elucidar melhor o que quero dizer, trago aqui outro relato pessoal. Em 2014, ao
final do meu estágio de doutoramento na Unversidade da Califórnia, Irvine, após 10 meses
de intensos debates e discussões no antigo Department of Visual Studies, atual Film and
Media Studies, fomos, eu e minha esposa, nos despedir da nossa temporada nos EUA fazendo
uma viagem de 5 dias ao Arizona. Nosso objetivo era conhecer o Grand Canyon, o que fizemos
logo no segundo dia. Resolvemos, então, explorar um pouco mais a região e decidimos visitar
a cidade de Sedona. Eu, apesar de ser um historiador americanista e conhecer um pouco da
História dos Estados Unidos, nunca havia ouvido falar especificamente daquela cidade, mas
algumas pessoas que conhecemos na região nos recomendaram muito. Trata-se de uma linda
cidade desértica, encravada no meio de grandes montanhas de pedras vermelhas. Uma
autêntica Bedrock City da atualidade. Embaixo de um sol escaldante, visitamos alguns
parques nacionais, um museu da fundação da cidade, uma igreja católica construída entre
pedras, fizemos trilhas e experienciamos o Wilderness estadunidense. Ao final do dia,
conforme nos haviam recomendado, fomos ver o pôr-do-sol na parte mais alta da cidade, o
antigo aeroporto local. A temperatura já havia caído significativamente, a ponto de
necessitarmos usar nossos casacos. Estacionamos o carro e fomos a um mirante, onde já
haviam algumas pessoas. Entre elas, duas senhoras, uma caucasiana e outra de clara
ascendência indígena, que tocavam uma harpa e cantavam canções populares do país. Após
algumas fotos, resolvemos nos apoiar no peitoril do mirante e apreciar um pouco a paisagem.
Pudemos então perceber a leve brisa fria e sonante, mas confortante, que corria no lugar. Em
poucos minutos, quando o sol começou a esconder-se entre as montanhas no horizonte, as
senhoras músicas começaram a cantar Amazing Grace, uma famosa canção religiosa do poeta
Setecentista estadunidense John Newton, popularizada pela voz de Elvis Presley. Naquele
dado instante, uma súbita e simultânea sensação de completude e, ao mesmo tempo,
profunda tristeza nos arrebatou. Sentíamos a música em nossa pele, assim como a luz do sol
e a brisa pareciam adentrar nossos ouvidos. Não nos comunicamos por longos minutos. As
lágrimas corriam no rosto e evitávamos nos fitar e ter de perguntar: “por que você está
chorando?” O sol se pôs, o escuro se fez e saímos dali, ainda em silêncio. Só voltamos a nos
falar no longo trajeto de volta ao hotel. Só mais tarde, após alguns goles de vinho,
conseguimos expor e dialogar sobre aquela estranha e, para mim, inédita, sinestesia.
Novamente as perguntas: Como explicar aquela súbita sensação? Poder-se-ia dizer
que a música disparou o sentimento, mas já havíamos escutado a música muitas outras vezes
sem a mesma reação. O cansaço? A beleza do local? Bruxaria? Nenhuma das hipóteses
levantadas por amigos quando narramos aquela história [em algumas delas, inclusive,
revivendo parcialmente aquela experiência], explicavam a totalidade do evento. A ambiência
ali criada foi base daquela experiência, ambiência das sensações, dos sentidos, todos
misturados em profusão naquele instante. Contudo, também um saber. O saber de que, ali
naquele lugar, vidas humanas foram ceifadas. Diversas tribos Apache foram ali, naquela
região, capturadas e brutalmente violentadas das mais diversas formas por Cowboys
estadunidenses em sua Marcha para o Oeste. Um saber sobre o qual conversávamos aquela
tarde durante nosso almoço.
Talvez essa tenha sido uma experiência sensorial da mesma ordem que aquelas
vivenciadas por pessoas que visitam lugares significativos do passado como Machu Pichu ou
Auschwitz, relatando que sentem em seus corpos uma força que os arrebata. [como aquele
narrado por Deborah Lipstadt em sua visita a Auschwitz em busca de materialidade para
contrapor as alegações negacionistas de David Irving – retratados no filme Negação].
Mas seria o saber histórico suficiente para gerar tamanhas sensações? Penso que não,
