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Guaratinguetá, 2015
EDITORA PENALUX
Rua Marechal Floriano, 39 – Centro
Guaratinguetá, SP | CEP: 12500-260
penalux@editorapenalux.com.br
www.editorapenalux.com.br
EDIÇÃO
França & Gorj
REVISÃO
Helga Maia
CAPA E DIAGRAMAÇÃO
Ricardo A. O. Paixão
118 P. : 21 CM.
ISBN 978-85-69033-78-3
1. POESIA I. TÍTULO.
CDD B869.1
Lau Siqueira
poeta
Agradecimentos
D.D.
pra mainha (em memória)
Dija Darkdija
(ou não)
(vai escrever)
21
MIX
fui.
(dá no mesmo)
22
Dija Darkdija
(dá não)
quando eu morrer
e tocar o bolero de Ravel
e o sarau viajoso ocorrer
vai tar lá o tal do anjo
ouvindo espantado e dizendo:
e num é que o caba foi mermo?
23
MIX
casa cheia
lembrando que quase existem
os ouvidos das paredes
24
Dija Darkdija
25
MIX
a lua me traiu
disse que era minha
só minha e não de quem quiser
e brilhava pra todo mundo
pro joão pra maria e pra ritinha
26
Dija Darkdija
pra beber
só quero água
água visceral
destilada da mágoa
27
MIX
A Última Utopia
na utopia suprema
não existem poetas
muito menos poemas
28
Dija Darkdija
II
29
MIX
quem procura
acha
ao menos um bilhete
para a loteria
da possibilidade
fortuna mesmo
é continuar apostando
nas quinas do íntimo
30
Dija Darkdija
31
MIX
Viagem de quinta
é
ou
num é?
32
Dija Darkdija
LO(L)(W) Society
a periferia
é uma barata tonta
superdesenvolvida
hiperresistente
à hiroshima da humilhação
e às sandálias mínimas do estado
que de cima de suas cadeiras chi(li)cs
mal consegue ver-lhe as antenas
a alta sociedade
é um pavão pomposo
milimetricamente adestrado
para nunca olhar
33
MIX
se um dia desobedecesse
uma ordem que fosse
morreria de fome
nem que de vez em quase nunca
34
Dija Darkdija
Dedo Mindinho
35
MIX
bicho da saudade
não me morda
eu já tenho imunidade
36
Dija Darkdija
Sallírica
37
MIX
se você vier
eu te recebo
se não vier
recebo sua ausência
e se ela não vier
que venha o nada
o chá está pronto
o resto é paciência
38
Dija Darkdija
eu sou apenas
um ilustre desconhecido
de penetra nessa festa
39
MIX
pura sorte
o sol acende
e apaga a morte
40
Dija Darkdija
Litera(Turans)
porque diabos
nasci eu mulher
para ser analisada
julgada subjugada e maltratada?
rejeitada ao pior porque quis ser
eu
se nascesse literaturo
seria eu duro o suficiente
e respeitado por aí?
41
MIX
do presente
do passado
do futuro
42
Dija Darkdija
Zen [Vaga]Bu[N]Dismo
no mantra do sono
foi sonhar com o nirvana
43
MIX
Quase Incrível
44
Dija Darkdija
ritual diário:
orar pro deus busão
passar no mesmo horário
45
MIX
a palavra dançou
na minha boca
a palavra dançou
e na hora do último passo
em que deveria descer do salto
fez uma tripla pirueta
e voltou para dançar
dentro de mim
46
Dija Darkdija
aquele momento
em que a deusa da chuva
jorra cascatas de gozo
sobre a mãe terra
(é massa)
aquele momento
em que debaixo de tanta água
as águas mais puras
são a de um menino
que teve seu sonho
lavado com chuva
(é triste)
aquele momento
em que aquela moça
que mal lhe dá aquele
bom dia
abre aquele sorriso
(aquela lindeza)
47
MIX
A Um Passo Da Felicidade
cantando e dançando
seguindo a canção
com toda a desengonçura
a melodia do silêncio
48
Dija Darkdija
brasileiro é brasa
queimistura total
num forno grandelícia
pudim pé-de-moleque
em banho maria josé
49
MIX
queria mesmo
um botão de flor
pra abotoar
minha camisa
de força
queria mesmo
um figurino manicômico
pra rir baixinho
da minha low-cura
(santo remédio
da imaginação)
50
Dija Darkdija
mas o barro
do barro
fez o que é
e o que os outros são
o barro é fodão
51
MIX
tuberculose
não era
consciência
não era
de repente
não era
mais um homem
52
Dija Darkdija
Desclassificados Corpoéticos
53
MIX
Valentina
é um bairro mãe-pai
mãe solteira que
vale por trinta e sete “famílias” inteiras
um útero-labirinto que dá
de tudo e mais um pouco
onde não nasci mas me recriei
portal secreto
buracão que dá direto
em outra dimensão
