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ARTIGO ORIGINAL

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: ASSOCIAÇÃO DE VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS E


BIOMÉDICAS MATERNA COM RESULTADO NEONATAL. FEIRA DE SANTANA – BAHIA.

Maria Conceição Oliveira Costaa


Carlos Antônio Souza Teles Santosb
Carlito Nascimento Sobrinhoc
Maria do Socorro de Q. Mourad
Karine Emanuelle Peixoto de Souza e
Daniela Rozzato de Assisf

Resumo
Objetivo: investigar associações entre variáveis sociodemográficas e biomédicas
maternas com peso e idade gestacional dos recém-nascidos de adolescentes e adultas jovens
acompanhadas no pré-natal do Hospital Regional de Feira de Santana –Bahia, 2002. Método:
estudo longitudinal com 119 gestantes acompanhadas no pré-natal, segundo faixa etária (10 a 19)
e (20 a 24 anos). Nas análises, foram utilizados o qui-quadrado, média, desvio padrão e Risco
Relativo (RR) com significância de 5%. Resultados: entre as adolescentes, foram observadas
maiores proporções de solteiras, 36 (52,2%) e coabitação com famílias, 45 (65,2%); os grupos
etários diferiram nas idades médias da menarca e ginecológica; mais de 40% apresentaram baixo
peso no terceiro trimestre. Baixa escolaridade e estar solteira foram fatores de risco para peso
inadequado do RN; a faixa adolescente e baixa idade ginecológica, para ocorrência de
prematuridade; e a coabitação com a família e baixo peso no terceiro trimestre para ambas as
condições do RN. Conclusões: o baixo peso e a prematuridade dos RN mostraram múltiplas
associações com variáveis maternas.
Palavras-chave: gravidez na adolescência, variáveis maternas, resultado neonatal.

a
Professora Titular/PPGSC/NNEPA/UEFS – Doutora em Medicina/ UNIFESP
b
Professor Assistente/NNEPA/UEFS - Mestre em Estatística/ UFBA
c
Professor Adjunto/PPGSC/NNEPA/UEFS - Doutor em Medicina/ UFBA
d
Mestre em Saúde Coletiva/PPGSC/UEFS
e
Mestranda em Saúde Coletiva/PPGSC/NNEPA/UEFS
f
Aluna de Iniciação Científica/NNEPA/UEFS
Instituição dos autores: Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/Bahia / Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva
- PPGSC / Núcleo de Estudos e Pesquisas na Infância e Adolescência – NNEPA
Endereço para correspondência: Profª Dra. Maria Conceição Oliveira Costa. Av. Euclides da Cunha, 475, aptº 1602, Graça,
CEP:40150 – 120, Salvador, BA – Brasil Telefone: (71) 247-1689, Fax: (71) 247-1698. E-mail: costamco@hotmail.com URL da
Home Page: http://www.uefs.br/nepa/

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Revista Baiana PREGNANCY IN ADOLESCENCE: SOCIODEMOGRAGHIC AND BIOMEDICAL MATERNAL
de Saúde Pública VARIABLES ASSOCIATION AND NEONATAL RESULTS

Abstract
Objective: Evaluating the association between sociodemographic and biomedical
maternal variables and weight and gestational age of the newborns between adolescents and
young adults who used the Regional Hospital of Feira de Santana, Bahia 2002. Method: This was a
longitudinal study using 119 pregnant adolescents and young adults attending the pre-natal clinic;
selected according to age group, (10-19 years) and (20-24 years). For the analysis qui-square,
mean and standard deviation, and the Risk of Reason (RR) were used, with 5% significance.
Results: It was observed that a large proportion of subjects were single (36) (52.2%).Those who
lived with their families was (45) (65.2%).The age groups differed in the median age of menarche,
and also gynecological age. More than 40% of the subjects presented low weight in the 3rd
trimester. Low level of instruction and single motherhood were pointed as factors of risk related
with inadequate newborn weight, in the same way that age group of the adolescent as well as low
gynecologic age showed higher risk for prematurity; and cohabitation with parents and low gestational
weight on the third trimester resulted in risk of both newborn conditions. Conclusion: RN low
weight and premature birth showed multiple associations with maternal variables in this group.
Keywords: Pregnant adolescents and young adults, maternal variables, neonatal results.

