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Diáspora africana
Conferência internacional no Rio reúne negros que discutirão sua cultura e desafios
AP/11-04-2001
Rachel Bertol classe social nos EUA. Mesma convergência
que há em outros lugares, como o Brasil, daí a
swad significa negro em árabe. obrigação, afirma Harris, que virá ao Rio, de
A
É também o nome de uma ban- um congresso como este propor soluções.
da inglesa de reggae criada nos O coordenador geral dessa III Conferência In-
anos 70 e, ultimamente, a pala- ternacional da Diáspora Africana, o antropólo-
vra tem se tornado conhecida go Julio César de Tavares, professor da Univer-
como a sigla em inglês da As- sidade Federal Fluminense, destaca que ne-
sociação para o Estudo da nhum tipo de conhecimento se fortalece sem
Diáspora Africana no Mundo, “a radicalidade da experiência”. E a própria
criada há cinco anos em Nova York. A partir idéia de diáspora, inspirada na tradição judai-
da próxima quarta-feira, a Aswad realiza no ca, ainda não seria suficientemente difundida,
Rio, no Hotel Sofitel, até sexta-feira, seu tercei- notadamente entre pesquisadores brasileiros
ro encontro internacional, depois dos con- — embora o Brasil tenha a segunda maior po-
gressos de Nova York (2001) e Chicago (2003). pulação de negros no mundo (cerca de 80 mi-
Serão apresentados 330 trabalhos, cerca de lhões), depois da Nigéria (120 milhões).
70% produzidos em universidades america- — O evento permite essa experiência, cria
nas, boa parte por pesquisadores negros. É um espaço alternativo de reflexão. É uma arena
uma espécie de Fórum Social da Diáspora, política que se fortalece — diz Tavares, que fez
com perfil marcadamente acadêmico: a partir circular no meio acadêmico, entre janeiro e
de discussões sobre temas variados — das ar- maio, um chamado para participação no con-
tes visuais à Aids, da literatura à economia, do gresso (só Joseph E. Harris foi oficialmente con-
hip hop à religião etc — não se descarta a pro- vidado). — A pesada presença americana se
posição de idéias para a melhora das condi- deve à tradição na temática, afinal são mais de
ções de vida de negros em todo o mundo. cem anos de produção intelectual sobre o te-
Como lembra o americano Joseph E. Harris, ma. No fim do século XIX já havia teses de dou-
pesquisador que em 1990 publicou o ainda torado sobre a presença africana fora da África
pouco conhecido no Brasil mapa da diáspora e as relações raciais, escritas por negros ame-
— com o qual, pela primeira vez, visualizaram- ricanos. Aqui entre nós, são poucos os que se
se os caminhos da dispersão africana no trá- interessam pelo assunto: por quê? Bem, você
fico de escravos — a tragédia em Nova Or- sabe que a produção de conhecimento tem re-
leans, devastada pelo Katrina, mostrou mais lação com duas coisas no mundo das institui-
uma vez a profunda convergência entre etnia e PROTESTO EM Cincinnati, nos EUA, contra policiais que haviam matado um adolescente negro ções: dinheiro e poder. Continua na página 2