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e Prática Médica
Segurança do Paciente
e Prática Médica
SBA
Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Rio de Janeiro
2014
Segurança do Paciente e Prática Médica
Copyright© 2014, Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer sistema, sem prévio consentimento da SBA.
Diretoria
Sylvio Valença de Lemos Neto
Oscar César Pires
Ricardo Almeida de Azevedo
Sérgio Luiz do Logar Mattos
Antônio Fernando Carneiro
Erick Freitas Curi
Getúlio Rodrigues de Oliveira Filho
Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia
Luis Antonio dos Santos Diego
Julio Cezar Mendes Brandão
João Henrique Silva
Coordenação técnica
Maria de Las Mercedes Gregoria Martin de Azevedo
Projeto gráfico, diagramação e capa
Marcelo de Azevedo Marinho
Revisão bibliográfica
Teresa Maria Maia Libório
Auxiliar técnico
Marcelo de Carvalho Sperle
Ficha catalográfica
S678s Segurança do Paciente e Prática Medica / Editores: Sylvio Valença de Lemos Neto, Luis Antonio dos
Santos Diego, Julio Cezar Mendes Brandão, João Henrique Silva e Antônio Fernando Carneiro
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesiologia/SBA, 2014.
128 p.; 25cm.; ilust.
ISBN 978-85-98632-28-5
Vários colaboradores.
1. Anestesiologia – Estudo e ensino. I. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. II. Lemos Neto,
Sylvio Valença de. III. Carneiro, Antônio Fernando. IV. Diego, Luis Antonio dos Santos . V.
Brandão, Julio Cezar Mendes. VI. Silva, João Henrique.
CDD - 617-96
AUTORES
Airton Bagatini
•• TSA-SBA - Presidente do Conselho Superior da SBA;
•• Instrutor Corresponsável pelo CET/SBA do SANE;
•• Gestor do Centro Cirúrgico do Hospital Ernesto Dornelles de Porto Alegre - RS.
Marisa Santos
•• Médica. Doutorado em epidemiologia;
•• Coordenadora do Núcleo de Avaliação de Tecnologias e do Mestrado Profissional em ATS do Instituto Nacional
de Cardiologia (INC-MS).
Capítulo 1
Segurança em Anestesia e Responsabilidade Educacional da SBA...................................................11
Antônio Fernando Carneiro, Fabiane Cardia Salman e Natália Luísa Lemes Garcia
Capítulo 2
Segurança do Paciente e Saúde Ocupacional.......................................................................................15
Antônio Fernando Carneiro e Fabiana Aparecida Penachi Bosco Ferreira
Capítulo 3
Bem-estar Ocupacional em Anestesiologia: Humanização e Segurança..........................................19
Gastão Fernandes Duval Neto
Capítulo 4
O Programa Nacional de Segurança do Paciente e o Anestesiologista.............................................31
Luis Antonio dos Santos Diego
Capítulo 5
Construção de um Sistema de Relato de Eventos Adversos em Anestesia........................................39
Julio Cezar Mendes Brandão
Capítulo 6
Segurança Biológica no Armazenamento de Produtos Anestésicos..................................................47
Camila da Silva Landgraf, Antônio Fernando Carneiro, Oscar César Pires, Rodrigo Cavalcante Carlos
de Carvalho e Murillo Bomfim Dalul
Capítulo 7
O Papel do Anestesiologista na Medicina Perioperatória: Prevenção da Infecção do Sítio
Cirúrgico..................................................................................................................................................51
Fabiana Aparecida Penachi Bosco Ferreira e Antônio Fernando Carneiro
Capítulo 8
A Utilização Segura de Medicamentos e o Anestesiologista..............................................................61
Fabiane Cardia Salman
Capítulo 9
Lista de Verificação Cirúrgica (Checklist) na Prática Anestesiológica.............................................69
Airton Bagatini e Cassiana Gil Prates
Capítulo 10
Identificação do Paciente e o Uso do Prontuário como Barreiras Efetivas da Segurança em
Anestesia ..................................................................................................................................................75
João Henrique Silva
Capítulo 11
A Importância da Simulação com Foco na Segurança do Paciente em Cirurgia .............................85
João Henrique Silva
Capítulo 12
Como Praticar a Segurança do Paciente no Centro Cirúrgico em Situações de Catástrofe...........93
Erick Freitas Curi, Carla Vasconcelos Cáspar Andrade e Carlos Eduardo David de Almeida
Capítulo 13
Avaliação de Tecnologia em Saúde e a Segurança do Paciente – Qual a interface?..........................97
Luis Antonio dos Santos Diego e Marisa Santos
Capítulo 14
O Futuro da Segurança nas Instituições de Saúde.............................................................................105
Airton Bagatini e Cassiana Gil Prates
Capítulo 15
Aspectos éticos da segurança do paciente em anestesia....................................................................121
Julio Cezar Mendes Brandão
PREFÁCIO
A definição de prefácio é dada a um texto introdutório de uma obra (livro), onde o prefaciador
descreve de forma sucinta o objetivo da obra, sua estrutura, conteúdos e conclusão.
Obedecendo aos princípios clássicos desse conceito, este livro é mais uma contribuição da
Sociedade Brasileira de Anestesiologia na busca incessante de eficácia nas medidas e ações de se-
gurança dos procedimentos anestésicos cirúrgicos.
A anestesiologia estabeleceu, nos últimos anos, um modelo de segurança para a redução dos
riscos e a morbimortalidade cujas estratégias, pelo alto índice de sucesso, outras especialidades
poderão seguir. A consequência da diminuição dos eventos adversos veio principalmente pela
melhoria da monitoração, criação e adoção de rotinas, pelo aprimoramento de novas técnicas e
criação de programas de gestão de segurança.
Sugiro ao associado que, ao ler Segurança do paciente e prática médica, imagine que todas
as palavras contidas nestes capítulos estariam copilando os dizeres de Hipócrates: Primum non
nocere (antes de tudo não cause dano, não prejudique o paciente).
É possível aprender um pouco de medicina conhecendo-se sua história, evolução e mudança de
cultura de uma forma geral. Estes novos conceitos de segurança tratam de temas atuais, de impor-
tância mundial, foco de atenção dos pacientes, com regulamentação governamental e prioridade
das fundações e sociedades de especialidades.
Entendemos que não é com a leitura desta obra que o associado vai obter todo conhecimento
de segurança ao seu alcance, uma vez que priorizamos aspectos essenciais como segurança de me-
dicamentos, riscos profissionais, programas nacionais de segurança, infecção e sua interação com
a anestesia e a importância da Sociedade Brasileira de Anestesiologia nesse contexto. Entretanto,
serve como semeadura de pensamentos e ideias que germinarão na consciência de cada profis-
sional instigando a todos a buscar os caminhos do conhecimento, o que nos aproxima daquele
princípio sagrado da medicina: “Aplicarei os tratamentos para o bem do doente segundo o meu
poder de entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém” (Juramento de Hipócrates,
460–377 a.C.).
Por isso, o livro Segurança do paciente e prática médica deve estar bem próximo de todos
os anestesiologistas que, diante de qualquer dúvida na prática diária de suas anestesias, possam
tê-lo como um dicionário, dando um significado teórico especial de ensino e aprendizado de
nossa especialidade.
Em suma, trata-se de obra útil e da melhor qualidade. Destina-se aos que se interessam pela
anestesia e buscam a segurança como meta em seus procedimentos.
Seu valor é inestimável, principalmente pelo seu corpo de editores, pela assistência incansável
da comissão de qualidade e segurança em anestesia da SBA e finalmente pela ação de sua diretoria
que não mediu esforços para garantir a sua edição.
Prefácio | 9
Capítulo 01
Segurança em Anestesia
e Responsabilidade
Educacional da SBA
Antônio Fernando Carneiro
Fabiane Cardia Salman
Natália Luísa Lemes Garcia
Segurança em Anestesia e Responsabilidade Educacional
da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA)
A palavra “segurança” tem origem no latim, na qual significa “sem preocupações” e cuja etimo-
logia sugere o sentido “ocupar-se de si mesmo”.
A segurança do paciente – dimensão da qualidade do cuidado de saúde – configura-se
como um tema de pesquisa amplamente estudado no cenário mundial. Estima-se que um a
cada dez pacientes internados em hospitais sejam vítimas de algum tipo de erro ou evento
relacionado à assistência e que, na maioria das situações, esses erros seriam passíveis de me-
didas preventivas.
A segurança do paciente tem sido considerada um atributo prioritário da qualidade dos siste-
mas de saúde do mundo. Sem dúvida, isso tem ocorrido por causa da contribuição de estudos epi-
demiológicos, que evidenciaram os efeitos indesejáveis da assistência à saúde causados por falhas
de qualidade. As notícias sobre erro, negligência, evento adverso e uma atenção à saúde insegura
causaram e causam grande alarme social e se espalharam por todos os âmbitos da sociedade, inclu-
sive entre os próprios profissionais de saúde.
A importância de gerenciar riscos se encontra em uma escala mais elevada atualmente, por
causa da crescente complexidade da epistemologia dos eventos que podem prejudicar a segu-
rança do paciente e a instituição. Nesse contexto, não são apenas os gestores que gerenciam
as ações, e sim todos os profissionais que fazem parte desse processo, no qual identificam,
mapeiam e monitoram riscos para atingir a excelência, preocupando-se com a segurança e a
satisfação do cliente.
Ao identificar riscos que afetam a segurança do paciente, surge a necessidade de analisá-los,
o que consiste em um processo sistemático de identificação, avaliação e tratamento das possíveis
perdas que afetam a saúde do cliente, assim como ocasionam a diminuição da clientela e da renta-
bilidade, bem como a perda de capital, prestígio profissional e imagem do estabelecimento.
Especificamente, as atividades nesse sentido podem focar o monitoramento de problemas de
segurança, a reação e solução dos problemas identificados por meio de monitoramento e o pla-
nejamento da segurança pela implantação sistemática de boas práticas de segurança, tudo isso
favorecido por um clima ou cultura benéfica em relação a esses esforços entre os profissionais
da organização.
A necessidade do fortalecimento de uma cultura de segurança em nível nacional constitui
medida fundamental da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) para o processo de melhoria
da segurança do paciente no contexto hospitalar.
