You are on page 1of 106

Junguiana

Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA)


Member of the International Association for Analytical Psychology (IAAP)
Junguiana
REVISTA LATINO-AMERICANA DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ANALÍTICA
Volume 36-2/2018

Editoral A revista Junguiana tem por objetivo publicar trabalhos originais que
Vera Lúcia Viveiros Sá – editora-geral contribuam para o conhecimento da psicologia analítica e ciências
Fani Goldenstein Kaufman – editora assistente afins. Publica artigos de revisão, ensaios, relatos de pesquisas, comu-
Victor Roberto da Cruz Palomo- editor assistente nicações, entrevistas, resenhas. Os interessados em colaborar devem
seguir as normas de publicação especificadas no final da revista.
Conselho Editorial A Junguiana também está aberta a comentários sobre algum
Augusto Capelo artigo publicado, bastando para isso enviar o texto para o e-mail
Ana Celia Rodrigues de Souza.
artigojunguiana@sbpa.org.br.
Fani Goldenstein Kaufman
Marfiza Reis
Maria Zelia de Alvarenga
Vera Lucia Viveiros Sá SOCIEDADE BRASILEIRA
Victor Roberto da Cruz Palomo DE PSICOLOGIA ANALÍTICA
Zara Oliveira Freitas Magalhães Lyrio

Conselho Editorial Internacional SBPA-São Paulo


Axel Capriles – Sociedad Venezolana de Presidente André Luiz Saraiva Pinheiro
Analistas Junguianos Diretor Administrativo/Financeiro Luis Fernando Nieri de Toledo Soares
Jacqueline Gerson – Asociación Mexicana Diretora do Instituto de Formação Jane Eyre Sader de Siqueira
de Analistas Junguianos Diretora de Cursos e Eventos Ana Maria Cordeiro
Juan Carlos Alonso – Asociación para el Desarrollo Diretora da Biblioteca Dora Eli Martin Freitas
de la Psicología Analítica en Colombia – Adepac Diretora da Clinica Vera Lucia Colson Valente
Luis Sanz – Asociación Venezolana de Psicología
Diretora de Comunicação/Divulgação Luciana Bagatella
Analítica
Mariana Arancibia – Grupo de Estudios C. G. Jung São Paulo
de Chile Rua Dr. Flaquer, 63 – Paraíso – 04006-010
Mario E. Saiz – Sociedad Uruguaya de Psicología Telefax: (11) 5575-7296
Analítica E-mail: sbpa@sbpa.org.br
Nestor Costa – Asociación de Formación e Home page: www.sbpa.org.br
Investigación en Psicología Analítica
Patricia Michan – Asociación Mexicana de Analistas
Junguianos SBPA-Rio de Janeiro
Vladimir Serrano Pérez – Fundación C. G. Jung Presidente: Maddi Damião Júnior
del Ecuador Administração e Secretaria: Marcelo Fiorillo Bogado
Publicação e Biblioteca: Alexandre Alves Domingues
Consultores científicos Cursos e Eventos: Cynthia Pereira Lira
Christina Hajaj Gonzales – Universidade Federal de Finanças e Tesouraria : Carla Maria Portella Dias Bezerra 
São Paulo, SP Cursos e Eventos; Ensino: Elizabeth Christina Cotta Mello
João Frayze-Pereira – Universidade de São Paulo, SP Tel.: (21) 2235-7294
Mariluce Moura – revista Pesquisa Fapesp, SP E-mail: sbparj@bighost.com.br
Marisa Müller – Pontifícia Universidade Católica, RS Home page: www.sbpa-rj.org.br
Paulo Vaz de Arruda – Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, SP
Indexação
Capa: Ana Gabriela Barth Index Psi Periódicos: www.bvs-psi.org.br
São Paulo, 2018 Base de dados Lilacs/Bireme – Literatura Latino-
Junguiana -Americana e do Caribe da Saúde, da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização
Mundial da Saúde (OMS). www.bireme.br
PePSIC http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?lng=pt

Editora CABOVERDE

Junguiana: Revista da Sociedade Brasileira


de Psicologia Analítica – n.1 (1983)
São Paulo: Sociedade, 1983 -
Semestral
ISSN 2595-12971
1.Psicologia – periódicos
CDD 150

2 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.3-3

Editorial

Além dos 40 anos da SBPA e do registro no International


Standard Serial Number, a Junguiana também comemora ter
obtido a classificação B2 na métrica do Qualis; reconheci-
mento da sua importância na área da psicologia para o pú-
blico nacional.
Atendendo a pedidos, a partir desta edição, o conselho
editorial alterou suas normas, passando a fornecer devolu-
tiva dos textos recusados, esperando, desta forma, produzir
maior diálogo com os autores.
O volume 36/2 inicia-se com o artigo “As sete dinâmicas
de consciência, a hominização, a inteligência espiritual e o
processo de individuação”, que propõe a existência de três
novas dinâmicas de consciência, além das quatro atualmente
descritas pela Psicologia Analítica. Em “O erro na Psicologia
Analítica: sombra ou luz?”, a autora discute em que medida
a busca do certo, do modelo ideal, pode impedir o desenvol-
vimento do movimento intrapsíquico. “Estudo sobre sonhos
de pacientes da oncologia pediátrica" coletou sonhos de crian-
ças, entre 10 e 12 anos a fim de relacionar os elementos e/ou temáticas comuns aos sonhos de crianças nessa
tão delicada condição. “A pele que somos e a pele que sentimos” aborda os papéis da pele, do tato e do toque
no desenvolvimento e na estruturação da consciência e do que denomina “pele simbólica” ou “pele psíqui-
ca”. Finalizamos com duas resenhas: “O banquete da psique” e “Morte e luto – a Psiquiatria sem drogas e as
enfermidades míticas no cinema”.
Acreditando na importância da participação da produção brasileira, em Psicologia Analítica, na comuni-
dade internacional, a Junguiana volta a ser publicada em português e mais uma língua, que pode ser inglês
ou espanhol.

Boa Leitura!
Editores
30 de novembro de 2018

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 3


Junguiana
v.36-2, p.4-4

Editorial

In addition to the 40 years of the SBPA and the registration


in the International Standard Serial Number, Junguiana also
celebrates having obtained B2 classification in Qualis metric;
recognition of its importance in the field of psychology for the
national public.
In response to requests, as of this edition, the editorial bo-
ard changed its norms, returning to provide the rejected texts,
hoping in this way to produce greater dialogue with the authors.
Volume 36/2 begins with the article “The seven dynami-
cs of consciousness, hominization, spiritual intelligence and
the process of individuation” which proposes the existence of
three new dynamics of consciousness, in addition to the four
currently described by Analytic Psychology. In “The error in
Analytical Psychology: shadow or light?” the author discusses
to what extent the pursuit of the right, of the ideal model, can
impede the development of the intrapsychic movement. “Dre-
ams study of pediatric oncology patients” collected dreams
of children aged 10 to 12 years in order to relate the common
elements and/or themes to the dreams of children in this delicate condition. “The skin we are and the skin we
feel” addresses the roles of skin, touch and touch in the development and structuring of consciousness and
what it calls “symbolic skin” or “psychic skin.” We conclude with two reviews: “The banquet of the psyche”
and “Death and mourning – Psychiatry without drugs and mythical illnesses in the cinema.”
Believing in the importance of the participation of Brazilian production, in Analytical Psychology, in the
international community, Junguiana is again published in Portuguese and one more language, which may be
English or Spanish.

Good reading!
Editores
30 de novembro de 2018

4 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Sumário
Contents

7 As sete dinâmicas de consciência,


Las siete dinámicas de la conciencia,
a hominização, a inteligência
la hominización, la inteligencia espiritual espiritual e o processo
y el proceso de individuación de individuação
Maria Zelia de Alvarenga

23 Las siete dinámicas de la


As sete dinâmicas de consciência, conciencia, la hominización,
a hominização, a inteligência espiritual e la inteligencia espiritual y el proceso
o processo de individuação
de individuación
Maria Zelia de Alvarenga

39 O erro na psicologia analítica:


Error in analytical psychology:
shadow or light?
sombra ou luz?
Aurea Afonso M. Caetano

47 Error in analytical psychology:


O erro na psicologia analítica: shadow or light?
sombra ou luz? Áurea Afonso Caetano

55 Estudo sobre sonhos de pacientes da


Study on pediatric oncology oncologia pediátrica
patients’ dreams Gabriela Perna de Mendonça e Ivelise Fortim

67 Study on pediatric oncology


Estudo sobre sonhos de pacientes da patients’ dreams
oncologia pediátrica
Gabriela Perna de Mendonça e Ivelise Fortim

77 A pele que somos e a pele que


The skin we are, the skin we feel sentimos Pele – símbolo – consciência
Skin – symbol – consciousness
Iara Galiás Yoshinaga e Iraci Galiás
89 The skin we are, the skin we feel
A pele que somos e a pele que senti- Skin – symbol – consciousness
mos Pele – símbolo – consciência Iara Galiás Yoshinaga e Iraci Galiás

99 Resenha
Review
“O Banquete de Psique” O Banquete de Psique
Victor Palomo

101 Resenha
Review
“Morte e Luto – A Psiquiatria sem Drogas Morte e Luto – A Psiquiatria sem
e as Enfermidades Míticas no Cinema” Drogas e as Enfermidades Míticas
no Cinema
Sylvia Mello Silva Baptista

103 Normas
Guidelines for publishing
Junguiana
v.36-2, p.7-22

As sete dinâmicas de consciência,


a hominização, a inteligência espiritual e o
processo de individuação

Maria Zelia de Alvarenga*

Resumo Palavras-chave
Este artigo propõe a existência de sete regentes da personalidade humana, a par de inteligência
dinâmicas de consciência, e não somente as tecer comentários sobre aspectos da sétima espiritual,
quatro atualmente descritas pela Psicologia dinâmica que passo a nominar como da Com- processo de
hominização,
Analítica. A par da proposição de sete dinâmicas, preensão Universal. As dinâmicas elencadas
sete dinâmicas
teço comentários sobre a inteligência espiritual são: da Origem ou Urobórica, sob a regência de consciência,
e sobre o processo de hominização, dados ess- do arquétipo da Natureza Divina; do Feminino processo de
es que concorreram para a proposição das sete ou da Grande Mãe, sob a regência do arquétipo individuação.
dinâmicas de Consciência. Alguns dados aqui da Deusa Mãe; do Masculino ou do Pai, sob a
presentes foram apresentados no VIII Congresso regência do arquétipo do Deus Pai; do Encon-
Latino Americano de Psicologia Analítica – julho tro, sob a regência do arquétipo da Coniunctio;
de 2018, em Bogotá-Colômbia sob o nome de da Comunicação, sob a regência do arquétipo
"As sete Dinâmicas de Consciência". O texto at- do Verbo encarnado; da Vidência ou Antevisão
ual foi acrescido de descrições pormenorizadas do Futuro, sob a regência do arquétipo da Profe-
das novas dinâmicas propostas como compo- cia; da Compreensão Universal, sob a regência
nentes do elenco de dinâmicas de consciência do arquétipo da Totalidade. ■

* Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), 49a turma. Psiquiatra pela ABP (registro no CRM-
SP 12766). Analista Junguiana pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), afiliada à International Association for
Analytical Psychology (IAAP). E-mail: <mza@boitata.org>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 7


Junguiana
v.36-2, p.7-22

As sete dinâmicas de consciência, a hominização, a inteligência espiritual e


o processo de individuação

A alma há de ser atrevida para consciência para atingir o Ômega encontra-se


poder gerar crescimento em andamento.
(Rabino Nilton Bonder, A Alma Imoral). É de Chardin a proposição de que a emergên-
cia da consciência se faz presente desde o reino
mineral, seguida pelo vegetal e pelo animal, evo-
1. A Inteligência Espiritual luindo como consciência reflexiva somente nas
A Inteligência Espiritual é um conceito recen- criaturas humanas. Em sua afirmação, a consci-
te, divulgado pelos trabalhos de Zohar e Mar- ência caminha do Alfa para o Ômega.
shal (2016), bem como de Wigglesworth (2012), Neste texto, proponho que a emergência
e descrito por Zohar e Marshal (2016, p.19) da Inteligência Espiritual, a par de alavancar o
"como uma capacidade de bem escolher (e que) processo de individuação, enseja a consciência
presenteia-nos com um senso moral, uma capa- de que o caminhar para a sua consecução se
cidade de amenizar normas rígidas com com- torna a maior demanda da Vida. Tornarmo-nos
preensão e compaixão". Essa competência ex- humanos implica autoconhecimento, meta do
plicita-se pela disponibilidade de, por opção, processo de individuação que se concretiza
assumir a responsabilidade e resolver conflitos pela coniunctio de si com o si mesmo ou do Eu
cujas demandas não têm um caráter pessoal, com o Self.
mas dizem respeito ao coletivo. A Inteligência Espiritual, ao se expressar
No passado, a inteligência espiritual este- numa intensidade maior, como acontece nesses
ve expressa por grandes avatares como: Buda, últimos tempos, concorre para que os humanos
Jesus Cristo, Francisco de Assis, Teresa D´Ávila tomem consciência da importância profunda da
e tantos outros. Nestes últimos tempos, essa demanda pela liberdade de ser, de fazer, de pen-
competência vem sendo veiculada e exercida sar, de querer e, por escolha, assumir a opção de
por grandes líderes como Gandhi, Martin Luther caminhar para o Self. Quando realmente os seres
King, Madre Teresa de Calcutá, Chico Xavier etc., se tornam humanos, cada um de per si quer ser a
ressoando sincronicamente e de forma sintônica solução dos problemas familiares, sociais e/ou
em milhares de pessoas! da Humanidade.
O acontecer inteligência espiritual, em sen- A inteligência espiritual nos capacita para,
do decorrência de fenômenos interacionais por opção, nos ocuparmos do outro e da so-
de campos morfogenéticos (Sheldrake, 2016) lução de problemas e conflitos do coletivo,
ou de intercomunicações, interdependências pois nos sabemos e nos sentimos partícipes e
e interações resultantes do universo coleti- componentes da comunidade. Zohar e Marshal
vo (McTaggart, 2004), transforma as pessoas (2016, p. 33) descreve a fala de um jovem em-
em seres carismáticos e traduz a maravilhosa presário sueco e sua fantástica declaração de
realidade de que todos nós que compomos a querer ser a solução dos problemas com os
humanidade, estamos realmente nos tornan- quais se depara. Sirvo-me desta informação
do humanos, a par de constatarmos, como para traduzi-la como:
predisse Chardin (1995) em "O Fenômeno Hu- "Quando nos tornamos humanos queremos
mano", que o processo de evolução de nossa ser a solução e fazer a mudança!".

8 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

2. As Sete Dinâmicas de Consciência Kainos anthropos é uma expressão grega, e a


Quando me dei conta do fenômeno "inteli- palavra kainos é usada para designar um "novo
gência espiritual" e da importância de ele explici- na qualidade", isto é, algo que tem uma natureza
tar-se com tanta clareza, neste momento da Ter- diferente. No Novo Testamento, kainos anthro-
ra, fui levada a repensar constatações havidas pos, o “novo homem”, descreve a “nova humani-
enquanto escrevia meu último livro: “Anima/Ani- dade” criada em Cristo, da qual participam todos
mus de Todos os Tempos” (ALVARENGA, 2017), os crentes, tanto individual como coletivamente
para o qual contei com a colaboração de muitos (Holman Treasury of Key Bible Words, de Eugene
analistas junguianos, meus amigos. Na época, E. Carpenter e Philip W. Comfort).
deparei-me fascinada com a descoberta do tex- Ao nos tornarmos Unos com o Self, nos fare-
mos plenamente humanos, compreendendo o
to de D´Ávila, “As Moradas do Castelo Interior
grande paradoxo de que “liberdade implica es-
(1981), escrito em 1577, como guia para o de-
colher Deus". Este enigma foi a mim proposto por
senvolvimento espiritual através do serviço e da
uma doutora em Filosofia e Teologia, em aulas
oração, e somente publicado em 1588, após sua
de religião, quando dos meus primeiros tempos
morte. Constatei que o texto confirmava minhas
na Faculdade de Medicina. Esse paradoxo cus-
proposições de que o processo de individuação
tou-me anos de reflexão, análise, dúvidas até
traduz a busca e o encontro do autoconhecimen-
constatar que essa realidade somente poderia
to. D´Ávila afirma que a coniunctio com Deus,
ser compreendida pelo Self e nunca pelo Ego
realizada após percorrer seu longo caminho pe-
(ALVARENGA, 2016).
las sete moradas do Castelo Interior, redundou
D´Ávila precisou sofrer e elaborar suas tan-
em autoconhecimento.
tas tentações e desafios vividos, quando de
Constato que a condição do autoconhecer, sua passagem pelos sete níveis ou moradas do
a par de conferir aos que o conseguem a inteire- Castelo. Ocorreu-me então, que as Dinâmicas de
za da hominização, concorre para a consciência Consciência, até agora propostas pela Psicologia
de que, quanto mais humanos nos tornamos, Analítica eram insuficientes para traduzir o pro-
mais experimentamos a presença de criaturas cesso vivido e sofrido por Teresa D´Ávila, tanto
dissociadas de nós mesmos; essas criaturas, como pelas demais criaturas que o buscassem.
nossas sombras, as mais sombrias, permane- Desde então reflito sobre este fato e conclui
cem habitantes em nossa psique, dificultando que sete são as Dinâmicas de Consciência ne-
mais e mais o processo de individuação! cessárias para alcançarmos a coniunctio com o
A busca da coniunctio simbólica com Deus, Self e constatarmos que realmente o processo
fala de D´Ávila, ou o caminhar para o Self de individuação se realiza.
(demanda maior do processo de individuação, Proponho que as sete Dinâmicas de Consci-
proposto por Jung em toda sua obra), configura, ência estejam correlacionadas aos sete Chakras.
no meu entender, a instauração de uma dinâ- As Sete Dinâmicas da Consciência são:
mica de consciência eminentemente de caráter 1. da Origem ou Urobórica, sob a regência do
de Totalidade. O conseguimento, traduzido por arquétipo da Natureza Divina;
essa coniunctio, torna a criatura Una com o Self. 2. do Feminino ou da Grande Mãe, sob a re-
Quando essa realidade se fizer, não haverá gência do arquétipo da Deusa Mãe;
mais Eu-Outro, mas, sim, o Kainos Anthropos,
ou seja, o filho do tempo novo, expressão que 3. do Masculino ou do Pai, sob a regência do
arquétipo do Deus Pai;
introduzo para representar a plenitude da homini-
zação, realidade estruturada em nós quando atin- 4. do Encontro, sob a regência do arquétipo
girmos a coniunctio com Deus e/ou com o Self. da Coniunctio;

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 9


Junguiana
v.36-2, p.7-22

5. da Comunicação, sob a regência do arqué- mento do nascimento, período de amadureci-


tipo do Verbo encarnado; mento, ao longo do qual os órgãos, já formados
na etapa anterior, acabam por adquirir sua es-
6. da Vidência ou Antevisão do Futuro, sob a
trutura definitiva. Os órgãos, alcançando plena
regência do arquétipo da Profecia;
atividade, concorrem para que fatores essen-
7. da Compreensão Universal, sob a regência ciais possibilitadores de uma vida independen-
do arquétipo da Totalidade. te, fora do organismo materno, se completem.
Ao longo desta fase, o produto da fertilização é
3. Descrição das sete dinâmicas de chamado feto (MOORE, 2016).
consciência A dinâmica Urobórica, pertinente ao período
3a. A primeira Dinâmica, da Origem ou Urobó- intrauterino, durante o qual o milagre da vida
rica, vivida e atualizada nos tempos de vida in- acontece, reflete uma complexidade sublime
trauterina, está correlacionada ao chakra básico da natureza, expressa por metamorfoses es-
(Muladdhara), condizente com os primeiros tem- petaculares, sob a regência de competências
pos de vida da criatura que se forja, na condição inerentes à célula primordial, fonte de possibi-
intrauterina, logo após a concepção. lidades não inteligíveis, mas profundamente in-
O óvulo fertilizado torna-se ovo ou zigoto, teligente, direcionada para um propósito único:
e o fenômeno ocorre na parede da trompa de fazer a Vida acontecer!
Falópio para, a seguir, descer para o interior E, este embrião forja em poucas semanas,
do útero, fixando-se em sua parede mucosa, nunca mais que dez, todos os órgãos, pele,
processo esse denominado nidificação ou ni- músculos, nervos, cérebro, estrutura óssea, de-
dação. No zigoto, transformações espetacula- senvolve os sentidos e competências para ou-
res são desencadeadas pois, ao fim de poucos vir, enxergar, saborear, experimentar a tempe-
dias, emergem vários mecanismos previamen- ratura, sentir emoções, movimentar-se e depois
te codificados em sua constituição genética. sonhar, pensar e "saber". A dinâmica Urobóri-
E, em função da demanda que se estabelece, ca, expressão ímpar do Self, prepara o ser em
por processos desconhecidos, a aglomeração gestação para tornar-se, no futuro, consciente
celular, denominada mórula, decorrente das se si mesmo e de sua relação com os demais,
divisões do próprio zigoto, em sua fase de seg- fazendo-se humano.
mentação, irá diferenciar-se em várias estrutu- A Uroboros, em sendo uma referência à cria-
ras que constituirão o futuro embrião e, deste ção do Universo, representa um tempo em que o
mesmo grupamento celular, irão surgir a bolsa embrião estrutura todas as suas competências,
amniótica e a placenta, órgãos responsáveis como também estrutura sua primeira dinâmica
pela oxigenação, nutrição e proteção do futuro de consciência. Esta dinâmica de consciência, de
embrião-feto. A primeira fase do desenvolvi- início, confere ao embrião a condição dele "sentir-
mento, denominada segmentação, correspon- -se" como entidade Una com o Self, mas sem ain-
de ao período imediato à fertilização e nidifica- da "saber-se", em sua condição reflexiva, como
ção da blástula na mucosa uterina. A segunda criatura ímpar. A consciência Urobórica estrutu-
fase, chamada embrionária, ocorre entre a ra-se, pois incorpora-se de atributos decorrentes
segunda semana pós fecundação até a nona das transformações embrionárias que forjam dis-
semana, período ao longo do qual todos os positivos mnemônicos, com o que o feto passa a
órgãos do corpo serão formados. Durante esta saber-se como criatura que experimenta sons, lu-
fase, o novo ser é chamado embrião. A tercei- minosidades, sente. Estes dispositivos mnemôni-
ra fase, a mais prolongada, denominada fase cos darão competência, ao futuro nascituro, para
fetal, compreende o tempo que resta até o mo- reconhecer a frequência cardíaca da mãe quando

10 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

colocado sobre o tórax dela; reconhecer o timbre Todo o desenvolvimento do ser humano e
da voz da mãe e chorar com o mesmo repertório de suas dinâmicas de consciência implicam
musical da voz materna de tal maneira que a mãe a reflexão do quanto cada um de nós precisa
possa reconhecer e saber quando o choro é de do outro para ser, sem o que a Vida não se faz.
fome ou de dor ou de outro desconforto. O ser em gestação "sabe-se" acolhido sem o
Assim, a dinâmica Urobórica, inerência dessa que nunca desenvolveria competência para
sabedoria intrínseca da natureza do ovo primor- acolher o outro em si mesmo, meta do processo
dial – zigoto, forja-se como fator determinante de individuação.
e fundante de todas as demais dinâmicas de A Dinâmica Urobórica pede que o acolhimen-
consciência que se apresentarão a posteriori. to aconteça para que o corpo gestante aceite o
A dinâmica de consciência Urobórica é a matriz diferente em si, constatando ser ele, corpo ges-
das demais dinâmicas. Ela e o corpo que a gesta, tante, o receptáculo da sacralidade da existên-
simplesmente, são Um Só com o Self. A Dinâmica cia. Quando o corpo gestante não acolhe o ges-
Urobórica rege a forja da totalidade corpo, tanto tado, concorre para o rompimento da unidade
físico quanto mental/emocional. original, com o que não haverá possibilidade de
O desenvolvimento do cérebro, conforme pes- manutenção do processo que compõe a Vida do
quisas recentes (Araujo, 2018), prepara o futuro novo ser em gestação.
nascituro com competência para fazer vínculo, A dinâmica Urobórica certamente se faz sob
ou apego, com a mãe ou substituta, sem o que a a regência de uma condição arquetípica, que
sobrevivência não aconteceria. O ovo primordial proponho seja creditada ao arquétipo da Natu-
sai da condição concreta e simbólica do Khaos reza divina, realidade primordial portadora de
grego (fonte de todas as possibilidades) para es- todas as competências, frutificadoras da Vida
truturar-se como um vir a ser humano. Ao assim e da Morte.
se fazer, integra em sua natureza a condição de:
A primeira dinâmica se traduz e se ocupa com
para tornar-se humano é fundamental ter o outro
a origem e a manutenção da Vida!
e, para tanto, é necessário fazer vínculo. A Dinâ-
mica Urobórica retrata a condição do contido e do 3b. A segunda dinâmica, que passo a de-
continente serem Unos e sua dependência com o nominar como do Feminino ou da Deusa Mãe,
outro, corpo gestante, é total, sem o que a Vida amplamente estudada pela Psicologia Ana-
não se consuma. O ser nasce porque alguém o lítica sob a denominação de Matriarcal, está
gestou, suportou, fez a Vida acontecer. correlacionada ao chakra da sexualidade
Kohler, analista junguiano, salienta a impor- (Svãdhistãna). A dinâmica do Feminino, sob a
tância crítica do desenvolvimento pré-natal para regência da Deusa Mãe, retrata a instauração
a estruturação e funcionamento do cérebro e da do encontro eu-outro, sem consciência reflexi-
personalidade. Esse autor acredita que a cons- va de quem é o Eu e de quem é o Outro, com
telação dos arquétipos e o desenvolvimento a finalidade precípua de manutenção da es-
dos complexos já ocorrem no embrião e no feto, pécie; a descoberta dos prazeres decorrentes
e busca descrever o impacto do relacionamen- da sexualidade, a par do estabelecimento dos
to entre o embrião e o feto e a mãe e o mundo cuidados com o concepto são inerências des-
onde ela está inserida. Baseou suas considera- sa dinâmica. A medida que os vários outros se
ções nas pesquisas neurobiológicas de Huther diversificam o Eu se estrutura, a relação deixa
e Krens a respeito dos mistérios dos primeiros de ser de exclusividade, mas sempre na in-
nove meses de vida, a respeito das nossas pre- terdependência de um Outro. Na dinâmica da
coces influências formativas (ARAUJO, 2018). Deusa Mãe, a Vida é sempre soberana.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 11


Junguiana
v.36-2, p.7-22

A segunda dinâmica traduz e se ocupa com compreendendo todos e sendo por todos ouvido
manutenção da espécie! e compreendido, talvez de forma independente
do idioma de expressão, uma vez que o enten-
3c. A terceira Dinâmica, denominada do
dimento e a compreensão se farão muito mais
Masculino ou do Deus Pai, previamente deno-
pela sintonia vibratória e harmônica entre os
minada como Patriarcal, também já amplamen-
seres. Não será significativo o que se fala, mas
te estudada pela Psicologia Analítica, está cor-
sim o que se comunica pela vibração dos sons
relacionada ao terceiro chakra, o umbilical ou
emitidos e recebidos. A palavra, ou qualquer ou-
solar (Manipuraka), e representa a expressão
tro tipo de comunicação passam a ter a compe-
dos tempos de conquista de território e da sub-
tência da cura.
missão dos conquistados. Nessa dinâmica a dis-
A Comunicação, quando exercida de forma
criminação entre o Eu e o Outro se estabelece e
criativa, pedirá fundamentalmente Congruência
os princípios alicerçantes, que regem a relação,
entre o que se fala e o que se faz, bem como
compõem o Código, com discriminação do que
Complacência para com o outro que ainda não
pode e do que não pode. A relação se faz assimé-
atingiu esse patamar de comunicação/com-
trica e o exercício do poder se estabelece entre
preensão. Quando exercida em sua plenitude
os partícipes, quando então a Ordem é estabele-
maior, não só corresponderá à compreensão do
cida. Na terceira dinâmica os cânones do Estado
comunicado, mas também a voz do emitente
de Direito são estabelecidos e a Vida torna-se
terá competência para vibrar em sintonia com o
soberana somente dentro da tribo ou do clã.
Outro, criando ressonâncias de apaziguamento.
A terceira dinâmica traduz e se ocupa da im- O dom da fala, atributo da dinâmica da Co-
plantação do Código! municação, confere ao ser humano um poder
assustador, um poder de convencimento, de ar-
3d. A quarta Dinâmica traduz o Encontro en- rebatar plateias, de despertar no coletivo o sen-
tre as pessoas e implica o estabelecimento de so da justiça, a demanda pelo empoderamento,
uma relação de paridade entre o Eu e o Outro, a convicção da responsabilidade de querer ser
segundo o referencial anímico ou fraterno, e do a solução e fazer as mudanças necessárias para
reconhecimento das diferenças entre os pares, o coletivo.
bem como dos mesmos direitos prevalentes para O dom da Palavra é uma dádiva quando exer-
todos. Está correlacionada ao quarto chakra, cida com discriminação de propósitos que vi-
o cardíaco (Anãhata), (previamente descrita por sem o bem-estar geral, se for proferida sobre os
Byington (1983) como de Alteridade e por mim alicerces da ética e usada para acordar o herói
mesma como Dinâmica do Coração (ALVARENGA, adormecido. A Palavra promove mudanças que
2000). Na quarta dinâmica instaura-se plena- a guerra não conquista, alcança profundezas
mente o processo reflexivo de consciência, com nos escaninhos da psique que nem a ameaça da
a discriminação do um e do outro como seres morte abala, propõe desafios amedrontadores
diferentes e com direitos inalienáveis. A Vida é que a alma aceita com tranquilidade.
soberana dentro da tribo como fora dela. No sentido simbólico, o dom da Palavra está
explicitado, por exemplo, nos relatos de "As mil e
A quarta dinâmica traduz e se ocupa da con-
uma Noites", em função da atitude de Sherazade
sumação da paridade!
para com o Sultão, bem como da arte maior da
3e. A quinta dinâmica é correlacionada ao heroína em contar histórias (CORDEIRO, 2017).
quinto chakra, laríngeo (Visuddha), chamei da A palavra é um dom que pode promover
Comunicação ou do Verbo, e é por meio dela que ações construtivas como pode demover espe-
nos tornaremos competentes para falar e ouvir, ranças de transformação. A palavra acolhe como

12 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

destrói, apascenta como instiga a fúria; envolve, A dinâmica da Comunicação quando exerci-
enquanto continente, como invade como se fora da segundo o contexto acima descrito, configura
um estupro, assustadoramente violento, cau- comportamento criminoso, ofensivo e injuriante
sando feridas incuráveis, ofendendo a dignida- para com o coletivo. O uso abusivo da Palavra
de, mobilizando a vergonha. perverte a relação e torna o encontro entre as
O dom da fala tem seu caminho mais espi- pessoas corrompido. O uso pervertido da dinâ-
nhoso quando se ocupa em dizer o que o outro mica da Comunicação leva à falência do sistema,
precisa ouvir e o não dizer o que o outro gosta- das famílias, da sociedade civil e à falência do
ria de ouvir. Este, suponho, seja o maior desafio Estado de Direito.
para os que se exercem como avatares de um A comunicação entre as pessoas é um fenô-
tempo novo, que se apresentam como proposi- meno tão complexo quanto inédito por ser con-
tores de milagres transformadores a serem reali- tinente das mais espetaculares criações huma-
zados ou desafios instigantes a serem vencidos. nas, quanto das piores aberrações, motivos de
Então, o dom da fala apresenta-se com a compe- brigas, crimes, guerras.
tência mais assustadora para se tornar propensa As ideias, quando promulgadas em seu re-
ao desenvolvimento sombrio.
clamo primordial, traduzem também o anseio
A pessoa que se exerce pela dinâmica da Co-
da criatura por ser reconhecida como autora da
municação, por seus aspectos sombrios, cons-
proposição, demandando ser autenticada e qua-
tata o quanto tem de competência para atrair
lificada pelo mérito da criação, como também
adeptos e defensores. Como decorrência, tendo
necessitada que o Outro lhe conceda a honora-
suas demandas narcísicas satisfeitas, pela de-
bilidade pelo feito.
volutiva dos seguidores, poderá passar a apre-
De outra parte, a comunicação implica poe-
goar soluções de caráter populista em que, como
sia, música, beijos e abraços, toques sutis entre
exemplo, os direitos pelo usufruto da dependên-
almas que se encontram. É inseminadora e ferti-
cia monetária, por trabalhos não executados,
lizante, criadora que gera criaturas.
tornam-se a regra.
A condição de ouvir o outro, num processo
Assim, manter-se na integridade de propósi-
de análise, tem mais a ver, no meu entender,
tos representa um desafio enlouquecedor, pois
com as vibrações emitidas pelo cliente do que
a tentação por proveitos escusos se faz presente
com muita frequência. O uso abusivo da dinâmi- com o realmente verbalizado. Falar e ser enten-
ca da Comunicação mobiliza (em grande parte) dido, ouvir e compreender, acolher e ser com-
nas pessoas, o que cada um tem de demanda placente com o outro demandam coerência,
pelo "paraíso perdido", ou seja, de manter-se generosidade, continência, integridade e ética.
como um eterno puer alimentado pelas regalias Entretanto, o processo analítico pode ser pal-
de um Estado, ao qual tenha sido atribuído a co de muitas mazelas. Quando o fenômeno do
condição de ser um eterno provedor. encontro ocorre entre o analista que fala tão
A comunicação também pode carregar-se da somente o que o cliente deseja ouvir, a som-
intencionalidade de seduzir, envolver, enganar. bra torna-se constelada. O dom transformador
Quando a palavra do comunicador se encontra da palavra naufraga na solutio que encharca.
povoada de persuasão e convencimentos, certa- Cliente e analista se aplaudem e o incesto se
mente precisa do casamento entre a fala emitida faz instaurado.
com o ouvido que escuta. Mas, para tanto, é ne- A dinâmica da Comunicação, a par de sua
cessário que tanto quem fala como quem escuta, correlação explícita entre a fala emitida pelo co-
estejam ambos povoados pelas demandas de municador e o ouvido de quem a ouve, tem liga-
ganhos secundários. ção direta com os demais órgãos do sentido.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 13


Junguiana
v.36-2, p.7-22

A expressão comunicadora poderá ser dia- diante do que a criatura tem de mais sórdido,
logal entre a fala que expressa um conteúdo mais degradante e sombrio.
intelectivo inédito de descoberta e alcança o Para ilustrar cito abaixo falas de grandes lí-
ouvido que escuta e se deslumbra, se envaide- deres que marcaram os tempos de glória ou a
ce, se encanta, se espanta, se comove, se des- sensação de derrota:
cobre desnudo, se sabe compreendido e tan-
tas outras emoções que as palavras causam. A “I have a dream!” – e todos quantos so-
expressão comunicadora poderá, de outra par- nharam um dia com tratamento igualitá-
te, ser proposta pela música que o Um executa rio, para as mais diferentes cores de pele,
e que o ouvido do Outro ouve e sente despertar regozijaram-se por terem sido sonhados
em si saudade, tristeza, alegria, medo, reve- por alguém que falava a língua deles! (fra-
rência, estranhamento, embevecimento, audá- se do discurso de Martin Luther King Jr.,
cia, coragem e tantas outras emoções que as proferido em 28 de agosto de 1963, nos
músicas podem causar. Ou a expressão comu- degraus do Lincoln Memorial, em Washin-
nicadora poderá ser proposta pelo corpo em gton DC. https://en.wikipedia.org/wiki/I_
movimento, em dança, em êxtase, em súplica, Have_a_Dream).
e que atinge o olho que enxerga um pedido Nós somos as pessoas pelas quais es-
para ser tocado, acolhido. Também a expres- perávamos. Nós somos a mudança que
são comunicadora poderá ser proposta pela buscamos (Discurso de Campanha do Pre-
pintura, pelo filme, pelas fotos, e que ao po- sidente Barack Obama, em 2008 [DIONE
voarem os olhos, preenchem-no de imagens, JUNIOR; REID, 2017]).
expressão da beleza ou do terrível. A expres-
De tanto ver triunfar as nulidades; de tan-
são comunicadora poderá ser proposta pelos
to ver prosperar a desonra, de tanto ver
perfumes emanados, que impregnando os re-
crescer a injustiça, de tanto ver agiganta-
ceptores olfativos do outro, mobilizam memó-
rem-se os poderes nas mãos dos maus, o
rias agradáveis ou sofridas. Como também a
homem chega a desanimar-se da virtude,
expressão comunicadora poderá ser proposta
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser
pelos sabores que trazem de volta momentos
honesto  (trecho do discurso parlamentar
da infância, de figuras parentais e suas ma-
proferido no Senado da República por Rui
nifestações de ternura. Ou advir de toques,
Barbosa em 1914).
carícias evocadoras de momentos dramáticos
assustadores ou deliciosamente mágicos.
A comunicação é o que melhor expressa
Assim, a comunicação se fará pelos mais di-
o processo de humanização por traduzir em
versos canais, mas, inegavelmente, a Palavra é o
falas (faladas, escritas, poéticas, cifras musi-
veículo primeiro que mais atinge, mais convence
cais, imagens, gesticulações) o que a criatura
e seduz, hipnotiza e arrebata a alma dos que se
pensa e reflete sobre o refletido, o que tem de
sentem principalmente abandonados, incom-
ideias e o que com elas constrói, o que sente e
preendidos, mal-amados, levando aos ouvidos
como sofre, o que a emociona e se traduz em
de quem ouve algum comando de ordem.
vibrações epifânicas. Enfim, a comunicação é
A dinâmica da Comunicação, atributo singu-
a marca indelével do ser humano e do como se
larmente desenvolvido pelos seres humanos,
fazer humano!
confere um poder de comando, como também
confere certezas e esperanças de mudança, Quinta dinâmica expressa e se ocupa com a
a par de explicitar as decepções e amarguras encarnação do Verbo!

