You are on page 1of 12

fls.

632

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2018.0000981241

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


0002007-22.2016.8.26.0125, da Comarca de Capivari, em que é apelante IGOR
APARECIDO DE OLIVEIRA PINTO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria regimental, deram parcial provimento
ao recurso de apelação interposto por Igor Aparecido de Oliveira Pinto para reduzir a sua
pena para 03 anos e 04 meses de reclusão, no regime inicial fechado, além do pagamento
de 333 dias-multa, no valor unitário mínimo, mantendo-se, no mais, a r. sentença recorrida
por seus próprios e jurídicos fundamentos, vencidos o relator sorteado que negava
provimento e o revisor que provia para absolver. Acórdão com o 3º juiz. Farão declaração
de voto vencido o revisor e o relator.", de conformidade com o voto do Relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SALLES


ABREU, vencedor, GUILHERME G. STRENGER (Presidente), vencido, GUILHERME
G. STRENGER (Presidente) e XAVIER DE SOUZA.

São Paulo, 5 de dezembro de 2018

*
RELATOR DESIGNADO
Assinatura Eletrônica
fls. 633

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

APELAÇÃO nº 0002007-22.2016.8.26.0125

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
APELANTE: IGOR APARECIDO DE OLIVEIRA PINTO

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA: CAPIVARI

VOTO Nº 46.931

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
Apelação – Tráfico de entorpecentes – Recurso da defesa –
Preliminar – Nulidade – Cerceamento de Defesa – Ampla defesa
oportunizada – Ainda que o documento almejado não estivesse à
disposição no momento da audiência de instrução, já era do
conhecimento da defesa o seu conteúdo – Preliminar afastada -
Absolvição – Improcedência – Materialidade e autoria
demonstradas – Apreensão de 41 porções de cocaína, 17 porções
de “crack” e 13 porções de maconha em poder do réu – Firmes e
correntes relatos dos guardas municipais – Validade – Condenação
de rigor – Dosimetria – Pena-base fixada no mínimo legal –
Aplicação do redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei de Drogas,
na fração de 1/3 – Grande quantidade de entorpecente revela
maior reprovabilidade de conduta – Inaplicabilidade da
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de
direitos – Benesse que não se mostra suficiente para reprovação e
prevenção do crime – Regime inicial fechado mantido – Recurso
parcialmente provido.

Trata-se de recurso de apelação interposto por Igor


Aparecido de Oliveira Pinto contra a r. sentença de fls. 563/568, que julgou
procedente a ação penal para condená-lo ao cumprimento da pena de 05 anos
de reclusão, no regime inicial fechado, mais o pagamento de 500 dias-multa,
no valor unitário mínimo, como incurso no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06.

Inconformado, recorre o acusado alegando,


preliminarmente, cerceamento de defesa ante o inquérito policial nº 138/15, no
qual o apelante figura como vítima, por ter sido juntado aos autos apenas na
data da audiência de instrução, o que impediu sua análise pela defesa técnica.
No mérito, requer a absolvição por insuficiência de provas. Subsidiariamente
postula a incidência do redutor do § 4º, do art. 33, da Lei 11.343/06, a
substituição da sanção corporal por restritivas de direitos e a fixação de regime
inicial menos gravoso (fls. 577/585).

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 2/12


fls. 634

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

O recurso foi bem processado, com contrariedade


oferecida pelo Ministério Publico, que pugna pela manutenção da r. sentença

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
(fls. 591/593).

Instada a se manifestar, a Douta Procuradoria de


Justiça opina pelo não provimento do recurso (fls. 602/619).

É o relatório.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
Inicialmente, diversamente do sustentado nas razões
recursais, não ocorreu o alegado cerceamento de defesa.

