Professional Documents
Culture Documents
Editoral A revista Junguiana tem por objetivo publicar trabalhos originais que
Vera Lúcia Viveiros Sá – editora-geral contribuam para o conhecimento da psicologia analítica e ciências
Fani Goldenstein Kaufman – editora assistente afins. Publica artigos de revisão, ensaios, relatos de pesquisas, comu-
Victor Roberto da Cruz Palomo- editor assistente nicações, entrevistas, resenhas. Os interessados em colaborar devem
seguir as normas de publicação especificadas no final da revista.
Conselho Editorial A Junguiana também está aberta a comentários sobre algum
Augusto Capelo artigo publicado, bastando para isso enviar o texto para o e-mail
Ana Celia Rodrigues de Souza.
artigojunguiana@sbpa.org.br.
Fani Goldenstein Kaufman
Marfiza Reis
Maria Zelia de Alvarenga
Vera Lucia Viveiros Sá SOCIEDADE BRASILEIRA
Victor Roberto da Cruz Palomo DE PSICOLOGIA ANALÍTICA
Zara Oliveira Freitas Magalhães Lyrio
Editora CABOVERDE
Editorial
Boa Leitura!
Editores
30 de novembro de 2018
Editorial
Good reading!
Editores
30 de novembro de 2018
99 Resenha
Review
“O Banquete de Psique” O Banquete de Psique
Victor Palomo
101 Resenha
Review
“Morte e Luto – A Psiquiatria sem Drogas Morte e Luto – A Psiquiatria sem
e as Enfermidades Míticas no Cinema” Drogas e as Enfermidades Míticas
no Cinema
Sylvia Mello Silva Baptista
103 Normas
Guidelines for publishing
Junguiana
v.36-2, p.7-22
Resumo Palavras-chave
Este artigo propõe a existência de sete regentes da personalidade humana, a par de inteligência
dinâmicas de consciência, e não somente as tecer comentários sobre aspectos da sétima espiritual,
quatro atualmente descritas pela Psicologia dinâmica que passo a nominar como da Com- processo de
hominização,
Analítica. A par da proposição de sete dinâmicas, preensão Universal. As dinâmicas elencadas
sete dinâmicas
teço comentários sobre a inteligência espiritual são: da Origem ou Urobórica, sob a regência de consciência,
e sobre o processo de hominização, dados ess- do arquétipo da Natureza Divina; do Feminino processo de
es que concorreram para a proposição das sete ou da Grande Mãe, sob a regência do arquétipo individuação.
dinâmicas de Consciência. Alguns dados aqui da Deusa Mãe; do Masculino ou do Pai, sob a
presentes foram apresentados no VIII Congresso regência do arquétipo do Deus Pai; do Encon-
Latino Americano de Psicologia Analítica – julho tro, sob a regência do arquétipo da Coniunctio;
de 2018, em Bogotá-Colômbia sob o nome de da Comunicação, sob a regência do arquétipo
"As sete Dinâmicas de Consciência". O texto at- do Verbo encarnado; da Vidência ou Antevisão
ual foi acrescido de descrições pormenorizadas do Futuro, sob a regência do arquétipo da Profe-
das novas dinâmicas propostas como compo- cia; da Compreensão Universal, sob a regência
nentes do elenco de dinâmicas de consciência do arquétipo da Totalidade. ■
* Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), 49a turma. Psiquiatra pela ABP (registro no CRM-
SP 12766). Analista Junguiana pela Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA), afiliada à International Association for
Analytical Psychology (IAAP). E-mail: <mza@boitata.org>
colocado sobre o tórax dela; reconhecer o timbre Todo o desenvolvimento do ser humano e
da voz da mãe e chorar com o mesmo repertório de suas dinâmicas de consciência implicam
musical da voz materna de tal maneira que a mãe a reflexão do quanto cada um de nós precisa
possa reconhecer e saber quando o choro é de do outro para ser, sem o que a Vida não se faz.
fome ou de dor ou de outro desconforto. O ser em gestação "sabe-se" acolhido sem o
Assim, a dinâmica Urobórica, inerência dessa que nunca desenvolveria competência para
sabedoria intrínseca da natureza do ovo primor- acolher o outro em si mesmo, meta do processo
dial – zigoto, forja-se como fator determinante de individuação.
e fundante de todas as demais dinâmicas de A Dinâmica Urobórica pede que o acolhimen-
consciência que se apresentarão a posteriori. to aconteça para que o corpo gestante aceite o
A dinâmica de consciência Urobórica é a matriz diferente em si, constatando ser ele, corpo ges-
das demais dinâmicas. Ela e o corpo que a gesta, tante, o receptáculo da sacralidade da existên-
simplesmente, são Um Só com o Self. A Dinâmica cia. Quando o corpo gestante não acolhe o ges-
Urobórica rege a forja da totalidade corpo, tanto tado, concorre para o rompimento da unidade
físico quanto mental/emocional. original, com o que não haverá possibilidade de
O desenvolvimento do cérebro, conforme pes- manutenção do processo que compõe a Vida do
quisas recentes (Araujo, 2018), prepara o futuro novo ser em gestação.
nascituro com competência para fazer vínculo, A dinâmica Urobórica certamente se faz sob
ou apego, com a mãe ou substituta, sem o que a a regência de uma condição arquetípica, que
sobrevivência não aconteceria. O ovo primordial proponho seja creditada ao arquétipo da Natu-
sai da condição concreta e simbólica do Khaos reza divina, realidade primordial portadora de
grego (fonte de todas as possibilidades) para es- todas as competências, frutificadoras da Vida
truturar-se como um vir a ser humano. Ao assim e da Morte.
se fazer, integra em sua natureza a condição de:
A primeira dinâmica se traduz e se ocupa com
para tornar-se humano é fundamental ter o outro
a origem e a manutenção da Vida!
e, para tanto, é necessário fazer vínculo. A Dinâ-
mica Urobórica retrata a condição do contido e do 3b. A segunda dinâmica, que passo a de-
continente serem Unos e sua dependência com o nominar como do Feminino ou da Deusa Mãe,
outro, corpo gestante, é total, sem o que a Vida amplamente estudada pela Psicologia Ana-
não se consuma. O ser nasce porque alguém o lítica sob a denominação de Matriarcal, está
gestou, suportou, fez a Vida acontecer. correlacionada ao chakra da sexualidade
Kohler, analista junguiano, salienta a impor- (Svãdhistãna). A dinâmica do Feminino, sob a
tância crítica do desenvolvimento pré-natal para regência da Deusa Mãe, retrata a instauração
a estruturação e funcionamento do cérebro e da do encontro eu-outro, sem consciência reflexi-
personalidade. Esse autor acredita que a cons- va de quem é o Eu e de quem é o Outro, com
telação dos arquétipos e o desenvolvimento a finalidade precípua de manutenção da es-
dos complexos já ocorrem no embrião e no feto, pécie; a descoberta dos prazeres decorrentes
e busca descrever o impacto do relacionamen- da sexualidade, a par do estabelecimento dos
to entre o embrião e o feto e a mãe e o mundo cuidados com o concepto são inerências des-
onde ela está inserida. Baseou suas considera- sa dinâmica. A medida que os vários outros se
ções nas pesquisas neurobiológicas de Huther diversificam o Eu se estrutura, a relação deixa
e Krens a respeito dos mistérios dos primeiros de ser de exclusividade, mas sempre na in-
nove meses de vida, a respeito das nossas pre- terdependência de um Outro. Na dinâmica da
coces influências formativas (ARAUJO, 2018). Deusa Mãe, a Vida é sempre soberana.
A segunda dinâmica traduz e se ocupa com compreendendo todos e sendo por todos ouvido
manutenção da espécie! e compreendido, talvez de forma independente
do idioma de expressão, uma vez que o enten-
3c. A terceira Dinâmica, denominada do
dimento e a compreensão se farão muito mais
Masculino ou do Deus Pai, previamente deno-
pela sintonia vibratória e harmônica entre os
minada como Patriarcal, também já amplamen-
seres. Não será significativo o que se fala, mas
te estudada pela Psicologia Analítica, está cor-
sim o que se comunica pela vibração dos sons
relacionada ao terceiro chakra, o umbilical ou
emitidos e recebidos. A palavra, ou qualquer ou-
solar (Manipuraka), e representa a expressão
tro tipo de comunicação passam a ter a compe-
dos tempos de conquista de território e da sub-
tência da cura.
missão dos conquistados. Nessa dinâmica a dis-
A Comunicação, quando exercida de forma
criminação entre o Eu e o Outro se estabelece e
criativa, pedirá fundamentalmente Congruência
os princípios alicerçantes, que regem a relação,
entre o que se fala e o que se faz, bem como
compõem o Código, com discriminação do que
Complacência para com o outro que ainda não
pode e do que não pode. A relação se faz assimé-
atingiu esse patamar de comunicação/com-
trica e o exercício do poder se estabelece entre
preensão. Quando exercida em sua plenitude
os partícipes, quando então a Ordem é estabele-
maior, não só corresponderá à compreensão do
cida. Na terceira dinâmica os cânones do Estado
comunicado, mas também a voz do emitente
de Direito são estabelecidos e a Vida torna-se
terá competência para vibrar em sintonia com o
soberana somente dentro da tribo ou do clã.
Outro, criando ressonâncias de apaziguamento.
A terceira dinâmica traduz e se ocupa da im- O dom da fala, atributo da dinâmica da Co-
plantação do Código! municação, confere ao ser humano um poder
assustador, um poder de convencimento, de ar-
3d. A quarta Dinâmica traduz o Encontro en- rebatar plateias, de despertar no coletivo o sen-
tre as pessoas e implica o estabelecimento de so da justiça, a demanda pelo empoderamento,
uma relação de paridade entre o Eu e o Outro, a convicção da responsabilidade de querer ser
segundo o referencial anímico ou fraterno, e do a solução e fazer as mudanças necessárias para
reconhecimento das diferenças entre os pares, o coletivo.
bem como dos mesmos direitos prevalentes para O dom da Palavra é uma dádiva quando exer-
todos. Está correlacionada ao quarto chakra, cida com discriminação de propósitos que vi-
o cardíaco (Anãhata), (previamente descrita por sem o bem-estar geral, se for proferida sobre os
Byington (1983) como de Alteridade e por mim alicerces da ética e usada para acordar o herói
mesma como Dinâmica do Coração (ALVARENGA, adormecido. A Palavra promove mudanças que
2000). Na quarta dinâmica instaura-se plena- a guerra não conquista, alcança profundezas
mente o processo reflexivo de consciência, com nos escaninhos da psique que nem a ameaça da
a discriminação do um e do outro como seres morte abala, propõe desafios amedrontadores
diferentes e com direitos inalienáveis. A Vida é que a alma aceita com tranquilidade.
soberana dentro da tribo como fora dela. No sentido simbólico, o dom da Palavra está
explicitado, por exemplo, nos relatos de "As mil e
A quarta dinâmica traduz e se ocupa da con-
uma Noites", em função da atitude de Sherazade
sumação da paridade!
para com o Sultão, bem como da arte maior da
3e. A quinta dinâmica é correlacionada ao heroína em contar histórias (CORDEIRO, 2017).
quinto chakra, laríngeo (Visuddha), chamei da A palavra é um dom que pode promover
Comunicação ou do Verbo, e é por meio dela que ações construtivas como pode demover espe-
nos tornaremos competentes para falar e ouvir, ranças de transformação. A palavra acolhe como
destrói, apascenta como instiga a fúria; envolve, A dinâmica da Comunicação quando exerci-
enquanto continente, como invade como se fora da segundo o contexto acima descrito, configura
um estupro, assustadoramente violento, cau- comportamento criminoso, ofensivo e injuriante
sando feridas incuráveis, ofendendo a dignida- para com o coletivo. O uso abusivo da Palavra
de, mobilizando a vergonha. perverte a relação e torna o encontro entre as
O dom da fala tem seu caminho mais espi- pessoas corrompido. O uso pervertido da dinâ-
nhoso quando se ocupa em dizer o que o outro mica da Comunicação leva à falência do sistema,
precisa ouvir e o não dizer o que o outro gosta- das famílias, da sociedade civil e à falência do
ria de ouvir. Este, suponho, seja o maior desafio Estado de Direito.
para os que se exercem como avatares de um A comunicação entre as pessoas é um fenô-
tempo novo, que se apresentam como proposi- meno tão complexo quanto inédito por ser con-
tores de milagres transformadores a serem reali- tinente das mais espetaculares criações huma-
zados ou desafios instigantes a serem vencidos. nas, quanto das piores aberrações, motivos de
Então, o dom da fala apresenta-se com a compe- brigas, crimes, guerras.
tência mais assustadora para se tornar propensa As ideias, quando promulgadas em seu re-
ao desenvolvimento sombrio.
clamo primordial, traduzem também o anseio
A pessoa que se exerce pela dinâmica da Co-
da criatura por ser reconhecida como autora da
municação, por seus aspectos sombrios, cons-
proposição, demandando ser autenticada e qua-
tata o quanto tem de competência para atrair
lificada pelo mérito da criação, como também
adeptos e defensores. Como decorrência, tendo
necessitada que o Outro lhe conceda a honora-
suas demandas narcísicas satisfeitas, pela de-
bilidade pelo feito.
volutiva dos seguidores, poderá passar a apre-
De outra parte, a comunicação implica poe-
goar soluções de caráter populista em que, como
sia, música, beijos e abraços, toques sutis entre
exemplo, os direitos pelo usufruto da dependên-
almas que se encontram. É inseminadora e ferti-
cia monetária, por trabalhos não executados,
lizante, criadora que gera criaturas.
tornam-se a regra.
A condição de ouvir o outro, num processo
Assim, manter-se na integridade de propósi-
de análise, tem mais a ver, no meu entender,
tos representa um desafio enlouquecedor, pois
com as vibrações emitidas pelo cliente do que
a tentação por proveitos escusos se faz presente
com muita frequência. O uso abusivo da dinâmi- com o realmente verbalizado. Falar e ser enten-
ca da Comunicação mobiliza (em grande parte) dido, ouvir e compreender, acolher e ser com-
nas pessoas, o que cada um tem de demanda placente com o outro demandam coerência,
pelo "paraíso perdido", ou seja, de manter-se generosidade, continência, integridade e ética.
como um eterno puer alimentado pelas regalias Entretanto, o processo analítico pode ser pal-
de um Estado, ao qual tenha sido atribuído a co de muitas mazelas. Quando o fenômeno do
condição de ser um eterno provedor. encontro ocorre entre o analista que fala tão
A comunicação também pode carregar-se da somente o que o cliente deseja ouvir, a som-
intencionalidade de seduzir, envolver, enganar. bra torna-se constelada. O dom transformador
Quando a palavra do comunicador se encontra da palavra naufraga na solutio que encharca.
povoada de persuasão e convencimentos, certa- Cliente e analista se aplaudem e o incesto se
mente precisa do casamento entre a fala emitida faz instaurado.
com o ouvido que escuta. Mas, para tanto, é ne- A dinâmica da Comunicação, a par de sua
cessário que tanto quem fala como quem escuta, correlação explícita entre a fala emitida pelo co-
estejam ambos povoados pelas demandas de municador e o ouvido de quem a ouve, tem liga-
ganhos secundários. ção direta com os demais órgãos do sentido.
A expressão comunicadora poderá ser dia- diante do que a criatura tem de mais sórdido,
logal entre a fala que expressa um conteúdo mais degradante e sombrio.
intelectivo inédito de descoberta e alcança o Para ilustrar cito abaixo falas de grandes lí-
ouvido que escuta e se deslumbra, se envaide- deres que marcaram os tempos de glória ou a
ce, se encanta, se espanta, se comove, se des- sensação de derrota:
cobre desnudo, se sabe compreendido e tan-
tas outras emoções que as palavras causam. A “I have a dream!” – e todos quantos so-
expressão comunicadora poderá, de outra par- nharam um dia com tratamento igualitá-
te, ser proposta pela música que o Um executa rio, para as mais diferentes cores de pele,
e que o ouvido do Outro ouve e sente despertar regozijaram-se por terem sido sonhados
em si saudade, tristeza, alegria, medo, reve- por alguém que falava a língua deles! (fra-
rência, estranhamento, embevecimento, audá- se do discurso de Martin Luther King Jr.,
cia, coragem e tantas outras emoções que as proferido em 28 de agosto de 1963, nos
músicas podem causar. Ou a expressão comu- degraus do Lincoln Memorial, em Washin-
nicadora poderá ser proposta pelo corpo em gton DC. https://en.wikipedia.org/wiki/I_
movimento, em dança, em êxtase, em súplica, Have_a_Dream).
e que atinge o olho que enxerga um pedido Nós somos as pessoas pelas quais es-
para ser tocado, acolhido. Também a expres- perávamos. Nós somos a mudança que
são comunicadora poderá ser proposta pela buscamos (Discurso de Campanha do Pre-
pintura, pelo filme, pelas fotos, e que ao po- sidente Barack Obama, em 2008 [DIONE
voarem os olhos, preenchem-no de imagens, JUNIOR; REID, 2017]).
expressão da beleza ou do terrível. A expres-
De tanto ver triunfar as nulidades; de tan-
são comunicadora poderá ser proposta pelos
to ver prosperar a desonra, de tanto ver
perfumes emanados, que impregnando os re-
crescer a injustiça, de tanto ver agiganta-
ceptores olfativos do outro, mobilizam memó-
rem-se os poderes nas mãos dos maus, o
rias agradáveis ou sofridas. Como também a
homem chega a desanimar-se da virtude,
expressão comunicadora poderá ser proposta
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser
pelos sabores que trazem de volta momentos
honesto (trecho do discurso parlamentar
da infância, de figuras parentais e suas ma-
proferido no Senado da República por Rui
nifestações de ternura. Ou advir de toques,
Barbosa em 1914).
carícias evocadoras de momentos dramáticos
assustadores ou deliciosamente mágicos.
A comunicação é o que melhor expressa
Assim, a comunicação se fará pelos mais di-
o processo de humanização por traduzir em
versos canais, mas, inegavelmente, a Palavra é o
falas (faladas, escritas, poéticas, cifras musi-
veículo primeiro que mais atinge, mais convence
cais, imagens, gesticulações) o que a criatura
e seduz, hipnotiza e arrebata a alma dos que se
pensa e reflete sobre o refletido, o que tem de
sentem principalmente abandonados, incom-
ideias e o que com elas constrói, o que sente e
preendidos, mal-amados, levando aos ouvidos
como sofre, o que a emociona e se traduz em
de quem ouve algum comando de ordem.
vibrações epifânicas. Enfim, a comunicação é
A dinâmica da Comunicação, atributo singu-
a marca indelével do ser humano e do como se
larmente desenvolvido pelos seres humanos,
fazer humano!
confere um poder de comando, como também
confere certezas e esperanças de mudança, Quinta dinâmica expressa e se ocupa com a
a par de explicitar as decepções e amarguras encarnação do Verbo!