14 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

3f. A sexta dinâmica de consciência é corres- condoído com a condição de Tirésias, deu-lhe o
pondente ao sexto chakra, frontal ou do tercei- dom da mântica, com o que o transformou em
ro olho (Ãjñã). Chamei de Dinâmica da Vidência um cego vidente.
ou da Antevisão do Futuro, e nos habilitará para Fui levada a pensar, já há alguns anos
divisarmos as demais dimensões do Universo, (ALVARENGA, 2014), que os supostos castigos
além das três dimensões do espaço já conheci- impostos, aos humanos pelos divinos são, em
das e descritas. última instância, uma nova oportunidade no tri-
Buscando na mítica e em seu incontável acer- lhar o processo de individuação.
vo de respostas às perguntas por nós formula- Hera, estrutura primordial da psique, denun-
das, deparamo-nos com relatos aparentemente cia a cegueira de Tirésias por não ter constatado,
inacreditáveis, como se eles somente fossem enquanto mulher, o quanto de prazer recebera,
criaturas do imaginário coletivo. Todavia, ao nos bem como o quanto promovera de satisfação
ocuparmos da simbologia de seus conteúdos, ao parceiro (ALVARENGA, 2011a). Tirésias vive-
verdades impensáveis se revelam. ra como mulher, mas não incorporara em si a
O mântico Tirésias (BRANDÃO, 1992) assim sabedoria decorrente da vivência explícita do
se tornou por conta de ter sido transformado feminino. Precisaria, portanto, descobrir a verda-
em mulher após matar a serpente fêmea, quan- de numa condição viável somente pela reflexão
do encontrou um casal de ofídios copulando. introspectiva; nada do mundo visível deveria im-
Viveu, então, plenamente, como fêmea, por sete pedi-lo. Assim, o aparente castigo era uma dádi-
anos. Num segundo momento, reencontrou ou- va, pois Zeus deu-lhe, como prêmio, a possibili-
tro casal de ofídios em cópula. Intuiu que, para dade da antevisão do futuro, ou seja, a vidência.
recobrar sua condição primeira, precisaria matar Tirésias explicita sua dotação pelos alertas
o macho. E assim o fez, tornando-se novamente dados aos seus consulentes, propondo a possi-
um homem. Num terceiro tempo, Zeus e Hera, bilidade de existirem mais de um futuro possível.
entretidos em discussão interminável sobre Assim, o mântico responde a Liríope sobre seu
quem promoveria maiores prazeres ao parceiro, filho Narciso: "ele viverá se não se vir", ou a Tétis
nos encontros sexuais, e sem possibilidades de sobre o futuro de Aquiles: "ele viverá por muitos
comporem um acordo, decidiram convocar Tiré- anos se mantiver-se como um simples camponês
sias para que ele lhes desse um veredicto sobre ou longe das batalhas" (BRANDÃO, 1992).
essas questões prazerosas, por ter sido mulher, Muitos são os outros exemplos da atuação
como por ser homem. O futuro mântico, após ou- de magos, videntes e falas oraculares quanto a
vir a descrição do impasse entre o casal olímpi- possíveis diferentes futuros que mudariam os
co, respondeu-lhes que se o prazer fosse medido destinos trágicos.
de um a dez, o macho promoveria nove medidas A mensagem primorosa do relato mítico re-
de prazer à mulher e a mulher promoveria uma side na proposição da existência de diferentes
medida de prazer ao macho. possibilidades de um vir a ser, que depende de
Hera, incontinente, diante da descomunal escolhas feitas em momentos cruciais nos quais
ofensa causada por Tirésias às fêmeas, como se deixa a condição de um porvir provável para
que as qualificando de incompetentes para da- um diferente futuro possível.
rem prazer aos parceiros, cegou-o como castigo Momentos cruciais traduzem-se, na realida-
por sua ignorância e estupidez. de de todos nós, como desafios nos quais o risco
Sabemos que as benesses ou os castigos de vida (de si mesmo, do filho, do amado) é imi-
infligidos às personagens, por uma divindade, nente, seja por conta de processos físicos ou psí-
não podem ser retiradas ou negadas por outro quicos; ou por condições de perdas catastróficas
divino e nem mesmo por quem as impôs. Zeus, com vivências de extrema solidão e desamparo;

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 15


Junguiana
v.36-2, p.7-22

ou por realidades invasivas com perda de auto- permeados por um padrão de inteligência
nomia e liberdade; ou quando o outro de nós é espiritual que nos faz cada vez "mais huma-
roubado, sequestrado, abusado... nos", seja por incitar-nos a ser a solução dos
Momentos cruciais mobilizam angústias, conflitos, como a nos compelir para realizar
ativam feridas da alma, desencadeiam medos as mudanças!
antigos, desorganizam a vida e pedem soluções A sexta dinâmica de consciência, como todas
imediatas. Todavia, esses momentos também as demais, em sendo uma condição arquetípica,
despertam a fé e demandas por constrição, bem sofre com os percalços da sombra. "Videntes"
como evocam memórias de nossos ancestrais são consultados por pessoas que buscam res-
crentes no poder das orações. postas para seus conflitos e demandas, como
E, eis que os "milagres" acontecem, tra- também são consultados pelos buscadores de
zendo-nos a certeza de que as transformações benesses eleitoreiras. Todavia, nenhum consu-
quanto a diferentes futuros possíveis desper- lente pergunta sobre o que precisa fazer para
tam como realidades, talvez, nunca dantes co- não mais ser o conflito ou que plano de ação de-
gitadas pela consciência. A física quântica afir- verá compor e executar para tornar-se merecedor
ma que diferentes futuros possíveis aguardam do futuro ensejado.
por serem despertados no momento presente A dinâmica da Vidência e sua competên-
em que os desejarmos (BRADEN, 2017) expres- cia para divisar possíveis diferentes futuros
sando a realidade do novo ser nascituro no qual está intimamente ligada ao poder da prece e
nos tornaremos! Já somos então o futuro possí- sob a regência do "efeito Isaias", que propõe
vel e distanciados nos sentimos do futuro pro- como oração mais poderosa aquela que men-
vável que seríamos. taliza um futuro diferente do provável e que
Interessante atentar para o quanto de re- já é realidade, pois, despertado se fez pelo
clamações emergem no seio de uma dinâmica desejo inquebrantável da fé. Todavia, para
familiar quando um de seus componentes, em alcançarmos um futuro diferente do provável,
processo de análise, apresentando as modifica- precisaremos ser numa nova Ética instituída e
ções decorrentes de suas epifanias analíticas, fundamentada, no meu entender, em quatro
ouve: "Você está muito diferente! Já não é mais o princípios, quais sejam: no Fogo da mais pro-
mesmo! Que aconteceu consigo? Parece que não funda consciência reflexiva que nos intima a
o reconheço!". refletir sobre assumir a responsabilidade por
E, então, quando se atenta para memórias tudo quanto nos cerca, pois tudo tem a ver co-
passadas, que são, na realidade, muito recen- nosco; na Tecknè mais inventiva que somos e
tes, as pessoas se sentem tão distantes do que temos para mudar nosso momento histórico;
foram, por diferentes se sentirem, assustadas na Dikè como consciência plena do senso de
com o que faziam, consentiam ou deixavam pas- Justiça para todos e com todos; e, finalmente
sar, sem contestações. na virtude plena da Aidós que nos conduz para
Quer me parecer que o processo de indivi- realizarmos e fazermos o que somos de melhor
duação é uma demanda imperiosa pela ins- para o outro, quem quer que ele seja e para o
tauração de um futuro possível diferente do bem comum (ALVARENGA, 2011b).
provável, futuro esse adormecido nos escani- Assim sendo, próximos estaremos da séti-
nhos da psique e que aguarda a emergência ma morada, da sétima dinâmica de consciência
da revelação! e lá nos aguarda a cerimonia ritualística da co-
Ao atualizarmos a sexta dinâmica de niunctio com a divindade, segundo pressuposto
consciência em nosso processo existencial de D´Ávila (1981), ou a cerimônia ritualística da
tornamo-nos videntes (ALVARENGA, 2018), coniunctio com o Self, segundo as proposições

16 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

de Jung, com o que o autoconhecimento se faz,


meta maior do processo de individuação.
Desafios a serem confrontados nas
A competência para transitarmos por entre sete dinâmicas de consciência?
essas dimensões será realidade a se alcançar. A conquista do processo de individuação e
Tanto a quinta Dinâmica como a sexta conferem o alcançar o autoconhecimento, como decor-
a quem as conquistam um poder fabuloso que rências da coniunctio com a Totalidade, impli-
dificulta, em muito, o confronto com a Sombra e cam saber-se Uno com o Todo, e serão conse-
representa uma defesa de acomodação, pela re- guidos após a superação dos desafios dessas
tomada do exercício do poder por elas conferido. várias Dinâmicas.
A própria D´Ávila relata em seu texto (1981) as Os desafios a serem superados, tanto os já
dificuldades crescentes que a alma experimenta relatados quanto os por relatar, referem-se às
ofensas ou crimes cometidos segundo os re-
à medida que avança pelas moradas do caste-
ferenciais respectivos dessas dinâmicas e de
lo. Essas duas dinâmicas representam grandes
como nos conduzimos diante deles. Assim:
dificuldades no sentido do conseguimento do
4a. O crime, ofensa, injúria, quando come-
processo de individuação.
tidos sob a vigência da Dinâmica Urobórica,
Há que lembrar não terem as diferentes di-
pedem que o Acolhimento aconteça para que o
nâmicas um caráter sequencial, pois podem
corpo gestante aceite o diferente em si, cons-
ocorrer, tanto a quinta como a sexta, numa
tatando ser ele, corpo gestante, o receptáculo
condição eventual, expressando momentos de
da sacralidade da Existência, sem o que a Vida
sabedoria não inteligíveis para quem as enun-
corre perigo. Quando o corpo gestante não aco-
cia. A fixação defensiva em qualquer uma de-
lhe o gestado, concorre para o rompimento da
las é possível, e pode impedir o caminhar para
unidade original, sem o que não haverá possi-
o Self. bilidade de manutenção do processo que com-
Vidência implica antevisão de futuro e confi- põe o novo Ser.
gura a melhor e a maior oportunidade para divi- 4b. O crime, ofensa, injúria, quando cometi-
sarmos o caminho para a individuação dos sob a vigência da Dinâmica Matriarcal, pe-
dem Vingança contra o ofensor ou seus familia-
A sexta dinâmica expressa e se ocupa da an-
res. E, assim se dará, pois, essa dinâmica, sob
tevisão do futuro!
a vigência das Fúrias, deusas da vingança do
3g. A sétima Dinâmica de Consciência, re- sangue parental derramado, exige sempre ser a
almente de caráter Cósmico ou de Totalidade, morte paga com a morte, pois a Vida é soberana.
(denominação anterior usada por Byington 4c. O crime, ofensa, injúria, quando cometi-
(1983) para nominar a atual quarta Dinâmi- dos sob a vigência da Dinâmica Patriarcal, pede
ca), corresponde ao sétimo chakra, coronário Justiça contra o ofensor, a qual será exercida
(Sahasrãra), e representa a condição plena pelo Estado de Direito estabelecido pelos câno-
da conquista do processo de individuação. nes dos Códigos Morais da comunidade.
Proponho que seja chamada de dinâmica da 4d. A relação simbólica estabelecida pela
Compreensão Universal. Ela confere a consci- quarta dinâmica será sempre de lealdade e fi-
ência plena de sermos unos com o Outro e res- delidade com o outro. Dessa forma, crime nessa
ponsáveis para que o Outro também alcance dinâmica configura traição a esse binômio que
compõe a relação simétrica entre o um e o ou-
essa plenitude.
tro, diferentes entre si. O crime, ofensa, injúria,
A sétima dinâmica expressa e se ocupa da co- quando cometidos sob a vigência da Dinâmica
niunctio com a Totalidade! do Encontro, pedem ao ofensor Reconhecimento

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 17


Junguiana
v.36-2, p.7-22

pela ação praticada e assumir a Responsabilida- Ubuntu é uma filosofia africana cujo significa-
de pelo ato cometido. A condição de reconhecer do se refere à humanidade com os outros. É um
e confessar a ação, assumindo a responsabilida- conceito amplo sobre a essência do ser humano
de pela mesma, reclama por um caráter público. e a forma como se comporta em sociedade. Para
Faz-se realidade como decorrência do diálogo os africanos, Ubuntu é a capacidade humana de
estabelecido entre o réu e o ofendido ou entre compreender, aceitar e tratar bem o outro, ideia
o réu e o parente mais próximo da vítima. O re- semelhante à de amor ao próximo. Ubuntu sig-
conhecimento público pela responsabilidade do nifica generosidade, solidariedade, compaixão
cometimento da injuria contra o ofendido apazi- com os necessitados, e o desejo sincero de fe-
gua o psiquismo da vítima e/ou do familiar. Essa licidade e harmonia entre os homens (https://
condição de reconhecimento e responsabilida- pt.wikipedia.org/wiki/Ubuntu_filosofia).
de não exclui o exercício da Justiça pelo foro do 4e. O crime, ofensa, injúria, quando cometidos
Estado. Todavia esse exercício somente deverá sob a vigência da dinâmica da Comunicação, pe-
se fazer desde que haja anuência entre os pares dem Congruência entre o que se fala e o que se faz
envolvidos, ou seja, entre vítima e feitor. Há de e Complacência para com o outro. A condição de
se convir, todavia, que as demandas da vingan- ouvir num processo de análise tem mais a ver com
ça estarão sempre presentes na psique, porém as vibrações emitidas pelo cliente do que com o
nem sempre de forma explícita. Fundamental se realmente verbalizado. Falar e ser entendido, ou-
faz o estabelecimento da consciência de ser a vir e compreender e ser complacente com o outro,
demanda de vingança uma realidade primordial demanda: coerência, generosidade, acolhimento,
arquetípica, presente em todos os seres huma- integridade e ética. O dom da fala, entre o dizer o
nos. E, essa consciência é fundamental para que que o outro precisa ouvir e o dizer o que o outro
ela não seja exercida pela sombra (ALVARENGA, gostaria de ouvir, representa uma competência
2012). Assim, quando um crime for cometido assustadoramente propensa ao desenvolvimento
contra a vítima (ou seus familiares e agregados) sombrio. Quanto mais nos aproximamos da séti-
sob a vigência da Dinâmica do Coração, Dinâmi- ma dinâmica mais seremos tentados a abandonar
ca de Alteridade, o que se propõe e se pede é o o caminho que conduz ao Self! De outra parte, a
exercício do Perdão. Dinâmica da Comunicação, quando exercida em
A condição de nos exercermos pelo perdão sua plenitude maior, não só corresponderá à com-
nos atos de injuria implica uma relação entre preensão do comunicado, mas também a voz terá
ofensor e o ofendido, na qual o reconhecimen- competência de vibrar em sintonia com o Outro,
to e a responsabilidade já se estabeleceram. O criando ressonâncias de cura
perdão, quando bem exercido é um fenômeno 4f. O crime, ofensa, injúria, quando cometi-
que decorre de uma certeza oriunda das pro- dos sob a vigência da Dinâmica da Visão e/ou
fundezas do ser. O perdão não é uma atitude da Vidência, pedem Temperança para consigo
egoica, mas do Self e reclama por reciprocidade mesmo no sentido de não titubear diante das
entre o ofensor e o ofendido, entre o ofendido demandas do Self, tendo determinação contínua
e o ofensor. e constante para não se perder da meta maior. A
O exercício do perdão, restaurativo das re- Dinâmica da Vidência enseja a possibilidade de
lações, condição histórica proposta por Nelson antever diferentes futuros possíveis, ampliando
Mandela na promoção de uma política de recon- sobejamente a compreensão das variantes do
ciliação nacional na África do Sul, decorre do processo de individuação a ser atualizado.
pressuposto filosófico do exercício do Ubuntu. 4g. O crime, quando cometido sob a vigência
Mas, mais que tudo, o exercício do perdão impli- da Dinâmica da Compreensão Universal, implica,
ca saber-se uno com a comunidade. ao sujeito conhecedor do crime, saber-se como

18 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

kainos Anthropos. O maior crime dessa dinâmica Alcançar a plenitude da Dinâmica da Compre-
será trair o processo de individuação, negando-se ensão Universal nos tornará totalmente humanos,
a caminhar, por escolha, para a Totalidade. Quan- desapegados das posses, por nos sabermos pe-
do uma injúria é praticada por qualquer um e o recíveis, cônscios de que viemos da Terra e a ela
sujeito toma conhecimento do fato, ele (sujeito) retornaremos. A transcendência tão desejada de
torna-se parte do processo e, para tanto, responsá- sermos na Unidade não significa ultrapassar a hu-
vel pelo cometimento da injúria. A consciência de manidade. Transcender será superar nossa condi-
ser responsável pela injúria cometida o faz partíci- ção arquetípica primordial para nos tornarmos a
pe do processo uma vez que o sujeito e o Universo plenitude da condição humana, alcançando a in-
são Unos. Assim, a necessidade de restaurar a har- teireza do ser, sem as cisões e desvarios, sem as
monia se apresenta e, para tanto, necessário se faz intempestividades de Posídon, sem as demandas
que o sujeito, também responsável, na condição de vinganças das Fúrias; sem a rigidez de Apolo e
de partícipe do crime cometido, renda-se ao Self, e a astúcia ardilosa de Hermes; sem a ânsia de po-
possa perdoar-se a si mesmo bem como ao outro, der dos "Zeuses", que se intitulam divinos, sem a
amando-se a si mesmo e ao outro, apesar do come- sede guerreira das Atenás e dos Ares e sem tantas
timento da injúria e, purificando-se da desarmonia outras condutas arquetípicas que nos compõem.
que o avassala, concorrendo para que a harmonia A proposição de sete dinâmicas de consciên-
no outro se (re)instaure. Purificar-se implica cuidar cia para compor, em caráter pleno, a consecução
do outro em si mesmo. Dessa forma, quando um do processo de individuação, configura, para
crime for cometido nessa dinâmica, o que se pede mim, uma demanda imperiosa de certezas e
é ter e ser Amor, Amor pelo outro e por si mesmo
convicções de que o fenômeno do autoconheci-
(proposição inspirada pelo Ho´oponopono).
mento se realiza em função dos caminhos neces-
Há de se convir que, quando estivermos sob
sários a serem percorridos por estas etapas do
a vigência plena da Dinâmica do Encontro, com
desenvolvimento. A busca do autoconhecimen-
seus pressupostos de Reconhecimento da ação
to implica ocuparmo-nos contínua e constante-
e Responsabilidade pelo ato cometido, nos exer-
mente de nossas mazelas e purificarmo-nos em
cendo pela consigna do Perdão, trabalhando por
função dos cuidados prestados ao outro em nós.
um bem maior; e, quando estivermos sob a vi-
Quando Moisés convocou o povo judeu para
gência da dinâmica da Comunicação ou do Ver-
sair do Egito, onde se mantinha na condição de
bo tendo congruência entre o que fala e o que
escravo, e caminhar para o encontro com Deus,
faz, sendo complacente com o outro; e, quando
buscando pela terra prometida, o fenômeno tor-
nos mantivermos diligentemente na atividade
nou-se conhecido como "Exodus", ou seja, dei-
de trabalho e determinação para não nos perder-
xar o lugar estreito onde não se cabia mais1.
mos da meta maior, então alcançaremos a Dinâ-
Estamos realizando um novo Exodus quando
mica da Compreensão Universal. Ao alcançá-la,
caminhamos para a Dinâmica Universal, inspirados
cientes de seus pressupostos de reconhecer-se
pela condição precípua do Amor e da aceitação ple-
e saber-se responsável pela injúria cometida por
quem quer que seja, e por nos sabermos e nos na do outro, quem quer que ele seja, sem condena-
tornarmos Unos com a Totalidade, nos exercen- ções. Aceitar o outro sem avaliações condenatórias
do pelo Amor ao Outro, vibrando e mentalizando implica acolhermo-nos por inteiro. A realização des-
o restabelecimento da harmonia, os fenômenos te novo Exodus significa nos tornarmos livres. ■
de guerra, fome, violência, conquista do poder
e tantas outras aberrações cometidas pelos des- Recebido em 30/08/2018 Revisão em 12/12/2018
varios de nossa condição primordial, arquetípi- 1
Aula do Rabino Nilton Bonder realizada no Centro de Cultura
ca, não humanizada, terão realmente findado! Judaica, em 2010.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 19


Junguiana
v.36-2, p.7-22

Abstract

The seven dynamics of consciousness, hominization, spiritual intelligence and


the individual process
This article proposes the existence of seven sonality, as well as commentaries on aspects of the
dynamics of consciousness, and not only the four seventh dynamism which I shall now call Universal
currently described by Analytical Psychology. Along Understanding. The dynamics listed are: Origin or
with the proposition of seven dynamics, I comment Uroboric, under the regency of the archetype of the
on spiritual intelligence and the process of homini- Divine Nature; of the Feminine or of the Great Moth-
zation, data that contributed to the proposition of the er, under the regency of the archetype of the Mother
seven dynamics of Consciousness. Some data pre- Goddess; of the Masculine or of the Father, under the
sented here were presented at the VIII Latin Amer- rule of the archetype of the Father God; of the Meet-
ican Congress of Analytical Psychology - July 2018, ing, under the regency of the Coniunctio archetype;
in Bogota-Colombia under the name of “The Seven of the Communication, under the rule of the arche-
Dynamics of Consciousness”. The present text has type of the Incarnate Word; of the Seer or Prevision of
been supplemented by detailed descriptions of the the Future, under the rule of the archetype of Prophe-
new dynamics proposed as components of the list of cy; of Universal Understanding, under the regency of
regent consciousness dynamics of the human per- the archetype of Wholeness. ■

Keywords: spiritual intelligence, process of hominization, seven dynamics of consciousness, process of individuation.

Resumen

Las siete dinámicas de conciencia, la hominización, la inteligencia espiritual y


el proceso de individuación
Este artículo propone la existencia de siete gentes de la personalidad humana, a la par de tejer
dinámicas de conciencia, y no sólo las cuatro actual- comentarios sobre aspectos de la séptima dinámica
mente descritas por la Psicología Analítica. A la par que paso a nominar como de la Comprensión Uni-
de la proposición de siete dinámicas, hago comen- versal. Las dinámicas enumeradas son: del Origen o
tarios sobre la inteligencia espiritual y sobre el proce- Urobórica, bajo la regencia del arquetipo de la Na-
so de hominización, dados éstes que concurrieron a turaleza Divina; de lo Femenino o de la Gran Madre,
la proposición de las siete dinámicas de Conciencia. bajo la regencia del arquetipo de la Diosa Madre; de
Algunos datos aquí presentes fueron presentados lo Masculino o del Padre, bajo la regencia del arqueti-
en el VIII Congreso Latinoamericano de Psicología po del Dios Padre; del Encuentro, bajo la regencia del
Analítica – julio de 2018, en Bogotá-Colombia bajo arquetipo de la Coniúntio; de la Comunicación, bajo
el nombre de “Las siete Dinámicas de Conciencia”. la regencia del arquetipo del Verbo encarnado; de la
El texto actual se ha añadido a descripciones detalla- Videncia o Antevisión del Futuro, bajo la regencia del
das de las nuevas dinámicas propuestas como com- arquetipo de la Profecía; de la Comprensión Univer-
ponentes del elenco de dinámicas de conciencia re- sal, bajo la regencia del arquetipo de la Totalidad. ■

Palabras clave: inteligencia espiritual, proceso de hominización, siete dinámicas de conciencia, proceso
de individuación.

20 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.7-22

Referências
ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de todos os tem- BYINGTON, C. A. B. O desenvolvimento simbólico da
pos. São Paulo: Escuta, 2017. personalidade: os quatro ciclos arquetípicos. Junguiana, São
Paulo, v. 1, p. 8-63, 1983.
ALVARENGA, M. Z. Os Deuses castigam? Mitologia e psico-
patologia simbólica. eBook Kindle. 2016. CHARDIN, P. T. O fenômeno humano. São Paulo: Cultrix, 1995.

ALVARENGA, M. Z. A dinâmica do coração: CORDEIRO, A. M. A fala encantada da anima, Sharazade e


do herói dever, heroína-acolhimento para o o Sultão. In: ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de
herói-heroína-amante-amado. Junguiana, São Paulo, todos os tempos. São Paulo: Escuta, 2017. p. 86-93.
n. 18, p. 133-52, 2000.
D´ÁVILA, S. T. As moradas do castelo interior. São Paulo:
ALVARENGA, M. Z. A vida na coniunctio Zeus-Her: Paulus, 1981.
a morte na separatio Eco-Narciso. Junguiana, São Paulo,
v. 29, n. 2, p. 129-6, nov. 2011a. DIONNE JUNIOR, E. J.; REID, J.-A. Nós somos a mudança
que buscamos: discursos de Barack Obama. Rio de Janeiro:
ALVARENGA, M. Z. As sete dinâmicas de consciência: BestSeller, 2017.
a hominização, inteligência espiritual e o processo de
individuação. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE DISCURSO de Rui Barbosa no Senado em 1914. Disponível
PSICOLOGIA ANALÍTICA, 8., 2018, Bogotá Colômbia, em: <http://fabioibrahim.blogspot.com.br/2012/10/discur-
2018. Anais... São Paulo: Sociedade Brasileira de Psico- so-de-rui-barbosa-no-senado-em 1914.html>. Acesso em:
logia Analítica, 2018. 26 jan. 2017.

ALVARENGA, M. Z. O encontro de Prometeu, INTERNATIONAL STANDARD BIBLE ENCYCLOPEDIA ONLINE.


Héracles e Quiron: a morte e o morrer, ritos de Man; Disponível em: <http://www.internationalstandardbi-
passagem. Junguiana, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 58-65, ble.com/M/man-new.html>. Acesso em: jan. 2017.
jun. 2011b.
McTAGGART, L. O campo: em busca da força secreta do
ALVARENGA, M. Z. O primeiro tribunal de júri. Junguiana, Universo. São Paulo: Roco, 2004.
São Paulo, v. 30, n. 2, p. 129-35, jul.-dez. 2012.
MOORE, K. Embriologia clínica. São Paulo: Elsevier, 2016.
ALVARENGA, M. Z. Por que os deuses castigam? São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2014. MURRAY, L.; ANDREWS, L. The social baby. Richmond: The
Children´s Project, 007.
ARAUJO, C. A. Arquétipos e complexos: vida
pré-natal e primeiríssima infância. In: CONGRESSO SHELDRAKE, R. Ressonância mórfica & a presença do
LATINO AMERICANO DE PSICOLOGIA ANALÍTICA, passado. São Paulo: Instituto Piaget, 2016.
8., 2018, Bogotá Colômbia, 2018. Anais...
São Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia WIGGLESWORTH, C. Las 21 aptitudes de la inteligencia
Analítica, 2018. espiritual: un paso más allá de la inteligencia emocional.
(Spanish Edition) (Locais do Kindle 3756). México: Penguin
BONDER, N. A alma imoral. Rio de Janeiro: ROCCO; 1998. Random House, 2012.

BRADEN, G. O efeito Isaias: decodificando a ciência perdida WIKIPEDIA. Ubuntu (filosofia). Disponível em: <https://pt.wiki-
da prece e da profecia. São Paulo: Cultrix, 2017. pedia.org/wiki/Ubuntu_(filosofia)>. Acesso em: 20 jul. 2016.

BRANDÃO, J. S. Dicionário mítico-etimológico. Petrópolis: ZOHAR, D., MARSHALL, I. A inteligência espiritual. Rio de
Vozes, 1992. Vol. 2. Janeiro: Best Seller, 2016.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 21


22 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018
Junguiana
v.36-2, p.23-38

Las siete dinámicas de la conciencia,


la hominización, la inteligencia espiritual y
el proceso de individuación

Maria Zelia de Alvarenga*

Palablas clave
Resumen
inteligencia
Este artículo propone la existencia de siete personalidad humana, a la par de tejer comen- espiritual,
dinámicas de conciencia, y no sólo las cuatro tarios sobre aspectos de la séptima dinámica proceso de
actualmente descritas por la Psicología Analíti- que paso a nominar como de la Comprensión hominización,
ca. A la par de la proposición de siete dinámi- Universal. Las dinámicas enumeradas son: del siete dinámicas
cas, hago comentarios sobre la inteligencia Origen o Urobórica, bajo la regencia del arquet- de conciencia,
espiritual y sobre el proceso de hominización, ipo de la Naturaleza Divina; de lo Femenino o proceso de
dados éstes que concurrieron a la proposición de la Gran Madre, bajo la regencia del arquetipo individuación.
de las siete dinámicas de Conciencia. Algunos de la Diosa Madre; de lo Masculino o del Padre,
datos aquí presentes fueron presentados en el bajo la regencia del arquetipo del Dios Padre;
VIII Congreso Latinoamericano de Psicología del Encuentro, bajo la regencia del arquetipo de
Analítica – julio de 2018, en Bogotá-Colombia la Coniúntio; de la Comunicación, bajo la regen-
bajo el nombre de “Las siete Dinámicas de cia del arquetipo del Verbo encarnado; de la Vi-
Conciencia”. El texto actual se ha añadido a dencia o Antevisión del Futuro, bajo la regencia
descripciones detalladas de las nuevas dinámi- del arquetipo de la Profecía; de la Comprensión
cas propuestas como componentes del elen- Universal, bajo la regencia del arquetipo de
co de dinámicas de conciencia regentes de la la Totalidad. ■

* Médica por FMUSP, clase 49a. Psiquiatra por ABP, registro en CRM-SP 12766. Analista Junguiana por La Sociedad Brasileña de Psi-
cología Analítica (SBPA), filiada a la International Association for Analytical Psychology (IAAP). E-mail: <emza@boitata.org>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 23


Junguiana
v.36-2, p.23-38

Las siete dinámicas de conciencia, la hominización, la inteligencia espiritual


y el proceso de individuación

El alma debe atreverse para (tal como predijo Chardin (1995) en "O Fenó-
poder generar crecimiento meno Humano"). Es de Chardin la proposici-
(Rabino Nilton Bonder, El Alma Inmoral). ón de que la emergencia de la conciencia se
presenta desde el reino mineral, seguido por
el vegetal y por el animal, evolucionando como
1. La Inteligencia Espiritual conciencia reflexiva solamente en las criaturas
La Inteligencia Espiritual es un concepto humanas. En su afirmación la conciencia cami-
reciente, divulgado por los trabajos de Zohar na desde Alfa hacia Omega.
e Marshal (2016), ascomo de Wigglesworth En este texto, propongo que la emergencia
(2012). Descrito por Zohar e Marshal (2016, de la Inteligencia Espiritual, a par de impulsar el
p.19) "como una capacidad de elegir bien proceso de individuación, revela a la conciencia
(y que) nos brinda con un sentido moral, una que la marcha hacia su consecución se convier-
capacidad de amenizar normas estrictas con te en la mayor demanda de la Vida. Hacernos
comprensión y compasión". Esa capacidad se humanos implica el autoconocimiento, meta
explicita por la disponibilidad para asumir la del proceso de individuación que se concreta
responsabilidad y solucionar conflictos cuyas por la coniunctio de sí con el sí mismo o del Yo
demandas no tienen un carácter personal con el Self.
sino colectivo. La Inteligencia Espiritual, al expresarse con
En otros tiempos, la inteligencia espiritual más intensidad - como sucede en esos últimos
se expresaba a través de avatares como: Buda, tiempos - concurre a que los humanos tomen
Jesucristo, Francisco de Asís, Teresa de Ávila y conciencia de la importancia profunda de la de-
tantos otros. En los últimos tiempos, esa capa- manda por la libertad de ser, hacer, pensar, que-
cidad ha sido divulgada y ejercida por grandes rer y asumir voluntariamente la decisión de ca-
líderes como Gandhi, Martin Luther King, Madre minar hacia el Self. Cuando realmente los seres
Teresa de Calcutá, Chico Xavier etc., resonando se hacen humanos, cada uno de per sí quiere ser
sincrónicamente y de forma sintónica con miles la solución de los problemas familiares, sociales
de personas. y/o de la Humanidad.
El emerger de la Inteligencia Espiritual se La Inteligencia Espiritual nos capacita a, vo-
debe a fenómenos de interacción de campos luntariamente, hacernos cargo del otro y de la
morfogenéticos (SHELDRAKE, 2016) o a inter- solución de problemas y conflictos del colectivo,
pues nos sabemos y nos sentimos partícipes e
comunicaciones, interdependencias e inte-
integrantes de la comunidad. Zohar e Marshal
racciones resultantes del universo colectivo
(2016, p. 33) que describe el habla de un joven
(McTAGGART, 2004). Este suceso transforma a
empresario sueco y su fantástica declaración
las personas en seres carismáticos y traduce
de querer ser la solución de los problemas con
la maravillosa realidad de que todos los que
los que se depara. Me sirvo de esta información
componemos la Humanidad estamos realmen-
para traducirla como:
te haciéndonos humanos cuando constatamos
que el proceso de evolución de nuestra con- Al hacernos humanos ¡queremos ser la solu-
ciencia para alcanzar el Omega está en marcha ción y hacer el cambio!