A SBA considera que os pacientes têm o direito à expectativa de que estarão seguros e prote-
gidos contra quaisquer danos durante o tratamento médico, e a anestesiologia desempenha papel
fundamental na melhoria de sua segurança no período perioperatório.
A Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia da SBA (CQSA/SBA), que integra a Di-
retoria de Defesa Profissional, tem por finalidade estimular, entre os anestesiologistas brasileiros,
ações que resultem na melhoria contínua da qualidade e da segurança nos processos de atendimen-
to ao paciente no período perioperatório, por meio de gestão eficiente dos riscos; conhecimento;
pesquisa; ética e responsabilidade social.
Além do empenho nacional da SBA, a diretoria ampliou seu relacionamento com a Fede-
ração Mundial de Sociedades de Anestesiologia (WFSA), na qual participa com um membro
Segurança do Paciente e
Saúde Ocupacional
Antônio Fernando Carneiro
Fabiana Aparecida Penachi Bosco Ferreira
Segurança do Paciente e Saúde Ocupacional
Referências bibliográficas:
1. Bagatini A, Silva MS, Azevedo MMGM. Sociedade Brasileira de Anestesiologia: 65 Anos de História. Rio de Janeiro,
SBA, 2013.
2. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução nº 1.931/2009. Código de Ética Médica. Diário Oficial da União, 13 out 2009.
3. Duarte NMC. Recomendações da Sociedade Brasileira de Anestesiologia: nova abordagem para antigos desafios. Rev Bras
Anestesiol, 2011;61:531-2.
4. Duval Neto GF (Editor). Bem-Estar Ocupacional em Anestesiologia. Brasília, Sociedade Brasileira de Anestesiologia /
CFM, 2013.
5. Meneses JAG. Dilemas bioéticos na prática da anestesia. Rev Bras Anestesiol, 2001;51:426-30.
6. Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Estatuto, Regulamentos e Regimentos. Disponível em: http://www.sba.com.br/
normas_e_orientacoes/legislacao.asp
Bem-estar Ocupacional
em Anestesiologia:
Humanização e Segurança
Gastão Fernandes Duval Neto
Bem-estar Ocupacional em Anestesiologia:
Humanização e Segurança
Conceitos e Considerações
Iniciamos este capítulo com alguns conceitos/considerações que facilitam a compreensão do
tema em pauta.
“Os que têm saúde mental são aqueles capazes para o amor e o trabalho”1,2 , Freud.
Trabalhar é meio de prover sustento para o corpo e a alma. No trabalho, passamos a vida,
desenvolvemos nossa identidade, experimentamos situações, construímos relações, realizamos
nosso espírito criativo. E é também no trabalho que adoecemos.
A relação saúde e trabalho é objeto de estudo há vários anos, por vários autores3-7. Na era mo-
derna, a organização científica da atividade laboral8,9 – por meio de seus instrumentos de controle,
disciplina e fragmentação das tarefas – retirou do trabalhador (médico) a visão da totalidade do
processo, que, no fim, revela o fruto de seu trabalho. Nesse estado de alienação, perde-se o sentido
sensível do trabalho, que, então, frequentemente, se torna atividade penosa, não gratificante, cujo
retorno financeiro nunca é suficiente, ainda mais ao se considerar que os salários/ganhos dificil-
mente compensam o tempo de vida despendido. O que se ganha não paga o que se perde...
O trabalho na área da saúde tem um custo elevado para seus profissionais10. O ambiente insa-
lubre, o regime de turnos, os plantões extensos em tempo e frequência, as baixas remunerações, o
contato muito próximo com os pacientes, que mobiliza emoções e conflitos inconscientes, tornam
esses trabalhadores particularmente suscetíveis ao sofrimento psíquico e ao adoecimento, por
causa de sua atividade profissional.
Entretanto, apesar da importância desses aspectos (muitos deles inerentes à profissão), é cada
vez mais evidente que a organização do trabalho e seu modelo de gestão concentram os principais
fatores psicossociais relativos ao ambiente laboral presentes no adoecimento dos trabalhadores
da saúde11. Não à toa, em 2004, quando da implantação da Política Nacional de Humanização
(PNH), do Ministério da Saúde, elegeram-se os processos de trabalho e gestão como os principais
alvos das ações humanizadoras com as quais se pretende mudar a cultura institucional da atenção
à saúde para usuários e trabalhadores12 . Dos princípios norteadores da PNH destacam-se três
que sustentam as necessárias mudanças na organização do trabalho e gestão na saúde13:
• fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional, para fomentar a transversalidade;
• compromisso com a democratização das relações de trabalho;
• valorização dos profissionais da rede de assistência médica, com o estímulo de processos
de educação permanente.
No sentido contrário à realidade atual da maioria dos serviços de saúde, em que os trabalha-
dores pouco participam da gestão dos serviços, a PNH propõe como diretrizes essenciais para a
humanização das práticas de saúde a gestão participativa, a educação permanente e o redimensio-
namento do trabalho para a produção de subjetividades. Não se trata mais de pintar paredes e fazer
brinquedotecas ou recuperar a teoria do vínculo. Ainda que tudo isso seja muito importante para
a melhoria do espaço e das relações humanas, não haverá humanização se não houver profundas
mudanças na forma do fazer institucional referentes à gestão e à organização do trabalho, para
resgatar o protagonismo, a dignidade, o respeito e a sensibilidade dos trabalhadores, que se deseja
ver aplicados no cuidado aos pacientes14.
Bem-estar Ocupacional
O bem-estar ocupacional em medicina foi definido pela Organização Mundial da Saúde, em
2005, como: “A percepção individual do médico de sua posição na vida, incluída em um contexto
cultural e em um sistema de valores no qual sejam ponderadas suas relações de gratificação, expec-
tativa, conceito e críticas pessoais.”15
Por outro lado, outra definição pode ser aplicada ao termo: “Como eu me sinto mentalmente, fi-
sicamente e psicologicamente em cada momento de todos os dias, relativamente a minha atividade
ocupacional, a minhas relações de convivência e ao meio ambiente profissional no qual convivo?”
A maneira de responder a essa questão pode ser por meio de análise introspectiva sobre suas
individuais dificuldades e frustrações no manejo das situações ocupacionais consideradas es-
tressantes ou se você já se sente evoluindo para uma síndrome depressiva psicogênica por estar
constantemente submetido a condições ocupacionais vividas como estressantes especificamente
por você (caráter da individualidade na capacidade de percepção do estresse ocupacional).
Nesse sentido, é importante salientar alguns aspectos atuais da prática médica. Em saúde
ocupacional do médico, por causa da massificação do atendimento médico (volume de trabalho),
torna-se extremamente difícil a execução de estudos de elevada qualidade científica e, por conse-
guinte, atitudes efetivas na relação entre trabalho e trabalhador da medicina. Por outro lado, o
detalhado conhecimento dessa relação é de extremo interesse para o desenvolvimento de políticas
que visem à manutenção de um alto nível de bem-estar ocupacional para os trabalhadores da área
da saúde, com redução do impacto negativo do ambiente ocupacional do médico sobre sua saúde
física e psíquica.
Conclusões29,30,31,32,33,34,35,36,37,38.
Para que as instituições estabeleçam uma prática médica em prol da anestesiologia humaniza-
da, de elevado nível ético e segura para os pacientes anestésico-cirúrgicos, alguns alertas devem
ser levados em consideração.
Responsabilidades individuais
• Ter atenção aos pontos frágeis de sua saúde que podem impactar em sua performan-
ce profissional.
• Estar alerta à qualidade do bem-estar ocupacional.
• Procurar auxílio especializado se alterações em sua saúde forem detectadas.
• Ter cuidado com o fenômeno da fadiga ocupacional, principalmente se resultar em prática
clínica insegura (informar à instituição ou ao departamento responsável).
• Evitar regimes de trabalho que resultem em fadiga.
• Aceitar o limite ou a modificação de seu regime de trabalho se ele puser em risco a segu-
rança dos pacientes.
• Ter seguro (suporte) no caso de impedimento da prática médica por alteração da saúde ou
do bem-estar ocupacional.
Responsabilidades institucionais
O termo instituição refere-se às autoridades da área da saúde ou da administração de hospi-
tais, faculdades e/ou departamentos de anestesiologia que possuam influência executiva na prática
da especialidade, visando a seu bom desempenho em um ambiente saudável.
As instituições:
• deverão ter controle e uma abordagem efetiva na promoção do bem-estar ocupacional do
anestesiologista que comtemplem as diferentes necessidades dos profissionais (caráter
de individualidade);
Referências bibliográficas:
1. Freud S. Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise, em: Freud Sigmund: Edição Standard Brasileiras das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1980; v.12, p. 149-162.
2. Freud S. Sobre o narcisismo: uma introdução, em: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro, Imago, 1980; v.14, p. 89-121.
3. Cassel J. Psychosocial processes and “stress” theoretical formulation. Int J Health Serv, 1974;4:71-482.
4. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 2. ed. São Paulo, Cortez: Oboré, 1987.
5. Rego RA. Trabalho e saúde: contribuição para uma abordagem abrangente. Dissertação - FMUSP, São Paulo, 1987.
6. Kristensen TS. The demand-control support model: methodological challenges for future research. Stress Med, 1995; 11:17-26
7. Siegrist J. Adverse health effects of high-effort/low-reward conditions. J Occup Health Psychol, 1996;1:27-41.
8. Paraguay AIBB. Da Organização do Trabalho e Seus Impactos sobre a Saúde dos Trabalhadores, em: Mendes R. Patologia do
Trabalho. 2ª Ed. São Paulo, Atheneu, 2003;811-23.
9. Lacaz FAC, Sato L. Humanização e qualidade do processo de trabalho em saúde, em: Deslandes S. Humanização dos Cuidados
em Saúde: conceitos, dilemas e práticas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006;109-139.
10. Pitta A. Hospital: dor e morte como ofício. São Paulo, Hucitec, 1990.
11. Araújo TM, Aquino E, Menezes G et al. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadora de enfer-
magem. Rev Saúde Pública, 2003;37:424-33.
12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS:
Política Nacional de Humanização. Brasília, Ministério da Saúde, 2004.
13. Brasil. Ministério da Saúde. A educação permanente entra na roda: polos de educação permanente em saúde, Brasília, DF, 2005.