3f. A sexta dinâmica de consciência é corres- condoído com a condição de Tirésias, deu-lhe o
pondente ao sexto chakra, frontal ou do tercei- dom da mântica, com o que o transformou em
ro olho (Ãjñã). Chamei de Dinâmica da Vidência um cego vidente.
ou da Antevisão do Futuro, e nos habilitará para Fui levada a pensar, já há alguns anos
divisarmos as demais dimensões do Universo, (ALVARENGA, 2014), que os supostos castigos
além das três dimensões do espaço já conheci- impostos, aos humanos pelos divinos são, em
das e descritas. última instância, uma nova oportunidade no tri-
Buscando na mítica e em seu incontável acer- lhar o processo de individuação.
vo de respostas às perguntas por nós formula- Hera, estrutura primordial da psique, denun-
das, deparamo-nos com relatos aparentemente cia a cegueira de Tirésias por não ter constatado,
inacreditáveis, como se eles somente fossem enquanto mulher, o quanto de prazer recebera,
criaturas do imaginário coletivo. Todavia, ao nos bem como o quanto promovera de satisfação
ocuparmos da simbologia de seus conteúdos, ao parceiro (ALVARENGA, 2011a). Tirésias vive-
verdades impensáveis se revelam. ra como mulher, mas não incorporara em si a
O mântico Tirésias (BRANDÃO, 1992) assim sabedoria decorrente da vivência explícita do
se tornou por conta de ter sido transformado feminino. Precisaria, portanto, descobrir a verda-
em mulher após matar a serpente fêmea, quan- de numa condição viável somente pela reflexão
do encontrou um casal de ofídios copulando. introspectiva; nada do mundo visível deveria im-
Viveu, então, plenamente, como fêmea, por sete pedi-lo. Assim, o aparente castigo era uma dádi-
anos. Num segundo momento, reencontrou ou- va, pois Zeus deu-lhe, como prêmio, a possibili-
tro casal de ofídios em cópula. Intuiu que, para dade da antevisão do futuro, ou seja, a vidência.
recobrar sua condição primeira, precisaria matar Tirésias explicita sua dotação pelos alertas
o macho. E assim o fez, tornando-se novamente dados aos seus consulentes, propondo a possi-
um homem. Num terceiro tempo, Zeus e Hera, bilidade de existirem mais de um futuro possível.
entretidos em discussão interminável sobre Assim, o mântico responde a Liríope sobre seu
quem promoveria maiores prazeres ao parceiro, filho Narciso: "ele viverá se não se vir", ou a Tétis
nos encontros sexuais, e sem possibilidades de sobre o futuro de Aquiles: "ele viverá por muitos
comporem um acordo, decidiram convocar Tiré- anos se mantiver-se como um simples camponês
sias para que ele lhes desse um veredicto sobre ou longe das batalhas" (BRANDÃO, 1992).
essas questões prazerosas, por ter sido mulher, Muitos são os outros exemplos da atuação
como por ser homem. O futuro mântico, após ou- de magos, videntes e falas oraculares quanto a
vir a descrição do impasse entre o casal olímpi- possíveis diferentes futuros que mudariam os
co, respondeu-lhes que se o prazer fosse medido destinos trágicos.
de um a dez, o macho promoveria nove medidas A mensagem primorosa do relato mítico re-
de prazer à mulher e a mulher promoveria uma side na proposição da existência de diferentes
medida de prazer ao macho. possibilidades de um vir a ser, que depende de
Hera, incontinente, diante da descomunal escolhas feitas em momentos cruciais nos quais
ofensa causada por Tirésias às fêmeas, como se deixa a condição de um porvir provável para
que as qualificando de incompetentes para da- um diferente futuro possível.
rem prazer aos parceiros, cegou-o como castigo Momentos cruciais traduzem-se, na realida-
por sua ignorância e estupidez. de de todos nós, como desafios nos quais o risco
Sabemos que as benesses ou os castigos de vida (de si mesmo, do filho, do amado) é imi-
infligidos às personagens, por uma divindade, nente, seja por conta de processos físicos ou psí-
não podem ser retiradas ou negadas por outro quicos; ou por condições de perdas catastróficas
divino e nem mesmo por quem as impôs. Zeus, com vivências de extrema solidão e desamparo;
ou por realidades invasivas com perda de auto- permeados por um padrão de inteligência
nomia e liberdade; ou quando o outro de nós é espiritual que nos faz cada vez "mais huma-
roubado, sequestrado, abusado... nos", seja por incitar-nos a ser a solução dos
Momentos cruciais mobilizam angústias, conflitos, como a nos compelir para realizar
ativam feridas da alma, desencadeiam medos as mudanças!
antigos, desorganizam a vida e pedem soluções A sexta dinâmica de consciência, como todas
imediatas. Todavia, esses momentos também as demais, em sendo uma condição arquetípica,
despertam a fé e demandas por constrição, bem sofre com os percalços da sombra. "Videntes"
como evocam memórias de nossos ancestrais são consultados por pessoas que buscam res-
crentes no poder das orações. postas para seus conflitos e demandas, como
E, eis que os "milagres" acontecem, tra- também são consultados pelos buscadores de
zendo-nos a certeza de que as transformações benesses eleitoreiras. Todavia, nenhum consu-
quanto a diferentes futuros possíveis desper- lente pergunta sobre o que precisa fazer para
tam como realidades, talvez, nunca dantes co- não mais ser o conflito ou que plano de ação de-
gitadas pela consciência. A física quântica afir- verá compor e executar para tornar-se merecedor
ma que diferentes futuros possíveis aguardam do futuro ensejado.
por serem despertados no momento presente A dinâmica da Vidência e sua competên-
em que os desejarmos (BRADEN, 2017) expres- cia para divisar possíveis diferentes futuros
sando a realidade do novo ser nascituro no qual está intimamente ligada ao poder da prece e
nos tornaremos! Já somos então o futuro possí- sob a regência do "efeito Isaias", que propõe
vel e distanciados nos sentimos do futuro pro- como oração mais poderosa aquela que men-
vável que seríamos. taliza um futuro diferente do provável e que
Interessante atentar para o quanto de re- já é realidade, pois, despertado se fez pelo
clamações emergem no seio de uma dinâmica desejo inquebrantável da fé. Todavia, para
familiar quando um de seus componentes, em alcançarmos um futuro diferente do provável,
processo de análise, apresentando as modifica- precisaremos ser numa nova Ética instituída e
ções decorrentes de suas epifanias analíticas, fundamentada, no meu entender, em quatro
ouve: "Você está muito diferente! Já não é mais o princípios, quais sejam: no Fogo da mais pro-
mesmo! Que aconteceu consigo? Parece que não funda consciência reflexiva que nos intima a
o reconheço!". refletir sobre assumir a responsabilidade por
E, então, quando se atenta para memórias tudo quanto nos cerca, pois tudo tem a ver co-
passadas, que são, na realidade, muito recen- nosco; na Tecknè mais inventiva que somos e
tes, as pessoas se sentem tão distantes do que temos para mudar nosso momento histórico;
foram, por diferentes se sentirem, assustadas na Dikè como consciência plena do senso de
com o que faziam, consentiam ou deixavam pas- Justiça para todos e com todos; e, finalmente
sar, sem contestações. na virtude plena da Aidós que nos conduz para
Quer me parecer que o processo de indivi- realizarmos e fazermos o que somos de melhor
duação é uma demanda imperiosa pela ins- para o outro, quem quer que ele seja e para o
tauração de um futuro possível diferente do bem comum (ALVARENGA, 2011b).
provável, futuro esse adormecido nos escani- Assim sendo, próximos estaremos da séti-
nhos da psique e que aguarda a emergência ma morada, da sétima dinâmica de consciência
da revelação! e lá nos aguarda a cerimonia ritualística da co-
Ao atualizarmos a sexta dinâmica de niunctio com a divindade, segundo pressuposto
consciência em nosso processo existencial de D´Ávila (1981), ou a cerimônia ritualística da
tornamo-nos videntes (ALVARENGA, 2018), coniunctio com o Self, segundo as proposições
pela ação praticada e assumir a Responsabilida- Ubuntu é uma filosofia africana cujo significa-
de pelo ato cometido. A condição de reconhecer do se refere à humanidade com os outros. É um
e confessar a ação, assumindo a responsabilida- conceito amplo sobre a essência do ser humano
de pela mesma, reclama por um caráter público. e a forma como se comporta em sociedade. Para
Faz-se realidade como decorrência do diálogo os africanos, Ubuntu é a capacidade humana de
estabelecido entre o réu e o ofendido ou entre compreender, aceitar e tratar bem o outro, ideia
o réu e o parente mais próximo da vítima. O re- semelhante à de amor ao próximo. Ubuntu sig-
conhecimento público pela responsabilidade do nifica generosidade, solidariedade, compaixão
cometimento da injuria contra o ofendido apazi- com os necessitados, e o desejo sincero de fe-
gua o psiquismo da vítima e/ou do familiar. Essa licidade e harmonia entre os homens (https://
condição de reconhecimento e responsabilida- pt.wikipedia.org/wiki/Ubuntu_filosofia).
de não exclui o exercício da Justiça pelo foro do 4e. O crime, ofensa, injúria, quando cometidos
Estado. Todavia esse exercício somente deverá sob a vigência da dinâmica da Comunicação, pe-
se fazer desde que haja anuência entre os pares dem Congruência entre o que se fala e o que se faz
envolvidos, ou seja, entre vítima e feitor. Há de e Complacência para com o outro. A condição de
se convir, todavia, que as demandas da vingan- ouvir num processo de análise tem mais a ver com
ça estarão sempre presentes na psique, porém as vibrações emitidas pelo cliente do que com o
nem sempre de forma explícita. Fundamental se realmente verbalizado. Falar e ser entendido, ou-
faz o estabelecimento da consciência de ser a vir e compreender e ser complacente com o outro,
demanda de vingança uma realidade primordial demanda: coerência, generosidade, acolhimento,
arquetípica, presente em todos os seres huma- integridade e ética. O dom da fala, entre o dizer o
nos. E, essa consciência é fundamental para que que o outro precisa ouvir e o dizer o que o outro
ela não seja exercida pela sombra (ALVARENGA, gostaria de ouvir, representa uma competência
2012). Assim, quando um crime for cometido assustadoramente propensa ao desenvolvimento
contra a vítima (ou seus familiares e agregados) sombrio. Quanto mais nos aproximamos da séti-
sob a vigência da Dinâmica do Coração, Dinâmi- ma dinâmica mais seremos tentados a abandonar
ca de Alteridade, o que se propõe e se pede é o o caminho que conduz ao Self! De outra parte, a
exercício do Perdão. Dinâmica da Comunicação, quando exercida em
A condição de nos exercermos pelo perdão sua plenitude maior, não só corresponderá à com-
nos atos de injuria implica uma relação entre preensão do comunicado, mas também a voz terá
ofensor e o ofendido, na qual o reconhecimen- competência de vibrar em sintonia com o Outro,
to e a responsabilidade já se estabeleceram. O criando ressonâncias de cura
perdão, quando bem exercido é um fenômeno 4f. O crime, ofensa, injúria, quando cometi-
que decorre de uma certeza oriunda das pro- dos sob a vigência da Dinâmica da Visão e/ou
fundezas do ser. O perdão não é uma atitude da Vidência, pedem Temperança para consigo
egoica, mas do Self e reclama por reciprocidade mesmo no sentido de não titubear diante das
entre o ofensor e o ofendido, entre o ofendido demandas do Self, tendo determinação contínua
e o ofensor. e constante para não se perder da meta maior. A
O exercício do perdão, restaurativo das re- Dinâmica da Vidência enseja a possibilidade de
lações, condição histórica proposta por Nelson antever diferentes futuros possíveis, ampliando
Mandela na promoção de uma política de recon- sobejamente a compreensão das variantes do
ciliação nacional na África do Sul, decorre do processo de individuação a ser atualizado.
pressuposto filosófico do exercício do Ubuntu. 4g. O crime, quando cometido sob a vigência
Mas, mais que tudo, o exercício do perdão impli- da Dinâmica da Compreensão Universal, implica,
ca saber-se uno com a comunidade. ao sujeito conhecedor do crime, saber-se como
kainos Anthropos. O maior crime dessa dinâmica Alcançar a plenitude da Dinâmica da Compre-
será trair o processo de individuação, negando-se ensão Universal nos tornará totalmente humanos,
a caminhar, por escolha, para a Totalidade. Quan- desapegados das posses, por nos sabermos pe-
do uma injúria é praticada por qualquer um e o recíveis, cônscios de que viemos da Terra e a ela
sujeito toma conhecimento do fato, ele (sujeito) retornaremos. A transcendência tão desejada de
torna-se parte do processo e, para tanto, responsá- sermos na Unidade não significa ultrapassar a hu-
vel pelo cometimento da injúria. A consciência de manidade. Transcender será superar nossa condi-
ser responsável pela injúria cometida o faz partíci- ção arquetípica primordial para nos tornarmos a
pe do processo uma vez que o sujeito e o Universo plenitude da condição humana, alcançando a in-
são Unos. Assim, a necessidade de restaurar a har- teireza do ser, sem as cisões e desvarios, sem as
monia se apresenta e, para tanto, necessário se faz intempestividades de Posídon, sem as demandas
que o sujeito, também responsável, na condição de vinganças das Fúrias; sem a rigidez de Apolo e
de partícipe do crime cometido, renda-se ao Self, e a astúcia ardilosa de Hermes; sem a ânsia de po-
possa perdoar-se a si mesmo bem como ao outro, der dos "Zeuses", que se intitulam divinos, sem a
amando-se a si mesmo e ao outro, apesar do come- sede guerreira das Atenás e dos Ares e sem tantas
timento da injúria e, purificando-se da desarmonia outras condutas arquetípicas que nos compõem.
que o avassala, concorrendo para que a harmonia A proposição de sete dinâmicas de consciên-
no outro se (re)instaure. Purificar-se implica cuidar cia para compor, em caráter pleno, a consecução
do outro em si mesmo. Dessa forma, quando um do processo de individuação, configura, para
crime for cometido nessa dinâmica, o que se pede mim, uma demanda imperiosa de certezas e
é ter e ser Amor, Amor pelo outro e por si mesmo
convicções de que o fenômeno do autoconheci-
(proposição inspirada pelo Ho´oponopono).
mento se realiza em função dos caminhos neces-
Há de se convir que, quando estivermos sob
sários a serem percorridos por estas etapas do
a vigência plena da Dinâmica do Encontro, com
desenvolvimento. A busca do autoconhecimen-
seus pressupostos de Reconhecimento da ação
to implica ocuparmo-nos contínua e constante-
e Responsabilidade pelo ato cometido, nos exer-
mente de nossas mazelas e purificarmo-nos em
cendo pela consigna do Perdão, trabalhando por
função dos cuidados prestados ao outro em nós.
um bem maior; e, quando estivermos sob a vi-
Quando Moisés convocou o povo judeu para
gência da dinâmica da Comunicação ou do Ver-
sair do Egito, onde se mantinha na condição de
bo tendo congruência entre o que fala e o que
escravo, e caminhar para o encontro com Deus,
faz, sendo complacente com o outro; e, quando
buscando pela terra prometida, o fenômeno tor-
nos mantivermos diligentemente na atividade
nou-se conhecido como "Exodus", ou seja, dei-
de trabalho e determinação para não nos perder-
xar o lugar estreito onde não se cabia mais1.
mos da meta maior, então alcançaremos a Dinâ-
Estamos realizando um novo Exodus quando
mica da Compreensão Universal. Ao alcançá-la,
caminhamos para a Dinâmica Universal, inspirados
cientes de seus pressupostos de reconhecer-se
pela condição precípua do Amor e da aceitação ple-
e saber-se responsável pela injúria cometida por
quem quer que seja, e por nos sabermos e nos na do outro, quem quer que ele seja, sem condena-
tornarmos Unos com a Totalidade, nos exercen- ções. Aceitar o outro sem avaliações condenatórias
do pelo Amor ao Outro, vibrando e mentalizando implica acolhermo-nos por inteiro. A realização des-
o restabelecimento da harmonia, os fenômenos te novo Exodus significa nos tornarmos livres. ■
de guerra, fome, violência, conquista do poder
e tantas outras aberrações cometidas pelos des- Recebido em 30/08/2018 Revisão em 12/12/2018
varios de nossa condição primordial, arquetípi- 1
Aula do Rabino Nilton Bonder realizada no Centro de Cultura
ca, não humanizada, terão realmente findado! Judaica, em 2010.
Abstract
Keywords: spiritual intelligence, process of hominization, seven dynamics of consciousness, process of individuation.
Resumen
Palabras clave: inteligencia espiritual, proceso de hominización, siete dinámicas de conciencia, proceso
de individuación.
Referências
ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de todos os tem- BYINGTON, C. A. B. O desenvolvimento simbólico da
pos. São Paulo: Escuta, 2017. personalidade: os quatro ciclos arquetípicos. Junguiana, São
Paulo, v. 1, p. 8-63, 1983.
ALVARENGA, M. Z. Os Deuses castigam? Mitologia e psico-
patologia simbólica. eBook Kindle. 2016. CHARDIN, P. T. O fenômeno humano. São Paulo: Cultrix, 1995.
BRADEN, G. O efeito Isaias: decodificando a ciência perdida WIKIPEDIA. Ubuntu (filosofia). Disponível em: <https://pt.wiki-
da prece e da profecia. São Paulo: Cultrix, 2017. pedia.org/wiki/Ubuntu_(filosofia)>. Acesso em: 20 jul. 2016.
BRANDÃO, J. S. Dicionário mítico-etimológico. Petrópolis: ZOHAR, D., MARSHALL, I. A inteligência espiritual. Rio de
Vozes, 1992. Vol. 2. Janeiro: Best Seller, 2016.