24 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.23-38

2. Las Siete Dinámicas de Conciencia Kainos anthropos es una expresión griega,


Cuando me di cuenta del fenómeno "Inteli- y la palabra  kainos  se emplea para designar
gencia Espiritual" y de la importancia de que algo “nuevo en la cualidad”, es decir, algo que
se explicite de forma clara en este momento presenta una naturaleza distinta. En el  Nuevo
de la Tierra, me sentí impulsada a repensar Testamento,  kainos anthropos, “nuevo hom-
las constataciones que se me habían revela- bre”, describe la “nueva humanidad” creada en
do mientras escribía mi último libro: "Ánima/ Cristo, de la que participan todos los creyentes,
Animus de Todos los Tiempos" (2017), en el tanto individual como colectivamente (Holman
que tuve la colaboración de muchos analis- Treasury of Key Bible Words  de Eugene E. Car-
tas junguianos, mis amigos. En esa época, penter y Philip W. Comfort).
me encantó descubrir el texto de D'Ávila, “Las Al llegar a ser Unos con el Self, nos haremos
Moradas del Castillo Interior (1981), escrito en plenamente humanos, comprendiendo la gran
1577, como guía para el desarrollo espiritual a paradoja de que “libertad implica elegir a Dios".
través del servicio y de la oración, y publicado Este enigma me fue propuesto por una doctora
solamente en 1588, tras su muerte. Constaté en Filosofía y Teología, en clases de religión, en
que el texto confirmaba mis proposiciones de mis primeros tiempos en la Facultad de Medici-
que el proceso de individuación traduce la na. Dicha paradoja me costó años de reflexión,
búsqueda y el encuentro del autoconocimien- análisis, dudas, hasta constatar que esa reali-
to. D'Ávila afirma que la coniunctio con Dios, dad solamente podría ser comprendida por el
realizada tras recorrer su largo camino por las Self y nunca por el Ego (Alvarenga, 2016).
siete moradas del Castillo Interior, redunda Teresa de Ávila tuvo que sufrir y elaborar sus
en autoconocimiento. muchas tentaciones y desafíos vividos, al pasar
Constato que la condición del autoconoci- por los siete niveles o moradas del Castillo. Se
miento, a la par de conferir a los que lo alcan- me ocurrió, entonces, que las Dinámicas de Con-
zan la entereza de la hominización, concurre a ciencia, hasta ahora propuestas por la Psicolo-
la conciencia de que, cuanto más humanos nos gía Analítica, eran insuficientes para traducir el
hacemos, más experimentamos la presencia de proceso vivido y sufrido por Teresa de Ávila, tan-
criaturas disociadas de nosotros mismos; esas to como por las demás criaturas que lo buscaron.
criaturas, nuestras sombras, las más sombrías, Desde entonces reflexiono sobre este hecho
siguen habitando nuestra psique, dificultando y he concluido que siete son las Dinámicas de
más y más el proceso de individuación. Conciencia necesarias para alcanzar la coniunc-
La búsqueda de la coniunctio simbólica con tio con el Self, y constatar que realmente el pro-
Dios, habla de D'Ávila, o el caminar hacia el Self ceso de individuación se realiza.
(demanda mayor del proceso de individuación, Propongo que las siete Dinámicas de Concien-
propuesto por Jung en toda su obra), configura, cia estarían correlacionadas a los siete Chakras.
en mi opinión, la instauración de una dinámica Las Siete Dinámicas de Conciencia son:
de conciencia eminentemente de carácter de To- 1. del Origen o Urobórica, bajo la regencia del
talidad. El logro, traducido por esa coniunctio, arquetipo de la Naturaleza Divina;
convierte a la criatura Una con el Self. 2. de lo Femenino o de la Gran Madre, bajo la
Cuando esa realidad se realice, ya no habrá el regencia del arquetipo de la Diosa Madre;
Yo-Otro, sino el Kainos Anthropos, o sea, el hijo
del tiempo nuevo, expresión que introduzco para 3. de lo Masculino o del Padre, bajo la regen-
representar la plenitud de la hominización, reali- cia del arquetipo del Dios Padre;
dad estructurada en nosotros cuando alcanzamos 4. del Encuentro, bajo la regencia del arqueti-
la coniunctio con Dios y/o con el Self. po de la Coniúntio;

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 25


Junguiana
v.36-2, p.23-38

5. de la Comunicación, bajo la dirección del comprende el tiempo que queda hasta el mo-
arquetipo del Verbo encarnado; mento del nacimiento, período de maduración,
a lo largo del cual los órganos, ya formados en la
6. de la Videncia o Antevisión del Futuro, bajo
etapa anterior, acaban por adquirir su estructu-
la regencia del arquetipo de la Profecía;
ra definitiva. Los órganos alcanzando plena ac-
7. de la comprensión universal, bajo la regen- tividad, concurren para que factores esenciales
cia del arquetipo del Self. posibilitadores de una vida independiente, fuera
del organismo materno, se completen. A lo largo
3. Descripción de las siete dinámicas de de esta fase, el producto de la fertilización se lla-
conciencia ma feto (MOORE, 2016).
3a. La primera Dinámica, del Origen o Uro- La dinámica Urobórica, pertinente al perío-
bórica, vivida y actualizada en los tiempos de do intrauterino, durante el cual el milagro de la
vida intrauterina, está correlacionada con el vida ocurre, refleja una complejidad sublime de
chacra básico (Muladdhara), acorde con los la naturaleza, expresada por metamorfosis es-
primeros tiempos de vida de la criatura que se pectaculares, bajo la regencia de competencias
forja, en la condición intrauterina, poco des- inherentes a la célula primordial, fuente de po-
pués de la concepción. sibilidades no inteligibles, pero, profundamente
El óvulo fertilizado se convierte en huevo o inteligente, dirigida a un propósito único: hacer
cigoto, y el fenómeno ocurre en la pared de la que la vida suceda.
trompa de Falopio para luego descender hacia Y este embrión forja en pocas semanas, nun-
el interior del útero, fijándose en su pared mu- ca más que diez, todos los órganos, piel, mús-
cosa, proceso que se denomina nidificación o culos, nervios, cerebro, estructura ósea, desar-
nidación. En el cigoto, transformaciones espec- rolla los sentidos y competencias para oír, ver,
taculares son desencadenadas pues, al cabo de saborear, experimentar la temperatura, sentir
pocos días, emergen varios mecanismos previa- emociones, y luego soñar, pensar y “saber”.
mente codificados en su constitución genética. La dinámica Urobórica, expresión impar del Self,
Y, en función de la demanda que se establece, prepara al ser en gestación para volverse, en el
por procesos desconocidos, la aglomeración ce- futuro, consciente de sí mismo y de su relación
lular, denominada mórula, derivada de las divi- con los demás, haciéndose humano.
siones del propio cigoto, en su fase de segmen- La Uroboros, siendo una referencia a la
tación, se diferenciará en varias estructuras que creación del Universo, representa un tiempo
constituirán el futuro embrión y, de este mismo en que el embrión estructura todas sus com-
agrupamiento, se presentará la bolsa amniótica petencias, como también estructura su prime-
y la placenta, órganos responsables de la oxige- ra dinámica de conciencia. Esta dinámica de
nación, nutrición y protección del futuro embrión conciencia, al principio, confiere al embrión
feto. La primera fase del desarrollo, denominada la condición de él “sentirse” como entidad
segmentación, corresponde al período inmedia- Una con el Self, pero, sin aún “saber”, en su
to a la fertilización y nidificación de la blástula condición reflexiva, como criatura impar. La
en la mucosa uterina. La segunda fase, llamada conciencia Urobórica se estructura, pues se in-
embrionaria, ocurre entre la segunda semana corpora de atributos derivados de las transfor-
después de la fecundación hasta la novena se- maciones embrionarias que forjan dispositivos
mana, período a lo largo del cual todos los ór- mnemónicos, con lo que el feto pasa a cono-
ganos del cuerpo serán formados. Durante esta cerse como criatura que siente, experimenta
fase, el nuevo ser se llama embrión. La tercera sonidos, luminosidades. Estos dispositivos
fase, la más prolongada, denominada fase fetal, mnemónicos darán competencia, al futuro na-

26 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.23-38

cido, para reconocer la frecuencia cardíaca de nueve meses de vida, acerca de nuestras tem-
la madre cuando se coloca sobre el tórax de pranas influencias formativas (ARAUJO, 2018).
ella; reconocer el timbre de la voz de la madre Todo el desarrollo del ser humano y de sus
y llorar con el mismo repertorio musical de la dinámicas de conciencia implican la reflexión de
voz materna de tal manera que la madre pueda cuánto cada uno de nosotros necesita del otro
reconocer y saber cuando el llanto es de ham- para ser, sin lo que la Vida no sucede. El ser en
bre o de dolor o de otra incomodidad. gestación “se sabe” acogido sin lo que nunca
Así, la dinámica Urobórica, inherencia de esa desarrollaría competencia para acoger al otro en
sabiduría intrínseca de la naturaleza del huevo sí mismo, meta del proceso de individuación.
primordial - cigoto, se forja como factor determi- La Dinámica Urobórica pide que la acogida
nante y fundante de todas las demás dinámicas suceda para que el cuerpo gestante acepte lo
de conciencia que se presentarán a posteriori. diferente en sí, constatando ser él, cuerpo ges-
La dinámica de conciencia Urobórica es la matriz tante, el receptáculo de la sacralidad de la exis-
de las demás dinámicas. Ella y el cuerpo que la tencia. Cuando el cuerpo gestante no acoge al
gesta, simplemente, son Uno solo con el Self. La gestado, concurre para el rompimiento de la uni-
Dinámica Urobórica rige la forja de la totalidad dad original, con lo que no habrá posibilidad de
corporal, tanto física como mental/emocional. mantenimiento del proceso que compone la Vida
El desarrollo del cerebro, según investiga- del nuevo ser en gestación.
ciones recientes (ARAUJO, 2018), prepara al fu- La dinámica Urobórica ciertamente se hace
turo nacido con competencia para hacer víncu- bajo la regencia de una condición arquetípica,
lo, o apego, con la madre o sustituta, sin lo que que propongo ser acreditada al arquetipo de la
la supervivencia no sucede. El huevo primordial Naturaleza divina, realidad primordial portadora
sale de la condición concreta y simbólica del de todas las competencias, fructificadoras de la
Khaos griego (fuente de todas las posibilidades) Vida y de la Muerte.
para estructurarse como un venir a ser humano.
La primera dinámica traduce y se ocupa con
Al hacerlo, integra en su naturaleza la condici-
el origen y el mantenimiento de la vida.
ón de: para llegar a ser humano es fundamen-
tal tener al otro y, para ello, es necesario hacer 3b. La segunda dinámica paso a denominarla
vínculo. La Dinámica Urobórica retrata la condi- como la Femenina o la Gran Madre, ampliamen-
ción del contenido y del continente ser Unos y te estudiada por la Psicología Analítica bajo la
su dependencia con el otro, cuerpo gestante, es denominación de Matriarcal, está correlaciona-
total, sin lo que la Vida no se consuma. El ser da al chacra de la sexualidad (Svãdhistãna). La
nace porque alguien lo gestó, soportó, hizo que dinámica de lo Femenino, bajo la regencia de la
la Vida sucediera. Gran Madre, retrata la instauración del encuen-
Kohler, analista junguiano, subraya la im- tro yo-otro, sin conciencia reflexiva de quién es
portancia crítica del desarrollo prenatal para la el Yo y de quién es el Otro, con la finalidad de
estructuración y funcionamiento del cerebro y la conservación de la especie; el descubrimiento
de la personalidad. Este autor cree que la cons- de los placeres derivados de la sexualidad, junto
telación de los arquetipos y el desarrollo de los al establecimiento de los cuidados con el con-
complejos ya ocurren en el embrión y el feto, y cepto, son inherentes a esta dinámica. A medida
busca describir el impacto de la relación entre que los diversos otros se diversifican, el Yo se
el embrión y el feto y la madre y el mundo don- estructura, la relación deja de ser de exclusivi-
de está insertado. Basó sus consideraciones en dad, pero siempre en la interdependencia de un
las investigaciones neurobiológicas de Huther Otro. En la dinámica de la Gran Madre, la Vida es
y Krens acerca de los misterios de los primeros siempre soberana.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 27


¡La segunda dinámica se traduce y se ocupa Comunicación o del Verbo, por la cual nos hare-
con el mantenimiento de la especie! mos competentes para hablar y oír comprendien-
do a todos y siendo por todos oídos y compren-
3c. La tercera dinámica, denominada del
didos, tal vez de forma independiente del idioma
Hombre o del Padre, previamente denominada
de expresión, una vez que el entendimiento y la
Patriarcal, también ya ampliamente estudiada
comprensión se harán mucho más por la sinto-
por la Psicología Analítica, está correlacionada
nía vibratoria y armónica entre los seres. No será
al tercer chacra, el umbilical o solar (Manipu-
significativo lo que se habla, sino lo que se co-
raka), y representa la expresión de los tiempos
munica por la vibración de los sonidos emitidos
de conquista de territorio y de la sumisión de
y recibidos. La palabra, o cualquier otro tipo de
los conquistados. En esa dinámica la discrimi-
comunicación pasan a tener la competencia de
nación entre el Yo y el Otro se establece y los
principios básicos que rigen la relación com- la curación.
ponen el Código, con discriminación de lo que La comunicación, cuando ejercida de forma
puede y de lo que no puede. La relación se hace creativa, pedirá fundamentalmente Congruencia
asimétrica y el ejercicio del poder se establece entre lo que se habla y lo que se hace, así como
entre los partícipes, cuando entonces el Orden la complacencia hacia el otro que aún no ha al-
es establecido. En la tercera dinámica los cáno- canzado ese nivel de comunicación/compren-
nes del Estado de Derecho son establecidos y la sión. Cuando se ejerce en su plenitud mayor,
Vida se vuelve soberana solamente dentro de la no sólo corresponderá a la comprensión del co-
tribu o del clan. municado, como también la voz del emisor ten-
drá competencia para vibrar en sintonía con el
La tercera dinámica se traduce y se ocupa de Otro, creando resonancias de apaciguamiento.
la implantación del Código. El don del habla, atributo de la dinámica de
3d. La cuarta dinámica traduce el Encuentro la comunicación, confiere al ser humano un po-
entre las personas e implica el establecimien- der asustadizo, un poder de convencimiento, de
to de una relación de paridad entre el Yo y el arrebatar plateas, de despertar en lo colectivo el
Otro, según el referencial anímico o fraterno, y sentido de la justicia, la demanda por el empo-
el reconocimiento de las diferencias entre los deramiento, la convicción de la responsabilidad
pares, así como de los mismos derechos pre- de querer ser la solución y hacer los cambios ne-
valecientes para todos. En el cuarto chacra, el cesarios para lo colectivo.
corazón (Anãhata), [previamente descrito por El don de la Palabra es una dádiva cuando
Byington (1983) como de Alteridad y por mí se ejerce con discriminación de propósitos que
misma como Dinámica del Corazón (ALVAREN- buscan el bienestar general, se profería sobre
GA, 2000), en la cuarta dinámica la instaura los cimientos de la ética y era usada para des-
plenamente el proceso reflexivo de conciencia, pertar al héroe dormido. La Palabra promueve
con la discriminación del uno y del otro como cambios que la guerra no conquista, alcanza
seres diferentes y con derechos inalienables. profundidades en los escenarios de la psique
La vida es soberana dentro de la tribu como que ni la amenaza de la muerte sacude, plan-
fuera de ella. tea desafíos asustadores que el alma acepta
con tranquilidad.
¡La cuarta dinámica traduce y se ocupa de la
En el sentido simbólico, el don de la Pala-
consumación de la paridad!
bra está explicitado, por ejemplo, en los rela-
3e. La quinta dinámica, correlacionada al tos de “Las mil y una Noches”, en función de la
quinto chacra, laríngeo, (Visuddha) llamé de la actitud de Sherazade hacia el Sultán, así como

28 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


del arte mayor de la heroína en contar historias poblada de persuasión y convenciones, cierta-
(CORDEIRO, 2017). mente necesita el matrimonio entre el habla emi-
La palabra es un don que puede promover tida con el oído que escucha. Pero, para tanto,
acciones constructivas como puede disuadir es necesario que tanto quien habla como quien
esperanzas de transformación. La palabra tanto escucha, estén ambos poblados por las deman-
acoge como destruye, apacienta como instiga la das de ganancias secundarias.
furia; en cuanto continente, invade como si fuera La dinámica de la comunicación cuando se
una violación, asustadiza y violenta, causando ejerce según el contexto arriba descrito, confi-
heridas incurables, ofendiendo la dignidad, mo- gura comportamiento criminal, ofensivo e inju-
vilizando la vergüenza. riante para con el colectivo. El uso abusivo de
El don del habla tiene su camino más espi- la Palabra pervierte la relación y hace que el
noso cuando se ocupa en decir lo que el otro encuentro entre las personas sea corrompido.
necesita oír y no decir lo que el otro quisiera El uso pervertido de la dinámica de la comu-
oír. Este, supongo, es el mayor desafío para nicación lleva a la quiebra del sistema, de las
los que se ejercen como avatares de un tiem- familias, de la sociedad civil y a la quiebra del
po nuevo, que se presentan como propulsores
Estado de Derecho.
de milagros transformadores a ser realizados
La comunicación entre las personas es un
o desafíos instigadores a ser vencidos. Enton-
fenómeno tan complejo como inédito por ser
ces, el don del habla se presenta con la com-
continente de las más espectaculares creacio-
petencia más aterradora para llegar a ser pro-
nes humanas, como de las peores aberraciones,
pensa al desarrollo sombrío.
motivos de peleas, crímenes, guerras.
La persona que se ejerce por la dinámica de
Las ideas, cuando promulgadas, en su recla-
la Comunicación, por sus aspectos sombríos,
mo primordial, traduce también el anhelo de la
constata cuánto tiene competencia para atraer
criatura por ser reconocida como autora de la
adeptos y defensores. Como consecuencia, te-
proposición, demandando ser autenticada y ca-
niendo sus demandas narcísicas satisfechas,
lificada por el mérito de la creación, como tambi-
por la devolución de los seguidores, podrá pasar
én necesitada que el Otro le conceda la honora-
a pregonar soluciones de carácter populista en
bilidad por el hecho.
que, como ejemplo, los derechos por el usufruc-
to de la dependencia monetaria, por trabajos no Por otra parte, la comunicación implica poe-
ejecutados, se convierten en la regla. sía, música, besos y abrazos, toques sutiles en-
Así, mantenerse en la integridad de pro- tre almas que se encuentran. Es inseminadora y
pósitos representa un desafío enloquecedor, fertilizante, creadora que genera criaturas.
pues la tentación por provechos escudos se La condición de oír al otro, en un proceso de
hace presente con mucha frecuencia. El uso análisis, tiene más que ver, entiendo yo, con las
abusivo de la dinámica de la Comunicación vibraciones emitidas por el cliente que con lo re-
moviliza, en gran parte, a las personas, lo que almente verbalizado. Hablar y ser entendido, oír
cada uno tiene de demanda por el "paraíso y comprender, acoger y ser complaciente con el
perdido", o sea, de mantenerse como un eter- otro demandan coherencia, generosidad, conti-
no alguien alimentado por las regalías de un nencia, integridad y ética. Sin embargo, el pro-
Estado, al cual, se ha asignado la condición de ceso analítico puede ser escenario de muchas
ser un eterno proveedor. molestias. Cuando el fenómeno del encuentro
La comunicación también puede llevarse de ocurre entre el analista que habla tan sólo lo que
la intencionalidad de seducir, envolver, engañar. el cliente desea oír, la sombra se vuelve cons-
Cuando la palabra del comunicador se encuentra telada. El don transformador de la palabra nau-

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 29


fraga en la solutio que encharca. El cliente y el llevando a los hijos, oídos de quien oye algún
analista se aplauden y el incesto se establece. comando de orden.
La dinámica de la comunicación, junto a La dinámica de la comunicación, atributo sin-
su correlación explícita entre el habla emitida gularmente desarrollado por los seres humanos,
por el comunicador y el oído de quien la oye, confiere un poder de mando, como también con-
tiene conexión directa con los demás órganos fiere certezas y esperanzas de cambio, a la par
del sentido. de explicitar las decepciones y amarguras ante
La expresión comunicadora podrá ser dialo- lo que la criatura tiene de más sórdido, más de-
gal entre el habla que expresa un contenido in- gradante y sombrío.
telectivo inédito de descubrimiento y alcanza el Para ilustrar cito por debajo de las palabras
oído que escucha y se deslumbra, se envanece, de grandes líderes que marcaron los tiempos de
se encanta, se asombra, se conmueve, se des- gloria o la sensación de derrota:
cubre desnudo, se sabe comprendido y tantas
otras emociones que las palabras causan. La "I Have a dream!” – y todos los que soña-
expresión comunicadora podrá, por otra parte, ron un día con el trato igualitario, a los
ser propuesta por la música que el Uno ejecuta diferentes colores de piel, se regocijaron
y que el oído del Otro oye y siente despertar en por haber sido soñados por alguien que
sí nostalgia, tristeza, alegría, miedo, reveren- hablaba su lengua (1 de abril de 1964,
cia, extrañamiento, embellecimiento, audacia, en los escalones del Lincoln Memorial,
coraje, y tantas otras emociones que las can- en Washington DC, https://en.wikipedia.
ciones pueden causar. O la expresión comuni- org/wiki/I_Have_a_Dream).
cadora podrá ser propuesta por el cuerpo en
Nosotros somos las personas por las que
movimiento, en danza, en éxtasis, en súplica, y
esperábamos. “Somos el cambio que
que alcanza el ojo que ve un pedido para ser to-
buscamos (Discurso de Campaña del Pre-
cado, acogido. También la expresión comunica-
sidente Barack Obama en 2008 [DIONE
dora podrá ser propuesta por la pintura, por la
JUNIOR; REID, 2017]).
película, por las fotos, y que al poblar los ojos,
llenan de imágenes, expresión de la belleza o De tanto ver triunfar las nulidades; de tan-
de lo terrible. La expresión comunicadora po- to ver prosperar la deshonra, de tanto ver
drá ser propuesta por los perfumes emanados, crecer la injusticia, de tanto ver agigan-
que impregnando los receptores olfativos del tarse los poderes en manos de los malos,
otro, movilizan memorias agradables o sufri- el hombre llega a desanimarse de la vir-
das. Como también la expresión comunicadora tud, a reírse del honor y a tener vergüenza
podrá ser propuesta por los sabores que traen de ser honesto (Trecho del discurso par-
de vuelta momentos de la infancia, de figuras lamentario proferido en el Senado de la
parentales y sus manifestaciones de ternura. República por Rui Barbosa en 1914).
O venir de toques, caricias evocadoras de mo-
mentos dramáticos espeluznantes o deliciosa- La comunicación es lo que mejor expresa el
mente mágicos. proceso de humanización por traducir en pala-
Así, la comunicación se hará por los más bras (habladas, escritas, poéticas, cifras mu-
diversos canales, pero, innegablemente, la Pa- sicales, imágenes, gesticulaciones) lo que la
labra es el vehículo primero que más alcanza, criatura piensa y reflexiona sobre lo reflejado,
más convence y seduce, hipnotiza y arrebata lo que tiene de ideas y lo que con ellas cons-
el alma de los que se sienten principalmente truye, lo que siente y cómo sufre, lo que la emo-
abandonados, incomprendidos, mal amados, ciona y se traduce en vibraciones epifánicas.

30 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


En fin, la comunicación es la marca indeleble calificándolas de incompetentes para dar placer
del ser humano y del cómo hacerse humano. a los compañeros, lo cegó como castigo por su
ignorancia y su estupidez.
¡La quinta dinámica expresa y se ocupa de la
Sabemos que las bendiciones o los castigos
encarnación del Verbo!
infligidos a los personajes, por una divinidad,
3f. La sexta dinámica de conciencia, corres- no pueden ser retirados o negados por otro di-
pondiente al sexto chacra, frontal o del tercer vino y ni siquiera por quien las impuso. Zeus,
ojo (Ãjñã). Llamé de Dinámica de la Videncia o condolido con la condición de Tiresias, le dio el
de la Prevista del Futuro, la cual nos habilitará don de la mántica, con lo que lo transformó en
para divisar las demás dimensiones del Univer- un ciego vidente.
so, además de las tres dimensiones del espacio Yo estaba pensando en eso, hace algunos
ya conocidas y descritas. años (ALVARENGA, 2014), que supuestamente
Buscando en la mítica y en su incontable acer- castigos, a los seres humanos, por lo divino, en
vo de respuestas a las preguntas por nosotros for- última instancia, es una nueva oportunidad al
muladas, nos encontramos con relatos aparente- trillar el proceso de individuación.
mente increíbles, como si los mismos sólo fueran Hera, estructura primordial de la psique,
criaturas del imaginario colectivo. Sin embargo, denuncia la ceguera de Tiresias por no haber
al ocuparnos de la simbología de sus contenidos, constatado, como mujer, cuánto de placer había
verdades impensables se revelan. recibido, así como cuánto había promovido de
El místico Tiresias (BRANDÃO, 1992) así se satisfacción al compañero (ALVARENGA, 2011a).
convirtió en el hecho de haber sido transfor- Tiresias había vivido como mujer, pero no incor-
mado en mujer después de matar a la serpien- poró en sí la sabiduría derivada de la vivencia
te hembra, cuando encontró una pareja de ofi- explícita de lo femenino. Precisaría, pues, descu-
dios copulando. Vive, entonces, plenamente, brir la verdad en una condición viable solamente
como hembra, por siete años. En un segundo por la reflexión introspectiva; nada del mundo vi-
momento, reencontró otra pareja de ofidios en sible debería impedirlo. Así, el aparente castigo
cópula. Intuyó que para recobrar su condición era una dádiva, pues Zeus le dio, como premio,
primera necesitaría matar al macho. Y así lo la posibilidad de la previsión del futuro, o sea,
hizo, volviéndose de nuevo un hombre. En un la videncia.
tercer tiempo, Zeus y Hera entretenidos en una Tiresias explicita su dotación por los alertas
discusión interminable sobre quien promo- dados a sus consultores, proponiendo la posi-
vería mayores placeres al compañero, en los bilidad de que exista más de un futuro posible.
encuentros sexuales: y sin posibilidades de Así, el mántico responde a Liriope sobre su hijo
componer un acuerdo, decidieron convocar a Narciso: "él vivirá si no se ve", o la Tetis sobre el
Tiresias para que les diera un veredicto sobre futuro de Aquiles: "él vivirá por muchos años si
esas cuestiones placenteras, tanto por haber se mantiene como un simple campesino o lejos
sido mujer como por ser hombre. El futuro mís- de las batallas" (BRANDÃO, 1992).
tico, después de escuchar la descripción del Muchos son los otros ejemplos de la actuaci-
impasse entre la pareja olímpica, les respon- ón de magos, videntes y hablantes oraculares en
dió que si el placer se medía de uno a diez, el cuanto a posibles diferentes futuros que cambia-
macho promovería nueve medidas de placer a rían los destinos trágicos.
la mujer y la mujer promovería una medida de El mensaje primordial del relato mítico reside
placer al macho. en la proposición de la existencia de diferentes
Hera, incontinente, ante la descomunal ofen- posibilidades de un ser, que depende de elec-
sa causada por Tiresias a las hembras, como que ciones hechas en momentos cruciales en los

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 31


que se deja la condición de un porvenir probable ¡Quisiera parecer que el proceso de indivi-
para un diferente futuro posible. duación es una demanda imperiosa por la ins-
Los momentos cruciales se traducen, en la re- tauración de un futuro posible diferente de lo
alidad de todos nosotros, como desafíos en los probable, futuro que se adormece en los esce-
que el riesgo de vida (de sí mismo, del hijo, del narios de la psique y que aguarda la emergen-
amado) es inminente, ya sea por procesos físi- cia de la revelación!
cos o psíquicos; o por condiciones de pérdidas Al actualizar la sexta dinámica de conciencia
catastróficas con vivencias de extrema soledad y en nuestro proceso existencial nos volvemos vi-
desamparo; o por realidades invasivas con pér- dentes (ALVARENGA, 2018), impregnados por un
dida de autonomía y libertad; o cuando el otro patrón de inteligencia espiritual que nos hace
de nosotros es robado, secuestrado, abusado... cada vez más “más humanos”, ¡sea por incitar-
Momentos cruciales movilizan angustias, ac- nos a ser la solución de los conflictos, como a
tivan heridas del alma, desencadenan miedos obligarnos a realizar los cambios!
antiguos, desorganizan la vida y piden solucio- La sexta dinámica de conciencia, como to-
nes inmediatas. Sin embargo, estos momentos das las demás, al ser una condición arquetípica,
sufre con los percances de la sombra. “Viden-
también despiertan la fe y las demandas por
tes” son consultados por personas que buscan
constricción, así como evocan recuerdos de
respuestas a sus conflictos y demandas, como
nuestros antepasados creyentes
​​ en el poder de
también son consultados por los buscadores
las oraciones.
de bendiciones electoras. Sin embargo, ningún
Y, he aquí, los “milagros” ocurren trayendo la
consultante pregunta sobre lo que necesita ha-
certeza de que las transformaciones en cuanto a
cer para no ser el conflicto o qué plan de acción
posibles futuros posibles despiertan como reali-
debe componer y ejecutar para llegar a ser mere-
dades, tal vez, nunca antes pensadas por la con-
cedor del futuro.
ciencia. La física cuántica afirma que diferentes
La dinámica de la Videncia y su competencia
futuros posibles aguardan por ser despertados
para divisar posibles diferentes futuros está ínti-
en el momento presente en que los deseamos
mamente ligada al poder de la oración y bajo la
(BRADEN, 2017) expresando la realidad del nue-
regencia del “efecto Isaías” que propone como
vo ser nacido en el que nos convertiremos. Ya oración más poderosa aquella que mentaliza
somos el futuro posible y distanciados nos senti- un futuro diferente de lo probable y que ya es
mos del futuro probable que seríamos. realidad, pues, despertado se hizo por el deseo
Interesante atentar en cuanto a que las re- inquebrantable de la fe. Sin embargo, para al-
clamaciones emergen en el seno de una diná- canzar un futuro diferente de lo probable nece-
mica familiar cuando uno de sus componentes, sitaremos estar en una nueva Ética instituida y
en proceso de análisis, presentando las modifi- fundamentada, a mi entender, en cuatro princi-
caciones derivadas de sus epifanías analíticas, pios, cuales sean: en el Fuego de la más profun-
oye: "¡Usted está muy diferente! ¡Ya no es el da conciencia reflexiva que nos hace reflexionar
mismo! ¿Qué sucedió con usted? ¡Parece que sobre asumir la responsabilidad por todo lo que
no lo reconozco!". nos rodea porque todo tiene que ver con noso-
Y entonces, cuando se atenta a memorias tros; en la Tecknè más inventiva que somos y te-
pasadas, que en realidad son muy recientes, nemos para cambiar nuestro momento histórico;
las personas se sienten tan distantes de lo en la Dikè como conciencia plena del sentido de
que fueron, se sienten diferentes, asustadas la justicia para todos y con todos; y, finalmente,
con lo que hacían, consentían o dejaban pa- en la plena virtud de la ayuda que nos conduce
sar, sin contestaciones. a realizar y hacer lo que somos de mejor para el

32 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


otro, quienquiera sea y para el bien común (AL- el Otro y responsables para que el Otro también
VARENGA, 2011b). alcance esa plenitud.
Por lo tanto, próximos estaremos de la sépti-
ma morada, de la séptima dinámica de concien- ¡La séptima dinámica expresa y se ocupa de la
cia y allí nos aguarda la ceremonia ritualística de coniúntio con el Self!
la coniúntio con la divinidad, según el supuesto
de D'Ávila (1981), o la ceremonia ritualística de la 4. Desafíos a ser enfrentados en las
coniúntio con el Self, las proposiciones de Jung,
siete dinámicas de conciencia
con lo que el autoconocimiento se hace, meta
La conquista del proceso de individuación y
mayor del proceso de individuación.
el alcanzar el autoconocimiento, como conse-
La competencia para transitar entre esas di-
cuencia de la coniúntio con el Self, implica ser
mensiones será ideal a alcanzar. Tanto la quin-
Uno con Él, y será logrado tras la superación de
ta dinámica como la sexta confieren a quienes
los desafíos de esas varias Dinámicas.
las conquistan un poder fabuloso que dificulta
Los desafíos a ser superados, tanto los ya
en mucho la confrontación con la Sombra y re-
relatados como los por relatar, se refieren a las
presenta una defensa de acomodación por la
ofensas o crímenes cometidos según los referen-
reanudación del ejercicio del poder por ellas
tes respectivos de esas dinámicas y de cómo nos
conferido. La propia D’Avila relata en su texto
conducimos ante ellos, por lo tanto:
(1981) las dificultades crecientes que el alma
experimenta a medida que avanza por las mo- 4a. El crimen, ofensa, agravio, cuando come-
radas del castillo. Estas dos dinámicas repre- tido bajo la vigencia de la Dinámica Urobórica
sentan grandes dificultades para el logro del clama por Acogida a fin de que el cuerpo que
proceso de individuación. gesta acepte lo diferente en sí y asuma el de re-
Hay que recordar no tener las diferentes diná- ceptáculo de la sacralidad de la Existencia. En la
micas un carácter secuencial, pues pueden ocur- ausencia de ello la Vida corre peligro. Cuando el
rir, tanto la quinta como la sexta, en una condici- cuerpo gestante no acoge al gestado, concurre
ón eventual, expresando momentos de sabiduría para romper la unidad original, lo que implicará
no inteligibles para quienes las enuncia. La fija- en la imposibilidad de mantener el proceso que
ción defensiva en cualquiera de ellas es posible, compone al nuevo Ser.
y puede impedir el caminar hacia el Self. 4b. El crimen, ofensa, agravio, cuando come-
La videncia implica la anticipación de futuro tido bajo la vigencia de la Dinámica Matriarcal
y configura la mejor y la mayor oportunidad para exige Venganza hacia el ofensor o sus familiares.
divisar el camino para la individuación. En ese caso, dicha dinámica se dará bajo la vi-
gencia de las Furias, diosas de la venganza de la
¡La sexta dinámica expresa y se ocupa de la
sangre parental derramada, que exigen que se
previsión del futuro!
pague la muerte con la misma moneda pues la
3g. La séptima Dinámica de Conciencia, real- Vida es soberana.
mente de carácter Cósmico o de Totalidad, [de- 4c. El crimen, ofensa, agravio, cuando cometi-
nominación anterior usada por Byington (1983) do bajo la vigencia de la Dinámica del Padre, pide
para nominar la actual cuarta dinámica] corres- Justicia en contra del ofensor, la cual será ejercida
ponde al séptimo chacra, coronario (Sahasra), por el Estado de Derecho establecido por los cá-
y representa la condición plena de la conquista nones de los Códigos Morales de la comunidad.
del proceso de individuación. Propongo que se 4d. La relación simbólica establecida por
llame dinámica de la comprensión universal. la cuarta dinámica será siempre de lealtad y
Ella confiere la conciencia plena de ser Uno con fidelidad hacia el otro. De ese modo, crimen

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 33


en dicha dinámica configura traición a ese bi- El ejercicio del perdón, restaurativo de las re-
nomio que compone la relación simétrica entre laciones, condición histórica propuesta por Nel-
el uno y el otro, distintos entre sí. El crimen, son Mandela en la promoción de una política de
ofensa, agravio, cuando cometido bajo la vi- reconciliación nacional en África del Sur, decurre
gencia de la Dinámica del Encuentro, insta al del presupuesto filosófico del ejercicio del Ubun-
ofensor el Reconocimiento de la acción practi- tu y, sobretodo, del ejercicio del perdón implica
cada y la Responsabilidad por el acto cometi- saberse uno con la comunidad.
do. La condición de reconocer y confesar la ac- Ubuntu es una filosofía africana cuyo signifi-
ción, asumiendo la responsabilidad, reclama cado se refiere a la Humanidad hacia los demás.
un carácter público. Se vuelve realidad como Es un concepto amplio sobre la esencia del ser
consecuencia del diálogo establecido entre el humano y la forma como se comporta en socie-
reo y el ofendido o entre el reo y el pariente dad. Para los africanos, Ubuntu es la capacidad
más próximo de la víctima. El reconocimien- humana de comprender, aceptar y tratar bien
to público por la responsabilidad del agravio al otro, idea semejante a la de amor al prójimo.
contra el ofendido apacigua el psiquismo de Ubuntu significa generosidad, solidaridad, com-
la víctima y/o del familiar. Esa condición de pasión hacia los necesitados, y el deseo sin-
reconocimiento y responsabilidad no excluye cero de felicidad y armonía entre los hombres.
el ejercicio de la Justicia por el foro del Esta- (Https://pt.wikipedia.org/wiki/Ubuntu_(filosofia)
do. Sin embargo, ese ejercicio se debe llevar a 4e. El crimen, ofensa, agravio, cuando co-
cabo siempre que haya anuencia entre los pa- metido bajo la vigencia de la Dinámica de la
res involucrados, o sea, entre víctima y ofen- Comunicación insta Congruencia entre lo que
sor. Es importante recordar que las demandas se dice y lo que se hace, y Complacencia hacia
de venganza estarán siempre presentes en la el otro. La condición de oír en un proceso de
psique, aunque no siempre de forma explícita. análisis tiene que ver más con las vibraciones
Es fundamental que se conciencie que la de- emitidas por el cliente que con lo realmente
manda de venganza es una realidad primordial verbalizado. Hablar y hacerse entender, oír
arquetípica, presente en todos los seres hu- y comprender o aún, ser complaciente hacia
manos. Dicha conciencia es fundamental para el otro, demanda: coherencia, generosidad,
que la venganza no sea ejercida por la som- acogida, integridad y ética. El don del habla,
bra (ALVARENGA, 2012). De ese modo, cuando entre el decir lo que el otro necesita oír y lo
se comete un crimen contra la víctima (o sus que le gustaría oír representa una capacidad
familiares y agregados) bajo la vigencia de la asustadoramente propensa al desarrollo som-
Dinámica del Encuentro, lo que se propone y brío. ¡Cuanto más nos acercamos a la séptima
se ruega es el ejercicio del Perdón. dinámica más somos tentados a abandonar
La condición de ejercer el perdón tras los el camino que conduce al Self! En cambio, la
actos de agravio implica una relación entre Dinámica de la Comunicación cuando ejercida
ofensor y ofendido en la que el reconocimien- en su plenitud mayor no sólo corresponderá
to y la responsabilidad ya se hayan estable- a la comprensión de lo comunicado, sino que
cido. El perdón, cuando bien ejercido es un también la voz sabrá vibrar en sintonía con el
fenómeno que decurre de una certidumbre Otro, creando resonancias de cura.
oriunda de lo más profundo del ser. El perdón 4f. El crimen, ofensa, agravio, cuando come-
no es una actitud egoica, sino del Self y recla- tido bajo la vigencia de la Dinámica de la Visión
ma por reciprocidad entre ofensor y ofendido, y/o de la Videncia reclama Templanza para con-
y viceversa. sigo mismo en el sentido de no vacilar ante las

34 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


demandas del Self, con determinación continua convertirnos en Unos con la Totalidad, actuare-
y constante para no perderse de la meta mayor. mos a través del Amor al Otro, vibrando y men-
4g. El crimen cuando cometido bajo la vigen- talizando el restablecimiento de la armonía,
cia de la Dinámica de la Comprensión Universal los fenómenos de guerra, hambre, violencia,
implica, al sujeto conocedor del crimen, saberse conquista del poder y tantas otras aberraciones
como kainos Anthropos. El mayor crimen de esa cometidas por los desvaríos de nuestra condi-
dinámica será traicionar el proceso de individu- ción primordial, arquetípica, no humanizada,
ación, negándose voluntariamente a caminar habrán realmente acabado.
hacia el Self. Cuando un agravio es practicado Alcanzar la plenitud de la Conciencia Univer-
por cualquiera y el sujeto toma conocimiento del sal nos hará totalmente humanos, desapegados
hecho, se convierte en parte del proceso y, para de las posesiones, por conocernos perecederos,
tanto, responsable por el agravio. La conciencia conscientes de que venimos de la tierra y a ella
de ser responsable por dicho agravio lo hace volveremos. La trascendencia tan deseada de
partícipe del proceso una vez que el sujeto y el ser en la Unidad no significa sobrepasar a la Hu-
Universo son Unos. Asimismo, la necesidad de manidad. Trascender será superar nuestra con-
restaurar la armonía se presenta y se hace nece- dición arquetípica primordial para tornarnos la
sario que el sujeto - también responsable, en la plenitud de la condición humana, alcanzando la
condición de partícipe del crimen cometido – se entereza del ser, sin las escisiones, sin los des-
rinda al Self, y pueda perdonarse a sí mismo bien
varíos, sin las extemporaneidadesde Poseidón,
como al otro, amándose a sí mismo y al otro, pu-
sin las demandas de venganzas de las Furias, sin
rificándose de la desarmonía que lo destroza,
la rigidez de Apolo y la astucia engañosa de Her-
compitiendo para que la armonía en el otro se
mes, sin el anhelo de poder de los "Zeuses", que
(re) instaure. Purificarse implica cuidar del otro
se intitulan divinos, sin la sed guerrera de las
en sí mismo. De esa forma, cuando un crimen es
Atenas y de los Ares y sin tantas otras conductas
cometido en esa dinámica, lo que se pide es te-
arquetípicas que nos componen.
ner y ser Amor, Amor por el otro y por sí mismo
Cuando Moisés convocó al pueblo judío a
(proposición inspirada por el Ho´oponopono).
abandonar Egipto –donde se hallaba en la con-
Hay que convenir que cuando estemos bajo
dición de esclavo –y caminar hacia el encuen-
la vigencia plena del Encuentro, con sus presu-
tro con Dios, buscando la tierra prometida, el
puestos de Reconocimiento de la acción y Res-
fenómeno se volvió conocido como "Exodus”,
ponsabilidad por el acto cometido, debemos
o sea, abandonar el lugar estrecho donde uno
actuar por la consigna del Perdón, trabajando
ya no cabe.
por un bien mayor; asimismo, al estar bajo la
Estamos realizando un nuevo Exodus cuando
vigencia de la Dinámica de la Comunicación
Universal debemos buscar congruencia entre lo caminamos hacia la Dinámica Universal, ins-
dicho y lo hecho, siendo complacientes con el pirados por la condición esencial del Amor y la
otro; por fin, cuando nos mantengamos diligen- aceptación plena del otro, cualquiera que sea,
temente en la actividad de trabajo y determina- sin condenaciones. Aceptar al otro sin evaluacio-
ción para no perdernos de la meta mayor, en- nes condenatorias implica acogernos por entero.
tonces sí alcanzaremos la Dinámica Universal. La realización de este nuevo Exodus significa ha-
Al alcanzarla, conscientes de sus presupuestos cernos libres. ■
de reconocerse y saberse responsable del agra-
vio cometido por cualquiera, y por conocernos y Recebido em: 30/08/2018 Revisão: 12/12/2018

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 35


Resumo

As sete dinâmicas de consciência, a hominização, a inteligência espiritual e o


processo de individuação
Este artigo propõe a existência de sete dinâmi- regentes da personalidade humana, a par de tecer
cas de consciência, e não somente as quatro atual- comentários sobre aspectos da sétima dinâmica
mente descritas pela Psicologia Analítica. A par da que passo a nominar como da Compreensão Uni-
proposição de sete dinâmicas, teço comentários versal. As dinâmicas elencadas são: da Origem ou
sobre a inteligência espiritual e sobre o processo Urobórica, sob a regência do arquétipo da Nature-
de hominização, dados esses que concorreram za Divina; do Feminino ou da Grande Mãe, sob a
para a proposição das sete dinâmicas de Consciên- regência do arquétipo da Deusa Mãe; do Masculino
cia. Alguns dados aqui presentes foram apresenta- ou do Pai, sob a regência do arquétipo do Deus Pai;
dos no VIII Congresso Latino Americano de Psicolo- do Encontro, sob a regência do arquétipo da Coni-
gia Analítica –julho de 2018, em Bogotá-Colômbia unctio; da Comunicação, sob a regência do arquéti-
sob o nome de "As sete Dinâmicas de Consciência". po do Verbo encarnado; da Vidência ou Antevisão
O texto atual foi acrescido de descrições pormeno- do Futuro, sob a regência do arquétipo da Profecia;
rizadas das novas dinâmicas propostas como com- da Compreensão Universal, sob a regência do ar-
ponentes do elenco de dinâmicas de consciência quétipo da Totalidade. ■

Palavras-chave: inteligência espiritual, processo de hominização, sete dinâmicas de consciência, processo de


individuação.