INTRODUÇÃO
A questão da gravidez e maternidade na adolescência, principalmente na faixa
menor de 16 anos, que não planejou este evento, vem preocupando profissionais de saúde, pais,
educadores e toda a sociedade, tendo em vista os prejuízos pessoais, familiares e sociais quando
associado a precárias condições de vida, famílias numerosas, com pouco acesso aos serviços e
bens de consumo, contribuindo para perpetuação do ciclo de pobreza 1.
Na América Latina, anualmente, 3.312.000 crianças nascem de adolescentes que,
embora ainda estejam em plena fase de crescimento e desenvolvimento, vêm participando
efetivamente do aumento das taxas de fecundidade e mortalidade materna e neonatal 2. Segundo
dados do SINASC, no período 2000/2002, foram 28 mil nascidos vivos de adolescentes na faixa de
10 a 14 anos; e na faixa etária de 15 a 19 anos, em torno de 670 mil 3.
Na literatura, há uma ampla discussão quanto aos fatores que interferem na
evolução e resultado gestacional, destacando-se idade ginecológica, peso pré-gravídico e ganho de
peso gestacional, hábito de fumar, paridade, assistência pré-natal, presença do companheiro e
suporte familiar 1, 4, 5
. No que se refere aos aspectos socioculturais, pesquisas têm mostrado

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que a gestação precoce pode trazer desvantagens à trajetória educacional da gestante,
contribuindo com a evasão escolar e dificultando o retorno à escola, limitando seu progresso
acadêmico e possibilidades de adequação ao mercado de trabalho, sendo indispensáveis a
presença e o apoio familiar e do parceiro 1, 4, 6
.
Quanto aos aspectos biomédicos, estudos apontam associação positiva entre
idade ginecológica e recém-nascidos (RN) prematuros e/ou de baixo peso, em decorrência da
imaturidade funcional uterina aos estímulos hormonais (insuficiência placentária) . Do mesmo
6, 7

modo, o peso pré-gestacional e o ganho de peso exercem influência no resultado gestacional,


sendo que a importância do primeiro se deve ao armazenamento de nutrientes e o segundo à
ingestão calórica durante a gravidez 7, 8, 9
. O estado nutricional é reconhecidamente um
importante determinante da saúde e do bem-estar da gestante e do feto .
10, 11, 12

O objetivo deste estudo foi investigar fatores de risco entre variáveis


sociodemográficas e biomédicas materna, e peso e idade gestacional de recém-nascidos em dois
grupos de gestantes adolescentes e adultas jovens, acompanhadas no Serviço de Pré-Natal de
Referência do SUS, Hospital Regional de Feira de Santana –Bahia/Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS
Estudo longitudinal realizado com gestantes adolescentes e adultas jovens
acompanhadas no pré-natal do Hospital Geral Clériston Andrade – HGCA, referência para o
atendimento de gestantes adolescentes nos municípios da região do semi-árido baiano, no período
de março a dezembro de 2002.
As gestantes foram classificadas por faixa etária (GI - 10 a 19 anos, GII - 20 a 24
anos). Os critérios de elegibilidade foram: gestante de 10 a 24 anos; ausência de patologias clínicas
e psiquiátricas; gestação ≤ 28 semanas; paridade de 0 a 3; gravidez única.
Os dados foram coletados por equipe de médicos treinados, utilizando formulário
específico, com base nas recomendações do Ministério da Saúde – Brasil 13
e nas Normas da
Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 14, contendo variáveis sociodemográficas (idade
cronológica, escolaridade, situação de coabitação), variáveis biomédicas (idade ginecológica, idade
gestacional do início no pré-natal); variáveis nutricionais das gestantes, avaliadas pelo IMC do 3º
trimestre gestacional (peso e altura) e dados do recém-nascido: idade gestacional ao nascer (pré-
termo < 37 semanas e a termo ≥ 37 semanas); e peso (baixo peso: ≤ 2.500g; peso insuficiente:
2.5001- 3000g e peso adequado: > 3.000g) 15. Os dados das gestantes foram coletados durante o
pré-natal e dos RN nos prontuários dos Serviços de Obstetrícia e Neonatologia.
A escolaridade foi classificada considerando: ensino fundamental (1ª à 8ª série),