Isso porque, compulsados os autos, verifica-se que a


cópia do inquérito policial nº 138/15, em que o apelante figura como vítima, foi
juntada aos autos em 19 de março de 2018 (fls. 457/554), tendo sido a defesa
técnica intimada sobre sua juntada em 21 de março de 2018 (fls. 562), mesma
data em que foi realizada a audiência de instrução e julgamento (fls. 563/576).
Todavia, como bem ressaltou o douto Procurador de
Justiça, “Em que pesem os argumentos expendidos, certo é que a ampla defesa
foi oportunizada. Ainda que o documento que se almejava não estivesse à
disposição no momento da audiência de instrução, já era do conhecimento da
defesa o seu conteúdo, tanto que solicitou a juntada de cópias. As testemunhas
de acusação, em especial o GM Fernando Sebuske, poderiam ter sido
questionadas sobre os fatos tratados no procedimento policial em questão, a fim
de trazer à tona a suposta perseguição mencionada pela defesa. Assim, prejuízo
não houve. Ademais, se houve desentendimento pretérito entre o apelante e uma
das testemunhas de acusação, por si só não significa que esta viesse a tentar
prejudicá-lo depois. Ainda, a narrativa do guarda Fernando foi corroborada por
colega de farda, não tendo restado isolada nos autos. Há mais. Considerar o
contrário seria incentivar meliantes a forjar desentendimentos com a polícia para,
futuramente, desacreditar seus testemunhos em processos” (fls. 592).

Rejeita-se, pois, a preliminar arguida.

No mérito, o recurso comporta parcial provimento.

Consta dos autos que, no dia 13 de setembro de

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 3/12


fls. 635

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

2016, por volta das 15h30min, na intersecção das ruas Justiça e Honestidade,
bairro Santa Tereza D' ávila, na cidade de Capivari, Igor Aparecido de Oliveira

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
Pinto, sem autorização e em desacordo com determinação legal, trazia consigo,
para fins de tráfico, 41 porções de cocaína, totalizando 23g, 17 porções de
“crack”, totalizando 10g, e 13 porções de maconha, pesando 12g, substâncias
entorpecentes que causam dependência física e psíquica, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
Segundo apurado, Igor se encontrava no local dos
fatos consumindo entorpecente e trazia consigo, para fins de entrega a consumo
de terceiros, em um saco plástico, as drogas acima descritas.

Guardas municipais patrulhavam o local, conhecido


como ponto de venda de drogas, quando avistaram o réu usando entorpecente.
Tão logo Igor visualizou os guardas civis, empreendeu fuga e dispensou um saco
plástico no chão. Instantes após, foi capturado pelos agentes estatais que
lograram apreender o saco plástico dispensado pelo réu.

Realizada busca pessoal, encontraram dentro do bolso


da vestimenta de Igor R$ 10,00 e, dentro do saco plástico dispensado pelo réu,
encontraram 41 porções de cocaína, 17 pedras de “crack”, 13 papelotes de
maconha e um simulacro de arma de fogo.

A materialidade do delito ficou demonstrada pelas


circunstâncias descritas no auto de prisão em flagrante (fls. 05/06), no boletim de
ocorrência (fls. 14/16), pelo laudo de constatação prévia de substância
entorpecente (fl. 20), auto de exibição e apreensão (fls. 17/19), e pelo laudo de
exame químico-toxicológico (fls. 135/137).

A autoria restou inconteste nos autos.

Na fase policial, o apelante disse que é usuário de


“maconha”. Narrou que saiu da casa de sua avó, no bairro engenho velho, e
atravessou a mata existente no bairro Santa Tereza D'Ávila, para comprar
“maconha”. Alegou que encontrou um garoto fumando “maconha” e lhe
perguntou se ele possuía tal entorpecente para venda. Afirmou que, como o

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 4/12


fls. 636

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

garoto disse que sim, passou a fumar a “maconha” que o garoto estava
consumindo naquele momento, o qual saiu para buscar o entorpecente, que

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
havia solicitado para compra. Declarou que, neste ínterim, viu uma motocicleta
da guarda civil e saiu correndo. Disse que entrou numa casa e foi pulando
diversos muros até ser detido no quintal de uma das residências. Alegou que,
algemado, foi levado até um monte de entulho, onde os guardas encontraram
drogas. Sustentou não ser traficante e não saber a quem pertence as drogas

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
encontradas. Negou ter dispensado a droga, dizendo que apenas correu, porque
estava “no local errado, na hora errada” (fls. 52/53).

