You are on page 1of 17

SOCIOLOGIA JURIDICA – CPII-C

TEMAS 1 E 2

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Boaventura: sistema de justiça. A pesquisa sociológica jurídica não se limita às


partes ou os integrantes do Judiciário, mas sim uma visão mais ampla. Ele trabalha
também com a justiça fora da visão do Poder Judiciário, com a multiculturalidade e com
os direitos humanos. Neste último, menciona o relativismo cultural, em que a sociedade,
por ser muito plural, diversa, tem diversas noções do que é realidade, do que é dignidade,
justiça etc. Ele menciona que a diversidade faz parte do próprio ideário do Estado
Democrático de Direito.
 Há necessidade de transformação no paradigma de análise social e jurídica. Ele
diz isso por reconhecer essa pluralidade cultural que a sociedade tem, essa
variedade de formas de fazer justiça.
 Portanto, é preciso questionar o monopólio estatal na produção do Direito. Os
indivíduos aceitam, sem muitos questionamentos, que existe um Estado que
produz e aplica as normas.
 Ele questiona muito as noções de contratos, fronteiras, nacionalidade. Todos os
conceitos que naturalizamos como sujeitos, principalmente como estudantes de
Direito, não são nada naturais. Isso porque desconsidera justamente que a
sociedade é plural, e o Direito teria sido imposto por uma pequena parcela da
sociedade. Ex.: Declaração de Direitos Humanos: imposto por sociedades
colonizadoras ocidentais, que ignoraria a pluralidade da sociedade, a
multiculturalidade. Exemplo clássico de as sociedades ocidentais considerarem
indignidade o uso de burcas pelas mulheres nas sociedades orientais. De acordo
com Boaventura, seria desrespeito com a cultura alheia.
“Notas sobre Pasárgada” (1973, SANTOS, Boaventura de Sousa): “No caso
específico de Pasárgada, pode detectar-se a vigência não oficial e precária de um direito
interno e informal, gerido, entre outros, pela associação de moradores, e aplicável à
prevenção e resolução de conflitos no seio da comunidade decorrentes de luta pela
habitação”. Nessa pesquisa, ressalta-se a presença de “outro direito”, paralelo ao Direito
oficial, estatal, bem como a questão do acesso à justiça. O pseudônimo se refere a uma
favela do Rio de Janeiro, quando Boaventura veio ao Brasil realizar a sua pesquisa. Trata-
se de livro, portanto, oriundo de uma pesquisa empírica.
 O Direito apresenta barreiras econômicas, sociais e culturais. As partes não
dispõem de dinheiro e conhecimento para poder acessar à justiça. As pessoas
hipossuficientes sequer entendem ou imaginam o que seria a Defensoria Pública;
falta-lhes compreensão para entender como o Judiciário funciona para buscarem
seus direitos.
 A análise que Boaventura faz menciona que os mecanismos alternativos são tão
interessantes que, às vezes, são incorporados institucionalmente para que o Direito
estatal consiga se aproximar da realidade. Exemplo recente que temos é a
incorporação e incentivo da mediação no processo, a partir do CPC/2015.
 Boaventura não pensou em voltar a sua pesquisa ao acesso à justiça estatal, mas
atestou que o “direito de Pasárgada” comprova não só a produção de uma nova
ordem jurídica paralela ao direito oficial (que ele chama de direito do asfalto),
mas também a impossibilidade de os habitantes daquela comunidade, tida como
ilegal pelo direito oficial, buscarem soluções para seus conflitos no ordenamento
jurídico e nas instâncias jurídicas.
A construção do Direito: As concepções do que é valorizado moralmente
refletindo-se no que se considera ser “justo” ou “bom para a vida de cada um, sempre
variaram ao longo da história e entre diferentes espaços, culturas e agrupamentos
sociais.
O monismo jurídico não nasceu com a sociedade, pois já vivemos o pluralismo
no Direito ocidental. No Direito, Boaventura diz que temos um único conjunto de regras
que consagram “práticas sociais” e um tipo de ordem compatível com as práticas. Ele
critica isso, uma vez que as práticas sociais são muito diversas devido ao
multiculturalismo, de forma que não faria sentido o fato de elegermos somente esse único
conjunto de regras, se existem inúmeras práticas sociais. Ex.: quem se considera sujeito
de direitos? Quais direitos são protegidos e quais não são protegidos? Noção de fronteira.
O monismo foi sendo historicamente construído a ponto de haver poder e controle
exercido unicamente pelos Estados. Contudo, nem sempre foi assim. Na Idade Média, por
exemplo, conviviam igrejas, príncipes territoriais, ligas das cidades, etc. Assim, diversos
grupos sociais se submetiam a regras locais que variavam de uma comunidade para outra.
Contribuiu para a consolidação do monismo, esforço para unificação do Direito,
um movimento de apagamento de qualquer consideração ou diferença identitária, que
pode ser étnica, etária ou sexual, o que está ligado a ideia de globalização.
Esse universalismo e incentivo ao apagamento de diferenças não necessariamente
é capaz de apagar as desigualdades. O reconhecimento dessas diferenças é o que é capaz
de gerar uma emancipação das culturas que não sintam suas ideias contempladas pelo
universalismo. Teria sido um movimento de reação ao trauma que foram experimentados
à Segunda Guerra Mundial, ou em até momento anterior, em um horror histórico à ideia
de direitos especiais para a nobreza ou a aristocracia.
A universalidade se apresentou inicialmente como um mecanismo de reação
sobre a desigualdade e exclusão negando, contudo, as diferenças ou tratando de forma
absoluta como se não pudessem ser assimiladas.
Assim, passou-se ressaltar a oposição entre o universal (político, público) e o
particular (pessoal). Um exemplo desta discussão são as legislações francesas proibindo
o uso da burca, que chegou à Corte Europeia de Direitos Humanos. Ex. 2: Timor Leste –
passou por um processo de redemocratização, que chamou a atenção a ONU com relação
à violência contra a mulher. O “pacote de normas oficiais” de proteção à mulher não foi
tão eficaz, pois se manteve a existência e até preponderância das normas locais, paralelas
ao Direito oficial. O pacote de normas oficiais acabou vindo com as formas do direito
ocidental, sem respeitar as especificidades locais.
Boaventura é um defensor do pluralismo e da fragmentação das identidades em
detrimento do conceito de universalismo, devendo haver o reconhecimento de diferentes
normas e diferentes formas de resolver conflitos, inclusive por meio de autorregulação.
 Pluralismo jurídico: logo, Boaventura defende uma série de questionamentos à
visão monista do Direito. Questionamentos sobre o monopólio estatal de “dizer o
direito” permeiam os debates sobre pluralismo jurídico. A ideia de pluralismo
jurídico diz sobre a possibilidade de se reconhecer a existência simultânea em
um mesmo ambiente de mais de um conjunto articulado de regras, princípios e
instituições com base nos quais a ordem social é construída e transformada.
 Multiculturalidade: a inclusão de todos os cidadãos, argumentam os
multiculturalistas, implica o reconhecimento de identidades/diferenças culturais,
justificando a outorga de direitos culturais específicos.
Sobre as ideias de Boaventura, devem ser feitas as seguintes reflexões:
 Questionar a subordinação dos direitos locais ao direito estatal.
 Interação entre ordens jurídicas, com processo de mútua influência.
 Admitir variedade ampla de direitos não oficiais ou não estatais. Não
apenas o direito estatal deve ser considerado direito.