de infinitas praias
de pobreza e realidade
e cheiro de cu sujo
54
Dija Darkdija
um emaranhado de doidos
atalhos e ruas de terra
que fica sem comer do asfalto
pra dividir o pão da paz
entre seus filhos pródigos
esquecidos pelo sol
55
MIX
vidas secas
almas esturricadas
nem vento
nem litoral
tentei chorar
aí sim não consegui
56
Dija Darkdija
indiferença mútua
eu na minha
tu na tua
dois lados
da mesma rua
57
MIX
58
Dija Darkdija
de vício
nasceu pra morrer comigo qualquer dia desses
ou daqui a uns infinitos
não há ideia formada sobre isso ainda
talvez seja um colosso em construção
59
MIX
pesquisa dores
vão pra lá
com teus amores
abortei
a pesquisa de objetos
preciso pesquisar almas
e fundos de olhares
quero pesquisar
a não-pesquisa
das sensações
60
Dija Darkdija
O Shopping
61
MIX
meus poemas
tagarelas
vivem conVersando
juntei todos
deu no que tá dando
62
Dija Darkdija
Senso Incomum
há mais coisas
entre a arte
e o artista
do que sonha
vossa vã teoria
63
REM
IX
REMIX
52
Dija Darkdija
Manifesto Viajoso
fuja do óbvio
nem que a fuga
seja o próprio
51
REMIX
fim do projeto
agora é esperar
se vai ou veto
50
Dija Darkdija
Teatro De Revista
Mary Kay com ele e desisti
aquele Boticário
não me deixava Avon
desisti de desistir
ele parece um Vult
mas ao menos me Natura
azamiga disseram
“ele não é do seu Nivea
troca esse Chanel, kirida”
acabei com outro
que chegou dizendo:
Elseve?
(testei.
fiquei na Dior.)
49
REMIX
a poesia foi ali
tomar um cafezinho
deixou o casaco aqui
e um bilhete de ausências
assassinado
silêncio
(quando ninguém quiser
ela volta
agradecemos a referência)
48
Dija Darkdija
há tempos
não olho
pra curva da telha
e digo:
vou mandar o papo
teto
47
REMIX
Alição
todo poema
é artensinamento
confesso que professo
muito movimento
e me hipocriso
nessas letras gravadas
misto de lembrança
e sonho perdido
(a arte é mais uma
entre tantas escolas
alunos bons maus professores
lições dadas em sacolas
quase sempre cheias
de venteorias vãs
armaria [todas]
[nãm])
46
Dija Darkdija
Sonetorto Da Piada Infame Que
Nunca Perco
nunca quis fazer direito
nem posso
eu sou canhoto
e pra que fazer soneto?
sou melhor
no sonetorto
já o resto
é o resto
e de resto
tudo um pouco
desse pouquinho de tudo
faço
agora
o meu porto
45
REMIX
Rock’N’Roll Nordestino
arrocha e rola
nesse som da mulesta
a gente se embola
no metal do tengo lengo
no couro da minha sola
44
Dija Darkdija
As Flores Da Lau
brotam dos repolhos da feira
talvez até da leseira
do riso do desamor
eis as flores do lau
a terra é seca
o verso o tao
em breve nas ancas
desbancando seu jornal
43
REMIX
a cadeira é aquele
exemplo universal
multidisciplinar
o poema é um protesto
abaixo à opressão dos explicadores
da preguiça não-criativa
da falta de exemplos
um dia virá
a revolução das cadeiras
vou esperar sentado
42
Dija Darkdija
{Poe[(Ma)L.(A]Pessoado)}
tudo é poema se a preguiça for pequena
41
REMIX
Indireta poética
testando
não sei se é poesia
talvez de vez em quando
(vai acompanhando...)
40
Dija Darkdija
eu não sou doido
sou o além-doido
surto a cada suspiro
me asfixio
se respiro louco
39
REMIX
Sem Título, Sem Título Mesmo
escrevi e não sabia
que título dar praquilo
pesei o pensamento
pensei é peso
(ai dento)
o poema sem título
ainda tem título
(um não-complemento)
38
Dija Darkdija
ri mulher
há mais astrofísica no teu riso
que em uma galáxia inteira
um big bang de alegrias
no meio do terraço
37
REMIX
existe
o que existe
e nada mais
eu sei que é complicado
mas eu sou muito mais
36
Dija Darkdija
caramba
tu éx estranho
(eu sou tua companhia
até no winterferno)
35
REMIX
estou naqueles dias
de sei lá
não encoste por favor
estou sangrando
de verso uns dias
eles voltam
como foram
nós
tao
gia
na beira do lago
em que observo
o passa[n]do como nada
olhar pra mim e dizer:
34
Dija Darkdija
tenho medo de queda
vai que numa topada
eu caia na real?
