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A Organização de Cooperação de Shangai (OCS) versus o grupo BRICS

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

O grupo BRICS - formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – tem merecido muita
atenção como uma forma de articulação de países do “Sul global”, em contrapondo à hegemonia
do “Norte global”. Porém, existe uma outra articulação que tende a assumir o protagonismo
internacional e unificar grande parte da Eurásia, que é a Organização de Cooperação de Shangai
(OCS) – formada atualmente por China, Rússia, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Quirquistão,
Tajiquistão e Uzbequistão.

A ideia do grupo BRIC foi proposta, em 2001, pelo economista Jim O' Neill, do banco de
investimento Goldman Sachs, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais
como investir nos grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China. Estes
quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior território ou maior
população. O termo ganhou gosto da mídia, especialmente no período do superciclo das
commodities, que possibilitou um crescimento extremamente rápido da economia dos países
“emergentes” em relação aos países “avançados”. Mas na ideia original não havia nenhum país
da África, o que era geograficamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South África)
e o termo BRIC ganhou uma letra a mais, se transformando em BRICS (que seriam os “tijolos”
da nova economia global). Mas como já mostrei em outro artigo (ALVES, 25/07/2018), Brasil e
África do Sul são países coadjuvantes e o sub-grupo RIC (Rússia, Índia e China) é protagonista.

Os países do RIC também fazem parte da Organização de Cooperação de Shangai (OCS), que é
uma aliança política, econômica e de segurança da Eurásia, criada inicialmente por iniciativa de
Beijing, agrupando cinco nações originais: China, Rússia, Cazaquistão, Quirquistão, Tajiquistão,
o chamado “Shanghai Five Group”, fundado em 26 de abril de 1996. Mas, efetivamente, a OCS
foi criada em 15 de junho de 2001 em Shangai, sendo que a Carta da Organização entrou em
vigor em 19 de setembro de 2003. Desde então, a organização expandiu seus membros para

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oito países, sendo que a Índia e o Paquistão se uniram à SCO como membros efetivos em 9 de
junho de 2017, em uma cúpula ocorrida em Astana, no Cazaquistão. A OCS é amplamente
considerada como a "aliança do Oriente" (ou OTAN do Oriente), devido à sua crescente
centralidade na Ásia-Pacífico, e tem sido o principal pilar de segurança da região. É a maior
organização regional no mundo na cobertura geográfica e populacional, cobrindo três quintos
do continente eurasiano e quase metade da população humana. A SCO é uma das organizações
mais poderosas e influentes do mundo e representa uma das alianças militares mais fortes
atualmente.

Com a ampliação da organização, seu escopo de cooperação se expandiu para incluir educação,
ciência, tecnologia, saúde, proteção ambiental, turismo, mídia, esportes, humanitária e cultura,
ao mesmo tempo em que estende seus princípios para incluir governança global e fomentar
relações internacionais. A OCS é um dos principais parceiros da ASEAN (Tailândia, Filipinas,
Malásia, Singapura, Indonésia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos, Camboja, Papua-Nova Guiné e
Timor-Leste), com ambas as organizações estabelecendo uma cooperação para a paz,
estabilidade, desenvolvimento e sustentabilidade do continente asiático, e no campo da
segurança, economia, finanças, turismo, cultura e proteção ambiental. São Estados
observadores da OCS: Afeganistão, Bielo Rússia, Irã, Mongólia. O Irã já solicitou a sua entrada
plena na OCS, mas depende do fim das sanções colocadas pela ONU. A entrada do Irã pode
viabilizar a articulação do “quadrante mágico” (RICI), como mostrei em um outro artigo (ALVES,
20/03/2019).

O gráfico abaixo, com dados do FMI (em poder de paridade de compra – ppp) mostra que o
conjunto dos 5 países do BRICS tinham uma participação de 17,2% do PIB mundial em 1994,
enquanto os 8 países da OCS tinham uma participação de 14,2% na mesma data. Em 2018, a
participação do BRICS subiu para 32,7% e da OCS para 31%. Para 2024, a estimativa é do BRICS
com 36,8% e a OCS com 35,4% do PIB global. Portanto, o BRICS continua um pouco maior, em
termos econômicos, do que a OCS, mas a diferença está se reduzindo e a entrada de novos
membros tende a fazer a OCS um grupo cada vez mais forte.