Maria Tereza Sadek


Sua maior preocupação como cientista política e estudiosa do Poder Judiciário é
entender as soluções e modificações pelas quais o Poder Judiciário passou que buscavam
atender demandas da sociedade. Sadek se dedica a estudar, por exemplo, o perfil dos
juízes, suas origens e como pensam, dentro do campo que a autora prefere chamar de
"sistema de Justiça". O sistema de Justiça não se limita ao Judiciário, conforme
mencionado anteriormente.
Sadek trabalha com o que pode ser chamado de "sociologia da Administração
da Justiça", que consiste num conjunto de estudos e pesquisas sobre as instituições e
profissões da Justiça, seus procedimentos de resolução de conflitos, suas demandas e sua
clientela, sua reforma e gestão de procedimentos.
O Sistema de Justiça, por sua vez, é o conjunto de instituições estatais
encarregadas de garantir os processos constitucionais, de aplicar a lei e distribuir justiça.
Um dos motivos de o Judiciário ter atraído o olhar das ciências sociais foi o
resultado de 2 diferentes pesquisas, que tratavam da credibilidade da Justiça na
sociedade. Em 1990, apenas 40% das pessoas que tiveram conflitos judicializáveis
recorreram efetivamente à Justiça. Em 2010, no entanto, 70% teriam buscado a Justiça,
incluindo juizados especiais (12%), representando um aumento significativo. Ainda, das
30% que não procuraram a Justiça, 27% resolveram por meio de mediação ou conciliação
vinculadas a programas com financiamento estatal. Foram entrevistas em larga escala
(Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílio – PNAD).
Estudos buscaram entender as mudanças pelos quais o Poder Judiciário passou ou
as alterações sociais, políticas e econômicas que causaram esse aumento significativo na
procura pela Justiça.
Algumas hipóteses são levantadas para justificar este aumento. Teria havido uma
ampliação e diversificação das possibilidades de administrar conflitos, como o
surgimento dos juizados especiais (simplificação processual e conciliação em destaque).
Além disso, ganha força a ideia de que usar a Justiça é mais do que instaurar um processo
formal que será julgado por um juiz, havendo também mecanismos de mediação e
conciliação. Por último, uma maior importância da simplificação processual. A Lei
9.099/95 é uma das mais importantes reformas da Justiça no Brasil contemporâneo,
simplificando procedimentos.
Não é somente Sadek que se importa com o papel do Judiciário, especialmente do
que identificamos do ponto de vista político acerca do declínio do Estado de bem estar
social – Boaventura de Sousa Santos também apresenta tal preocupação nas suas
pesquisas.
A busca por uma reforma da Justiça é uma agenda internacional desde os anos 70,
especialmente por algumas circunstâncias específicas, incluindo transformações globais
na esfera estatal, um declínio do modelo de Estado Providência com a substituição
por formas estatais marcadas pelas reformas de cunho neoliberal, com a redução da
participação do Estado na economia e sua desregulamentação. Estes fatores promoveriam
uma maior busca pelo Poder Judiciário, que se torna um guardião de direitos sociais.
Ademais, ocorreram transformações econômicas, nos moldes familiares, o
trabalho feminino, por exemplo. É o que Sadek chama de “novos direitos” – o surigimento
de novos sujeitos sociais, que são protagonistas de novos conflitos, sejam estes de gênero,
ambientais, de minoriais étnicas etc. Questiona-se, ainda, o estatuto da igualdade formal
diante das desigualdades de fato.
Todos esses fatores causaram uma "explosão de litigiosidade" que, nas palavras
de Boaventura de Sousa Santos, consiste numa requalificação da busca dos Tribunais para
garantia de direitos já efetivados e para efetivação de direitos recém-chegados e ainda não
institucionalizados.
 Ondas de acesso à justiça: Quanto ao acesso à Justiça, merece destaque a
pesquisa de Cappelletti e Garth (1998). Para o pesquisador, a primeira onda de
acesso à Justiça decorre da oferta de assistência jurídica gratuita ou subsidiada.
A segunda onda ocorreu com a procura em viabilizar a postulação de interesses
coletivos, com mecanismos processuais de proteção aos direitos difusos e