Abstract

The seven dynamics of consciousness, hominization, spiritual intelligence and


the individual process
This article proposes the existence of seven sonality, as well as commentaries on aspects of the
dynamics of consciousness, and not only the four seventh dynamism which I shall now call Universal
currently described by Analytical Psychology. Along Understanding. The dynamics listed are: Origin or
with the proposition of seven dynamics, I comment Uroboric, under the regency of the archetype of the
on spiritual intelligence and the process of homini- Divine Nature; of the Feminine or of the Great Moth-
zation, data that contributed to the proposition of the er, under the regency of the archetype of the Mother
seven dynamics of Consciousness. Some data pre- Goddess; of the Masculine or of the Father, under the
sented here were presented at the VIII Latin Amer- rule of the archetype of the Father God; of the Meet-
ican Congress of Analytical Psychology - July 2018, ing, under the regency of the Coniunctio archetype;
in Bogota-Colombia under the name of “The Seven of the Communication, under the rule of the arche-
Dynamics of Consciousness”. The present text has type of the Incarnate Word; of the Seer or Prevision of
been supplemented by detailed descriptions of the the Future, under the rule of the archetype of Prophe-
new dynamics proposed as components of the list of cy; of Universal Understanding, under the regency of
regent consciousness dynamics of the human per- the archetype of Wholeness. ■

Keywords: spiritual intelligence, process of hominization, seven dynamics of consciousness, process of individuation.

36 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Referência
ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de todos os tempos. CHARDIN, P. T. O fenômeno humano. São Paulo:
São Paulo: Escuta, 2017. Cultrix, 1995.

ALVARENGA, M. Z. Os Deuses castigam? Mitologia e psico- CORDEIRO, A. M. A fala encantada da anima, Sharazade e
patologia simbólica. eBook Kindle. 2016. o Sultão. In: ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de
todos os tempos. São Paulo: Escuta, 2017. p. 86-93.
ALVARENGA, M. Z. A dinâmica do coração: do herói dever,
heroína-acolhimento para o herói-heroína-amante-amado. D´ÁVILA, S. T. As moradas do castelo interior. São Paulo:
Junguiana, São Paulo, n. 18, p. 133-52, 2000. Paulus, 1981.

ALVARENGA, M. Z. A vida na coniunctio Zeus-Her: a morte DIONNE JUNIOR, E. J.; REID, J.-A. Nós somos a mudança
na separatio Eco-Narciso. Junguiana, São Paulo, v. 29, n. 2, que buscamos: discursos de Barack Obama. Rio de Janeiro:
p. 129-6, nov. 2011a. BestSeller, 2017.

ALVARENGA, M. Z. As sete dinâmicas de consciência: a DISCURSO de Rui Barbosa no Senado em 1914. Disponível
hominização, inteligência espiritual e o processo de individu- em: <http://fabioibrahim.blogspot.com.br/2012/10/discur-
ação. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PSICOLOGIA so-de-rui-barbosa-no-senado-em 1914.html>. Acesso em:
ANALÍTICA, 8., 2018, Bogotá Colômbia, 2018. Anais... São 26 jan. 2017.
Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 2018.
INTERNATIONAL STANDARD BIBLE ENCYCLOPEDIA
ALVARENGA, M. Z. O encontro de Prometeu, Héracles e ONLINE. Man; Disponível em: <http://www.interna-
Quiron: a morte e o morrer, ritos de passagem. Junguiana, tionalstandardbible.com/M/man-new.html>. Acesso
São Paulo, v. 29, n. 1, p. 58-65, jun. 2011b. em: jan. 2017.

ALVARENGA, M. Z. O primeiro tribunal de júri. Junguiana, McTAGGART, L. O campo: em busca da força secreta do
São Paulo, v. 30, n. 2, p. 129-35, jul.-dez. 2012. Universo. São Paulo: Roco, 2004.

ALVARENGA, M. Z. Por que os deuses castigam? São Paulo: MOORE, K. Embriologia clínica. São Paulo: Elsevier, 2016.
Casa do Psicólogo, 2014.
MURRAY, L.; ANDREWS, L. The social baby. Richmond: The
ARAUJO, C. A. Arquétipos e complexos: vida pré-natal e primeiríssi- Children´s Project, 007.
ma infância. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PSICOLO-
GIA ANALÍTICA, 8., 2018, Bogotá Colômbia, 2018. Anais... São SHELDRAKE, R. Ressonância mórfica & a presença do
Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 2018. passado. São Paulo: Instituto Piaget, 2016.

BONDER, N. A alma imoral. Rio de Janeiro: ROCCO; 1998. WIGGLESWORTH, C. Las 21 aptitudes de la inteligencia
espiritual: un paso más allá de la inteligencia emocional.
BRADEN, G. O efeito Isaias: decodificando a ciência perdida (Spanish Edition) (Locais do Kindle 3756). México: Penguin
da prece e da profecia. São Paulo: Cultrix, 2017. Random House, 2012.

BRANDÃO, J. S. Dicionário mítico-etimológico. Petrópolis: WIKIPEDIA. Ubuntu (filosofia). Disponível em: <https://
Vozes, 1992. Vol. 2. pt.wikipedia.org/wiki/Ubuntu_(filosofia)>. Acesso em:
20 jul. 2016.
BYINGTON, C. A. B. O desenvolvimento simbólico da
personalidade: os quatro ciclos arquetípicos. Junguiana, São ZOHAR, D., MARSHALL, I. A inteligência espiritual. Rio de
Paulo, v. 1, p. 8-63, 1983. Janeiro: Best Seller, 2016.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 37


38 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018
Junguiana
v.36-2, p.39-46

O erro na psicologia analítica:


sombra ou luz?

Aurea Afonso M. Caetano*

Resumo Palavras-chave
A autora resgata a noção do erro na psico- Encontro
logia analítica, revisitando o trabalho inicial de analítico,
Jung no teste de associação. Busca compreender erro, teste de
associações,
o que sustenta o processo analítico, tanto do
neurociências,
ponto de vista da psicodinâmica quando dos
inter-relação,
novos modelos de funcionamento cerebral como sintoma e
propostos pelas neurociências. Discute em que cura.
medida a busca do certo, do modelo ideal, pode
impedir o desenvolvimento propondo que nosso
trabalho enquanto psicoterapeutas seria possi-
bilitar a formação de um campo favorável à (re)
construção do movimento intrapsíquico, e não
corrigir “erros” introduzindo a importante dis-
criminação entre to cure e to heal. ■

* Aurea Afonso M. Caetano, psicóloga, filiada à SBPA, mestre


em Psicologia Clínica, pela PUC-SP.
E-mail: <aureacaetano@uol.com.br>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 39


Junguiana
v.36-2, p.39-46

O erro na psicologia analítica: sombra ou luz?

1. Introdução que expressam a necessária polaridade


Sabemos da importância do trabalho com o inerente a todo sistema autorregulado.
“teste de associação de palavras” para o desen- Não podem ser solucionados, apenas ul-
volvimento do conceito de complexo na psicolo- trapassados. Portanto, me pergunto esta
gia junguiana e encontramos nele a questão do ultrapassagem, esta possibilidade de
erro como possibilidade e condutor na constitui- maior desenvolvimento psíquico, não é o
ção psíquica. Erros ou falhas, considerados irre- normal e ficar preso a um conflito é o pa-
levantes ou descartáveis nas análises iniciais dos tológico (JUNG, 1973, par. 18).
resultados dos testes de associação, abrem ca-
minho para que Jung, em sua genial curiosidade, Jacobi (1990, p. 31) afirma que: “Somente um
intuísse ali o que mais tarde vai chamar de cami- número individualmente limitado de complexos
nho ou “via régia para o inconsciente, arquiteto é que sempre poderá ser conscientizado. O res-
de sonhos e de sintomas” (JUNG, 1981, par. 210) tante permanecerá como ‘ponto nodal’ ou ‘ele-
Tal qual fendas geológicas mostrando cama- mento nuclear’”. Jung, indo além, afirma: “Estou
das profundas da terra, assim também as falhas inclinado a pensar que os complexos autônomos
no teste de associação funcionaram como aber- estão entre os fenômenos normais da vida e que
turas para a compreensão das expressões mais eles são parte da estrutura da psique incons-
profundas da psique propiciando a formulação ciente” (JUNG, 1981, par. 218).
do conceito de complexo de tonalidade afetiva Uma análise junguiana explora os processos
(CAETANO; MACHADO, 2018). que acontecem no encontro entre duas pessoas
A atitude junguiana observa inúmeros fenô- e cada encontro é sempre um novo encontro.
menos sem estabelecer entre eles uma hierar- Somos, enquanto terapeutas, ao mesmo tempo,
quia. Desta maneira, podemos pensar com Jung únicos e iguais; para cada cliente que atende-
que o erro ou defeito tem seu espaço, lugar e é mos, aspectos diversos de nossa personalida-
estruturante. Deformidades, defeitos e falhas de podem ser constelados a cada momento;
são elementos constitutivos de nossas psiques. cada processo é singular e individual. E o que
Podem ser considerados “pontos nodais”, “ele- fazemos nós senão tentar, através de palavras,
mentos nucleares” que pertencem à matriz eter- metáforas, analogias e parábolas expandir nos-
na de cada psique humana. Aproximando es- so conhecimento, criar novas possibilidades de
ses defeitos e falhas do conceito de complexo, compreensão? Circum-ambulação – ir dando a
pensamos, com Jung, que são “focos e nós da volta ao símbolo na tentativa de compreendê-lo
vida psíquica, sem os quais ninguém gostaria cada vez melhor; aumento da rede de significa-
de passar e que não devem faltar ou a vida psí- dos: tem sido esta nossa tentativa.
quica chegaria a um tipo de paralisação” (JUNG, Poderemos utilizar o conhecimento atual das
1990, par. 925). Focos e nós, como veremos, são neurociências para ampliar o conhecimento de
importantes na medida em que provocam movi- nosso campo de trabalho, buscando novos sím-
mento, transformação. bolos para falar de nossos enigmas?

[...] aprendi que os maiores e mais im- 2. Psicologia Analítica e Neurociências


portantes problemas da vida são funda- Schore (2012), estudioso da neurobiologia
mentalmente insolúveis. Devem ser, por- da psicoterapia, afirma que as intervenções te-

40 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.39-46

rapêuticas se baseiam em processos dinâmicos imprecisa esfera de inconsciência. Esta é


e implícitos de relacionamento. A informação da a razão por que muitas vezes a personali-
comunicação inconsciente não verbal no relacio- dade do médico é infinitamente mais im-
namento de psicoterapia tem papel essencial; portante para um tratamento psíquico do
as comunicações, implícitas na relação terapeu- que aquilo que o médico diz ou pensa...
ta-paciente, transmitem mais do que verbaliza- (1985, p. 163).
ções conscientes. A psicoterapia é capaz de pro-
mover modificações tanto nas funções quanto Cozolino (2006, 2010, 2013, 2016) vem
na estrutura psíquica, mesmo em estágios mais pesquisando a neurociência da psicoterapia e
avançados do desenvolvimento. diz que no cerne da interface entre estas duas
Schore concorda com a ideia de que quanto áreas está o fato de que a experiência huma-
mais o terapeuta facilita a experiência/expres- na é mediada por dois processos que intera-
são afetiva de seus pacientes em psicoterapia, gem entre si. O primeiro deles é a expressão
mais os pacientes mostram mudanças positi- de nosso passado evolutivo pela organização,
vas e que esta facilitação afetiva é um preditor desenvolvimento e funcionamento do sistema
poderoso do sucesso do tratamento. O papel nervoso – um processo que resultou em bi-
essencial do cérebro direito (sua terminologia) lhões de neurônios se organizando em redes
no “processamento inconsciente do estímulo neuronais, cada qual com seu próprio tempo
emocional” e na “comunicação emocional” é e necessidades para crescimento. O segundo
diretamente relevante aos modelos clínicos re- processo é a configuração contemporânea de
centes de “inconsciente afetivo” e “inconscien- nossa arquitetura neural dentro do contexto
te relacional” onde “uma mente inconsciente dos relacionamentos humanos. O cérebro é
se comunica com outra mente inconsciente” um “órgão social de adaptação”, estimulado a
(SCHORE, 2012). crescer através de interações positivas e nega-
Schore conclui que o cérebro direito é domi- tivas com os outros (Cozolino, 2006). Pensar
nante no tratamento e que a psicoterapia não é a no passado evolutivo é também poder pensar
cura pela fala, mas a cura pelo afeto. A comuni- com Jung quando este afirma:
cação cérebro direito-cérebro direito representa
a possibilidade de interações entre os sistemas A psique não é de hoje; sua linhagem re-
inconscientes primários do paciente e do tera- monta a alguns milhões de anos. A consci-
peuta, e que a “cognição de processo primário” ência individual é, apenas, a flor e o fruto
é o maior mecanismo comunicativo de incons- de uma estação, brotam do rizoma perene
ciente relacional. Mais do que o afeto empáti- sob a terra; e estaria mais de acordo com
co, sintonia e contato profundo são necessários a verdade se levasse em conta a existên-
para uma progressão terapêutica mais ampla. cia do rizoma. Porque a matéria raiz é a
Da mesma forma, afirma Jung: mãe de todas as coisas (1990, p. xxiv).

Nenhum artifício evitará que o tratamen- De acordo com Cozolino, no coração da psi-
to seja o produto de uma interação entre coterapia está a compreensão das forças entre-
o paciente e o médico, como seres intei- laçadas da natureza e da criação, o que dá certo
ros. O tratamento propicia o encontro de e errado no seu desenvolvimento e desdobra-
duas realidades irracionais, isto é, de mento, e como restabelecer o funcionamento
duas pessoas... que trazem consigo não neural saudável. Segundo este autor, os genes
só uma consciência, que talvez possa ser fornecem a organização das estruturas unifor-
definida, mas, além dela, uma extensa e mes do cérebro. Estruturas e funções uniformes

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 41


Junguiana
v.36-2, p.39-46

são herdadas através do nosso DNA e compar- com o reino do implícito, predominantemente
tilhadas por todos os membros saudáveis de ​​ afetivo, que surge do hemisfério direito a partir
nossa espécie, aspecto da herança genética tra- da afetividade e interatividade experienciadas
dicionalmente pensada como “natureza”. Mas é entre paciente e terapeuta. O outro aspecto
através da tradução da experiência em estrutu- diz respeito ao trabalho com os conteúdos ex-
ras neurobiológicas que a natureza e a criação plícitos, que surgem do hemisfério esquerdo,
tornam-se um só (COZOLINO, 2006, p. 6), em um predominantemente cognitivo, trabalho este
processo que, este autor, vai depois chamar-se manifestado através das interpretações. A in-
“alquimia bioquímica”: terpretação sozinha, no entanto, não é o bas-
tante para reparar danos nas estruturas implí-
[...] a experiência molda a arquitetura de citas da mente; a sintonia afetiva baseada na
nossos sistemas neurais, tornando cada contratransferência empática é o único agente
cérebro uma mistura única de nossa his- que irá proporcionar compreensão para o te-
tória evolutiva compartilhada e nossas rapeuta, e pode levar a mudanças na mente
experiências individuais. Assim, nossos do paciente.
cérebros são construídos na interface de Esta autora afirma que o foco da terapia de-
experiências e de genética, onde a nature- veria ser “facilitar uma coordenada integração
za e a educação se tornam um (COZOLINO, entre a memória relacional, explicita e implícita,
2013, p. 15,16). e saber como se manifesta em imagens, sonhos,
histórias e narrativas, bem como na relação ana-
Ainda de acordo com Cozolino: como o lítica” (WILKINSON, 2010, p. 85).
afeto é repetidamente trazido para a relação
terapêutica, o cliente internaliza gradualmen- 3. Sobre o trabalho analítico
te essas habilidades ao esculpir as estruturas
neurais necessárias para autorregulação. Em Uma vez que psique e matéria são conti-
um nível neurológico, isso equivale à integra- das em um e no mesmo mundo, e mais
ção e comunicação de redes neurais dedicadas ainda estão em contínuo contato uma
à emoção, cognição, sensação e comporta- com a outra [...] é não apenas possível,
mento e um equilíbrio adequado entre excita- mas muito provável, que psique e matéria
ção e inibição. Nós psicoterapeutas estimula- sejam dois aspectos de uma e mesma coi-
mos a neuroplasticidade e integração neural; sa (JUNG, 1981, par. 418).
orientamos nossos pacientes entre pensa-
mentos e sentimentos, tentando ajudá-los a O que acontece no “bordo”, na fronteira, ou
estabelecer novas conexões entre os dois e os na transição entre polos do espectro? Espaço
ajudamos a alterar a sua descrição de si e do de criação do simbólico e da cultura; espaço de
mundo, incorporando uma nova consciência e encontro com o outro. Estabelecimento de pon-
incentivando uma melhor tomada de decisão; tes? “Elas pressupõem a presença do ‘outro’,
possibilitando a criação de novas narrativas de um ‘aqui’ e um ‘lá’, de um ‘agora’ e um ‘en-
(COZOLINO, 2016). tão’, de um ‘este lado’ e ‘outro lado’” (GORDON,
Corroborando e ampliando estas ideias, 1993, p. 4); uma ponte separa e une, atua como
Wilkinson (2006, 2010) sugere que o processo fronteira; pressupõe separação e unidade, sem
psicoterapêutico é como uma dupla hélice, na isolamento ou ruptura; significa contato e co-
qual as interações entre os dois lados do cére- municação entre o que permanece separado e
bro se entrelaçam, de modo a formar um todo. distinto”. Há fronteiras, não barreiras. Há sem-
Afirma que um dos aspectos da terapia é lidar pre a possibilidade de mudança, movimento e

42 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.39-46

também tensão, incerteza, dialética. Onde há serviço do encontro analítico. Para a psicologia
uma ponte há a possibilidade de criação de um analítica, a dupla de trabalho é composta por
terceiro (GORDON, 1993, p. 7). dois seres humanos em constante interação
A terceira área, área da ilusão, área da expe- consciente, mas também inconsciente (ideia
riência, que, segundo Winnicott, se localiza no esta que tem sido corroborada pelos estudos
espaço potencial existente entre o indivíduo e o em neurociência). A pessoa ou personalidade do
meio ambiente, aquilo que, de início, tanto une terapeuta tem tanta importância quanto à do pa-
quanto separa o bebê e a mãe. Área que se de- ciente neste trabalho.
senvolve a partir da experiência do bebê com o Na análise relacional trabalha-se com a no-
objeto transicional, “primeiro ato criativo”, fon- ção de uma realidade construída na relação,
te do brincar, da criatividade, do simbolismo, ou seja, não há uma verdade a ser descober-
do simbólico. ta ou compreendida no processo analítico. O
E, afirmando com Gordon podemos dizer que passado é revisto e reconstruído na relação
é nessa “área da ilusão” de Winnicott, que o hí- terapeuta-paciente, transformando o presente
brido, o processo arquetípico interage com as e abrindo novas possibilidades para o futuro.
funções psicológicas através das quais conhece- Em Jung a verdade surge a partir do processo
mos a realidade (GORDON, 1993, p. 112). Espaço de resolução da dialética dos opostos, proces-
potencial como espaço de transição, de ocupa- so psíquico incessante e natural que acontece
ção, de construção do novo, do diferente e do na relação do sujeito consigo mesmo e com
individual; espaço no qual o original e o atual, o mundo, portanto também com o terapeuta.
a tradição e a modernidade, o arquétipo, híbrido Segundo Jung, “Uma verdade é uma verdade
entre natureza e cultura, pode ser “atualizado” quando funciona”.
espaço de criação do novo e da cultura, possibi- Então, pensando sobre o que é o real, para
lidade de surgimento da função simbólica. cada cultura, em cada época, tal como pro-
posto pelos Upanishades, propomos que é no
Criando todas as coisas, ele entrou em tudo verdadeiro encontro analítico, no momento
Entrando em todas as coisas, tornou-se o de encontro, no terceiro analítico, através da
Que tem forma e o que é informe; tornou-se apercepção criativa, segundo Winnicott, que
O que pode ser definido e o que não pode o indivíduo sente que a vida é digna de ser
ser definido; vivida (WINNICOTT, 1991, p. 71) e que o real
Tornou-se o que é grosseiro e o que é sutil. pode ser “construído”. Este espaço potencial
Tornou-se toda espécie de coisas: por pode ser visto como sagrado para o indivíduo,
isso os sábios chamam-no o real porque é aí que experimenta o viver criativo.
(Upanishades). E o que seriam então os erros e defeitos ou,
perguntando com Winnicott: sobre o que versa
E como exercemos nossa subjetividade? a vida? Afirma ele que “podemos curar nosso
Winnicott afirma que “a psicoterapia é efe- paciente e nada saber sobre o que lhe permite
tuada na superposição de duas áreas lúdicas, a continuar vivendo” (WINNICOT, 1991, p. 100) e
do paciente e a do terapeuta. Se o terapeuta não então como podemos ser facilitadores no ca-
pode brincar, então ele não se adequa ao tra- minho pela busca do sentido?
balho” (WINNICOTT, 1991, p. 80).. E o que seria Gordon (1993) nos mostra uma importan-
esse brincar para nós, terapeutas junguianos? te diferença etimológica entre dois vocábulos
Seria a possibilidade de “folgar” em nossa utilizados na língua inglesa, que são traduzi-
própria subjetividade exercitando em toda ple- dos da mesma forma em português to cure e to
nitude nossa equação pessoal colocando-a a heal. Sua história, no entanto, é bem diferente:

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 43


to cure vem da palavra latina curare e signifi- 4. Conclusão
ca “‘tomar conta de’ ou em inglês ‘to take care Desta forma, propomos que aceitar os erros
of’” e também “tratamento médico bem-suce- e defeitos, encontrando um lugar possível para
dido”. Já o vocábulo to heal é uma palavra an- eles na psique de nossos pacientes (e antes de
tiga na língua inglesa e relacionada à palavra tudo em nossas próprias psiques), podem favo-
Holy ou “sagrado” e ainda “inteiro”. Esta autora recer o processo de healing no sentido do pro-
propões então o uso da palavra ‘cure’ ao nos cesso de individuação ou de caminho em direção
referirmos ao processo de “tomar conta de” sin- à inteireza do ser. Estamos ainda desenvolvendo
tomas específicos e funcionamentos inadequa- a proposta radical de Jung da necessidade de
dos e da palavra heal ao processo de evolução criar uma psicologia culturalmente sensível; tal-
da totalidade de um organismo em direção a vez o mais difícil, seja aceitar o fato de que cada
época tem a sua própria “leitura de mundo”; e
uma mais complexa inteireza.
uma não é melhor que a outra. Samuels (2014)
Parte de nosso trabalho tem a ver com a
fala sobre a necessidade de abandonar uma psi-
remoção dos sintomas, usualmente sinais de
cologia colonial em que há um “tamanho único”
que algo naquela personalidade não vai bem,
(SAMUELS, 2014, p. 652) ou, uma única verdade.
e a consequente liberação da energia psíqui-
Apenas através da relação dialética cons-
ca facilitando um funcionamento psicológico
ciente-inconsciente, da construção de pontes,
mais adequado. Jung oferece um novo olhar à
da ocupação da “terceira área”, espaço transi-
função do sintoma, afirmando que ele pode ter cional pode o homem dar sentido ao mundo, ao
uma função estabilizadora no sentido de tentar seu mundo e viver uma vida que tenha, para ele,
manter uma homeostase anterior; antes de algo um significado pleno.
a ser retirado ou curado o sintoma pode ser vis-
to como símbolo, como possibilidade criativa O senhor... mire, veja: o mais importante e
daquela psique. Afirmava que não deveriam ser bonito, do mundo, é isto: que as pessoas
necessariamente resolvidos, mas compreen- não estão sempre iguais, ainda não foram
didos, ampliados e vistos como essenciais no terminadas – mas que elas vão sempre
processo de individuação do sujeito. Compre- mudando. Afinam ou desafinam, verda-
endemos que os erros ou defeitos, desta for- de maior. É o que a vida me ensinou. Isso
ma compreendidos, podem abrir campo para a que me alegra montão
aceitação da crise e para a entrada em contato (Guimarães Rosa). ■
com o que ela pode representar e/ou o caminho
que pode através dela ser indicado. Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

44 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Abstract

Error in analytical psychology: shadow or light?


The author rescues the notion of error in an- extent, the search for the right, the ideal model
alytical psychology, revisiting Jung’s early work can inhibit development; proposes that our work
on the word association test. She tries to under- as psychotherapists is to enable the formation
stand what supports the analytical process, both of a field favorable to the (re) construction of the
from the point of view of psychodynamics and intrapsychic movement and not to correct “er-
from the new models of brain functioning as pro- rors” introducing the important discrimination
posed by neurosciences. She discusses, to what between “to cure” and “to heal”. ■

Keywords: analytical encounter, error, word association test, neurosciences, interrelation, symptom, cure.

Resumen

¿El error en la psicología analítica: sombra o luz?


La autora rescata la noción del error en la psi- qué medida, la búsqueda de lo cierto, del modelo
cología analítica, revisitando el trabajo inicial de ideal puede impedir el desarrollo proponiendo que
Jung en la prueba de asociación. Se busca com- nuestro trabajo como psicoterapeutas es posibil-
prender lo que sostiene el proceso analítico, tanto itar la formación de un campo favorable a la (re)
desde el punto de vista de la psicodinámica cuando construcción del movimiento intrapsíquico y no
de los nuevos modelos de funcionamiento cerebral corregir errores introduciendo la importante dis-
como propuestos por las neurociencias. Analiza, en criminación entre to cure y to heal. ■

Palabras clave: encuentro analítico, error, prueba de asociaciones, neurociencias, interrelación, síntoma y cura.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 45


Referências
CAETANO, A. A.; MACHADO, T. Complex in memory, mind New York: Princeton University Press, 1981.
in matter: walking hand in hadt. Journal of Analyt-
ical Psychology, v. 63, n. 4, p. 510-28, Aug. 2018. JUNG, C. G. The practice of psychotherapy, CW 16.
https://doi.org/10.1111/1468-5922.12431 New York: Princeton University Press, 1985.

COZOLINO, L. The neuroscience of human relation- JUNG, C. G. The structure and the dynamics of the
ships. New York: W.W.W. Norton, 2006. psyche, CW 8. New York: Princeton University Press, 1981.

COZOLINO, L. The neuroscience of psychoterapy. ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova
New York: W. W. Norton, 2010. Fronteira, 2001.

COZOLINO, L. The social neuroscience of education. SAMUELS, A. Political and clinical developments in ana-
New York: W. W. Norton, 2013. lytical psychology, 1972-2014: subjectivity, equality and
diversity-inside and outside the consulting room. Journal of
COZOLINO, L. Why therapy works. New York: W. Norton, 2016. Analythical Psychology, v. 59, n. 5, p. 641-60, Nov. 2014.
https://doi.org/10.1111/1468-5922.12115.
GORDON, R. Bridges-metaphor for psychic process-
es. London: Karnak Books, 1993. SCHORE, A. The science of the art of psychotherapy.
New York: W. W. Norton, 2012.
JACOBI, J. Complexo, arquétipo e símbolo na psicologia de
C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1990. WILKINSON, M. Changing minds in therapy. New York: W.
W. Norton & Norton, 2010.
JUNG, C. G. Alchemical sudies, CW 13. New York:
Princeton University Press, 1973. WILKINSON, M. Coming into mind: the mind-brain
relationship: a jungian clinical perspective. New York:
JUNG, C. G. Experimental researches, CW 2. New Routledge, 2006.
York: Princeton University Press, 1990.
WINNICOTT, D. W. Playing and reality. New York: Rout-
JUNG, C. G. The development of personality, CW 17. ledge, 1991.

46 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.47-54

Error in analytical psychology:


shadow or light?

Áurea Afonso Caetano*

Abstract Keywords
The author rescues the notion of error in an- Analytical
alytical psychology, revisiting Jung’s early work encounter,
on the word association test. She tries to under- error, word
association
stand what supports the analytical process, both
test,
from the point of view of psychodynamics and neurosciences,
from the new models of brain functioning as pro- interrelation,
posed by neurosciences. She discusses, to what symptom,
extent, the search for the right, the ideal model cure.
can inhibit development; proposes that our work
as psychotherapists is to enable the formation
of a field favorable to the (re) construction of the
intrapsychic movement and not to correct “er-
rors” introducing the important discrimination
between “to cure” and “to heal”. ■

* Aurea Afonso M. Caetano, psicóloga, filiada à SBPA, mestre


em Psicologia Clínica, pela PUC-SP.
E-mail: <aureacaetano@uol.com.br>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 47


Junguiana
v.36-2, p.47-54

Error in analytical psychology: shadow or light?

1. Introduction for they express the necessary polarity


We know the importance of the word associa- inherent in every self-regulating system.
tion test for the Jungian psychology developing They can never be solved, but only out-
the concept of complex and we find in the com- grown. I therefore asked myself whether
plex the error as enabler and conductor in the this outgrowing, this possibility of further
psychic constitution. Whether errors or flaws, development, was not the normal thong
seen as irrelevant or disposable, in the initial and whether get stuck in a conflict was
analyses of association tests’ results, they make pathological (JUNG, 1973, par. 18).
way for Jung, in his ingenious curiosity, intuit
what later he named as path or “via regia to the Jacobi (1990, p. 31) states that: “Only an in-
unconscious, architect of dreams and of symp- dividually limited number of complexes can be
toms” (JUNG, 1981, par. 210). made conscious. The rest continues to exist as
Just like geological fissures displaying the “nodal points” or “nuclear elements”. Jung,
deepest inners of Earth, flaws in the word as- going beyond, states that: “I’m therefore inclined
sociation tests also worked as entries for the to think that autonomous complexes are among
understanding of the psyche’s deepest expres- normal phenomena of life and that they make up
sions and allowed for the formulation of the normal phenomena of life and that they make up
concept of complex of affective tonality (CAETA- the structure of the unconscious psyche” (JUNG,
NO; MACHADO, 2018). 1981, par. 218).
Jungian’s attitude observes a number of phe- A Jungian analysis explores the processes
nomena without, though, establishing among which take place during the encounter of two
them any hierarchy. This way, we can take on individuals and, every encounter is a new one.
Jung to think that errors or defects have their spa- As therapists, we are unique and equal. Diverse
ce, place and that they are structuring. Deformi- traits of our personality may constellate at every
ties, defects and flaws are constituting elements moment, each process is unique and single. And
of our psyches. They may be considered as “no- all we do is, through words, metaphors, analo-
dal points”, “nuclear elements” which belong gies and parables, to expand our knowledge,
to the eternal matrix of every and each human create new possibilities of understanding. Circu-
psyche. Bringing those defects and flaws close mambulation – going around the symbol so as
to the concept of complex, with Jung, we think to try to comprehend it increasingly better, ex-
that they are “focal or nodal points of the psychi- panding the network of meanings, this has been,
cal life, which we would not wish to do without indeed, our attempt.
and indeed should not be missing, for otherwise Will we be able to use the current knowledge
psychic activity would come to a fatal standstill” of neurosciences in order to enlarge knowledge
(JUNG, 1990, par. 925). Focal and nodal points of our field of work, seeking new symbols to talk
are, as we shall see, important, as they provoke about our enigmas?
movement, transformation.
2. Analytical Psychology and
[...] I had learned that all the greatest and Neurosciences
most important problems of life are fun- Schore (2012) a scholar of neurobiology of
damentally insoluble. They must be so, psychotherapy states that therapeutic interven-

48 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.47-54

tions are based on dynamic and implicit rela- who bring with them, besides their more
tionship processes. The information from the or less clearly defined fields of consciou-
non-verbal unconscious communication has an sness, an indefinitely extended sphere of
essential role; implicit communications in the non-consciousness. Hence, the persona-
therapist-patient relationships, transmit more lities of the doctor and patient are often
than conscious verbalization. Psychotherapy infinitely more important for the outcome
is able to promote changes both in the psychic of the treatment than what the doctor says
functions as well as in its structures, even in fur- or thinks... (1985, p. 163).
ther stages of development.
Schore agrees with the idea that the more Cozolino (2006, 2010, 2013, 2016) has been
the therapist facilitates the affective experien- researching neurosciences of psychotherapy and
ce/expression of patients in psychotherapy, says that in the core of the interface between the-
the more the patients demonstrate positive se two areas lies the fact that human experien-
changes and that this affective facilitation is ce is mediated by two processes which interact
a powerful predictor of the treatment success. with each other. The first is the expression of our
The essential role of the right brain [his termi- evolutionary past through organization, deve-
nology] in the “nonconscious processing of the lopment and functioning of our nervous system
emotional stimuli” and in the “affective commu- – a process that resulted in billions of neurons
nication” is directly relevant to recent clinical arranging themselves in neural networks, each
models of “affective unconscious” and “relatio- one having its own timing and needs for growth.
nal unconscious” where “an unconscious mind The second process is the contemporary arran-
communicates to another unconscious mind” gement of our neural architecture within the hu-
(SCHORE, 2012). man relationships context. The brain is a “social
Schore concludes that the right brain is do- adaptation body”, stimulating to grow through
minant in the treatment and that psychotherapy positive and negative interactions with others
is not the cure through speech, but cure through (COZOLINO, 2006). Thinking the evolutionary
affection. The “right brain-right brain” commu- past is also to be able to think with Jung when
nication represents the enabling of interactions he affirms:
between the primary unconscious systems of the
patient and the therapist, and the “primary pro- The psyche is not of today; its ancestry
cess cognition” is the most important communi- goes back many millions of years. Bene-
cative mechanism of the relational unconscious. ath the individual consciousness is only
More than emphatic affection, being attuned and the flower and the fruit of a season, sprung
in deep contact are necessary for a more com- from the perennial rhizome beneath the
prehensive therapeutic progression. Likewise, earth; and it would find itself in better ac-
Jung asserts that: cord with the truth if it took the existence
of the rhizome into its calculations. For the
By no device can the treatment be any- root matter is the mother of all things
thing but the product of mutual influence, (1990, p. xxiv).
in which the whole being of the doctor as
well as that of his patient plays its part. According to Cozolino, “at the heart of psy-
In the treatment there is an encounter chotherapy lies the understanding of the inter-
between two irrational factors, that is to twined forces of nature and creation, what goes
say, between two persons who are not right or wrong in its development and unfolding,
fixed and determinable quantities but and how to reestablish a healthy neural func-

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 49


Junguiana
v.36-2, p.47-54

tioning” (COZOLINO, 2010, p. 12). According to “One aspect of therapy deals with the impli-
the author, genes enable the organization of the cit, arising from the right hemisphere; it is pre-
brain’s uniform structures. Uniform structures dominantly affective, composed of the affective
and functions are inherited through our DNA and encounter between therapist and patient. The
shared among all healthy members of our spe- other deals with the explicit, arising from the left
cies, a key feature of the genetic inheritance tra- hemisphere; it is predominantly cognitive, mani-
ditionally thought as “nature” (COZOLINO, 2010). fest in interpretation” (Wilkinson, 2010, p. 85).
But it is through the translation of experiences “Interpretation alone, however, is not enough
into neurobiological structures that nature and to redress damages to implicit structures in the
creation become one in a process which he then mind” (WILKINSON, 2010, p. 86); the affective at-
names “biochemical alchemy”: tunement based on the empathic countertrans-
ference is the only agent to provide the therapist
[...] the experience shapes the architec- with understanding and can lead to changes in
ture of our neural systems, making each the patient’s mind.
brain a unique mixture of our evolutionary This author affirms that the focus of therapy
shared history and our individual expe- should be “on facilitating a coordinated integra-
riences. Thus, our brains are built in the tion of explicit and implicit relational memory”
interface of experiences and genetics, (WILKINSON, 2010, p. 85) and to know how they
where nature and education turn into one manifest into images, dreams, stories, and nar-
(COZOLINO, 2013, p. 15, 16). ratives, as well as into the analytic relationship.