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/educacao_permanente_entra na_roda.pdf.
14. Backes DS, Lunardi Filho WD, Lunardi VL. O processo de humanização do ambiente hospitalar centrado no trabalhador. Rev
Esc Enferm USP, 2006;40:21-227.
15. World Health Organization. http://www.who.int/occupational_health/network.
O Programa Nacional de
Segurança do Paciente e
o Anestesiologista
Luis Antonio dos Santos Diego
O Programa Nacional de Segurança do Paciente
e o Anestesiologista
O Brasil compõe a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, proposta no âmbito da
Organização Mundial da Saúde em 2004 e, desse modo, firmou o compromisso de adaptar os servi-
ços de saúde no país às premissas de redução de risco no setor. No início do mês de abril de 2013, o
Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 529, que apresenta o Programa Nacional de Segurança do
Paciente (PNSP)1. Em seguida, a Anvisa também publicou a Consulta Pública nº 9, com a qual a SBA
contribuiu, com possíveis ações de vigilância sanitária para a segurança do paciente em serviços de
saúde que resultou, posteriormente, na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 36/2013.
Ambas podem ser consideradas um marco importantíssimo na política de segurança do
paciente em nosso país, já que apontam para ações de qualificação do cuidado em saúde em
todos os estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS; art. 2º do PNSP) e, para tanto, preten-
dem apoiar a implementação de iniciativas direcionadas à segurança do paciente, por meio das
gerências de risco e de núcleos de segurança do paciente, a serem instituídos nos EAS, os quais
deverão, entre outras ações, promover a elaboração de protocolos, guias e manuais de segurança
do paciente na instituição, além de monitorar a prática segura por meio de indicadores, esti-
mular o maior envolvimento de pacientes e familiares no cuidado e, por fim, ser o embrião da
cultura da segurança na instituição.
Assim, sobressai, na referida portaria, a urgência de se criar uma “cultura da segurança”, na qual
todas as partes envolvidas assumem responsabilidades pela própria segurança, pela segurança de
seus colegas, pacientes e familiares, o que denota consonância com o conceito atual de abordagem
sistêmica dos incidentes, ou seja, um olhar mais abrangente. O engajamento de profissionais, pa-
cientes e familiares na prevenção de incidentes evita muitos processos de responsabilização civil.
Observa-se o reconhecimento de que a ocorrência de erros é mais consequência do que causa,
e é uma realidade, em qualquer atividade humana, principalmente nas mais complexas, como mui-
tos procedimentos realizados na área da saúde. Estratégias organizacionais relacionadas à gestão
da qualidade e da segurança vão favorecer a compreensão da causa raiz dos incidentes e, por fim,
permitir a articulação de ações preventivas. A cultura da segurança deve, portanto, ser prioritária,
ou seja, sobrepujar valores financeiros e operacionais (art. 3º, item V, alínea “c” da portaria 529/13),
de tal forma que o risco de dano ao paciente seja reduzido a um mínimo aceitável (art. 4º, item I).
Também foi criado o Comitê de Implementação do PNSP (CIPNSP), com a finalidade de pro-
mover ações que visem à melhoria da segurança do paciente, entre elas a proposição e validação
de protocolos em diversas áreas e setores, inclusive na anestesiologia (art. 7º, item 1, alínea b). A
Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), historicamente comprometida com esses princípios,
há muito vem participando de ações direcionadas ao estudo e à melhoria da segurança no Brasil,
como na participação da elaboração da Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.802, de
dezembro de 2006. Outras atividades da SBA podem ser conferidas no portal da sociedade2 .
As ações no âmbito do ensino em diversos níveis da área da saúde – técnico, graduação e pós-gra-
duação – são também contempladas no PNSP. Desse modo, os futuros profissionais não mais terão que
aguardar a inserção no mercado de trabalho para conhecer os princípios que norteiam a qualidade e a
segurança do paciente e virem, então, a perceber que a cultura da segurança nos EAS está, irremediavel-
mente, indissociável da prática assistencial. De novo, a SBA se mostra pioneira: há cerca de três anos, o
programa dos centros de ensino e treinamento já apresenta esse tópico aos médicos em especialização
(ME), além de prover material pedagógico apropriado (também disponível no portal da SBA)3.
Sendo o NSP o responsável pelo monitoramento dos incidentes e eventos adversos, o art. 10º
da RDC 36 determina que “a notificação dos eventos adversos (...) deve ser realizada mensalmente
pelo NSP, até o 15º (décimo quinto) dia útil do mês subsequente ao mês de vigilância, por meio
das ferramentas eletrônicas disponibilizadas pela Anvisa”. E ainda: “Os eventos adversos que evo-
luírem para óbito devem ser notificados em até 72 (setenta e duas) horas a partir do ocorrido.” Em
contrapartida, a própria Anvisa se compromete, em articulação com o Sistema Nacional de Vigi-
lância Sanitária, a monitorar os dados sobre eventos adversos notificados pelos serviços de saúde;
divulgar relatório anual sobre eventos adversos com a análise das notificações realizadas pelos
serviços de saúde e acompanhar, junto com as vigilâncias sanitárias distrital, estadual e municipal,
as investigações sobre os eventos adversos que evoluíram para óbito.
Conclusão
O PNSP determina ações contundentes que podem modificar a questão da segurança do pa-
ciente no contexto da saúde no Brasil. São diversas as obrigações que envolvem as instituições
responsáveis, como o próprio Ministério da Saúde e outros organismos que atendem ao SUS, as
operadoras de saúde, os estabelecimentos assistenciais de saúde, os profissionais de saúde e toda
a comunidade, especialmente os representantes de grupos de pacientes e dos cidadãos em geral.
A adequação dos requisitos às peculiaridades locais e como a gestão – nas diversas instâncias
do sistema de saúde – vai perceber a importância do programa e interceder nas zonas de influência
dependerão da maior rapidez com que as medidas venham a se mostrar úteis e efetivamente redu-
zir danos relacionados à segurança do paciente.
O anestesiologista encontra, nesse momento de implantação dos Núcleos de Segurança do
Paciente, uma oportunidade de participação ativa na gestão da qualidade e segurança nos estabe-
lecimentos assistenciais de saúde.
A anestesiologia, especialidade que é, desde sua origem, a essência da segurança perioperatória,
não deve se eximir de participar da estrutura que ora se apresenta no bojo do PNSP, pois poderá,
simultaneamente, muito contribuir e muito aprender.
Construção de um Sistema
de Relato de Eventos
Adversos em Anestesia
Julio Cezar Mendes Brandão
Construção de um Sistema de Relato de Eventos
Adversos em Anestesia
Eventos adversos são lesões ocorridas de forma não intencional, causadas por condutas mé-
dicas, e não pela evolução natural da doença. Tais eventos podem ser determinantes para o pro-
longamento da internação e o agravamento da doença inicial e podem aumentar a morbidade e a
mortalidade do paciente no ambiente hospitalar e após a alta.
Um dos maiores obstáculos para se definir a frequência com que ocorre uma reação adversa é a
subnotificação das suspeitas. Em se tratando das reações adversas relacionadas ao uso de medicação,
outro problema é a incerteza em se estimar o número de pacientes que fazem uso de determinado
medicamento. Um dos vieses se dá proporcionalmente, pela detecção mais frequente dos eventos ad-
versos mais graves, já que os não graves são pouco notificados e, muitas vezes, passam despercebidos.
No ano de 1998, as reações adversas a medicamentos foram apontadas como a quarta causa
mais frequente de morte nos Estados Unidos, superada apenas por infarto do miocárdio, câncer e
acidentes vasculares cerebrais. Esses eventos são habitualmente passíveis de prevenção. Os even-
tos adversos no campo de medicamentos causaram aumento significativo na duração e no custo da
hospitalização, com prolongamento de 1,74 dia, em média. Além disso, foi demonstrado aumento
no risco de morte de 1,88 (p < 0,001) nos pacientes que apresentaram evento adverso, ou seja,
cerca de duas vezes maior em relação aos outros pacientes.
Na busca pela prevenção de ocorrência de eventos adversos, houve várias tentativas de reconhe-
cê-los, sem grandes repercussões. Em 1999, um estudo feito na Universidade de Harvard, Estados
Unidos, com o título “Errar é humano”, evidenciou que tais eventos são muito mais comuns do que
se parecia, despertou interesse maior sobre o assunto e chamou muito a atenção da comunidade
científica internacional. Logo após esse estudo, foram publicados outros trabalhos no mesmo ano,
mostrando que, em média, poderiam se atribuir aos eventos adversos cerca de 48-98 mil mortes
anuais nos Estados Unidos.
A partir disso, foram implementados trabalhos para avaliar métodos de detecção de eventos
adversos, e o grande desafio tornou-se a criação de um sistema eficiente, com baixo custo, que
trouxesse menos ônus ao sistema e que agregasse informações suficientes para se implementarem
políticas que norteassem medidas para a diminuição da prevalência desses eventos adversos.
Como regra, no Brasil, todos os profissionais de saúde devem notificar as reações adversas,
sendo mais incentivadas as notificações de reação medicamentosa, mesmo quando existe dúvidas
quanto sua relação com determinado medicamento utilizado. A notificação deve ser remetida às
instituições de saúde, desde que haja profissional designado especificamente para recebê-las, aos
centros de vigilância locais ou diretamente ao Centro Nacional de Monitorização de Medicamen-
tos, sediado da Unidade de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-
visa). O formulário de notificação de suspeita de reação adversa a medicamento poderá ser preen-
chido e enviado, por meio eletrônico, através do Notevisa, sistema de notificações em vigilância
sanitária, no site da Anvisa. Porém, até mesmo na área de saúde essa fonte é pouco conhecida.
A comunicação espontânea de eventos adversos é estatisticamente baixa, e tal fato pode esconder
problemas como medo dos profissionais em relação a uma possível punição, críticas, consequências
etc. Pode ainda levar à perda parcial de dados e tornar o banco de dados enviesado. Na área da saúde
e, em especial, no centro cirúrgico, é fundamental que os profissionais tenham consciência de que
eventos adversos podem acontecer e que estes não são tão incomuns. Dessa forma, é importante ter
em mente a necessidade dos sistemas e circuitos no local de trabalho que gerarão sinais de alerta para
A detecção de eventos adversos por meio de softwares encontra informações relevantes mais pre-
cocemente e pode ajudar na prevenção de novas ocorrências. O objetivo não é só detectar, mas fazer
estudos de prevalência, dar treinamento, orientar, fornecer esclarecimentos, promover mudança de
tática nos treinamentos das equipes, focando nos eventos mais comuns, levando o sistema de detec-
ção de informações a servir como fator importante de profilaxia também. Por meio desse sistema,
existe a perspectiva de melhorar a eficiência, a efetividade e a qualidade dos serviços prestados.