Palablas clave
Resumen
inteligencia
Este artículo propone la existencia de siete personalidad humana, a la par de tejer comen- espiritual,
dinámicas de conciencia, y no sólo las cuatro tarios sobre aspectos de la séptima dinámica proceso de
actualmente descritas por la Psicología Analíti- que paso a nominar como de la Comprensión hominización,
ca. A la par de la proposición de siete dinámi- Universal. Las dinámicas enumeradas son: del siete dinámicas
cas, hago comentarios sobre la inteligencia Origen o Urobórica, bajo la regencia del arquet- de conciencia,
espiritual y sobre el proceso de hominización, ipo de la Naturaleza Divina; de lo Femenino o proceso de
dados éstes que concurrieron a la proposición de la Gran Madre, bajo la regencia del arquetipo individuación.
de las siete dinámicas de Conciencia. Algunos de la Diosa Madre; de lo Masculino o del Padre,
datos aquí presentes fueron presentados en el bajo la regencia del arquetipo del Dios Padre;
VIII Congreso Latinoamericano de Psicología del Encuentro, bajo la regencia del arquetipo de
Analítica – julio de 2018, en Bogotá-Colombia la Coniúntio; de la Comunicación, bajo la regen-
bajo el nombre de “Las siete Dinámicas de cia del arquetipo del Verbo encarnado; de la Vi-
Conciencia”. El texto actual se ha añadido a dencia o Antevisión del Futuro, bajo la regencia
descripciones detalladas de las nuevas dinámi- del arquetipo de la Profecía; de la Comprensión
cas propuestas como componentes del elen- Universal, bajo la regencia del arquetipo de
co de dinámicas de conciencia regentes de la la Totalidad. ■
* Médica por FMUSP, clase 49a. Psiquiatra por ABP, registro en CRM-SP 12766. Analista Junguiana por La Sociedad Brasileña de Psi-
cología Analítica (SBPA), filiada a la International Association for Analytical Psychology (IAAP). E-mail: <emza@boitata.org>
El alma debe atreverse para (tal como predijo Chardin (1995) en "O Fenó-
poder generar crecimiento meno Humano"). Es de Chardin la proposici-
(Rabino Nilton Bonder, El Alma Inmoral). ón de que la emergencia de la conciencia se
presenta desde el reino mineral, seguido por
el vegetal y por el animal, evolucionando como
1. La Inteligencia Espiritual conciencia reflexiva solamente en las criaturas
La Inteligencia Espiritual es un concepto humanas. En su afirmación la conciencia cami-
reciente, divulgado por los trabajos de Zohar na desde Alfa hacia Omega.
e Marshal (2016), ascomo de Wigglesworth En este texto, propongo que la emergencia
(2012). Descrito por Zohar e Marshal (2016, de la Inteligencia Espiritual, a par de impulsar el
p.19) "como una capacidad de elegir bien proceso de individuación, revela a la conciencia
(y que) nos brinda con un sentido moral, una que la marcha hacia su consecución se convier-
capacidad de amenizar normas estrictas con te en la mayor demanda de la Vida. Hacernos
comprensión y compasión". Esa capacidad se humanos implica el autoconocimiento, meta
explicita por la disponibilidad para asumir la del proceso de individuación que se concreta
responsabilidad y solucionar conflictos cuyas por la coniunctio de sí con el sí mismo o del Yo
demandas no tienen un carácter personal con el Self.
sino colectivo. La Inteligencia Espiritual, al expresarse con
En otros tiempos, la inteligencia espiritual más intensidad - como sucede en esos últimos
se expresaba a través de avatares como: Buda, tiempos - concurre a que los humanos tomen
Jesucristo, Francisco de Asís, Teresa de Ávila y conciencia de la importancia profunda de la de-
tantos otros. En los últimos tiempos, esa capa- manda por la libertad de ser, hacer, pensar, que-
cidad ha sido divulgada y ejercida por grandes rer y asumir voluntariamente la decisión de ca-
líderes como Gandhi, Martin Luther King, Madre minar hacia el Self. Cuando realmente los seres
Teresa de Calcutá, Chico Xavier etc., resonando se hacen humanos, cada uno de per sí quiere ser
sincrónicamente y de forma sintónica con miles la solución de los problemas familiares, sociales
de personas. y/o de la Humanidad.
El emerger de la Inteligencia Espiritual se La Inteligencia Espiritual nos capacita a, vo-
debe a fenómenos de interacción de campos luntariamente, hacernos cargo del otro y de la
morfogenéticos (SHELDRAKE, 2016) o a inter- solución de problemas y conflictos del colectivo,
pues nos sabemos y nos sentimos partícipes e
comunicaciones, interdependencias e inte-
integrantes de la comunidad. Zohar e Marshal
racciones resultantes del universo colectivo
(2016, p. 33) que describe el habla de un joven
(McTAGGART, 2004). Este suceso transforma a
empresario sueco y su fantástica declaración
las personas en seres carismáticos y traduce
de querer ser la solución de los problemas con
la maravillosa realidad de que todos los que
los que se depara. Me sirvo de esta información
componemos la Humanidad estamos realmen-
para traducirla como:
te haciéndonos humanos cuando constatamos
que el proceso de evolución de nuestra con- Al hacernos humanos ¡queremos ser la solu-
ciencia para alcanzar el Omega está en marcha ción y hacer el cambio!
5. de la Comunicación, bajo la dirección del comprende el tiempo que queda hasta el mo-
arquetipo del Verbo encarnado; mento del nacimiento, período de maduración,
a lo largo del cual los órganos, ya formados en la
6. de la Videncia o Antevisión del Futuro, bajo
etapa anterior, acaban por adquirir su estructu-
la regencia del arquetipo de la Profecía;
ra definitiva. Los órganos alcanzando plena ac-
7. de la comprensión universal, bajo la regen- tividad, concurren para que factores esenciales
cia del arquetipo del Self. posibilitadores de una vida independiente, fuera
del organismo materno, se completen. A lo largo
3. Descripción de las siete dinámicas de de esta fase, el producto de la fertilización se lla-
conciencia ma feto (MOORE, 2016).
3a. La primera Dinámica, del Origen o Uro- La dinámica Urobórica, pertinente al perío-
bórica, vivida y actualizada en los tiempos de do intrauterino, durante el cual el milagro de la
vida intrauterina, está correlacionada con el vida ocurre, refleja una complejidad sublime de
chacra básico (Muladdhara), acorde con los la naturaleza, expresada por metamorfosis es-
primeros tiempos de vida de la criatura que se pectaculares, bajo la regencia de competencias
forja, en la condición intrauterina, poco des- inherentes a la célula primordial, fuente de po-
pués de la concepción. sibilidades no inteligibles, pero, profundamente
El óvulo fertilizado se convierte en huevo o inteligente, dirigida a un propósito único: hacer
cigoto, y el fenómeno ocurre en la pared de la que la vida suceda.
trompa de Falopio para luego descender hacia Y este embrión forja en pocas semanas, nun-
el interior del útero, fijándose en su pared mu- ca más que diez, todos los órganos, piel, mús-
cosa, proceso que se denomina nidificación o culos, nervios, cerebro, estructura ósea, desar-
nidación. En el cigoto, transformaciones espec- rolla los sentidos y competencias para oír, ver,
taculares son desencadenadas pues, al cabo de saborear, experimentar la temperatura, sentir
pocos días, emergen varios mecanismos previa- emociones, y luego soñar, pensar y “saber”.
mente codificados en su constitución genética. La dinámica Urobórica, expresión impar del Self,
Y, en función de la demanda que se establece, prepara al ser en gestación para volverse, en el
por procesos desconocidos, la aglomeración ce- futuro, consciente de sí mismo y de su relación
lular, denominada mórula, derivada de las divi- con los demás, haciéndose humano.
siones del propio cigoto, en su fase de segmen- La Uroboros, siendo una referencia a la
tación, se diferenciará en varias estructuras que creación del Universo, representa un tiempo
constituirán el futuro embrión y, de este mismo en que el embrión estructura todas sus com-
agrupamiento, se presentará la bolsa amniótica petencias, como también estructura su prime-
y la placenta, órganos responsables de la oxige- ra dinámica de conciencia. Esta dinámica de
nación, nutrición y protección del futuro embrión conciencia, al principio, confiere al embrión
feto. La primera fase del desarrollo, denominada la condición de él “sentirse” como entidad
segmentación, corresponde al período inmedia- Una con el Self, pero, sin aún “saber”, en su
to a la fertilización y nidificación de la blástula condición reflexiva, como criatura impar. La
en la mucosa uterina. La segunda fase, llamada conciencia Urobórica se estructura, pues se in-
embrionaria, ocurre entre la segunda semana corpora de atributos derivados de las transfor-
después de la fecundación hasta la novena se- maciones embrionarias que forjan dispositivos
mana, período a lo largo del cual todos los ór- mnemónicos, con lo que el feto pasa a cono-
ganos del cuerpo serán formados. Durante esta cerse como criatura que siente, experimenta
fase, el nuevo ser se llama embrión. La tercera sonidos, luminosidades. Estos dispositivos
fase, la más prolongada, denominada fase fetal, mnemónicos darán competencia, al futuro na-
cido, para reconocer la frecuencia cardíaca de nueve meses de vida, acerca de nuestras tem-
la madre cuando se coloca sobre el tórax de pranas influencias formativas (ARAUJO, 2018).
ella; reconocer el timbre de la voz de la madre Todo el desarrollo del ser humano y de sus
y llorar con el mismo repertorio musical de la dinámicas de conciencia implican la reflexión de
voz materna de tal manera que la madre pueda cuánto cada uno de nosotros necesita del otro
reconocer y saber cuando el llanto es de ham- para ser, sin lo que la Vida no sucede. El ser en
bre o de dolor o de otra incomodidad. gestación “se sabe” acogido sin lo que nunca
Así, la dinámica Urobórica, inherencia de esa desarrollaría competencia para acoger al otro en
sabiduría intrínseca de la naturaleza del huevo sí mismo, meta del proceso de individuación.
primordial - cigoto, se forja como factor determi- La Dinámica Urobórica pide que la acogida
nante y fundante de todas las demás dinámicas suceda para que el cuerpo gestante acepte lo
de conciencia que se presentarán a posteriori. diferente en sí, constatando ser él, cuerpo ges-
La dinámica de conciencia Urobórica es la matriz tante, el receptáculo de la sacralidad de la exis-
de las demás dinámicas. Ella y el cuerpo que la tencia. Cuando el cuerpo gestante no acoge al
gesta, simplemente, son Uno solo con el Self. La gestado, concurre para el rompimiento de la uni-
Dinámica Urobórica rige la forja de la totalidad dad original, con lo que no habrá posibilidad de
corporal, tanto física como mental/emocional. mantenimiento del proceso que compone la Vida
El desarrollo del cerebro, según investiga- del nuevo ser en gestación.
ciones recientes (ARAUJO, 2018), prepara al fu- La dinámica Urobórica ciertamente se hace
turo nacido con competencia para hacer víncu- bajo la regencia de una condición arquetípica,
lo, o apego, con la madre o sustituta, sin lo que que propongo ser acreditada al arquetipo de la
la supervivencia no sucede. El huevo primordial Naturaleza divina, realidad primordial portadora
sale de la condición concreta y simbólica del de todas las competencias, fructificadoras de la
Khaos griego (fuente de todas las posibilidades) Vida y de la Muerte.
para estructurarse como un venir a ser humano.
La primera dinámica traduce y se ocupa con
Al hacerlo, integra en su naturaleza la condici-
el origen y el mantenimiento de la vida.
ón de: para llegar a ser humano es fundamen-
tal tener al otro y, para ello, es necesario hacer 3b. La segunda dinámica paso a denominarla
vínculo. La Dinámica Urobórica retrata la condi- como la Femenina o la Gran Madre, ampliamen-
ción del contenido y del continente ser Unos y te estudiada por la Psicología Analítica bajo la
su dependencia con el otro, cuerpo gestante, es denominación de Matriarcal, está correlaciona-
total, sin lo que la Vida no se consuma. El ser da al chacra de la sexualidad (Svãdhistãna). La
nace porque alguien lo gestó, soportó, hizo que dinámica de lo Femenino, bajo la regencia de la
la Vida sucediera. Gran Madre, retrata la instauración del encuen-
Kohler, analista junguiano, subraya la im- tro yo-otro, sin conciencia reflexiva de quién es
portancia crítica del desarrollo prenatal para la el Yo y de quién es el Otro, con la finalidad de
estructuración y funcionamiento del cerebro y la conservación de la especie; el descubrimiento
de la personalidad. Este autor cree que la cons- de los placeres derivados de la sexualidad, junto
telación de los arquetipos y el desarrollo de los al establecimiento de los cuidados con el con-
complejos ya ocurren en el embrión y el feto, y cepto, son inherentes a esta dinámica. A medida
busca describir el impacto de la relación entre que los diversos otros se diversifican, el Yo se
el embrión y el feto y la madre y el mundo don- estructura, la relación deja de ser de exclusivi-
de está insertado. Basó sus consideraciones en dad, pero siempre en la interdependencia de un
las investigaciones neurobiológicas de Huther Otro. En la dinámica de la Gran Madre, la Vida es
y Krens acerca de los misterios de los primeros siempre soberana.
Abstract
Keywords: spiritual intelligence, process of hominization, seven dynamics of consciousness, process of individuation.
ALVARENGA, M. Z. Os Deuses castigam? Mitologia e psico- CORDEIRO, A. M. A fala encantada da anima, Sharazade e
patologia simbólica. eBook Kindle. 2016. o Sultão. In: ALVARENGA, M. Z. (org.). Anima-animus de
todos os tempos. São Paulo: Escuta, 2017. p. 86-93.
ALVARENGA, M. Z. A dinâmica do coração: do herói dever,
heroína-acolhimento para o herói-heroína-amante-amado. D´ÁVILA, S. T. As moradas do castelo interior. São Paulo:
Junguiana, São Paulo, n. 18, p. 133-52, 2000. Paulus, 1981.
ALVARENGA, M. Z. A vida na coniunctio Zeus-Her: a morte DIONNE JUNIOR, E. J.; REID, J.-A. Nós somos a mudança
na separatio Eco-Narciso. Junguiana, São Paulo, v. 29, n. 2, que buscamos: discursos de Barack Obama. Rio de Janeiro:
p. 129-6, nov. 2011a. BestSeller, 2017.
ALVARENGA, M. Z. As sete dinâmicas de consciência: a DISCURSO de Rui Barbosa no Senado em 1914. Disponível
hominização, inteligência espiritual e o processo de individu- em: <http://fabioibrahim.blogspot.com.br/2012/10/discur-
ação. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PSICOLOGIA so-de-rui-barbosa-no-senado-em 1914.html>. Acesso em:
ANALÍTICA, 8., 2018, Bogotá Colômbia, 2018. Anais... São 26 jan. 2017.
Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 2018.
INTERNATIONAL STANDARD BIBLE ENCYCLOPEDIA
ALVARENGA, M. Z. O encontro de Prometeu, Héracles e ONLINE. Man; Disponível em: <http://www.interna-
Quiron: a morte e o morrer, ritos de passagem. Junguiana, tionalstandardbible.com/M/man-new.html>. Acesso
São Paulo, v. 29, n. 1, p. 58-65, jun. 2011b. em: jan. 2017.
ALVARENGA, M. Z. O primeiro tribunal de júri. Junguiana, McTAGGART, L. O campo: em busca da força secreta do
São Paulo, v. 30, n. 2, p. 129-35, jul.-dez. 2012. Universo. São Paulo: Roco, 2004.
ALVARENGA, M. Z. Por que os deuses castigam? São Paulo: MOORE, K. Embriologia clínica. São Paulo: Elsevier, 2016.
Casa do Psicólogo, 2014.
MURRAY, L.; ANDREWS, L. The social baby. Richmond: The
ARAUJO, C. A. Arquétipos e complexos: vida pré-natal e primeiríssi- Children´s Project, 007.
ma infância. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE PSICOLO-
GIA ANALÍTICA, 8., 2018, Bogotá Colômbia, 2018. Anais... São SHELDRAKE, R. Ressonância mórfica & a presença do
Paulo: Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 2018. passado. São Paulo: Instituto Piaget, 2016.
BONDER, N. A alma imoral. Rio de Janeiro: ROCCO; 1998. WIGGLESWORTH, C. Las 21 aptitudes de la inteligencia
espiritual: un paso más allá de la inteligencia emocional.
BRADEN, G. O efeito Isaias: decodificando a ciência perdida (Spanish Edition) (Locais do Kindle 3756). México: Penguin
da prece e da profecia. São Paulo: Cultrix, 2017. Random House, 2012.
BRANDÃO, J. S. Dicionário mítico-etimológico. Petrópolis: WIKIPEDIA. Ubuntu (filosofia). Disponível em: <https://
Vozes, 1992. Vol. 2. pt.wikipedia.org/wiki/Ubuntu_(filosofia)>. Acesso em:
20 jul. 2016.
BYINGTON, C. A. B. O desenvolvimento simbólico da
personalidade: os quatro ciclos arquetípicos. Junguiana, São ZOHAR, D., MARSHALL, I. A inteligência espiritual. Rio de
Paulo, v. 1, p. 8-63, 1983. Janeiro: Best Seller, 2016.