Still according to Cozolino: as the affection 3. About the analytical work


is repeatedly brought into the therapeutic rela-
tionship, the patient gradually internalize such Since psyche and matter are contained
skills by carving the neural structures needed in one and the same world, and moreo-
for self-regulation. In a neurological level, this ver are in continuous contact with one
equals to the integration and communication of another and ultimately rest on irrepre-
neural networks dedicated to emotions, cogni- sentable, transcendent factors, it is not
tion, sensations and behavior and an adequa- only possible but fairly probable, even,
te balance between stimulus and inhibition. that psyche and matter are two different
We, psychotherapists, stimulate the neuro- aspects of one and the same thing (JUNG,
plasticity and neural integration; we guide our 1981, par. 418).
patients among thoughts and feelings, trying
to assist them to set new connections betwe- What happens at the “frontiers” of the border,
en them, as well as we assist them in changing or in the transition between poles of the specter?
their accounts of the self and the world and a Space of creation of symbols and of culture; spa-
new consciousness, and encouraging a better ce of encounter with others. Bridging? “A bridge
decision making; allowing for the creation of presupposes the presence of the ‘other’, of a
new narratives (COZOLINO, 2016). ‘here’ and a ‘there’, a ‘now’ and a ‘then’, a ‘this
Wilkinson substantiates and expands those side’ and ‘an Other side” (GORDON, 1993, p. 4);
ideas (2006, 2010), suggesting that the psycho- it separates and divides and acts as a boundary;
therapeutic process is like a double helix, whe- it presupposes separateness and uniqueness,
reby the interactions between the two sides of without isolation or rupture; it symbolizes con-
the brain intertwine so as to make a whole. She tact and communication between that which re-
states that: mains always separate, distinct and apart. There

50 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.47-54

are boundaries, but no barriers. There is always is that where playing is not possible then the
the possibility of change, movement and also work done by the therapist is directed towards
tension, uncertainty, dialectics. Wherever the- bringing the patient from a state of not being
re is a bridge there is the possibility of a third able to play into a state of being able to play”.
(GORDON, 1993, p. 7). If the therapist cannot play, then he or she is not
The third area, the area of illusion, area of ex- adequate to work (WINNICOTT, 1991, p. 80).
perience which, according to Winnicott, can be And what would this “playing” be for us, Jun-
found in the existing potential space between gian therapists?
the individual and the environment, the one whi- It would be the possibility of “being off” in
ch, at first, separates as well as unites, the baby our own subjectivity exercising in fullness our
and the mother. Area that develops from the personal equation putting it to the service of the
baby’s experience with the transitional object, analytical encounter. For the analytical psycholo-
“first creative act”, source of playing, of creativi- gy, the working pair is made of two human bein-
ty, of symbolism, of the symbolic. gs in constant conscious, but also unconscious
And, restating with Gordon, we can say that interaction (idea which has been endorsed by
“it is within that Winnicott’s ‘area of illusion’ that neurosciences’ studies). The therapist’s identity
the hybrids, the archetypical processes interact or personality has as much importance as the pa-
with those psychological functions through whi- tient’s in this work.
ch we come to know reality” (GORDON, 1993, p. In the relational analysis, there is the concept
112). Potential space as a space for transition, of a reality built in the relationship, that is, there
for occupation, for creating the new, the different is not a truth to be discovered or understood in
and the singular; space where the original and the analytical process. The past is revised and re-
the current, the tradition and the modernity, the built in the therapist-patient relationship trans-
archetype, hybrid between nature and culture, forming present and enabling new possibilities
can be “updated”, space for creation of the new for the future. In Jung the truth emerges from the
and the culture, possibility of emergence of the resolution of the dialectics of opposites, an un-
symbolic function. ceasing and natural psychic process that takes
place in the relationships of the individual with
Creating everything, he got into all the self and the world, therefore, also with the
Getting into all things, he became the therapist. As per Jung, “A truth is a truth whene-
One who has form but who is shapeless; ver it works”.
became Thus, thinking about what is real, in diffe-
He who can be defined and who cannot rent cultures, in different periods of time, such
be defined; as Upanishads proposed, we suggest that it is
Became what is rough and what is subtle. in the true analytic encounter, at the moment of
Became all sorts of things: for this the the encounter, in the third analytic, through the
wise call him the real creative apperception, according to Winnicott,
(Upanishads). that the individual feels that life is worth living
(WINNICOTT, 1991, p. 71) and that the real can
And how do we exercise our subjectivity? be “constructed”. This potential space can be
Winnicott states that: seen as sacred for an individual, for it is the-
“psychotherapy takes place in the overlap of re where one experiences the creative living.
two areas of playing, that of the patient and that And what would be the errors or defects, or,
of the therapist. Psychotherapy has to do with following Winnicott’s questioning: What is the
two people playing together. The corollary of this meaning of life? He asserts that “you may cure

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 51


your patient and not know what it is that makes may represent and/or the path which may be in-
him or her go on living” (WINNICOT, 1991, p. dicated through it.
100). And then, how can we be facilitators on
the path to seeking meaning? 4. Conclusion
Gordon (1993) shows us an important etmo- We, therefore, propose that the acceptan-
logical difference between two words used in ce of errors and defects, upon finding room for
the English language, “to cure” and “to heal” – them in our patient’s psyches (and foremost in
which are translated into Portuguese, my mother our own psyches), may favor the “healing” pro-
tongue, as the same word. According to Gordon, cess in the sense of the individuation process
their origin, though, is rather distinct: “to cure” or the path towards the being’s wholeness.
comes from the Latin word curare and means “to We are still developing on Jung’s revolutionary
take care of” as well as “a successful medical tre- idea of the need for creating a culturally-sen-
atment”. As for ‘to heal’, it is an ancient word in sitive psychology; the hardest part might be,
the English language and closely related to the accepting the fact that each period of time has
word “Holy” or “sacred” and also “whole”. The its own “understanding of the world”; and one
author then proposes the use of the word ‘cure’ understanding is not better than any other. Sa-
to refer to the process of “taking care of” specific muels (2014) speaks about the need for aban-
symptoms and innadequate functioning of, and doning a colonial psychology where there is a
use “to heal” with an organim’s evolution pro- “one size fits all” psychology (SAMUELS, 2014,
cess towards a more complex wholeness. p. 652) or, an only truth.
Part of our work is related to removing symp- Only through the unconscious-conscious dia-
toms, usually signs that something in that per- lectical relation, through the bridging, through
sonlity is not doing well, and the subsequent the occupation of the “third area”, transitional
release of psychic energy facilitating a more space, the being may bear meaning to the world,
adequate psychological functioning. Jung offers her or his own world and live a life that may have,
a new look at the meaning of symptoms, stating for them, a whole meaning.
that such symptoms may have a stabilizing func-
tion in the sense of trying to keep a prior home- You Sr... look, see: the most beautiful and
ostasis; prior to being seen as something to be important, in the world, is this: people are
removed or cured, the symptom can be seen as not always the same, they haven’t been fi-
a symbol, as a creative possibility of that speci- nished yet – but they keep changing. They
fic psyche. He asserted that not necessarily they attune or disarrange, this is the highest
should be resolved, but understood, expanded truth. That is what life taught me. That has
and seen as essential in the individuation pro- me fully contented
cess for that individual. We believe that errors or (Guimarães Rosa). ■
defects, comprehended from this perspective,
may open room for the acceptance of the crysis
and for getting in contact to whatever such crysis Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

52 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Resumo

O erro na psicologia analítica: sombra ou luz?


A autora resgata a noção do erro na psico- medida a busca do certo, do modelo ideal, pode
logia analítica, revisitando o trabalho inicial de impedir o desenvolvimento propondo que nosso
Jung no teste de associação. Busca compreender trabalho enquanto psicoterapeutas seria possi-
o que sustenta o processo analítico, tanto do bilitar a formação de um campo favorável à (re)
ponto de vista da psicodinâmica quando dos construção do movimento intrapsíquico, e não
novos modelos de funcionamento cerebral como corrigir “erros” introduzindo a importante dis-
propostos pelas neurociências. Discute em que criminação entre to cure e to heal. ■

Palavras-chave: encontro analítico, erro, teste de associações, neurociências, inter-relação, sintoma e cura.

Resumen

¿El error en la psicología analítica: sombra o luz?


La autora rescata la noción del error en la psi- qué medida, la búsqueda de lo cierto, del modelo
cología analítica, revisitando el trabajo inicial de ideal puede impedir el desarrollo proponiendo que
Jung en la prueba de asociación. Se busca com- nuestro trabajo como psicoterapeutas es posibil-
prender lo que sostiene el proceso analítico, tanto itar la formación de un campo favorable a la (re)
desde el punto de vista de la psicodinámica cuando construcción del movimiento intrapsíquico y no
de los nuevos modelos de funcionamiento cerebral corregir errores introduciendo la importante dis-
como propuestos por las neurociencias. Analiza, en criminación entre to cure y to heal. ■

Palabras clave: encuentro analítico, error, prueba de asociaciones, neurociencias, interrelación, síntoma y cura.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 53


References
CAETANO, A. A.; MACHADO, T. Complex in memory, JUNG, C. G. The practice of psychotherapy, CW 16. New
mind in matter: walking hand in hadt. Journal of Ana- York: Princeton University Press, 1985.
lytical Psychology, v. 63, n. 4, p. 510-28, Aug. 2018.
https://doi.org/10.1111/1468-5922.12431 JUNG, C. G. The structure and the dynamics of
the psyche, CW 8. New York: Princeton University
COZOLINO, L. The neuroscience of human relationships. Press, 1981.
New York: W.W.W. Norton, 2006.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova
COZOLINO, L. The neuroscience of psychoterapy. New York: Fronteira, 2001.
W. W. Norton, 2010.
SAMUELS, A. Political and clinical developments
COZOLINO, L. The social neuroscience of education. New in analytical psychology, 1972-2014: subjec-
York: W. W. Norton, 2013. tivity, equality and diversity-inside and outside
the consulting room. Journal of Analythical Psy-
COZOLINO, L. Why therapy works. New York: W. Norton, 2016.
chology, v. 59, n. 5, p. 641-60, Nov. 2014.
GORDON, R. Bridges-metaphor for psychic processes. https://doi.org/10.1111/1468-5922.12115.
London: Karnak Books, 1993.
SCHORE, A. The science of the art of psychotherapy. New
JACOBI, J. Complexo, arquétipo e símbolo na psicologia de York: W. W. Norton, 2012.
C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1990.
WILKINSON, M. Changing minds in therapy. New York: W.
JUNG, C. G. Alchemical sudies, CW 13. New York: Prince- W. Norton & Norton, 2010.
ton University Press, 1973.
WILKINSON, M. Coming into mind: the mind-brain
JUNG, C. G. Experimental researches, CW 2. New York: relationship: a jungian clinical perspective. New York:
Princeton University Press, 1990. Routledge, 2006.

JUNG, C. G. The development of personality, CW 17. New WINNICOTT, D. W. Playing and reality. New York: Rout-
York: Princeton University Press, 1981. ledge, 1991.

54 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

Estudo sobre sonhos de pacientes da


oncologia pediátrica

Gabriela Perna de Mendonça*


Ivelise Fortim**

Resumo Palavras-chave
Este artigo pretendeu realizar uma breve re- sequelas e a teoria analítica. Foram realizadas Câncer infantil,
visão de literatura da psico-oncologia sobre os entrevistas com o paciente e seu responsável, sonhos,
efeitos do diagnóstico e tratamento de câncer na além da coleta dos relatos de sonhos das cri- psicologia
analítica,
vida do indivíduo para, em seguida, relacionar- anças. A análise do material nos aproximou da
oncologia
mos com a teoria analítica sobre sonhos, trau- situação psíquica dos sujeitos, na qual, a partir
pediátrica,
ma e a doença como símbolo. O objetivo deste dos elementos e estruturas oníricas, foi possív- símbolo.
trabalho é estudar os sonhos desses pacientes, el perceber uma fragilidade emocional inten-
entre 10 e 12 anos, estejam eles ainda em trata- sa e a possibilidade de dissociação psíquica.
mento ou não, a fim de relacionar os elemen- Os temas oníricos remetem à doença e ao seu
tos e/ou temáticas comuns aos sonhos deste tratamento apontando para uma tentativa de
grupo, com a experiência com a doença, suas elaboração dessas vivências. ■

* Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).


E-mail: <gabiperna@uol.com.br>
** Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP e Doutora em
Psicologia Clínica pelo Núcleo de Estudos Junguianos. Professora nos cursos de graduação em Psicologia e de Tecnologia em Jogos Digi-
tais da PUC-SP. Coordenadora do Janus (Laboratório de Estudos de Psicologia e Novas Tecnologias).
E-mail: <ifcampos@pucsp.br>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 55


Junguiana
v.36-2, p.55-66

Estudo sobre sonhos de pacientes da oncologia pediátrica

1. Introdução em torno desse afeto, configurando o que co-


A infância é uma fase de extrema importância nhecemos como complexos. Como explica Jung
na vida de qualquer indivíduo. Neste momento, (1984), os complexos são parte fundamental do
a maior preocupação é o seu desenvolvimento material onírico, que se manifestam em sonhos
e, por isso, um diagnóstico de câncer causa um como personagens, cenários, atitude do ego, cli-
grande impacto no paciente e em sua família. ma do sonho etc.
Toda a rotina daquela criança mudará e os há- O presente artigo se propôs a estudar sonhos
bitos terão de ser colocados de lado, dando lu- de quatro crianças, entre 10 e 12 anos, diagnos-
gar a tratamentos invasivos e dolorosos, medo ticadas com câncer, visando fazer um paralelo
da morte, além de possíveis hospitalizações, em entre o conteúdo onírico e a experiência com a
alguns casos, até em alas isoladas, restringindo doença. Vemos, neste estudo, como a riqueza
o contato com os familiares. Essas novas vivên- deste material possibilita, através das imagens
cias tendem a causar “sentimentos de culpa, pu- e símbolos, uma aproximação da situação psico-
nição, medo da despersonalização e regressão lógica dos sujeitos.
no seu desenvolvimento psicológico e cognitivo” Por estarem submetidos a experiências mui-
(ALVES; FIGUEIREDO, 2017, p. 61). to carregadas emocionalmente e potencialmen-
O apoio emocional ao paciente e sua famí- te traumáticas – tais como separação da famí-
lia é essencial durante todo o tratamento. Para lia, sintomas físicos, intervenções cirúrgicas,
a criança, existem diferentes trabalhos dentro quimioterapia, sentimento de impotência, entre
do contexto hospitalar para lhe fornecer acom- outros –, podemos utilizar a análise dos sonhos
panhamento psicológico, tais como: grupos de como forma de procurar compreender como a
apoio psicológico, grupo de expressão criativa e psique está sendo afetada e como ela reage a
de histórias contadas, atividades lúdicas na brin- essas vivências.
quedoteca e o uso de desenhos. Entretanto, foi Kalsched (2013) alerta para o risco de frag-
verificado por Bigio (2005) o fato de ainda ser co- mentação psíquica da criança em decorrência de
mum que criança não tenha conhecimento sobre experiências traumáticas. Tipicamente, quando
a doença, seu tratamento e prognóstico, fazendo isso acontece, “uma das partes do ego regressa
com que tenha compreensões distorcidas a res- ao período infantil e outra parte progride, isto
peito de sua condição, ficando, assim, impossi- é, cresce rápido demais e se torna precocemen-
bilitada de se apropriar de sua realidade. Essa fa- te adaptada ao mundo exterior, com frequência
lha na comunicação e na relação paciente-família como um ‘falso eu’” (p.15). Nestes casos, a per-
acaba por provocar sentimentos de abandono e sonalidade que regride é geralmente apresentada
fragilidade emocional. Com isso, além de se sen- nos sonhos como um eu vulnerável, inocente e
tir distante dos pais, o paciente acaba reprimin- vergonhosamente oculto. Enquanto a parte que
do suas angústias, medos e fantasias, podendo progrediu, apresenta-se nos sonhos como um ser
apresentar pobreza de recursos internos para li- poderoso, que protege ou oprime seu duplo, po-
dar com a condição que está enfrentando, como dendo ser representado por um anjo ou um ani-
foi verificado pela autora citada. mal selvagem. A dissociação é parte das defesas
As experiências vividas a partir do diagnósti- normais da psique contra o impacto do trauma:
co são carregadas por um intenso afeto, fazendo ela permite que a vida exterior prossiga, porém a
com que todos os elementos perceptivos e men- um grande custo interior. Mesmo quando o evento
tais associados a essa experiência se acumulem traumático termina – o que poderia equivaler, no

56 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

caso deste estudo, ao encerramento das interven- revela sobre o sentido prospectivo da psique, ou
ções cirúrgicas, das quimioterapias ou até mesmo seja, o rumo que está sendo delineado na dinâ-
do câncer em si –, as sequelas psicológicas con- mica psíquica.
tinuam a assombrar o mundo interior através de
figuras interiores opressoras. 2. O câncer como símbolo
Alguns aspectos gerais do sonho devem ser Através do teste de associação, Jung pôde ob-
levados em consideração para realizar este es- servar que, quando complexos são ativados, são
tudo. Jung (2001) compara o sonho a um drama, provocadas alterações no nível fisiológico e psi-
explicitando três aspectos estruturais que devem cológico. Em outras palavras, complexos muito
ser examinados: primeiro, a introdução, compos- carregados de energia psíquica podem provocar
ta pelo cenário, personagens e o problema ou sintomas no nível da psique, como uma psicose
questão; segundo, a peripécia ou desenrolar da ou, no nível do corpo, como um câncer. Quanto
história; e, por fim, a solução final ou desfecho. maior a energia num complexo específico, maior
Cada um desses três aspectos estruturais nos a probabilidade de ele ser constelado, ou seja,
revela informações importantes relacionados ao maior a sintomatologia (RAMOS, 1996)
conteúdo inconsciente, ao ego do sonhador e Jung (1982) compreende que os conteúdos
até mesmo sua personalidade. Já na situação sintomáticos são, em parte, simbólicos e repre-
inicial do sonho, é possível que aconteça a intro- sentam indiretamente os estados ou processos
dução do tema arquetípico central. No decorrer inconscientes. Entende-se, portanto, que o pró-
do desenvolvimento da ação, surgem aspectos prio sintoma é a representação simbólica de uma
importantes sobre a relação atual do ego com os desregulação no sistema psíquico, podendo
complexos constelados e padrões arquetípicos mostrar-se no corpo (como doença física) ou na
ativados que compõem o sonho. Ainda no nível psique (como doença mental). Da mesma manei-
da peripécia, aparecem elementos coadjuvan- ra, Oliveira et al (2006) compreendem o sintoma
tes, considerados como aspectos da personali- como uma falha na elaboração psíquica naque-
dade do sonhador em contato com o ego onírico. les que não possuem recursos internos capazes
O modo como essa relação se dá nos sugere “a de elaborar e integrar determinado trauma.
função defensiva, protetiva, propulsora ou impe- Nesse sentido, Lima, Botelho & Silvestre
ditiva que tais elementos desempenham na di- (2011) encontram, nos sujeitos da pesquisa, li-
nâmica atual da psique” (PENNA, 2014, p. 123). gações entre o histórico de vida e a emergência
A atitude do ego onírico nos ajuda a compre- do câncer. As autoras identificaram que as crian-
ender as potencialidades à disposição do ego, ças sofriam decepções emocionais crônicas,
ou seja, as capacidades que já estão, pratica- como negligência, conflitos familiares, privação
mente, disponíveis a ele. Quando o ego onírico afetiva desde pequenas, o que as tornam “sus-
assume uma posição ativa no sonho, como co- cetíveis à doença, desprotegidas de sua defesa
mandante da ação, é apontada uma relação pro- natural” (p.150).
dutiva do ego em relação aos complexos. Já uma Já Oliveira et al. (2006) levantam algumas hi-
atitude passiva, quando ele sofre as ações dos póteses sobre o câncer como a manifestação de
outros, ou ausência de ego, colocando-o numa algo não simbolizado. Colocam a manifestação
posição de observador, podem denunciar uma somática como um possível pedido de socorro
“atitude defensiva de vitimização e/ou projeção ou atenção; também observam que, em muitos
da responsabilidade pela sua vida nos outros ou pacientes hospitalizados, o câncer surgiu após
nas situações externas” (PENNA, 2014, p. 124). um intenso trauma ou sofrimento psíquico,
Finalmente, o modo como o sonho termina, ou como um acidente, a morte de um parente, uma
até onde a memória do sonhador alcança, nos separação, entre outros.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 57


Junguiana
v.36-2, p.55-66

Ramos (2006) também afirma que há relação É importante ressaltar que os sujeitos dessa
entre eventos psicológicos, o grau de expressi- pesquisa são de baixo poder aquisitivo, o que já
vidade emocional e o sistema imunológico. Em configura uma vulnerabilidade social por si só.
outras palavras, a não expressão de uma emo- Essa condição pode ser um complicador no pro-
ção negativa e impactante é potencialmente um cesso de adoecimento, uma vez que dependem
fator para a alteração do funcionamento do sis- dos serviços públicos de saúde, podendo sujeitá-
tema imunológico. -los a longas filas de espera, escassez de medica-
Compreende-se que a doença surge “como mentos, necessidade de locomoção para cidades
um recurso de compensação, um recurso simbó- maiores, entre tantas outras dificuldades vivencia-
lico de auto-regulação de polarizações conscien- das pelos entrevistados. Além disso, as crianças
tes, através da integração de conteúdos incons- e seus respectivos responsáveis vieram de dife-
cientes” (SERINO, 1999, p. 43). Ao permitirmos rentes lugares do Brasil para São Paulo, em busca
a conscientização e elaboração dos processos de um melhor tratamento médico. Essa mudança
inconscientes via o trabalho com sonhos, favo- implica numa quebra brusca da rotina e dos hábi-
recemos o fluxo de energia psíquica do incons- tos e, principalmente, no abandono do núcleo fa-
miliar, da escola, do trabalho e de todo um supor-
ciente para a consciência, evitando a desregula-
te emocional indiscutivelmente importante tanto
ção ou estado de unilateralidade, que poderiam
para a criança quanto seu acompanhante
afetar o sistema imunológico ou expressar-se
O material foi coletado em um encontro indi-
simbolicamente no corpo.
vidual com o responsável e com a criança, sepa-
radamente. Os encontros ocorreram na institui-
3. Método
ção onde os sujeitos moravam durante o período
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com
da coleta de dados. Através de entrevistas se-
pacientes da oncologia pediátrica que residiam
miestruturadas individuais, gravadas mediante
temporariamente em uma instituição filantrópi-
autorização prévia dos entrevistados e assinatu-
ca ou “casa de apoio” em São Paulo, SP.
ra do Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
Serão usados nomes fictícios a fim de pre-
do conforme Resolução no 466/12 do Conselho
servar a identidade dos participantes. São eles:
Nacional de Saúde (CNS), foram abordados o
Maurício, sexo masculino, 10 anos, em tratamen- contexto de vida da criança e seus sonhos.
to de leucemia aguda, que esteve internado du- O método de análise dos dados coletados
rante 6 meses para quimioterapia; Melina, sexo consiste na categorização dos elementos e te-
feminino, 12 anos, em tratamento para tumor mas oníricos, possibilitando identificar similari-
ósseo; Nádia, sexo feminino, 12 anos, manuten- dades entre os sonhos coletados e relacioná-los
ção dos efeitos colaterais de um tumor cerebral e com o contexto de vida dos sujeitos.
da consequente retirada da hipófise, esteve em O projeto foi submetido e aprovado pelo Co-
coma durante 2 anos e foi submetida a diversas mitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
cirurgias na cabeça; e Carolina, sexo feminino, da Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
12 anos, que recebeu alta do tratamento de cân- lo, com número CAAE 61884216.9.0000.5482.
cer hepático e renal há 10 anos, mas continua
em acompanhamento endócrino, nefro e onco- 4. Resultados e discussão
lógico, passou por quimioterapia e radioterapia, A partir dos sonhos coletados, foi possível
além de ter a suprarrenal removida. A participa- observar algumas semelhanças, tanto no que diz
ção foi voluntária e não houve determinação pré- respeito ao conteúdo quanto à estrutura onírica.
via de tipo específico de câncer, o mesmo em re- O que nos propomos a fazer é analisar as carac-
lação a gênero, origem étnica e sintomatologia. terísticas em comum entre os sonhos, embasa-

58 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

dos na leitura teórica apresentada anteriormen- ego onírico vivencie o afeto associado ao trau-
te, a fim de relacionar o material onírico coletado ma, interferindo violentamente e dissociando a
e a experiência de adoecimento. psique, tirando o ego de cena.
As vidas das crianças deste estudo têm sido Observamos que, frequentemente, a figu-
atravessadas por várias decepções emocionais ra agressora porta ou faz uso de facas, o que é
e traumas como privações afetivas, conflitos fa- facilmente relacionável com os procedimentos
miliares violentos, cuidadores com sérias ques- médicos e cirúrgicos que a população em ques-
tões psiquiátricas ou de dependência química, tão está e/ou esteve sujeita.
assédios verbais, entre outros. Vemos que as
mesmas crianças que hoje enfrentam interna- Eu tive um sonho que me arrancavam os
ções, quimioterapias e cirurgias já passaram por dentes todos. Eu ficava sem dente e tinha
diversos impasses e dificultadores do seu de- que usar chapa. E nisso aqui, saía tudo
senvolvimento e da sua relação com o mundo. sangue ó (apontando para os dentes). Aí
Neste sentido, podemos dizer que, assim como levavam meus dentes para um lugar, aí eu
observado por Lima, Botelho & Silvestre. (2011), não sei mais. Eu tava toda amarrada atrás
a instabilidade marcada por esse contexto so- no meu braço, meu olho tava todo tampa-
cial pode ter contribuído para uma escassez de do. Aí me pintaram toda disso aqui, de pre-
recursos de enfrentamento de situações confli- to. Depois de colocar a chapa, pintaram de
tantes, o que resulta numa alteração do sistema preto, aí colocaram uma vasilha assim na
psíquico e corporal, surgindo o sintoma. minha boca e saiu um bocado de sangue.
Aí quando sai um bocado de sangue, quan-
5. Pesadelos do parou, aí veio o gosto de sangue preto,
No que diz respeito aos elementos dos so- aí quando eu abri o olho eu desmaiei, foi
nhos, pudemos observar a frequente presença isso. Colocaram um bocado de coisa assim
de figuras agressoras, que colocam o ego onírico por aqui, por aqui, me “negoçaram”, corta-
em risco ou de fato atuam de maneira violenta ram minha bochecha, cortaram meus bra-
em relação ao sonhador. ços, minha mão, meu pé… eu também não
De acordo com Kalsched (2013), nos sonhos tinha sobrancelha (Nádia, 12 anos).
de vítimas de trauma precoce, a figura daimôni-
ca interior ataca ativamente o ego onírico. Neste No relato, o sangue aparece como um dos ele-
material onírico, é ilustrado o caráter violento mentos principais, que simbolizaria, de acordo
desses processos dissociativos que se autoata- com Chevalier (2003), o veículo da vida e princí-
cam, nos quais “a figura diabólica traumatiza o pio da geração, entretanto, ele aparece preto, o
mundo objetivo interior a fim de impedir a retrau- que indica um sentido de algo morto ou podre. De
matização no exterior” (p. 33): acordo com o autor, o preto é a cor do luto opres-
sivo, sem esperança, “como um nada sem possi-
“Vinha um homem e me amarrava dentro bilidades” (p. 740). Já os dentes são compreendi-
de um saco. Ele me encontrava no quarto” dos como potencial agressivo, são “as armas de
(Nádia, 12 anos). ataque mais primitivas e expressão das ativida-
des” (CIRLOT, 1984, p. 201) e constituem o muro
As figuras parecem representar um perigo e a defesa do homem interior. Neste sentido, po-
iminente e constante que atuam em relação ao demos pensar a perda ou a retirada deles como
indivíduo, fazendo com que não consiga se pro- um simbolismo negativo, pois remete à inibição,
teger ou evitá-lo. Segundo o autor supracitado, à passividade, ao medo da derrota, assim como
sonhos desse tipo acontecem para evitar que o a perda dos mecanismos de defesa e ataque. A

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 59


passividade e a fragilidade encontram-se em tal É importante ressaltar que Melina aponta a
nível que o ego não reconhece qualquer possibili- criança como a imagem principal de seus pesa-
dade de ação ou contra-ataque. delos, o que nos leva a pensar na possibilidade
A própria vivência de estar imóvel, com os de ser a imagem da parte de sua personalidade
olhos vendados e sendo cortada diversas vezes que foi encapsulada no processo de fragmenta-
parece ser análoga ao que viveu durante os dois ção da psique. No sonho, a criança está dentro
anos em que esteve em coma, sendo submetida de seu quarto – seu mundo interior – e encon-
a cirurgias na cabeça. tra-se em uma posição retraída, sentada em um
Esses sonhos reforçam o sofrimento psicoló- canto virada para o armário. Podemos entender
gico e fragilidade emocional que essas crianças esses aspectos como constituintes da parte frá-
parecem estar passando, assim como o senti- gil e vulnerável do paciente que foi separada dis-
mento de insegurança e medo já mencionados. sociada e impedida de ingressar na realidade do
Não só as ações desenvolvidas nos sonhos, tempo e espaço.
como o desmembramento, a imobilidade e a A razão pela qual essa imagem é tão assus-
tadora para o ego se embasa no fato de que “a
ausência de visão, mas os símbolos presentes
integração ou ‘totalidade’ é inicialmente viven-
representam a passividade e a experiência de
ciada como a pior coisa imaginável” (p. 56). Em
quase morte vivenciadas por ela.
outras palavras, entrar em contato com essas
É também verificável de que maneira as figu-
imagens e os afetos associados a elas constitui
ras interiores opressoras continuam a assom-
um uma ameaça à sobrevivência do eu.
brar o mundo interno do indivíduo, formando
verdadeiras sequelas psicológicas das experi-
6. Figuras protetivas
ências traumáticas.
Em oposição à presença frequente de figuras
Os materiais oníricos parecem apontar uma
violentas, as imagens parentais – referências
tentativa de reelaborar e ressignificar a violência
protetivas – tiveram poucas menções nos rela-
sofrida pelas intervenções médicas, representada
tos de sonhos. Essa ausência de referências de
pela morte física concreta nos sonhos. Estes rela-
proteção diz respeito ao sentimento de solidão
tos levantam a possibilidade de atuação do que
e abandono, já verificado por Bigio (2005) como
Kalsched (2013) chamou de um “sistema auto-
comum em crianças em condições de adoeci-
destrutivo” (p. 52); o mundo interior é transforma- mento. Entretanto, não é a frequência em que
do em um pesadelo de opressão e autoagressão. elas aparecem – ou a falta dela – que nos chama
O agente opressor é apresentado por imagens de a atenção, mas a qualidade e o cumprimento da
seres titânicos que ameaçam aniquilar o ego ima- função protetiva esperada dessas imagens.
turo, continuando a traumatizar o mundo interior.
“Eu já sonhei que caí num buraco e eu
uma vez apareceu minha prima, que ela gritava pela minha mãe e minha mãe não
tava assim, no armário ali. Esse armário escutava” (Carolina, 12 anos).
aqui (levanta da mesa e vai pra frente do
armário), só que o armário aqui era bran- É possível compreender a situação relatada
co, e a minha prima tava sentada aqui na como uma analogia ao adoecimento: a própria
cadeirinha dela segurando com o boneco queda parece remeter à doença, que a coloca
dela, aí eu passei a minha cama aqui, daí como sujeito sem possibilidade de ação ou es-
eu olhei e ela não estava mais… Não con- capatória, como o fim das potências, dependen-
segui ver o rosto dela, não sei o que esta- do de outros para sair de sua condição. Neste
va fazendo lá (Melina, 12 anos). lugar, pede e espera pela ajuda de sua mãe que,

60 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

no imaginário infantil deveria protegê-la ou até não poderem ser responsáveis pelas decisões
mesmo impedir essa queda, mas ela não apare- médicas que dizem respeito à manutenção de
ce para socorrê-la. suas vidas, devem confiar nas decisões do corpo
“Lembro de um rapaz me assaltando, levan- clínico e dos seus parentes, vendo-os como res-
do uma faca, me assaltando do meu pai. Foi lá ponsáveis pelo seu bem-estar.
no hospital. Aí acordei correndo, assustei muito”
(Maurício, 10 anos). Outro dia que eu tava dormindo assim, do
Nestes relatos, os pais apresentam-se passi- lado assim perto da cozinha, aí na mesa ti-
vos ou incapazes de cumprir as funções prote- nha uma menininha desse “tamainho” assim
tivas esperadas. Além de ilustrar o abandono, [mostra uma altura um pouco menor que a
portanto, os sonhos também demonstram a sua], tava ali. Só que tava tudo branco, parecia
percepção de que os pais não são onipotentes e que tava de dia, tudo branco… ela tava assim
passíveis de garantir integralmente a segurança (apoia a cabeça nas mãos). O cabelo era des-
e bem-estar da criança, o que, por sua vez, aba- se tamanho, a roupa dela era branca, o ves-
la a confiança dela, repercutindo ainda mais na tidinho dela era branco. E quando eu acordei
sensação de solidão. tava de noite [...] Eu pensei que era um anjo
O medo de uma separação iminente entre pai/
(Melina, 12 anos).
mãe e filho(a) é ilustrado no sonho, apontando
para a forma como a criança entende os riscos
Neste sonho, a criança acorda em sua casa
de seu tratamento. Podemos, desta maneira, ve-
e não há sinais de seus familiares, entretanto,
rificar que há a associação da doença com a pos-
encontra uma imagem que identifica como um
sibilidade dessa separação que é, no sonho, o
anjo. De acordo com Chevalier (2003), na tra-
conflito principal, exemplificando o que Di Lione
dição cristã, é comum que os anjos sejam re-
(2001) afirma em relação à falta dos pais serem,
presentados por crianças remetendo a temas
às vezes, motivo de angústia maior do que a pro-
de proteção ou como guardiões. É possível que
vocada pela perspectiva da morte em si.
essa imagem apareça para compensar a sensa-
Vemos, também, que é o espaço do hospital o
ção de insegurança, de estar em perigo, corres-
lugar onde ocorre a separação entre pai e filho, ou
pondendo a um resgate da proteção individual.
seja, ilustra-se a ambiguidade apontada por Alves
& Figueiredo (2017) em relação à imagem do hos- O branco aparece em ambos os sonhos de
pital na psique infantil. Apesar de a criança, na Melina, sendo especialmente ressaltado neste
vida consciente, saber que aquele espaço é o que segundo relato. A cor simboliza uma passagem,
permite uma possível cura, representa também o um momento de transição, de mutações do ser.
descontrole – tanto por parte dos pais quanto da “Em todo pensamento simbólico, a morte prece-
criança – e o perigo da separação entre eles. de a vida, pois todo nascimento é um renascimen-
Os sonhos nos anunciam a possibilidade to. Por isso, o branco é primitivamente a cor da
de um desfecho trágico e repentino, o qual não morte e do luto” (CHEVALIER, 2003, p. 141). Este
pode ser evitado pelos parentes ou pela própria simbolismo pode se remeter a duas transições
criança, separando-os contra vontade. O ego oní- nas quais a sonhadora em questão está sujeita: a
rico é passivo, ou seja, os conflitos os afetam e primeira é a transição para a adolescência, marca-
não há qualquer reação ou tentativa de evitá-lo. do pela puberdade. As imagens arquetípicas que
Podemos observar também o que Penna (2014) anunciam as transformações naturais do proces-
chama de projeção da responsabilidade por sua so de desenvolvimento, normalmente, remetem
vida em outros. Este ponto é relacionável à con- o tema da morte e renascimento. (VON FRANZ,
dição atual dessas crianças, uma vez que, por 1988). É também possível interpretar que a passa-

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 61


Junguiana
v.36-2, p.55-66

gem indicada pela imagem arquetípica do branco, realizações de desejos ou pela apresentação de
anuncie uma transformação orgânica. um futuro melhor e mais prazeroso.

