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TECNOLOGIAS INTERATIVAS E EDUCAÇÃ01

(lNTERACTIVE TECHNOLOGY ANO EOUCATION)

MARIA RITA NETO SALES OLIVEIRA2

RESUMO INTRODUZINDO A TEMÁTICA


o objetivo do texto é o de tratar a temática das Com base em minha prática profissional em uma
tecnologias interativas e educação chamando a atenção Instituição de Educação Tecnológica - o Centro Fede-
para reducionismos e equívocos que limitam a contribui- ral de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-
ção que elas teriam a oferecer à melhoria do ensino nas MG) e nos estudos que venho desenvolvendo na área
escolas brasileiras. Discutem-se alguns conceitos do ensino, no Brasil, tomo como base para discutir a
(tecnologia, educação escolar; novas tecnologias na edu- temática das tecnologias interativas e educação: - o
cação, tecnologias interativas). Identificam-se hipóteses pressuposto de que "as possibilidades postas pelas
(modelo de competência, mito da tecnologia, e tecnologia novas tecnologias" e pelas tecnologias interativas ao
educacional revisitada) em torno das quais os reducio- ensino só terão chances de se concretizarem na dire-
nismos e equívocos são construí dos. Conclui-se, abor- ção de uma "educação escolar emancipatoria"
dando limites no saber teórico-prático da área pedagógica (ENDIPE, 1998), quando forem abordadas sem alguns
e aspectos da formação de professores face à presença reducionismos, e equívocos presentes no tratamento
crítica das tecnologias interativas na educação. das relações entre a educação e o setor produtivo, e no
tratamento da presença das tecnologias na educação,
Palavras-chave: desenvolvimento tecnológico e educação, "
face ao estágio atual de desenvolvimento tecnológico.
novas tecnologias e educação, modelo de competência. Apresso-me a registrar que conceituo a educa-
ção escolar emancipatória como a formação crítica e
ABSTRACT criativa do aluno-cidadão, à luz de um projeto de socie-
dade mais justa e democrática, fundado na superação
The text deals with the subject of interactive das relações de alienação, exploração e dominação.
technology and education.calling attention to Apresso-me, ainda, a me posicionar a favor da possibi-
reductionisms and mistakes which constrain the lidade de ruptura com essas relações, por meio de lutas
coruribution that technology may give to Brazilian schools. que envolvem, sim, a exploração das capacidades, dos
Some concepts (technology, schooling, new technology produtos e processos tecnológicos, construídos, que são,
in schooling, interactive technology) and hypothesis no jogo de forças e interesses contraditórios dos dife-
(competence model, myth of technology and educational rentes sujeitos e setores da formação social brasileira.
technology revisited) are discussed Conc/usion points out Inicialmente eu vou fazer algumas considerações
limits in theoretical and practical pedagogical knowledge conceituais, seguidas da discussão do tema em torno
and some aspects in teaching education under the critical de três hipóteses, estreitamente relacionadas entre si,
presence of interactive technology in educational area. e aqui denominadas de: modelo de competência, mito
da tecnologia, e tecnologia educacional revisitada.
Keywords: Technological development and education, Para concluir, abordo limites no saber teórico-prático
new technology and education, competence mode!. na área pedagógica, além de aspectos da formação de

I O texto tem como base atividades desenvolvidas no estágio de pós-doutoramento da autora, no Programa de Estudos Pós-Graduados
em Educação: História, Política, Sociedade, na PUC de São Paulo, com financiamento do CNPq. Versão preliminar foi apresentada no
Simpósio Tecnologias interativas e educação, no IX Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (IX ENDIPE), ocorrido em
Águas de Lindóia, em maio de 1998, e foi publicada nos Anais do Encontro (OLIVEIRA, 1998).
2 Prof'. Titular da FaE-UFMG e Prof'. Adjunto, doutora do CEFET/MG.