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Revista Baiana
ensino médio e 3º grau ; a idade ginecológica foi calculada pelo intervalo de tempo entre
16
de Saúde Pública
a menarca e a gestação; o estado nutricional materno foi avaliado pelo Índice de Massa
Corporal – IMC (P/A²) do 3º trimestre gestacional que classifica as gestantes em: Baixo Peso:
Relação peso/altura (P/A) e idade gestacional (IG) ≤ 19,9 no início e ≤ 25 no final da
gestação; Peso Normal: > 20 e < 24,9 no início e > 25,1 e < 29,2 no final da gestação;
Sobrepeso: > 25 e < 30 no início e > 29,3 e < 33,2 no final da gestação; Obesidade: ≥
30,1 no início e ≥ 33,3 no final da gestação 17.
Foi utilizado o cálculo da média e do desvio-padrão – DP para as variáveis
biomédicas (idade da menarca, idade ginecológica e idade gestacional de início do pré-natal); e nas
análises bivariadas foram calculadas as Razões de Risco (RR), para investigar as possíveis
associações entre variáveis sociodemográficas, biomédicas e estado nutricional da gestante com o
peso inadequado e a prematuridade do RN. A significância estatística adotada foi de 5%.
Os dados foram coletados após assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido (TCLE), conforme recomendação da resolução 196/96 do CNS/MS 18
, pesquisa
aprovada pelo CEP/UEFS, com protocolo nº 04/2002.

RESULTADOS
Foram acompanhadas 119 gestantes, sendo que 58,0% (69) tinham entre 10 a 19
anos (GI) e 42,0% (50) 20 a 24 anos (GII).
A tabela 01 demonstra as características sociodemográficas das gestantes. Foram
observados diferenças estatisticamente significantes (p< 0,05) entre os grupos etários, para todas
as variáveis estudadas. A escolaridade de 51,7% (61) era de 5ª à 8ª série, sendo 62,3% (43) no GI
e 36,8% (18) no GII. Na análise da situação conjugal foram verificadas maiores proporções de
solteiras, 46 (38,7%) e de comunhão livre, 47 (39,5%); sendo que, entre as solteiras, a maior
proporção ocorreu entre as adolescentes (GI), 36 (52,2%). No total das casadas, 26 (21,8%), a
maior frequência foi observada entre as adultas jovens (GII), 24 (48%). A coabitação com o pai da
criança foi observada em 52 (44,1%) das gestantes, sendo que 35 (71,4%) eram do GII;
inversamente, das 55 (46,6%) gestantes que coabitavam com as famílias, 45 (65,2%) eram
adolescentes (GI).
A média da idade da menarca foi de 12,5 anos no GI e 13 anos no GII. A idade
ginecológica média do GI foi 4,3 anos e a do GII foi 8,9 anos, e a idade gestacional de início do
pré-natal foi de 16,5 semanas no GI e 14,5 semanas no GII (Tabela 02).
O estado nutricional da gestante, avaliado pelo IMC, foi realizado por trimestre
gestacional, considerando-se para a análise apenas o 3º trimestre. O cálculo do IMC não

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Tabela 01. Dados sociodemográficos e estado nutricional (3º trimestre), por faixa etária, de gestantes
adolescentes e adultas jovens acompanhadas no Serviço de Pré-Natal do HGCA, Feira de Santana, 2002.