coletivos. Já a terceira onda se dá por meio de reformas institucionais e legais,
com a informalização de procedimentos e investimentos em meios alternativas
extrajudiciais de resolução de conflitos. A terceira onda é que é dada destaque na
teoria de Sadek.
No Brasil, contudo, para Sadek, as ondas não se deram nos mesmos moldes dos
elencados por Cappelletti. Até os anos 80, a assistência gratuita era a única política
pública de acesso à Justiça. Pós Constituição de 1988, com a abertura democrática e a
edição da Lei 9.099/95, houve maior acesso à Justiça no Brasil, embora ainda faltem
recursos, por exemplo, na Defensoria Pública. Por causa disso, há uma necessidade de
requalificação da busca dos tribunais para garantia de direitos já efetivados, bem como
para efetivação dos tais “novos direitos” (Sadek), e que ainda não teriam sido
institucionalizados (Boaventura de Sousa Santos).
Sadek identificou que havia grande resistência por parte dos magistrados à
reforma, especialmente quanto à criação do CNJ. Seria uma resistência corporativa,
mencionada por Sadek como um dos maiores obstáculos à reforma necessária.
A reforma institucional defendida por Sadek tem por base a ideia de
accountability, ou seja, a necessidade de prestação de contas, que deveria não só atingir
o Judiciário, mas todo o sistema de Justiça. Por causa dessa fiscalização externa há juita
resistência corporativa na prática.
Redemocratização:
 Preceitos legais são importantes, mas nem sempre traduzem a realidade
 Os direitos sem instâncias que os garantam são “letra morta”
 Judiciário tem papel central de aplicar a lei, além de efetivação dos direitos
individuais e coletivos.
 O processo de redemocratização deverá ser operacionalizado a partir, portanto, da
equação Poder do Estado + Prestador de Serviços.
 A Constituição de 1988 confere ao Poder Judiciário o papel central não só de
aplicador da lei, mas de garantidor de cidadania. Para Sadek, o Judiciário seria um
Poder do Estado, mas também um prestador de serviço, encarregado em
distribuir justiça, possuindo a palavra final sobre conflitos de natureza política ou
privada.
 O Judiciário, portanto, passa a ter papel relevante no processo de efetivação dos
direitos sociais, partilhando da formulação de políticas públicas ao lado do
Executivo e Legislativo. Deixa o Juiz de ser um interprete cego e passa a ser um
legislador implícito. Isto tem recebido muitos nomes na discussão
contemporânea acerca do papel do Judiciário, seja por causa da independência
desse poder em relação aos demais; seja por causa da tese da politização da
justiça (o Judiciário passa a ter papel de protagonista na sociedade, que não tinha
anteriormente – Werneck).
 Todos esses antecedentes, aliados às criticas à morosidade do Poder Judiciário e
escândalos de corrupção no seio do Poder, influenciaram na tramitação da
Emenda Constitucional 45/04, que traz institutos como a súmula vinculante, a
repercussão geral e o controle por meio do CNJ. Contudo, para a Sadek, a agenda
da reforma era uma agenda racionalizadora, preocupada com gestão e celeridade
para fins econômicos, e não comprometida com a agenda de acesso à Justiça e
efetivação de direitos. Novamente aqui se critica que a “reforma”, ainda que tenha
se operado, foi recebida com muita contrariedade do Judiciário, por causa da
resistência corporativa.
 Sadek também relaciona a discussão da reforma do Judiciário com o cenário
econômico (daí se dizer que a reforma do Judiciário ter sido incentivada pelo
Banco Mundial).

Principais pontos da análise de Sadek:


- Figura da EC 45. Reforma do Judiciário, criação do CNJ. Resistência corporativa.

- Reafirmação da importância da Súmula Vinculante e da repercussão geral do controle externo,


do processo de execução

- Contribuição de especialistas em gestão

- Preponderância de uma agenda racionalizadora do que efetivamente uma agenda de acesso à


justiça e de efetivação dos direitos.

- Perda da principal característica que motivou a reforma – de acesso à justiça.

- Quais seriam as propostas inovadoras do Judiciário para melhorar o acesso à justiça? Qual seria
a agenda do Judiciário? Essa é a preocupação de Sadek.

