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Os Imortais

Quem são os imortais?


São os que eternizaram-se na afirmação da vida.
O que ela é para eles?
É a multiplicidade de possibilidades - exceto uma -, a possibilidade de não
morrer.
O que é a morte?
É a disfunção orgânica, levando o corpo à sua gênesis - ao desaparecimento de
toda sua fisiologia -, é quando a carne, nervos, tendões, pele, cabelos e ossos se
tornam pó.
O que é o pó?
Sou eu - quando criança, quando jovem, quando velho, quando cadáver,
quando poeira e quando adubo - venho do pó, dele hei de retornar a minha
condição primeira - a lama.
Fisiologicamente tenho um fim esperado.
Devo reclamar da vida por tal acontecimento?

Por qual razão deveria negá-la? Seria por que há um valor negativo na morte?
Ou devido ao fato de que nela há um desaparecimento de toda sua fisiologia?
A fisiologia da morte é brutal em seu estado de metamorfose.
A metamorfose como consequência da morte é fisiológica.
Há um pressuposto afirmativo na morte - o de que ela só é possível porque há a
possibilidade de vida, e esta insiste viver - para os que a veem com alegria -, e
há um pressuposto negativo na vida - a possibilidade de morrer - para os que a
veem como um fardo por ser finita.
Esses são doentes, pois negaram à vida.
Negaram-na negando a morte.
Esses perderam a imortalidade, caídos no pó.
Construiram para si Mundos iluzionados.
Seus pés pisam o Chão do Ser, de Deus e da Verdade.
Conservaram-se no liame da metafísica.
Não compreenderam que a Verdade é uma metonímia, que Deus morreu e que
o Ser não existe.
Os imortais romperam com os fantasmas do passado.
Romperam com o absoluto.
Para eles não é mais fecundo e necessário uma gnosiologia focada em Deus, Ser,
Verdade e Espírito Absoluto.
Os imortais rupturizaram com uma tradição platônico-cristã e hegeliana.
Criaram uma filosofia para a vida.
O cristianismo não é mais a dimensão que toma o mundo.
Os imortais o reduziram.
Feuerbech reduziu o cristianismo a sensibilidade humana. Marx o reduziu a
uma sociedade invertida.
Kierkegaard o reduziu a uma queda desesperada na fé.
Schopenhauer construiu uma filosofia para vida.
Ela é dor e sofrimento.
Nietzsche vai pelo mesmo caminho.
Com uma profunda diferença.
Ele afirmou a vida colocando-se em seu lugar.
Aceitando-a!
É o amor fati.
Schleiermacher o reduziu a uma análise crítico-litetária.
Os imortais romperam com os mortais.
Sua imortalidade é a ruptura.
Sua mortalidade é sua humanidade.
Os mortais mantiveram-se na mesmidade.
Conservaram-se para não romper!
Os imortais são olímpicos.

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