Tabela 02 – Distribuição das médias de variáveis biomédicas, por faixa etária, de gestantes adolescentes e
adultas jovens acompanhadas no Serviço de Pré-Natal do HGCA, Feira de Santana, 2002.

mostrou diferença significante entre o estado nutricional dos grupos (GI e GII), ressaltando
que 51 (42,9%) apresentavam baixo peso no terceiro trimestre gestacional, sendo 34 (49,3%)
do GI e 17 (34%) do GII (Tabela 01).
Os resultados relacionados aos recém-nascidos (RN) mostraram que 77
(84,6%) eram de termo e 14 (15,4%) de pré-termo, com tendência a maiores proporções de
prematuros entre os RN do GI, 10 (16,4%), em relação aos RN do GII, 4 (13,3%). O peso de

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Revista Baiana
53 (61,6%) dos RN foi adequado (> 3.000g), muito embora o baixo peso (£ 2.500g) tenha sido
de Saúde Pública
observado apenas entre os RN do GI, 06 (10,5%). Considerando conjuntamente, os RN de baixo
peso e de peso insuficiente, verificou-se tendência de maiores proporções entre os RN do GI,
embora as diferenças encontradas não tenham alcançado significância estatística (Tabela 3).

Tabela 03 - Distribuição do Peso e Idade Gestacional de Recém-Nascidos (RN) por faixa etária materna, de
gestantes adolescentes e adultas jovens acompanhadas no pré-natal do HGCA, Feira de Santana, 2002.

O cálculo do Risco Relativo (RR), para avaliar associações entre variáveis


maternas com peso inadequado e prematuridade dos recém-nascidos, apontou múltiplas
associações, muito embora estes resultados não tenham mostrado significância estatística.
No que diz respeito ao peso inadequado dos recém-nascidos, foram
observadas associações: a) com a baixa escolaridade (risco 1,46 vezes maior, em relação à
escolaridade média); b) mães solteiras (risco 1,22 vezes maior, em relação às casadas ou
em comunhão livre); c) coabitação da gestante com as próprias famílias (risco 1,46 vezes
maior, em relação à coabitação com o pai da criança); d) baixo peso materno no 3º trimestre
(risco 2,0 vezes maior, em relação ao peso adequado e sobrepeso) (Tabela 4). O RR da
prematuridade em relação às variáveis maternas apontou associações com: a) faixa etária
adolescente (risco 1,23 vezes maior, em relação às adultas jovens); b) coabitação da
gestante com as famílias (risco 1,83 vezes maior, em relação à coabitação com o pai da
criança); c) idade ginecológica £ 4 anos (risco 1,5 vezes maior, em relação à idade
ginecológica > 4 anos); d) baixo peso materno (risco 2,91 vezes maior, em relação ao peso
adequado e sobrepeso) (Tabelas 05).

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Tabela 04 – Razão de Risco (RR) do peso dos Recém-Nascidos – RN, segundo variáveis sociodemográficas e
biomédicas maternas, de gestantes adolescentes e adultas jovens acompanhadas no pré-natal do HGCA, Feira
de Santana, 2002.

Tabela 05 – Razão de Risco (RR) da idade gestacional (prematuridade) dos Recém-Nascidos - RN, segundo
variáveis sociodemográficas e biomédicas maternas, de gestantes adolescentes e adultas jovens acompanhadas
no pré-natal do HGCA, Feira de Santana, 2002.

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Revista Baiana DISCUSSÃO
de Saúde Pública
No Brasil, estudos realizados em diferentes centros urbanos mostraram que,
na década de 80, o índice de nascidos vivos entre adolescentes encontrava-se em torno de
14% 15; na década de 90, em torno de 20% 19 e em 2001, cerca de 22% 4.
No que diz respeito aos aspectos sociodemográficos relacionados à gravidez na
adolescência, a maioria dos estudos destaca a interferência no percurso acadêmico, em que tem
sido verificado altos índices da baixa escolaridade entre mães adolescentes, em decorrência da
evasão, abandono e dificuldade de retorno à escola . Na literatura, existe consenso sobre
1, 5, 20

diferentes fatores determinantes (estruturais e sociais) que podem interferir no processo de