ou a máxima da Historia Magistra Vitae teria se mostrado válida em ensinar com os erros do
passado. Também apenas a ambientação não proporciona sempre tais afecções, como nos
demonstra Andeas Huyssen ao falar da museificação da cidade de Berlin no pós-Segunda
Guerra. Em Seduzidos Pela Memória, Huyssen fala da profusão de museus em uma tentativa
moderna de encontrar novas (re)significações presentes do passado. Novos usos do passado
a partir de da construção de ambientes pensados para narrar uma história. Ali, entre um sem
número de turistas, o cotidiano da cidade, para muitos, acontece sem mais, sem qualquer
abalo. Muitos dos viventes passam incólumes àquele passado. A diacronia, o paradigma do
tempo histórico e a produção planejada e utilitarista de sentido encobrem a superfície
material daquele passado. Encobrem a possibilidade de simultaneidade e transcendência do
tempo possíveis naquelas rugosidades do passado.
Gumbrecht ensaiou uma saída historiográfica para essas questões em seu livro Em
1926: Vivendo no limite do tempo, onde procura partir das superfícies do passado para
alcançar o que ele chama de produção de presença. Abandonando a narrativa diacrônica e o
sujeito interpretante produtor de explicações, ele busca a-presentar o passado ao leitor,
numa tentativa de produzir simultaneidade, ou seja, a sensação de viver em 1926. Contudo,
ele o faz a partir de um conhecimento sobre o passado. E como produzir conhecimento
histórico sem narrativa e sem interpretação?
Seria, então, a saída preservacionista, que busca manter os objetos do passados tal
como foram deixados uma forma de alcançar os corpos e os sentidos? Talvez, mas não só, ou
veríamos um retorno dos gabinetes de curiosidade que muito afeto causavam em seus
possuidores mas pouco em seus visitantes. Ao menos não o afeto da simultaneidade, a
explosão do corpo que aqui buscamos. A superfície do passado afeta os sentidos daqueles
que a viveram. Ela surge a partir da experiência. Ou da narrativa. Para voltar ao meu exemplo
pessoal, eu não presenciei a Marcha para o Oeste, mas, diante da presença material daquele
passado e tomado por uma explosão de sentidos consonantes, fui a-presentado a ela. Eu a
vivi, vivi uma memória que não era minha, mas realizou-se em meu corpo. Uma prelibação
do passado.
O que Gumbrecht parece não perceber é que seu feito é mais preciso que sua crítica.
Ele mesmo pergunta: o que fazer com o conhecimento que temos sobre o passado? Ele diz
valorizar esse conhecimento, mas, não deixa claro a forma de alcança-lo. Talvez porque isso
invalide a sua crítica.
Concluindo, portanto, gostaria de apresentar um vislumbre de esperança para a
História enquanto campo de saber: Ainda que partindo de uma tradição histórica da qual
procuro me libertar, àquela do paradigma do tempo histórico, Stephen Greenblatt, ao propor
o que chamou de Novo Historicismo, aproxima-se em alguns pontos à leitura historiográfica
ensaiada por Gumbrecht, mas sem deixar fios soltos. Suas reflexões buscam retomar uma
vertente há muito perdida na historiografia ocidental: a materialidade, e ele faz isso a partir
dos conceitos de ressonância e encantamento.
Será mais fácil apreender os conceitos de ressonância e
encantamento examinando a maneira como nossa cultura apresenta
para si mesma, não os vestígios textuais de seu passado, mas os
vestígios visuais e materiais que dele sobrevivem, pois este últimos
estão colocado em exibição em galerias e museus projetados
especificamente para este fim. Por ressonância entendo o poder do
objeto exibido de alcançar um mundo maior além de seus limite
formais, de evocar em quem os vê as forças culturais complexas e
dinâmicas das quais emergiu e das quais pode ser considerado pelo
espectador como uma metáfora ou simples sinédoque. Por
encantamento entendo o poder do objeto exibido de pregar o
espectador em seu lugar, de transmitir um sentimento arrebatador de
unicidade, de evocar uma atenção exaltada. (Greenblatt, 1991 – Novo
Historicismo: Ressonancia e Encantamento).

