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A comunhão Trinitária na vida da Igreja

ThalisonBozani Rocha

Resumo

Nas duas décadas finais do século XX Karl Rahner, Jürgen Moltmann, Leonardo
Boff, Wolfhart Pannenberg, Colin Gunton e Millard Erickson, buscaram refletir e
reaplicar a doutrina trinitária, produzindo um grande número de estudos dogmáticos,
bíblicos e históricos.1 O objetivo desse ensaio é mostrar a compreensão da doutrina da
trindade formulada por Leonardo Boff e também pelos conservadores e como ambas se
relacionam. Com isso apresentarei qual a importância da doutrina da Trindade para a
comunhão na vida da Igreja.

Palavras chaves

Doutrina da Trindade - Comunhão.

Introdução

Este artigo apresenta a comunhão Trinitária apresentada por duas


perspectivas teológicas diferentes, como resposta a comunhão na vida da Igreja.
Leonardo Boff considera a concepção Trinitária de Deus tão revolucionária para a
sociedade, a Igreja e para a autocompreensão da pessoa, que se dispõe a difundi – la
nesta forma mais popular e mais universalmente apreensível. Ele diz que vale a pena
crer na Trindade e num Deus – comunhão, ele apresenta talvez o maior motivo para crer
na Trindade. O objetivo é que esse Deus se compõe com o mais excelente de nossa
natureza e não se opõe às nossas buscas mais fundamentais. Pelo contrário, vem ao
nosso encontro e se oferece a si mesmo como sua plena realização. Em suas palavras ele
diz:

Deus não é solidão. É comunhão de três pessoas divinas.


Portanto, a Primeira e a Última Realidade é relação, é extravasamento

*
Graduando em Teologia pela Escola de Ensino Superior FABRA, Serra, Espirito Santo.
Email: thalison.rocha25@outlook.com
1
Franklin Ferreira citando no artigo Agostinho e a Santíssima Trindade: Para a bibliografia, cf. J.
Scott Horrell, “O Deus trino que se dá, a imago Dei e a natureza da igreja local”, Vox Scripturae v. 6 – n.
2 (Dezembro 1996), p. 243-244. Cf. também J. Scott Horrell, “Uma cosmovisão trinitariana”, Vox
Scripturae v. 4 – n. 1 (Março de 1994), p. 55-77.
de si mesmo, é vida e amor. Tudo isso está contido na realidade
comunhão.2

Há uma importância em estudar essa doutrina na visão de teólogos


reformados, ela é tão grandiosa que nos ensina sobre a Pessoa do ser divino, essa
doutrina é tão peculiar ao cristianismo, sempre foi motivo de ataque de outras religiões
pelas grandes dificuldades que se apresenta. Esse é um dos maiores mistérios da fé
cristã. Contudo, a despeito de ser um tema de difícil compreensão, justamente porque
excede o nosso entendimento, ele merece ser estudado, porque as Escrituras nos
fornecem dados importantes e algumas de suas passagens mostram de modo inequívoco
a existência de três Pessoas no ser de Deus.3

1. O que é comunhão Trinitária?

A abordagem ocidental sobre a doutrina da trindade foi marcada por sua


tendência de partir da unidade de Deus, especialmente nas obras da revelação e da
redenção, e por interpretar o vínculo das três pessoas em termos de seu mútuo
relacionamento. A Trindade é a comunhão das pessoas divinas, que existem uma para a
outra, uma com a outra, uma pela outra, e uma na outra. Esta comunhão é o mistério de
amor do Deus vivo.4

1.1 Uma apresentação sobre a Doutrina da Trindade.

Wayne Grudem define do seguinte modo: “Deus existe eternamente como três
pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um

2
Boff, Leonardo. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade/ Leonardo Boff. 12. Ed. –
Petrópolis, Rj : Vozes, 2011. p. 13 e capa.
3
Campos, Heber carlos de. O ser de Deus/ Heber Carlos de Campos. _ São Paulo: Cultura
Cristã, 2012. P.105.
4
McGrath, Alister E. 1953 – Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a
teologia cristã/ Alister E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes]. – São Paulo: Shedd
Publicações, 2005. (P. 378)
5
Deus.” Com um parecer bem semelhante, a confissão de Fé de Westminster define a
Santíssima Trindade da seguinte forma:

Na Unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma


substância, poder e eternidade: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o
Espírito Santo. O Pai não é de ninguém: não é gerado, nem
procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é
eternamente procedente do Pai e do Filho.6

Correlativo a confissão de Fé de Westminster temos o Credo de Constantinopla


ou, tecnicamente, “Credo Niceno-Constantinopolitano”. Este Credo que se tornou a
declaração da fé Cristã durante o quarto e o quinto séculos. Com respeito a Jesus Cristo
e ao Espírito Santo, ele reza:7