- O olhar dela sobre o Judiciário é institucional, que o reconhece como órgão político.
TEMA 3 E 4
KARL MARX (1818 – 1883)
Histórico: Marx não era sociólogo, mas sim filósofo. A sociologia foi ciência que surgiu
bem depois de seu tempo. Ele se dedicou basicamente a estudar, à vida acadêmica. Viveu
muitas dificuldades materiais, e teve de se mudar muito por causa de perseguição política.
Engels, portanto, foi tanto um amigo como um patrocinador, que sustentou Marx por boa
parte de sua vida. Ele não era um escritor profícuo – eram poucos livros, mas com muitos
volumes.
O livro O capital é um livro de economia política, que briga com os liberalistas
políticos, como Adam Smith.
O objeto de estudo de Marx é o capitalismo. Segundo ele, o sistema capitalista está fadado
ao fracasso.
Segundo Karl Marx, a sociedade é organizada em dois níveis, a infraestrutura e a
superestrutura. A infraestrutura é fundamentada na relação do homem com a natureza e
na relação dos homens entre si, baseia-se n a relação e interação das forças de produção,
como capital e trabalho. É esse nível que constitui a base da sociedade, portanto determina
a superestrutura, ou seja, as formas sociais e culturais. A superestrutura é composta pela
estrutura jurídico-política expressa pelo Estado e pelo direito, e também pela ideologia
que é representada pelas leis, a educação, a cultura etc.

Para Marx, a sociedade não é tão complexa, pois é primordialmente dividida em


burguesia e proletariado. Para ele, o Direito somente atua de forma a defender os
interesses da burguesia.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE (1805 – 1859)


Histórico: Ele era aristocrata e a família foi perseguida na Revolução Francesa. Ele e os
pais escaparam, mas seu tio foi guilhotinado. Tocqueville criticou o regime instalado após
a Revolução, uma vez que era muito instável. Por ser aristrocrata, ele entendia que o
Antigo Regime não era de todo ruim, mas não era necessariamente a favor da volta da
monarquia absolutista. Ele defendia mais uma continuidade do Antigo Regime. Foco no
direito de propriedade.
O importante é o seu estudo sobre a democracia na América. Análise do sistema
prisional norte-americano. O choque que ele sofre é observar que não havia nenhum rastro
de aristocracia nos EUA. Observou que o indivíduo tinha muita liberdade.
O Poder Judiciário nos EUA, em meados do século XIX, é a maior força política sem
partido dos EUA. A influência e o poder do Poder Judiciário são fatores impensáveis
como conhecidos na Europa. É evidente que Tocqueville foi para os textos legais que
estruturam o desenho institucional republicano que reservava um papel muito pequeno
aos juízes.
A produção normativa demanda um ação real, o Poder Judiciário é aquele que
resolve conflitos, não pode encostar nas políticas públicas nem fazer leis. O Poder
Judiciário é inerte, não pode agir sem que seja provocado. Os limites subjetivos da
coisa julgada interferem na esfera de poder do Judiciário. Este poder conseguiu se
tornar a maior força política sem partido, a criação de precedentes por juízes de common
law.
Os fatos análogos obrigam a seguir a qualificação dos fatos em torno do
precedente. O precedente mais firme é dado pela Suprema Corte. Controle de
Constitucionalidade Difuso foi oriundo dessa perspectiva. O juiz individual deixa de
aplicar uma lei se a considera inconstitucional. O juiz americano só se mete em política
por acaso, é um acaso que acontece todo dia. O Judiciário pode alterar o cenário político
sem alterar as leis e as políticas públicas, mediante a modulação de sua força moral
(eficácia do direito).
A ação concreta dos indivíduos a partir da construção de cadeias sancionatórias é
um elemento fundamental na concepção de Tocqueville. A força moral decorre de toda
uma sistemática capaz de produzir um efeito da lei.