Interrogado em juízo, manteve a negativa da prática


de tráfico. Disse que foi comprar drogas no local dos fatos, oportunidade em que
foi abordado pelos guardas civis. Disse que a droga apreendida não estava em
sua posse e afirmou ser apenas usuário de entorpecentes (fls. 187/189).

A versão exculpatória apresentada pelo acusado em


juízo, tentando afastar a traficância, além de pueril, fantasiosa e imprecisa,
restou isolada nos autos, não encontrando qualquer ressonância nos demais
elementos de convicção obtidos no curso da instrução processual.

O guarda civil municipal Leandro Augusto Gonçalves


de Paula Franco, em juízo, disse que, na data dos fatos, estava em uma
operação conjunta com a polícia militar, em um bairro conhecido pela traficância.
Afirmou que se deparou com o réu, o qual, ao perceber a aproximação da
viatura, tentou se evadir, dispensando uma sacola plástica em um entulho.
Declarou que, abordado, o réu disse morar ali, mas, como o conhece dos meios
policiais, sabe que ele mora no Jardim do Bosque. Declarou que, na sacola
dispensada, havia grande quantidade de “cocaína”, “maconha” e “crack”, bem
como um simulacro “ponto 38”. Esclareceu, por fim, que o entulho é o local, em
que as drogas ficam guardadas para o tráfico (fl.430).

Por sua vez, o guarda civil municipal Fernando


Sebuske contou que, na data dos fatos, estava em uma operação junto com a
polícia militar, no bairro Santa Tereza D'Ávila, próximo a uma mata, quando
avistou o réu. Disse que o réu, ao notar a presença dos policiais, tentou se evadir

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 5/12


fls. 637

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

do local e, perto do entulho, dispensou uma sacola plástica, que foi apreendida,
posteriormente, pelo seu parceiro, na qual continha um revólver de brinquedo e

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
entorpecentes. Asseverou que havia denúncias de que o réu estava praticando
tráfico há três meses. Disse que, indagado, o réu negou a propriedade dos
entorpecentes (fl. 431).

Ressalte-se que, embora para alguns o depoimento de


policiais não seja meio de prova idôneo para embasar o édito condenatório,

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
cumpre dissentir de tal entendimento.

É bem verdade que a palavra dos guardas na fase


inquisitiva, como a de qualquer testemunha, não está sujeita às garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa, por cuidar o inquérito policial
de procedimento meramente informativo. Todavia, não menos verdade é que, no
caso em testilha, os guardas foram ouvidos em Juízo e, nesta oportunidade,
cuidou-se de observar todas as garantias inerentes ao devido processo legal.

Com efeito, verifica-se dos autos que, quando da oitiva


dos mesmos, respeitado o contraditório, presentes o réu e seu defensor, tiveram
estes plenas condições de se manifestar, fosse mediante reperguntas, pedidos
de esclarecimentos ou impugnações que entendessem relevantes.

Sendo assim, descabe afastar a validade do


depoimento dos guardas municipais com fundamento tão-somente na respectiva
condição funcional, já que eles foram submetidos ao contraditório como qualquer
outra testemunha. Ademais, seria um contrassenso o Estado dar-lhes crédito
para atuar na prevenção e repressão da criminalidade e negar-lhes esse mesmo
crédito quando, perante o Estado-juiz, dão conta das suas atividades.