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professores, face à presença crítica das tecnologias Entendo, ainda, que a educação escolar envolve
interativas na educação. interação, comunicação entre as pessoas, não excluin-
O conteúdo deste texto baseia-se nas seguintes fontes: do recursos físico-materiais mediadores, e posicionando
• estudos sobre a prática pedagógica no ensino o próprio professor como um mediador entre os alunos
tecnológico Oliveira, 1997a, 1997b); e os produtos e processos culturais. Dentro disso, esse
• análise de projetos de pesquisa e de cursos de trabalho didático envolve condições objetivas e subje-
especialização na área da educação e infonnática, apre- tivas de uma relação social, cuja interlocução entre os
sentados, nesta década, a agências financiadoras - CA- atores pedagógicos faz parte da identidade do trabalho
PES e CNPq - das quais tenho sido consultora ad-hoc; em pauta. Grosso modo, e em outras palavras: só há
• pesquisa integrativa na área mencionada, e reali- educação escolar no contexto do trabalho didático, que
zada por mim, envolvendo a produção intelectual brasilei- é uma produção histórico-social, implicando sujeitos
ra, no período de 1987 a 1992 (Oliveira, 1993); e, ainda, definidos historicamente como professores e alunos.
• dados da pesquisa de Gonçalves (1998), envol- Já a expressão novas tecnologias na educação es-
vendo essa produção do início da década de 80 a 1997 colar refere-se a recursos - produtos e processos - presen-
(Gonçalves, 1998). tes nos âmbitos da administração e da condução do
processo de ensino nas escolas, e que se relacionam ao
CONSIDERAÇOES CONCEITUAIS atual estágio de desenvolvimento tecnológico. Este impli-
ca mudanças no setor produtivo quanto a informatização,
Parto da concepção que considera a tecnologia
automação, robotização, tendo em vista as novas bases
como recurso construído com o objetivo de resolver pro-
técnicas da produção, fundadas na microeletrônica, mas,
blemas relativos a necessidades enfrentadas pelos sujei-
também, as novas formas de gestão e controle da produ-
tos numa dada formação social. Essa concepção implica
ção, caracterizadas pela racionalização sistêmica.
entender que tecnologia inclui não apenas produtos, tais
Importa lembrar a realidade de que as tecnologias,
como equipamentos computacionais, programas
construídas historicamente, são reconstruídas quando
televisivos, software, mas, também, processos, tais como,
utilizadas no interior do processo também histórico de
no caso da área da educação, as formas de organização
educação escolar' . Assim, por exemplo, as denomina-
curricular no ensino modular ou no ensino à distância.
das resistências do setor educacional à disseminação
Além disso, entendo que as tecnologias são pro-
das novas tecnologias, no ensino, quando comparadas
dutos da ação humana, historicamente construídos, ex-
com 11 aceitação da disseminação dessas tecnologias
pressando relações sociais das quais dependem, mas que
no setor dos serviços bancários, sinalizam significados
também são influenciadas por eles. Assim, os produtos
diferentes que Ihes são atribuídos num e noutro caso, e
e processos tecnológicos são artefatos sociais e cultu-
pelos quais os aspectos técnicos das tecnologias são
rais, que carregam consigo relações de poder, intenções
ressignificados à luz de aspectos ideológicos e políti-
e interesses diversos. Esse caráter social e histórico não
cos, no interior de cada um dos setores em pauta.
é privilégio das tecnologias. Ele é propriedade essen-
Entre as novas tecnologias na educação escolar,
cial também da educação, e, é claro, da educação escolar.
Quanto à educação escolar, ela é um trabalho aquelas que se denominam interativas, no interior do
saber teórico-prático do campo do ensino, independen-
concreto de produção e reprodução da existência hu-
mana, nas esferas material e espiritual, pelo qual os ato- temente de discussões acerca do conceito de interação,
res da situação pedagógica, professores e alunos, em caracterizam-se por envolver um ambiente em que o
particular, relacionam-se entre si e com o mundo natu- aluno conversa com o aparato tecnológico em uma lin-
ral e social. Nesse trabalho, o objetivo de formação guagem que este o entende, e portanto, lhe responde. É
humana liga-se a assimilação, construção e produção freqüente, ainda, na produção teórico-prática da área, o
cultural, e não apenas à transmissão de idéias, valores e uso da expressão ambiente interativo, para caracterizar
conhecimentos. A educação escolar é trabalho produ- situações de ensino-aprendizagem, em que há vários
zido socialmente pelo homem, é práxis - prática inten- recursos tecnológicos interativos presentes em um mes-
cional transfonnadora -, articulada às bases materiais mo ambiente, interligados ou não entre si.
da sociedade e a outras práticas sociais com as quais se A concepção de tecnologia interativa' aparece
relaciona dialeticamente. enfatizada principalmente nas situações de uso da de-

3 Tal situação não é privilégio das novas tecnologias na educação. Conforme discutidos por Yves Schwatz, em palestra proferida em 08/
05/97, na FeUSP, sobre novas organizações do trabalho, pesquisas em empresas, ainda que do mesmo setor, por exemplo, o das
indústrias químicas, evidenciam o fato de que a presença de novas tecnologias organizacionais não se traduzem de forma monovalente
em diferentes empresas estudadas, além do fato de que dados de pesquisa mostram grandes diferenças entre o comportamento dessas
tecnologias no setor industrial e o seu comportamento no setor de serviços.
• Ver pesquisa de Oliveira (1993) e Gonçalves (1998).