Avisos espontâneos de eventos adversos intra-hospitalares são insuficientes e abrangem um
leque pequeno da realidade. O uso de técnicas de informática é uma grande ferramenta para a
detecção de eventos adversos. Essa ferramenta é mais acurada e mais custo-efetiva, levando a
menos gastos e melhor implementação de políticas para a prevenção dos eventos adversos mais
comuns em determinado hospital. Pesquisas e publicações vão dar cada vez mais validação aos
novos instrumentos utilizados na obtenção de dados de eventos adversos.
Apêndice
Checklist para o desenvolvimento de um sistema de relato de eventos adversos:
1. Esclarecer objetivos
• Aprendizado
• Contabilização
• Ambos
2. Quais tipos de aprendizado são prioridade?
• Alertas relacionados a novos riscos
• Lições aprendidas pelo hospital
• Análise de tendências
• Análise de sistema de falhas
• Recomendações para melhores práticas
3. Voluntário ou obrigatório?
• Voluntário
• Obrigatório
4. Divulgação confidencial ou pública?
• Confidencial
• Divulgação pública de relatos individuais
• Divulgação pública de análises de tendências
Segurança Biológica
no Armazenamento de
Produtos Anestésicos
Camila da Silva Landgraf
Antônio Fernando Carneiro
Oscar César Pires
Rodrigo Cavalcante Carlos de Carvalho
Murillo Bomfim Dalul
Segurança Biológica no Armazenamento
de Produtos Anestésicos
Em 1846, o médico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865) comprovou a íntima
relação entre a febre puerperal e os cuidados de higiene dos médicos. Desde essa comprovação,
as mãos dos profissionais de saúde vêm sendo implicadas na transmissão de microrganismos
no ambiente hospitalar1. A contaminação das mãos dos profissionais de saúde pode ocorrer
tanto pelo contato direto com o paciente como indireto, por meio de produtos e equipamen-
tos ao seu redor.
Bactérias multirresistentes e fungos podem fazer parte da microbiota transitória das mãos e,
através desse veículo, podem ser disseminados entre os pacientes2 .
Estudo recente demonstrou que as mãos dos anestesiologistas atuam como importante origem
de contaminação nos procedimentos executados na sala de cirurgia. A correta higienização é fun-
damental para a prevenção de complicações infecciosas3. Assim, cuidados básicos são essenciais
como medidas de segurança nos procedimentos da anestesia, incluindo a lavagem das mãos do
anestesiologista entre cada paciente assistido4,5.
Estudos adicionais mostram que a lavagem das mãos é considerada um dos componentes mais
importantes da técnica asséptica a ser empregada para a realização de procedimentos anestésicos6.
A assepsia adequada sempre deve ser empregada no preparo da anestesia regional, tanto nas técni-
cas com punção única quanto nas que utilizam cateteres.
Diversos tipos de material destinados aos serviços de saúde são produzidos e etiquetados pelos
fabricantes como de uso único, garantindo segurança tanto na função quanto na esterilização do
produto e evitando qualquer possibilidade de infecção cruzada.
Na anestesia regional, os produtos utilizados são considerados críticos, por entrarem em conta-
to direto com tecidos estéreis, conforme a classificação de Alvarado (1994)7.
Estima-se que são gastos anualmente na Europa cerca de 72,6 bilhões de euros em produtos
descartáveis e de uso único. Por causa dos elevados custos, o reprocessamento de material desti-
nado a uso único é realidade em diversas partes do mundo, inclusive em alguns países desenvolvi-
dos8. Embora estudos mostrem economia de 49% no custo direto de material médico considerado
de uso único quando reprocessado, a literatura não fornece evidências suficientes para a adoção
dessa prática9.
No Canadá, a prática de reprocessamento e reúso de material ainda existe em 28% dos hospi-
tais. Os autores a consideram uma prática alternativa e de fator econômico relevante, mas alertam
que os riscos de infecção e de outras complicações não justificam sua adoção7,9.
O reprocessamento pode afetar o produto nos aspectos mecânico, térmico e químico, compro-
metendo seu efetivo desempenho. O produto reprocessado deve ser equivalente, em segurança,
ao fornecido pelo fabricante, o que significa que o paciente não pode ser exposto a qualquer tipo
de risco10,11.
Para realizar anestesia regional, o anestesiologista utiliza diferentes tipos de anestesia ou se-
dação, sendo real o risco de eventos adversos no manuseio dos fármacos durante essa atividade.
As reações adversas a medicamentos foram descritas como a quarta causa mais frequente de
morte nos Estados Unidos, superada apenas por infarto do miocárdio, câncer e acidentes vascula-
res cerebrais. Os eventos adversos oriundos de erro de medicamento causaram aumento significa-
tivo na duração e no custo da hospitalização.
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O Papel do Anestesiologista
na Medicina Perioperatória:
Prevenção da Infecção do
Sítio Cirúrgico
Fabiana Aparecida Penachi Bosco Ferreira
Antônio Fernando Carneiro
O Papel do Anestesiologista na Medicina Perioperatória:
Prevenção da Infecção do Sítio Cirúrgico
Avaliação pré-operatória
Além da avaliação clínica realizada pelo médico anestesiologista, a avaliação pré-operatória
estimula uma relação de confiança entre o anestesiologista e seu paciente, com discussão e escla-
recimento do ato anestésico-cirúrgico que será realizado e, consequentemente, a concordância
e o consentimento dele para o procedimento. Essa avaliação proporciona também o preparo do
paciente, que poderá escolher o melhor momento para o procedimento proposto, por meio de
uma estimativa de risco. A aplicação de modelos de predição de risco é necessária, pois permite a
identificação de comorbidades, limita a exposição individual a eventos adversos, promove o desen-
volvimento de algoritmos institucionais para estratégias mais efetivas, otimizando os resultados, e
estimula a difusão do conhecimento pela utilização da mesma linguagem científica11.
Tendo como objetivo a redução da ISC, o anestesiologista deve aconselhar a intervenção em
vários sistemas. Deve aconselhar seu paciente a parar de fumar o mais rápido possível (há evidên-
cias de recuperação pulmonar mais rápida em cirurgia de grande porte e melhor cicatrização da
ferida cirúrgica quando a interrupção do tabagismo for igual ou superior a oito semanas)12,13.
Outro fator de risco que necessita de intervenção pré-operatória e que está relacionado ao
aumento do índice de infecção é o diabetes mellitus (DM), sobretudo quando associado à des-
nutrição14 ou à obesidade, esta descrita em cirurgia cardíaca, na qual a validação de um escore
australiano mostra aumento significativo do risco quando ligado à obesidade mórbida15. Os obje-
tivos da avaliação clínica e laboratorial do paciente com DM são evitar hipoglicemia, cetoacidose e
hiperglicemia, inclusive no pós-operatório imediato, e conservar o balanço hidroeletrolítico, sen-
do desejável a manutenção de níveis intra e pós-operatórios que variem de 140 a 200 mg/dL16,17.
Deve haver intervenção e reorientação, inclusive multidisciplinar (nutricionista), quando existir o
diagnóstico de obesidade e/ou desnutrição.
A transfusão intraoperatória também está associada ao aumento de risco de infecção no
pós-operatório imediato. A avaliação pré-operatória permite a estimativa do risco de sangra-
mento cirúrgico e a escolha da estratégia para a transfusão a ser utilizada no intraoperatório
(restritiva versus liberal), além da programação de técnicas de recuperação de sangue autólo-
go (cell saver)18 .
Antibioticoprofilaxia
Os dois fatores mais importantes no controle da ISC são atenção à técnica operatória e antibioti-
coprofilaxia adequada, ou seja, administração do antibiótico apropriado, com intervalos regulares
e no momento exato para garantir níveis sanguíneos e teciduais acima da concentração inibitória
mínima (CIM) dos patógenos que podem ser encontrados durante determinado procedimento.
Apesar de ser simples e comprovadamente eficaz, muitas vezes não é realizada adequadamente e
se torna ineficaz na prevenção da ISC, podendo até mesmo criar micro-organismos resistentes.
Controle glicêmico
Está bem estabelecido que o diabetes é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de
infecção no paciente cirúrgico, e, até mesmo em não diabéticos, a hiperglicemia está associada
com o aumento da morbimortalidade. Muitos estudos recentes já demonstraram correlação entre
a presença de hiperglicemia e a IFC16,17,19.
O aumento da glicose em voluntários sadios diminui transitoriamente o número total de linfó-
citos e desativa imunoglobulinas pela glicosilação não enzimática e a glicosilação da fração C3 do
complemento, bloqueando sua ligação com as bactérias. Já foi demonstrado que os neutrófilos de
pacientes diabéticos apresentam déficits na quimiotaxia e diminuição na capacidade de fagocitose
e da função bactericida. Já foi apresentada a recuperação dessas funções em ambientes normogli-
cêmicos em estudos in vitro29.
Embora exista a necessidade de estudos randomizados para estabelecer um controle rígido no
perioperatório, as evidências orientam este caminho: níveis glicêmicos acima de 200 mg/dl são
inapropriados para o paciente no intraoperatório.
Transfusões sanguíneas
Anemia per e pós-operatória é um fator de risco para o desenvolvimento de infecção no pacien-
te cirúrgico, já demonstrado por vários estudos, alguns limitados pelo número de pacientes ou por
serem retrospectivos, mas há estudos bem desenhados que comprovam a associação entre transfu-
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A Utilização Segura
de Medicamentos e
o Anestesiologista
Fabiane Cardia Salman
A Utilização Segura de Medicamentos
e o Anestesiologista
Introdução
O termo evento adverso (EA) refere-se ao aparecimento de um problema de saúde causado pelo
cuidado, e não pela doença de base, ou seja, “uma lesão não intencional que resultou em incapaci-
dade temporária ou permanente e/ou prolongamento do tempo de permanência ou morte como
consequência do cuidado prestado”. São observados eventos adversos oriundos de procedimentos
cirúrgicos, utilização de medicamentos, procedimentos médicos, tratamento não medicamento-
so, demora ou incorreção no diagnóstico.