7. Sonhos compensatórios 8. Desfecho onírico


Alguns sonhos relatados parecem exercer a No que se refere à estrutura desses sonhos,
função compensatória no sentido de estarem foi possível observar a predominância de desfe-
compensando a situação atual consciente, de cho desfavorável e desfecho ausente. Por finali-
forma a fornecer imagens de esperança e felici- zarem o sonho de maneira trágica, impactam o
dade. Esse tipo de sonho visa uma compensa- sonhador fortemente, assustando-o.
ção que possibilita o fluxo de energia necessário O pesadelo comum é caracterizado pelo des-
para enfrentar a vida consciente. fecho desagradável, no qual o encerramento da
Por exemplo, no sonho abaixo, há a realiza- questão é dado de modo sofrido e destrutivo. Ve-
ção de um desejo consciente da criança de mo- jamos o exemplo:
rar em São Paulo, cuja explicação era de morar
mais perto do hospital – o que a faria se sentir “Eu sonhei também que me esfaquearam
mais segura – e para o pai arrumar um trabalho. todinha e me colocaram dentro de um cai-
Vemos a esperança de um futuro melhor e mais xão” (Nádia, 12 anos).
seguro para ela e sua família.
Como vimos anteriormente, essa característi-
“Sonho que eu tenho uma casa bonita e ca nos aponta de que forma o ego lida com as
grande em São Paulo e tem um bocado de situações perigosas ou desfavoráveis ao desen-
carro” (Nádia, 12 anos). volvimento. A partir deste relato, podemos consi-
derar que o ego ainda se encontra extremamente
Os sonhos compensatórios também exercem vulnerável, passível de fragmentação. Através
sua função através da apresentação de uma ex- das revivências dos procedimentos cirúrgicos,
periência saudável da infância: o sonhador volta a experimentar a iminência da
morte, a impotência e a fragilidade. É como se o
eu sonhei brincando muito animado hoje, ego ainda ocupasse esse lugar, submetido a um
aí encontrei com a família que tava lá, aí perigo constante e real de morte.
cheguei lá, tava rolando churrasco lá. Aí de- Da mesma maneira, o sonho apresentado
pois a gente foi pra praia e, também, acho anteriormente no qual Carolina cai num buraco
que a gente foi jogar bola, isso foi num e sua mãe não ouve o pedido de socorro, é um
campo. Aí depois a gente veio aqui, a gente exemplo de desfecho ausente, uma vez que ela
brincava um monte aqui. Aí teve uma festa não consegue sair do buraco. De acordo com
muito legal, foi numa outra casa, aí cheguei Von-Franz (1993), essa característica se aponta
lá, aí as pessoas tavam lá comemorando, no fato de que o próprio inconsciente não apre-
era aniversário de um menino lá. Aí cheguei senta ou considera uma solução para o conflito.
lá, brinquei de novo, comi um monte de O predomínio desses tipos de desfechos oní-
doce lá, né? Aí depois levaram a gente pra ricos é exemplo da fragilidade da psique dos su-
passear, tudo isso (Maurício, 10 anos). jeitos, apresentando-nos egos enfraquecidos e
com poucos recursos para lidar com os conflitos.
Esses sonhos exercem a função compensató- A passividade e a impotência do ego onírico de
ria no sentido de estarem compensando a situ- solucionar as problemáticas do sonho parecem
ação atual consciente, de forma a fornecer ima- refletir a atitude consciente do sonhador, ou seja,
gens de esperança e felicidade, seja por meio de os sonhos não apresentam a função prospectiva,

62 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

apresentada por Jung (1984), na qual o inconscien- turas oníricas e a análise dos mesmos, foi possí-
te apresentaria um esboço de solução do conflito. vel perceber uma fragilidade emocional intensa
sustentada por sentimentos de solidão, abando-
9. Atitude do ego onírico no, insegurança e passividade, já identificados
A atitude do ego no sonho nos revela as pos- por Bigio (2005), Monteiro (2009) e Lima, Bote-
sibilidades ou potenciais que o sonhador dispõe lho & Silvestre. (2011).
ou que está em vias de desenvolver para lidar Os temas mórbidos e elementos relacionáveis
com o conflito abordado no sonho, ou até mesmo com a doença e seu tratamento, como facas, hos-
nos mostra a atitude que tende a prejudicá-lo. pitais e sangue, nos apontam para uma tentativa
Em praticamente todos os relatos, o ego onírico de elaboração dessas vivências dolorosas e inva-
era passivo, ou seja, sofria as ações de outros ele- sivas. Assim como a frequente presença de figu-
mentos do sonho, em vez de ser o protagonista. Por ras agressoras e a ausência de referências prote-
estarem em tratamento ou acompanhamento de tivas apontam para uma sensação de abandono
uma doença grave como o câncer, essas crianças e de medo constante, na qual o perigo é incon-
se encontram numa situação de grande vulnerabi- trolável e inevitável tanto pela criança quanto por
lidade e fragilidade emocional e física, além de es- seus pais – o que parece ter uma óbvia relação
tarem sujeitos a intervenções médicas causadoras com o processo de adoecimento e o sentimento
de dor e medo. Os pacientes encontram-se numa de impotência provocado no paciente.
condição de grande passividade; muitas vezes sem Características estruturais do sonho como
ter o conhecimento integral sobre sua condição, ego onírico passivo e desfecho desagradável ou
prognóstico e tratamento; não têm participação nas ausente foram predominantes nos relatos apre-
decisões que dizem respeito ao tratamento; além sentados. Fundamentalmente, esses aspectos
de estarem submetidos a tratamentos que abalam nos indicam que o ego não está conseguindo
a integridade física e emocional, muitas vezes sem desenvolver recursos para lidar com o conflito,
serem informadas sobre os procedimentos e seus sendo a sua posição passiva um grande prejudi-
efeitos (LIMA, BOTELHO & SILVESTRE., 2011; BIGIO cial para o desenvolvimento das suas potencia-
2005; MONTEIRO, 2009). Esse contexto contribui lidades. Apesar de a passividade imposta pela
para que a criança fique impossibilitada de entrar doença ser inevitável, tornar a criança um sujeito
em contato com as experiências subjetivas com a ativo no processo de enfrentamento do adoeci-
doença, o que prejudica sua expressividade emo- mento, a possibilita se apropriar da sua condi-
cional e o desenvolvimento, potencialmente inter- ção real, além de desenvolver recursos internos
ferindo no funcionamento de seu sistema imunoló- para lidar com o sofrimento físico e psíquico.
gico, como citado por Ramos (2006). Em acréscimo, há indicativos de fragmentação
Uma vez que o sonho nos demonstra a pos- da psique, ou seja, de que algumas das crianças
sibilidade e a disponibilidade do ego para lidar tenham possivelmente sofrido dissociação psí-
com o material em questão, podemos compreen- quica devido a experiências traumáticas – rela-
der a predominância da atitude passiva por par- cionadas ou não com a patologia. Este fato levan-
te do ego onírico como um sinalizador de uma ta ainda mais a urgência do acompanhamento
falta de recursos internos para enfrentar as situ- psicológico desses pacientes, não só com terapia
ações dadas pela sua condição atual. verbal, mas também com o trabalho com artes
criativas, uma vez que a integração é ameaçadora
10. Conclusão para a psique, demandando técnicas terapêuti-
Os sonhos usados como material para este cas mais suaves do que as usuais da análise. ■
estudo nos aproximam da situação psíquica
dessas crianças. Através dos elementos e estru- Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 63


Junguiana
v.36-2, p.55-66

Abstract

Study on pediatric oncology patients’ dreams


This article aims to perform a literature review analytical theory. Interviews were conducted with
of psycho-oncology on the effects of cancer diag- the patient and his / her caregiver, as well as the
nosis and treatment on the individual’s life, and collection of reports of children’s dreams. The
then relate to the analytical theory about dreams, analysis of the material brought us closer to the
trauma and disease as a symbol. The objective psychic situation of the subjects, where, from the
of this study is to study the dreams of these pa- dream elements and structures, it was possible
tients, between 10 and 12 years old, whether they to perceive an intense emotional fragility and the
are still undergoing treatment or not, in order to possibility of psychic dissociation. The morbid
study the elements and/or the themes common themes and aspects related to the disease and
to the dreams of this group, relating them to the its treatment point to an attempt to elaborate
experience with the disease and its sequels and these experiences. ■

Keywords: childhood cancer, analytical psychology, pediatric oncology, children’s dreams

Resumen

Estudio sobre sueños de pacientes de la oncología pediátrica


Este artículo pretendió realizar una revisión la teoría analítica. Se realizaron entrevistas con
de literatura de la psicooncología sobre los efec- el paciente y su responsable, además de la re-
tos del diagnóstico y tratamiento de cáncer en la colección de los relatos de sueños de los niños.
vida del individuo, para luego relacionarse con la El análisis del material nos acercó a la situación
teoría analítica sobre sueños, trauma y la enfer- psíquica de los sujetos, donde, a partir de los
medad como símbolo. El objetivo de este trabajo elementos y estructuras oníricas, fue posible
es estudiar los sueños de estos pacientes, entre percibir una fragilidad emocional intensa y la
10 y 12 años, estén ellos todavía en tratamiento o posibilidad de disociación psíquica. Los temas
no, a fin de relacionar los elementos y/o temáti- oníricos remiten a la enfermedad y su tratamien-
cas comunes a los sueños de este grupo, con la to apuntando hacia un intento de elaboración de
experiencia con la enfermedad, sus secuelas y esas vivencias. ■

Palabras clave: cáncer infantil, sueños, psicología analítica, oncología pediátrica, símbolo.

64 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.55-66

Referencias
ALVES, S. W. E.; FIGUEIREDO, L. R. Estratégias de atuação da LIMA, C. S. S.; BOTELHO, S. R. H.; SILVESTRE, M. M. Câncer
psicologia diante do câncer infantil: uma revisão integrativa. infantil: aspectos emocionais e o sistema imunológico como
Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 55-74, 2017. possibilidade de um dos fatores da constituição do câncer
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s- infantil. Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2,
ci_arttext&pid=S1516-08582017000100005&lng=pt&tl- p. 142-58, 2011.
ng=pt>. Acesso em 6 fev. 2018.
MONTEIRO, L. L. Adolescentes com câncer: vivên-
BIGIO, C. B. A compreensão da criança acerca de seu cias e reações a doença e hospitalização. Trabalho de
diagnóstico: um estudo sobre a representação do câncer na Conclusão de Curso (Especialização em Psicologia Hos-
infância. Psicologia Revista, v. 1, n. 14, p. 109-35, 2005. pitalar)–Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2009.
CIRLOT, J. E. Dicionário de símbolos. Tradução Rubens
Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Moraes, 1984. OLIVEIRA, C. B.; ROSA, C. R.; BONATTO, T.; OLIVEIRO, N. M.
O câncer como manifestação do não simbolizado. Revista
CHEVALIER, J. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, da SBPH, Rio de Janeiro, v.1, n.9, p. 15-29, 2006.
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução
Vera da Costa Silva. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2003. PENNA, D. M. E. As mensagens dos sonhos: traduzir e
compreender – processamento simbólico-arquetípico.
DI LIONE, F. R. A criança existindo com câncer. Revista In: FARIA, L. D.; FREITAS, V. L.; GALLBACH, R. M.
ABD, v. 10, p. 72-85, 2001. (Orgs.). Sonhos na psicologia analítica. São Paulo:
Paulus, 2014. p. 106-33.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Tradução Dora Fer-
reira da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. (Obras completas RAMOS, D. G. A psique do corpo: uma compreensão
de C. G. Jung, v.7/2). simbólica da doença. 3. ed. São Paulo: Summus. 2006.

JUNG, C. G. A natureza da psique. Tradução Mateus SERINO, L. A. S. Diagnóstico Compreensivo Simbóli-


Ramalho Rocha. Petrópolis, RJ: Vozes. 1984. (Obras com- co – uma proposta de ressignificação da doença orgânica
pletas de C. G. Jung, v.8/2). para a prática médica.1999. 110 f. Dissertação (Mestrado
em Psicologia Clínica)–Faculdade de Psicologia. Pontifícia
JUNG, C. G. Seminários de sonhos de crianças.
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
Tradução Lorena Kim Richter. Petrópolis, RJ: Vozes. 2001.
VON FRANZ, M. L. O caminho dos sonhos. Tradução
KALSCHED, D. O mundo interior do trauma: defesas
Roberto Gambini. São Paulo: Cultrix, 1988.
arquetípicas do espírito pessoal. Tradução Claudia Gerpe
Duarte. São Paulo: Paulus, 2013.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 65


Junguiana
v.36-2, p.55-66

66 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.67-76

Study on pediatric oncology patients’ dreams

Gabriela Perna de Mendonça*


Ivelise Fortim**

Abstract
This article aims to perform a literature review and its sequels and analytical theory. Interviews Keywords
of psycho-oncology on the effects of cancer di- were conducted with the patient and his / her Childhood
agnosis and treatment on the individual’s life, caregiver, as well as the collection of reports of cancer,
and then relate to the analytical theory about children’s dreams. The analysis of the material analytical
dreams, trauma and disease as a symbol. The brought us closer to the psychic situation of the psychology,
objective of this study is to study the dreams subjects, where, from the dream elements and pediatric
oncology,
of these patients, between 10 and 12 years old, structures, it was possible to perceive an intense
children’s
whether they are still undergoing treatment or emotional fragility and the possibility of psychic
dreams
not, in order to study the elements and/or the dissociation. The morbid themes and aspects re-
themes common to the dreams of this group, lated to the disease and its treatment point to an
relating them to the experience with the disease attempt to elaborate these experiences. ■

* Psychologist graduated from Pontifical Catholic University of São Paulo (PUC-SP).


<gabiperna@uol.com.br>
** Psychologist graduated from Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Master in Social Sciences from PUC-SP and PhD in
Clinical Psychology by the Núcleo de Estudos Junguianos. Professor in the undergraduate courses in Psychology and Technology in Digi
Games such of PUC-SP. Coordinator of Janus (Laboratory of Studies of Psychology and New Technologies).
E-mail: <ifcampos@pucsp.br>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 67


Junguiana
v.36-2, p.67-76

Study on pediatric oncology patients’ dreams

1. Introduction manifest in dreams as characters, scenarios, ego


Childhood is a phase of extreme importance attitude, dream climate, etc.
in the life of any individual. At this moment, the This article aims to study the dreams of four
biggest concern is the development and, the- children, aged 10 to 12 years, diagnosed with
refore, a diagnosis of cancer has a great impact cancer, in order to make a parallel between the
on the patient and his family. The whole routine dream content and the experience with the dise-
of that child will change and habits will have to ase. We see, in this study, how the richness of
be put aside, giving way to invasive and painful this material makes it possible, through images
treatments, fear of death, in addition to possible and symbols, an approximation to the subjects’
hospitalizations, in some cases, even in isolated psychological situation.
wings, restricting contact with family members. Because they are subjected to very emotio-
nally charged and potentially traumatic experien-
These new experiences tend to cause “feelings of
ces – such as family separation, physical symp-
guilt, punishment, fear of depersonalization and
toms, surgical interventions, chemotherapy,
regression in their psychological and cognitive de-
impotence, among others – we can use dream
velopment” (ALVES; FIGUEIREDO, 2017, 61).
analysis as a way of seeking a manner to unders-
Emotional support for the patients and their fa-
tand how the psyche is being affected and how it
milies is essential throughout the treatment. For the
reacts to these experiences.
child, there are different options within the hospital
Kalsched (2013) warns about the risk of psy-
context to provide psychological support, such as
chic fragmentation of the child as a result of
psychological support groups, creative expression
traumatic experiences. Typically, when this ha-
groups and storytelling, play activities in the toy li-
ppens, “one part of the ego returns to the infan-
brary and the use of drawings. However, it has been
tile period and another part progresses, that is, it
verified by Bigio (2005) that it is still common for
grows too fast and becomes early adapted to the
a child to be unaware of the disease, its treatment
outside world, often as a ‘false self’” (p. 15). In
and prognosis, which causes distorting understan- these cases, the regressing personality is usually
dings about his condition, thus being unable to presented in dreams as a vulnerable, innocent,
appropriate his reality. This failure in communica- and shamefully hidden self; while the part that
tion and in the patient-family relationship provokes has progressed presents itself in the dreams as
feelings of abandonment and emotional fragility. a powerful being, who protects or oppresses its
With this, in addition to feeling distant from the double, being able to be represented by an angel
parents, patients end up repressing their anguish, or a wild animal. Dissociation is part of the nor-
fears and fantasies, and may present poverty of in- mal defenses of the psyche against the impact
ternal resources to deal with the condition that are of trauma: it allows outer life to proceed, but at a
facing, as was verified by Bigio. great inner cost. Even when the traumatic event
The experiences lived from the diagnosis are ends – which could, in the case of this study,
carried by an intense affection, causing all the account for the ending of surgical interventions,
perceptive and mental elements associated with chemotherapies, or even cancer itself – psycho-
this experience to accumulate around this affec- logical sequels continue to haunt the inner world
tion, configuring what we know as complexes. through oppressive inner figures.
As Jung (1984) explains, complexes are a funda- Some general aspects of the dream should be
mental part of the dream material, where they considered in carrying out this study. Jung (2001)

68 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.67-76

compares the dream to a drama, explaining three ged complexes of psychic energy can trigger
structural aspects that must be examined: first, symptoms at the level of the psyche, such as a
the introduction, composed by the scenario, psychosis, or at the level of the body, such as
characters and the problem or issue; second, the cancer. The higher the energy in a specific com-
development of the story; and, finally, the final plex, the greater the chances of it being cons-
solution or outcome. tellated, that is, the greater the symptomatolo-
Each of these three structural aspects reve- gy (RAMOS, 1996).
als important information related to the uncons- Jung (1982) understands that symptomatic
cious content, the ego of the dreamer and even content is partly symbolic and indirectly repre-
his personality. Already in the initial situation of sents unconscious states or processes. It is un-
the dream, it is possible that the introduction of derstood, therefore, that the symptom itself is
the central archetypal theme takes place. In the the symbolic representation of a deregulation
course of developing action, important aspects of in the psychic system, and can be shown in the
the present relationship of the ego to the complex body (as a physical disease) or in the psyche
constellations and archetypal patterns that make (as a mental illness). In the same way, Oliveira,
up the dream emerge. Even at the level of the Rosa, Bonatto & Oliveiro (2006) understand the
story, there are elements that are coadjutant, con- symptom as a failure in the psychic elaboration
sidered as aspects of the dreamer’s personality in in those who do not have internal resources able
contact with the dream-ego. The way in which this to elaborate and integrate a certain trauma.
relation takes place suggests to us “the defensi- In this sense, Lima, Botelho & Silvestre (2011)
ve, protective, propelling or impeding function find, in the subjects of their research, links be-
that such elements play in the current dynamics tween the history of life and the emergence of
of the psyche” (PENNA, 2014, 123). cancer. The authors identified that children su-
The attitude of the dream-ego helps us to un- ffered from chronic emotional disappointments,
derstand the potentialities at the disposition of such as neglect, family conflict, affective depri-
the ego, that is, the capacities that are already vation since childhood, making them “suscep-
practically available to him. When the dream-e- tible to disease, unprotected from their natural
go assumes an active position in the dream, as defense” (p.150).
commander of action, it points out to a producti- Oliveira et al. (2006) raise some hypotheses
ve relation of the ego to the complexes. A passive about cancer as the manifestation of something
attitude, when he suffers the actions of others, or not symbolized. They place the somatic manifes-
lack of ego, placing him in an observer position, tation as a possible call for help or attention; also
can denounce a “defensive attitude of victimiza- note that in many hospitalized patients, cancer
tion and/or projection of responsibility for his life arose after intense trauma or psychic suffering,
in others or in external situations” (PENNA, 2014, such as an accident, the death of a relative, a se-
124). Finally, the way the dream ends, or as far as paration, among others.
the dreamer’s memory reaches, reveals to us the Ramos (2006) also states that there is a rela-
prospective sense of the psyche, that is, the cou- tion between psychological events, the degree of
rse that is being outlined in psychic dynamics. emotional expressivity and the immune system.
In other words, the non-expression of a negative
2. Cancer as a symbol and shocking emotion is potentially a factor in
Through the association test, Jung was able altering the functioning of the immune system.
to observe that when complexes are activated, It is understood that disease appears “as a
changes are triggered at the physiological and compensation resource, a symbolic resource of
psychological level. In other words, very char- self-regulation of conscious polarizations, throu-

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 69


Junguiana
v.36-2, p.67-76

gh the integration of unconscious contents” (SE- ge implies a sudden breakdown in routine and
RINO, 1999, 43). By allowing awareness and ela- habits, and especially in the abandonment of the
boration of unconscious processes via work with family nucleus, school, work and all the emotio-
dreams, we favor the flow of psychic energy from nal support which are absolutely important both
the unconscious to consciousness, avoiding de- for the child and his companion.
regulation or one-sidedness, which could affect The material was collected in an individual
the immune system or express itself symbolically meeting with the patient’s companion and with
in the body. the child. The meetings occurred in the institu-
tion where the subjects lived during the period of
3. Method data collection. Through individual semi-structu-
This is a qualitative research with patients of red interviews, the context of the child’s life and
pediatric oncology who resided temporarily in a his dreams were addressed, recorded with the
philanthropic institution or “support house” in prior authorization of the interviewees and the
São Paulo, SP. Term of Free and Informed Consent was signed
Fictitious names will be used to preserve the according to Resolution n. 466/12 of the Natio-
identity of the participants. They are: Mauricio, nal Health Council.The method of analysis of the
male, 10 years old, in treatment of Acute Leuke- collected data consists on the categorization of
mia, who was hospitalized for 6 months for che- dream elements and themes, making it possible
motherapy; Melina, female, 12 years old, under to identify similarities between the dreams col-
treatment for bone tumor; Nadia, female, 12 ye- lected and to relate them to the life context of the
ars, maintaining the side effects of a brain tumor subjects.
and consequent withdrawal of the pituitary gland, The project was submitted and approved by
who was in coma for 2 years and underwent se- the Human Research Ethics Committee of the
veral head surgeries; and Carolina, a 12-year-old Pontifical Catholic University of São Paulo, num-
female, who was discharged from the treatment ber CAAE 61884216.9.0000.5482.
of renal and hepatic cancer 10 years ago, but
continues to undergo endocrine, nephrotic and 4. Results and discussion
oncologic follow-up, and who was submitted to From the dreams collected, it was possible
chemotherapy and radiotherapy, and had the to observe some similarities, both with respect
adrenal gland removed. Participation was volun- to the content and the dream structure. What we
tary and there was no previous determination of propose to do is to analyze the common characte-
specific type of cancer, the same about gender, ristics of dreams, based on the theoretical reading
ethnic origin and symptomatology. presented previously, in order to relate the dream
It is important to emphasize that the individu- material collected and the experience of illness.
als of this research have low purchasing power, The lives of children in this study have been
which already constitutes a social vulnerability traversed by various emotional disappointments
by itself. This condition can be a complicating and traumas such as emotional deprivation,
factor in the process of illness, since they depend violent family conflicts, caregivers with serious
on public health services, which can mean long psychiatric or substance abuse issues, verbal
waiting lines, shortages of medicines, the need harassment, and so on. We see that the same
to travel to larger cities, among other difficulties children who face hospitalizations, chemothe-
experienced by the interviewees. In addition, the rapies and surgeries have already experienced
children and their respective caregivers came various impasses and difficulties in their deve-
from different places in Brazil to São Paulo, in lopment and their relationship with the world. In
search of a better medical treatment. This chan- this sense, we can say that, as observed by Lima

70 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.67-76

et al. (2011), the instability marked by this so- They painted me all in black. After putting
cial context may have contributed to a shortage the plate, painted in black, they placed a
of resources to cope with conflicting situations, container in my mouth and a lot of blood
resulting in a change in the psychic and corporal came out. Then when a lot of blood came
system, appearing the symptom. out, when it stopped, there came the tas-
te of black blood, then when I opened the
5. Nightmares eye I fainted, that was it. They put a lot of
Referring to the elements of dreams, we have things around here, they cut my cheek, cut
been able to observe the frequent presence of ag- my arms, my hand, my foot... I also had no
gressive figures, who put the dream ego at risk or eyebrows (Nadia, 12 years old).
indeed act in a violent way towards the dreamer.
According to Kalsched (2013), in the dreams In the report, blood appears as one of the main
of victims of early trauma, the inner daimonic fi- elements, which would symbolize, according to
gure actively attacks the dream-ego. In this dre- Chevalier (2003), the vehicle of life and principle
of generation; however, it appears black, which
am material, the violent character of these sel-
indicates a sense of something dead or rotten. Ac-
f-attacking dissociative processes is illustrated,
cording to the author, black is the color of oppres-
where “the devilish figure traumatizes the inner
sive mourning, without hope, “as nothingness
objective world in order to prevent retraumatiza-
without possibilities” (p.740). On the other hand,
tion abroad” (p. 33).
teeth are understood as aggressive potential, they
are “the most primitive weapons of attack and ex-
“A man came and tied me in a sack.
pression of activities” (CIRLOT, 1984, p. 120) and
He would meet me in the bedroom“
constitute the wall and defense of the inner man.
(Nádia, 12 years old).
In this sense, we can think of their loss or with-
drawal as a negative symbolism, because it refers
The figure seems to represent an imminent and
to inhibition, passivity, fear of defeat, as well as
constant danger that acts in relation to the indivi-
the loss of defense and attack mechanisms. Pas-
dual, making him unable to protect himself or to
sivity and fragility are at such a level that the ego
avoid it. According to the above-mentioned author, does not recognize any possibility of action or
dreams of this kind happen to prevent the dream-e- counterattack. The very experience of being im-
go from experiencing the affection associated with mobile, blindfolded and being cut several times
the trauma, violently interfering and dissociating seems to be analogous to what she lived during
the psyche, taking the ego out of the picture. the two years she was in a coma, being subjected
We have observed that the aggressive figure to surgeries on her head.
often carries or makes use of knives, which is These dreams reinforce the psychological dis-
easily related to the medical and surgical proce- tress and emotional fragility that these children
dures that the population in question is and / or seem to be going through, as well as the feelin-
was subject to. gs of insecurity and fear already mentioned. Not
only actions developed in dreams, such as dis-
I had a dream that all my teeth were tea- memberment, immobility and lack of vision, but
ring. I had no teeth and I had to use plates. the present symbols represent the passivity and
And in this here, all blood came out (poin- near-death experience lived. It is also verifiable
ting to the teeth). Then they took my teeth how inner oppressive figures continue to haunt
to a place hen I do not know. I was all tied the inner world of the individual, forming true
back on my arm; my eye was all capped. psychological sequels of traumatic experiences.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 71


The dream materials seem to point to an at- – had few mentions in dream reports. This lack
tempt to rework and re-signify the violence suf- of protective references reinforces the feeling of
fered by medical interventions, represented by loneliness and abandonment, already verified by
concrete physical death in dreams. These reports Bigio (2005) as common in children in conditions
raise the possibility of what Kalsched (2013) cal- of illness. However, it is not the frequency in whi-
led a “self-destructive system” (p. 52), where the ch they appear – or the lack of – that catches our
inner world is transformed into a nightmare of attention, but the quality and the fulfillment of the
oppression and self-harm. The oppressive agent expected protective function of these images.
is presented by images of titanic beings who “I dreamed that I fell into a hole and I screa-
threaten to annihilate the immature ego, conti- med for my mother and my mother did not listen”
nuing to traumatize the inner world. (Carolina, age 12). It is possible to understand
the situation reported as an analogy to illness:
Once my cousin appeared and she was the fall itself seems to refer to the disease, which
like this, in the closet there. This closet places it as a subject with no possibility of action
here (goes to the front of the closet), but or escape, as the end of the powers, depending
the closet was white, and my cousin was on others to get out of his condition. In this pla-
sitting here in her chair holding her doll, ce, she asks and waits for the help of her mother
then I passed my bed here, from there I who, in the child’s imagination, should protect
looked and she wasn’t there anymore... I her or even prevent her from falling, but she does
could not see her face, I do not know what not come to help her.
I was doing there (Melina, 12).
“I remember a young man assaulting me,
It is important to emphasize that Melina points carrying a knife, assaulting me from my fa-
to the child as the main image of her nightmares, ther. He went to the hospital. Then I woke
which leads us to think about the possibility of up quickly, I was very scared” (Maurício,
being the image of the part of her personality that 10 years old).
was encapsulated in the process of fragmentation
of the psyche. In the dream, the child is inside his In these reports, parents are passive or inca-
room – his inner world – and finds himself in a pable of fulfilling the expected protective func-
retracted position, sitting in a corner facing the tions. In addition to illustrating abandonment,
closet. We can understand these aspects as cons- therefore, dreams also demonstrate the percep-
tituents of the fragile and vulnerable part of the tion that parents are not omnipotent and are able
patient that has been separated and dissociated to fully guarantee the child’s safety and well-
from the reality of time and space. -being, which in turn undermines his confidence,
The reason this image is so frightening to the in the feeling of solitude.
ego is based on the fact that “integration or ‘to- The fear of an imminent separation between
tality’ is initially experienced as the worst thing father/mother and child is illustrated in the dre-
imaginable” (p. 56). In other words, getting in am, pointing to the way the child understands
touch with these images and the affects associa- the risks of his/her treatment. In this way, we can
ted with them constitutes a threat to the survival verify that there is the association of the disease
of the self. with the possibility of this separation, which is
the main conflict in the dream, exemplifying what
6. Protective figures Di Lione (2001) affirms in relation to the parents’
As opposed to the frequent presence of violent lack of being at times a source of distress greater
figures, parental images – protective references than that caused by the prospect of death itself.

72 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.67-76

We also see that it is the space of the hos- security, of being in danger, corresponding to a
pital where the separation of father and son oc- rescue of the individual protection.
curs, that is, the ambiguity pointed out by Alves The white appears in both dreams of Melina,
& Figueiredo (2017) is illustrated in relation to being especially emphasized in this second one.
the image of the hospital in the infantile psyche. This color symbolizes a passage, a moment of
Although the child, in conscious life, knows that transition, of mutations of being. “In all symbo-
space is what allows a possible cure, also knows lic thinking, death precedes life, for every birth
that it represents the lack of control – both by the is a rebirth. For this reason, white is primitively
parents and the child – and the danger of separa- the color of death and mourning “(CHEVALIER,
tion between them. 2003, p.141). This symbolism may refer to two
Dreams tell us the possibility of a tragic and transitions in which the dreamer in question is
sudden outcome, which can’t be avoided by the subject: the first is the transition to adolescence,
relatives or the child himself, separating them marked by puberty. The archetypal images that
against their will. The dream-ego is passive, that announce the natural transformations of the de-
is, conflicts affect them and there is no reaction velopment process usually refer to the theme of
or attempt to avoid it. We can also observe what death and rebirth (VON FRANZ, 1988). It is also
Penna (2014) calls the projection of responsibi- possible to interpret that the passage indicated
lity for her life in others. This point is related to by the archetypal image of white announces an
the current condition of these children, since, be- organic transformation.
cause they can’t be responsible for medical de-
cisions regarding the maintenance of their lives, 7. Compensatory dreams
they must rely on the decisions of the clinical sta- Some of the collected dreams seem to exer-
ff and their relatives, seeing them as responsible cise the compensatory function in the sense of
for their welfare. compensating for the current conscious situa-
tion in order to provide images of hope and ha-
The other day that I was sleeping like this, ppiness. This type of dream is a compensation
on the side so close to the kitchen, there that enables the flow of energy needed to face
was a little girl in the table at the table like conscious life.
that [shows a height a little smaller than For example, in the dream below, there is the
yours], it was there. But it was all white, realization of a conscious desire of the child to
it looked like it was day, everything was live in São Paulo, whose explanation was to live
white... she was like this (she rests her closer to the hospital – which would make her feel
head in her hands). Her hair was that big, safer – and for her father to get a job. We see hope
her clothes were white, her little dress was for a better and safer future for her and her family.
white. And when I woke up it was night [...]
I thought it was an angel (Melina, 12). “I dreamed that I have a beautiful big
house in São Paulo and have a lot of cars”
In this dream, the child wakes up in her house (Nadia, 12 years old).
and there are no signs of his relatives; however,
she finds an image that is identified as an angel. Compensatory dreams also exert their function
According to Chevalier (2003), in the Christian by presenting a healthy childhood experience:
tradition it is common for angels to be represen-
ted by children referring to themes of protection I dreamed playing very lively today, there
or as guardians. It is possible that this image I met the family that was there, then I got
appears to compensate for the sensation of in- there, I was going to have a barbecue there.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 73


Junguiana
v.36-2, p.67-76

Then we went to the beach and also, I think hole. According to Von-Franz (1993), this points
we went to play ball, that was in a field. Then us to the fact that the unconscious itself does not
we came here, we played a lot here. Then present or consider a solution to the conflict.
there was a really nice party, it was in ano- The predominance of these types of dream
ther house, there I got there, people were outcomes is an example of the fragility of the
there celebrating, it was a boy’s birthday subject’s psyche, presenting weakened egos and
there. Then I got there, I played again, I ate a limited resources to deal with conflicts. The pas-
lot of candy there, did not I? Then they took sivity and inability of the dream-ego to solve the
us for a walk, all that (Maurício, 10 years old). problems of the dream seem to reflect the cons-
cious attitude of the dreamer, that is, dreams do
These dreams exercise the compensatory not present the foresight function, presented by
function in the sense that they are compensa- Jung (1984), in which the unconscious would pre-
ting for the current conscious situation, in order sent a sketch of the solution of the conflict.
to provide images of hope and happiness, either
through fulfillment of wishes or through the pre- 9. Attitude of the dream-ego
sentation of a better and more pleasurable future. The attitude of the ego in the dream reveals
to us the possibilities or potentials that the dre-
8. Dream outcome amer possesses or is about to develop to deal
With regard to the structure of these dreams, with the conflict addressed in the dream, or even
it was possible to observe the predominance of shows us the attitude that tends to harm him.
unfavorable outcome and absent outcome. By In virtually all accounts, the dream-ego was
ending the dream in a tragic way, they impact the passive, that is, it suffered the actions of other
dreamer heavily, frightening him. elements of the dream, rather than being the
The common nightmare is characterized by protagonist. Because they are in treatment or
the unpleasant outcome, where the closing of following a serious illness such as cancer, these
the question is given in a suffered and destructi- children are in a situation of great vulnerability
ve way. Let’s look at the following example: and emotional and physical fragility, as well as
being subject to medical interventions that cause
“I also dreamed that they stabbed me all pain and fear. The patients are in a condition of
and put me inside a coffin” (Nadia, 12). great passivity; often without full knowledge of
their condition, prognosis and treatment; have no
As we have seen previously, these characte- say in decisions relating to treatment; as well as
ristic points us to how the ego deals with situ- are subjected to treatments that affect the physi-
ations that are dangerous or unfavorable to de- cal and emotional integrity, often without being
velopment. From this account, we can consider informed about the procedures and their effects
that the ego is still extremely vulnerable, fragile. (LIMA et al., 2011; BIGIO 2005; MONTEIRO, 2009).
Through the relapses of surgical procedures, the This context contributes to the child being unable
dreamer experiences the imminence of death, to come into contact with subjective experiences
impotence and fragility. It is as if the ego still with the disease, which impairs their emotional
occupies this place, subjected to a constant and expressiveness and development, potentially in-
real danger of death. terfering with the functioning of their immune sys-
In the same way, the dream presented earlier tem, as mentioned by Ramos (2006).
where Carolina falls into a hole and her mother Since the dream demonstrates the possibility
does not hear the distress call is an example and willingness of the ego to deal with the mate-
of an absent end, since she can’t get out of the rial in question, we can understand the passive

74 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.67-76

attitude on the part of the dream-ego as a sign of Structural characteristics of the dream as pas-
a lack of internal resources to face the situations sive dream ego and unpleasant or absent outcome
given by its current condition. were predominant in the presented reports. Funda-
mentally, these aspects indicate to us that the ego is
10. Conclusion failing to develop resources to deal with conflict, and
The dreams presented put us closer to the its passive position is a major detriment to the deve-
psychic situation of these children. Through lopment of its potentialities. Although the passivity
the elements and dream structures and their imposed by the disease is unavoidable, making the
analysis, it was possible to perceive an intense child an active subject in the process of coping with
emotional fragility sustained by feelings of lo- illness enables him to appropriate his or her real
neliness, abandonment, insecurity and passivi- condition, as well as to develop internal resources to
ty, already identified by Bigio (2005), Monteiro deal with physical and psychic suffering.
(2009) and Lima et al. (2011). In addition, there are indications of fragmen-
The morbid themes and elements related to tation of the psyche, that is, that some of the
the disease and its treatment, such as knives, children may have suffered psychic dissociation
hospitals and blood, point us to an attempt to due to traumatic experiences – related or not
elaborate these painful and invasive experien- to the pathology. This fact raises even more the
ces. As well as the frequent presence of aggres- urgency of the psychological accompaniment of
sive figures and the absence of protective refe- these patients, not only with verbal therapy, but
rences point to a sense of abandonment and also with the work with creative arts, since the
constant fear, where the danger is uncontrollable integration is threatening to the psyche, deman-
and unavoidable both by the child and by his pa- ding therapeutic techniques that are softer than
rents – which seems to have an obvious relation the usual ones of the analysis.■
to the process of illness and the feeling of impo-
tence provoked in the patient. Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 75


Junguiana
v.36-2, p.67-76

Referencias
ALVES, S. W. E.; FIGUEIREDO, L. R. Estratégias de atuação da LIMA, C. S. S.; BOTELHO, S. R. H.; SILVESTRE, M. M. Câncer
psicologia diante do câncer infantil: uma revisão integrativa. infantil: aspectos emocionais e o sistema imunológico como
Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 55-74, 2017. possibilidade de um dos fatores da constituição do câncer
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s- infantil. Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2,
ci_arttext&pid=S1516-08582017000100005&lng=pt&tl- p. 142-58, 2011.
ng=pt>. Acesso em 6 fev. 2018.
MONTEIRO, L. L. Adolescentes com câncer: vivências
BIGIO, C. B. A compreensão da criança acerca de seu e reações a doença e hospitalização. Trabalho de Con-
diagnóstico: um estudo sobre a representação do câncer na clusão de Curso (Especialização em Psicologia Hospitalar)
infância. Psicologia Revista, v. 1, n. 14, p. 109-35, 2005. – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2009.
CIRLOT, J. E. Dicionário de símbolos. Tradução Rubens
Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Moraes, 1984. OLIVEIRA, C. B.; ROSA, C. R.; BONATTO, T.; OLIVEIRO, N. M.
O câncer como manifestação do não simbolizado. Revista
CHEVALIER, J. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, da SBPH, Rio de Janeiro, v.1, n.9, p. 15-29, 2006.
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução
Vera da Costa Silva. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2003. PENNA, D. M. E. As mensagens dos sonhos: traduzir e
compreender – processamento simbólico-arquetípico.
DI LIONE, F. R. A criança existindo com câncer. Revista In: FARIA, L. D.; FREITAS, V. L.; GALLBACH, R. M.
ABD, v. 10, p. 72-85, 2001. (Orgs.). Sonhos na psicologia analítica. São Paulo:
Paulus, 2014. p. 106-33.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Tradução Dora Fer-
reira da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. (Obras completas RAMOS, D. G. A psique do corpo: uma compreensão
de C. G. Jung, v.7/2). simbólica da doença. 3. ed. São Paulo: Summus. 2006.