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nominadafilosofia LOGO na educação. Esta se refere pode interagir com o programa, modificando-o, mas
a uma proposta pedagógica com fundamento na teoria nos limites das opções e limites que o recurso
piagetiana em que o microcomputador é considerado tecnológico apresenta.
elemento catalisador de mudanças radicais na educa-
ção. Entretanto, o criador dafilosofia LOGO - Seymour A HIPÓTESE DO MODELO DE COMPETÊNCIA
Papert - admite a sua existência mesmo sem o micro.
Assim, nessafilosofia, o importante é uma concepção Estou me utilizando aqui da hipótese do mode-
de educação que envolve estímulo ao desenvolvimento lo de competência para me referir à posição que de-
pessoal, à independência, para a qual, no entanto, não fende a presença das tecnologias interativas na
haveria dúvidas de que o micro, através da linguagem educação e no ensino, a partir da discussão do relaci-
LOGO, seria um instrumento poderoso. onamento entre educação e trabalho, mediado pela
Nesse contexto, a concepção de interação no in- questão da exigência de um novo padrão de formação
terior da teoria piagetiana, que pressupõe o processo de profissional, face ao uso de novas tecnologias no se-
construção do conhecimento como fruto da interação tor produtivo.
entre sujeito e objeto epistemológicos, é usada como Em síntese, essa hipótese, presente em muitos dos
pano de fundo para discussões comparativas entre o uso estudos que defendem a utilização das tecnologias
do microcomputador, no ensino, como um instrutor (ten- interativas no setor educacional, afirmaria que o traba-
do como pano de fundo a teoria comportamental) ou lho flexível e integrado, típico da indústria informa-
como um aprendiz do aluno (tendo-se como pano de tizada, exige novos requisitos de formação e atuação
fundo o interacionismo construtivista)", Neste último profissional: capacidade de interação grupal; responsa-
caso, defende-se, entre outras, as posições de que ao bilidade com o processo de produção; presteza de in-
ensinar o computador, o aluno: aprende mais profun- tervenção; capacidade de síntese, análise e avaliação;
damente sobre o próprio processo de aprender do que raciocínio lógico, abstrato e crítico; capacidade de
nas situações do uso do computador como um instru- aprender. Dentro disso, conforme afirmam Ferretti e
tor; e vivencia experiências qualitativamente diferen- outros (Ferretti et ai, 1998),
tes das experiências que vive em qualquer outra
condição escolar. Com tudo isso, a concepção de contrariamente ao que se dava no
tecnologia interativa na educação e no ensino vem atre- taylorismo-fordiano, o saber construido pelos
lada à idéia de desenvolvimento de autonomia e de pen- trabalhadores no cotidiano da fábrica passa
samento crítico do aluno em sala de aula. não apenas a ser reconhecido, como requisita-
Finalmente, acerca da concepção de interação no do epremiado (...),porque se reconhecesuafor-
interior das tecnologias na educação, importa que se çapara a resolução dosproblemas diários com
discuta uma questão importante. Essa interação sugere que a produção se defronta ...
a ocorrência de um processo de comunicação mais com-
pleto do que de fato, àquele que é viabilizado pela/na Assim, a competência do trabalhador não signi-
presença dessas tecnologias. fica "apenas o saber/fazer, o domínio do conhecimento
Assim, por exemplo, um programa interativo pela técnico mas, principalmente, o saber/ser, a capacidade
TV sugere uma plena comunicação entre os telespec- de mobilização dos conhecimentos (não apenas técni-
tadores que estão assistindo ao mesmo programa e que cos) para enfrentar as questões problemáticas postas
podem ser alunos de uma escola. No entanto, essa co- pela produção" (Ferreti et al, 1998). O novo padrão de
municação é mediada por um apresentador, que lida com competência, requerido pelo setor produtivo, pode ser
um leque restrito de alternativas já postas, sobre as quais sintetizado na nova necessidade de uma formação ge-
cada telespectador, cada aluno pode/deve opinar. Da ral, sólida e crítica por parte do trabalhador, o que iria
mesma forma, um usuário ou um aluno, navegando na ao encontro dos interesses da educação escolar
internet, tem a ilusão de que está interagindo com o emancipatória.
mundo, e apreendendo a realidade deste em sua pleni- A partir daí, há a defesa do uso de novas
tude, limitada apenas pela medida de seus interesses. tecnologias na educação e no ensino, no processo de
Encobre-se o fato de que o contato se faz com o caráter formação de novos trabalhadores, que estariam sendo
simbólico dessa realidade e nos limites dos recursos requeridos pelo estágio atual de desenvolvimento
tecnológicos em pauta. Além disso, numa situação de tecnológico, através de um processo didático-pedagó-
interação do aluno com a TV ou com o micro, o aluno gico que não deveria e não poderia ser atrasado.

S Ver discussão sobre o uso do computador na escola a partir da categorização de Taylor (1980), segundo o qual o micro pode aparecer
como um instrumento (tool), um instrutor (tutor) ou um tutorado (tutee).