Evento adverso relacionado a medicamentos (EAM) é qualquer dano apresentado pelo pacien-
te que possa ser atribuído a medicamentos. Os EAM são responsáveis por cerca de 20% do total de
casos observados, atrás apenas daqueles associados a procedimentos cirúrgicos. Os EAM podem
decorrer da utilização adequada e/ou inadequada de fármacos clinicamente necessários ou mesmo
da falta de acesso a eles. Os erros de medicação, por sua vez, em decorrência do setor do hospital
que o originou, podem ser classificados em relação à prescrição, distribuição e administração.
Erro de medicação (EM) é definido como um incidente evitável, ocorrido em qualquer fase
da terapia medicamentosa, que pode ou não causar danos ao paciente, sendo um dos principais
motivos de morbimortalidade em pessoas hospitalizadas.
Para estabelecer um sistema de prevenção aceitável, é preciso, primeiro, admitir que errar é da
natureza humana, ou seja, independentemente do treinamento e do cuidado das pessoas, erros
acontecem em qualquer processo humano. Também é necessário admitir que o sistema permite
erros que não são só fruto da incompetência ou de falha humana. Consequentemente, punir ou
eliminar o responsável pelo erro não vai modificar as deficiências latentes do sistema, sendo possí-
vel que o mesmo erro aconteça novamente. É interessante analisar o erro e identificar como, onde
e por que ele aconteceu.
Em um estudo sobre prevenção, Leape et al mostraram que as razões mais comuns de erros re-
lacionados ao uso de medicamento foram falta de conhecimento sobre o fármaco (22%) e de infor-
mação sobre o paciente (14%). A falha mais comum foi a disseminação incorreta de informações
sobre os medicamentos, especialmente para os médicos, o que eles atribuíram como responsável
por 29% dos erros analisados, seguida de falta de informação adequada sobre o paciente, associada
com 18% dos erros. Sete dos 16 erros do sistema explicavam praticamente 80% dos erros e todos
eles estavam relacionados a problemas na disseminação de informação.
Apesar de raramente notificados, os erros relacionados a medicamentos durante anestesia acon-
tecem e podem estar associados a eventos mais graves, como óbito ou parada cardiorrespiratória.
O objetivo da redução dos EM nos centros cirúrgicos implica, por exemplo, a instituição de
organização sistematizada das gavetas de medicamentos e da área de trabalho, com atenção à
disposição de ampolas e seringas, separação de medicamentos semelhantes ou perigosos e remo-
ção de fármacos que oferecem risco, além da detecção e da análise dos EM.
A prática da anestesiologia requer a administração de uma ampla variedade de drogas que
são frequentemente aplicadas em ambientes com pouca visibilidade e múltiplas distrações.
São ministrados medicamentos de ações muito diferentes, como relaxantes musculares,
opioides, vasopressores e vasodilatadores, que são, muitas vezes, aplicados simultaneamente.
Por causa da alta potência, variedade, frequência e semelhança de embalagens e nomes das
Conclusão
Os erros de medicação, que por definição são evitáveis, atualmente se apresentam como um
sério problema de saúde pública, levando a perdas de vidas e desperdício importante de recursos
financeiros. A abordagem sistêmica dos erros de medicação poderá revelar as falhas do processo,
sendo possível implementar melhorias, diminuindo, assim, a ocorrência desses eventos.
A etapa de administração é a última barreira para evitar um erro de medicação fruto dos
processos de prescrição e dispensação, aumentando, com isso, a responsabilidade do profissio-
nal que administra os medicamentos. Um erro na administração de medicamento pode trazer
graves consequências aos pacientes, razão pela qual devem ser observados a ação, as interações
e os efeitos colaterais.
Uma política de incentivo à melhoria da segurança do uso de medicamentos, centrada em
trabalho em equipe, notificação e ambiente não punitivo, deve servir para estabelecer a saúde. Por
outro lado, o avanço das ações depende, em grande parte, da ampliação de relatos sobre estraté-
gias e dificuldades de gerenciamento de eventos adversos relacionados a medicamentos, tanto no
âmbito público como no privado.
A anestesia e o ambiente do centro cirúrgico são considerados sistemas complexos, firmemente
acoplados e não lineares, e, portanto, um pequeno erro pode gerar consequências catastróficas. O
estímulo à notificação desses incidentes nesses ambientes e posterior análise e desenvolvimento
de ações de melhoria, mesmo de incidentes que não atingiram o paciente, são fundamentais para
prevenir erros relacionados a medicamentos em anestesia e no período perioperatório.
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Lista de Verificação
Cirúrgica (Checklist) na
Prática Anestesiológica
Airton Bagatini
Cassiana Gil Prates
Lista de Verificação Cirúrgica (Checklist)
na Prática Anestesiológica
“Com o checklist, conseguimos, de forma indireta, aprender
a trabalhar em equipe. O cuidado com o paciente não pode ser
responsabilidade de apenas um ator, mas de todo um elenco (cirurgião,
anestesista e enfermagem). O checklist da cirurgia segura está rompendo
o paradigma do individualismo assistencial.”
Airton Bagatini
Esforços especiais têm sido dedicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no sentido
de melhorar a qualidade e a segurança da assistência hospitalar. Em 2004, essa organização lançou
a Aliança Mundial pela Segurança do Paciente, por meio da qual estabeleceu três desafios globais a
serem implementados nas instituições de saúde no mundo: o primeiro, diz respeito à higienização
das mãos e foi denominado “Uma assistência limpa é uma assistência mais segura”; o segundo,
lançado em junho de 2008, está relacionado à redução de complicações e mortalidade associadas
aos procedimentos cirúrgicos, “Cirurgias seguras salvam vidas”; o terceiro refere-se ao combate da
resistência bacteriana1.
Estima-se que, no mundo, cerca de 234 milhões de grandes intervenções cirúrgicas sejam
realizadas anualmente, o equivalente a uma cirurgia para cada 25 pessoas. Complicações periope-
ratórias que resultem em dano (permanente ou não) ou em prolongamento do tempo de interna-
ção podem acometer de 0,3% a 25% dos pacientes, o que significa que até 7 milhões de pacientes
podem sofrer alguma complicação pós-operatória. A taxa de mortalidade pode variar de 0,4% a
10%, dependendo do porte cirúrgico, da complexidade e das condições sociodemográficas, o que
significa que pelo menos 1 milhão de pacientes morrem a cada ano de complicações relacionadas
com procedimento cirúrgico, e 50% delas são consideradas evitáveis2 .
Diante desses números, a OMS estabeleceu uma meta para a redução das taxas de infecção do
sítio cirúrgico em 25% até o ano 2020, o que implicaria significativa queda da morbidade (compli-
cações) e da mortalidade. A infecção hospitalar contribui para o aumento da permanência hospi-
talar (10 a 15 dias), do risco de reospitalização (cinco vezes) e da necessidade de terapia intensiva
(1,6%), além disso, duplica a mortalidade e tem um custo estimado, nos Estados Unidos, de 10
bilhões de dólares por ano3.
Das áreas da medicina, a anestesia foi a pioneira na implantação de ações de segurança do pacien-
te. Na década de 1970, morria um paciente para cada 5 mil anestesias. Com a melhora da tecnologia
e do conhecimento e a adoção de um checklist anestésico, processo presente em toda a cultura de se-
gurança, em 2000, a taxa de mortalidade caiu para um paciente a cada 250 mil anestesias. Contudo,
uma relação nociva permanece na África Subsaariana, de um óbito para 100 anestesias3.
A prevenção de eventos e de complicações perioperatórias deve iniciar muito antes da anestesia
propriamente dita e terminar após a recuperação anestésica, como indicado a seguir4:
1. O paciente deve ser avaliado por um anestesista antes da administração da anestesia.
2. O profissional deve assegurar que o equipamento necessário está presente e funciona cor-
retamente antes de iniciar os cuidados anestésicos.
3. Deve ser assegurado que a assistência esteja disponível quando necessário e que o aneste-
sista seja competente para resolver eventos adversos durante o ato cirúrgico.
A assistência cirúrgica segura deve seguir uma estrutura estabelecida para os cuidados com os
pacientes no transoperatório4. Isso envolve uma sequência rotineira de eventos – cada uma destas
etapas apresenta riscos específicos, que devem ser identificados e analisados visando sua mitigação
ou eliminação: avaliação pré-operatória do paciente, intervenção cirúrgica e preparação correta
para a assistência pós-operatória.
Na fase pré-operatória, a obtenção do consentimento informado; a confirmação da identidade
do paciente, do sítio a ser operado, da demarcação do local a ser operado e do procedimento a ser
realizado; a verificação da segurança dos equipamentos de anestesia e dos fármacos e a existên-
cia e disponibilidade de exames diagnósticos, bem como o prontuário completo do paciente e o
preparo adequado para ocorrências transoperatórias, são etapas suscetíveis a falhas que, caso não
identificadas, podem contribuir para a ocorrência de um evento adverso.
Durante a fase operatória, o uso adequado e sensato de antimicrobianos; a disponibilidade
de imagens essenciais; a monitorização adequada do paciente; o trabalho de equipe eficiente; a
confecção de relatórios competentes da anestesia e da cirurgia; a implantação de técnica cirúrgica
meticulosa e comunicação eficiente entre os membros das equipes de várias áreas (cirurgia, anes-
tesia e enfermagem) são requisitos necessários para assegurar bons resultados.
Na fase pós-operatória, claro plano de assistência, compreensão a respeito de ocorrências
transoperatórias e comprometimento com a melhoria da qualidade podem fomentar a assistência
cirúrgica, aumentando, dessa forma, a segurança do paciente e melhorando os resultados4.
Identificação do Paciente
e o Uso do Prontuário
como Barreiras Efetivas da
Segurança em Anestesia
João Henrique Silva
Identificação do Paciente e o Uso do Prontuário como
Barreiras Efetivas da Segurança em Anestesia
A falha na identificação do paciente continua ocorrendo em hospitais, o que causa medicação
inadequada, indivíduo errado ser levado para sala de cirurgia, procedimento na parte equivocada
do organismo e/ou ainda do lado oposto ao correto.