33
REMIX
coincidência de rima
se o povo sai relendo
vai achar que é obra prima
32
Dija Darkdija
Reticencialidade
a pontualidade tá foda
nunca chega na hora
com o tal
cinco minutinhos
que vira meia hora
de tô chegando
a pontualidade
de tão pontual
chega atrasada com mais duas
virou a mais que fatal
reticencialidade
(é verdade)
31
REMIX
descreva
a felicidade
em três pontos
...
pronto
30
Dija Darkdija
a raposa, um grande mistério em pelo,
é um apelo.
em seu timbre de arisca
me olha de longe
via vento me ensina:
“vai, arrisca”
a raposa, um grande mistério em pelo,
é isso mesmo.
mentora a dar conselhos
“corte verbos, corte gentes,
por favor, corte os cabelos”.
29
REMIX
Vulpinologia
a raposa, um grande mistério em pelo,
me corta os verbos.
se esgueira em meus versos
aparece quando quer ou
cansa de dar-me um gelo
a raposa, um grande mistério em pelo,
me deixa doido.
procurando em minhas viagens
um rastro de um rastro seu
uma relíquia em qualquer toco
a raposa, um grande mistério em pelo,
é transformista.
é pequena no deserto
vira monstro mitológico
no meu vício de artista
28
Dija Darkdija
nem tudo que aperta é couro
nem tudo que faz mu é touro
nem tudo que reluz é
talvez seja ou(t)ro
27
REMIX
a voz insuportável
do real
não me desce
nem que venha
pintada de euro
26
Dija Darkdija
O Pinto
é um caniço
despensante
leva um canguiço andante
feito louco por aí
o lápis
(parente distante)
descreve em versos castros e putos
sua jornada decadentista-renascentista
fênix procurando um ninho
pra morreviver em paz
25
REMIX
É a Vi(n)Da
sobrevi
(vendo duas idas
para outros mundos
que ainda não vi tudo desse
e a minha passagem tá marcada
pra não ninguém sabe quando
alguém do nada bate a
porta de casa pra
vir me buscar)
vendo now
24
Dija Darkdija
Haikai Samurai
saque
golpe
baque
23
REMIX
Finados
a obra de um poeta
é um cemitério
de ideias
você que lê as lápides
e revive esses zumbis de letras
por favor
acenda uma velha
22
Dija Darkdija
eis o orgasmo
mas não olhe agora
lá vem outro espasmo
21
REMIX
{Apel[Ação (Pó.Ética)]}
sou um poema
dentro de um poema
dentro de (um poema)
dentro de [um poema]
(dentro) de {um poema}
[dentro] de (um poema)
{dentro} de [um poema]
dentro de {um poema}
aqui {[(dentro)]}
{[(dos parênteses), dos colchetes], das chaves}
me (leio)[releio]{treleio} leio-me a mim mesmo
não. me des.considere de todo.s meu.s ponto.s de
vista.s
sou uma mera {apel[ação (pó.ética)]}
{que termina de apelar por aqui}
[que termina a ação por aqui]
(e aqui, se (re)faz em pó.ética)
apelação poética
20
Dija Darkdija
ordem no tribunal
o juiz antes do réu
o réu diante do tao
19
REMIX
Ócio Da China
um poeta joalheiro
orgulhoso dos brilhantes
dizia todo faceiro
“lapidei”
“lapidei”
“lapidei”
o seu forte
era a lima
18
Dija Darkdija
o filho ensina pro pai:
(ou tenta, impaciente)
smartphone, twitter, instagram
o pai só ouve ecrã
ram pra ele é picape
o pai ensina pro filho:
tecnologia antiga em desuso
bastante funcional e versátil
energia limpa e tudo mais até
uma das forças-motrizes do mundo
“se chama abraço, menino”
17
REMIX
ai meu deus
essa dor no peito
e se eu morrer
meu laudo lá
asfixia por falta de ar-tchê
16
Dija Darkdija
dijadarkdija
é um ying yang torto
não sabe o que quer
o que escrever
e acha pouco
15
REMIX
nada pra fazer.
à parte isso
todo o tédio do mundo.
tudo pra fazer.
partindo disso,
toda a preguiça do mundo.
não deixa de fazer o que faz.
preguiça trabalhadeira.
preguiça dá trabalho.
a preguiça
não é nada preguiçosa.