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No entanto, as discussões sobre o uso das novas cesso, estariam presentes objetivos educacionais relati-
tecnologias no setor educacional, no interior dessa hi- vos àquelas competências do novo trabalhador, aqui
pótese do modelo de competência, na produção intelec- mencionadas. No entanto:
tual na área da educação e informática no País, • parece não haver um tratamento mais compre-
apresentam reducionismos lógico-históricos. Estes se ensivo sobre o significado social e cultural dessas com-
expressam em argumentações tomadas para se defen- petências, cujas referências transformam-se em
der o caráter inevitável do uso das tecnologias na edu- expressões destituídas de sentido concreto;
cação e no ensino, em particular no caso daquelas • embora possa-se afirmar (ver, por exemplo,
baseadas na microeletrônica" . Ferretti et al.), a existência de concordância entre as
Os argumentos para a defesa das novas tecno- demandas pelas competências listadas e a perspectiva
logias no setor educacional expressam reducionismos humanista do processo educativo, cujos objetivos deve-
no tratamento da questão, quando, por exemplo: (a) afir- riam privilegiar habilidades cognitivas e comportamen-
mam a generalização da denominada restruturação pro- tos afetivos em detrimento de habilidades psicomotoras
dutiva no cenário brasileiro, a entendem como destino e da mernorização de conhecimento, essa concordância
e não como tendência, e a tratam como se ela fosse des- parece situar-se plenamente apenas no âmbito do dis-
tituída de conflitos, e, conseqüentemente, de forma curso. Ela é garantida pelo fato de que o significado
descontextualizada, frente à mencionada relativização dessas competências, expressas como finalidades ge-
da aceleração do progresso técnico e do relacionamen- rais e abstratas, não é, de fato, explicitado; a rigor, o
to deste com a estrutura produtiva e o sistema educaci- acordo é aparente, e não significa a existência de con-
onal brasileiro; (b) afirmam, de forma absoluta, a sensos entre os objetivos no interior do setor produtivo
realidade da elevação e da mudança da natureza das e os objetivos no setor educacional.
qualificações exigi das do trabalhador, sem o entendi-
mento de que o processo de qualificação da força de O não reconhecimento do exposto e, de resto, a
trabalho não é um dado absoluto. Desconhecem que o não superação dos reducionismos e equívocos aqui ex-
processo de qualificação-desqualificação é um proces- pressos dificultam e até mesmo impedem a efetivação
so contraditório, implicando descompassos nos diferen- da contribuição que as novas tecnologias e as
tes setores do mundo produtivo e construções e tecnologias interativas teriam a oferecer à melhoria do
negociações sociais; (c) equacionam as questões edu- processo de ensino-aprendizagem nas escolas do País.
cacionais nos limites da modernização econômica do ~
País, e dos interesses empresariais, reduzindo direitos A HIPÓTESE DO MITO DA TECNOLOGIA
à educação aos imperativos do mercado de trabalho;
(d) transpõem propostas teórico-práticas do mundo fa- Em estudo que envolve escolas da rede pública
bril para o mundo escolar, implicando necessárias do ensino técnico em São Paulo (Oliveira, 1997b), ao
distorções na compreensão e no tratamento dos proces- descrever os trabalhos escolares que os alunos vêm de-
sos de educação e de ensino, que são operadas, para senvolvendo na disciplina de Artes, uma professora as-
que estes se adaptem à linguagem, à estrutura e à dinâ- sim se expressa: ''pelos trabalhos dos alunos, pode-se
mica próprias do mundo fabril; (e) afirmam, de forma concluir que a tecnologia é o mito dos dias de hoje ". O
absoluta, a capacidade de o uso dos recursos interessante é o fato de que isso parece ocorrer também
tecnológicos no ensino, sobretudo os computacionais, no âmbito dos professores, e de outros profissionais nas
propiciar o alcance do objetivo de o aluno aprender a escolas, para quem as novas tecnologias na educação,
aprender, e alcançar um grau de desenvolvimento e, particularmente, as tecnologias interativas, só não
afetivo-cognitivo superior, desconhecendo a relatividade estariam sendo utilizadas pela falta de condições obje-
e os conflitos nos resultados de pesquisas que tratam tivas e de preparo geral dos professores para lidar com
do uso da informática na educação. elas; na opinião dos atores pedagógicos, essas
Finalmente, as fundamentações da utilização das tecnologias garantiriam melhorias no processo ensino-
tecnologias interativas no setor educacional, com base aprendizagem, principalmente em relação ao desenvol-
na hipótese do modelo de competência, defendem a vimento cognitivo dos alunos.
posição de que os problemas educacionais e do ensino Denomino a posição mencionada de hipótese do
devem ser equacionados no interior de um processo mito da tecnologia, porquanto, de fato, ela implica a
educativo que possui como objetivo a formação do ho- ilusão de se atribuir aos recursos tecnológicos um valor
mem contemporâneo para o novo século. Nesse pro- acima das suas possibilidades de influência na melhoria

6 Pode-se dizer que a produção intelectual na área da educação e informática, no País, é bem marcada pelos reducionismos aqui
discutidos, conforme evidenciam as fontes em que este texto se baseia.