A World Health Organization (WHO; Organização Mundial da Saúde [OMS]) e as organi-
zações como Joint Commission International (JCI) continuamente analisam os fatos e propõem
métodos para diminuir o impacto e a frequência desses eventos.
A Importância da
Simulação com Foco na
Segurança do Paciente
em Cirurgia
João Henrique Silva
A Importância da Simulação com Foco na Segurança do
Paciente em Cirurgia
A medicina e a anestesia em geral atravessam fase de turbulência em que os danos evitáveis em
pacientes hospitalizados alcançaram números alarmantes.
O livro “Quando Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro” foi publicado, em
1999, pelo Institute of Medicine (IOM), havia 98 mil eventos adversos evitáveis a cada ano entre os
pacientes internados. O alerta motivou a Organização Mundial da Saúde (OMS) e toda a comu-
nidade de saúde à procura de causas. Entretanto, atualizando para 2013, observa-se um aumento
para 210 mil eventos anuais, podendo ser considerada a terceira causa de morte.
Nas raízes da problemática encontram-se aspectos culturais e humanos. Reagindo contra essa
constatação, a palavra de ordem nas instituições hospitalares atual é promover melhor qualidade
e segurança, principais armas contra os riscos latentes nas mencionadas instituições; como conse-
quência, poupam-se vidas e economizam-se recursos1.
A mudança ou o acréscimo de cultura que se acredita necessário e - espera-se! - resultará em
hospitalizações menos inseguras, tem na área da aviação um exemplo a ser seguido, de efetiva
transformação2 . Nos últimos 30 anos houve, na navegação aérea, importantes mudanças geradas
pelo entendimento de que, por exemplo, a hierarquia entre os membros de uma aeronave em
que o comandante, considerado o chefe supremo, não aceitava críticas ou contestações das suas
ações causavam, por si só, muitos acidentes. O processo cultural que se iniciou então, com muitas
barreiras humanas, foi no sentido de o que realmente garantia manejo mais seguro era o bom
treinamento e a otimização do relacionamento entre os membros das equipes. Mais tarde passou-
-se a entender que toda corporação deveria ter o mesmo tratamento contínuo e permanente. Com
o avanço tecnológico paralelo reputa-se ao processo cultural a contínua diminuição dos acidentes.
Outra área de atividade que também evoluiu a cultura de segurança cuja lição deve ser apren-
dida é a das usinas atômicas. A utilização da simulação, nessas áreas, nos mais diversos níveis de
aprendizado e treinamento, vem incorporando sucessivos e importantes acréscimos de regras,
apreendidas e compartilhadas universalmente, que envolvem o manejo do risco, atitudes huma-
nas, comportamentos, avaliação de situações de fragilidades, tratamento de catástrofes.
Definições
Dr Gaba, de Stanford4, considera a simulação um processo de instrução. Define como “uma
técnica, não tecnologia, que lembra ou amplifica experiências reais com experiência guiada que
evoca ou replica aspectos substanciais do mundo real com total maneira interativa”.
Introduziu o treinamento da ACRM, evolução do Cockpit (cabine) Resource Management
(CRM), iniciado em aviação. Significava que, ao longo dos anos, o primeiro termo passou para crew
(tripulação); depois, company (companhia) e, finalmente, corporate (corporativo), destacando que
a responsabilidade e a segurança são produtos da soma de todos os esforços de uma corporação.
A evolução do treinamento em CRM, na aviação, iniciou com a fase reativa (investigação
de acidentes) e seguiu para a fase proativa (construção de barreiras). Na sequência, a fase
preditiva (análise integrada de todas as fontes de dados) cujo objetivo era antever acidentes
diagnosticando fragilidades.
O embasamento cultural é que o ser humano falha. Em consequência, o sistema que é dese-
nhado sem essa percepção sempre sofrerá com os erros humanos. Esse reconhecimento na aviação
foi iniciado com a substituição da arrogância pela humildade, conceito que, transposto para a
medicina, transformou-se em verdadeira barreira.
A principal função de um sistema de simulação é a análise e a discussão com alunos dos ce-
nários possíveis em uma anestesia com ações e condutas discutidas, avaliando-se em vídeo os
desempenhos com tutoriais proativos corretivos dos erros.
Existe a percepção, no exercício dessa atividade, que a curva de aprendizado, entre outros be-
nefícios, para muitos procedimentos pode ser abreviada.
Na atualidade, em sentido amplo, simulação é a imitação de um ato ou sistema por outro.
Nossos propósitos permanentes em ensino são: educação (expor material para conhecimento e
treinamento), avaliação (examinar competência, curva de aprendizado), pesquisa (situações com-
plexas, doenças raras e tratamentos, equipamentos) e integração dos sistemas de cuidados (com o
objetivo de favorecer a segurança do paciente). Além disso, apreender com os erros.
Muitas vezes, quando se fala em simulação, tem-se a ideia de uma cabine sofisticada de aviões
de voo simulado, onde hoje os pilotos cumprem parte de seus programas de exercício. O ambiente
de simulação pode ser uma discussão entre os participantes desde uma mesa até em cena o mais
realística e tecnológica possível
O comportamento humano em um palco que imita a realidade, desde a mais simples até outra
mais dramática, é provocado com atitudes que se alteram quando sob pressão, cujas respostas po-
dem ser avaliadas desde o âmbito psicológico, suas efetividades nos cuidados do paciente e serão
corrigidas sempre que inadequadas.
Hoje, qualidade e segurança do paciente são, também, entendidas como o sinal vital da insti-
tuição hospitalar5. As oportunidades oferecidas na operacionalidade de um programa de aprendi-
zado com simulação traz um instrumento permanente que garante o dito sinal vital. As atividades
humanas de risco, em que o erro humano está sempre ameaçando os resultados à promoção de
qualidade com ferramentas de ensino e treinamento constantes, são barreiras evitando erros ou
mitigando danos.
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Como Praticar a
Segurança do Paciente
no Centro Cirúrgico em
Situações de Catástrofe
Erick Freitas Curi
Carla Vasconcelos Cáspar Andrade
Carlos Eduardo David de Almeida
Como Praticar a Segurança do Paciente no Centro
Cirúrgico em Situações de Catástrofe
Introdução
O conceito de catástrofe baseia-se em três componentes: afluxo intenso de vítimas, destruição
de ordem material e desproporcionalidade acentuada entre o número de vítimas e os recursos
humanos e materiais de socorro.
Desastre é uma situação em que o número de vítimas excede a capacidade de atendimento.
No entanto, quando temos a ocorrência em dimensões maiores, com o envolvimento do meio
ambiente com dificuldades de comunicação, transporte, abastecimento, infraestrutura e logística,
caracterizamos uma catástrofe¹.
É um evento imprevisível e geralmente súbito, que causa grande dano, destruição e sofrimento
humano. Embora muitas vezes ocasionado pela natureza, os desastres podem ter origens huma-
nas. Guerras e distúrbios civis que destroem terras e deslocam as pessoas estão incluídas entre as
causas. Outras causas podem ser: desabamento de edifício, nevasca, seca, epidemia, terremoto,
explosão, incêndio, inundação, incidente com transporte de material perigoso, furacão, acidente
nuclear, tornado ou vulcão².
Há o registro de 357 desastres naturais em todo o mundo no ano de 2012, excluindo desas-
tres biológicos. Nesse ano, houve 9.655 mortes, 124,5 milhões de vítimas e um dano estimado
de 157 bilhões de dólares. De acordo com a divisão geográfica mundial, a Ásia evidencia o
maior número de incidentes de desastres (40,7%), seguida pelas Américas (22,2%), pela Europa
(18,3%), África (15,7%) e Oceania (3,1%). Já em relação ao número de vítimas, o território da
Ásia apresentou 64,5% das vítimas, seguido pela África (30,4%). No Brasil, no mesmo ano³,
estima-se a cifra de 1,6 bilhão de dólares de prejuízo com desastres naturais, principalmente de
origem climatológica ou hidrológica.
A modernização da sociedade trouxe ainda mais riscos potenciais de ocorrências de catás-
trofes. Entre elas, a aglomeração de pessoas; a ocupação em áreas de risco de inundação ou na
proximidade de aeroportos; meios de transportes modernos com alta capacidade de transporte
de pessoas e em alta velocidade; aumento da agressão ao ambiente; agravamentos das condições
socioeconômicas; geração de conflitos e número elevado de trabalhadores de indústrias com alta
periculosidade constituem as principais ameaças.
Catástrofe caracteriza um evento que supera a capacidade local de atendimento, necessitando
de ajuda em nível nacional ou internacional. Devido às inúmeras esferas atingidas, com prejuízo
do abastecimento de suprimentos, da comunicação, dos transportes e do acesso local, sua ocorrên-
cia gera caos que afeta todos os órgãos de resposta, destruindo toda a estrutura física e a logística
de intervenção.
Treinamento e simulação
O sucesso do atendimento está condicionado ao treinamento e domínio do plano por toda a
equipe do hospital7. Em se tratando de situações imprevisíveis, é necessário que o corpo clínico
e pessoal de apoio sejam treinados integral e periodicamente. A realização de eventos simulados
tem como objetivos fornecer subsídios para análise e validação do plano; treinamento da equipe
multiprofissional; identificação de falhas e implementação de ações de aperfeiçoamento. Nessas
simulações devem ser avaliados a agilidade no acionamento do plano, o comportamento e as ações
do grupo, a eficácia das ações de controle, a integração da equipe multidisciplinar e, por fim, a
sequência do desencadeamento das ações planejadas.
Referências bibliográficas:
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Avaliação de Tecnologia
em Saúde e a Segurança do
Paciente – Qual a interface?
Luis Antonio dos Santos Diego
Marisa Santos
Avaliação de Tecnologia em Saúde e a Segurança do
Paciente – Qual a interface?
Introdução
O avanço tecnológico observado permitiu a incorporação de diversas tecnologias na área da
saúde, não só de novos medicamentos, mas também de equipamentos, dispositivos e processos de
cuidado. A velocidade da inovação tecnológica é marcante e vem determinando a maior necessi-
dade de se rever, diuturnamente, as práticas e os modelos de gestão nas organizações em geral. Na
saúde, a utilização da tecnologia contribui para o aumento dos custos no setor gerando impacto
no macro e micro orçamento, o que torna a avaliação da incorporação de tecnologias uma neces-
sidade cada vez maior para o desenvolvimento de uma economia saudável e com maior benefício
para a sociedade.