Enfim, a história não pode sobreviver sem o sentido. Ou melhor, sem os sentidos. Não
apenas um sentido hermeneuticamente induzido, de acordo com as demandas diacrônicas
do paradigma do tempo histórico, mas também aquele que emana das superfícies do passado
associadas à memória e a experiência dos viventes. Uma experiência que se dá na e para o
corpo. Uma memória que precisa, muitas vezes, de recursos narrativos para ser evocada.
Uma narrativa que busque não penetrar as superfícies do passado mas, sim,
apresentá-lo aos sentidos. Assim como as imagens, a História, para existir, precisa produzir
afetos... realizar-se ao corpo.

ASSIM COMO O SER É PENSADO, O PENSAMENTO TAMBÉM É VIVIDO.

Para existir, a história, assim como as imagens, precisa realizar-se ao corpo.


Precisa-se superar a tradição historiográfica moderna, apegada ao texto como
produtor de sentido, que trabalha, recorta e ressignifica o documento, que objetiva,
pela interpretação, encontrar um sentido além da superfície. Ao retomar as
materialidades, a História pode produzir a simultaneidade do passado, apresentar a
experiência e a memória, produzir afetos, ambiências. A narrativa se faz presente,
mas buscando nâo penetrar as superfícies do passado e, sim, fazê-los sentir no
corpo. História enquanto uma proposição do passado enquanto presença,
enquanto passado que não passou. Ou seja, só importa historiar sobre aquilo que é
capaz de produzir presença, ambiência e encantamento. Produzir afetos. A história
enquanto um conhecimento puro e simples do passado é mera perfumaria…
História importa enquanto produtora de afetos e sentidos no corpo!

INCLUIR NA CONCLUSÃO:
o FRASE FODA: ASSIM COMO O SER É PENSADO, O
PENSAMENTO TAMBÉM É VIVIDO. Ou seja, assim como a
materialidade pode ser objeto do conhecimento, aquilo que é
produção de sentido também toca o corpo e torna-se materialidade….
o Novo Historicismo  Interesse pelo engaste dos objetos culturais nas
contingências da história.  Busca de fugir das políticas esteticizadas e
idealizadas da imaginação.
PEGAR REFERÊNCIAS IMAGÉTICAS PARA PASSAR ENQUANTO FALO DAS
COISAS QUE ESTOU NARRANDO. A tentativa é criar uma ambiência para o que
digo.

 Fazer história com afeto e produzindo afetos. O passado ressoante, o passado que
encanta. A significação faz parte disso, mas não é tudo e não deve ser o objetivo. Conhecer
de nada vale se não se toca o corpo.

 O historiador como construindo o sentido não apenas da narrativa, da estória, mas


também do próprio documento. O indício material, a materialidade, o objeto do qual parte,
antes de ser tomado como ressonância e sincronia da experiência, o constrói, o dota de
sentido, eliminando, assim, uma possível ambiência na operação historiográfica.

Buscar mais a ideia de assombros de história, Haunted History.

A História não pode sucumbir totalmente materialidade, sob pena de retornar-se a uma
mera descrição factual, corrente entre o historicismo do séc XIX, sem qualquer sentido
prático ou poético. Também não pode incorrer apenas na significação, buscando dotar tudo,
desde o seu documento, de significação, operação esta reveladora de certa arrogância
subjetivista, dando margens, igualmente, a historias sem qualquer sentido prático ou
poético, como a história da vida sexual dos príncipes. É preciso rechear a história de
ambiência e encantamento. Buscar os elementos do passado que ressoam no presente e
que nos promovem sintonia e simultaneidade. COMO FAZER ISSO? Refletir.