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do processo ensino-aprendizagem. No entanto, a rigor, para o acesso do usuário, pela aparência de que este
no interior dessa posição lida-se contraditoriamente com pode acessar, através de listas de opções, todo o saber
a natureza da tecnologia, embora seus defensores não científico-tecnológico, que estaria à disposição de qual-
demonstrem consciência disso. Dessa forma, eles atri- quer interessado;
buem à tecnologia características do sagrado - de po- • no caso dos editores de texto, reforçam a con-
der infinito e perene, de demanda de celebração -, e ao cepção de escrita, pela qual a excelência de um texto
mesmo tempo, a consideram como um artefato cultu- está vinculada a aspectos formais, gramaticais e orto-
ral transitório, criado não para ser celebrado, mas para gráficos, em detrimento de aspectos semânticos, e, no
ser consumido e trocado como mercadoria, em um mer- qual, criatividade e caráter inédito se situam na reor-
cado extremamente competitivo e integrado. ganização de sentenças e parágrafos de textos já produ-
A hipótese em pauta relaciona-se a aspectos po- zidos, e não na construção de novas idéias;
lêmicos no estudo da questão em pauta, entre os quais • veiculam a concepção de pesquisa nos limites
cumpre salientar pelo menos dois. da busca de dados e informações.
O primeiro refere-se à positividade ou não do
desenvolvimento das forças produtivas em relação à Além disso, importa registrar que os recursos
evolução do modo de produção capitalista. Isso traz à interativos imprimem, de fato, um caráter lúdico im-
tona o debate, não resolvido no seio do marxismo, so- portante para o sucesso dos resultados escolares. No
bre o princípio explicativo da transformação social, entanto, há que se cuidar para que a seleção desses re-
implicando maior ou menor adesão à posição de afir- cursos leve em conta, também, a sua qualidade, para
mação da existência de contradições entre as forças pro- além dos seus aspectos formais, pois, "qualquer asnei-
dutivas e as relações de produção, numa dada formação ra pode se tornar interessante e prender a atenção,
social. Tal como definida, a hipótese do mito da desde que a resposta dos movimentos do operador apa-
tecnologia parte da defesa do desenvolvimento das for- reça numa tela sob forma de figuras flamejantes
ças produtivas para a transformação social, e, particu- multicoloridas "(Machado, 1993, p.3).
larmente do setor da educação, e, junto a isso, da defesa Assim, da mesma forma que em relação à hi-
da neutralidade da tecnologia. E como a tecnologia é pótese do modelo de competência, a hipótese do mito
considerada neutra e servidora de todos os homens, não da tecnologia envolve problemas que precisam ser
se reflete mais sobre os seus fins e ela se transforma em superados.
um fim em si mesma.
De forma estreitamente ligada ao aspecto ante- A HIPÓTESE DA TECNOLOGIA EDUCACIONAL
rior, advoga-se a presença das novas tecnologias na es-
REVISITADA
cola, sobretudo o microcomputador, defendida como
panacéia para a solução dos problemas educacionais, Denomino por hipótese da tecnologia educacio-
equacionados nos limites da racionalidade técnico- nal revisitada a posição presente em programas de am-
sistêmica. E, com isso, não raro, deixa-se de considerar pla implantação ou mesmo de utilização mais restrita
o fato de que esses recursos, pelas suas condições de da informática nas escolas, em que se idealiza e se bus-
operação dos sistemas de organização e armazenamento ca efetivar um processo educacional com, da, e para
de dados e conteúdos, tratam de informações do tipo a tecnologia. Aqui o discurso educacional é fundamen-
saber-enciclopédico, e não saber-conhecimento. Além talmente de natureza técnicaltecnológica, e nele os pro-
disso, pela lógica que Ihes é implícita, e pela forma par- blemas da prática pedagógica escolar são equacionados
ticular com que incorporam e tratam o saber, as novas nos limites do tratamento de processos e instrumentos
tecnologias imprimem um conteúdo particular à for- técnico-didáticos e de conteúdos escolares desvin-
mação do aluno. culados do contexto no qual foram produzidos e ao qual
De fato, quer sejam utilizados como recursos para servem.
o ensino ou para a pesquisa, as novas tecnologias, prin- Na defesa dessa hipótese, em primeiro lugar, en-
cipalmente o microcomputador, imprimem as caracte- contra-se o uso das novas tecnologias nas escolas to-
rísticas próprias da sua lógica aos conteúdos de ensino madas apenas como recursos didáticos. Trata-se, então,
com os quais lidam e, junto a isso, influenciam de for- da educação escolar ou do ensino com tecnologia. Além
ma particular o processo de formação do aluno, quando: da situação do ensino com tecnologia, há também a si-
• encobrem'o aspecto não dogmático e subjetivo tuação do ensino da tecnologia, na sala de aula das
do saber que veiculam, pelo caráter de precisão e obje- escolas. Neste caso, o tratamento das novas tecnologias
tividade que lhe imprimem; aparece, não raro, na preocupação dos professores e
• encobrem, também, o caráter seletivo do con- alunos com a aprendizagem utilitária de novos equipa-
teúdo e das informações que colocam à disposição e mentos, software, linguagens e sistemas computado-