A anestesiologia também vem se beneficiando do avanço tecnológico e com repercussão na que-
da da mortalidade1. Contudo, a utilização dessas tecnologias vêm sendo objeto de estudos, muitos
dos quais não apresentam evidências científicas que permitam correlação entre sua utilização e o
desfecho almejado2,3 e até mesmo a possibilidade de efeito deletério4,5, apesar de continuarem a
ser utilizados na prática clínica. Outro problema também observado é a utilização de tecnologias
fora das condições para as quais, nos estudos clínicos, mostraram-se eficazes6. O gerenciamento
da tecnologia em saúde é complexo e exposta a vários fatores que podem influenciar não só a sua
incorporação como a sua substituição.
Após uma breve apresentação do escopo da Avaliação Tecnológica em Saúde (ATS), e sua
inserção nacional, serão apresentados alguns dos conceitos mais usuais e relevantes para o enten-
dimento da aplicação de seus métodos de estudo.
O que é ATS?
A ATS pode ser conceituada como um conjunto de métodos que estuda as consequências de
curto, médio e longo prazos da aplicação de uma tecnologia de cuidados à saúde7. Por tecnologias
em saúde, considera-se não só medicamentos e equipamentos, mas também produtos biológicos
diversos, dispositivos e instrumentos, além de os próprios procedimentos médicos e cirúrgicos.
E ainda, quaisquer sistemas de apoio como cuidados domiciliares e também sistemas gerenciais,
como, por exemplo, listas de verificação de procedimentos, formulários terapêuticos, programas
de saúde, protocolos assistenciais, etc.8
A ATS, com base em evidências científicas e, mais especificamente, a análise de custo-
-efetividade, permitem ao gestor de saúde o melhor planejamento dos recursos, além de poder
acompanhar todo o ciclo de vida das tecnologias, desde a inovação, difusão, incorporação e,
por fim, sua obsolescência9. Ao mesmo tempo, o anestesiologista clínico poderá, por meio de
guias e diretrizes baseadas em evidências, observar uma melhoria da qualidade e segurança
de sua prática.
A decisão da incorporação, de modo efetivo, de determinada tecnologia, inicia-se na própria
seleção da tecnologia a ser utilizada. A análise comparativa dentre tecnologias semelhantes, as
quais se propõe em agir nos mesmos desfechos, faz-se, cada vez mais, necessária ante à demanda
por recursos financeiros cada vez mais concorridos. A identificação apropriada de condições espe-
cíficas de utilização tecnológica procura, antes de tudo, tornar o sistema de saúde mais eficiente e
igualitário a partir de processos de avaliação sistematizados.
Desenvolvimento da ATS
A ATS pode ser realizada tanto no setor público quanto no setor privado, mas, historicamente,
os pareceres de ATS são utilizados por organizações responsáveis por tomada de decisão princi-
palmente no setor público.
O “National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE)15” foi criado no Reino Unido
em 1999, como a organização em saúde pública com a competência para reduzir a variação na
disponibilidade e qualidade dos tratamentos e cuidados do “National Health System – NHS”
(Sistema Nacional de Saúde) e, desde então, vem realizando ATS com foco na efetividade clínica
e custo-efetividade, principalmente através do “Centre for Health Technology Evaluation”. Desde
2002, o NHS vem utilizando as publicações do NICE como orientações da prática clínica.
No Canadá o “Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health (CADTH)”16 é uma
das organizações responsáveis pela divulgação das informações sobre ATS, com foco na qualidade
e sustentabilidade do sistema de saúde local. Outra agência é o “Institut National d’Excelence en
Santè et en Servives Sociaux (INESSS)17.
Na Alemanha, a “The German Agency for Health Technology Assessment (DAHTA)”18 elabo-
rou e mantém um banco de dados com informações relativas à avaliação tecnológica e custos de
procedimentos e tecnologias na saúde. O “Institut Für Qualität und Wirtschaftlichkeit im Gesun-
dheitswesen (IQWIG)19 é outra instituição que atua na Alemanhade em ATS forma independente.
No Brasil, a criação do DECIT (Departamento de Ciência e Tecnologia) em 2000, foi o marco
inicial para a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, durante a 12ª Conferência
Nacional de Saúde (2004). Mas só em 2007 que o Ministério da Saúde do Brasil, define ATS como o
“processo contínuo de análise e síntese dos benefícios para a saúde, das consequências econômicas e
sociais resultantes do emprego de tecnologias, considerando os seguintes aspectos: segurança, acu-
Segurança em ATS
A primeira questão que se impõe na ATS é a da segurança. A análise do impacto que a tecnolo-
gia impõe aos pacientes, principalmente em relação aos eventos adversos e risco toxicológico, mas
também em relação aos possíveis fatores que surgem tão somente na prática clínica.
O desenvolvimento de um medicamento novo têm na Fase I da pesquisa clínica, quando vem a
ser utilizado em seres humanos pela primeira vez, a segurança como objetivo precípuo. Geralmente
em indivíduos saudáveis e que não tenham a doença objeto do novo medicamento. São realizados
testes iniciais de ajuste de dose e via de administração, geralmente em um grupo de voluntários.
Também na Fase II, com maior número de participantes, os quais poderão se beneficiar do
medicamento, a segurança ainda é o foco principal, muito embora a eficácia (desempenho em
condição controlada) já seja acompanhada. Na Fase III, na qual são realizados estudos clínicos
com maior número de pacientes e multicêntricos, a segurança ainda é avaliada criteriosamente e
é determinante para o seu registro perante o órgão sanitário e consequente liberação comercial.
Após esses trâmites iniciais, o medicamento ainda será testado nos chamados estudos de Fase
IV, os quais têm o objetivo de vir a detectar eventos adversos e fatores de risco menos frequentes
que não foram observados nas fases anteriores (farmacovigilância). São estudos que muitas vezes
têm o objetivo de coletar evidências de benefício em relação a um outro medicamento já existente
para a mesma doença.
Durante o processo de ATS, a análise crítica dos desenhos dessas pesquisas é fundamental
e requer conhecimento em diversas áreas, principalmente na epidemiologia clínica, medicina
baseada em evidências e bioestatística.
Análise de Custo
A Análise Custo-Efetividade (ACE) “compara distintas intervenções de saúde, cujos cus-
tos são expressos em unidades monetárias e os efeitos, em unidades clínico-epidemiológicas
(desfechos)” 25 . Desfechos podem ser anos de vida salvos ou episódios livres de complicação
em determinado tratamento, por exemplo. Possibilita a determinação do custo de diversas
tecnologias para se obter o mesmo desfecho. Ao se comparar duas alternativas a apresentação
dos resultados podem vir a ser expressos em Razão de Custo-Efetividade (RCE), ou seja,
a divisão do total dos custos atribuídos a cada alternativa de intervenção pelos benefícios
alcançados. Comparando-se dois analgésicos através de avaliações utilizando a Escala Visual
Analógica (EVA), por exemplo, suponhamos que o analgésico A, de custo $ 80 por dose efe-
tiva, promova uma redução na EVA de 4 pontos, enquanto o analgésico B, de custo $ 50 por
dose efetiva, apresente uma redução na EVA de apenas 2 pontos. A RCE de A será de $20 e de
B $25. Apesar do analgésico A ser mais caro que o B, ele é mais efetivo em seu poder analgé-
sico avaliado pela EAN. A Razão de Custo-Efetividade Incremental (ICER) corresponde à
diferença dos custos em ambos os medicamentos pela diferença dos efeitos, assim, no mesmo
exemplo, percebe-se que pelo custo diferencial entre A e B de $30, dividido pelo benefício
diferencial de 2 pontos na EVN, o analgésico A tem um custo adicional de $15 por cada ponto
reduzido na EVN.
Conclusão
A interface entre a segurança do paciente e a ATS é extensa e caminham juntas desde a origem.
A ATS torna-se cada vez mais necessária com o avanço da inovação tecnológica, principalmente
por ser um método efetivo no auxílio na tomada de decisão de gestores e profissionais de saúde
em geral, sempre à procura do bem coletivo e maior segurança. Entretanto a rapidez com que a
tecnologia se apresenta nem sempre permite a realização de estudos com metodologia adequada
de investigação científica e avaliação econômica em saúde, as quais apresentem claramente qual
a melhor alternativa entre tecnologias comparáveis. Também a escassez de profissionais com
conhecimento e treinamento apropriado para avaliações precisas e tecnicamente embasadas, difi-
culta a ampliação da ATS.
Há que se ressaltar que a ATS, no modelo que se apresenta em nosso país é um contraponto à
enorme influência que a indústria, seja de medicamentos, materiais e equipamentos para a saúde,
exerce na sociedade em geral.
O anestesiologista encontra na ATS uma ferramenta útil para sua prática diária. Conhecendo
seus processos, mas principalmente a qualidade de seus resultados e a informação apropriada so-
bre novas drogas e equipamentos, poderá discernir que tecnologia solicitar aos responsáveis pela
gestão e gerenciamento dos serviços e departamentos de anestesia, e, ao decidir por fazê-lo, terá as
evidências necessárias de forma clara e objetiva.
Ainda que fôssemos capazes de prever o futuro próximo através de ações estratégicas, o futuro
remoto seria uma incógnita, porque as variáveis são abundantes e, a qualquer momento, poderá
ocorrer uma leve alteração, mesmo que seja durante um breve período, no modo como os atores, o
cenário ou ambos se desenvolvem para que seu comportamento seguinte se torne completamente
diferente. Por exemplo, quando perguntado a Stephen Hawking sobre se seria possível prever o
futuro, sua resposta foi: “Se o crupiê mudar ligeiramente a maneira de girar a roleta será outro
o número vencedor. É impossível predizer esse número e, se não fosse assim, os físicos fariam
fortuna nos cassinos.”