TEMAS 7 E 8
Izabel Nunes. E-mail: izabel.nunez@fgv.br
ROBERTO KANT DE LIMA
Marx, Weber e Durkheim tentaram ver o Direito como um fenômeno social, e não
como um fenômento jurídico. A ideia do Direito é ditar as normas do Estado. Mas o
Estado é, per si, um fenômeno relativamente novo.
Obra de Kant
 Sensibilidades jurídicas, saber e poder: bases culturais de alguns aspectos do
direitos brasileiro em uma perspectiva comparada (2010). Aqui ele fala do
conceito de um atropólogo americano de “sensibilidades jurídicas” e a sua
aplicação no Direito Brasileiro.
 Direitos Civis e Direitos Humanos: uma tradição judiciária pré-republicana?
(2004)
 A antropologia da Academia: quando os índios somos nós (1985). Comparações
entre a realidade jurídica norte-americana e a brasileira.
 A polícia da cidade do Rio de Janeiro (tese de doutorado).
Perspectiva comparada/antropologia
O autor, por meio de uma etnografia, vai fazer um estudo comparativo da cultura
jurídica norte-americana e brasileira.
 Perspectiva comparada por contraste.
 Sociedade Brasileira x Sociedade Norte-Americana.
 Sistema de Justiça BE x Sistema de Justiça EUA.
Comparação por contraste na antropologia: observa-se como as coisas funcionam
em uma sociedade, e, a partir das características empíricas dela, compara-se com outra.
Logo, deve-se entender o funcionamento das sociedades para entender o funcionamento
de suas respectivas justiças.
Em uma sociedade hierarquizada, o que desiguala as pessoas é o mercado. O acesso
aos recursos é desigual. Roberto da Matta tem o texto Você sabe com quem está falando?,
tratando justamente dessa ideia de hierarquia, superioridade, desigualdade. Nos EUA, por
sua vez, temos a lógica do quem você pensa que é?, que busca colocar as pessoas em pé
de igualdade. É uma noção completamente subvertida do que observamos no Brasil.
- sociedades representadas por paralelepípedo x sociedades representadas por
triângulo
As sociedades “triângulo” são aquelas que são claramente hierarquizadas, com
regras explícitas de desigualdade, regras legitimadas pelo Estado. É o caso da Índia com
o sistema de castas. Nestas sociedades, aqueles que querem sair daqueles extratos são um
problema.
Entretanto, nas sociedades representadas por paralelepípedo são aquelas que o
Estado “garantiria a igualdade”, pois os direitos servem para proteger o indivíduo dos
abusos do Estado. Seriam os EUA, a França etc.
O Brasil é um caso paradoxal, pois o discurso é de igualdade, mas a prática é
de desigualdade. A professora critica os ideais de Ruy Barbosa, este que diz que as
diferenças são legitimadoras de um tratamento desigual juridicamente falando. Igualdade
formal e material é algo criado por Ruy Barbosa para legitimar o desigual. Isso não
existiria em nenhum lugar do mundo, e aqui a doutrina apenas repetiria os conceitos
deturpados de igualdade sem questionamentos.
A igualdade pressupõe que um escuta o outro, que um respeita o outro, que
o direito de um não pode simplesmente invadir a esfera do outro.
Ex.: prisão especial.
As instituições aplicam regras de formas particularizadas, não só por causa de uma
questão de classes sociais, mas sim por causa de papeis sociais. Ex.: caso da vítima
esfaqueada que mudou a postura dos presentes na audiência por ter levado o filho bebê –
papel de mãe. Apesar de ser moradora da Maré, o tratamento mudou por causa do seu
papel de mãe.

Sistema Americano x Sistema Brasileiro


 Inquérito policial: procedimento de iniciativa de um Estado “todo poderoso” na
busca incansável da verdade. Autoridade policial (funcionário do executivo) que
tem delegação do Judiciário para atuar.
o Inquérito é adminitrativo, inquisitorial, tramita no cartório policial, mas é
entranado no processo judicial, podendo servir ao juiz.
o O inquérito é uma figura que somente existe no Brasil. Surge da própria
ideia de Inquisição da Igreja. Transportamos esse sistema de Portugal, em
que a Igreja já tinha a presunção de saber a verdade, e somente confrontava
o suspeito para confirmar.
o Nos EUA, tem-se apenas investigações, e não inquéritos. Os inquéritos
são “mini processos”, com essa questão de “presunção da verdade”.
o Portanto, Kant diz que além de ser o inquérito nesses moldes, é somente
no Brasil (nem mais em Portugal é assim). Além disso, o inquérito
invariavelmente vai para o processo judicial, e o juiz acaba tendo contato
com essas provas que seriam produzidas sem contraditório, sem ampla
defesa, e com a presunção de culpa.
 Produção de ethos de suspeição permanente: punir e abafar conflitos, prejudica
harmonia de uma sociedade de desiguais complementares.
 Tribunal do júri: nome – trial não é tribunal (court). Direito Subjetivo x
instituição judiciária obrigatória.
o Competência ampla x Competência para crimes dolosos contra a vida
(competência restrita): questão do latrocínio. Por que alguns crimes mais
graves não seriam julgados pelo tribunal do júri, como o latrocínio? – a
própria questão do “bem juridico tutelado” é uma questão política. O júri
foi criado, em verdade, para uma parcela da sociedade (para quem não
seria cidadão da República). Haveria diferentes tipos de processos penais
para diferentes pessoas da sociedade (Nina Rodrigues).
o Jurados selecionados pelo juiz x seleção ampla
o Dever de servir x direito de julgar (certificados)
o Redução do número de jurados
o Incomunicabilidade: os jurados não podem se comunicar entre si, apenas
votam. Haveria a questão de não poder se comunicar entre si porque não
haveria a igualdade entre os jurados. Exemplo dos “Doze homens e uma
sentença”.
MARIA DA GLÓRIA BONELLI
Trabalha com Sociologia das Profissões, atuando principalmente nos seguintes
temas: profissões jurídicas, sistema de justiça, profissionalismo e gênero, processos de
profissionalização contemporâneos.
 Estudo da feminização do mercado de trabalho jurídico. Não só o número de
mulheres aumentou nos escritórios grandes, como também muitas passaram a ser
aprovadas em concursos públicos, em carreiras jurídicas.
 Ela mostra em uma das pesquisas que, ao invés de as mulheres tentarem se
reafirmarem como gênero (questão de identidade de gênero), elas tentam se
masculinizar. O ambiente jurídico continua extremamente machista, ainda que o
número de mulheres no mercado tenha aumentado muito. Exemplo dado na
pesquisa dela é o fato de muitas mulheres em grandes escritórios abrirem mão da
licença maternidade.
Obras
 Profissionalismo, gênero e significados da diferença entre juízes e juízas estaduais
e federais (2011).
 Profissionalismo e diferença de gênero