JUNG, C. G. A natureza da psique. Tradução Mateus SERINO, L. A. S. Diagnóstico Compreensivo Simbóli-


Ramalho Rocha. Petrópolis, RJ: Vozes. 1984. (Obras com- co – uma proposta de ressignificação da doença orgânica
pletas de C. G. Jung, v.8/2). para a prática médica.1999. 110 f. Dissertação (Mestrado
em Psicologia Clínica)–Faculdade de Psicologia. Pontifícia
JUNG, C. G. Seminários de sonhos de crianças.
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
Tradução Lorena Kim Richter. Petrópolis, RJ: Vozes. 2001.
VON FRANZ, M. L. O caminho dos sonhos. Tradução
KALSCHED, D. O mundo interior do trauma: defesas
Roberto Gambini. São Paulo: Cultrix, 1988.
arquetípicas do espírito pessoal. Tradução Claudia Gerpe
Duarte. São Paulo: Paulus, 2013.

76 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

A pele que somos e a pele que sentimos


Pele – símbolo – consciência

Iara Galiás Yoshinaga*


Iraci Galiás **

Resumo Palavras-chave
O sistema somatosensorial humano funcio- pele simbólica,
na de forma dinâmica. Nossos órgãos recebem e toque, psico-
produzem estímulos que são convertidos em in- logia analítica,
psicodermat-
formação biológica, necessária para a formação,
ologia, fibras
maturação e funcionamento global do nosso
tipo C.
corpo, mente e espírito. O "sentir-se bem, sen-
tir-se com saúde" é uma consequência de vários
fenômenos biológicos que envolvem o sistema
nervoso central. Neste contexto, serão abordados
os papéis da pele, do tato e do toque no desen-
volvimento e estruturação da consciência e do que
se chama "pele simbólica" ou "pele psíquica". ■

* Médica, dermatologista pela FMSCSP (São Paulo, SP Brasil),


Professora Doutora em Dermatologia. pela FMUSP (São Paulo,
SP Brasil) e Harvard Medical School (Boston, MA USA)
E-mail: <iarayoshinaga@icloud.com>
** Médica, psiquiatra pela UNIFESP, Analista Junguiana, mem-
bro fundador da SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia
Analítica) e membro da IAAP (International Association fos
Analytical Psychology)
E-mail: <iraci.galias@icloud.com>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 77


Junguiana
v.36-2, p.77-88

Introdução

1. Introduction 2. O órgão pele na dermatologia


Os cinco sentidos clássicos descritos por integrativa
Aristóteles são decorrentes de uma evolução da
nossa espécie, garantem a nossa sobrevivência, 2.1 O que a pele e a psique têm em
desenvolvimento e aprendizado. O tato, um de comum?
nossos sentidos mais complexos, vem sendo in- Em 1923, Freud postulou que o Ego surge a par-
vestigado em pesquisas da psiconeurobiologia tir de sensações corporais vividas desde o nasci-
realizadas nos últimos 35 anos. No entanto, os mento, em especial pelo que ocorre na superfície
relatos clínicos advindos da psicologia reconhe- do corpo, ou seja, aquilo que é vivido na pele serve
cem há muito tempo (ANZIEU, 1988) que o tato para a construção de um Eu psíquico, "o Ego é an-
e o toque são fundamentais à estruturação e ao tes de tudo um Ego corporal" (FREUD, 1980). Seja
desenvolvimento da nossa psique. O tato é o pri- no desenvolvimento psíquico inicial do "Bebê de
meiro sentido a se desenvolver no ser humano, Melanie Klein" (KLEIN, 1991), nos “Ensaios sobre a
ainda na vida intrauterina. Teoria da Sexualidade” escritos por Freud (1977) ou
Todos os nossos sentidos são igualmente im- no "Estágio do Espelho" de Lacan (1998), é através
portantes e integrados. O nosso corpo funciona da observação do nosso funcionamento corpóreo
de uma forma dinâmica, os nossos órgãos sen- que se apoiam as teorias para a compreensão de
soriais tanto recebem quanto produzem os es- como somos "construídos" enquanto sujeitos.
tímulos que vão se transformar em informações A pele manifesta quem somos e como nos sen-
biológicas necessárias para a nossa formação, timos. Pele e psique são fronteiras entre o "EU" psí-
amadurecimento e funcionamento global: para o quico/corporal e o "outro". A pele estabelece uma
corpo, mente e espírito. fronteira entre o nosso corpo e o meio ambiente,
O "sentir-se bem, sentir-se com saúde" é assim como a psique estabelece e diferencia o
uma consequência de vários fenômenos bioló- "EU psíquico" (nosso "mundo interior") do mundo
gicos que envolvem o sistema nervoso central. externo. Tanto a pele como a psique nos lembram
Neste contexto, serão abordados o papel da de que somos seres únicos e indivíduo. Um bom
pele, do tato e do toque no desenvolvimento e exemplo são as nossas impressões digitais, que
estruturação da consciência e do que se chama nos identificam através da pele. Outro exemplo é a
"pele psíquica". nossa memória, que é absolutamente individual. A
Será realizado um breve resumo das investi- nossa memória é construída desde a vida intraute-
gações relevantes advindas das neurociências rina, tanto memórias corporais como emocionais.
que forneceram substratos neurobiológicos para Os nossos registros são continuamente construí-
a compreensão do funcionamento psicocutâneo dos ao longo da vida, atualizados e processados
no contexto da Dermatologia Integrativa. Uma de forma dinâmica, como arquivos em várias lin-
especial atenção será dada às fibras C, às termi- guagens, tais como imagens e sensações.
nações nervosas livres e aos queratinócitos (cé- A nossa pele é um órgão vital de comunicação.
lulas presentes nas camadas mais superficiais Conceitos advindos da psiconeuroimunologia per-
da pele), cujas conexões podem mediar sensa- mitiram uma compreensão mais abrangente de
ções de toque agradável, o "toque emocional", como a pele e as nossas emoções se comunicam.
vital para a sobrevivência e a manutenção da As principais evidências anatômicas e funcionais
nossa espécie. que fundamentaram esses conceitos foram:

78 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

1. a presença de fibras nervosas em con- aos mecanismos neurológicos que envolvem o


tato com células da superfície cutânea tato, o toque e as "emoções corporais".
(queratinócitos) e com células imunoló-
gicas presentes na pele; 3. Pele – símbolo – consciência
2. a descoberta de substâncias que tradu-
zem as mensagens do sistema nervoso 3.1 Prurido: sintoma e símbolo
central para o funcionamento da pele e A sensação de prurido, ou coceira, é uma das
vice-versa (neuropeptídeos); queixas mais frequentes em dermatologia, inde-
3. a existência de uma rede de comunica- pendentemente da sua etiologia. Como repre-
ção dinâmica denominada NICE – rede sentado na Figura 1 (IKOMA et al, 2011), o prurido
neuro-imuno-cutâneoendócrina – que é uma sensação que envolve: estímulos (endó-
está constantemente em contato com as genos e ou exógenos), vias aferentes e eferentes
nossas emoções. neuroimunomodulatórias, moléculas (tais como
A possibilidade de sinergia entre as ciências o neuropeptídeo P) e a comunicação do sistema
básicas e a clínica é um importante fator para a nervoso com a pele. Estudos acerca dos meca-
compreensão de como a pele e as nossas sen-
nismos neurofisiológicos da sensação do prurido
sações, vivências e emoções funcionam de for-
indicam haver múltiplas vias neuronais periféri-
ma integrada. Na prática, tornou-se necessário o
cas, algumas podem ser seletivas (específicas)
desenvolvimento de uma linguagem que permi-
para o prurido, enquanto outras não (Figura 1).
tisse o entendimento entre as várias disciplinas
O prurido nos serve de modelo para ilustrar como
médicas e de outras áreas da saúde para a via-
uma sensação ou sintoma pode ser interpreta-
bilização do atendimento interdisciplinar, uma
do simbolicamente no referencial da psicologia
abordagem integrativa.
analítica. Neste contexto, propomos um modelo
Este é o conceito da Medicina Integrati-
que denominamos: "Modelo de Funcionamento
va, e a Dermatologia Integrativa é uma espe-
Psicocutâneo Integrado" (Figura 2), usando o re-
cialização nesta área. Outras terminologias
ferencial da psicologia analítica, como descrito
também empregadas com o mesmo sentido
por C. G. Jung (2008) e neojunguianos (GALIÁS,
incluem Psicodermatologia e Medicina Psico-
2002). Ao contemplarmos a estrutura da perso-
cutânea (KOO; LEE, 2003). Neste artigo utiliza-
mos a terminologia Dermatologia Integrativa nalidade e o processo de individuação com seus
(YOSHINAGA, 2011). respectivos dinamismos, a pele simbólica con-
O avanço nas neurociências gerou a rup- creta e abstrata é imprescindível ao nosso fun-
tura de paradigmas, de conceitos cartesia- cionamento e desenvolvimento.
nos que “separavam” o funcionamento da Teorias psicodinâmicas levam em conta a
psique e do corpo. Neste contexto a pele ga- existência do inconsciente. Pressupõem uma
nhou um novo status; um órgão do sistema consciência estruturada a partir desse incons-
Psico-NICE (SLOMINSKI et al, 2012), uma das ciente. Jung concebeu os arquétipos como ma-
principais vias de comunicação e integração trizes de comportamento herdadas enquanto
mente-corpo-espírito. espécie. Descreve o que denominou Processo de
A Dermatologia Integrativa aborda o indiví- Individuação como o processo pelo qual esses
duo através desta "pele psíquica", em que pele é arquétipos conduzem o nosso desenvolvimen-
psique assim como psique é pele. Em vez de ser to na segunda metade da vida. Neojunguianos,
apenas um "envelope" do corpo humano, a pele como Carlos Byington (2002), estenderam o con-
passou a ser analisada como uma "interface de ceito da estruturação da consciência pelos ar-
comunicação", em especial no que diz respeito quétipos desde a nossa concepção.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 79


Junguiana
v.36-2, p.77-88

Assim, temos um Self, inconsciente, que do tipo de vínculo constituído, com a “Teoria do
contém os arquétipos, que estruturam nossa Apego”. Neumann (1973) fala da importância da
consciência através de símbolos. Estes são os relação primal entre o bebê e a mãe. Para a nos-
mediadores entre a nossa consciência e o nosso sa compreensão, essa é a vinculação eu–outro
inconsciente, nosso Self. Esse é nosso eixo Ego- regida pelo arquétipo da grande mãe, como de-
-Self. Byington ainda concebe o que denomina nominou Jung. Desse vínculo eu–outro, na matriz
as quatro dimensões estruturantes desse eixo, vincular do arquétipo da grande mãe, vai depen-
percorridas pelos símbolos. Uma delas é o corpo, der a estruturação do nosso narcisismo primário
e cada órgão do sentido opera de inúmeras for- saudável de Freud, ou a formação de um apego
mas como símbolo e função estruturante (BYIN- seguro de Bowlby, ou uma boa relação primal
GTON, 2002). Assim, todo o nosso corpo é alta- de Neumann. É na dependência de uma bem-
mente simbólico, ou seja, ele é uma via natural de -sucedida experiência nessa fase de vida que se
acesso de nossos símbolos à nossa consciência. forma uma boa autoimagem, colorida de valores
Jung fala da sombra, instância psíquica para positivos, matriz de uma autoconfiança segura.
onde vão os símbolos que, por alguma razão, Nessa fase da vida o corpo é a via régia dos sím-
sobrecarregam o eixo, fragilidade egoica para bolos para a estruturação da nossa consciên-
a força de determinado símbolo ou por defesas cia. A pele será o órgão de máxima importância
que não foram para a consciência. Esses símbo- para essa troca entre bebê e cuidador primário,
los contidos na sombra, ao tentarem entrar no através do toque. A comunicação entre bebê e
campo da consciência, geram os sintomas pela cuidador é bastante corporal, sendo o olhar e o
presença das defesas. Assim, todo sintoma é tato as principais vias para esse contato. Toda a
também simbólico. Daí Jung ter afirmado que estruturação da consciência nessa fase, regida
o sintoma também aponta um caminho a ser pelo arquétipo da Grande Mãe, é preponderante-
percorrido para a sua compreensão simbólica. mente corporal, requerendo proximidade física,
Somos animais com funcionamento simbólico, carinho, proteção para ser bem-sucedida. Esse
dentro das caraterísticas gregárias de nossa es- contato corporal se dará muito através da pele,
pécie. A nossa intersubjetividade, característica do olhar e da tonalidade afetiva da fala do cuida-
fundamental do nosso funcionamento, nos tor- dor. Assim, atividades como banho, massagens,
na interdependentes durante toda a existência. dar colo, enfim, proximidade física, são funda-
Para essa vinculação eu-outro, contamos com mentais. É através desse espelhamento positivo
um repertório variado, para o qual diferentes au- e nutrição afetiva que o bebê pode construir uma
tores designam diferentes nomes. autoimagem positiva, que possibilitará a sua au-
Ninguém nasce, em nossa espécie, com uma toconfiança saudável.
autoimagem já constituída. Essa autoimagem Na estruturação da consciência do arquétipo
vai se formar mediante o espelhamento e troca do pai, a simbólica ativada é a do mundo dos
com os nossos cuidadores primários. Assim, limites, da separação dos opostos (BYINGTON,
para essas primeiras experiências, tão funda- 1987). Associa-se ao que Freud chamou de fase
mentais para a formação de uma base, de um edípica. O corpo passa a reconhecer limites, pas-
alicerce emocional saudável e seguro, o tipo de sa a reconhecer o que é a pele de um e a pele
interação mãe(cuidador/a)–bebê ocupa um lugar do outro. Há um papel importante da pele nessa
de destaque. Essa mãe é um arquétipo, uma ma- estruturação, uma vez que é a pele o órgão que
triz relacional, presente em todos os cuidadores delimita o corpo. Ou seja, é a pele que vai sepa-
primários. Freud vai chamar a atenção para o rar o interno e o externo, o eu e o outro. Discrimi-
que ocorre descrevendo a formação do narcisis- na as polaridades quente e frio, áspero e macio,
mo primário. Bowlby (1969) descreve a formação pontudo e redondo etc.

80 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

Na estruturação de alteridade, pelos arquéti-


S1
pos do animus e da anima, o eu e o outro buscam CCA
o encontro simétrico e dialético. É na alteridade
Tálamo
que se busca a identidade profunda, a própria
Insula
criatividade. É quando se buscam os parecidos
e os diferentes, tentando encontrar um novo gru-
po, desta vez por escolha própria, é quando se Trato
espinotalâmico
busca o que denominamos a família psicológi-
ca. E novamente a pele carrega forte simbólica.
CM i
É quando podemos "trocar de pele" com o outro, Medula
Terminações Terminações espinhal
ou seja, se colocar na pele do outro, empatizar Nervosas Tipo C Nervosas
com o outro. É quando, ao nos sentirmos atraí-
Sensíveis à
dos pelo outro, pelo parceiro, usamos a expres- Tipo C
Histamina
Polimodais
são “ é uma questão de pele” para se falar desse
tipo de atração.
Na velhice, quando a consciência é estrutu-
PARs
rada pelo arquétipo da sabedoria, novamente H1R (Receptores de Proteases)
a pele espelha seus símbolos. As rugas, a dimi- (Receptores de
Histamina Tipo 1)
nuição do tônus, a pele sensível, traz cicatrizes
apontando para a etapa final de nossa existên- Fonte: Adaptado de Ikoma, et al (2011).
cia, nos preparando para a morte, importante e
negada etapa da vida. Figura 1 – A via (trajeto) neural do prurido. A hista-
Assim, na dimensão estruturante do corpo, a mina ativa receptores de histamina1 “H1R” específi-
pele é um dos órgãos de grande importância sim- cos para o prurido, que consistem de terminações
bólica. Se os símbolos que ela carrega, servindo nervosas tipo Cmi (sensíveis à histamina e meca-
no-insensíveis CMi) e de um trato espinotalâmico.
de comunicação entre o ego e o Self estiverem
Estudos sobre o prurido induzido por uma planta
na sombra, ao eles tentarem entrar no campo cowhage (Macuna pruriens), cuja protease exerce
da consciência, teremos o sintoma. Como este ativação neural de receptores de proteases PARs,
é simbólico, ele pode ser o caminho para a sua como do tipo 2 (PAR2), indicam a presença de outra
compreensão pelo campo da consciência. via neural de prurido, composta de nervos C polimo-
dais e nervos de outro trato espinotalâmico. Ambas
Desta maneira, qualquer sintoma na pele,
as vias ascendem ao tálamo através do corno dorsal
como por exemplo o prurido, pode apontar da medula espinhal. Há ativação de várias áreas
para uma simbólica da grande mãe, ansiando cerebrais: o córtex, somatose sorial primário (S1),
por proximidade, contato, aconchego, carinho, córtex cerebral anterior (CCA) e ínsula parecem estar
afeto. Um sintoma na pele pode apontar para a envolvidos na percepção do prurido.
simbólica do arquétipo do pai, buscando limite,
discriminação. Um sintoma na pele pode apon-
tar para a simbólica do animus ou anima, reque- de prurido, é um símbolo que chega à consciên-
rendo alteridade, contato simétrico e dialético, cia através do eixo Ego-Self. O Self, inconscien-
buscando a criatividade, a identidade profunda. te, contém os arquétipos que estruturam nossa
Um sintoma na pele pode apontar, finalmente, consciência através de símbolos.
para a simbólica da sabedoria, para a vinculação O prurido, sensação de coceira, pode es-
com o todo, para o grande sentido da vida. tar presente em condições fisiológicas, como
A Figura 2 representa de forma esquemática quando somos picados por um inseto, sinali-
como um sintoma na pele, tal como a sensação zando uma lesão. Também está presente nas

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 81


ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Natureza
EGO Sombra
Sintoma

Relacional
Eu-outro Corpo

Emoções/Ideações

Self Self
relacional SELF corporal

Pele psíquica
Self corporal e relacional sintoma na pele/prurido = símbolo

Figura 2 – Modelo do funcionamento psicocutâneo integrado.

alergias, nas peles sensíveis e nos eczemas, criança. Por vezes, o excesso de preocupação
bastante frequentes em crianças portadoras de leva a uma angústia nos cuidadores que os in-
dermatite atópica. A dermatite atópica altera o capacita para ajudar a criança a se acalmar.
funcionamento imunológico da criança com o Mesmo com medicamentos, anti-inflamatórios
aparecimento de lesões cutâneas (eczema ató- potentes como corticoides, o quadro crônico e
pico) e quadros respiratórios (asma e bronqui- intermitente traz limitações para o convívio e de-
te). Essas crianças apresentam menor limiar ao senvolvimento da criança com outras crianças e
prurido, ou seja, ele é facilmente deflagrado, na escola.
intenso e ocorre também à noite. Com o ato de Por outro lado, famílias bem orientadas,
coçar, as lesões pioram ainda mais, gerando capazes de lidar com essa angústia, conse-
muita angústia aos cuidadores, que se sentem guem acalmar as crianças. Estas passam a ser
impotentes diante do sofrimento e da fragilidade mais seguras se tocadas, massageadas com
da criança. É comum se dizer que "trair e coçar é óleos hidratantes de uma forma que as acalme,
só começar". De fato, o ato de se coçar piora as hidrate a pele, fortaleça o sistema imunitário,
lesões existentes e gera novas lesões prurigino- minimize o prurido e assim diminua o número
sas; assim se perpetua o ciclo itching-scratch-it- e intensidade das crises. Pode possibilitar uma
ching (coçar-arranhar/machucar-coçar), gerando vida mais adaptada ao cotidiano junto a outras
mais prurido, em um ciclo vicioso que se retroali- crianças e não em uma "redoma" de isolamento
menta e é extremamente estressante. e superproteção.
A gravidade e evolução do eczema atópico Feldman (2001) psicólogo norte-americano,
na criança têm estreita ligação com a forma que analista junguiano, estudou crianças atópicas
os pais, cuidadores, são capazes de cuidar da e seus familiares em diferentes contextos cul-

82 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

turais. Comparou a evolução clínica de crianças seu comportamento, a neurobiologia os utiliza


portadoras de atopia em países da América do frequentemente como modelo de pesquisa in
Norte e da América Latina. Nos países da Amé- vivo. (MAGUIRE, 2011; TINBERGEN, 1963; CROLL,
rica Latina, as pessoas se tocam com mais fre- 1975). Nesses organismos foram identificadas
quência, há um contato físico mais "livre" entre moléculas necessárias para que haja a sensação
crianças e adultos nas famílias, quando com- do toque e mecanismos pelos quais essas molé-
parado aos hábitos das pessoas da América do culas controlam a sensibilidade a estímulos me-
Norte. Nos Estados Unidos as pessoas se tocam cânicos, convertendo força em sinalização celu-
menos, abraçam-se menos, as famílias "comu- lar (mecanotransdução) (LUMPKIN, 2010). Esse
nicam o afeto" mais por palavras do que por sistema envolve mecanoceptores, neurônios
carícias, mantém entre si uma maior distância, sensíveis a forças que bombardeiam constante-
com menos pelo contato físico. Esses estudos mente a superfície do corpo e uma sinalização
revelam que nos países latinos, apesar das pio- necessária para a movimentação, sobrevivência
res condições financeiras e dos escassos recur- e procriação desses seres, portanto para a ma-
sos para saúde e educação, as crianças atópicas nutenção da espécie.
apresentam quadros menos graves e de melhor Estudos acerca dos mecanismos envolven-
evolução após a infância. Um outro exemplo de do o tato e o toque em mamíferos demonstra-
"toque nutritivo" está na Índia, um país de extre- ram que os queratinócitos, principais células
ma pobreza: massagens como a Shantala, pra- na superfície da epiderme, produzem neuro-
ticada nos bebês, parece ser de grande valor na transmissores que têm o potencial para sintoni-
nutrição advinda do contato com a intenção de zar a sensibilidade do toque por vias aferentes.
acariciar, acalmar e relaxar. Embora os queratinócitos e fibras sensoriais
Um outro estudo comparou o ganho de peso aferentes não formem sinapses, sua proximida-
de bebês prematuros internados em unida- de pode permitir uma rápida sinalização pará-
de de tratamento intensivo (UTI) (FIELD, 2010). crina (capacidade de comunicação com as célu-
Os pesquisadores separaram os prematuros em las vizinhas através da secreção de compostos
dois grupos: um grupo de bebês que eram ma- bioativos). Se pensarmos que o C. elegans, um
nipulados para os cuidados "técnicos de rotina" dos menores e mais simples organismos que
(trocar fraldas, limpeza, banho e alimentação) possuem sistema nervoso, possui um genoma
e um segundo grupo, que além de receber os de apenas 100 milhões de bases, enquanto o
mesmos cuidados do primeiro, também rece- genoma humano é constituído por 3 bilhões de
beram massagem, carícias e atenção "extra". bases, ou seja, 3 milhões de vezes maior, fica
Apesar de terem a mesma nutrição alimentar e fácil imaginar a importância e a extrema com-
de estarem na mesma UTI, o ganho de peso dos plexidade que envolve o funcionamento senso-
bebês acariciados foi superior e mais rápido do rial da pele, do toque e do sistema nervoso nos
que os que não recebiam os cuidados "extras". seres humanos.

4. Pele, tato e toque Toque e Fibras C: detectando o sentimento


O toque é definido como o contato direto
4.1 Biologia celular do toque entre dois corpos físicos. Em neurociências, "to-
O Caenorhabditis elegans e a Drosophila que" descreve uma sensação especial pela qual
melanogaster são seres vivos que possuem um o contato com o corpo de um organismo é perce-
sistema nervoso relativamente simples. Dada a bido pela mente consciente.
possibilidade de se manipular algumas de suas Alguns toques envolvem um componente
características genéticas correlacionadas ao motor ativo – acariciar, tocar ou pressionar –

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 83


pelo qual uma parte do corpo é movida sobre vência e preservação da espécie. A necessida-
outra superfície. Os componentes sensoriais e de do outro para a sobrevivência caracteriza
motores do toque são conectados e integrados a necessidade de agregação do ser humano.
no cérebro e são funcionalmente importantes Somos um dos animais mais frágeis e suscep-
para deflagrar ou direcionar um comportamento, tíveis à morte na ausência de cuidados após o
como, por exemplo, um deslocamento. Seja um nascimento. Esses cuidados não estão apenas
deslocamento para se afastar de algum estímulo relacionados à alimentação, como a amamen-
potencialmente nocivo (por exemplo, um pre- tação para a sobrevivência. O contato físico da
dador), ou para se aproximar em busca de ali- nossa pele, o ato de ser tocado, massageado
mento, ou para se aproximar de outro ser vivo a e acolhido constituem estímulos importantes
fim de se reproduzir. Ou seja, o tato/toque e as para a formação do "EU PELE", que estabelece
sensações advindas desse sentido são extrema- fronteiras, dando contorno para o meu EU e via-
mente importantes para a manutenção da vida e bilizando trocas através do contato com outros
preservação da espécie. seres (BOWLBY, 1969).
As modalidades sensoriais do tato são classi- Os diversos subtipos de fibras C fornecem o
camente divididas em quatro: táctil, térmica, pru- substrato para reinterpretarmos a nossa visão
riginosa e dolorosa. A presença de terminações
de como se dá o processamento somatosenso-
nervosas livres na superfície da pele (DELMAS et
rial humano. A família de fibras C participa de
al, 2011) e a transmissão de estímulos por vias
vias neuronais cujas sensações incluem: a dor,
específicas sugeriram a existência de uma quin-
a temperatura, o prurido e o toque afetivo (DEL-
ta modalidade, o toque afetivo. O toque que gera
MAS et al, 2011).
a sensação agradável, também chamada de sen-
sação "afetiva positiva" é transmitido através de
5. Conclusão e perspectivas
um tipo específico de fibra C.
As fibras C se dividem em dois tipos: C1, as
5.1 Além da pele
que funcionam como mecanoceptores de baixo
A dissecção do tato, um dos nossos sentidos,
limiar (LTM, Low Threshold Mechanoreceptors)
nos leva a refletir sobre a importância da pele na
e as C2 que, em contrapartida, possuem alto
evolução da nossa espécie, como seres huma-
limiar (HT High Threshold) para deflagração do
estímulo (despolarização via canais iônicos) e nos cuja característica marcante é a agregação.
que se correlacionam com estímulos de dor ou A nossa pele está além da pele táctil, integra
“nocivos” (nociceptores). Esse segundo grupo nosso EU somato/emocional, onde "pele é psi-
também está relacionado ao prurido e à sensa- que e psique é pele".
ção prazerosa do toque, ao aspecto afetivo de Jung, em sua primeira conferência, "Funda-
uma carícia, como o aconchego que um bebê mentos da Psicologia", faz as seguintes obser-
tem ao ser acolhido e sentir a pele da mãe. Logo vações: "A consciência é, sobretudo o produto
ao nascer, é esta sensação que geralmente o da percepção e orientação no mundo externo,
acalma, o faz parar de chorar diante do “susto” que provavelmente se localiza no cérebro e sua
ao sair do útero e ter tido o primeiro contato origem seria ectodérmica"; "No tempo de nossos
com o ambiente. Ambiente este muito diferente ancestrais essa mesma consciência derivaria
daquele intrauterino, repleto de líquido amnió- de um relacionamento sensorial da pele com o
tico. Ainda que distintos no tocante ao limiar, mundo exterior. É bem possível que a consci-
ambos os sistemas de vias aferentes do tipo ência derivada dessa localização cerebral rete-
C, tanto o de alto como o de baixo limiar, são nha tais qualidades de sensação e orientação"
igualmente importantes para a nossa sobrevi- (JUNG, 2008).

84 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

Fica evidente o fato de a pele ocupar um AFFECTIVE/SOCIAL CENSORY/DISCRIMINATIVE


papel importante na formação da consciência.
Cabe ressaltar a embriologia, a origem ectodér-
pSTS mPFC dACC medOFC OFC/dIPFC
mica da pele assim como a do sistema nervoso.
Craig (2003) realizou estudos com dados con- INTERACTING
CORTICAL NETWORKS
vergentes que indicam que os primatas apresen-
tam uma área cortical distinta, o córtex intero-
ceptivo, cuja atividade aferente reflete todos os Insula SI/SII

aspectos homeostáticos do estado fisiológico de (affective (discriminative


todos os tecidos do corpo. processing) processing)

Como ilustrado na Figura 3 (McGLONE et al,


pSTS mPFC dACC
2014), essa via de interocepção (aspecto afeti-
Thalamic nuclei
vo/social do estímulo cutâneo) inclui : Spinothalamic Dorsal column
tract via DCN
• Fibras C Tácteis Aferentes (CT receptors);
Lamina I Lamina III-V
• Lâmina I;
• Trato Espinotalâmico / Núcleos Talâmicos; Spinal cord
(dorsal horn)
• Ínsula e áreas específicas do córtex cerebral.
O núcleo talâmico VMpo (posterior ventral
discharge

discharge
freq

freq
medial nucleus) projeta-se topograficamen-
te para o córtex interoceptivo localizado na
slow fast slow fast
região marginal dorsal da ínsula (uma "ilha" AFFECTIVE: CT receptors AFFECTIVE: Aβ receptors
localizada no sulco lateral e que estabele-
ce íntimas conexões com o córtex cingulado
anterior, a amígdala, o hipotálamo e o córtex Stimulus speed over skin

orbitofrontal) (CRAIG, 1995). Este sistema in- Fonte: Adaptado de McGLONE et al (2014).
teroceptivo está associado ao controle motor
autonômico que se distingue do sistema exte- Figura 3 – Vias neuronais de estímulos cutâneos
roceptivo, que orienta a atividade motora so- afetivos e discriminativos. Representação esque-
mática (mecanocepção exteroceptiva cutânea mática das vias neuronais dos estímulos cutâneos
(de diferentes velocidades): a partir de receptores
e propriocepção). A representação cortical in- CT (C Tactile afferents) e receptores Aβ.
teroceptiva gera sensações corporais extrema-
mente distintas que incluem: dor, temperatu-
ra, prurido (sintoma/símbolo), toque sensual, tura da pele. A pele que nos conscientiza de
sensações musculares e viscerais, atividade que "somos", a pele que traduz o que "senti-
vasomotora, fome, sede e "falta de ar". Em mos". A consciência das sensações geradas
seres humanos, uma metarrepresentação da pelos diversos estímulos captados pela pele,
atividade interoceptiva produzida na ínsula extero- e interoceptivos, advindos de todas as
anterior direita parece constituir a base para células do nosso organismo, dá origem a como
a imagem subjetiva do EU CORPORAL, "corpo nos sentimos. Os nossos mais profundos sen-
material/emocional", como um "ser". Esses timentos estão enraizados na vasta superfície
achados inseridos no contexto do que Jung do corpo que nos confere identidade. ■
postulou sobre a "localização da consciência"
nos oferece uma outra perspectiva para a lei- Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 85


Abstract

The skin we are, the skin we feel. Skin – symbol – consciousness


The human somatosensory system works in tion” is a result of several biological phenomena
a dynamic way. Our organs receive and produce that involve the central nervous system. In this
stimuli that will be converted into biological in- context, the role of skin, tact and touch in the de-
formation, which are necessary for formation, velopment and structuring of our consciousness
maturation and the overall functioning of the will be discussed. The concepts of “symbolic
body, mind, and spirit. The “wellbeing sensa- skin” and “psychic skin” will be explored. ■

Keywords: symbolic skin, touch , analytical psychology psychodermatology, type C fibers

Resumen

La piel que somos y la piel que sentimos. Piel – símbolo – conciencia


El sistema somatosensorial humano funciona tirse con salud" es una consecuencia de varios
de forma dinámica. Nuestros órganos reciben y fenómenos biológicos que involucran el sistema
producen estímulos que se convierten en infor- nervioso central. En este contexto, se abordarán
mación biológica, necesaria para la formación, el papel de la piel, del tacto y del toque en el de-
maduración y funcionamiento global de nuestro sarrollo y estructuración de la conciencia y de lo
cuerpo, mente y espíritu. El "sentirse bien, sen- que se llama “piel simbólica” o "piel psíquica". ■

Palabras clave:piel simbólica, toque, psicologia anlítica, psicodermatologia, fibras tipo C

86 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.77-88

Referências
ANZIEU, D. O Eu-Pele. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1988. GALIÁS, I. Psiquiatria e dermatologia: o estabelecimento de
uma comunicação. Junguiana, n. 20, 2002, p. 57-62.
BOWLBY, J. Attachment Volume 1: Attachment and
Loss. New York: Basic Books, 1969. IKOMA, A.; CEVIKBAS, F.; CORDULA, K.; STEINHOFF, M.
Anatomy and Neurophysiology of Pruritus. Seminars in
BYINGTON, C. A. Desenvolvimento da Personalidade: O Cutaneous Medicine and Surgery, v. 30, n. 2, 64–70,
Ciclo do Patriarcal. São Paulo: Atica, 1987. (Capitulo 6, p. 59-68). jun. 2011.
BYINGTON, C. Os sentidos como funções estruturantes da JUNG, C.G. Fundamentos da Psicologia Analítica. 14.
consciência, ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
uma contribuição da psicologia simbólica. Junguiana, n. KLEIN, M. Algumas conclusões teóricas relativas à
20, p. 7-15, 2002.
vida emocional do bebê. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
(Obras Completas de Melanie Klein, Volume III Inveja e
CRAIG, A. D. Interoception: the sense of the physiological
Gratidão e outros trabalhos,1952).
condition of the body. Current Opinion in Neurobiol-
ogy, v. 13, n. 4, p. 500–5, jun. 2003.
KOO, J. Y. M.; LEE, C. S. (Eds.). Psychocutaneous
CRAIG, A. D. Supraspinal projections of lamina I neurons. Medicine (Basic and Clinical Dermatology). New York, NY:
In BESSON, J. M,; GUILBAUD, G. O. H. (Eds.). Forebrain Marcel Dekker, 2003.
Areas Involved in Pain Processing. Paris: John Libbey,
LACAN, J. O Estágio do Espelho como formador da função
1995. p. 13-26.
do eu tal como nos revela a experiência psicanalítica.
CROLL, N. A. Components and patterns in the behaviour In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998,
of the nematode Caenorhabditis elegans. Journal of p. 96–104.
Zoology, v. 176, n. 2, p. 159–176, 1975. https://doi.
LUMPKIN, E.; MARSHALL, K. L.; NELSON, A. M. The cell
org/10.1111/j.1469-7998.1975.tb03191.x.
biology of touch. Journal of Cell Biology, v.191, n. 2,
DELMAS, P.; HAO, J.; RODAT-DESPOIX, L. Molecular p. 237–248, 18 out. 2010.
mechanisms of mechanotransduction in mammalian
MAGUIRE, S. M.; CLARK, C. M.; NUNNARI, J.; PIRRI,
sensory neurons. Nature Reviews Neuroscience,
J. K.; ALKEMA, M. J. The C. elegans Touch Response
v. 12, p. 139-153, mar. 2011.
Facilitates Escape from Predacious Fungi. Current
FELDMAN, B. Una Piel para la Función Simbólica: Como Biology, v. 21, n. 15, p. 1326–30, ago. 2011.
Crear un Espacio para la Transforamción. In: IX SIMPÓSIO https://doi.org/10.1016/j.cub.2011.06.063.
NACIONAL DA ASSOCIACAO JUNGUIANA DO BRASIL,
McGLONE, F.; WESSBERG, J.; OLAUSSON, H.
2001, Sao Paulo. Anais... Sao Paulo, 2001.
Discriminative and affective touch: sensing and
FIELD, T.; DIEGO, M.; HERNANDEZ-REIL, M. Preterm Infant feeling. Neuron, v. 82, n. 4, p. 737–55, 2014.
Massage Therapy Research: A Review. Infant Behavior & https://doi.org/10.1016/j.neuron.2014.05.001.
Development, v. 33, n. 2, p. 115–24, abr. 2010.
NEUMANN, E. The Child: Structure and Dynamics of
FREUD, S. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1980. Nascent Personality. New York: Putman, 1973.
(Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comple-
tas de Sigmund Freud, Vol. XIX, 1923.). SLOMINSKI, A. T.; ZMIJEWSKI, M. A.; SKOBOWIAT, C;
ZBYTEK, B., SLOMINSKI, R. M.; STEKETEEARTICLE, J. D.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexual- Sensing the environment: Regulation of local and global
idade. Rio de Janeiro: Imago, 1977. (Edição Standard homeostasis by the skin neuroendocrine system. Advances
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund in Anatomy, Embryology, and Cell Biology, v. vii,
Freud, vol VII.). n. 212, 1-115, 2012.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 87


TINBERGEN, N. On aims and methods of ethology. YOSHINAGA, I. G. Pele, saúde e o processo de envelheci-
Zeitschrift für Tierpsychologie, v. 20, n. 4, p. 410–33, mento. In: BLOISE, P. (Org.). Saúde Integral: a medicina
1963. https://doi.org/10.1111/j.1439-0310.1963. do corpo, da mente e o papel da espiritualidade organiza-
tb01161.x. do. São Paulo: Senac, 2011.