De resto, é de maciça jurisprudência, prolatada


inclusive pelas Cortes Superiores:

“HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES. TESE DE FRAGILIDADE DA PROVA PARA SUSTENTAR A
ACUSAÇÃO. VIA IMPRÓPRIA. NECESSIDADE DE EXAME APROFUNDADO
DO CONJUNTO PROBATÓRIO. DEPOIMENTO DE POLICIAIS. VALIDADE

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 6/12


fls. 638

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

PROBATÓRIA. 1. O exame da tese de fragilidade da prova para sustentar a


condenação, por demandar, inevitavelmente, profundo reexame do material

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
cognitivo produzido nos autos, não se coaduna com a via estreita do writ.
Precedentes. 2. Os policiais não se encontram legalmente impedidos de depor
sobre atos de ofício nos processos de cuja fase investigatória tenham participado,
no exercício de suas funções, revestindo-se tais depoimentos de inquestionável
eficácia probatória, sobretudo quando prestados em juízo, sob a garantia do

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
contraditório. Precedentes. 3. Ordem denegada.” (STJ Min. Laurita Vaz 5ª
Turma HC nº 115516/SP 03/02/2009).

Ademais, em que pese o guarda municipal Fernando


Sebruske estar sendo processado criminalmente por ter supostamente praticado
lesão corporal contra Igor no dia 29 de julho de 2015, o seu depoimento não é o
único elemento de convicção do quadro probatório.

Além do próprio réu, em juízo, afirmar não ter nada


contra os guardas municipais, o guarda Leandro Augusto, que detém a isenção
que deve nortear a prova oral, corrobora as palavras de Fernando, bem como
descreve os fatos conforme narrado na denúncia. Portanto, os depoimentos dos
guardas, vez que coesos e harmônicos, devem ser considerados aptos a
sustentar o édito condenatório.

Nesse sentido, bem ressaltou o MM. Juízo “a quo”:


“compulsando-se as provas requeridas pela defesa referente ao Inquérito Policial
nº 138/2015 (que foi juntado às fls. 458/554), extraio tratar-se de fato pretérito,
ocorrido em 29/07/2014. Não há qualquer prova no sentido de que o réu tenha
sofrido agressão física, no momento de sua prisão em 13/09/2016 (laudo de
lesão corporal negativo de fls. 94 com a seguinte anotação: 'O examinado ao
ser perguntado sobre possíveis lesões de interesse médico legal nada informou')
ou que esteja respondendo a esse processo inocentemente (na fase policial às
fls. 52 disse que 'nada tem a alegar contra os guardas civis que o prenderam')”
(fls. 572).
Corroborando a palavra dos milicianos, há, nos autos,
o laudo de constatação (fls. 20) e de exame químico-toxicológico (fls. 135/137),

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 7/12


fls. 639

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

confirmando a quantidade e a natureza dos entorpecentes apreendidos, a forma


de acondicionamento apresentada (típica da atividade de tráfico) e a atividade de

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
mercancia de entorpecentes praticada pelo réu.

As testemunhas de defesa Edzilda Pires de Santana


(fls. 432) e Jenifer Caroline Ramos de Toledo (fls. 433) não presenciaram os
fatos, em nada contribuindo com o deslinde da causa.

Embora o réu tenha negado os fatos, sua versão foi

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
rechaçada pelo restante da prova oral colhida durante a instrução processual.

Os guardas municipais foram sempre firmes e


coerentes em seus relatos, confirmando os fatos descritos na inicial acusatória e
apontando o réu como o autor do delito.

Consequentemente, face aos depoimentos seguros,


incisivos e harmônicos dos milicianos, informando que o réu trazia consigo os
entorpecentes descritos na inicial acusatória, com o fim de comercialização,
temos que a condenação de Igor Aparecido de Oliveira Pinto, por incurso no
art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06, era mesmo medida de rigor.

Passo a analisar a dosimetria das penas.

Inicialmente, sopesadas as diretrizes do artigo 59 do


Código Penal, notadamente em razão da quantidade e da natureza da droga
apreendida, a pena-base foi majorada em 1/6 (um sexto) acima do patamar
mínimo cominado à espécie, ou seja, em 05 (cinco) anos e 10 (dez) meses de
reclusão e pagamento de 583 (quinhentos e oitenta e três) dias-multa, no valor
unitário mínimo legal.