Competição profissional no Mundo do Direito


 Há competição no mundo do direito?
 Disputas intraprofissionais: dentro das mesmas profissões
 Disputas interprofissionais: entre profissões diferentes.
 Juízes: 6 homens brancos; ascensão social; experiências anteriores como
funcionário de cartório (valorizavam mais a figura do juiz – autoridade) e
advogado.
 Promotores: 6 homens, um deles poderia não ser classificado como branco
(discurso de poder, processo de “branquização”); descendentes de segmentos mais
baixos da hierarquia social; socialização no “mundo da ordem”, não
necessariamente no “mundo do direito”.
 Delegados: 18 delegados (17 homens e uma mulher); origem social mais
diversificada; socialização no “mundo da ordem”, polícia, em casa, militar etc.;
muitos de faculdades privadas.
 Advogados: 16 entrevistados (11 homens e 5 mulheres); origem social mais
favorecida – profissional liberal depende de contatos – clientela – laços sociais;
ex-juiz; jovens de ascensão profissional.
 Funcionários judiciais: 7 funcionários (5 homens, 2 mulheres); nem todos
formados em direito; mais jovens pensam em realizar concurso para magistratura
– carreiras mais valorizadas são juiz e promotor.
Disputas interprofissionais: maior tensão entre aqueles que estão em posições mais
próximas, reforçanco a noção de que é a proximidade que aumenta as disputas. Mudança
de identidade profissional acompanha valores e opiniões (juiz-advogado; delegado-
promotor etc.).
 Hierarquia das profissões: cada profissão colocaria a culpa em outra, para poder
se eximir de algumas responsabilidades.
o MAGISTRATURA  LEGISLATIVO
o PROMOTORES  MAGISTRATURA
o DELEGADOS  MINISTÉRIO PÚBLICO
 A competção dos superiores em relação aos inferiores se dá quando os
segundos representam algum grau de ameaça. Juízes reforçam a superioridade
da sua posição em relação aos promotores.
 Conflito com legislativo unifica os profissionais do campo da justiça: todos
dizem que os problemas de sua atuação estãp relacionados com os problemas das
leis. Que as leis tornam o “processo moroso”, que não há preocupação com o
sistema penintenciário.
Disputas intraprofissionais: disputas e tensões vividas pelos pares dentro da mesma
profissão. Estratificadas em diferentes subgrupos.
 Os segmentos são dividos por gênero, etnia e gerações.
 Competição profissional x grupo coeso (a ideia de grupo coeso unifica a
identidade profissional)
 Força profissional – relacionada com identidade comum.
 Logo, seja por uma questão de identidade individual de cada um, seja por uma
questão ideológica, os profissionais conflitavam bastante entre si. Entretanto,
interessante é observar que, para fora, eles unificam o grupo como um grupo
coeso, por uma questão de identidade profissional, de questão política.
 Delegados: hierarquicamente (crítica à política de promoção – antiguidade x
merecimento); geracional (geração antes da ditadura x geração pós ditadura);
perfil (mais operacional x mais ostensivo ou “de rua”); delegado do interior x
delegado da capital; delegacia da mulher x outras delegacias (mudou com a Lei
Maria da Penha, associado com uma questão de aparecimento na mídia – posição
de prestígio).
 Cartórios judiciais: funcionários mais antigos x funcionários novos; auxiliares
do judiciário x escreventes (primeiros qualificam seus cargos e desqualificam os
escreventes); posição de chefia x oficiais de justiça (o segundo como sendo
subordinado diretamente ao juiz); posições subordinadas reverenciando os juízes
(simbologia nos juízes que eram funcionários, é forte).
TEMAS 9 e 10
EMILLE DURKHEIM
Viveu na França na segunda metade do século XIX, ínicio do séculoXX. A Europa
sofria muitas mudanças, como a Revolução Industrial, o desenvolvimento das ciências e
da própria sociedade.
Surgiram os Estados Nacionais – houve o processo de unificação da Itália e da
Alemanha, por exemplo. O que Durkheim busca entender é como que os laços entre as
pessoas não se dissipam. Ele está preocupado a entender a Sociologia a partir de uma
ciência da moral.
A moralidade para o autor seria um conjunto de regras que nos submetemos ao
viver em sociedade. As pesssoas se submetem a elas justamente por causa dos laços entre
os indivíduos. Essas regras existem de forma externa ao indivíduo e de forma
independente, fora da vontade do indivíduo. As regras são, em sua maioria, conhecidas
por todos, ainda que de forma implícita. Essas regras não são comportamentais, pois elas
orientam o comportamento, mas não são naturais. Mas cada pessoa, dentro de cada papel
que exerce na sociedade, “testa” os limites implícitos de cada regra, e como ela a afeta.
Ex.: todo aluno percebe o quão permissivo é o professor, para saber se este aceita ou
repreende qualquer tipo de conversa.
Durkheim queria fazer um discurso sobre a sociedade por um método específico,
e, por causa disso, ele tinha que tratar dessas regras morais como um fato social. Ou seja,
ele queria tratar essas regras como um objeto de pesquisa, de reflexão, de discussão. Os
fatos sociais têm a ver com essas regras implícitas da sociedade, que não é o cumprimento
a uma regra moral, mas as próprias regras em si. Se a sociedade as segue ou não, não é o
objeto de estudo dele. Os instrumentos para falar da sociedade são objetos de reflexão são