Resumo Palavras-chave
A autora resgata a noção do erro na psico- Encontro
logia analítica, revisitando o trabalho inicial de analítico,
Jung no teste de associação. Busca compreender erro, teste de
associações,
o que sustenta o processo analítico, tanto do
neurociências,
ponto de vista da psicodinâmica quando dos
inter-relação,
novos modelos de funcionamento cerebral como sintoma e
propostos pelas neurociências. Discute em que cura.
medida a busca do certo, do modelo ideal, pode
impedir o desenvolvimento propondo que nosso
trabalho enquanto psicoterapeutas seria possi-
bilitar a formação de um campo favorável à (re)
construção do movimento intrapsíquico, e não
corrigir “erros” introduzindo a importante dis-
criminação entre to cure e to heal. ■
Nenhum artifício evitará que o tratamen- De acordo com Cozolino, no coração da psi-
to seja o produto de uma interação entre coterapia está a compreensão das forças entre-
o paciente e o médico, como seres intei- laçadas da natureza e da criação, o que dá certo
ros. O tratamento propicia o encontro de e errado no seu desenvolvimento e desdobra-
duas realidades irracionais, isto é, de mento, e como restabelecer o funcionamento
duas pessoas... que trazem consigo não neural saudável. Segundo este autor, os genes
só uma consciência, que talvez possa ser fornecem a organização das estruturas unifor-
definida, mas, além dela, uma extensa e mes do cérebro. Estruturas e funções uniformes
são herdadas através do nosso DNA e compar- com o reino do implícito, predominantemente
tilhadas por todos os membros saudáveis de afetivo, que surge do hemisfério direito a partir
nossa espécie, aspecto da herança genética tra- da afetividade e interatividade experienciadas
dicionalmente pensada como “natureza”. Mas é entre paciente e terapeuta. O outro aspecto
através da tradução da experiência em estrutu- diz respeito ao trabalho com os conteúdos ex-
ras neurobiológicas que a natureza e a criação plícitos, que surgem do hemisfério esquerdo,
tornam-se um só (COZOLINO, 2006, p. 6), em um predominantemente cognitivo, trabalho este
processo que, este autor, vai depois chamar-se manifestado através das interpretações. A in-
“alquimia bioquímica”: terpretação sozinha, no entanto, não é o bas-
tante para reparar danos nas estruturas implí-
[...] a experiência molda a arquitetura de citas da mente; a sintonia afetiva baseada na
nossos sistemas neurais, tornando cada contratransferência empática é o único agente
cérebro uma mistura única de nossa his- que irá proporcionar compreensão para o te-
tória evolutiva compartilhada e nossas rapeuta, e pode levar a mudanças na mente
experiências individuais. Assim, nossos do paciente.
cérebros são construídos na interface de Esta autora afirma que o foco da terapia de-
experiências e de genética, onde a nature- veria ser “facilitar uma coordenada integração
za e a educação se tornam um (COZOLINO, entre a memória relacional, explicita e implícita,
2013, p. 15,16). e saber como se manifesta em imagens, sonhos,
histórias e narrativas, bem como na relação ana-
Ainda de acordo com Cozolino: como o lítica” (WILKINSON, 2010, p. 85).
afeto é repetidamente trazido para a relação
terapêutica, o cliente internaliza gradualmen- 3. Sobre o trabalho analítico
te essas habilidades ao esculpir as estruturas
neurais necessárias para autorregulação. Em Uma vez que psique e matéria são conti-
um nível neurológico, isso equivale à integra- das em um e no mesmo mundo, e mais
ção e comunicação de redes neurais dedicadas ainda estão em contínuo contato uma
à emoção, cognição, sensação e comporta- com a outra [...] é não apenas possível,
mento e um equilíbrio adequado entre excita- mas muito provável, que psique e matéria
ção e inibição. Nós psicoterapeutas estimula- sejam dois aspectos de uma e mesma coi-
mos a neuroplasticidade e integração neural; sa (JUNG, 1981, par. 418).
orientamos nossos pacientes entre pensa-
mentos e sentimentos, tentando ajudá-los a O que acontece no “bordo”, na fronteira, ou
estabelecer novas conexões entre os dois e os na transição entre polos do espectro? Espaço
ajudamos a alterar a sua descrição de si e do de criação do simbólico e da cultura; espaço de
mundo, incorporando uma nova consciência e encontro com o outro. Estabelecimento de pon-
incentivando uma melhor tomada de decisão; tes? “Elas pressupõem a presença do ‘outro’,
possibilitando a criação de novas narrativas de um ‘aqui’ e um ‘lá’, de um ‘agora’ e um ‘en-
(COZOLINO, 2016). tão’, de um ‘este lado’ e ‘outro lado’” (GORDON,
Corroborando e ampliando estas ideias, 1993, p. 4); uma ponte separa e une, atua como
Wilkinson (2006, 2010) sugere que o processo fronteira; pressupõe separação e unidade, sem
psicoterapêutico é como uma dupla hélice, na isolamento ou ruptura; significa contato e co-
qual as interações entre os dois lados do cére- municação entre o que permanece separado e
bro se entrelaçam, de modo a formar um todo. distinto”. Há fronteiras, não barreiras. Há sem-
Afirma que um dos aspectos da terapia é lidar pre a possibilidade de mudança, movimento e
também tensão, incerteza, dialética. Onde há serviço do encontro analítico. Para a psicologia
uma ponte há a possibilidade de criação de um analítica, a dupla de trabalho é composta por
terceiro (GORDON, 1993, p. 7). dois seres humanos em constante interação
A terceira área, área da ilusão, área da expe- consciente, mas também inconsciente (ideia
riência, que, segundo Winnicott, se localiza no esta que tem sido corroborada pelos estudos
espaço potencial existente entre o indivíduo e o em neurociência). A pessoa ou personalidade do
meio ambiente, aquilo que, de início, tanto une terapeuta tem tanta importância quanto à do pa-
quanto separa o bebê e a mãe. Área que se de- ciente neste trabalho.
senvolve a partir da experiência do bebê com o Na análise relacional trabalha-se com a no-
objeto transicional, “primeiro ato criativo”, fon- ção de uma realidade construída na relação,
te do brincar, da criatividade, do simbolismo, ou seja, não há uma verdade a ser descober-
do simbólico. ta ou compreendida no processo analítico. O
E, afirmando com Gordon podemos dizer que passado é revisto e reconstruído na relação
é nessa “área da ilusão” de Winnicott, que o hí- terapeuta-paciente, transformando o presente
brido, o processo arquetípico interage com as e abrindo novas possibilidades para o futuro.
funções psicológicas através das quais conhece- Em Jung a verdade surge a partir do processo
mos a realidade (GORDON, 1993, p. 112). Espaço de resolução da dialética dos opostos, proces-
potencial como espaço de transição, de ocupa- so psíquico incessante e natural que acontece
ção, de construção do novo, do diferente e do na relação do sujeito consigo mesmo e com
individual; espaço no qual o original e o atual, o mundo, portanto também com o terapeuta.
a tradição e a modernidade, o arquétipo, híbrido Segundo Jung, “Uma verdade é uma verdade
entre natureza e cultura, pode ser “atualizado” quando funciona”.
espaço de criação do novo e da cultura, possibi- Então, pensando sobre o que é o real, para
lidade de surgimento da função simbólica. cada cultura, em cada época, tal como pro-
posto pelos Upanishades, propomos que é no
Criando todas as coisas, ele entrou em tudo verdadeiro encontro analítico, no momento
Entrando em todas as coisas, tornou-se o de encontro, no terceiro analítico, através da
Que tem forma e o que é informe; tornou-se apercepção criativa, segundo Winnicott, que
O que pode ser definido e o que não pode o indivíduo sente que a vida é digna de ser
ser definido; vivida (WINNICOTT, 1991, p. 71) e que o real
Tornou-se o que é grosseiro e o que é sutil. pode ser “construído”. Este espaço potencial
Tornou-se toda espécie de coisas: por pode ser visto como sagrado para o indivíduo,
isso os sábios chamam-no o real porque é aí que experimenta o viver criativo.
(Upanishades). E o que seriam então os erros e defeitos ou,
perguntando com Winnicott: sobre o que versa
E como exercemos nossa subjetividade? a vida? Afirma ele que “podemos curar nosso
Winnicott afirma que “a psicoterapia é efe- paciente e nada saber sobre o que lhe permite
tuada na superposição de duas áreas lúdicas, a continuar vivendo” (WINNICOT, 1991, p. 100) e
do paciente e a do terapeuta. Se o terapeuta não então como podemos ser facilitadores no ca-
pode brincar, então ele não se adequa ao tra- minho pela busca do sentido?
balho” (WINNICOTT, 1991, p. 80).. E o que seria Gordon (1993) nos mostra uma importan-
esse brincar para nós, terapeutas junguianos? te diferença etimológica entre dois vocábulos
Seria a possibilidade de “folgar” em nossa utilizados na língua inglesa, que são traduzi-
própria subjetividade exercitando em toda ple- dos da mesma forma em português to cure e to
nitude nossa equação pessoal colocando-a a heal. Sua história, no entanto, é bem diferente:
Keywords: analytical encounter, error, word association test, neurosciences, interrelation, symptom, cure.
Resumen
Palabras clave: encuentro analítico, error, prueba de asociaciones, neurociencias, interrelación, síntoma y cura.
COZOLINO, L. The neuroscience of human relation- JUNG, C. G. The structure and the dynamics of the
ships. New York: W.W.W. Norton, 2006. psyche, CW 8. New York: Princeton University Press, 1981.
COZOLINO, L. The neuroscience of psychoterapy. ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova
New York: W. W. Norton, 2010. Fronteira, 2001.
COZOLINO, L. The social neuroscience of education. SAMUELS, A. Political and clinical developments in ana-
New York: W. W. Norton, 2013. lytical psychology, 1972-2014: subjectivity, equality and
diversity-inside and outside the consulting room. Journal of
COZOLINO, L. Why therapy works. New York: W. Norton, 2016. Analythical Psychology, v. 59, n. 5, p. 641-60, Nov. 2014.
https://doi.org/10.1111/1468-5922.12115.
GORDON, R. Bridges-metaphor for psychic process-
es. London: Karnak Books, 1993. SCHORE, A. The science of the art of psychotherapy.
New York: W. W. Norton, 2012.
JACOBI, J. Complexo, arquétipo e símbolo na psicologia de
C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1990. WILKINSON, M. Changing minds in therapy. New York: W.
W. Norton & Norton, 2010.
JUNG, C. G. Alchemical sudies, CW 13. New York:
Princeton University Press, 1973. WILKINSON, M. Coming into mind: the mind-brain
relationship: a jungian clinical perspective. New York:
JUNG, C. G. Experimental researches, CW 2. New Routledge, 2006.
York: Princeton University Press, 1990.
WINNICOTT, D. W. Playing and reality. New York: Rout-
JUNG, C. G. The development of personality, CW 17. ledge, 1991.
Abstract Keywords
The author rescues the notion of error in an- Analytical
alytical psychology, revisiting Jung’s early work encounter,
on the word association test. She tries to under- error, word
association
stand what supports the analytical process, both
test,
from the point of view of psychodynamics and neurosciences,
from the new models of brain functioning as pro- interrelation,
posed by neurosciences. She discusses, to what symptom,
extent, the search for the right, the ideal model cure.
can inhibit development; proposes that our work
as psychotherapists is to enable the formation
of a field favorable to the (re) construction of the
intrapsychic movement and not to correct “er-
rors” introducing the important discrimination
between “to cure” and “to heal”. ■
tions are based on dynamic and implicit rela- who bring with them, besides their more
tionship processes. The information from the or less clearly defined fields of consciou-
non-verbal unconscious communication has an sness, an indefinitely extended sphere of
essential role; implicit communications in the non-consciousness. Hence, the persona-
therapist-patient relationships, transmit more lities of the doctor and patient are often
than conscious verbalization. Psychotherapy infinitely more important for the outcome
is able to promote changes both in the psychic of the treatment than what the doctor says
functions as well as in its structures, even in fur- or thinks... (1985, p. 163).
ther stages of development.
Schore agrees with the idea that the more Cozolino (2006, 2010, 2013, 2016) has been
the therapist facilitates the affective experien- researching neurosciences of psychotherapy and
ce/expression of patients in psychotherapy, says that in the core of the interface between the-
the more the patients demonstrate positive se two areas lies the fact that human experien-
changes and that this affective facilitation is ce is mediated by two processes which interact
a powerful predictor of the treatment success. with each other. The first is the expression of our
The essential role of the right brain [his termi- evolutionary past through organization, deve-
nology] in the “nonconscious processing of the lopment and functioning of our nervous system
emotional stimuli” and in the “affective commu- – a process that resulted in billions of neurons
nication” is directly relevant to recent clinical arranging themselves in neural networks, each
models of “affective unconscious” and “relatio- one having its own timing and needs for growth.
nal unconscious” where “an unconscious mind The second process is the contemporary arran-
communicates to another unconscious mind” gement of our neural architecture within the hu-
(SCHORE, 2012). man relationships context. The brain is a “social
Schore concludes that the right brain is do- adaptation body”, stimulating to grow through
minant in the treatment and that psychotherapy positive and negative interactions with others
is not the cure through speech, but cure through (COZOLINO, 2006). Thinking the evolutionary
affection. The “right brain-right brain” commu- past is also to be able to think with Jung when
nication represents the enabling of interactions he affirms:
between the primary unconscious systems of the
patient and the therapist, and the “primary pro- The psyche is not of today; its ancestry
cess cognition” is the most important communi- goes back many millions of years. Bene-
cative mechanism of the relational unconscious. ath the individual consciousness is only
More than emphatic affection, being attuned and the flower and the fruit of a season, sprung
in deep contact are necessary for a more com- from the perennial rhizome beneath the
prehensive therapeutic progression. Likewise, earth; and it would find itself in better ac-
Jung asserts that: cord with the truth if it took the existence
of the rhizome into its calculations. For the
By no device can the treatment be any- root matter is the mother of all things
thing but the product of mutual influence, (1990, p. xxiv).
in which the whole being of the doctor as
well as that of his patient plays its part. According to Cozolino, “at the heart of psy-
In the treatment there is an encounter chotherapy lies the understanding of the inter-
between two irrational factors, that is to twined forces of nature and creation, what goes
say, between two persons who are not right or wrong in its development and unfolding,
fixed and determinable quantities but and how to reestablish a healthy neural func-
tioning” (COZOLINO, 2010, p. 12). According to “One aspect of therapy deals with the impli-
the author, genes enable the organization of the cit, arising from the right hemisphere; it is pre-
brain’s uniform structures. Uniform structures dominantly affective, composed of the affective
and functions are inherited through our DNA and encounter between therapist and patient. The
shared among all healthy members of our spe- other deals with the explicit, arising from the left
cies, a key feature of the genetic inheritance tra- hemisphere; it is predominantly cognitive, mani-
ditionally thought as “nature” (COZOLINO, 2010). fest in interpretation” (Wilkinson, 2010, p. 85).
But it is through the translation of experiences “Interpretation alone, however, is not enough
into neurobiological structures that nature and to redress damages to implicit structures in the
creation become one in a process which he then mind” (WILKINSON, 2010, p. 86); the affective at-
names “biochemical alchemy”: tunement based on the empathic countertrans-
ference is the only agent to provide the therapist
[...] the experience shapes the architec- with understanding and can lead to changes in
ture of our neural systems, making each the patient’s mind.
brain a unique mixture of our evolutionary This author affirms that the focus of therapy
shared history and our individual expe- should be “on facilitating a coordinated integra-
riences. Thus, our brains are built in the tion of explicit and implicit relational memory”
interface of experiences and genetics, (WILKINSON, 2010, p. 85) and to know how they
where nature and education turn into one manifest into images, dreams, stories, and nar-
(COZOLINO, 2013, p. 15, 16). ratives, as well as into the analytic relationship.
are boundaries, but no barriers. There is always is that where playing is not possible then the
the possibility of change, movement and also work done by the therapist is directed towards
tension, uncertainty, dialectics. Wherever the- bringing the patient from a state of not being
re is a bridge there is the possibility of a third able to play into a state of being able to play”.
(GORDON, 1993, p. 7). If the therapist cannot play, then he or she is not
The third area, the area of illusion, area of ex- adequate to work (WINNICOTT, 1991, p. 80).
perience which, according to Winnicott, can be And what would this “playing” be for us, Jun-
found in the existing potential space between gian therapists?
the individual and the environment, the one whi- It would be the possibility of “being off” in
ch, at first, separates as well as unites, the baby our own subjectivity exercising in fullness our
and the mother. Area that develops from the personal equation putting it to the service of the
baby’s experience with the transitional object, analytical encounter. For the analytical psycholo-
“first creative act”, source of playing, of creativi- gy, the working pair is made of two human bein-
ty, of symbolism, of the symbolic. gs in constant conscious, but also unconscious
And, restating with Gordon, we can say that interaction (idea which has been endorsed by
“it is within that Winnicott’s ‘area of illusion’ that neurosciences’ studies). The therapist’s identity
the hybrids, the archetypical processes interact or personality has as much importance as the pa-
with those psychological functions through whi- tient’s in this work.
ch we come to know reality” (GORDON, 1993, p. In the relational analysis, there is the concept
112). Potential space as a space for transition, of a reality built in the relationship, that is, there
for occupation, for creating the new, the different is not a truth to be discovered or understood in
and the singular; space where the original and the analytical process. The past is revised and re-
the current, the tradition and the modernity, the built in the therapist-patient relationship trans-
archetype, hybrid between nature and culture, forming present and enabling new possibilities
can be “updated”, space for creation of the new for the future. In Jung the truth emerges from the
and the culture, possibility of emergence of the resolution of the dialectics of opposites, an un-
symbolic function. ceasing and natural psychic process that takes
place in the relationships of the individual with
Creating everything, he got into all the self and the world, therefore, also with the
Getting into all things, he became the therapist. As per Jung, “A truth is a truth whene-
One who has form but who is shapeless; ver it works”.
became Thus, thinking about what is real, in diffe-
He who can be defined and who cannot rent cultures, in different periods of time, such
be defined; as Upanishads proposed, we suggest that it is
Became what is rough and what is subtle. in the true analytic encounter, at the moment of
Became all sorts of things: for this the the encounter, in the third analytic, through the
wise call him the real creative apperception, according to Winnicott,
(Upanishads). that the individual feels that life is worth living
(WINNICOTT, 1991, p. 71) and that the real can
And how do we exercise our subjectivity? be “constructed”. This potential space can be
Winnicott states that: seen as sacred for an individual, for it is the-
“psychotherapy takes place in the overlap of re where one experiences the creative living.
two areas of playing, that of the patient and that And what would be the errors or defects, or,
of the therapist. Psychotherapy has to do with following Winnicott’s questioning: What is the
two people playing together. The corollary of this meaning of life? He asserts that “you may cure
Palavras-chave: encontro analítico, erro, teste de associações, neurociências, inter-relação, sintoma e cura.
Resumen
Palabras clave: encuentro analítico, error, prueba de asociaciones, neurociencias, interrelación, síntoma y cura.
JUNG, C. G. The development of personality, CW 17. New WINNICOTT, D. W. Playing and reality. New York: Rout-
York: Princeton University Press, 1981. ledge, 1991.