88 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.89-98

The skin we are, the skin we feel


Skin – symbol – consciousness

Iara Galiás Yoshinaga*


Iraci Galiás **

Abstract Palavras-chave
The human somatosensory system works in symbolic
a dynamic way. Our organs receive and produ- skin, touch,
ce stimuli that will be converted into biological analytical
psychology
information, which are necessary for formation,
psychoderma-
maturation and the overall functioning of the
tology, type C
body, mind, and spirit. The “wellbeing sensa- fibers.
tion” is a result of several biological phenome-
na that involve the central nervous system. In
this context, the role of skin, tact and touch in
the development and structuring of our cons-
ciousness will be discussed. The concepts of
“symbolic skin” and “sensorial psychic skin”
will be explored. ■

* MD, PhD in Medical Sciences and Dermatology, MD from


FMSCSP (Santa Casa Medical School, São Paulo, SP Brazil),
PhD from FMUSP (São Paulo University Medical School,
SP Brasil), and Harvard Medical School (Boston, MA USA).
E-mail: <iarayoshinaga@icloud.com>
** MD, psychiatrist, MD from UNIFESP (Federal University os SP
State Medical School), Junguian analyst, founder member of the
SBPA (Brazilian Society for Analytical Psychology) and member
of the IAAP (International Association for Analytical Psychology).
E-mail: <iraci.galias@icloud.com>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 89


Junguiana
v.36-2, p.89-98

The skin we are, the skin we feel Skin – symbol – consciousness

1. Introduction particular by what occurs on the body, i.e., what is


Our classic five senses as described by Aristo- experienced in the skin serves for the construction of
teles are resultant of our species evolution, they a psychic I, “the Ego is first of all a body Ego” (FREUD,
ensure our survival, development and learning. 1980). Whether during the child’s early development
Touch, one of our most complex senses, has been according to Melanie Klein’s theory” (KLEIN, 1991),
investigated in psychoneurobiology research over in the “Essays on the Theory of Sexuality” written by
the last 35 years. However, clinical reports origina- Freud (1977) or the “Mirror Stage” of Lacan (1998), it
ted from psychology recognize a long ago1 that the is through the observation of our body functioning
sense of touch is crucial for the structuring and de- that we are “constructed” as subjects.
velopment of our psyche. Tact is the first sense to The skin expresses who we are and how we
develop in the human being, early during intrau- feel. Skin and psyche are boundaries between the
terine life. All of our senses are equally important “I” and the “other”. The skin establishes a boun-
and integrated. Our body works in a dynamic way, dary between our bodies and the environment, as
our organs receive and produce stimuli that will well as the psyche establishes and differentiates
be converted into biological information, which the “psyche” (our “inner world”) from the external
are necessary for formation, maturation and the world. Both the skin and the psyche remind us that
overall functioning of the body, mind, and spirit. we are unique human beings as individuals. A good
The “wellbeing sensation” is a result of seve- example are our fingerprints, which are identified
ral biological phenomena that involve the central through the skin. Another example is our memory,
nervous system. In this context, the role of skin, which is absolutely individual. Our memory, both
tact and touch in the development and struc- physical and emotional, is built since the intrau-
turing of our consciousness and what is called terine life. Our records are continuously construc-
“sensorial psychic skin” will be discussed. ted, they are dynamically updated and processed
A brief summary of relevant investigations throughout life. They are like files saved in various
stemming from neurosciences which provided neu- forms, such as images and sensations.
robiological substrates for the understanding of the Our skin is a vital organ of communication.
psychocutaneous functioning in the context of In- Concepts of psychoneuroimmunology has ena-
tegrative Dermatology will be presented. A special bled a more comprehensive understanding of
attention is given to touch type C fibers, to the free how the skin and our emotions communicate.
nervous endings and to keratinocytes (cells pre- The main anatomical and functional evidences
sent in the most superficial layers of the skin), who- supporting these concepts are:
se connections can mediate sensations of pleasant 1. The presence of nerve fibers in contact with
touch, the “emotional touch”, which is vital for the the skin surface skin cells (keratinocytes)
survival and maintenance of our species. and with immune cells present in the skin;
2. the discovery of substances that transla-
2. The skin organ in integrative te the messages from the central nervous
dermatology system to the functioning of the skin and
vice-versa (neuropeptides);
2.1. What does skin and psyche have 3. the existence of a dynamic network na-
in common? med NICE – neuro-immuno-cutaneous-
In 1923, Freud postulated that the Ego comes -endocrine network – that is in constant
from bodily sensation experiences since birth, in communication with our emotions.

90 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.89-98

The synergy between basic science and clini- may be specific for the itching, while others are
cal practice is important for the understanding not (Figure 1): The itching serves as a model to
of how the skin and our sensations, experiences illustrate how a feeling or symptom may be sym-
and emotions work in an integrated manner. The- bolically interpreted in the framework of Analy-
refore, it became necessary to develop a langua- tical Psychology. In this context, we propose a
ge that would allow the understanding among model that we call: "Integrated Psychocutaneous
the various medical disciplines and other areas Functional Model" (Figure 2) by using the fra-
of health for the practice of the interdisciplinary mework of analytical psychology, as described
care, an integrative approach. This is the concept by Jungians (JUNG, 2008) and neojunguians (GA-
of Integrative Medicine, the “Integrative Derma- LIÁS, 2002). In contemplating the structure of the
tology” is a specialization in this area. Other personality and the individuation process with
terminologies also employed with the same sen- their respective dynamisms, the concrete and
se include “Psychodermatology” and “Psycho- abstract symbolic skin is essential to our functio-
cutaneous Medicine (KOO; LEE, 2003).” In this ning and development.
article we use the term Integrative Dermatology Figure 2 represents a schematic model
(YOSHINAGA, 2011). The advances in neuroscien- showing how a symbol, such as the sensation of
ces brought paradigm shifts, changing Cartesian pruritus reaches the consciousness through the
concepts that “separated” the functioning of the Ego-Self axis.
psyche and the body. In this context, the skin Psychodynamic theories take into account the
gained a new status; an organ of the Psycho-NI- existence of unconscious. They consider a cons-
CE system (SLOMINSKI et al, 2012), one of the ciousness that is structured from the uncons-
main communication routes for the integration
mind-body-spirit. The Integrative Dermatology
deals with the individual through this “psychic
ACC S1
skin”, where the skin is psyche as well as psyche
Thalamus
is skin. Instead of being just an “envelope” of the Insula
human body, the skin has to be considered as
a “communication interface”, in particular as re-
gards the neurological mechanisms that involve Spinothalamic tract
the tact, touch and the “bodily emotions”.

Spinal cord
3. Skin – Symbol – Conscience

3.1. Pruritus: Symptom and Symbol


CMi See Fig. 2
The sensation of pruritus or itching, is one of
the most frequent complaints in dermatology, re-
gardless of its etiology. As shown in Figure 1(IKO- Polymodal-C ?
MA et al, 2011), the pruritus is a sensation that
H1R PAR2 ?
involves: stimuli (endogenous or exogenous),
afferent and efferent pathways, neuroimmune- Histamine Protease
modulatory molecules (such as Neuropeptide P) Cowhage
and the communication of the nervous system
with the skin. Studies about the neurophysiolo- Adapted from Ikoma et al (2011).

gical mechanisms of pruritus indicate that there


are multiple peripheral neural pathways, some Figure 1 – “The Neural Pathway for Itch”

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 91


Junguiana
v.36-2, p.89-98

cious. Jung conceived the archetypes as arrays of particular symbol or due to defences. When the-
inherited behaviour as a species. He describes se symbols contained in the shadow, try to move
the individuation process as the process by whi- towards the consciousness, they generate the
ch these archetypes lead to our development in symptoms by the presence of defences. Thus,
the second half of life. Neojunguians, as Carlos every symptom is also symbolic. Hence Jung
Byington (2002), have extended the concept have stated that the symptom also points out a
of consciousness structuration by archetypes path to their symbolic understanding.
since our conception. Thus, we have a Self, un- We are animals with a symbolic functioning.
conscious, which contains the archetypes, that The gregarious characteristics of our species
structure our consciousness through symbols. make us interdependent throughout life. We cou-
These are the mediators between our consciou- nt with a varied repertoire of terms to name this
sness and our unconscious, our Self. This is our “I-Other” binding, according to different authors.
Ego-Self axis. Further, Byington conceives what Nobody in our species is born with an esta-
he denominates the four structuring dimensions blished self-image. This self-image will be for-
of this axis. One of them is the body, and each of med upon the mirroring and the exchange with
our senses operates in many ways as a symbol our primary caregivers. Thus, these first expe-
with an structuring function (BYINGTON, 2002). riences, so fundamental to the formation of a
So, our entire body is symbolic, i.e., it is a na- base, a safe and healthy emotional foundation,
tural way by which our symbols gain access to the type of mother/caregiver-baby interaction oc-
our consciousness. cupies a prominent place.
In Jungian psychology, the “shadow” is a psy- This mother is an archetype, a relational ma-
chic instance. The symbols that for some reason trix, present in all primary caregivers. Freud will
overloaded the Ego-Self axis go to the shadow; draw attention to what occurs, describing the for-
either due to the Ego fragility for the strength of a mation of primary narcissism. Bowlby (1969) des-

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Natureza
EGO Sombra
Sintoma

Relacional
Eu-outro Corpo

Emoções/Ideações

Self Self
relacional SELF corporal

Figure 2 – “Integrated Psychocutaneous Functional Model”

92 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.89-98

cribes the formation of this type of bond with the structure, since it is what defines the body. In
“Attachment Theory”. Neumann (1973) speaks of other words, it is the skin that will separate the
the importance of the primal relationship between inner and the outer, the I and the other.
the baby and the mother. To our understanding, During the alterity, structured by the arche-
this is the link I-Other governed by the archetype types of animus and anima, the I and the Other
of the great mother, as termed by Jung. seek the symmetrical encounter. It is in the al-
This bond I-Other, in the relational matrix of terity that the search of ones profound identity
the Great Mother, will depend on the structure of and creativity occurs. And again, the skin plays a
our healthy primary narcissism as described by strong symbolic role. It is when you put yourself
Freud, on the formation of a secure attachment in the place of another, it is when we feel attrac-
as described by Bowlby, or on a good primal re- ted by another partner. We use the term “it is a
lationship according to Neumann. matter of skin” to speak of this type of attraction.
The formation of a good self-image is depen- In old age, when the consciousness is struc-
dent on a successful experience in this stage tured by the archetype of wisdom, again the skin
of life, colored of positive values, the matrix of reflects its symbols. The wrinkles, the reduction
a secure self-confidence. In this phase of life of the tonus, the sensitive skin bring scars poin-
the body is the major via of the symbols for the ting to the final stage of our existence, preparing
structuring of our consciousness. The skin is the ourselves to death, an important and denied sta-
organ of utmost importance for this exchange be- ge of life.
tween infant and the primary caregiver, through The pruritus, itching sensation, can be pre-
the touch. sent in physiological conditions, like when we
The communication between the infant and are bitten by an insect, signaling a lesion. It is
the caregiver is based on the body, vision and also present in the allergies, in sensitive skin
touch are the main routes for this interaction. and eczema, quite frequent in children with
The similar and different, trying to find a new atopic dermatitis.
group, this time by choice, is when seeking what Atopic dermatitis alters the child’s immune
we call the psychological family. Structuring of functioning with the onset of cutaneous lesions
consciousness at that stage, governed by the (atopic eczema) and respiratory symptoms (asth-
archetype of the Great Mother, requires physi- ma and bronchitis). These children have a lower
cal closeness, affection, and protection in order threshold to the pruritus, i.e., it is easily trigge-
to be well succeeded. This body contact will be red, intense and also occurs at night.
mostly through the skin, the look and the affec- With the act of scratching, the lesions worsen
tive tone of speech of the caregiver. Thus, acti- even further, causing much anguish to caregi-
vities such as baths, massages, comforting and vers, who feel powerless in the face of the suffe-
proximity are fundamental. It is through this po- ring and the fragility of the child. The act of scra-
sitive mirroring and emotional nourishment that tching worsens existing lesions and generates
the baby can build a positive self-image. new pruritic lesions; thus perpetuating the cycle
The next step in the structuring of conscious- “itching-scratch-itching”, generating more pruri-
ness is governed by the archetype of the Father. tus in a vicious cycle that is extremely stressful
The symbolic enabled is the world of limits, the The severity and progression of atopic der-
separation of opposites (BYINGTON, 1987). It is matitis in the child has a close connection with
associated to what Freud called Oedipus phase. the way the parents are capable of taking care
The body recognizes limits, the body starts to of the child. Sometimes, the excess of concern
differentiate its own skin from someone else’s leads to an anguish that disables them to help
skin. There is an important role of the skin in this the child to calm down. Even with powerful an-

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 93


ti-inflammatory drugs, such as steroids, chronic receive the same care from the first, also recei-
and intermittent crisis brings limitations to the ved a massage, petting and “extra” attention.
contact and the development of the child with Despite having the same food nutrition and
other children and at school. On the other hand, being in the same ICU, the weight gain of cares-
well oriented families, capable of dealing with sed babies was higher and faster than those who
such anguish, are able to calm the children. They did not receive the “extra” care.
become more secure if touched, and massaged
with oils in a way that soothes, moisturizes the 4. Skin: feel and touch
skin, strengthen the immune system, minimize Caenorhabditis elegans and Drosophila me-
the itching and thus decrease the number and lanogaster are living beings which have a relati-
intensity of the crises. They become more adap- vely simple nervous system. Given the possibility
ted to everyday life along with other children, of manipulating some of their genetic characte-
and do not stay in a “bubble” of overprotection. ristics correlated to their behavior, the neurobio-
Feldman (2001) an american psychologist, logy often uses them as a model for in vivo rese-
Jungian analyst, studied atopic children and arch (MAGUIRE, 2011; TINBERGEN, 1963; CROLL,
their families in different cultural contexts. He 1975). In these organisms molecules required
compared the clinical outcome of children with for the sensation of touch were identified and
atopic disease in countries of North America and mechanisms by which these molecules control
Latin America. In the countries of Latin Ameri- the sensitivity to mechanical stimuli, converting
ca, people touch each other more frequently in strength into cell signalling (mecanotransduc-
comparison with North America. There is more tion) was described (LUMPKIN, 2010). This sys-
physical contact between children and adults in tem involves mecanoceptores, neurons sensitive
the latin families, when compared to the habits to forces that constantly bombard the surface of
of north americans. In the United States, families the body. These signals were required for their
“communicate the affection” more by words than movement, survival and reproduction, therefore,
by petting, they keep a greater distance between for the maintenance of the species.
themselves, with less physical contact. These Studies on the mechanisms involving the tact
studies show that in the Latin countries, despite and touch in mammals have demonstrated that
the worst financial conditions, fewer resources keratinocytes, main cells on the surface of the
for health and education, the atopic children epidermis, produce neurotransmitters which have
have less severe atopic dermatites and a better the potential to tune the sensitivity of the touch
evolution of the disease after childhood. by afferent pathways. Although the keratinocytes
Another example of the “nourishing tou- and sensory afferent fibers do not form synapses,
ch” is in India, a country of extreme poverty: its proximity may allow rapid paracrine signalling
massages as the Shantala, practiced in babies (capacity of communication with neighboring cells
seem to be of great value in the nutrition deri- through the secretion of bioactive compounds).
ved from contact with the intention to caress,
soothe and relax. 4.1 Touch and Type C Fibers
Another study compared the weight gain of The touch is defined as the direct contact be-
preterm infants hospitalized in the ICU (FIELD, tween two physical bodies. In the neurosciences,
2010). The researchers separated the preterm in- ”touch” describes a special feeling by which the
fants into two groups: one group of babies that contact with the body of an organism is perceived
were handled for the technical care “routine” by the conscious mind. Some types of touching
(changing diapers, cleaning, bathing and fee- involve an active behaviour – caress, touch or
ding) and a second group which, in addition to press – by which a part of the body is moved on

94 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.89-98

another surface. Sensory and motor components “The conscience is above all the product of per-
of touching are connected and integrated in the ception and orientation in the external world,
brain. They are functionally important for deflagra- which probably is located in the brain and its
ting or to induce a behaviour, such as locomotion. origin would be ectodermal.” “At the time of our
Be a shift to depart from some potentially harmful ancestors, this same consciousness would derive
stimulus (e.g. a predator), to move in search of from a skin sensory relationship with the outside
food, or to get closer to another living being in or- world. It is quite possible that the awareness deri-
der to reproduce, it is extremely important for the ved from this of brain localization retain qualities
maintenance of life and the species preservation. such as sensation and orientation ”.(JUNG, 2008).
The sensory modalities of touch are classically di- It becomes evident that the skin occupies an
vided into four: tactile, thermal, itchy and painful. important role in the formation of conscience.
The presence of free nervous endings in the skin It is worth noting the embryology, the ectodermal
surface (DELMAS et al, 2011) and the transmission origin of the skin as well as the nervous system.
of stimuli in specific ways suggested the existen-
ce of a fifth modality, the affective touch. The tou-
ch that creates a pleasant sensation, also called
AFFECTIVE/SOCIAL CENSORY/DISCRIMINATIVE
“positive touch” is transmitted through a specific
type of touch C fiber.
C fibers are divided into two types: C1 – tho- pSTS mPFC dACC medOFC OFC/dIPFC
se which work as low threshold mecanoceptors,
and the C2 – which, in contrast, have a high INTERACTING
CORTICAL NETWORKS
threshold for outbreak of stimulus (depolariza-
tion via ionic channels). Type C2 fibres correlate
with stimuli of pain or ”harmful effects” (noci- Insula SI/SII

ceptors). This second group is also related to the (affective (discriminative


itching and the pleasant sensation of touch, the processing) processing)

affective aspect of a caress (BOWLBY, 1969).


pSTS mPFC dACC
The various subtypes of C fibers provide
Thalamic nuclei
the substrate for a possible reinterpretation Spinothalamic Dorsal column
of the human somatosensory processing. The tract via DCN
family of C fibers participates in neuronal pa- Lamina I Lamina III-V
thways of various sensations, including pain, Spinal cord
temperature, pruritus and the affective touch (dorsal horn)
(DELMAS et al, 2011).
discharge

discharge
freq

freq

5. Conclusions and perspectives


slow fast slow fast
5.1 Beyond the skin AFFECTIVE: CT receptors AFFECTIVE: Aβ receptors

The dissection of the tact, one of our senses,


leads us to reflect on the importance of the skin
Stimulus speed over skin
in the evolution of our species. Our skin is beyond
the touch skin, integrates our “somato/emotional Source: Adapted from McGLONE et al (2014).
I”, where skin is psyche and psyche is skin.
Jung, in his first conference, “Fundaments Of Figure 3 – Schematic Diagram of Affective and
Psychology”, makes the following observations: Discriminative Pathways for Touch.

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 95


Craig (2003) conducted studies with con- mans, a meta-representation of the interocepti-
vergent data, indicating that primates have a ve activity produced in the right anterior insula
distinct cortical area, the interoceptive cortex, seems to constitute the basis for the subjective
whose afferent activity reflects all aspects of the image of the “I”, “material body/emotional”.
homeostatic physiological status of all tissues These findings in the context of what C. G.
of the body. Jung postulated on the “location of conscious-
As illustrated in Figure 3, this route of inte- ness”, gives us a different perspective to the re-
roception (affective/social aspect of cutaneous ading of the skin. The skin that makes us aware
stimulus) includes (McGLONE et al, 2014), C affe- of who “we are”, the skin that translates what we
rent fibers, tactile receptors (CT) lamina I, spino- “feel”. The awareness of the sensations produ-
thalamic tract, thalamic nuclei, insula and speci- ced by various stimuli captured by the skin, both
fic areas of the cerebral cortex extero- and interoceptive, arises from all the cells
The interoceptive cortical representation of our body; it gives rise to how we feel within
generates body sensations extremely diffe- ourselves. Our deepest feelings are rooted in the
rent, which include: pain, temperature, pruri- vast surface of our body. The body which gives
tus (symptom/symbol), sensual touch, mus- us identity. ■
cular and visceral sensations, vasomotor
activity, hunger, thirst, and “lack of air”. In hu- Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018

96 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.89-98

Resumo

A pele que somos e a pele que sentimos. Pele – símbolo – consciência


O sistema somatosensorial humano funcio- tir-se com saúde" é uma consequência de vários
na de forma dinâmica. Nossos órgãos recebem e fenômenos biológicos que envolvem o sistema
produzem estímulos que são convertidos em in- nervoso central. Neste contexto, serão abordados
formação biológica, necessária para a formação, os papéis da pele, do tato e do toque no desen-
maturação e funcionamento global do nosso volvimento e estruturação da consciência e do que
corpo, mente e espírito. O "sentir-se bem, sen- se chama "pele simbólica" ou "pele psíquica". ■

Palavras-chave: pele simbólica, toque, psicologia analítica, psicodermatologia, fibras tipo C

Resumen

La piel que somos y la piel que sentimos. Piel – símbolo – conciencia


El sistema somatosensorial humano funciona tirse con salud" es una consecuencia de varios
de forma dinámica. Nuestros órganos reciben y fenómenos biológicos que involucran el sistema
producen estímulos que se convierten en infor- nervioso central. En este contexto, se abordarán
mación biológica, necesaria para la formación, el papel de la piel, del tacto y del toque en el de-
maduración y funcionamiento global de nuestro sarrollo y estructuración de la conciencia y de lo
cuerpo, mente y espíritu. El "sentirse bien, sen- que se llama "piel simbólica" o "piel psíquica". ■

Palabras clave: piel simbólica, toque, psicologia anlítica, psicodermatologia, fibras tipo C

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 97


References
ANZIEU, D. O Eu-Pele. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, IKOMA, A.; CEVIKBAS, F.; CORDULA, K.; STEINHOFF, M. Anat-
1988. omy and Neurophysiology of Pruritus. Seminars in Cutaneous
Medicine and Surgery, v. 30, n. 2, 64–70, jun. 2011.
BOWLBY, J. Attachment Volume 1: Attachment and Loss.
New York: Basic Books, 1969. JUNG, C.G. Fundamentos da Psicologia Analítica.
14. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
BYINGTON, C. A. Desenvolvimento da Personalidade: O Ciclo do
Patriarcal. São Paulo: Atica, 1987. (Capitulo 6, p. 59-68). KLEIN, M. Algumas conclusões teóricas relativas à vida emocional
do bebê. Rio de Janeiro: Imago, 1991. (Obras Completas de Mela-
BYINGTON, C. Os sentidos como funções estruturantes da nie Klein, Volume III Inveja e Gratidão e outros trabalhos,1952).
consciência, uma contribuição da psicologia simbólica.
Junguiana, n. 20, p. 7-15, 2002. KOO, J. Y. M.; LEE, C. S. (Eds.). Psychocutaneous Medi-
cine (Basic and Clinical Dermatology). New York, NY: Marcel
CRAIG, A. D. Interoception: the sense of the physiological Dekker, 2003.
condition of the body. Current Opinion in Neurobiology,
v. 13, n. 4, p. 500–5, jun. 2003. LACAN, J. O Estágio do Espelho como formador da função do
eu tal como nos revela a experiência psicanalítica. In: LACAN,
CRAIG, A. D. Supraspinal projections of lamina I neurons. J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 96–104.
In BESSON, J. M,; GUILBAUD, G. O. H. (Eds.). Forebrain Areas
Involved in Pain Processing. Paris: John Libbey, 1995. p. 13-26. LUMPKIN, E.; MARSHALL, K. L.; NELSON, A. M. The cell
biology of touch. Journal of Cell Biology, v.191, n. 2,
CROLL, N. A. Components and patterns in the behav- p. 237–248, 18 out. 2010.
iour of the nematode Caenorhabditis elegans. Journal
of Zoology, v. 176, n. 2, p. 159–176, 1975. https://doi. MAGUIRE, S. M.; CLARK, C. M.; NUNNARI, J.; PIRRI, J. K.; ALKE-
org/10.1111/j.1469-7998.1975.tb03191.x. MA, M. J. The C. elegans Touch Response Facilitates Escape from
Predacious Fungi. Current Biology, v. 21, n. 15, p. 1326–30,
DELMAS, P.; HAO, J.; RODAT-DESPOIX, L. Molecular mechanisms ago. 2011. https://doi.org/10.1016/j.cub.2011.06.063.
of mechanotransduction in mammalian sensory neurons. Nature
Reviews Neuroscience, v. 12, p. 139-153, mar. 2011. McGLONE, F.; WESSBERG, J.; OLAUSSON, H. Discriminative
and affective touch: sensing and feeling. Neuron, v. 82, n. 4, p.
FELDMAN, B. Una Piel para la Función Simbólica: Como 737–55, 2014. https://doi.org/10.1016/j.neuron.2014.05.001.
Crear un Espacio para la Transforamción. In: IX SIMPÓSIO
NACIONAL DA ASSOCIACAO JUNGUIANA DO BRASIL, NEUMANN, E. The Child: Structure and Dynamics of Nas-
2001, Sao Paulo. Anais... Sao Paulo, 2001. cent Personality. New York: Putman, 1973.

FIELD, T.; DIEGO, M.; HERNANDEZ-REIL, M. Preterm Infant SLOMINSKI, A. T.; ZMIJEWSKI, M. A.; SKOBOWIAT, C; ZBYTEK,
Massage Therapy Research: A Review. Infant Behavior & B., SLOMINSKI, R. M.; STEKETEEARTICLE, J. D. Sensing the en-
Development, v. 33, n. 2, p. 115–24, abr. 2010. vironment: Regulation of local and global homeostasis by the
skin neuroendocrine system. Advances in Anatomy, Embryolo-
FREUD, S. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1980. gy, and Cell Biology, v. vii, n. 212, 1-115, 2012.
(Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comple-
tas de Sigmund Freud, Vol. XIX, 1923.). TINBERGEN, N. On aims and methods of ethology. Zeitschrift
für Tierpsychologie, v. 20, n. 4, p. 410–33, 1963. https://doi.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. org/10.1111/j.1439-0310.1963.tb01161.x.
Rio de Janeiro: Imago, 1977. (Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol VII.). YOSHINAGA, I. G. Pele, Saúde e o Processo de envelheci-
mento. In: BLOISE, P. (Org.). Saúde integral: a medicina do
GALIÁS, I. Psiquiatria e dermatologia: o estabelecimento de corpo, da mente e o papel da espiritualidade organizado.
uma comunicação. Junguiana, n. 20, 2002, p. 57-62. São Paulo: Senac, 2011.

98 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
Resenha v.36-2, p.99-100

O Banquete de Psique
BARCELLOS, Gustavo. Petrópolis: Vozes, 2017.

Victor Palomo* cados destaque e atenção aos comidos. Da boca ao estômago,


ditos e expressões da lingua- atenta-se ao fígado como ima-
gem coloquial que acolhe, com gem das paixões vivazes e dos
O analista junguiano Gusta- relativa inconsciência, as ima- excessos e, fiéis à rota, depara-
vo Barcellos convida-nos, des- gens alimentares como recurso mo-nos com uma poética da ex-
de o início desse ensaio, a uma metafórico para a comunicação crescência, quando o intestino
enunciação da psique da comi- e expressão de suas ideias. e o ânus são imaginados. Sen-
da e da comida da psique me- O que se registra, atualmente, do a alimentação arquetípica,
nos ocupada com as possíveis é um enorme volume de publi- seus utensílios, técnicas e tem-
camadas que ensejam seus cações (obviamente importan- peros denotam e conotam nos-
suportes linguísticos, que en- tes) que tentam destrinchar os sos humores, nossas fantasias,
tregue às propriedades metafó- emaranhados neurofisiológicos nossa alma faminta e saciada.
ricas implícitas a essas termino- e psicopatológicos que dão su- Entre a fome e o fastio, as metá-
logias. Importam aqui a trama porte aos Transtornos Alimen- foras digestivas são destacadas
das imagens e as propriedades tares, locução adotada pelos de forma insistente ao longo
imaginativas suscitadas pelo tratados de saúde mental para do texto, pois na alma gástrica
alimento, por suas escolhas, as catalogar as desordens que de- operam processos alquímicos
formas de preparo, as receitas, rivam da obesidade à anorexia. profundos e presentes, por ana-
o engolimento, o tubo digestivo, O ensaio O Banquete de Psique logia, no trabalho psicoterápi-
a excreção, o salgado, o doce, a apresenta-nos imagens que não co. Novamente, linguagem e
mesa e a sobremesa, aprecia- se ocupam, restritivamente, imagem fundem-se para provar
dos a partir de suas “necessi- com tais conceitos. que linguagem poética é ima-
dades ritualísticas intrínsecas”, Se a imaginação dos pro- gem quando o texto convida o
cerimônias necessárias ao soul cessos alimentares é análoga leitor a adentrar em um corpo
making. A adesão do autor a aos processos que delineiam os imaginal. E confirma que a psi-
tais premissas imprime ao texto caminhos culturais percorridos coterapia é tributária da função
sua perspectiva (seu olhar atra- entre o estado de natureza e a poética da linguagem, quan-
vés) radicular, a qual se afasta cultura, a boca será a imagem do a retórica digestiva convida
de uma narrativa linear ou uma inicialmente eleita para as refle- suas imagens ao consultório
resenha analítica sobre o ato xões sobre a alma e a comida. para “digerir, engolir, engas-
de comer e suas vicissitudes, O mundo adentra o corpo pelo gar, entalar, mastigar, saborear,
ancorando-se em pressupostos engolimento e essa poética degustar, assimilar, processar,
teóricos resultantes de um mar- da sensação integra imagens cozinhar, ruminar, evacuar”
cante trabalho de pesquisa. saborosas, amargas, doces, nossas belezas, verdades e do-
Cabe lembrar que pesquisar salgadas e azedas. A dialética res anímicas. E não somente na
aqui não se restringe somente engolidor-engolido já fora re- psicoterapia, lembra Gustavo,
ao esforço revisional dos escri- gistrada nas narrativas míticas, mas também no discurso vigil e
tos acadêmicos, mas em deli- pois os deuses comem e são na gramática onírica.

* Psiquiatra, analista junguiano, membro da SBPA.


E-mail: <victorpalomo@uol.com.br>

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 99


Junguiana
v.36-2, p.99-100

Contudo, a protagonista des- po estão presentes nas entreli- da diversidade e da semelhan-


te texto é a função poética da nhas da prosa poética servida ça na diferença. Talvez, em O
linguagem, quando o ritmo da por Gustavo a qual, antes de Banquete de Psique, o autor te-
prosa que implica uma susten- nos oferecer a doçura e a ternu- nha respondido, saborosamente,
tação de conceitos é transmuta- ra da sobremesa, nos serve na à indagação deixada como pro-
do no devir próprio à gramática bandeja o coração do texto: a vocação naquelas divagações:
das imagens, apresentadas em inextricável associação entre co- “como, de que forma constelar
sucessão ou contraposição. mida, mesa, cozinha e o arqué- o eu fraterno? [...] Como libertar
Em tais instigantes momentos, tipo fraterno. Em “Notas sobre os horizontes da alma para que
o texto não se serve das pala- a função fraternal”, incluída em finalmente ela se fraternize?”.
vras, mas se rende servo delas, Voos e Raízes (2006), lê-se que Resposta: na sofisticação poé-
de suas imagens intrínsecas, o irmão “define, em níveis mais tica da mesa e da sobremesa,
convidando-nos a digeri-las em avançados do que aqueles do quando compartilhamos o olhar
uma temporalidade própria, influxo de pai e mãe, meu estar do irmão. Bom apetite! ■
como uma “lição de paciência” no mundo, meu amor pelo mun-
inerente à alquimia da cozinha. do” e que o irmão é imagem que Recebido em: 30/08/2018
As “experiências” com o tem- instaura na alma os discursos Revisão em: 12/12/2018

100 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
Resenha v.36-2, p.101-102

Morte e Luto – A Psiquiatria sem Drogas e as Enfermidades Míticas


no Cinema
SOUZA, Ana Célia Rodrigues de. Curitiba: Appris Editora, 2018.

Sylvia Mello Silva Baptista* pensamentos em três dimen- Ocidente, na Idade Média, na
sões e viajemos com ela pelos pós-modernidade, os deuses
campos míticos e psicológicos. que habitam o mundo dos mor-
Morte & Luto – A Psiquiatria Porque Ana Célia deseja falar de tos, os castigados, os heróis,
sem Drogas e as Enfermidades sua prática, intenciona trazer o o desejo de imortalidade, os
Míticas no Cinema, o livro de testemunho em primeira pes- “hospices”, a morte interditada
Ana Célia Rodrigues de Souza, soa de um fazer psíquico, um e a morte escancarada, todas
começa com uma citação de fazer de alma que sensibilize essas abordagens vão traman-
Thomas Moore já anuncian- o leitor e o faça enxergar-se no do um chão para a concepção
do o novo olhar da autora ao espelho das imagens, refletido de morte simbólica e do luto
tema, num convite inescapável e refletindo. enquanto “processo de elabo-
à noite escura da alma: o da ex- Divide seu livro em quatro ração das vivências de perdas
periência da depressão como partes, a saber: “Da morte e do simbólicas sem o qual se torna
processo e do luto como etapa morrer”, “Dos símbolos e dos impossível a adaptação às no-
para o autoconhecimento. Sob mitos”, “Dos lutos e dos filmes” vas demandas que nossos des-
o paradigma junguiano/arque- e “Considerações finais e minha tinos trazem no dia a dia”.
típico da psique como imagem, prática”, arrematando tudo com Ao lado dessa pesquisa,
Ana Célia vai buscar nos filmes uma primorosa lista de filmes há definições de conceitos da
– pontuando seu texto com po- sugeridos. Além da psicologia psicologia analítica que se fa-
esia e música –, expressão para analítica, toma como panora- rão alicerce para afirmar sobre
sua tese de que a depressão – ma para seu olhar boa parte da o divino mítico como metáfora
palavra muitas vezes citada en- obra de James Hillman – anali- psicológica. Ana escolhe al-
tre aspas – é uma experiência sada cuidadosamente livro a guns deuses cuja intimidade
natural da vida, cuja investida livro –, autor que ladeia C. G. com o mundo dos Ínferos será
pode levar a um importante ca- Jung, Joseph Campbell, Karl Ke- o critério para que sirvam de
minho de transformação. Cita rényi, Patricia Berry entre mui- expressão à sua reflexão. Dessa
Edgar Morin para dar funda- tos outros. Busca em Phillipe maneira, estarão ali Crono-Sa-
mento à sua escolha – “a lite- Ariès subsídios para entender a turno, Deméter, Core-Perséfo-
ratura, tal como o cinema, pode morte como fenômeno na Histó- ne, Dioniso e Hades com suas
tornar-se uma escola ‘da desco- ria, e as referências canônicas narrativas e respectivas leituras
berta de si’ [...]” – de uma alter- da mitologia grega acrescentam simbólicas a partir das quais
nativa para exemplificar suas a esse banquete de ideias o sa- fará um levantamento de pos-
afirmações que não a partir das bor dos mitos e das divindades. síveis patologias, lembrando
histórias de seus pacientes. A presença da ausência, sempre que, como disse Jung,
Quer que penetremos em seus a morte na Grécia Antiga, no o sintoma é a primeira tentati-

* Psicóloga, membro analista da SBPA/IAAP. Mestre em psicologia clínica (PUC-SP). Professora, supervisora clínica e coordenadora do
Núcleo de Mitologia e Psicologia Analítica (MiPA) na SBPA e do Núcleo de Mitologia no Areté – Centro de Estudos Helênicos. Autora
de O arquétipo do caminho (Casa do Psicólogo), entre outros.
E-mail: sylviamellobaptista@gmail.com

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 101


Junguiana
v.36-2, p.101-102

va natural de cura, e portanto, ao modo de ser destas figuras, dando-nos a certeza de que foi
de conscientizar as demandas decorre que nossas patologias escrito a partir de um centro.
de transformação. também são necessárias à nos- Morte & Luto constitui-se,
Parte, então, para a análise sa completude”. Ao lado dessas portanto, num importante ins-
de cinco filmes relacionados aos afirmações, surge a dura e con- trumento de reflexão para o
cinco deuses elencados, tendo tundente crítica à forma como a psicólogo, o psiquiatra ou qual-
como perspectiva o entendi- psiquiatria vem sendo praticada quer pessoa interessada na
mento de que os lutos simbóli- segundo o modelo americano psique e em seus mistérios. Tal
cos nos ocorrem diariamente, em que a medicalização dos como a terra que recebe a chu-
bem como o convite a compre- sentimentos tem ganhado espa- va boa e criadeira, deixando-se
ender as vivências de perda e ço, modelo esse ao qual se opõe inundar pela água fresca que
da assim chamada depressão veementemente. fará brotar as sementes escon-
como infirmitas do arquétipo. Desse modo, a morte e o didas, assim Ana Célia nos ofer-
Este termo remete a uma pato- luto recebem status de oportu- ta poesia e provocações, músi-
logia no arquétipo, uma espécie nidades, sendo os mitos pano ca e questionamentos, imagens
de enfermidade ou tema patoló- de fundo constante. Toda a e testemunhos, fazendo a ida
gico contido no mito e que não construção de um conhecimen- à escuridão da noite escura se
pode ser dele eliminado sem to complexo e rico em símbolos acompanhar de dádivas precio-
que com isso se viole a sua to- se desenha nesse livro entrete- sas. Boa descida!
talidade. E a autora empresta cido de representações plásti- São Paulo, 19 de outubro
a voz de Hillman para concluir: cas da própria autora. São cola- de 2018 ■
“Uma vez que a infirmitas dos gens, desenhos e pinturas que
deuses é essencial para a confi- pontificam os capítulos e fazem Recebido em: 20/10/2018
guração plena deles, necessária do texto algo ainda mais vivo, Revisão em: 12/12/2018

102 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018


Junguiana
v.36-2, p.103-104

Normas para publicação de artigos


A revista Junguiana, periódico cientifico da Sociedade Brasileira de Psicologia
Analítica, editada pela primeira vez no ano de 1983, destina-se à divulgação de
trabalhos inéditos, que contribuam para o conhecimento e o desenvolvimento da
psicologia analítica e ciências afins, em um espírito aberto ao debate científico,
cultural, social e político contemporâneo. Com periodicidade semestral, a revista
aceita artigos originais, de revisão, casos clínicos, comunicação breve, entrevista
e resenha.

Para mais informações sobre as normas de publicação acesse o site da SBPA:


http://sbpa.org.br/portal/acervo/normas-para-publicacoes/.

Guidelines for publishing articles


Junguiana is the scientific Journal of the Brazilian Society for Analytical Psy-
chology, published for the first time in 1983 and directed towards the dissemina-
tion of unpublished works that contribute to the knowledge and development of
analytical psychology and related sciences, with an openness towards scientific,
cultural, social and contemporary political debate. Twice a year, the journal ac-
cepts original and review articles, clinical cases, brief announcements, reviews
and interviews.

For further information about publication rules visit SBPA site:


http://sbpa.org.br/portal/acervo/normas-para-publicacoes/.

Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica


Rua Dr. Flaquer, 63 – Paraíso – CEP 04006-010 – São Paulo (SP)
Telefax (11) 2501-4859
www.sbpa.org.br

Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018 ■ 103


Junguiana
v.36-2, p.103-104

104 ■ Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2018

You might also like