justamente os fatos sociais – não é à toa que ele deseja estudar a sociologia como uma
ciência da moral.
Novamente, se relembra que, para Durkheim, as normas sociais são externas aos
indivíduos, constrangem a segui-las, existem contra a vontade deles. Ele quer, inclusive,
demarcar a diferença entre essas regras morais que não se confundem com as demais
ciências. Quem criou as regras? Elas não teriam paternidade, pois se constituem através
das relações sociais.
Livro do suicídio de Durkheim. Se o suicídio é algo que acontece na sociedade,
podemos explicar esse fenômeno como um fato social, e, enquanto tal, explicar o social
pelo social (não se poderia se justificar pela política, pela biologia etc.). O aprendizado
de suicídio poderia se dar de acordo com as taxas de suicídio de cada local, conforme
Durkheim. Ele identifica, por exemplo, que, nos momentos de guerra, as pessoas se
suicidam menos, e, em momentos de paz, em crise econômica, por exemplo, as pessoas
se suicidam mais. Nos momentos de guerra, ele explica que os indivíduos procuram
fortalecer os laços sociais entre si. Nos momentos de paz, entretanto, ele diz que os
indivíduos perdem a sua “bússola”, que os deixa desnorteados na sociedade, o que motiva
o suicídio.
Durkheim identifica 3 tipos de suicídio. Ele identifica o suicídio egoísta, que é
quando o sujeito perde todas as relações sociais com a sociedade. O suicídio altruísta, por
sua vez, é quando o indivíduo está por demais ligado à sociedade (ex.: kamikaze, homens-
bomba). O terceiro tipo de suicídio seria quando todas as regras pelas quais o sujeito se
orienta se transformam radicalmente – ele chama de suicídio anômico. Logo, não é por
falta de regras, mas os indivíduos não reconhecem a transformação radical que elas
sofreram, o que os faz perder a “bússola”; é o que ele chama de anomia. Ex.: instalação
das UPPs nas favelas do Rio.
Apesar de Durkheim estar falando de suicídio em seu livro, e porque as suas taxas
variam de acordo com o tempo e lugar, é importante perceber que a anomia, enquanto
fenômeno de transformação das regras morais da sociedade de forma radical, viriam a
afetar uma comunidade. Isso, portanto, evidencia o quanto um conjunto de regras
influencia ou não um grupo de indivíduos.
Livro sobre a divisão social do trabalho de Durkheim. Ele busca entender a
sociedade em funcionamento como um organismo. A divisão do trabalho na sociedade
cria uma forma diferente de os indivíduos se relacionarem. Metodologicamente, ele usa
o Direito para explicar a divisão social do trabalho (para ele, o Direito é um tipo específico
das regras morais). Logo, com o Direito de uma sociedade podemos falar também das
regras morais dessa sociedade. Essas regras explícitas que o Direito coloca nos deixa claro
os tipos diferentes de solidariedade que podemos identificar entre as pessoas.
Haveria 2 tipos de solidariedade na divisão social do trabalho. O primeiro tipo
seria a solidariedade mecânica. Esta estaria ligada aos laços fortes, os valores mais
importantes que podem existir entre os indivíduos. Ele diz que esse tipo de solidariedade
pressupõe a existência de sanções de cunho repressivo, que é próprio do Direito Penal.
Esse tipo seria uma característica das sociedades primitivas. No caso da solidariedade
mecânica, ter-se-ia uma divisão social do trabalho mais simples. As sanções são aplicadas
de forma direta ao indivíduo, sem mediação. A solidariedade orgânica, por sua vez, traz
os laços fracos entre os indivíduos. A sanção tem natureza restitutiva, que é própria do
Direito Civil. A orgânica seria característica das sociedades complexas, uma vez que as
pessoas exercem diversos papeis sociais, e o Direito dessas comunidades é bem mais
complexo.
SOLIDARIEDADE MECÂNICA SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Valores MAIS importantes Valores MENOS importantes
Laços FORTES Laços FRACOS
Sanções repressivas, sem mediação Sanções restitutivas, com mediação
Direito Penal Direito Civil
Sociedades primitivas Sociedades complexas
Pessoas com poucos papeis sociais Pessoas com diversos papeis sociais
MAX WEBER
O autor fez uma interpretação diferente do capitalismo, fazendo comparações às
noções trazidas anteriormente por Karl Marx. Ele está preocupado entende as ciências
sociais não como uma fiel reprodução das regras da sociedade, mas sim busca entender
como a sociedade funciona a partir de um ponto de vista.
Essa noção de ponto de vista é importante para Weber, pois sempre será produzido
por um indivíduo, que estará situado em algum lugar da sociedade. Esse ponto de vista,
entretanto, não pode trazer juízos de valor. Logo, falar da sociedade seria NÃO
produzir juízos de valor sobre ela.
A sociologia, as ciências sociais em geral, não servem para dizer como a sociedade
deve funcionar. Isso porque, se o ponto de vista for “errado”, de um viés “errado”,
produzirá uma noção errônea da sociedade.
Ele, portanto, quer trazer o que é objetividade, sem, entretanto, se opor à
subjetividade. Weber entende que é impossível reproduzir a neutralidade completa,
pois todo indivíduo está envolvido na sociedade, situado em algum lugar dela. Por
causa disso, ele acreditava que as ciências sociais eram capazes de produzir um discurso