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rizados de organização da produção. Aqui é comum a sultados do ensino na sala de aula, das escolas brasilei-
situação em que a preocupação com os produtos e os ras, situa-se nos limites:
meios subsumem a preocupação com os processos e os • da possibilidade de superação dos reducio-
fins, e a escola, que é considerada, muitas vezes, a par- nismos e equívocos, aqui expostos;
tir do que se poderia denominar de dimensão mercan- • da efetivação de um processo educativo que re-
til, passaria a desempenhar o papel de concretizar o conhece o caráter histórico das tecnologias, as limi-
ensino para a tecnologia. tações objetivo-subjetivas da sua utilização no ensino,
Em síntese, a hipótese da tecnologia educacio- buscando superá-Ias;
nal revisitada implica, à luz das hipóteses anteriores, a • da diminuição da ênfase no ensino para, com e
proposição o do resgate da importância da tecnologia da tecnologia, em beneficio de um processo que lida com
educacional, tal como defendida pelo tecnicismo peda- a tecnologia para o ensino e o ensino sobre a tecnologia.
gógico, mas tratada, agora, de forma diferente:
• a partir de discussões relativas ao paradigma da Com isso, a presença crítica das tecnologias
empresa flexível e integrada; e interativas na educação apareceria em um processo
• em termos da consideração das tecnologias no educativo em que a Tecnologia Educacional estaria
trabalho escolar não apenas como método/recurso de subsumida pela Educação Tecnológica. Nesta, as
ensino, mas, também, como conteúdo/ objeto de ensi- tecnologias são capitalizadas em prol do aniquilamen-
no, nos limites de um reducionismo pragmático. to das estruturas de exclusão social deste fim de século.

No entanto, da mesma forma que as anteriores, essa


PARA CONCLUIR
hipótese é muito mais propositiva do que descritiva. As-
sim, enriquecendo as considerações já feitas, importa re- Pode-se falar de um certo consenso entre os edu-
gistrar o fato de que, por exemplo, quanto à questão do cadores, em particular entre aqueles vinculados ao Sis-
processo de seleção e organização do saber escolar, no tema de Educação Tecnológica do País, relativos ao
contexto das novas tecnologias e das tecnologias reconhecimento da importância de se definir uma polí-
interativas, resultados de pesquisa (Oliveira, 1997a, 1997b) tica tecnológica referente a geração, difusão e incorpo-
evidenciam que efetivamente esse processo está longe de ração de novas tecnologias, ligadas à nova capacitação
incorporá-Ias como um fator determinante. tecnológica do conjunto do setor produtivo, para que o
Na realidade, a seleção e organização do saber es- Pais alcance um novo patamar de desenvolvimento so-
colar é determinada por outros fatores entre os quais não cial e econômico, no novo modelo de competição in-
exerceria papel significativo a presença ou não das ternacional. E, dentro disso, que se discutam princípios
tecnologias interativas na escola. Entre os fatores e diretrizes referentes ao sistema educacional. Assim,
determinantes do processo de seleção e organização do acaba-se concluindo que, embora este não seja definidor
saber escolar, salienta-se: (a) a importância atribuída à de alterações no cenário atual do País, e não possua sua
motivação e à aprendizagem de solução de problemas por identidade adstrita às mudanças do trabalho no espaço
parte dos alunos; (b) a lógica própria do conteúdo da ma- fabril, essas não podem ser negligenciadas, no setor
téria de estudo abordada em função da obtenção de pré- educacional, dadas a sua influência em termos de no-
requisitos por parte dos alunos, para o acompanhamento vas relações entre trabalho e educação, e até mesmo a
da matéria a ser estudada, e em função de etapas ou proce- falta de previsibilidade das suas conseqüências, no jogo
dimentos para a realização de uma dada atividade ou tare- dos diferentes interesses que permeiam esse cenário.
fa; e, também, (c) as caracteristicas dos perfis profissionais Dentro disso coloca-se um desafio para o saber
nas áreas em que as disciplinas curriculares se enquadram, teórico-prático na área educacional, na condição do
tendo em vista a formação de um profissional tecnica- estágio atual de desenvolvimento tecnológico: a supe-
mente competente para atuar no mercado de trabalho. No ração dos descompassos entre o debate e a produção
entanto, mesmo neste último caso, pelo menos a preocu- intelectual na área, no fórum teórico da academia, em
pação com a presença das novas tecnologias ou das torno das questões aqui discutidas, e o seu tratamento
tecnologias interativas na escola, aparece, apenas, nas na realidade das escolas em geral. A esse propósito, o
condições, ou de ampliação de recursos à disposição dos trabalho pedagógico no interior da sala de aula, no Sis-
alunos e professores, em geral no contexto de atividades tema de Educação Tecnológica, sugere a nem sempre
extracurriculares, ou de seu uso, sim, na sala de aula, mas familiaridade dos professores com o debate aqui levan-
nos casos de cursos e disciplinas em que essas tecnologias tado, a despeito do fato de expressarem reconhecimen-
aparecem como conteúdo/objeto de estudo. to sobre a importância de as práticas de ensino se
A partir do exposto, a virtual idade da contribui- desenvolverem levando-se em conta a questão da mo-
ção da tecnologia educacional para a melhoria dos re- dernização produtiva. Assim, a virtualidade da contri-

