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Alessandro Borsagli
PUC Minas
RESUMO
O artigo aborda a importância da cartografia urbana de Belo Horizonte na compreensão do processo de
inserção dos rios no espaço urbano da capital e no conhecimento dos caminhos percorridos atualmente
pelos cursos d’água que atravessam a zona urbana planejada da capital mineira: o ribeirão Arrudas e três
dos seus afluentes da sua margem direita, os córregos do Acaba Mundo, Serra e Leitão, atualmente
escondidos sobre a malha viária de Belo Horizonte, sendo praticamente impossível de se identificar o
traçado atual destes sem o auxilio dos mapas confeccionados entre os anos de 1895 e 1942, visto que o
leito original não existe mais devido à retificação e canalização do seu curso além do elevado grau de
adensamento urbano e da erradicação dos córregos da paisagem urbana belorizontina para a melhoria
viária, um processo iniciado ainda na década de 1930.
ABSTRACT
The article discusses the importance of urban cartography of Belo Horizonte in understanding the
insertion of rivers in urban areas of the capital process and knowledge of current paths traveled by water
courses crossing the planned urban area of the state capital: the Arrudas stream and three of its
tributaries on its right bank, streams the Acaba Mundo, Serra and Leitão currently hidden on the road
network of Belo Horizonte, being virtually impossible to identify the current trace without the help of
these maps made between the years 1895 and 1942 as the original bed no longer exists due to grinding
and channeling its course beyond the high degree of urban density and the eradication of streams
belorizontina urban landscape for road improvement, a process already started in the 1930’s.
INTRODUÇÃO
Os rios urbanos das cidades brasileiras são sinônimos de degradação ambiental e desprezados pela
sociedade e pelo Poder Público. Em Belo Horizonte, cidade construída pelo governo estadual para
abrigar a capital de Minas Gerais o processo de degradação e ocultação dos cursos d’água que correm no
meio urbano se deu em um espaço de tempo relativamente curto, desde a inauguração da nova capital
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De acordo com o DRENURBS (2002), programa que visa promover a despoluição dos cursos d’água de Belo
Horizonte, além da integração dos recursos hídricos naturais ao cenário urbano.
http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=
programaseprojetos&lang=pt_BR&pg=6080&tax=12065
Nesse mesmo ano foi apresentada a planta definitiva do que viria a ser a capital do Estado de
Minas Gerais. Projetada pela equipe do Engenheiro Aarão Reis a Planta da nova capital apresentava um
traçado racional e positivista, semelhante a um tabuleiro de xadrez, onde prevaleceriam às ideias
sanitaristas e o convívio social, através das Praças e Ruas arborizadas, onde se destaca na planta o Parque
Municipal (Figura 2).
Nesse contexto, apesar da valorização da arborização dentro da cidade planejada a Planta
Cadastral apresentada em 1895 não apresentava uma harmonia entre o projeto e os cursos d’água
existentes nas terras do antigo arraial, exceção feita ao ribeirão Arrudas, principal drenagem de grande
parte dos córregos oriundos do Complexo da Serra do Curral, apesar da abundancia de recursos
hídricos foi crucial para a escolha do arraial de Belo Horizonte como sede da nova capital. Na planta o
ribeirão aparece canalizado em todo o trecho atravessado por ele na zona urbana, apenas o trecho
correspondente ao Parque Municipal ele figurava em seu leito natural e integrado ao projeto do parque
urbano.
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Relatório 1900 p.30.
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Relatório 1900 p.11.
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Estes quarteirões passaram a integrar a zona suburbana (Cidade Jardim), inclusive o casarão sede da Fazenda do
Leitão, atual Museu Histórico Abílio Barreto que possivelmente seria demolido caso a abertura da Avenida nesse
trecho tivesse seguido fielmente a planta da CCNC.
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É importante chamar a atenção para esse detalhe: desde os tempos coloniais as residências eram construídas com
a fachada de costas para os cursos d’água, pois eles eram responsáveis não só pelo fornecimento de água, mas
também para o escoamento dos detritos gerados pelos moradores, um hábito que infelizmente persiste até os dias
atuais.
Fig. 4 – Planta da cidade de Belo Horizonte apresentada no ano de 1931, onde se destacam os cursos d’água
inseridos na malha urbana da zona planejada. Escala 1:15.000 1931. Fonte: PANORAMA, 1997.
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PANORAMA, p.51
Nos mapas produzidos entre os anos de 1930/1945 destacam-se os dois principais vetores de
expansão urbana da capital, os eixos oeste e norte, onde se destacam as grandes avenidas radiais
idealizadas na gestão Juscelino Kubitscheck (1940-1945), além da abertura das primeiras avenidas
sanitárias, construídas nos fundos de vale dos cursos d’água adjacentes à zona planejada. As vias, abertas
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A cidade universitária viria a ser construída nas terras da Fazenda Dalva, desapropriada em 1943. Somente a
Faculdade de Farmácia da UFMG foi construída em um dos 35 quarteirões reservados para o campus dentro da
zona planejada.
Fig.5 - Fotografia aérea do ano de 1956, onde é possível visualizar parte da zona planejada e em destaque os rios
urbanos que ainda corriam a céu aberto. Escala 1:25.000 1956. Fonte: PANORAMA, 1997.
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O Plano de Avenidas foi um projeto estrutural para o sistema viário de São Paulo, implementado a partir da
segunda metade da década de 30 e responsável pela retificação do Rio Tietê e de outros cursos d’água da capital
paulista, que tiveram suas várzeas urbanizadas para a abertura das avenidas sanitárias e das marginais. As
consequências da urbanização das várzeas e dos fundos de vale são conhecidas de todos nos períodos chuvosos, e
isso também vale para Belo Horizonte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os rios urbanos da zona planejada, ignorados pela CCNC e inseridos na paisagem urbana na
década de 20 foram encerrados sob as ruas e avenidas para a melhoria do fluxo viário, cujo automóvel
foi e continua sendo o protagonista das politicas urbanas de Belo Horizonte e para o embelezamento
urbano. Passados mais de quarenta anos da cobertura do último curso d’água que atravessa a zona
urbana planejada existe atualmente um notável interesse por parte da população belorizontina dos
caminhos percorridos pelos rios urbanos, ocultos e poluídos. As formas da paisagem urbana são diversas
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Exceção feita ao córrego da Serra, que corria em canal fechado na porção compreendida dentro da zona
planejada desde a década de 30.
Fig. 6 – Parte do Mapa do município de Belo Horizonte de 1962, editado pelo Ministério das Minas e Energia sob
supervisão do DNPM e produzido a partir dos levantamentos aerofotogramétricos da década anterior, onde os rios
urbanos aparecem inseridos e em destaque na paisagem urbana da zona planejada pela última vez. Escala 1:25.000
1962. Fonte: PANORAMA, 1997.
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