escolarização de jovens 5, 6, 21. Pesquisa realizada com dados do Sistema Nacional de Informações
de Nascidos Vivos (SINASC) de Feira de Santana – Bahia (1998) verificou 16,6% de adolescentes
de 10-16 anos e 40,9% de adolescentes de 17-19 anos com 1º grau incompleto 4. Os resultados
do presente estudo concordam com estas pesquisas, tendo sido observado que mais de 50% das
gestantes acompanhadas tinham escolaridade até a 8ª série, sendo que as adolescentes (GI)
representaram mais de 60% nesta categoria e apenas 20% daquelas no segundo grau, mostrando,
portanto, defasagem da escolaridade em relação à faixa etária.
São múltiplos os fatores que podem influenciar na baixa escolaridade de
adolescentes, entretanto, ao longo das três últimas décadas, as pesquisas têm demonstrado que a
maternidade precoce pode comprometer o processo de escolarização, principalmente em
condições socioeconômicas desfavoráveis.
Outro aspecto relevante das pesquisas sobre gravidez e maternidade na
adolescência é a precipitação de uniões conjugais, mesmo em domicílios separados. Estudo
realizado em diferentes regiões do Brasil registrou 13,2% de casadas ou em união consensual na
Região Sudeste; 14,9% no Nordeste, 18,7% no Sul, 19,6% no Centro-Oeste, 20,4% na Região
Norte22. Em Feira de Santana, Lima (2001) 23
e Paraguassú (2003)21 estudando a situação
sociodemográfica de amostra representativa de mães adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde
do município, relatam mudanças significantes (p<0,05) na situação conjugal e coabitação; durante
a gestação, pois mais de 60% eram solteiras e coabitavam com as famílias e, após a gestação, estas
proporções se inverteram, com mais de 60% vivendo em comunhão livre e coabitando com
parceiro. No presente estudo, também foram observadas altas proporções de solteiras e
comunhão livre entre as adolescentes acompanhadas, entretanto mais de 60% do GI
coabitavam com as famílias e esta variável apresentou-se como fator de risco para o peso
inadequado e a prematuridade do RN. Em ambas as situações, estes resultados revelam a
instabilidade social e econômica de adolescentes diante da gravidez não planejada, com

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necessidade de ajustes na família que, muitas vezes, não está preparada economicamente
para atender esta demanda .
1, 21, 23

No que se refere à maturidade reprodutiva, estudos apontam para o fato de que a


idade ginecológica inferior a quatro anos pode comprometer o crescimento fetal, principalmente
no terceiro trimestre, com risco de prematuridade e baixo peso . No presente estudo, os
7, 8, 9, 24

dados relacionados aos indicadores biológicos maternos concordam com as pesquisas citadas,
sendo observado, com resultado significante, que a idade média da menarca das adolescentes (GI)
ocorreu um ano anterior àquelas das adultas (GII); a idade ginecológica média do GI foi cerca de 4
anos menor que a do GII, sendo que as idades cronológica e ginecológica mostraram ser fator de
risco para a ocorrência de prematuridade.
Outro aspecto enfatizado nas pesquisas é a relevância do pré-natal, considerado
importante indicador da qualidade da assistência . Em Feira de Santana, verificou-se que
6, 25

adolescentes (GI) o iniciaram a partir da 16ª semana e as adultas jovens (GII) a partir da 14ª
semana, muito embora o Pré-Natal do HGCA seja de referência para gestantes no município e
região do semi-árido e a equipe realizar periodicamente campanhas de sensibilização sobre a
importância da adesão precoce ao atendimento. Estes resultados concordam com pesquisas que
relatam comprometimento da qualidade da assistência, possivelmente pelos aspectos psicossociais
e econômicos envolvidos na gravidez precoce, principalmente quando não foi planejada, em que
conflitos pessoais e familiares e dificuldades econômicas são determinantes para o início tardio do
pré-natal. No caso de adultas jovens, ressaltam-se os fatores socioeconômicos 1, 4, 25.
No que se refere ao estado nutricional da gestante, pesquisas revelam que o baixo
peso no início e o insuficiente aporte ponderal, durante a gravidez, contribuem para o retardo do
crescimento fetal e a prematuridade, assim como para o aumento dos índices de morbi-
mortalidade neonatal 1, 26, 27.
No Chile, Mardones et al (1999) 28, comparando o estado nutricional de gestantes
por diferentes indicadores (PPS e IMC), verificaram associação positiva entre estado nutricional de
risco da gestante (Classe A e Baixo Peso) com baixo peso do RN. Em São Paulo, Fugimory et al.
(1997)29, avaliando o estado nutricional de gestantes adolescentes por diferentes parâmetros,
registram maiores proporções de baixo peso na faixa < 16 anos, pelos indicadores IMC e de
Siqueira (1983) 30. Ainda em São Paulo, Furlan et al. (2003)27, estudandram gestantes adolescentes
em Serviço Ambulatorial da UNIFESP, observam que, daquelas que alcançaram o final da gravidez
com baixo peso pelo IMC, 75% tiveram RN com baixo peso. No presente estudo, utilizando o
indicador IMC, através de estudo longitudinal, foram verificadas, entre adolescentes (GI) e adultas
jovens (GII), altas proporções de baixo peso gestacional, em torno de 40% no 3º trimestre, e esta