PROBLEMAS: Como fazer isso metodologicamente na História?


 O museu ou o recurso meramente ao material sem sentido
seria uma saída? O caso de Berlin, Segundo Huyssen. A ressonância não só se dá
àqueles que viveram o momento? É preciso significar ou CONHECER esse passado
para sentí-lo. E como conhecer sem o sentido?

o No texto hermenêutico, o sentido é o objetivo. Portanto, a expressão,


que sempre se inscreve em uma superfície, está limitada a ela. A
expressão nunca será total, nunca poderá ser atingida em sua
totalidade devido aos limites dados pela superfície. Ex: Um texto
historiográfico nunca chegará a narrar a realidade, estará sempre
limitado a uma interpretação dela. Daí a importância de uma busca da
ambiência e da expressão do sentimento não pelo sentido, mas pela
percepção. Warburg e mnemosyne. O Corpo precisa ser retomado
não como superfície, mas como expressão. Daí porque a ideia de
GESTOS de Flusser!
o Para Gumbrecht, o afeto só se dá a partir de um sentido. Aquilo que
não há sentido não afeta, não causa efeito, não produz reação nos
corpos, gestos.

- A partir de Gumbrecht – O Campo não Hermenêutico


o No texto hermenêutico, o sentido é o objetivo. Portanto, a expressão,
que sempre se inscreve em uma superfície, está limitada a ela. A
expressão nunca será total, nunca poderá ser atingida em sua
totalidade devido aos limites dados pela superfície. Ex: Um texto
historiográfico nunca chegará a narrar a realidade, estará sempre
limitado a uma interpretação dela. Daí a importância de uma busca da
ambiência e da expressão do sentimento não pelo sentido, mas pela
percepção. Warburg e mnemosyne. O Corpo precisa ser retomado
não como superfície, mas como expressão. Daí porque a ideia de
GESTOS de Flusser!
o Me parece que essas três instâncias a serem acopladas são: a
materialidade do meio, os gestos e, finalmente, a ação, ou expressão.
O ato sobre o qual se fala.
o A ideia de contingência ou aleatoriedade. Na condição pós-moderna,
supera-se a necesidade de um desenvolvimento, de uma lógica
sucessiva, de uma causalidade ou sequencialidade. Abraça-se o
contingente, o aleatório, o acaso.
o O PERIGO DA ESTETIZAÇÃO… apenas prazeres e nenhum
conhecimento.
o Para Gumbrecht, o afeto só se dá a partir de um sentido. Aquilo que
não há sentido não afeta, não causa efeito, não produz reação nos
corpos, gestos.

- Historiografia a partir de Gumbrecht


o A emergência do texto como produtor de sentido, a imprensa como
uma tecnologia de extensão do homem. Afasta-se da materialidade do
corpo, o corpo enquanto centro do saber, para a produção de sentido.
A base para a constituição do campo hermenêutico.
o POR QUE a insistência em supor a realidade como aquilo que é
externo, aquilo que são os objetos do mundo externos ao corpo?
o Cronotopo “Tempo Histórico” - A consciência de que são multiplas as
representações sobre a realidade e elas dependem de um ponto de
observação - isso passa a ser explicado como momentos evolutivos de
uma mesma identidade. Daí funda-se o Tempo Histórico. O tempo da
consciência das narrativas temporalizadas, não consolidadas.
o Aqui uma reflexão. Os gabinetes de curiosidade, ao colecionar objetos
do passado, mas sem tentar decifrá-los ou interpretá-los, não
possuíam uma lógica externa a eles. Os museus, como são fundados na
lógica das culturas de sentido e interpretação, não podem prescindir
dessa lógica explicativa e narrativa.
BOA SACADA - O documento como uma chave para a saída da cultura de
sentido… ater-se mais a materialidade, à superfície material, ao significante e
menos ao significado. Uma volta a tradição Antiquária.
ESSA É UMA SAÍDA. Outra, possível, pode ser uma via Warburg e mnemosyne…
uma busca de afetação pela história sem um foco tão intenso na narrativa. As
imagens podem produzir isso… um mínimo de organização narrativa para causar
efeitos perceptivos, efeitos no corpo, provocar gestos e promover ambiências.