Imaginar como será o futuro da segurança nas instituições de saúde não é tarefa fácil. Segundo
Confúcio, “se quisermos prever o futuro, teremos que estudar nosso passado”, analisar e aprender
com o momento presente e pretender que nossos dirigentes trabalhem e tenham o discernimento,
o senso de preocupação com o outro e a responsabilidade com a segurança em seus atos. São inú-
meros os fatores políticos, econômicos e sociais que podem influenciar nesse cenário futuro, mas
imaginamos que a segurança será um dos pilares para a sustentabilidade das instituições de saúde
e, de uma maneira prática, num futuro próximo, a cultura pela segurança deverá ser institucionali-
zada na gestão dos serviços de saúde. Haverá ainda um reconhecimento dos financiadores e maior
empoderamento do paciente em seu cuidado. Um desafio a longo prazo!
Embora o princípio primum non nocere (antes de tudo, não cause dano), atribuído a Hipócrates
há mais de 2 mil anos, foi com a publicação do Institute of Medicine (IOM), em 1999, Errar é
humano: construindo um sistema de saúde mais seguro, que o movimento pela segurança do paciente
assumiu papel de destaque nas instituições de saúde no mundo por divulgar que entre 44 mil e 98
mil pacientes morrem a cada ano nos hospitais norte-americanos por causa de erros associados aos
cuidados em saúde, e não somente pelo desenvolvimento natural da doença, ou seja: o equivalente
a um acidente de avião jumbo por dia, todos os dias, nos EUA1.
A culpa única e exclusiva do indivíduo que errou está sendo substituída pela oportunidade
de aprender com o evento adverso. O sistema de saúde passou a fazer parte do contexto para a
ocorrência de um desfecho negativo e hoje é considerado o principal contribuinte para o desenvol-
vimento das falhas de processo, chamadas no passado de acidentes. As discussões acerca da segu-
rança na assistência hospitalar e a consequente mudança do perfil educacional da população vão
exigir que as instituições de saúde ampliem sua capacidade de investir em políticas de segurança.
Os processos atuais, comparados com os processos assistenciais futuros, deverão incorporar novas
habilidades e competências, por parte dos profissionais, para lidar não somente com as doenças
dos indivíduos, mas também com suas relações em seu meio social, familiar, laborativo e, princi-
palmente, com a prevenção dos riscos.
O entendimento do conceito de segurança do paciente é importante para o dimensionamento
do problema e a compreensão dos diversos fatores envolvidos. A Organização Mundial de Saúde
(OMS), em 2010, definiu segurança do paciente como sendo a redução do risco de danos desne-
Empoderamento do paciente
Prestar assistência centrada nas necessidades dos pacientes pode parecer simples e óbvio. En-
tretanto, em um sistema tão complexo como os dos serviços de saúde, torna-se um grande desafio
a ser conquistado e sustentado ao longo do tempo.
O envolvimento, a participação e os direitos dos pacientes são temas de ampla discussão. Nos
últimos anos, o envolvimento do paciente tem sido cada vez mais reconhecido como um compo-
nente essencial na reestruturação dos processos em saúde, com o objetivo de melhorar a segurança
do paciente24. O afastamento da participação do paciente decorreu da cultura de passividade do
doente perante o Sistema de Saúde, e este é o momento de trazermos todos os envolvidos para a
discussão sobre as melhorias no tratamento.
Por meio da Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, a OMS destacou a necessidade
de aumentar os esforços para conscientizar os pacientes e seus familiares sobre seu papel para
melhorar a segurança dos cuidados com a saúde em todo o mundo, lançando o programa pela
Segurança do Paciente24.
O empoderamento é um novo conceito e está relacionado com a segurança do paciente. Segun-
do a OMS, empoderamento é um processo pelo qual as pessoas adquirem maior controle sobre
as decisões e ações que afetam sua saúde. Para o desenvolvimento desse novo processo, quatro
elementos são essenciais:
• a compreensão do paciente e da família sobre seu papel;
• que o paciente adquira conhecimento suficiente para ser capaz de se envolver com sua saúde;
• habilidades do paciente;
• a presença de um ambiente facilitador.
Conclusão
No futuro, os hospitais deverão destinar tempo adequado, instalações e apoio financeiro para a
formação profissional, inicial e contínua, para garantir que um nível adequado de conhecimento,
experiência e prática seja atingido e mantido.
Os indivíduos, departamentos e grupos regionais e nacionais devem coletar dados cumulativos
para facilitar a melhoria progressiva da segurança, eficiência, eficácia e adequação dos cuidados
com a segurança.
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Aspectos éticos da
segurança do paciente
em anestesia
Julio Cezar Mendes Brandão
Aspectos éticos da segurança do paciente em anestesia
Introdução
A evolução dos índices de morbidade e mortalidade em anestesia se deu de maneira vertigino-
sa, com curva de queda inversamente proporcional à melhora expressiva na qualidade e segurança
em anestesia, resultando em maior índice de desfechos favoráveis.
Nos últimos anos, percebemos a necessidade da criação “urgente” da “cultura da segurança”, na
qual todas as partes envolvidas assumem responsabilidades por sua segurança, pela segurança de
seus colegas, pacientes e familiares, o que mostra congruência com o conceito atual de abordagem
sistêmica dos incidentes com um olhar mais abrangente.
O engajamento de profissionais, pacientes e familiares na cultura da segurança ajuda o cres-
cimento e aprendizado, levando a melhores resultados para os pacientes e, ao mesmo tempo, à
avaliação dos diversos conceitos éticos que envolvem a anestesiologia.
A anestesiologia tem sido comparada, do ponto de vista da segurança, com as indústrias da
aviação, nuclear e aeroespacial. Com as medidas e os avanços tecnológicos associados à cultura da
segurança, houve redução significativa no número de mortes causadas pela anestesia nas últimas
décadas. Ao analisar o ponto de vista ético-legal e como está caracterizado na literatura pertinen-
te e atual, a liberação e a divulgação imparcial das complicações deveriam ser uma prática mais
frequente. O uso da franqueza diante da realidade sobre erro e eventos adversos pode diminuir
em vez de aumentar a responsabilidade médico-legal dos profissionais de saúde envolvidos e pode
ajudar a aliviar medos e angústias dos pacientes que os cercam. Assim, surgem questões ligadas
à informação, à coparticipação em decisões e ao papel do paciente e de familiares, além de saber
lidar com diferentes perfis de comportamento, posições, ideologias e medos.
Ética: princípios
A ética é o conjunto de valores morais e de conhecimento racional a respeito do comportamen-
to humano; é o princípio que norteia a conduta geral humana na sociedade. Moral é o conjunto
de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam
cada indivíduo, guiando suas ações e julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado,
bom ou mau. A moral já existe há muito mais tempo, pois todos possuem a consciência moral, que
leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vivemos. A ética investiga e explica normas
morais, pois nos leva a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas mais ainda por convicção
e inteligência intrínseca.
Dessa forma, percebemos como é inerente à existência da ética aplicada, sendo subdividida
para melhor análise, em que correlaciona o papel da ética nas diversas profissões, tendo como uma
das premissas básicas fazer as pessoas entenderem que suas ações possuem consequências não só
para si, mas também para outrem.
Consulta pré-anestésica
A normatização da anestesiologia no Brasil deu um passo significativo com a Resolução do
Conselho Federal de Medicina número 1.802/2006 e a criação de diretrizes que têm como obje-
tivo nortear a prática médica em anestesiologia e levar maior segurança ao paciente e ao médico
anestesiologista. Existe, então, a recomendação de que, em procedimentos cirúrgicos eletivos, a
avaliação pré-anestésica seja realizada em consulta com anestesiologista antes da admissão na
unidade hospitalar para internação.
A consulta pré-anestésica em regime ambulatorial, realizada dias antes da cirurgia, é um ponto
essencial para o ato anestésico, que exerce ação direta e indireta na prevenção de complicações
anestésicas e na melhoria da qualidade do cuidado e da prática anestésica. Percebemos, no en-
tanto, que tal atitude ainda não foi incorporada à rotina de parte dos serviços médicos em nosso
país e espera-se que, com a introdução da cultura da segurança, isso seja modificado, levando ao
benefício de todos os participantes, paciente e equipe de saúde.
A avaliação pré-anestésica é sustentada por determinação do Conselho Federal de Medicina,
que define que os hospitais devem ter um ambiente de atendimento específico para esse tipo de
avaliação médica, assim como é usual nos países desenvolvidos. O princípio do cuidado pela segu-
rança e bem-estar do paciente é bem estabelecido no Código de Ética Médica, contudo, percebe-
mos que ainda acontecem eventos adversos e complicações que seriam evitáveis com a realização
da avaliação prévia dos pacientes.
Até um passado não tão longínquo assim, a relativa “ausência” do anestesiologista manifestava-
-se também no fato de ele não entrar em contato com os pacientes como interlocutor de suas
questões e interpelações. Com a cultura da necessidade da avaliação clínica anestésica e visita
pré-anestésica, houve uma mudança significativa, que causou a transformação nos resultados e na
redução dos índices de complicação agregados pela proximidade da especialidade com a avaliação
dos pacientes, e não somente com o procedimento anestésico em si.
No cuidado anestésico, um dos principais benefícios oriundos do acompanhamento que se
inicia na consulta pré-anestésica pelo anestesiologista consiste na oportunidade de esclarecer
dúvidas do paciente sobre o procedimento e amenizar seus temores em relação à anestesia, sus-
citando, assim, um processo de comunicação entre profissional e paciente. Desse modo, a cada
consulta pré-anestésica, pode-se estabelecer uma nova relação entre o paciente e o anestesiologista
e abre-se espaço para as orientações relativas ao termo de consentimento anestésico.
Diante da realização da consulta pré-anestésica, os pacientes se tornam mais seguros, há di-
minuição da ansiedade, do tempo de internação pré-operatória e o número de cirurgias adiadas é
reduzida, bem como os gastos com o tratamento por causa do menor número de exames comple-
mentares requisitados, da diminuição do número de interconsultas com outras especialidades, da
redução do tempo para a marcação da cirurgia e do tempo de internação pós-operatória.
Consentimento informado
O Termo de Consentimento Informado é o documento que deve ser assinado pelo paciente, ou
seu responsável legal, que permite que o médico realize determinado procedimento diagnóstico
ou terapêutico após obter as principais informações pertinentes ao procedimento médico a ser
realizado. Deve ser preparado para garantir a autonomia do paciente e delimitar a responsabili-
dade do médico na realização dos respectivos procedimentos programados. Esse documento não
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