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buição desse debate para a prática escolar acaba por • pelo papel que os professores podem e devem
não se realizar. ter de intérpretes do saber científico-tecnológico e de
Além disso, para contribuírem na construção da comunicadores, que, dominando diferentes linguagens,
relação entre as novas tecnologias e a educação dirigida oportunizam para seus alunos, no mínimo: a elabora-
à educação escolar emancipatória, a teoria educacional, ção de sínteses referentes aos conteúdos, presentes de
em geral, e a teoria didática, em particular, devem supe- forma fragmentada, nos vários recursos atuais de co-
rar alguns de seus limites. Entre estes, registram-se: municação da sociedade tecnológica; a realização de
• as análises sobre o estágio atual do desenvolvi- análises críticas das novas tecnologias e das tecnologias
mento tecnológico e suas relações com a educação não interativas, desvelando-lhes a lógica que carregam; e,
incorporam análises sobre as práticas curriculares nas é claro, o desenvolvimento de competências básicas
salas de aula nas escolas, tampouco sobre as práticas para viver em uma sociedade cheia, sim, de tecnologias.
escolares que envolvem tecnologias educacionais que
vão ao encontro desse estágio; REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• corroborando as considerações de Silva (1991),
acerca das limitações no tratamento da questão da pro- ENDIPE,9, 1998, Águas de Lindóia, Folder. São Pau-
dução, distribuição e transformação do conhecimento, lo: Secretaria do IX ENDIPE, 1998.
por parte das teorias da educação, de um lado, e das aná- FERRETTI, C.J. et aI. (Orgs.). Novas tecnologias, tra-
lises do processo de trabalho capitalista, de outro, tem- balho e educação; um debate multidisciplinar.
se: os estudos sobre as relações entre novas tecnologias Petrópolis: Vozes, 1994. 222 p.
e educação deixam de problematizar as condições de FERRETTI, C.J. et aI. Qualificação profissional- uma
construção e reconstrução do conhecimento científico que abordagem teórica e perspectivas de pesquisa. São
é/seria incorporado na tecnologia, e que abrangem não Paulo, 1998. (Mimeogr.).
só as formas e limites de acesso a esse conhecimento, GONÇALVES, LA. Informática e educação: panorâ-
mas também o fato de ele não ser gerado e distribuído mica da produção intelectual brasileira. Belo Hori-
exclusivamente no contexto da produção ou no contexto zonte, CEFET-MG, 1998. (Mimeogr.).
da escola. Isso ocorre também no âmbito da produção MACHADO, A. Máquina e imaginário. São Paulo:
intelectual sobre a relação entre conhecimento científico USP, 1993. apudBARRETO, R.G. O ensino a dis-
e saber escolar, uma vez que essa produção deixa implí- tância em questão. In: SBPC, 1997, Belo Horizon-
cita a afirmação de que o conhecimento científico está à te, Anais, Belo Horizonte, 1997, v. 1, p. 136-139.
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disposição da escola, em relação ao qual esta possui li- OLIVEIRA, M.R.N.S. Educação e informática. In: Ava-
vre acesso para selecioná-lo e organizá-lo. liação e perspectivas na área de educação; 1982-
O exposto vai ao encontro do fato de que as prá- 91. Porto Alegre: ANPEd, 1993. p. 91- 110.
ticas, as discussões, as diretrizes legais e os programas OLIVEIRA, M.R.N .S. A prática pedagógica no ensino
de melhoria do ensino, no interior do Sistema de Edu- tecnológico; saber escolar e novas tecnologias - pro-
cação Tecnológica, em que venho atuando, nem sem- jeto de pesquisa para estágio de pós-doutoramento.
pre assumem uma posição crítica acerca da questão da São Paulo: Faculdade de Educação da PUC/SP,
construção, reconstrução e distribuição do conhecimen- 1997a. (Mimeogr.).
to que interessa para o setor produtivo, na situação pre- OLIVEIRA, M.R.N.S. A prática pedagógica da sala
sente, em que as próprias condições das novas de aula e proposta metodológica para as ativida-
tecnologias influenciam a transformação do caráter de des prático-experimentais no ensino tecnológico;
insumo do conhecimento científico no caráter de mer- uma contribuição à construção do saber teórico prá-
cadoria deste, para o setor produtivo. tico na área da didática. Belo Horizonte, 1997b.
No âmbito da formação de professores, a presen- (Relatório resumido mimeogr.).
ça crítica das tecnologias interativas na educação en- OLIVEIRA, M.R.N.S. Tecnologias interativas e edu-
volve a luta: cação. In: ENDIPE, 9, 1998. Águas de Lindóia.
• pelo enriquecimento dessa formação, de forma Anais 11; conferências, mesas-redondas e simpósios.
a cuidar para que se tenha condições de fazer uma lei- Águas de Lindóia, 1998, v. 111, p. 147-164.
tura crítica e pedagógica dessas tecnologias. Para essa SILVA, T.T. Produção, conhecimento e educação: qual
leitura, é necessário não apenas o domínio de princípi- é a conexão? In:_. (Org.). Trabalho, educação e
os para a utilização eficiente e eficaz de recursos prática social; por uma teoria da formação huma-
tecnológicos, na facilitação do alcance de objetivos de na. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. p. 217-229.
ensino desejados, mas, também e, por certo, principal- TAYLOR, R.P. (Edit.). The computeer in the school;
mente, o entendimento histórico e epistemológico das tutor, tool, tutee. New York, London: Teachers
construções tecnológicas; College Press, 1980. 274 p.