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Em termos demográficos, em 1994, o BRICS tinha uma população de 2,46 bilhões de habitantes,
enquanto a OCS tinha 2,43 bilhões de pessoas. Em 2018, os dois grupos empataram com 3,14
bilhões de habitantes. Mas, em 2024, a OCS com 3,29 bilhões de habitantes será maior do que
o BRICS, com 3,28 bilhões de pessoas. O potencial de crescimento populacional é maior na OCS,
especialmente se incorporar países grandes como Irã e Turquia.

Evidentemente, o núcleo duro e dinâmico do BRICS e da OCS são os 3 países da sigla RIC (Rússia,
Índia e China), sendo que a China é o país que individualmente tende a assumir a hegemonia
mundial e tende a ser o líder global do comércio e da tecnologia. A OCS tende a superar o BRICS
em termos econômicos, uma vez que a Ásia é o maior continente em termos territorial,
populacional e econômico. A Eurásia é a maior faixa continua de terra do Planeta. O fato é que
o grupo RIC – com seus aliados – tende a representar um desafio crescente à hegemonia dos
Estados Unidos e do Ocidente. Os países que compõem a Organização de Cooperação de Shangai
(OCS) também devem se beneficiar da integração da infraestrutura propiciada pela Iniciativa
“Um Cinturão Uma Rota” (BRI).

O 2º Fórum “Belt and Road” (BRF) ocorreu em Beijing, nos dias 25 a 27 de abril de 2019, com a
presença de cerca de 5 mil participantes de mais de 150 países e 90 organizações internacionais.
Desde que o presidente chinês Xi Jinping propôs a iniciativa em 2013, 126 países e 29
organizações internacionais assinaram documentos de cooperação da BRI com a China, diz o site
Xinhua. O presidente russo, Vladimir Putin, parceiro preferencial da iniciativa chinesa, disse: "O
objetivo é fornecer uma relação de reforço mútuo com a região da Eurásia".

No discurso de abertura do BRF, O presidente Xi Jinping disse que a China pretende construir
infraestrutura de alta qualidade, sustentável, resistente a riscos, com preço razoável e inclusiva,
ajudando os países a utilizar plenamente a riqueza de seus recursos. Ele falou em “crescimento
de alta qualidade para todos”. Disse também que a Iniciativa “Um Cinturão Uma Rota” precisa

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ser ecológica e sustentável. Contudo, os críticos dizem que a China promove uma “diplomacia
da dívida” e que os impactos ambientais serão de grande monta.

O fato é que a articulação entre a OCS e a BRI fortalece a centralidade da Eurásia e torna o BRICS
um espaço secundário no cenário global. O Brasil, que tem sido um parceiro coadjuvante do
BRICS, agora assume um alinhamento prioritário e submisso com os EUA, sem uma estratégia
clara de como tratar com a China e a Iniciativa “Um Cinturão Uma Rota”. O economista Pedro
Luiz Passos, em artigo para a FSP (19/04/2019) disse que na disputa comercial e tecnológica
entre EUA e China, o Brasil sequer é coadjuvante. Ele diz: “Nessa briga, o Brasil está entrando
num quadro de dependência colonial, dado o atraso em que se encontra”.

Referências:
ALVES, JED. Brasil e África do Sul são coadjuvantes no grupo B-RIC-S e na nova ordem mundial,
Ecodebate, 25/07/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/07/25/brasil-e-africa-do-sul-sao-coadjuvantes-no-
grupo-b-ric-s-e-na-nova-ordem-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O “quadrante mágico” (RICI) que desafia os EUA e o Ocidente, Ecodebate,
20/03/2019 https://www.ecodebate.com.br/2019/03/20/o-quadrante-magico-rici-que-
desafia-os-eua-e-o-ocidente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. A ascensão da China, a disputa pela Eurásia e a Armadilha de Tucídides. Entrevista
especial com José Eustáquio Diniz Alves, IHU, Patricia Fachin, 21 Junho 2018
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/580107-a-ascensao-da-china-a-disputa-
pela-eurasia-e-a-armadilha-de-tucidides-entrevista-especial-com-jose-eustaquio-diniz-alves
Revista IHU, nº 528, Ano XVIII
http://www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/IHUOnlineEdicao528.pdf
Xinhua. 2nd Belt and Road Forum for International Cooperation, April 2019
http://www.xinhuanet.com/english/special/2019ydylforum/index.htm

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