Professional Documents
Culture Documents
1
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina
Objetivo:
Esta diretriz tem por finalidade proporcionar aos profissionais da saúde uma visão
geral sobre a abordagem nutricional do paciente submetido a transplante de medula
óssea, com base na evidência científica disponível. O tratamento do paciente deve
ser individualizado de acordo com suas condições clínicas e com a realidade e ex-
periência de cada profissional.
Conflito de interesse:
Nenhum conflito de interesse declarado.
Introdução
Embora o gasto energético possa diferir e de TNE no pós-TCH verificou que a primeira
entre transplante autólogo ou alogênico, existe terapia foi associada com mais dias de diurético,
consenso de que as necessidades energéticas mais hiperglicemia, mais necessidade de remo-
variam de 130 a 150% do gasto energético ção de cateter, com custo 2,3 vezes maior9(B).
basal7-9(B)10(D) ou 30 a 35 kcal/kg/dia. A Sendo assim, a TNP deve ser reservada para os
necessidade proteica deve variar de 1,4 a 1,5 g/ casos de intolerância à TNE9(B).
kg de peso11(A)12,13(B). Cerca de 50% dos pa-
cientes permanecem com alteração nutricional Ao avaliar o impacto do início precoce da
por até um ano após o TCH14(B). Entretanto, TNE em pacientes sob TCH alogênico, após
os estudos relacionados ao impacto clínico da terapia mieloablativa, quando comparada a
desnutrição nos pacientes com TCH ainda TNP, os que receberam a primeira terapia
apresentam resultados limitados. apresentaram menos doença do enxerto contra
o hospedeiro, além de menores índices de mor-
Recomendação talidade e infecção16(B).
Pacientes sob TCH apresentam risco de
desnutrição devido a quimioterapia e/ou radio- O desafio é estabelecer um acesso enteral
terapia prévias, que determinam manifestações seguro após terapia mieloablativa, em razão
digestivas indesejáveis, aumento das necessida- dos distúrbios de coagulação, risco de pneu-
des energéticas e internação prolongada. monia aspirativa, sinusite, diarreia, íleo, dor
abdominal, gastroparesia e vômito18(D). Após
2. A terapia de nutrição enteral (TNE) é recuperação dos neutrófilos e plaquetas, e das
recomendada no TCH? complicações digestivas, a TNE é segura como
transição da NP para a dieta oral, além do pe-
A TNE via sonda nasogástrica é efetiva no ríodo peritransplante, ou ainda na vigência de
provimento de nutrientes durante o TCH, tendo complicações tardias, como doença do enxerto
um papel importante15(B). contra o hospedeiro (DECH)17,18(D).
7. Qual é a melhor conduta nutricional Pacientes sob TCH alogênico após terapia
na DECH? mieloablativa, quando receberam NE, apre-
sentaram menos DECH grau II/IV quando
Poucos estudos avaliam a eficácia da terapia comparados àqueles que receberam NP16(B).
nutricional na incidência da DECH13,16,45-47(B).
Uma vez instalada a DECH, a manuten-
O impacto da NP durante a terapia de citore- ção da dieta oral como única opção de cuidado
dução foi analisado após o TCH, mostrando que nutricional torna-se um desafio, estando
o grupo que recebeu NP por período prolongado indicada muitas vezes complementação ou
de tempo apresentou, a longo prazo, melhora da substituição por TNE ou TNP, para manter
sobrevida, do tempo para recidiva, e de sobrevida ou melhorar as condições nutricionais até
sem doença, mas não apresentou diferença com resolução desta complicação18(D).
relação ao enxerto, tempo de hospitalização e
ocorrência de DECH e bacteremia47(B). Recomendação
Terapia nutricional deve ser indicada
Em outros estudos, o uso de NO não preve- para pacientes submetidos a TCH que de-
niu a DECH46(B); a incidência de DECH foi senvolvem a DECH de moderada a grave,
menor naqueles que ingeriram maior quantidade quando apresentam baixa ingestão oral e/ou
de proteína45(B). malabsorção.
et al. Clinical and metabolic effects of 20. Smith LH, Besser SG. Dietary restrictions
different parenteral nutrition regimens for patients with neutropenia: a survey of
in patients undergoing allogeneic bone institutional practices. Oncol Nurs Forum
marrow transplantation. Transplantation 2000;27:515-20.