Resumo Palavras-chave
Este artigo pretendeu realizar uma breve re- sequelas e a teoria analítica. Foram realizadas Câncer infantil,
visão de literatura da psico-oncologia sobre os entrevistas com o paciente e seu responsável, sonhos,
efeitos do diagnóstico e tratamento de câncer na além da coleta dos relatos de sonhos das cri- psicologia
analítica,
vida do indivíduo para, em seguida, relacionar- anças. A análise do material nos aproximou da
oncologia
mos com a teoria analítica sobre sonhos, trau- situação psíquica dos sujeitos, na qual, a partir
pediátrica,
ma e a doença como símbolo. O objetivo deste dos elementos e estruturas oníricas, foi possív- símbolo.
trabalho é estudar os sonhos desses pacientes, el perceber uma fragilidade emocional inten-
entre 10 e 12 anos, estejam eles ainda em trata- sa e a possibilidade de dissociação psíquica.
mento ou não, a fim de relacionar os elemen- Os temas oníricos remetem à doença e ao seu
tos e/ou temáticas comuns aos sonhos deste tratamento apontando para uma tentativa de
grupo, com a experiência com a doença, suas elaboração dessas vivências. ■
caso deste estudo, ao encerramento das interven- revela sobre o sentido prospectivo da psique, ou
ções cirúrgicas, das quimioterapias ou até mesmo seja, o rumo que está sendo delineado na dinâ-
do câncer em si –, as sequelas psicológicas con- mica psíquica.
tinuam a assombrar o mundo interior através de
figuras interiores opressoras. 2. O câncer como símbolo
Alguns aspectos gerais do sonho devem ser Através do teste de associação, Jung pôde ob-
levados em consideração para realizar este es- servar que, quando complexos são ativados, são
tudo. Jung (2001) compara o sonho a um drama, provocadas alterações no nível fisiológico e psi-
explicitando três aspectos estruturais que devem cológico. Em outras palavras, complexos muito
ser examinados: primeiro, a introdução, compos- carregados de energia psíquica podem provocar
ta pelo cenário, personagens e o problema ou sintomas no nível da psique, como uma psicose
questão; segundo, a peripécia ou desenrolar da ou, no nível do corpo, como um câncer. Quanto
história; e, por fim, a solução final ou desfecho. maior a energia num complexo específico, maior
Cada um desses três aspectos estruturais nos a probabilidade de ele ser constelado, ou seja,
revela informações importantes relacionados ao maior a sintomatologia (RAMOS, 1996)
conteúdo inconsciente, ao ego do sonhador e Jung (1982) compreende que os conteúdos
até mesmo sua personalidade. Já na situação sintomáticos são, em parte, simbólicos e repre-
inicial do sonho, é possível que aconteça a intro- sentam indiretamente os estados ou processos
dução do tema arquetípico central. No decorrer inconscientes. Entende-se, portanto, que o pró-
do desenvolvimento da ação, surgem aspectos prio sintoma é a representação simbólica de uma
importantes sobre a relação atual do ego com os desregulação no sistema psíquico, podendo
complexos constelados e padrões arquetípicos mostrar-se no corpo (como doença física) ou na
ativados que compõem o sonho. Ainda no nível psique (como doença mental). Da mesma manei-
da peripécia, aparecem elementos coadjuvan- ra, Oliveira et al (2006) compreendem o sintoma
tes, considerados como aspectos da personali- como uma falha na elaboração psíquica naque-
dade do sonhador em contato com o ego onírico. les que não possuem recursos internos capazes
O modo como essa relação se dá nos sugere “a de elaborar e integrar determinado trauma.
função defensiva, protetiva, propulsora ou impe- Nesse sentido, Lima, Botelho & Silvestre
ditiva que tais elementos desempenham na di- (2011) encontram, nos sujeitos da pesquisa, li-
nâmica atual da psique” (PENNA, 2014, p. 123). gações entre o histórico de vida e a emergência
A atitude do ego onírico nos ajuda a compre- do câncer. As autoras identificaram que as crian-
ender as potencialidades à disposição do ego, ças sofriam decepções emocionais crônicas,
ou seja, as capacidades que já estão, pratica- como negligência, conflitos familiares, privação
mente, disponíveis a ele. Quando o ego onírico afetiva desde pequenas, o que as tornam “sus-
assume uma posição ativa no sonho, como co- cetíveis à doença, desprotegidas de sua defesa
mandante da ação, é apontada uma relação pro- natural” (p.150).
dutiva do ego em relação aos complexos. Já uma Já Oliveira et al. (2006) levantam algumas hi-
atitude passiva, quando ele sofre as ações dos póteses sobre o câncer como a manifestação de
outros, ou ausência de ego, colocando-o numa algo não simbolizado. Colocam a manifestação
posição de observador, podem denunciar uma somática como um possível pedido de socorro
“atitude defensiva de vitimização e/ou projeção ou atenção; também observam que, em muitos
da responsabilidade pela sua vida nos outros ou pacientes hospitalizados, o câncer surgiu após
nas situações externas” (PENNA, 2014, p. 124). um intenso trauma ou sofrimento psíquico,
Finalmente, o modo como o sonho termina, ou como um acidente, a morte de um parente, uma
até onde a memória do sonhador alcança, nos separação, entre outros.
Ramos (2006) também afirma que há relação É importante ressaltar que os sujeitos dessa
entre eventos psicológicos, o grau de expressi- pesquisa são de baixo poder aquisitivo, o que já
vidade emocional e o sistema imunológico. Em configura uma vulnerabilidade social por si só.
outras palavras, a não expressão de uma emo- Essa condição pode ser um complicador no pro-
ção negativa e impactante é potencialmente um cesso de adoecimento, uma vez que dependem
fator para a alteração do funcionamento do sis- dos serviços públicos de saúde, podendo sujeitá-
tema imunológico. -los a longas filas de espera, escassez de medica-
Compreende-se que a doença surge “como mentos, necessidade de locomoção para cidades
um recurso de compensação, um recurso simbó- maiores, entre tantas outras dificuldades vivencia-
lico de auto-regulação de polarizações conscien- das pelos entrevistados. Além disso, as crianças
tes, através da integração de conteúdos incons- e seus respectivos responsáveis vieram de dife-
cientes” (SERINO, 1999, p. 43). Ao permitirmos rentes lugares do Brasil para São Paulo, em busca
a conscientização e elaboração dos processos de um melhor tratamento médico. Essa mudança
inconscientes via o trabalho com sonhos, favo- implica numa quebra brusca da rotina e dos hábi-
recemos o fluxo de energia psíquica do incons- tos e, principalmente, no abandono do núcleo fa-
miliar, da escola, do trabalho e de todo um supor-
ciente para a consciência, evitando a desregula-
te emocional indiscutivelmente importante tanto
ção ou estado de unilateralidade, que poderiam
para a criança quanto seu acompanhante
afetar o sistema imunológico ou expressar-se
O material foi coletado em um encontro indi-
simbolicamente no corpo.
vidual com o responsável e com a criança, sepa-
radamente. Os encontros ocorreram na institui-
3. Método
ção onde os sujeitos moravam durante o período
Trata-se de uma pesquisa qualitativa com
da coleta de dados. Através de entrevistas se-
pacientes da oncologia pediátrica que residiam
miestruturadas individuais, gravadas mediante
temporariamente em uma instituição filantrópi-
autorização prévia dos entrevistados e assinatu-
ca ou “casa de apoio” em São Paulo, SP.
ra do Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
Serão usados nomes fictícios a fim de pre-
do conforme Resolução no 466/12 do Conselho
servar a identidade dos participantes. São eles:
Nacional de Saúde (CNS), foram abordados o
Maurício, sexo masculino, 10 anos, em tratamen- contexto de vida da criança e seus sonhos.
to de leucemia aguda, que esteve internado du- O método de análise dos dados coletados
rante 6 meses para quimioterapia; Melina, sexo consiste na categorização dos elementos e te-
feminino, 12 anos, em tratamento para tumor mas oníricos, possibilitando identificar similari-
ósseo; Nádia, sexo feminino, 12 anos, manuten- dades entre os sonhos coletados e relacioná-los
ção dos efeitos colaterais de um tumor cerebral e com o contexto de vida dos sujeitos.
da consequente retirada da hipófise, esteve em O projeto foi submetido e aprovado pelo Co-
coma durante 2 anos e foi submetida a diversas mitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
cirurgias na cabeça; e Carolina, sexo feminino, da Pontifícia Universidade Católica de São Pau-
12 anos, que recebeu alta do tratamento de cân- lo, com número CAAE 61884216.9.0000.5482.
cer hepático e renal há 10 anos, mas continua
em acompanhamento endócrino, nefro e onco- 4. Resultados e discussão
lógico, passou por quimioterapia e radioterapia, A partir dos sonhos coletados, foi possível
além de ter a suprarrenal removida. A participa- observar algumas semelhanças, tanto no que diz
ção foi voluntária e não houve determinação pré- respeito ao conteúdo quanto à estrutura onírica.
via de tipo específico de câncer, o mesmo em re- O que nos propomos a fazer é analisar as carac-
lação a gênero, origem étnica e sintomatologia. terísticas em comum entre os sonhos, embasa-
dos na leitura teórica apresentada anteriormen- ego onírico vivencie o afeto associado ao trau-
te, a fim de relacionar o material onírico coletado ma, interferindo violentamente e dissociando a
e a experiência de adoecimento. psique, tirando o ego de cena.
As vidas das crianças deste estudo têm sido Observamos que, frequentemente, a figu-
atravessadas por várias decepções emocionais ra agressora porta ou faz uso de facas, o que é
e traumas como privações afetivas, conflitos fa- facilmente relacionável com os procedimentos
miliares violentos, cuidadores com sérias ques- médicos e cirúrgicos que a população em ques-
tões psiquiátricas ou de dependência química, tão está e/ou esteve sujeita.
assédios verbais, entre outros. Vemos que as
mesmas crianças que hoje enfrentam interna- Eu tive um sonho que me arrancavam os
ções, quimioterapias e cirurgias já passaram por dentes todos. Eu ficava sem dente e tinha
diversos impasses e dificultadores do seu de- que usar chapa. E nisso aqui, saía tudo
senvolvimento e da sua relação com o mundo. sangue ó (apontando para os dentes). Aí
Neste sentido, podemos dizer que, assim como levavam meus dentes para um lugar, aí eu
observado por Lima, Botelho & Silvestre. (2011), não sei mais. Eu tava toda amarrada atrás
a instabilidade marcada por esse contexto so- no meu braço, meu olho tava todo tampa-
cial pode ter contribuído para uma escassez de do. Aí me pintaram toda disso aqui, de pre-
recursos de enfrentamento de situações confli- to. Depois de colocar a chapa, pintaram de
tantes, o que resulta numa alteração do sistema preto, aí colocaram uma vasilha assim na
psíquico e corporal, surgindo o sintoma. minha boca e saiu um bocado de sangue.
Aí quando sai um bocado de sangue, quan-
5. Pesadelos do parou, aí veio o gosto de sangue preto,
No que diz respeito aos elementos dos so- aí quando eu abri o olho eu desmaiei, foi
nhos, pudemos observar a frequente presença isso. Colocaram um bocado de coisa assim
de figuras agressoras, que colocam o ego onírico por aqui, por aqui, me “negoçaram”, corta-
em risco ou de fato atuam de maneira violenta ram minha bochecha, cortaram meus bra-
em relação ao sonhador. ços, minha mão, meu pé… eu também não
De acordo com Kalsched (2013), nos sonhos tinha sobrancelha (Nádia, 12 anos).
de vítimas de trauma precoce, a figura daimôni-
ca interior ataca ativamente o ego onírico. Neste No relato, o sangue aparece como um dos ele-
material onírico, é ilustrado o caráter violento mentos principais, que simbolizaria, de acordo
desses processos dissociativos que se autoata- com Chevalier (2003), o veículo da vida e princí-
cam, nos quais “a figura diabólica traumatiza o pio da geração, entretanto, ele aparece preto, o
mundo objetivo interior a fim de impedir a retrau- que indica um sentido de algo morto ou podre. De
matização no exterior” (p. 33): acordo com o autor, o preto é a cor do luto opres-
sivo, sem esperança, “como um nada sem possi-
“Vinha um homem e me amarrava dentro bilidades” (p. 740). Já os dentes são compreendi-
de um saco. Ele me encontrava no quarto” dos como potencial agressivo, são “as armas de
(Nádia, 12 anos). ataque mais primitivas e expressão das ativida-
des” (CIRLOT, 1984, p. 201) e constituem o muro
As figuras parecem representar um perigo e a defesa do homem interior. Neste sentido, po-
iminente e constante que atuam em relação ao demos pensar a perda ou a retirada deles como
indivíduo, fazendo com que não consiga se pro- um simbolismo negativo, pois remete à inibição,
teger ou evitá-lo. Segundo o autor supracitado, à passividade, ao medo da derrota, assim como
sonhos desse tipo acontecem para evitar que o a perda dos mecanismos de defesa e ataque. A
no imaginário infantil deveria protegê-la ou até não poderem ser responsáveis pelas decisões
mesmo impedir essa queda, mas ela não apare- médicas que dizem respeito à manutenção de
ce para socorrê-la. suas vidas, devem confiar nas decisões do corpo
“Lembro de um rapaz me assaltando, levan- clínico e dos seus parentes, vendo-os como res-
do uma faca, me assaltando do meu pai. Foi lá ponsáveis pelo seu bem-estar.
no hospital. Aí acordei correndo, assustei muito”
(Maurício, 10 anos). Outro dia que eu tava dormindo assim, do
Nestes relatos, os pais apresentam-se passi- lado assim perto da cozinha, aí na mesa ti-
vos ou incapazes de cumprir as funções prote- nha uma menininha desse “tamainho” assim
tivas esperadas. Além de ilustrar o abandono, [mostra uma altura um pouco menor que a
portanto, os sonhos também demonstram a sua], tava ali. Só que tava tudo branco, parecia
percepção de que os pais não são onipotentes e que tava de dia, tudo branco… ela tava assim
passíveis de garantir integralmente a segurança (apoia a cabeça nas mãos). O cabelo era des-
e bem-estar da criança, o que, por sua vez, aba- se tamanho, a roupa dela era branca, o ves-
la a confiança dela, repercutindo ainda mais na tidinho dela era branco. E quando eu acordei
sensação de solidão. tava de noite [...] Eu pensei que era um anjo
O medo de uma separação iminente entre pai/
(Melina, 12 anos).
mãe e filho(a) é ilustrado no sonho, apontando
para a forma como a criança entende os riscos
Neste sonho, a criança acorda em sua casa
de seu tratamento. Podemos, desta maneira, ve-
e não há sinais de seus familiares, entretanto,
rificar que há a associação da doença com a pos-
encontra uma imagem que identifica como um
sibilidade dessa separação que é, no sonho, o
anjo. De acordo com Chevalier (2003), na tra-
conflito principal, exemplificando o que Di Lione
dição cristã, é comum que os anjos sejam re-
(2001) afirma em relação à falta dos pais serem,
presentados por crianças remetendo a temas
às vezes, motivo de angústia maior do que a pro-
de proteção ou como guardiões. É possível que
vocada pela perspectiva da morte em si.
essa imagem apareça para compensar a sensa-
Vemos, também, que é o espaço do hospital o
ção de insegurança, de estar em perigo, corres-
lugar onde ocorre a separação entre pai e filho, ou
pondendo a um resgate da proteção individual.
seja, ilustra-se a ambiguidade apontada por Alves
& Figueiredo (2017) em relação à imagem do hos- O branco aparece em ambos os sonhos de
pital na psique infantil. Apesar de a criança, na Melina, sendo especialmente ressaltado neste
vida consciente, saber que aquele espaço é o que segundo relato. A cor simboliza uma passagem,
permite uma possível cura, representa também o um momento de transição, de mutações do ser.
descontrole – tanto por parte dos pais quanto da “Em todo pensamento simbólico, a morte prece-
criança – e o perigo da separação entre eles. de a vida, pois todo nascimento é um renascimen-
Os sonhos nos anunciam a possibilidade to. Por isso, o branco é primitivamente a cor da
de um desfecho trágico e repentino, o qual não morte e do luto” (CHEVALIER, 2003, p. 141). Este
pode ser evitado pelos parentes ou pela própria simbolismo pode se remeter a duas transições
criança, separando-os contra vontade. O ego oní- nas quais a sonhadora em questão está sujeita: a
rico é passivo, ou seja, os conflitos os afetam e primeira é a transição para a adolescência, marca-
não há qualquer reação ou tentativa de evitá-lo. do pela puberdade. As imagens arquetípicas que
Podemos observar também o que Penna (2014) anunciam as transformações naturais do proces-
chama de projeção da responsabilidade por sua so de desenvolvimento, normalmente, remetem
vida em outros. Este ponto é relacionável à con- o tema da morte e renascimento. (VON FRANZ,
dição atual dessas crianças, uma vez que, por 1988). É também possível interpretar que a passa-
gem indicada pela imagem arquetípica do branco, realizações de desejos ou pela apresentação de
anuncie uma transformação orgânica. um futuro melhor e mais prazeroso.
apresentada por Jung (1984), na qual o inconscien- turas oníricas e a análise dos mesmos, foi possí-
te apresentaria um esboço de solução do conflito. vel perceber uma fragilidade emocional intensa
sustentada por sentimentos de solidão, abando-
9. Atitude do ego onírico no, insegurança e passividade, já identificados
A atitude do ego no sonho nos revela as pos- por Bigio (2005), Monteiro (2009) e Lima, Bote-
sibilidades ou potenciais que o sonhador dispõe lho & Silvestre. (2011).
ou que está em vias de desenvolver para lidar Os temas mórbidos e elementos relacionáveis
com o conflito abordado no sonho, ou até mesmo com a doença e seu tratamento, como facas, hos-
nos mostra a atitude que tende a prejudicá-lo. pitais e sangue, nos apontam para uma tentativa
Em praticamente todos os relatos, o ego onírico de elaboração dessas vivências dolorosas e inva-
era passivo, ou seja, sofria as ações de outros ele- sivas. Assim como a frequente presença de figu-
mentos do sonho, em vez de ser o protagonista. Por ras agressoras e a ausência de referências prote-
estarem em tratamento ou acompanhamento de tivas apontam para uma sensação de abandono
uma doença grave como o câncer, essas crianças e de medo constante, na qual o perigo é incon-
se encontram numa situação de grande vulnerabi- trolável e inevitável tanto pela criança quanto por
lidade e fragilidade emocional e física, além de es- seus pais – o que parece ter uma óbvia relação
tarem sujeitos a intervenções médicas causadoras com o processo de adoecimento e o sentimento
de dor e medo. Os pacientes encontram-se numa de impotência provocado no paciente.
condição de grande passividade; muitas vezes sem Características estruturais do sonho como
ter o conhecimento integral sobre sua condição, ego onírico passivo e desfecho desagradável ou
prognóstico e tratamento; não têm participação nas ausente foram predominantes nos relatos apre-
decisões que dizem respeito ao tratamento; além sentados. Fundamentalmente, esses aspectos
de estarem submetidos a tratamentos que abalam nos indicam que o ego não está conseguindo
a integridade física e emocional, muitas vezes sem desenvolver recursos para lidar com o conflito,
serem informadas sobre os procedimentos e seus sendo a sua posição passiva um grande prejudi-
efeitos (LIMA, BOTELHO & SILVESTRE., 2011; BIGIO cial para o desenvolvimento das suas potencia-
2005; MONTEIRO, 2009). Esse contexto contribui lidades. Apesar de a passividade imposta pela
para que a criança fique impossibilitada de entrar doença ser inevitável, tornar a criança um sujeito
em contato com as experiências subjetivas com a ativo no processo de enfrentamento do adoeci-
doença, o que prejudica sua expressividade emo- mento, a possibilita se apropriar da sua condi-
cional e o desenvolvimento, potencialmente inter- ção real, além de desenvolver recursos internos
ferindo no funcionamento de seu sistema imunoló- para lidar com o sofrimento físico e psíquico.
gico, como citado por Ramos (2006). Em acréscimo, há indicativos de fragmentação
Uma vez que o sonho nos demonstra a pos- da psique, ou seja, de que algumas das crianças
sibilidade e a disponibilidade do ego para lidar tenham possivelmente sofrido dissociação psí-
com o material em questão, podemos compreen- quica devido a experiências traumáticas – rela-
der a predominância da atitude passiva por par- cionadas ou não com a patologia. Este fato levan-
te do ego onírico como um sinalizador de uma ta ainda mais a urgência do acompanhamento
falta de recursos internos para enfrentar as situ- psicológico desses pacientes, não só com terapia
ações dadas pela sua condição atual. verbal, mas também com o trabalho com artes
criativas, uma vez que a integração é ameaçadora
10. Conclusão para a psique, demandando técnicas terapêuti-
Os sonhos usados como material para este cas mais suaves do que as usuais da análise. ■
estudo nos aproximam da situação psíquica
dessas crianças. Através dos elementos e estru- Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018
Abstract
Resumen
Palabras clave: cáncer infantil, sueños, psicología analítica, oncología pediátrica, símbolo.