156 • EDUCAÇÃO EM DEBATE· FORTALEZA· ANO 21 • NQ 37 • p. 150-156 • 1999


- -
ISTO TAMBEM E TELENSINO (ALGUMAS REFLEXOES SOBRE O
-
COTIDIANO DAS CLASSES DE s- A s- SÉRIES DE UMA ESCOLA
DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DO CEARÁ)
(THIS IS ALSO TELE-TEACHING (SOME REFLECTION ON THE EVERYDAY L1FE
OF CLASSES FROM 5TH TO 8TH GRADES IN A STATE SCHOOL OF CEARÁ)

IDEVALDO DA SILVA BODIÃ01

RESUMO INTRODUÇÃO
Este texto apresenta algumas reflexões sobre o Não são novas as pesquisas, livros, artigos, en-
projeto cearense de teleducação, dirigido às séries ter- saios, ou teses que apontam as fragilidades da escola
minais do ensino fundamental. Ancorada numa aborda- brasileira; mais recentemente os relatórios do Sistema
gem etnográfica, a pesquisa, realizada em Fortaleza, Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB, à
numa escola da rede pública estadual, referenciou-se sua forma, têm se constituído no termômetro oficial, e
nos trabalhos de Ezpeleta & Rockwell. As análises apon- os resultados apontados (SAEB-93, SAEB-95 e SAEB-
tam dificuldades na administração dos tempos escola- 97) são nos fazer corar.
res e das dinâmicas próprias do projeto, graves Não se pode afirmar que a deterioração dessa
manifestações de indisciplina, problemas decorrentes da qualidade seja exclusividade do golpe militar de 64,
falta de domínio dos conteúdos disciplinares e, surpre- no entanto, sua contribuição não pode ser considerada
endentes índices de aprovação. O trabalho conclui que, pequena. De um lado, implantou uma reforma univer-
emfunção da magnitude e do primarismo das carências sitária que abriu caminho para a criação de um sem-
da escola pública do Ceará, o Telensino é, ainda, uma número de universidades e faculdades particulares
necessidade, a despeito das suas fragilidades. onde em cursos de qualidade, na maior parte das ve-
zes, duvidosa, formaram-se boa parte dos atuais licen-
Palavras-chaves: Educação a distância, teleducação, ciados (principalmente na região sudeste), com
Telensino, ensino fundamental. impactos significativos nos sistemas de ensino, princi-
palmente os públicos.
De outro lado, com uma limitação crescente dos
ABSTRACT investimentos na educação, impôs uma expansão físi-
ca que foi acompanhada de péssimos índices de apro-
This paper presents some considerations about veitamento. Nesse particular, a falta de políticas de
the TV-education project which has been used at formação em serviço e de valorização do magistério,
secondary education in Ceará. The research was based de estados e município fez coro com o descaso federal.
on an etnographic approach, specially the work Apoiando-se nos assustadores índices de fracas-
developed by Ezpeleta & Rockwell (1986, 1987)and it so, certas explicações, muitas vezes fragmentadas e/
was done at apublic school. Despite ofthe students high ou convenientemente ambíguas apontaram, desde en-
performance, we found difficulties in lhe project tão, para alguns dos focos causadores: os professores,
implementation. However, serious and basic problems em geral, tinham frágeis formações iniciais e opera-
of Ceará ~public education lead us to conclude that, at vam em escolas cujos equipamentos, muitas vezes, não
the moment, "Telensino" (education through television) ultrapassavam as carteiras, lousas e gizes. Assim, víti-
is still necessary. mas de políticas educacionais contrárias aos interes-
ses dos usuários das escolas públicas e, muitas vezes,
Keywords: Education in the distance, tele-education, pautadas no improviso emergencial, os professores
tele-teaching, fundamental teaching. foram alçados à condição de réus.

I Professor da Faculdade de Educação da UFC, doutorando em educação na USP.

EDUCAÇÃO EM DEBATE' FORTALEZA· ANO 2) • NQ 37 • p. 157-168 • )999 • 157

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