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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE TECNOLOGIA – ESCOLA DE QUÍMICA


PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS QUÍMICOS E BIOQUÍMICOS
EQE796 – ECONOMIA CIRCULAR
ALUNO: FELIPE DE LIMA MATOS

Sessão 02
Origem e Evolução do Conceito

Falar de economia circular está na moda. Ou melhor, economia circular está numa
hype, um termo em inglês usada para indicar quando um tema está entre os mais discutidos,
seja na internet, na academia ou na indústria. Como qualquer nova definição, o público em
geral tende a enxergar tudo através dessa nova ótica, o que, por muitas vezes, acaba
desviando o conceito de seu intuito original.
Segundo o texto de Kirchherr et al. (2017), tredining concepts tendem a serem mais
difusos, caso não seja dado a devida atenção a conceituação da ideia. Isso pode ser muito
danoso ao próprio conceito uma vez ele pode ficar preso numa eterna encruzilhada, onde
tanto acadêmicos como praticantes ficam sem uma base de conhecimento concreta.
Kirchherr et al. (2017) organizou um estudo em 114 definições criando dimensões em
comum citadas em artigos científicos e da indústria. Para exemplificar a falta de coerência de
ideias, nenhuma das dimensões analisadas atingiu uma maioria simples (acima de 50%) do
total de artigos analisados.
O estudo mostra que não sabemos se os objetivos da economia circular é
prosperidade econômica, equidade social, equilíbrio ambiental ou se são todos os três
juntos. Não sabemos se o impulso para sua difusão deve ser do lado do produtor, através da
adoção de novos modelos de negócios, ou do lado da demanda, através da adoção da
população por produtos mais sustentáveis. A única dimensão que parece ser o link entre
esses diversos temas é uma atividade que não é nada nova: reciclagem. Esse termo é o que
aparece em 79% nas definições que contém dimensões de operacionalização da economia
circular. Isso demonstra a fragilidade atual do conceito de economia circular, uma vez que,
segundo Ghisellini (2016), a reciclagem é, dos 3R (reuso, redução e reciclagem), o mais fraco
e menos circular dos três. Isso se deve não só por questões físicas - devido a tendência de
aumento da entropia, segundo a 2ª lei da termodinâmica - quanto por questões econômicas
- a cada ciclo de reciclagem, os custos ficam mais altos até um ponto é que não é mais viável.
Ainda segundo Ghisellini (2016), a redução, que seria dos 3Rs talvez o mais impactante e
imediato para a economia, é o menos citado, principalmente entre os praticantes da
indústria. Isso se deve, segundo o autor, pela percepção da indústria de queda de produção
ao implementar esse R, o que não condiz com as propagandas feitas que pode haver sim
crescimento econômicos com a circularidade.
Analisando a dimensão de perspectivas de sistemas (micro, meso e macro), essa
classificação aparentemente foi pensada para determinada classe de produtos, como os
plásticos e outros recicláveis que, como vimos, são um dos poucos temas em acordo da
economia circular. Ao tentar analisar a circularidade em termos de produtos como petróleo,
gás natural, energia, essa classificação pode necessitar ser revista principalmente se o
objetivo for a sustentabilidade ambiental. Por exemplo, as tecnologias de captura e reuso de
carbono, tão advocadas pela indústria de óleo e gás como solução para a descarbonização
da atmosfera, podem ser consideradas um passo para a circularidade? Olhando do ponto de
vista dos 3Rs, a reciclagem e o reuso do resíduo (CO2) em outras indústrias encaixa nos
princípios de circularidade. Entretanto, o carbono fóssil retirado do subsolo vai,
inevitavelmente, atingir a atmosfera quando houver a decomposição ou utilização dos
produtos. Neste caso, a circularidade do carbono não é atingida; o carbono fóssil continua
aumentado na atmosfera. No caso da captura do carbono, injetando-o de volta no subsolo, o
único caso em que o carbono fóssil deixa de atingir a atmosfera, pode ser vista como
redução? O rejeito está sendo reduzido ou só realocado num grande “lixão” subterrâneo?
Esse tipo de análise levanta questionamentos até do tipo: uma indústria pode ser circular e
não ser sustentável (ambientalmente, por exemplo)?
Apesar de uma razoável confusão no que realmente é economia circular, ele ainda
ganha mais adeptos provavelmente por causa de seu driver mais importante: o
desacoplamento do crescimento da utilização de recursos. Notícias de mares de plástico, de
que atingimos o limite de recursos da terra cada vez mais cedo ao longo do ano, são de fato
importantes mobilizadores sociais. Como mostra Ghisellini (2016), este desacoplamento já
foi identificado integralmente ou parcialmente em alguns setores de determinados países.
Um conceito ainda mais interessante proposto por Odum e Odum (2006) é o de ciclos de
crescimento e decrescimento, dado pela abundância ou escassez de recursos, assim como
existe nos organismos biológicos.
O artigo de Ghisellini (2016) coloca com uma de suas conclusões que: (1) a economia
circular não deve promover o crescimento indefinidamente, dado as limitações já discutidas
tanto físicas como econômicas, e (2) a economia circular pode ser vista então modelo um
modelo de transição do estágio de crescimento em que estamos, para estágios de
estagnação e depois para os estágios de decrescimento. Esse último estágio deve causar
arrepios à maioria dos economistas e industriais uma vez que decrescimento é visto como
sinônimo de regressão, pobreza e a falência. Entretanto, o desafio posto é de manter o bem-
estar econômico, social e ambiental mesmo em franco decrescimento. Esse ponto pode ser
um dos mais importantes no debate político-econômico mundial, uma vez que, os países
desenvolvidos, nos quais já atingiram seu nível aceitável de bem-estar, podem começar a
enfrentar os desafios de decrescer enquanto que os em desenvolvimento pode estender seu
crescimento até atingirem seus objetivos de bem-estar, para então também começarem a
decrescer.
A ideia de estagnação e decrescimento como parte natural do ciclo da sociedade dele
levar a mudanças fundamentais na mensuração de valor dentro da economia. Como
propõem Stahel (2016), o foco atual em medição do crescimento pelo produto interno bruto
(PIB) mede fluxos de entrada na economia, quando na verdade, com a economia circular, ele
deve passar a medir estoques. Indicadores como valor/peso ou homem-hora gasto/peso de
um produto são algumas ideias iniciais dessa transição.
As inúmeras vantagens propostas pelo modelo de economia circular são
aparentemente inerentes ao seu estágio inicial de conceituação. Assim como outros temas
como revolução digital, indústria 4G e biotecnologia, eles incentivam nossa imaginação a
pensar em futuros bem diferentes aos atuais, principalmente relacionados aos valores que
hoje temos como absolutos, tais como, crescimento econômico, privacidade digital, controle
de informações, confiança e ética genética. Apesar de tais tecnologias pregarem um
grandioso aumento do bem-estar da sociedade em pouco tempo, a transição pode não ser
tão rápida quanto esperado, devido a mudança dos valores citados. O exemplo de outras
tecnologias que incialmente se mostravam grounbreakers como o carro elétrico, os
biocombustíveis e as energias renováveis, mostram que os desafios nem sempre são tão
claros quanto os otimistas esperam.

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