Referencias
ALVES, S. W. E.; FIGUEIREDO, L. R. Estratégias de atuação da LIMA, C. S. S.; BOTELHO, S. R. H.; SILVESTRE, M. M. Câncer
psicologia diante do câncer infantil: uma revisão integrativa. infantil: aspectos emocionais e o sistema imunológico como
Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 55-74, 2017. possibilidade de um dos fatores da constituição do câncer
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s- infantil. Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2,
ci_arttext&pid=S1516-08582017000100005&lng=pt&tl- p. 142-58, 2011.
ng=pt>. Acesso em 6 fev. 2018.
MONTEIRO, L. L. Adolescentes com câncer: vivên-
BIGIO, C. B. A compreensão da criança acerca de seu cias e reações a doença e hospitalização. Trabalho de
diagnóstico: um estudo sobre a representação do câncer na Conclusão de Curso (Especialização em Psicologia Hos-
infância. Psicologia Revista, v. 1, n. 14, p. 109-35, 2005. pitalar)–Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2009.
CIRLOT, J. E. Dicionário de símbolos. Tradução Rubens
Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Moraes, 1984. OLIVEIRA, C. B.; ROSA, C. R.; BONATTO, T.; OLIVEIRO, N. M.
O câncer como manifestação do não simbolizado. Revista
CHEVALIER, J. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, da SBPH, Rio de Janeiro, v.1, n.9, p. 15-29, 2006.
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução
Vera da Costa Silva. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2003. PENNA, D. M. E. As mensagens dos sonhos: traduzir e
compreender – processamento simbólico-arquetípico.
DI LIONE, F. R. A criança existindo com câncer. Revista In: FARIA, L. D.; FREITAS, V. L.; GALLBACH, R. M.
ABD, v. 10, p. 72-85, 2001. (Orgs.). Sonhos na psicologia analítica. São Paulo:
Paulus, 2014. p. 106-33.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Tradução Dora Fer-
reira da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. (Obras completas RAMOS, D. G. A psique do corpo: uma compreensão
de C. G. Jung, v.7/2). simbólica da doença. 3. ed. São Paulo: Summus. 2006.
Abstract
This article aims to perform a literature review and its sequels and analytical theory. Interviews Keywords
of psycho-oncology on the effects of cancer di- were conducted with the patient and his / her Childhood
agnosis and treatment on the individual’s life, caregiver, as well as the collection of reports of cancer,
and then relate to the analytical theory about children’s dreams. The analysis of the material analytical
dreams, trauma and disease as a symbol. The brought us closer to the psychic situation of the psychology,
objective of this study is to study the dreams subjects, where, from the dream elements and pediatric
oncology,
of these patients, between 10 and 12 years old, structures, it was possible to perceive an intense
children’s
whether they are still undergoing treatment or emotional fragility and the possibility of psychic
dreams
not, in order to study the elements and/or the dissociation. The morbid themes and aspects re-
themes common to the dreams of this group, lated to the disease and its treatment point to an
relating them to the experience with the disease attempt to elaborate these experiences. ■
compares the dream to a drama, explaining three ged complexes of psychic energy can trigger
structural aspects that must be examined: first, symptoms at the level of the psyche, such as a
the introduction, composed by the scenario, psychosis, or at the level of the body, such as
characters and the problem or issue; second, the cancer. The higher the energy in a specific com-
development of the story; and, finally, the final plex, the greater the chances of it being cons-
solution or outcome. tellated, that is, the greater the symptomatolo-
Each of these three structural aspects reve- gy (RAMOS, 1996).
als important information related to the uncons- Jung (1982) understands that symptomatic
cious content, the ego of the dreamer and even content is partly symbolic and indirectly repre-
his personality. Already in the initial situation of sents unconscious states or processes. It is un-
the dream, it is possible that the introduction of derstood, therefore, that the symptom itself is
the central archetypal theme takes place. In the the symbolic representation of a deregulation
course of developing action, important aspects of in the psychic system, and can be shown in the
the present relationship of the ego to the complex body (as a physical disease) or in the psyche
constellations and archetypal patterns that make (as a mental illness). In the same way, Oliveira,
up the dream emerge. Even at the level of the Rosa, Bonatto & Oliveiro (2006) understand the
story, there are elements that are coadjutant, con- symptom as a failure in the psychic elaboration
sidered as aspects of the dreamer’s personality in in those who do not have internal resources able
contact with the dream-ego. The way in which this to elaborate and integrate a certain trauma.
relation takes place suggests to us “the defensi- In this sense, Lima, Botelho & Silvestre (2011)
ve, protective, propelling or impeding function find, in the subjects of their research, links be-
that such elements play in the current dynamics tween the history of life and the emergence of
of the psyche” (PENNA, 2014, 123). cancer. The authors identified that children su-
The attitude of the dream-ego helps us to un- ffered from chronic emotional disappointments,
derstand the potentialities at the disposition of such as neglect, family conflict, affective depri-
the ego, that is, the capacities that are already vation since childhood, making them “suscep-
practically available to him. When the dream-e- tible to disease, unprotected from their natural
go assumes an active position in the dream, as defense” (p.150).
commander of action, it points out to a producti- Oliveira et al. (2006) raise some hypotheses
ve relation of the ego to the complexes. A passive about cancer as the manifestation of something
attitude, when he suffers the actions of others, or not symbolized. They place the somatic manifes-
lack of ego, placing him in an observer position, tation as a possible call for help or attention; also
can denounce a “defensive attitude of victimiza- note that in many hospitalized patients, cancer
tion and/or projection of responsibility for his life arose after intense trauma or psychic suffering,
in others or in external situations” (PENNA, 2014, such as an accident, the death of a relative, a se-
124). Finally, the way the dream ends, or as far as paration, among others.
the dreamer’s memory reaches, reveals to us the Ramos (2006) also states that there is a rela-
prospective sense of the psyche, that is, the cou- tion between psychological events, the degree of
rse that is being outlined in psychic dynamics. emotional expressivity and the immune system.
In other words, the non-expression of a negative
2. Cancer as a symbol and shocking emotion is potentially a factor in
Through the association test, Jung was able altering the functioning of the immune system.
to observe that when complexes are activated, It is understood that disease appears “as a
changes are triggered at the physiological and compensation resource, a symbolic resource of
psychological level. In other words, very char- self-regulation of conscious polarizations, throu-
gh the integration of unconscious contents” (SE- ge implies a sudden breakdown in routine and
RINO, 1999, 43). By allowing awareness and ela- habits, and especially in the abandonment of the
boration of unconscious processes via work with family nucleus, school, work and all the emotio-
dreams, we favor the flow of psychic energy from nal support which are absolutely important both
the unconscious to consciousness, avoiding de- for the child and his companion.
regulation or one-sidedness, which could affect The material was collected in an individual
the immune system or express itself symbolically meeting with the patient’s companion and with
in the body. the child. The meetings occurred in the institu-
tion where the subjects lived during the period of
3. Method data collection. Through individual semi-structu-
This is a qualitative research with patients of red interviews, the context of the child’s life and
pediatric oncology who resided temporarily in a his dreams were addressed, recorded with the
philanthropic institution or “support house” in prior authorization of the interviewees and the
São Paulo, SP. Term of Free and Informed Consent was signed
Fictitious names will be used to preserve the according to Resolution n. 466/12 of the Natio-
identity of the participants. They are: Mauricio, nal Health Council.The method of analysis of the
male, 10 years old, in treatment of Acute Leuke- collected data consists on the categorization of
mia, who was hospitalized for 6 months for che- dream elements and themes, making it possible
motherapy; Melina, female, 12 years old, under to identify similarities between the dreams col-
treatment for bone tumor; Nadia, female, 12 ye- lected and to relate them to the life context of the
ars, maintaining the side effects of a brain tumor subjects.
and consequent withdrawal of the pituitary gland, The project was submitted and approved by
who was in coma for 2 years and underwent se- the Human Research Ethics Committee of the
veral head surgeries; and Carolina, a 12-year-old Pontifical Catholic University of São Paulo, num-
female, who was discharged from the treatment ber CAAE 61884216.9.0000.5482.
of renal and hepatic cancer 10 years ago, but
continues to undergo endocrine, nephrotic and 4. Results and discussion
oncologic follow-up, and who was submitted to From the dreams collected, it was possible
chemotherapy and radiotherapy, and had the to observe some similarities, both with respect
adrenal gland removed. Participation was volun- to the content and the dream structure. What we
tary and there was no previous determination of propose to do is to analyze the common characte-
specific type of cancer, the same about gender, ristics of dreams, based on the theoretical reading
ethnic origin and symptomatology. presented previously, in order to relate the dream
It is important to emphasize that the individu- material collected and the experience of illness.
als of this research have low purchasing power, The lives of children in this study have been
which already constitutes a social vulnerability traversed by various emotional disappointments
by itself. This condition can be a complicating and traumas such as emotional deprivation,
factor in the process of illness, since they depend violent family conflicts, caregivers with serious
on public health services, which can mean long psychiatric or substance abuse issues, verbal
waiting lines, shortages of medicines, the need harassment, and so on. We see that the same
to travel to larger cities, among other difficulties children who face hospitalizations, chemothe-
experienced by the interviewees. In addition, the rapies and surgeries have already experienced
children and their respective caregivers came various impasses and difficulties in their deve-
from different places in Brazil to São Paulo, in lopment and their relationship with the world. In
search of a better medical treatment. This chan- this sense, we can say that, as observed by Lima
et al. (2011), the instability marked by this so- They painted me all in black. After putting
cial context may have contributed to a shortage the plate, painted in black, they placed a
of resources to cope with conflicting situations, container in my mouth and a lot of blood
resulting in a change in the psychic and corporal came out. Then when a lot of blood came
system, appearing the symptom. out, when it stopped, there came the tas-
te of black blood, then when I opened the
5. Nightmares eye I fainted, that was it. They put a lot of
Referring to the elements of dreams, we have things around here, they cut my cheek, cut
been able to observe the frequent presence of ag- my arms, my hand, my foot... I also had no
gressive figures, who put the dream ego at risk or eyebrows (Nadia, 12 years old).
indeed act in a violent way towards the dreamer.
According to Kalsched (2013), in the dreams In the report, blood appears as one of the main
of victims of early trauma, the inner daimonic fi- elements, which would symbolize, according to
gure actively attacks the dream-ego. In this dre- Chevalier (2003), the vehicle of life and principle
of generation; however, it appears black, which
am material, the violent character of these sel-
indicates a sense of something dead or rotten. Ac-
f-attacking dissociative processes is illustrated,
cording to the author, black is the color of oppres-
where “the devilish figure traumatizes the inner
sive mourning, without hope, “as nothingness
objective world in order to prevent retraumatiza-
without possibilities” (p.740). On the other hand,
tion abroad” (p. 33).
teeth are understood as aggressive potential, they
are “the most primitive weapons of attack and ex-
“A man came and tied me in a sack.
pression of activities” (CIRLOT, 1984, p. 120) and
He would meet me in the bedroom“
constitute the wall and defense of the inner man.
(Nádia, 12 years old).
In this sense, we can think of their loss or with-
drawal as a negative symbolism, because it refers
The figure seems to represent an imminent and
to inhibition, passivity, fear of defeat, as well as
constant danger that acts in relation to the indivi-
the loss of defense and attack mechanisms. Pas-
dual, making him unable to protect himself or to
sivity and fragility are at such a level that the ego
avoid it. According to the above-mentioned author, does not recognize any possibility of action or
dreams of this kind happen to prevent the dream-e- counterattack. The very experience of being im-
go from experiencing the affection associated with mobile, blindfolded and being cut several times
the trauma, violently interfering and dissociating seems to be analogous to what she lived during
the psyche, taking the ego out of the picture. the two years she was in a coma, being subjected
We have observed that the aggressive figure to surgeries on her head.
often carries or makes use of knives, which is These dreams reinforce the psychological dis-
easily related to the medical and surgical proce- tress and emotional fragility that these children
dures that the population in question is and / or seem to be going through, as well as the feelin-
was subject to. gs of insecurity and fear already mentioned. Not
only actions developed in dreams, such as dis-
I had a dream that all my teeth were tea- memberment, immobility and lack of vision, but
ring. I had no teeth and I had to use plates. the present symbols represent the passivity and
And in this here, all blood came out (poin- near-death experience lived. It is also verifiable
ting to the teeth). Then they took my teeth how inner oppressive figures continue to haunt
to a place hen I do not know. I was all tied the inner world of the individual, forming true
back on my arm; my eye was all capped. psychological sequels of traumatic experiences.
We also see that it is the space of the hos- security, of being in danger, corresponding to a
pital where the separation of father and son oc- rescue of the individual protection.
curs, that is, the ambiguity pointed out by Alves The white appears in both dreams of Melina,
& Figueiredo (2017) is illustrated in relation to being especially emphasized in this second one.
the image of the hospital in the infantile psyche. This color symbolizes a passage, a moment of
Although the child, in conscious life, knows that transition, of mutations of being. “In all symbo-
space is what allows a possible cure, also knows lic thinking, death precedes life, for every birth
that it represents the lack of control – both by the is a rebirth. For this reason, white is primitively
parents and the child – and the danger of separa- the color of death and mourning “(CHEVALIER,
tion between them. 2003, p.141). This symbolism may refer to two
Dreams tell us the possibility of a tragic and transitions in which the dreamer in question is
sudden outcome, which can’t be avoided by the subject: the first is the transition to adolescence,
relatives or the child himself, separating them marked by puberty. The archetypal images that
against their will. The dream-ego is passive, that announce the natural transformations of the de-
is, conflicts affect them and there is no reaction velopment process usually refer to the theme of
or attempt to avoid it. We can also observe what death and rebirth (VON FRANZ, 1988). It is also
Penna (2014) calls the projection of responsibi- possible to interpret that the passage indicated
lity for her life in others. This point is related to by the archetypal image of white announces an
the current condition of these children, since, be- organic transformation.
cause they can’t be responsible for medical de-
cisions regarding the maintenance of their lives, 7. Compensatory dreams
they must rely on the decisions of the clinical sta- Some of the collected dreams seem to exer-
ff and their relatives, seeing them as responsible cise the compensatory function in the sense of
for their welfare. compensating for the current conscious situa-
tion in order to provide images of hope and ha-
The other day that I was sleeping like this, ppiness. This type of dream is a compensation
on the side so close to the kitchen, there that enables the flow of energy needed to face
was a little girl in the table at the table like conscious life.
that [shows a height a little smaller than For example, in the dream below, there is the
yours], it was there. But it was all white, realization of a conscious desire of the child to
it looked like it was day, everything was live in São Paulo, whose explanation was to live
white... she was like this (she rests her closer to the hospital – which would make her feel
head in her hands). Her hair was that big, safer – and for her father to get a job. We see hope
her clothes were white, her little dress was for a better and safer future for her and her family.
white. And when I woke up it was night [...]
I thought it was an angel (Melina, 12). “I dreamed that I have a beautiful big
house in São Paulo and have a lot of cars”
In this dream, the child wakes up in her house (Nadia, 12 years old).
and there are no signs of his relatives; however,
she finds an image that is identified as an angel. Compensatory dreams also exert their function
According to Chevalier (2003), in the Christian by presenting a healthy childhood experience:
tradition it is common for angels to be represen-
ted by children referring to themes of protection I dreamed playing very lively today, there
or as guardians. It is possible that this image I met the family that was there, then I got
appears to compensate for the sensation of in- there, I was going to have a barbecue there.