objetivo da sociedade, por meio de uma intersubjetividade, ou seja, o discurso deverá
ser submetido a diversos cientistas sociais. Eles disporão diversos consensos sociais, com
diversas metodologias. Assim sendo, a sociologia não tem a ver com os indivíduos
propriamente ditos, mas sim como um ponto de vista de um determinado cientista social.
Weber diz que devem ser criados conceitos que serão instrumentos para os
cientistas sociais que irão descrever a sociedade, conceitos desprovidos de juízos de valor.
É uma expressão do racionalismo europeu.
Contrapondo com Durkheim, que queria explicar a ordem social como uma coesão
social, Weber, por outro lado, busca explicar o sentido da ação social. Esta ação social
é um conceito, que define qual o objeto da sociologia.
 A ação social é a ação racional orientada para um sentido subjetivamente dado
na realidade. (WEBER, Max).
A ação é racional, pois se consegue perceber o sentido da ação. O sentido da ação é
diferente de pessoa para pessoa, e, por isso, ele diz que é um sentido subjetivamente dado
na realidade. Ele da 4 exemplos de sentidos subjetivos que a ação pode ter:
a) Orientada por valores: exemplo dado no seu livro “Ciência Política, duas
vocações”, quando ele explica como se observa na Alemanha do início do século
XX o que seria fazer política. As pessoas que viveriam para a política seriam
aquelas que se engajam no mundo político e defendem valores. Ele nota que as
pessoas cada vez mais passavam a ganhar a vida de “fazer política”. É um
processo de racionalização que Weber faz sobre a carreira política.
b) Orientada por meios/fins: seria um sentido orientado para uma finalidade, ou
seja, é instrumental. É uma relação instrumental, de uma ação que se dá
simplesmente por causa de uma finalidade.
c) Afetiva
d) Tradicional
Por meio desses tipos de ações sociais, Weber cria o conceito de tipos ideais, que são
sempre abstratos, mas são conceitos que nos ajudam a medir a realidade. Ex.: tipos ideais
dos perfis de turmas de alunos que um professor pode ter – anotam pouco, participam
muito; anotam muito, participam pouco; assim por diante. Os critérios que podem ser
usados podem ser infinitos, mas impreterivelmente criam tipologias diferentes que são
abstratas.
Kelsen foi aluno de Weber, e, em sua Teoria Pura do Direito, parte dos seus “tipos” é
inspirada por Weber.
Por causa disso, para a teoria de Weber, o sistema de medição é importante para criar
uma certa “régua” para os cientistas sociais. Por isso os conceitos criados por ele são
importantes. Ex.: vocação para a vida acadêmica dentro de uma universidade, ou vocação
para a atuação profissional na área, exemplo dado por Weber.
O processo de secularização é explicado por Weber na sociologia da religião. Ele
diz que há um processo de “desmagicização” das religiões com o passar do tempo. Seria
uma passagem das religiões mágicas para as religiões éticas. Ex.: diminuição das religiões
com a figura de shamans, e aumento das religiões com textos que embasam os seus
dogmas, como é caso da católica. Quando os dogmas católicas não são respeitados, os
sujeitos passam por um processo de culpabilização.
Esse processo de secularização nos explica, portanto, porque os indivíduos se sentem
culpados.
Outro efeito importante é o que o Direito proporciona à sociedade, pois ele media as
relações sociais de forma explícita. Todo o processo de secularização, portanto, estaria
ligado ao processo de racionalização da sociedade como um todo. No ínicio do século
XX, as correntes do positivismo jurídico já floresciam na Europa, exemplo da crescente
racionalização que a sociedade europeia experimentava à época.
Importante observação do surgimento da figura do Estado laico. Processo de
lascização, decorrente do processo de racionalização da sociedade.
Quando Weber fala no Direito, ele o trata como forma legítima de dominação.
Dominação seria o exercício de um sobre o outro. Mas Weber quer se ater sobre a
descrição das formas legítimas de dominação, que são reconhecidas pelo próprio
indivíduo. As formas de dominação que ele identifica como legítimas são:
a) Racional legal: está fundada no Direito escrito, nos textos escritos. Ex.: Qual a
legitimidade que o Temer tem para exercer a Presidência da República? – é a
legitimidade trazida pela Constituição Federal do Brasil.
b) Tradicional: tem a ver com o fato de o exercício do poder sempre ter se dado
dessa forma, e continuar assim sendo. Ex.: o exercício de dominação feito pela
Igreja Católica.
c) Carismática: tem a ver com as virtudes pessoais de um indivíduo. Decorre de
uma característica particular de alguém. O carisma não é algo natural; é algo
construído.
Weber queria concentrar o seu estudo nas formas de dominação legítimas que
fossem racionais legais, pois seriam aquelas originadas pela burocracia. Para ele, o termo
não tem uma conotação pejorativa (pois seria somente um juízo de valor). Logo, é uma
forma de dominação fundada sobre os diplomas, regras que estão orientadas pela
impessoalidade, e, principalmente, haveria sempre uma hierarquia.
O Direito, portanto, é uma forma de mediar as relações sociais; é a racionalização
das relações sociais.

You might also like