Todavia, diante da primariedade do agente, da


ausência de antecedentes desabonadores, bem como da falta de elementos
indicativos de que o acusado se dedicasse à atividades criminosas ou mesmo
integrasse organização dessa natureza, o paradigma deve ser fixado no patamar
mínimo cominado à espécie.
Na segunda fase, embora presente a atenuante da
menoridade relativa, a pena permaneceu inalterada, pois não pode ser reduzida
APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 8/12
fls. 640

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

aquém do mínimo estipulado no tipo penal. Nesse sentido, a Súmula 231/STJ: "A
incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
abaixo do mínimo legal”.

Na terceira fase, além da quantidade de


entorpecentes, não há nos autos outros elementos indicativos de que o acusado
se dedicasse à atividades criminosas ou mesmo integrasse organização dessa
natureza, motivo pelo qual, em razão de sua primariedade e da ausência de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
antecedentes desabonadores, o redutor previsto no artigo 33, §4º, da Lei
11.343/2006 deve ser aplicado.

Neste sentido:

“PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA
DA PENA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, §4º, DA LEI N. 11.343/2006.
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE INDIQUEM A DEDICAÇÃO A ATIVIDADES
CRIMINOSAS. QUANTIDADE, DIVERSIDADE E NATUREZA DAS DROGAS (...)
3. Hipótese em que à míngua de elementos probatórios que denotem ser o
paciente habitual na prática delitiva ou integrante de organização criminosa, e
considerando, ainda, sua primariedade e seus bons antecedentes, a quantidade
de droga apreendida, por si só, não se mostra suficiente para impedir o benefício
do art. 33, § 4º, da Lei (...).” (STJ, HC 420059/SP, 5ª Turma, Min. Ribeiro Dantas,
jg. 06/02/2018, DJe 16/02/2018).

Assim considerando-se a quantidade e a natureza da


droga apreendida, reduzo a pena do réu em 1/3, fixando-a, agora em 03 anos e
04 meses de reclusão, mais o pagamento de 333 dias-multa, no valor unitário
mínimo.

Incabível a substituição da pena privativa de liberdade


por restritiva de direitos. Com efeito, os artigos 33, §4º, e 44, caput, ambos da Lei
nº 11.343/06, impedem que os condenados pela prática dos crimes definidos nos
artigos 33, caput, e inciso I, e artigos 34 a 37, todos da referida lei de
entorpecentes, sejam beneficiados com a substituição da pena privativa de

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 9/12


fls. 641

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

liberdade pela restritiva de direitos.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
Nada obstante o teor da recente resolução do Senado
Federal, que suspendeu a execução da expressão "vedada a conversão em
penas restritivas de direitos" do § 4º, do art. 33, da Lei de Drogas, arrimado na
decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou inconstitucional a vedação
legal à substituição para o crime de tráfico, no julgamento do Habeas Corpus nº
97.256/RS, o posicionamento parece não refletir a conjuntura expectável frente à

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
forte política de combate ao tráfico de entorpecentes implementada pelo Estado.

Note-se que o próprio artigo 44 do Código Penal


estipula casos específicos em que não é permitida a substituição da pena,
obstando a concessão do beneplácito legal a casos em que a substituição não
tem o condão de alcançar os fins colimados com a aplicação da pena e da lei
penal.

E neste ponto, a aplicação de uma medida tão


branda e complacente vai de encontro ao tratamento austero e rígido que vem
expresso pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Neste sentido, a Constituição Federal reserva


tratamento especialmente severo ao tráfico ilícito de entorpecentes nos artigos
5º, inc. XLIII e LI, e artigo 243, parágrafo único. Na mesma toada caminhou o
legislador infraconstitucional ao equiparar o tráfico de drogas à categoria de crime
hediondo, submetendo os autores desta espécie de delito às previsões
específicas e mais rigorosas preconizadas pela Lei nº 8.072/90.

Assim, a impossibilidade de se aplicar a substituição ao


grave crime de tráfico ilícito de entorpecentes, que tanto assola a comunidade,
fica evidente com a interpretação sistêmica do ordenamento jurídico nacional,
concluindo-se pela vedação como reflexo esperado ao tratamento mais rigoroso
dado pela Constituição da República e pela legislação ordinária ao crime de
tráfico de drogas.