(procrastina mas não falha)
14
Dija Darkdija
escuro
eis o que vejo:
porra nenhuma
e esse nada vira então um percevejo
com a fedentina a entranhar-se nos meus pelos
e a virar medo de ser engolido na bruma
então mainha diz ô caba te apruma
e me aprumo
passa por mim um morcego
abro os olhos nada vejo e percebo
que é tudo sonho
e quem vos fala aqui nem fuma!
13
E claro que Dija também comete os seus. Ele brinca tanto
com as palavras que às vezes a brincadeira não funciona
poeticamente e fica mais piada que poema. Nenhum de-
mérito nisso. Muitos poetas já consolidados erram a mão
em alguns versos, nem por isso deixam de ser grandes.
A poesia de Dija Darkdija requer várias leituras e
releituras. Só assim podemos tentar compreender sua lógi-
ca poética. Só assim conseguimos descobrir o lirismo que
ele tenta disfarçar em meio ao poema-piada. Dija Darkdija
diz, em um dos poemas, que é apenas um desconhecido
que chega de penetra nessa festa literária. Talvez seja, tal-
vez seja. Por isso, o que lhe resta é mesmo dançar o que
é. E colocar todo mundo para dançar também. Seja bem-
vindo ao mundo dos livros, Dija! E sirva-nos de sua poesia!
Estávamos precisando dela.
Linaldo Guedes, poeta
agosto de 2015
de ser coisa de gente sã. E neste primeiro poema já entram
as diversas referências da poesia dijaniana: a paródia, o pas-
tiche, a ludicidade, a irreverência, o neologismo, a musa, a
própria poesia, em si.
Há poemas curtos, onde a sentença quer ser defini-
tiva, “lembrando que quase existem/ ouvidos na parede”.
Há lirismo quando fala da lua que que traiu para o eu-lí-
rico ao brilhar para todo mundo, inclusive “pro joão pra
maria e pra ritinha”.
O poeta também constrói sua própria utopia. E
nela não existem poemas nem poetas. Nela o riso sempre
existe, afirma o interessante poema “A última utopia”.
Mas nesta utopia particular cabem todos os es-
tilos do estilo dijaniano. O da brincadeira com o dia de
quinta-feira, a crítica à alta sociedade, que vira um “pavão
pomposo”, a preocupação com as coisas mínimas, como
em “Dedo Mindinho”, o lirismo de “Sallírica”, a busca
constante do seu harém de palavras, ou dos mortos de uma
guerra que todos travamos – nos desclassificados poéticos.
Dija é um poeta que não tem medo de ousar, de
atrever-se, de surgir como o novo nessa nossa poesia tão
enfastiada dela mesma nos últimos livros que surgem dia
após dia. Sim, porque poesia também é risco. O poeta tem
que ter consciência de como usar a linguagem literária,
como encaixar um ritmo, ou uma mensagem, dentro do
poema. Mas é bom quando encontramos poetas que além
disso, também arriscam, sem medo de cometer erros.
O mix de um poeta que sabe ousar
Atentem para esse nome, caro leitor: Dija Darkdi-
ja! Jovem ainda, chega ao seu primeiro livro com a ousadia
que a gente pensa caber apenas aos grandes poetas já con-
solidados. Faz um mix antropofágico com um estilo todo
seu e o leitor corre o risco de querer ler essa sua primeira
obra sem medo das descobertas que as páginas seguintes
lhe proporcionarão.
A poesia em si é uma das formas mais lúdicas da
nossa literatura, já se pensou isso. Em Dija Darkdija essa
característica é mais acentuada do que o normal. A ludi-
cidade é a marca maior de sua poética. Isso já se percebe
no “Poema de Trinta e Sete Faces”, que, como o título
sugere, guarda influência direta com o célebre poema
drummondiano. Só que Dija não se atém apenas a mais
uma paródia de Carlos Drummond de Andrade, como
muitos já fizeram na poesia brasileira. Vai mais além, “vai
ser doido na vida”, porque a poesia de verdade nunca há
EDITORA PENALUX
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França & Gorj
REVISÃO
Helga Maia
CAPA E DIAGRAMAÇÃO
Ricardo A. O. Paixão
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D219M DARKDIJA, DIJA. 1993-
REMIX / DIJA DARKDIJA. -
GUARATINGUETÁ, SP: PENALUX, 2015.
118 P. : 21 CM.
ISBN 978-85-69033-78-3
1. POESIA I. TÍTULO.
CDD B869.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura Brasileira
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mediante autorização expressa do autor e da Editora Penalux.
Editora Penalux
Guaratinguetá, 2015