DE QUALQUER FORMA, EM TODAS ELAS, DEVE-SE BUSCAR uma inversão do


processo historiográfico e uma superação do “tempo histórico” e sua diacronia. O
primeiro, em vez de partir do material para produzir discurso e sentido, inverter,
partindo do sentido para tentar trazê-lo a materialidade dos corpos. O segundo, tal
como demonstrou Gumbrecht, um apelo a sincronia e a simultaneidade dos
tempos, re-presentando o passado para torná-lo novamente presente ao leitor, ao
espectador.

o PERGUNTA para Refletir: Será possível prescindir (abandonar


mesmo!) do documento material como via para a superação da cultura
de sentido e produção de presença?
Não seria essa saída preservacionista também um problema? A materialidade
daqueles objetos preservados só tocariam os corpos presentes a partir de sentidos
também presentes… há toda uma nova educação dos sentidos, uma educação da
percepção que não é imediata e simultânia às próprias coisas. OU SERIA ESSA
reflexão fruto de uma tradição diacrônica que também precisa ser superada? Se isso
for, ok. Preserva-se. Mas, até que ponto? Seria uma simples preservação pela
preservação? E os desejos de transformação desses objetos… serão permitidos ou
proibidos? Sob que aspectos e reflexões serão aceitos ou negados?

LER ANDREAS HUYSSEN.

o Essas preservações vêm sempre acompanhadas de legislações que


proibem determinadas intervenções. Ou seja, seria como uma
legislação de proteção contra uma lógica de sentido, de uma cultura
histórica diacrônica, que visa a dar novos sentidos, ditos como atuais,
às coisas do passado. Essa lógica não permite a presença das coisas em
si, de sua superficialidade e materialidade… mas quer e deseja
imprimir nelas desejos novos, dentro de um princípio diacrônico e
sequencialista que é imanente ao Tempo Histórico, à modernidade e à
cultura de sentido.
o UM CUIDADO QUE PRECISA SE TER É NÃO CONFUNDIR
REALIDADE COM MATERIALIDADE. A realidade dos fatos não é a
materialidade do passado. A materialidade do passado está na
superfície dos objetos legados por ele e também nos afetos que ele
pode nos causar. Cabe refletir se os afetos apenas causados por esses
objetos ou também os afetos causados por seus efeitos de sentido!!!!
EIS AQUI A DECISÃO QUE PRECISAMOS TOMAR. Que postura
adotar nesse embate.
o O autor sugere um passado estável, inconteste. Ou seja, parece, com
isso, querer retomar um certo historicismo… a postura materialista
dele é essa? Acabar com o relativismo da segunda pulsão da
modernidade (descrita por gumbrecht e por ele nesse texto) e
retornar a uma história verdadeira e estável? É ISSO? Que bosta de
materialidade é essa? A Realidade dos fatos é matéria agora?
- Flávia Varella – Gumbrecht
Isso é fundamental. O desejo de viver em épocas não vividas como
superação do nascimento. Aí, assim, a busca de criar uma
simultaneidade a partir da materialidade, materializar o passado no
presente.
Mas aí é que está… o problema está em supor um real concreto e
outro representado, ilusório ou falso. Aquilo que toca e produz
encantamento, aquilo que produz afeto, é o real.
IMPORTANTE: História enquanto uma proposição do passado enquanto presença,
enquanto passado que não passou. Ou seja, só importa historiar sobre aquilo que é
capaz de produzir presença, ambiência e encantamento. Produzir afetos. A história
enquanto um conhecimento puro e simples do passado é mera perfumaria…
História importa enquanto produtora de afetos e sentidos no corpo!

A ideia de que a história deve desvelar o passado para que ele não se
repita é uma mera ilusão, ou melhor, falácia. Se esse fosse o objetivo
da história, temos constantemente falhado. A história deve objetiva
produzir afetos!

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