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Revista Baiana
variável mostrou ser um dos fatores de risco para o peso inadequado e a prematuridade do RN,
de Saúde Pública
corroborando com pesquisas que verificaram resultados semelhantes 24.
No Brasil, pesquisas em diferentes municípios, apontaram risco de baixo peso e
prematuridade entre os RN de adolescentes quando comparados aos das adultas, ressaltando a
interferência das outras variáveis maternas no resultado gestacional. Em 2000, Mariotoni & Barros
Filho (Campinas-SP) 19, estudando nascidos vivos (1971-1995), registram que as menores médias
de peso ao nascer ocorreram entre os RN da faixa < 17 anos, identificando como fatores de risco,
para baixo peso o início tardio do pré-natal, paridade e situação conjugal. Em 2001, Gama et al (Rio
de Janeiro) 1 (SINASC 1996-1998) relatam associação positiva do baixo peso e prematuridade entre
RN da faixa de 15 a 19 anos e como fatores de risco a escolaridade, paridade e assistência pré-
natal. Em 2002, Neves Filho (Fortaleza) 24 ressalta que os índices de baixo peso e prematuridade
foram maiores entre RN de adolescentes, mostrando como fatores de risco a escolaridade e o
baixo peso materno. Em 2002, Aquino-Cunha et al. (Rio Branco-Acre) 26 verificam maior proporção
de RN de baixo peso entre as adolescentes, em relação às adultas, cujos partos ocorreram em
maternidades públicas do município.
No presente estudo, a análise dos fatores de risco para peso inadequado e
prematuridade apontou múltiplas associações com variáveis maternas, sendo que a faixa
adolescente apresentou maior risco apenas para a ocorrência de prematuridade. Entre os fatores
avaliados, destacaram-se o baixo peso da gestante e a coabitação com a família, os quais
apresentaram risco simultâneo para a prematuridade e o peso inadequado, ressaltando para a
importância do estado de nutrição e saúde da gestante no bem-estar do feto e RN, assim como a
presença do companheiro como fator de suporte psicossocial durante o período gestacional.
Os resultados desta pesquisa ratificam outras pesquisas que constataram a
interferência de múltiplos fatores no resultado gestacional, sendo as políticas públicas na área
materno-infantil e de saúde reprodutiva importante estratégia para determinação e manutenção do
estado de saúde da gestante, do feto e do recém-nascido, assim para o controle dos índices de
morbidade e mortalidade materna, neonatal e infantil.

CONCLUSÕES
As gestantes adolescentes (GI) acompanhadas mostraram maiores proporções de
solteiras e de coabitação com as famílias, assim como as adultas jovens, as maiores
proporções de casadas e de coabitação com os companheiros;
Mais de 40% das gestantes acompanhadas encontravam-se na classe de
baixo peso (IMC), no terceiro trimestre gestacional;

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Entre as gestantes acompanhadas, o peso inadequado e a prematuridade
dos RN apresentaram associações com múltiplas variáveis maternas;
As variáveis coabitação das gestantes com as famílias e baixo peso
gestacional materno no terceiro trimestre apresentaram-se como fatores de risco simultâneo
para peso inadequado e prematuridade do RN.

AGRADECIMENTO ESPECIAL
Agradecemos a colaboração da Profa. Dra. Tânia Araújo/PPGSC/UEFS pelas
valorosas sugestões no delineamento do método e resultados deste estudo.

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Recebido e aceito em 03/07/2005

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