1998;66:610-6.
21. Levine AS, Siegel SE, Schreiber AD,
14. Iestra JA, Fibbe WE, Zwinderman AH, Hauser J, Preisler H, Goldstein IM,
van Staveren WA, Kromhout D. Body et al. Protected environments and
weight recovery, eating difficulties and prophylactic antibiotics. A prospective
compliance with dietary advice in the first controlled study of their utility in the
year after stem cell transplantation: a pros- therapy of acute leukemia. N Engl J
pective study. Bone Marrow Transplant Med 1973;288:477-83.
2002;29:417-24.
22. Dietrich M, Gaus W, Vossen J, van der
15. Hastings Y, White M, Yuang J. Enteral Waaij D, Wendt F. Protective isolation and
nutrition and bone marrow transplan-
antimicrobial decontamination in patients
tation. J Pediatric Oncology Nursing
with high susceptibility to infection. A
2006;23:103-10.
prospective cooperative study of gnotobiotic
care in acute leukemia patients. I: clinical
16. Seguy D, Berthon C, Micol JB, Darre S,
results. Infection 1977;5:107-14.
Dalle JH, Neuville S, et al. Enteral feeding
and early outcomes of patients undergoing
23. Moody K, Finlay J, Mancuso C, Charl-
allogeneic stem cell transplantation follo-
wing myeloablative conditioning. Trans- son M. Feasibility and safety of a pilot
plantation 2006;82:835-9. randomized trial of infection rate: neu-
tropenic diet versus standard food safety
17. Sefcick A, Anderton D, Byrne JL, Teahon guidelines. J Pediatr Hematol Oncol
K, Russell NH. Naso-jejunal feeding in 2006;28:126-33.
allogeneic bone marrow transplant reci-
pients: results of a pilot study. Bone Marrow 24. Gardner A, Mattiuzzi G, Faderl S, Bor-
Transplant 2001;28:1135-9. thakur G, Garcia-Manero G, Pierce S, et
al. Randomized comparison of cooked and
18. Lenssen P, Bruemmer B, Aker SN, McDo- noncooked diets in patients undergoing re-
nald GB. Nutrient support in hematopoie- mission induction therapy for acute myeloid
tic cell transplantation. JPEN J Parenter leukemia. J Clin Oncol 2008;26:5684-8.
Enteral Nutr 2001;25:219-28.
25. Murray SM, Pindoria S. Nutrition
19. Moody K, Charlson ME, Finlay J. The support for bone marrow transplant
neutropenic diet: what’s the evidence? J patients. Cochrane Database Syst Rev
Pediatr Hematol Oncol 2002;24:717-21. 2009(1):CD002920.
40. Ziegler TR, Young LS, Benfell K, Schel- 45. Cheney CL, Weiss NS, Fisher LD, Sanders
tinga M, Hortos K, Bye R, et al. Clinical JE, Davis S, Worthington-Roberts B. Oral
and metabolic efficacy of glutamine-sup- protein intake and the risk of acute graft-
plemented parenteral nutrition after bone versus-host disease after allogeneic marrow
marrow transplantation. A randomized, transplantation. Bone Marrow Transplant
double-blind, controlled study. Ann Intern 1991;8:203-10.
Med 1992;116:821-8.
46. Lough M, Watkins R, Campbell M, Carr K,
41. Piccirillo N, De Matteis S, Laurenti L, Burnett A, Shenkin A. Parenteral nutrition
Chiusolo P, Sora F, Pittiruti M, et al. in bone marrow transplantation. Clin Nutr
Glutamine-enriched parenteral nutrition 1990;9:97-101.
after autologous peripheral blood stem cell
transplantation: effects on immune re- 47. Weisdorf SA, Lysne J, Wind D, Haake
constitution and mucositis. Haematologica RJ, Sharp HL, Goldman A, et al. Posi-
2003;88:192-200. tive effect of prophylactic total parenteral
nutrition on long-term outcome of bone
42. Young LS, Bye R, Scheltinga M, Ziegler marrow transplantation. Transplantation
TR, Jacobs DO, Wilmore DW. Patients 1987;43:833-8.