You are on page 1of 2

Sophia de Mello Breyner:

Quando
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Olavo Bilac:

Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Sophia de Mello Breyner:
BIOGRAFIA
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de novembro 1919 no Porto, onde passou a
infância. Em 1939-1940 estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Publicou os
primeiros versos em 1940, nos Cadernos de Poesia. Na sequência do seu casamento com
o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares, em 1946, passou a viver em
Lisboa. Foi mãe de cinco filhos, para quem começou a escrever contos infantis. Além da
literatura infantil, Sophia escreveu também contos, artigos, ensaios e teatro. Traduziu
Eurípedes, Shakespeare, Claudel, Dante e, para o francês, alguns poetas portugueses.

As suas obras estão traduzidas em várias línguas e foram várias vezes premiadas, tendo
recebido, entre outros, o Prémio Camões 1999, o Prémio Poesia Max Jacob 2001 e o
Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana – a primeira vez que um português
venceu este prestigiado galardão. Com uma linguagem poética quase transparente e
íntima, ao mesmo tempo ancorada nos antigos mitos clássicos, Sophia evoca nos seus
versos os objetos, as coisas, os seres, os tempos, os mares, os dias.
Faleceu a 2 de julho de 2004, em Lisboa. Dez anos depois, em 2014, foram-lhe
concedidas honras de Estado e os seus restos mortais foram trasladados para o Panteão
Nacional.

Olavo Bilac:

BIOGRAFIA
Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de

dezembro de 1865. Cursou Medicina e Direito, sem ter concluído nenhum dos

cursos. Trabalhou como jornalista e inspetor de escola, dedicando boa parte de

seu trabalho e de seus escritos à educação.

A primeira obra publicada de Olavo Bilac foi “Poesias” (1888). Nela o poeta já

demonstra estar identificado com a proposta do Parnasianismo, como comprova

seu poema “Profissão de Fé”. A obra alcançou imediato sucesso e logo Bilac foi

considerado “O Príncipe dos Poetas Brasileiros”.

You might also like