RESUMO: Na trajetória histórica da tradição dialética, Karl Marx é
certamente um nome de destaque. Dois motivos principais asseguram à obra de Marx seu lugar nesta tradição: primeiro, pela arquitetônica de sua proposta dialética, especialmente como é exposta em O Capital; segundo, pelo seu enfrentamento de um dos maiores nomes do pensamento dialético, o alemão G.W.F. Hegel. Em nossa exposição, buscaremos explorar ambos aspectos do pensamento de Marx. Exploraremos o duplo sentido do título apresentado: tanto a dialética feita por Marx quanto a dialética de seu pensamento da juventude à maturidade. Desta forma, em primeiro lugar, analisaremos alguns aspectos da dialética do trabalho no texto Manuscritos Econômico- Filosóficos, e com para a noção de ser genérico (Gattungswesen). Buscaremos identificar alguns aspectos hegelianos presentes neste paradigma, para então recuperarmos a crítica que Marx realiza em O Idealismo Alemão contra estes aspectos hegelianos presentes no conceito de ser genérico. A autocrítica de Marx surge, assim, como um sinal de um rompimento ainda maior com a dialética hegeliana, e que na obra de maturidade incorrerá em duas frentes: um rompimento ontológico e um rompimento metodológico, prometendo, com isso, uma formulação mais antitética do que especulativa em O Capital. Como sequência, em segundo lugar, exploraremos a dialética madura de Marx, tendo por foco O Capital. Através de uma abordagem da obra a partir das noções de método de abstração e método de exposição, esclareceremos o rompimento com a dialética ontológica de juventude. Estas análise nos levarão a um rico arcabouço conceitual, como as diferenças conceituais entre essência e aparência, possibilidade e efetividade, mecanismo e organismo. Este mapeamento conceitual permitirá expandir a análise do método dialético de O Capital com o intuito de identificar o rompimento metodológico. O foco, neste âmbito, incorrerá na ressignificação da inversão (ümstulpen) da dialética hegeliana. Esse mote já bem conhecido pela tradição marxista será interpretada pela via metodológica da negatividade, realizando-se uma inversão da relação entre identidade e negação. Desta forma, ao passo que a dialética hegeliana propõe uma metodologia da negatividade na qual os momentos antitéticos coadunam-se paulatinamente na direção da constituição da identidade especulativa da Ideia absoluta, o que se vê em O Capital, pelo contrário, consiste em uma negatividade que depara-se com a identidade e a desconstrói ao trazer à tona suas relações antitéticas internas constutivas (é assim com a noção de mercadoria, valor, mais-valia, preço, etc.). A noção de capital em sua conceitualidade dialética será um caso especial a ser explorado. A identidade do conceito de capital é constituída através das relações antitéticas, o que o aproxima da noção de Ideia absoluta hegeliana. Porém, continuando sua inversão, Marx demonstrará derradeiramente que a própria identidade do conceito de capital é dissolvida lógica e históricamente no conceito de luta de classes. Desta forma, concluiremos com a tese segundo a qual a possibilidade lógica da conceitualidade especulativa do capital consiste, em si mesmo, em um processo de efetivação da luta de classes como resultado e princípio das relações antitéticas aparentemente (ao nível lógico) e temporariamente (ao nível histórico) subsumidas pelo capital. Em outras palavras, o capital existe, logica e historicamente, no interior da região antitética da luta de classes e, por isso mesmo, será derradeiramente submetida ao tribunal da razão dialética.