Then we went to the beach and also, I think hole. According to Von-Franz (1993), this points
we went to play ball, that was in a field. Then us to the fact that the unconscious itself does not
we came here, we played a lot here. Then present or consider a solution to the conflict.
there was a really nice party, it was in ano- The predominance of these types of dream
ther house, there I got there, people were outcomes is an example of the fragility of the
there celebrating, it was a boy’s birthday subject’s psyche, presenting weakened egos and
there. Then I got there, I played again, I ate a limited resources to deal with conflicts. The pas-
lot of candy there, did not I? Then they took sivity and inability of the dream-ego to solve the
us for a walk, all that (Maurício, 10 years old). problems of the dream seem to reflect the cons-
cious attitude of the dreamer, that is, dreams do
These dreams exercise the compensatory not present the foresight function, presented by
function in the sense that they are compensa- Jung (1984), in which the unconscious would pre-
ting for the current conscious situation, in order sent a sketch of the solution of the conflict.
to provide images of hope and happiness, either
through fulfillment of wishes or through the pre- 9. Attitude of the dream-ego
sentation of a better and more pleasurable future. The attitude of the ego in the dream reveals
to us the possibilities or potentials that the dre-
8. Dream outcome amer possesses or is about to develop to deal
With regard to the structure of these dreams, with the conflict addressed in the dream, or even
it was possible to observe the predominance of shows us the attitude that tends to harm him.
unfavorable outcome and absent outcome. By In virtually all accounts, the dream-ego was
ending the dream in a tragic way, they impact the passive, that is, it suffered the actions of other
dreamer heavily, frightening him. elements of the dream, rather than being the
The common nightmare is characterized by protagonist. Because they are in treatment or
the unpleasant outcome, where the closing of following a serious illness such as cancer, these
the question is given in a suffered and destructi- children are in a situation of great vulnerability
ve way. Let’s look at the following example: and emotional and physical fragility, as well as
being subject to medical interventions that cause
“I also dreamed that they stabbed me all pain and fear. The patients are in a condition of
and put me inside a coffin” (Nadia, 12). great passivity; often without full knowledge of
their condition, prognosis and treatment; have no
As we have seen previously, these characte- say in decisions relating to treatment; as well as
ristic points us to how the ego deals with situ- are subjected to treatments that affect the physi-
ations that are dangerous or unfavorable to de- cal and emotional integrity, often without being
velopment. From this account, we can consider informed about the procedures and their effects
that the ego is still extremely vulnerable, fragile. (LIMA et al., 2011; BIGIO 2005; MONTEIRO, 2009).
Through the relapses of surgical procedures, the This context contributes to the child being unable
dreamer experiences the imminence of death, to come into contact with subjective experiences
impotence and fragility. It is as if the ego still with the disease, which impairs their emotional
occupies this place, subjected to a constant and expressiveness and development, potentially in-
real danger of death. terfering with the functioning of their immune sys-
In the same way, the dream presented earlier tem, as mentioned by Ramos (2006).
where Carolina falls into a hole and her mother Since the dream demonstrates the possibility
does not hear the distress call is an example and willingness of the ego to deal with the mate-
of an absent end, since she can’t get out of the rial in question, we can understand the passive
attitude on the part of the dream-ego as a sign of Structural characteristics of the dream as pas-
a lack of internal resources to face the situations sive dream ego and unpleasant or absent outcome
given by its current condition. were predominant in the presented reports. Funda-
mentally, these aspects indicate to us that the ego is
10. Conclusion failing to develop resources to deal with conflict, and
The dreams presented put us closer to the its passive position is a major detriment to the deve-
psychic situation of these children. Through lopment of its potentialities. Although the passivity
the elements and dream structures and their imposed by the disease is unavoidable, making the
analysis, it was possible to perceive an intense child an active subject in the process of coping with
emotional fragility sustained by feelings of lo- illness enables him to appropriate his or her real
neliness, abandonment, insecurity and passivi- condition, as well as to develop internal resources to
ty, already identified by Bigio (2005), Monteiro deal with physical and psychic suffering.
(2009) and Lima et al. (2011). In addition, there are indications of fragmen-
The morbid themes and elements related to tation of the psyche, that is, that some of the
the disease and its treatment, such as knives, children may have suffered psychic dissociation
hospitals and blood, point us to an attempt to due to traumatic experiences – related or not
elaborate these painful and invasive experien- to the pathology. This fact raises even more the
ces. As well as the frequent presence of aggres- urgency of the psychological accompaniment of
sive figures and the absence of protective refe- these patients, not only with verbal therapy, but
rences point to a sense of abandonment and also with the work with creative arts, since the
constant fear, where the danger is uncontrollable integration is threatening to the psyche, deman-
and unavoidable both by the child and by his pa- ding therapeutic techniques that are softer than
rents – which seems to have an obvious relation the usual ones of the analysis.■
to the process of illness and the feeling of impo-
tence provoked in the patient. Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018
Referencias
ALVES, S. W. E.; FIGUEIREDO, L. R. Estratégias de atuação da LIMA, C. S. S.; BOTELHO, S. R. H.; SILVESTRE, M. M. Câncer
psicologia diante do câncer infantil: uma revisão integrativa. infantil: aspectos emocionais e o sistema imunológico como
Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 55-74, 2017. possibilidade de um dos fatores da constituição do câncer
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=s- infantil. Revista da SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2,
ci_arttext&pid=S1516-08582017000100005&lng=pt&tl- p. 142-58, 2011.
ng=pt>. Acesso em 6 fev. 2018.
MONTEIRO, L. L. Adolescentes com câncer: vivências
BIGIO, C. B. A compreensão da criança acerca de seu e reações a doença e hospitalização. Trabalho de Con-
diagnóstico: um estudo sobre a representação do câncer na clusão de Curso (Especialização em Psicologia Hospitalar)
infância. Psicologia Revista, v. 1, n. 14, p. 109-35, 2005. – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2009.
CIRLOT, J. E. Dicionário de símbolos. Tradução Rubens
Eduardo Ferreira Frias. São Paulo: Moraes, 1984. OLIVEIRA, C. B.; ROSA, C. R.; BONATTO, T.; OLIVEIRO, N. M.
O câncer como manifestação do não simbolizado. Revista
CHEVALIER, J. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, da SBPH, Rio de Janeiro, v.1, n.9, p. 15-29, 2006.
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução
Vera da Costa Silva. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2003. PENNA, D. M. E. As mensagens dos sonhos: traduzir e
compreender – processamento simbólico-arquetípico.
DI LIONE, F. R. A criança existindo com câncer. Revista In: FARIA, L. D.; FREITAS, V. L.; GALLBACH, R. M.
ABD, v. 10, p. 72-85, 2001. (Orgs.). Sonhos na psicologia analítica. São Paulo:
Paulus, 2014. p. 106-33.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. Tradução Dora Fer-
reira da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 1982. (Obras completas RAMOS, D. G. A psique do corpo: uma compreensão
de C. G. Jung, v.7/2). simbólica da doença. 3. ed. São Paulo: Summus. 2006.
Resumo Palavras-chave
O sistema somatosensorial humano funcio- pele simbólica,
na de forma dinâmica. Nossos órgãos recebem e toque, psico-
produzem estímulos que são convertidos em in- logia analítica,
psicodermat-
formação biológica, necessária para a formação,
ologia, fibras
maturação e funcionamento global do nosso
tipo C.
corpo, mente e espírito. O "sentir-se bem, sen-
tir-se com saúde" é uma consequência de vários
fenômenos biológicos que envolvem o sistema
nervoso central. Neste contexto, serão abordados
os papéis da pele, do tato e do toque no desen-
volvimento e estruturação da consciência e do que
se chama "pele simbólica" ou "pele psíquica". ■
Introdução
Assim, temos um Self, inconsciente, que do tipo de vínculo constituído, com a Teoria do
contém os arquétipos, que estruturam nossa Apego. Neumann (1973) fala da importância da
consciência através de símbolos. Estes são os relação primal entre o bebê e a mãe. Para a nos-
mediadores entre a nossa consciência e o nosso sa compreensão, essa é a vinculação euoutro
inconsciente, nosso Self. Esse é nosso eixo Ego- regida pelo arquétipo da grande mãe, como de-
-Self. Byington ainda concebe o que denomina nominou Jung. Desse vínculo euoutro, na matriz
as quatro dimensões estruturantes desse eixo, vincular do arquétipo da grande mãe, vai depen-
percorridas pelos símbolos. Uma delas é o corpo, der a estruturação do nosso narcisismo primário
e cada órgão do sentido opera de inúmeras for- saudável de Freud, ou a formação de um apego
mas como símbolo e função estruturante (BYIN- seguro de Bowlby, ou uma boa relação primal
GTON, 2002). Assim, todo o nosso corpo é alta- de Neumann. É na dependência de uma bem-
mente simbólico, ou seja, ele é uma via natural de -sucedida experiência nessa fase de vida que se
acesso de nossos símbolos à nossa consciência. forma uma boa autoimagem, colorida de valores
Jung fala da sombra, instância psíquica para positivos, matriz de uma autoconfiança segura.
onde vão os símbolos que, por alguma razão, Nessa fase da vida o corpo é a via régia dos sím-
sobrecarregam o eixo, fragilidade egoica para bolos para a estruturação da nossa consciên-
a força de determinado símbolo ou por defesas cia. A pele será o órgão de máxima importância
que não foram para a consciência. Esses símbo- para essa troca entre bebê e cuidador primário,
los contidos na sombra, ao tentarem entrar no através do toque. A comunicação entre bebê e
campo da consciência, geram os sintomas pela cuidador é bastante corporal, sendo o olhar e o
presença das defesas. Assim, todo sintoma é tato as principais vias para esse contato. Toda a
também simbólico. Daí Jung ter afirmado que estruturação da consciência nessa fase, regida
o sintoma também aponta um caminho a ser pelo arquétipo da Grande Mãe, é preponderante-
percorrido para a sua compreensão simbólica. mente corporal, requerendo proximidade física,
Somos animais com funcionamento simbólico, carinho, proteção para ser bem-sucedida. Esse
dentro das caraterísticas gregárias de nossa es- contato corporal se dará muito através da pele,
pécie. A nossa intersubjetividade, característica do olhar e da tonalidade afetiva da fala do cuida-
fundamental do nosso funcionamento, nos tor- dor. Assim, atividades como banho, massagens,
na interdependentes durante toda a existência. dar colo, enfim, proximidade física, são funda-
Para essa vinculação eu-outro, contamos com mentais. É através desse espelhamento positivo
um repertório variado, para o qual diferentes au- e nutrição afetiva que o bebê pode construir uma
tores designam diferentes nomes. autoimagem positiva, que possibilitará a sua au-
Ninguém nasce, em nossa espécie, com uma toconfiança saudável.
autoimagem já constituída. Essa autoimagem Na estruturação da consciência do arquétipo
vai se formar mediante o espelhamento e troca do pai, a simbólica ativada é a do mundo dos
com os nossos cuidadores primários. Assim, limites, da separação dos opostos (BYINGTON,
para essas primeiras experiências, tão funda- 1987). Associa-se ao que Freud chamou de fase
mentais para a formação de uma base, de um edípica. O corpo passa a reconhecer limites, pas-
alicerce emocional saudável e seguro, o tipo de sa a reconhecer o que é a pele de um e a pele
interação mãe(cuidador/a)bebê ocupa um lugar do outro. Há um papel importante da pele nessa
de destaque. Essa mãe é um arquétipo, uma ma- estruturação, uma vez que é a pele o órgão que
triz relacional, presente em todos os cuidadores delimita o corpo. Ou seja, é a pele que vai sepa-
primários. Freud vai chamar a atenção para o rar o interno e o externo, o eu e o outro. Discrimi-
que ocorre descrevendo a formação do narcisis- na as polaridades quente e frio, áspero e macio,
mo primário. Bowlby (1969) descreve a formação pontudo e redondo etc.
Natureza
EGO Sombra
Sintoma
Relacional
Eu-outro Corpo
Emoções/Ideações
Self Self
relacional SELF corporal
Pele psíquica
Self corporal e relacional sintoma na pele/prurido = símbolo
alergias, nas peles sensíveis e nos eczemas, criança. Por vezes, o excesso de preocupação
bastante frequentes em crianças portadoras de leva a uma angústia nos cuidadores que os in-
dermatite atópica. A dermatite atópica altera o capacita para ajudar a criança a se acalmar.
funcionamento imunológico da criança com o Mesmo com medicamentos, anti-inflamatórios
aparecimento de lesões cutâneas (eczema ató- potentes como corticoides, o quadro crônico e
pico) e quadros respiratórios (asma e bronqui- intermitente traz limitações para o convívio e de-
te). Essas crianças apresentam menor limiar ao senvolvimento da criança com outras crianças e
prurido, ou seja, ele é facilmente deflagrado, na escola.
intenso e ocorre também à noite. Com o ato de Por outro lado, famílias bem orientadas,
coçar, as lesões pioram ainda mais, gerando capazes de lidar com essa angústia, conse-
muita angústia aos cuidadores, que se sentem guem acalmar as crianças. Estas passam a ser
impotentes diante do sofrimento e da fragilidade mais seguras se tocadas, massageadas com
da criança. É comum se dizer que "trair e coçar é óleos hidratantes de uma forma que as acalme,
só começar". De fato, o ato de se coçar piora as hidrate a pele, fortaleça o sistema imunitário,
lesões existentes e gera novas lesões prurigino- minimize o prurido e assim diminua o número
sas; assim se perpetua o ciclo itching-scratch-it- e intensidade das crises. Pode possibilitar uma
ching (coçar-arranhar/machucar-coçar), gerando vida mais adaptada ao cotidiano junto a outras
mais prurido, em um ciclo vicioso que se retroali- crianças e não em uma "redoma" de isolamento
menta e é extremamente estressante. e superproteção.
A gravidade e evolução do eczema atópico Feldman (2001) psicólogo norte-americano,
na criança têm estreita ligação com a forma que analista junguiano, estudou crianças atópicas
os pais, cuidadores, são capazes de cuidar da e seus familiares em diferentes contextos cul-
discharge
freq
freq
medial nucleus) projeta-se topograficamen-
te para o córtex interoceptivo localizado na
slow fast slow fast
região marginal dorsal da ínsula (uma "ilha" AFFECTIVE: CT receptors AFFECTIVE: Aβ receptors
localizada no sulco lateral e que estabele-
ce íntimas conexões com o córtex cingulado
anterior, a amígdala, o hipotálamo e o córtex Stimulus speed over skin
orbitofrontal) (CRAIG, 1995). Este sistema in- Fonte: Adaptado de McGLONE et al (2014).
teroceptivo está associado ao controle motor
autonômico que se distingue do sistema exte- Figura 3 – Vias neuronais de estímulos cutâneos
roceptivo, que orienta a atividade motora so- afetivos e discriminativos. Representação esque-
mática (mecanocepção exteroceptiva cutânea mática das vias neuronais dos estímulos cutâneos
(de diferentes velocidades): a partir de receptores
e propriocepção). A representação cortical in- CT (C Tactile afferents) e receptores Aβ.
teroceptiva gera sensações corporais extrema-
mente distintas que incluem: dor, temperatu-
ra, prurido (sintoma/símbolo), toque sensual, tura da pele. A pele que nos conscientiza de
sensações musculares e viscerais, atividade que "somos", a pele que traduz o que "senti-
vasomotora, fome, sede e "falta de ar". Em mos". A consciência das sensações geradas
seres humanos, uma metarrepresentação da pelos diversos estímulos captados pela pele,
atividade interoceptiva produzida na ínsula extero- e interoceptivos, advindos de todas as
anterior direita parece constituir a base para células do nosso organismo, dá origem a como
a imagem subjetiva do EU CORPORAL, "corpo nos sentimos. Os nossos mais profundos sen-
material/emocional", como um "ser". Esses timentos estão enraizados na vasta superfície
achados inseridos no contexto do que Jung do corpo que nos confere identidade. ■
postulou sobre a "localização da consciência"
nos oferece uma outra perspectiva para a lei- Recebido em: 30/08/2018 Revisão em: 12/12/2018
Resumen
Referências
ANZIEU, D. O Eu-Pele. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1988. GALIÁS, I. Psiquiatria e dermatologia: o estabelecimento de
uma comunicação. Junguiana, n. 20, 2002, p. 57-62.
BOWLBY, J. Attachment Volume 1: Attachment and
Loss. New York: Basic Books, 1969. IKOMA, A.; CEVIKBAS, F.; CORDULA, K.; STEINHOFF, M.
Anatomy and Neurophysiology of Pruritus. Seminars in
BYINGTON, C. A. Desenvolvimento da Personalidade: O Cutaneous Medicine and Surgery, v. 30, n. 2, 64–70,
Ciclo do Patriarcal. São Paulo: Atica, 1987. (Capitulo 6, p. 59-68). jun. 2011.
BYINGTON, C. Os sentidos como funções estruturantes da JUNG, C.G. Fundamentos da Psicologia Analítica. 14.
consciência, ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
uma contribuição da psicologia simbólica. Junguiana, n. KLEIN, M. Algumas conclusões teóricas relativas à
20, p. 7-15, 2002.
vida emocional do bebê. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
(Obras Completas de Melanie Klein, Volume III Inveja e
CRAIG, A. D. Interoception: the sense of the physiological
Gratidão e outros trabalhos,1952).
condition of the body. Current Opinion in Neurobiol-
ogy, v. 13, n. 4, p. 500–5, jun. 2003.
KOO, J. Y. M.; LEE, C. S. (Eds.). Psychocutaneous
CRAIG, A. D. Supraspinal projections of lamina I neurons. Medicine (Basic and Clinical Dermatology). New York, NY:
In BESSON, J. M,; GUILBAUD, G. O. H. (Eds.). Forebrain Marcel Dekker, 2003.
Areas Involved in Pain Processing. Paris: John Libbey,
LACAN, J. O Estágio do Espelho como formador da função
1995. p. 13-26.
do eu tal como nos revela a experiência psicanalítica.
CROLL, N. A. Components and patterns in the behaviour In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998,
of the nematode Caenorhabditis elegans. Journal of p. 96–104.
Zoology, v. 176, n. 2, p. 159–176, 1975. https://doi.
LUMPKIN, E.; MARSHALL, K. L.; NELSON, A. M. The cell
org/10.1111/j.1469-7998.1975.tb03191.x.
biology of touch. Journal of Cell Biology, v.191, n. 2,
DELMAS, P.; HAO, J.; RODAT-DESPOIX, L. Molecular p. 237–248, 18 out. 2010.
mechanisms of mechanotransduction in mammalian
MAGUIRE, S. M.; CLARK, C. M.; NUNNARI, J.; PIRRI,
sensory neurons. Nature Reviews Neuroscience,
J. K.; ALKEMA, M. J. The C. elegans Touch Response
v. 12, p. 139-153, mar. 2011.
Facilitates Escape from Predacious Fungi. Current
FELDMAN, B. Una Piel para la Función Simbólica: Como Biology, v. 21, n. 15, p. 1326–30, ago. 2011.
Crear un Espacio para la Transforamción. In: IX SIMPÓSIO https://doi.org/10.1016/j.cub.2011.06.063.