Desta forma, resulta ilógico substituir penas privativas

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 1 0/12


fls. 642

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

de liberdade para impor sanções restritivas de direitos a condenados por crimes


hediondos, sob pena de se esvaziar o tratamento rígido que a Lei buscou

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
propiciar a fim de concretizar a política criminal voltada a dirimir a traficância de
entorpecentes, que, a propósito, envolve sempre outras práticas delitivas
execráveis que tanto devastam o país, como a corrupção de agentes públicos, o
tráfico de armas, delitos contra a pessoa, contra a vida, contra a fé pública etc.

Confira-se, por oportuno, recente julgado do Superior

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
Tribunal de Justiça:

“HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE


DROGAS. REGIME PRISIONAL. PLEITO DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA.
MEDIDA QUE NÃO SE MOSTRA SOCIALMENTE RECOMENDÁVEL NA
HIPÓTESE. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE. VALIDADE DA VEDAÇÃO
CONTIDA NO ART. 44 DA LEI N.º 11.343/2006. PEDIDO DE PRISÃO
DOMICILIAR. MATÉRIA NÃO APRECIADA NA ORIGEM. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSÃO,
DENEGADA. (...) 3. Não obstante o afastamento da vedação legal, constata-se
que, no caso em apreço, a medida não se mostra socialmente recomendável,
tendo em vista a natureza e quantidade da droga apreendida. Precedentes. 4.
Sendo inadequada à espécie a concessão do benefício da substituição da pena
privativa de liberdade por sanções restritivas de direitos, deveria a Paciente
iniciar o cumprimento de sua pena no regime prisional fechado, nos termos da Lei
n.º 11.464, de 29 de março de 2007. Contudo, em observância ao princípio da
vedação à reformatio in pejus, fica mantido o regime inicial semiaberto (...)” (STJ
– HC 208919/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe 22/09/2011).

Conclui-se, portanto, que o crime continua grave e


hediondo, sendo que tal substituição não se mostra suficiente para reprovação e
prevenção do crime, portanto, inaplicável sua concessão.

No mesmo diapasão, correta a fixação do regime inicial


fechado para o cumprimento da pena, ante o elevado poder de disseminação das
substâncias perniciosas, que demandam a imposição de regime mais severo,
conforme o entendimento dessa C. Câmara:

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 1 1/12


fls. 643

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

“O regime prisional inicial fechado foi corretamente


fixado, em face da natureza do crime, que revela a periculosidade concreta da

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 0002007-22.2016.8.26.0125 e código A8224DD.
agente, que com sua conduta gera instabilidade em inúmeros lares, exigindo, em
consequência, resposta penal mais enérgica com a qual não é compatível
solução mais branda. Nesse tópico, é sempre pertinente lembrar que os
mercadores de entorpecentes criam um poder paralelo que desafia e se opõe às
autoridades constituídas, destrói pessoas e famílias, subjuga comunidades

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO DE SALLES ABREU FILHO, liberado nos autos em 12/12/2018 às 14:43 .
inteiras, e aniquila o futuro de crianças e jovens, decorrendo de suas condutas
gravíssimas consequências para a sociedade (...).” (TJSP, AP.
0000354-06.2017.8.26.0042, Des. Xavier de Souza, jg. 24/01/2017).

Isto posto, por maioria regimental, deram parcial


provimento ao recurso de apelação interposto por Igor Aparecido de Oliveira
Pinto para reduzir a sua pena para 03 anos e 04 meses de reclusão, no
regime inicial fechado, além do pagamento de 333 dias-multa, no valor unitário
mínimo, mantendo-se, no mais, a r. sentença recorrida por seus próprios e
jurídicos fundamentos, vencidos os relator sorteado que negava provimento e o
revisor que o provia para absolver.

Salles Abreu
Relator designado

APELAÇÃO Nº 0002007-22.2016.8.26.0125 CAPIVARI VOTO Nº 46.931 1 2/12

You might also like