NACIONAL DA ASSOCIACAO JUNGUIANA DO BRASIL,
McGLONE, F.; WESSBERG, J.; OLAUSSON, H.
2001, Sao Paulo. Anais... Sao Paulo, 2001.
Discriminative and affective touch: sensing and
FIELD, T.; DIEGO, M.; HERNANDEZ-REIL, M. Preterm Infant feeling. Neuron, v. 82, n. 4, p. 737–55, 2014.
Massage Therapy Research: A Review. Infant Behavior & https://doi.org/10.1016/j.neuron.2014.05.001.
Development, v. 33, n. 2, p. 115–24, abr. 2010.
NEUMANN, E. The Child: Structure and Dynamics of
FREUD, S. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1980. Nascent Personality. New York: Putman, 1973.
(Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comple-
tas de Sigmund Freud, Vol. XIX, 1923.). SLOMINSKI, A. T.; ZMIJEWSKI, M. A.; SKOBOWIAT, C;
ZBYTEK, B., SLOMINSKI, R. M.; STEKETEEARTICLE, J. D.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexual- Sensing the environment: Regulation of local and global
idade. Rio de Janeiro: Imago, 1977. (Edição Standard homeostasis by the skin neuroendocrine system. Advances
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund in Anatomy, Embryology, and Cell Biology, v. vii,
Freud, vol VII.). n. 212, 1-115, 2012.
Abstract Palavras-chave
The human somatosensory system works in symbolic
a dynamic way. Our organs receive and produ- skin, touch,
ce stimuli that will be converted into biological analytical
psychology
information, which are necessary for formation,
psychoderma-
maturation and the overall functioning of the
tology, type C
body, mind, and spirit. The “wellbeing sensa- fibers.
tion” is a result of several biological phenome-
na that involve the central nervous system. In
this context, the role of skin, tact and touch in
the development and structuring of our cons-
ciousness will be discussed. The concepts of
“symbolic skin” and “sensorial psychic skin”
will be explored. ■
The synergy between basic science and clini- may be specific for the itching, while others are
cal practice is important for the understanding not (Figure 1): The itching serves as a model to
of how the skin and our sensations, experiences illustrate how a feeling or symptom may be sym-
and emotions work in an integrated manner. The- bolically interpreted in the framework of Analy-
refore, it became necessary to develop a langua- tical Psychology. In this context, we propose a
ge that would allow the understanding among model that we call: "Integrated Psychocutaneous
the various medical disciplines and other areas Functional Model" (Figure 2) by using the fra-
of health for the practice of the interdisciplinary mework of analytical psychology, as described
care, an integrative approach. This is the concept by Jungians (JUNG, 2008) and neojunguians (GA-
of Integrative Medicine, the “Integrative Derma- LIÁS, 2002). In contemplating the structure of the
tology” is a specialization in this area. Other personality and the individuation process with
terminologies also employed with the same sen- their respective dynamisms, the concrete and
se include “Psychodermatology” and “Psycho- abstract symbolic skin is essential to our functio-
cutaneous Medicine (KOO; LEE, 2003).” In this ning and development.
article we use the term Integrative Dermatology Figure 2 represents a schematic model
(YOSHINAGA, 2011). The advances in neuroscien- showing how a symbol, such as the sensation of
ces brought paradigm shifts, changing Cartesian pruritus reaches the consciousness through the
concepts that “separated” the functioning of the Ego-Self axis.
psyche and the body. In this context, the skin Psychodynamic theories take into account the
gained a new status; an organ of the Psycho-NI- existence of unconscious. They consider a cons-
CE system (SLOMINSKI et al, 2012), one of the ciousness that is structured from the uncons-
main communication routes for the integration
mind-body-spirit. The Integrative Dermatology
deals with the individual through this “psychic
ACC S1
skin”, where the skin is psyche as well as psyche
Thalamus
is skin. Instead of being just an “envelope” of the Insula
human body, the skin has to be considered as
a “communication interface”, in particular as re-
gards the neurological mechanisms that involve Spinothalamic tract
the tact, touch and the “bodily emotions”.
Spinal cord
3. Skin – Symbol – Conscience
cious. Jung conceived the archetypes as arrays of particular symbol or due to defences. When the-
inherited behaviour as a species. He describes se symbols contained in the shadow, try to move
the individuation process as the process by whi- towards the consciousness, they generate the
ch these archetypes lead to our development in symptoms by the presence of defences. Thus,
the second half of life. Neojunguians, as Carlos every symptom is also symbolic. Hence Jung
Byington (2002), have extended the concept have stated that the symptom also points out a
of consciousness structuration by archetypes path to their symbolic understanding.
since our conception. Thus, we have a Self, un- We are animals with a symbolic functioning.
conscious, which contains the archetypes, that The gregarious characteristics of our species
structure our consciousness through symbols. make us interdependent throughout life. We cou-
These are the mediators between our consciou- nt with a varied repertoire of terms to name this
sness and our unconscious, our Self. This is our “I-Other” binding, according to different authors.
Ego-Self axis. Further, Byington conceives what Nobody in our species is born with an esta-
he denominates the four structuring dimensions blished self-image. This self-image will be for-
of this axis. One of them is the body, and each of med upon the mirroring and the exchange with
our senses operates in many ways as a symbol our primary caregivers. Thus, these first expe-
with an structuring function (BYINGTON, 2002). riences, so fundamental to the formation of a
So, our entire body is symbolic, i.e., it is a na- base, a safe and healthy emotional foundation,
tural way by which our symbols gain access to the type of mother/caregiver-baby interaction oc-
our consciousness. cupies a prominent place.
In Jungian psychology, the “shadow” is a psy- This mother is an archetype, a relational ma-
chic instance. The symbols that for some reason trix, present in all primary caregivers. Freud will
overloaded the Ego-Self axis go to the shadow; draw attention to what occurs, describing the for-
either due to the Ego fragility for the strength of a mation of primary narcissism. Bowlby (1969) des-
ESTRUTURA DA PERSONALIDADE
Natureza
EGO Sombra
Sintoma
Relacional
Eu-outro Corpo
Emoções/Ideações
Self Self
relacional SELF corporal
cribes the formation of this type of bond with the structure, since it is what defines the body. In
“Attachment Theory”. Neumann (1973) speaks of other words, it is the skin that will separate the
the importance of the primal relationship between inner and the outer, the I and the other.
the baby and the mother. To our understanding, During the alterity, structured by the arche-
this is the link I-Other governed by the archetype types of animus and anima, the I and the Other
of the great mother, as termed by Jung. seek the symmetrical encounter. It is in the al-
This bond I-Other, in the relational matrix of terity that the search of ones profound identity
the Great Mother, will depend on the structure of and creativity occurs. And again, the skin plays a
our healthy primary narcissism as described by strong symbolic role. It is when you put yourself
Freud, on the formation of a secure attachment in the place of another, it is when we feel attrac-
as described by Bowlby, or on a good primal re- ted by another partner. We use the term “it is a
lationship according to Neumann. matter of skin” to speak of this type of attraction.
The formation of a good self-image is depen- In old age, when the consciousness is struc-
dent on a successful experience in this stage tured by the archetype of wisdom, again the skin
of life, colored of positive values, the matrix of reflects its symbols. The wrinkles, the reduction
a secure self-confidence. In this phase of life of the tonus, the sensitive skin bring scars poin-
the body is the major via of the symbols for the ting to the final stage of our existence, preparing
structuring of our consciousness. The skin is the ourselves to death, an important and denied sta-
organ of utmost importance for this exchange be- ge of life.
tween infant and the primary caregiver, through The pruritus, itching sensation, can be pre-
the touch. sent in physiological conditions, like when we
The communication between the infant and are bitten by an insect, signaling a lesion. It is
the caregiver is based on the body, vision and also present in the allergies, in sensitive skin
touch are the main routes for this interaction. and eczema, quite frequent in children with
The similar and different, trying to find a new atopic dermatitis.
group, this time by choice, is when seeking what Atopic dermatitis alters the child’s immune
we call the psychological family. Structuring of functioning with the onset of cutaneous lesions
consciousness at that stage, governed by the (atopic eczema) and respiratory symptoms (asth-
archetype of the Great Mother, requires physi- ma and bronchitis). These children have a lower
cal closeness, affection, and protection in order threshold to the pruritus, i.e., it is easily trigge-
to be well succeeded. This body contact will be red, intense and also occurs at night.
mostly through the skin, the look and the affec- With the act of scratching, the lesions worsen
tive tone of speech of the caregiver. Thus, acti- even further, causing much anguish to caregi-
vities such as baths, massages, comforting and vers, who feel powerless in the face of the suffe-
proximity are fundamental. It is through this po- ring and the fragility of the child. The act of scra-
sitive mirroring and emotional nourishment that tching worsens existing lesions and generates
the baby can build a positive self-image. new pruritic lesions; thus perpetuating the cycle
The next step in the structuring of conscious- “itching-scratch-itching”, generating more pruri-
ness is governed by the archetype of the Father. tus in a vicious cycle that is extremely stressful
The symbolic enabled is the world of limits, the The severity and progression of atopic der-
separation of opposites (BYINGTON, 1987). It is matitis in the child has a close connection with
associated to what Freud called Oedipus phase. the way the parents are capable of taking care
The body recognizes limits, the body starts to of the child. Sometimes, the excess of concern
differentiate its own skin from someone else’s leads to an anguish that disables them to help
skin. There is an important role of the skin in this the child to calm down. Even with powerful an-
another surface. Sensory and motor components “The conscience is above all the product of per-
of touching are connected and integrated in the ception and orientation in the external world,
brain. They are functionally important for deflagra- which probably is located in the brain and its
ting or to induce a behaviour, such as locomotion. origin would be ectodermal.” “At the time of our
Be a shift to depart from some potentially harmful ancestors, this same consciousness would derive
stimulus (e.g. a predator), to move in search of from a skin sensory relationship with the outside
food, or to get closer to another living being in or- world. It is quite possible that the awareness deri-
der to reproduce, it is extremely important for the ved from this of brain localization retain qualities
maintenance of life and the species preservation. such as sensation and orientation ”.(JUNG, 2008).
The sensory modalities of touch are classically di- It becomes evident that the skin occupies an
vided into four: tactile, thermal, itchy and painful. important role in the formation of conscience.
The presence of free nervous endings in the skin It is worth noting the embryology, the ectodermal
surface (DELMAS et al, 2011) and the transmission origin of the skin as well as the nervous system.
of stimuli in specific ways suggested the existen-
ce of a fifth modality, the affective touch. The tou-
ch that creates a pleasant sensation, also called
AFFECTIVE/SOCIAL CENSORY/DISCRIMINATIVE
“positive touch” is transmitted through a specific
type of touch C fiber.
C fibers are divided into two types: C1 – tho- pSTS mPFC dACC medOFC OFC/dIPFC
se which work as low threshold mecanoceptors,
and the C2 – which, in contrast, have a high INTERACTING
CORTICAL NETWORKS
threshold for outbreak of stimulus (depolariza-
tion via ionic channels). Type C2 fibres correlate
with stimuli of pain or ”harmful effects” (noci- Insula SI/SII
discharge
freq
freq
Resumo
Resumen
Palabras clave: piel simbólica, toque, psicologia anlítica, psicodermatologia, fibras tipo C
FIELD, T.; DIEGO, M.; HERNANDEZ-REIL, M. Preterm Infant SLOMINSKI, A. T.; ZMIJEWSKI, M. A.; SKOBOWIAT, C; ZBYTEK,
Massage Therapy Research: A Review. Infant Behavior & B., SLOMINSKI, R. M.; STEKETEEARTICLE, J. D. Sensing the en-
Development, v. 33, n. 2, p. 115–24, abr. 2010. vironment: Regulation of local and global homeostasis by the
skin neuroendocrine system. Advances in Anatomy, Embryolo-
FREUD, S. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1980. gy, and Cell Biology, v. vii, n. 212, 1-115, 2012.
(Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Comple-
tas de Sigmund Freud, Vol. XIX, 1923.). TINBERGEN, N. On aims and methods of ethology. Zeitschrift
für Tierpsychologie, v. 20, n. 4, p. 410–33, 1963. https://doi.
FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. org/10.1111/j.1439-0310.1963.tb01161.x.
Rio de Janeiro: Imago, 1977. (Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol VII.). YOSHINAGA, I. G. Pele, Saúde e o Processo de envelheci-
mento. In: BLOISE, P. (Org.). Saúde integral: a medicina do
GALIÁS, I. Psiquiatria e dermatologia: o estabelecimento de corpo, da mente e o papel da espiritualidade organizado.
uma comunicação. Junguiana, n. 20, 2002, p. 57-62. São Paulo: Senac, 2011.
O Banquete de Psique
BARCELLOS, Gustavo. Petrópolis: Vozes, 2017.
Sylvia Mello Silva Baptista* pensamentos em três dimen- Ocidente, na Idade Média, na
sões e viajemos com ela pelos pós-modernidade, os deuses
campos míticos e psicológicos. que habitam o mundo dos mor-
Morte & Luto – A Psiquiatria Porque Ana Célia deseja falar de tos, os castigados, os heróis,
sem Drogas e as Enfermidades sua prática, intenciona trazer o o desejo de imortalidade, os
Míticas no Cinema, o livro de testemunho em primeira pes- “hospices”, a morte interditada
Ana Célia Rodrigues de Souza, soa de um fazer psíquico, um e a morte escancarada, todas
começa com uma citação de fazer de alma que sensibilize essas abordagens vão traman-
Thomas Moore já anuncian- o leitor e o faça enxergar-se no do um chão para a concepção
do o novo olhar da autora ao espelho das imagens, refletido de morte simbólica e do luto
tema, num convite inescapável e refletindo. enquanto “processo de elabo-
à noite escura da alma: o da ex- Divide seu livro em quatro ração das vivências de perdas
periência da depressão como partes, a saber: “Da morte e do simbólicas sem o qual se torna
processo e do luto como etapa morrer”, “Dos símbolos e dos impossível a adaptação às no-
para o autoconhecimento. Sob mitos”, “Dos lutos e dos filmes” vas demandas que nossos des-
o paradigma junguiano/arque- e “Considerações finais e minha tinos trazem no dia a dia”.
típico da psique como imagem, prática”, arrematando tudo com Ao lado dessa pesquisa,
Ana Célia vai buscar nos filmes uma primorosa lista de filmes há definições de conceitos da
– pontuando seu texto com po- sugeridos. Além da psicologia psicologia analítica que se fa-
esia e música –, expressão para analítica, toma como panora- rão alicerce para afirmar sobre
sua tese de que a depressão – ma para seu olhar boa parte da o divino mítico como metáfora
palavra muitas vezes citada en- obra de James Hillman – anali- psicológica. Ana escolhe al-
tre aspas – é uma experiência sada cuidadosamente livro a guns deuses cuja intimidade
natural da vida, cuja investida livro –, autor que ladeia C. G. com o mundo dos Ínferos será
pode levar a um importante ca- Jung, Joseph Campbell, Karl Ke- o critério para que sirvam de
minho de transformação. Cita rényi, Patricia Berry entre mui- expressão à sua reflexão. Dessa
Edgar Morin para dar funda- tos outros. Busca em Phillipe maneira, estarão ali Crono-Sa-
mento à sua escolha – “a lite- Ariès subsídios para entender a turno, Deméter, Core-Perséfo-
ratura, tal como o cinema, pode morte como fenômeno na Histó- ne, Dioniso e Hades com suas
tornar-se uma escola ‘da desco- ria, e as referências canônicas narrativas e respectivas leituras
berta de si’ [...]” – de uma alter- da mitologia grega acrescentam simbólicas a partir das quais
nativa para exemplificar suas a esse banquete de ideias o sa- fará um levantamento de pos-
afirmações que não a partir das bor dos mitos e das divindades. síveis patologias, lembrando
histórias de seus pacientes. A presença da ausência, sempre que, como disse Jung,
Quer que penetremos em seus a morte na Grécia Antiga, no o sintoma é a primeira tentati-
* Psicóloga, membro analista da SBPA/IAAP. Mestre em psicologia clínica (PUC-SP). Professora, supervisora clínica e coordenadora do
Núcleo de Mitologia e Psicologia Analítica (MiPA) na SBPA e do Núcleo de Mitologia no Areté – Centro de Estudos Helênicos. Autora
de O arquétipo do caminho (Casa do Psicólogo), entre outros.
E-mail: sylviamellobaptista@gmail.com
va natural de cura, e portanto, ao modo de ser destas figuras, dando-nos a certeza de que foi
de conscientizar as demandas decorre que nossas patologias escrito a partir de um centro.
de transformação. também são necessárias à nos- Morte & Luto constitui-se,
Parte, então, para a análise sa completude”. Ao lado dessas portanto, num importante ins-
de cinco filmes relacionados aos afirmações, surge a dura e con- trumento de reflexão para o
cinco deuses elencados, tendo tundente crítica à forma como a psicólogo, o psiquiatra ou qual-
como perspectiva o entendi- psiquiatria vem sendo praticada quer pessoa interessada na
mento de que os lutos simbóli- segundo o modelo americano psique e em seus mistérios. Tal
cos nos ocorrem diariamente, em que a medicalização dos como a terra que recebe a chu-
bem como o convite a compre- sentimentos tem ganhado espa- va boa e criadeira, deixando-se
ender as vivências de perda e ço, modelo esse ao qual se opõe inundar pela água fresca que
da assim chamada depressão veementemente. fará brotar as sementes escon-
como infirmitas do arquétipo. Desse modo, a morte e o didas, assim Ana Célia nos ofer-
Este termo remete a uma pato- luto recebem status de oportu- ta poesia e provocações, músi-
logia no arquétipo, uma espécie nidades, sendo os mitos pano ca e questionamentos, imagens
de enfermidade ou tema patoló- de fundo constante. Toda a e testemunhos, fazendo a ida
gico contido no mito e que não construção de um conhecimen- à escuridão da noite escura se
pode ser dele eliminado sem to complexo e rico em símbolos acompanhar de dádivas precio-
que com isso se viole a sua to- se desenha nesse livro entrete- sas. Boa descida!
talidade. E a autora empresta cido de representações plásti- São Paulo, 19 de outubro
a voz de Hillman para concluir: cas da própria autora. São cola- de 2018 ■
“Uma vez que a infirmitas dos gens, desenhos e pinturas que
deuses é essencial para a confi- pontificam os capítulos e fazem Recebido em: 20/10/2018
guração plena deles, necessária do texto algo ainda mais vivo, Revisão em: 12/12/2018