Cremos em um só Senhor, Jesus Cristo, o único filho de


Deus, eternamente gerado do Pai, Deus de Deus, luz de luz,
verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, de um só ser
com o Pai. Todas as coisas foram feitas através dele. Ele desceu do
céu para nós, homens e para nossa salvação; ele foi encarnado da
virgem Maria pelo poder do Espírito Santo, e se fez homem. Por nossa
causa ele foi crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos; sofreu a morte
e foi sepultado. Ao terceiro dia ressuscitou de acordo com as
Escrituras; subiu ao céu e está sentado à direita do Pai. Ele virá outra
vez em glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá
fim. Cremos no Espírito Santo, o Senhor, o doador da vida, que
procede do Pai (e do Filho). Com o Pai e com o Filho ele é cultuado e
glorificado. Ele falou através dos profetas.8

Alguns ainda ficam em duvida se a Trindade emprega a idéia de três deuses, a


resposta é não; quanto a isso o Breve Catecismo de Westminster em sua pergunta de
número 6 indaga: “Quantas pessoas há na Divindade (ou Trindade)” sua resposta é “Há
três pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três são um Deus, da
mesma substância, iguais em poder e glória.” Um dos textos que é usado para apoiar
essa resposta é o texto de 1 João 5.7 que diz: “Pois há três que dão testemunho (no céu:
o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e Estes três são um)”. Thomas Watson comentando
está resposta em seu clássico livro “A Body of Divinity” 9 ele diz/:

5
Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática/ Wayne Grudem – São Paulo: Vida Nova, 1999. p.
165.
6
Ibid., p.1009
7
Lawson, Steven J. Pilares da graça: 100 – 1564 D.C/ Steven Lawson; tradução Valter Graciano
Martins. – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. – (Longa linha de vultos piedosos; v.2)
8
Steven Lawson citando Gerald Bray em seu livro “Pilares da graça” nas Paginas 230 – 231,
Gerald Bray, Creeds, Councils&Christ (Downers Grove, III.:InterVarsity, 1984), 206 – 207.
9
Traduzido “Corpo da divindade”
Deus é somente um, ainda que haja três pessoas distintas
existindo numa única divindade. Esse é um mistério sagrado, que a luz
dentro do homem jamais poderá descobrir, Assim como as duas
naturezas em Cristo, que é uma única pessoas, causam espanto,
também as três pessoas da Trindade que são somente um Deus. Isto é
muito profundo: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – não são
três deuses, mas somente um Deus. As três pessoas na bendita
Trindade são distintas, mas não divididas: três substâncias, mas
somente uma essência.10

1.2 A Teoria da Pericorese.

Foram postas duas teorias ocidentais para uma melhor abordagem sobre a
doutrina da Trindade. Essas duas teorias são normalmente denominadas como
“interpenetração mútua” (em grego, pericórese, ou, perichoresis) e “apropriação”. Esse
termo grego, também encontrado tanto no latim (circumincessio) como no português
(“interpenetração mútua”), passou a ser de uso geral no século VI. 11Essa teoria usada
para explicar a comunhão das três pessoas da Trindade tem como sentido o fato de
envolver - circum - e entrar numa profunda intimidade. Cada membro da Trindade, em
algum sentido, habita no outro, sem diminuição da total pessoalidade de cada um.12 O
mútuo relacionamento entre as três pessoas, equivalentes no âmbito da Trindade, tem
sido defendido de modo a fornecer um modelo aplicável tanto às relações humanas no
âmbito das comunidades quanto às teorias política e social cristãs.13

1.3 A Teoria da Apropriação.

A doutrina da Apropriação diz que as obras da Trindade constituem uma


unidade; portanto, cada uma das pessoas participa de todas as ações da própria
Trindade. Desta maneira, Pai, Filho e o Espírito estão todos envolvidos na obra da
criação, que não deve ser encarada como uma obra exclusiva do Pai. Agostinho de

10
Watson, Thomas. A fé cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster / Thomas
Watson; traduzido por Trinity Traduções e Publicações S/C._ São Paulo: Cultura Cristã, 2009. P. 135 -
136
11
Ibid., p. 379.
12
Veja o artigo sobre a doutrina da trindade, Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior.
http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_isaias.htm/ Visualizado 22/11/2018
13
Ibid., p. 380
Hipona, por exemplo, destacou que o relato da criação em Gênesis fala de Deus, do
Verbo, e do Espírito (Gn1. 1 – 3), indicando que todas as três pessoas da Trindade
estavam presentes e ativas nesse momento decisivo da história da salvação. As
doutrinas da Pericórese e da Apropriação nos permitem pensar na Trindade como uma
“comunhão do ser”, na qual tudo é compartilhado, unido e trocado mutuamente. Pai,
filho e Espírito não são três porções isoladas e divergentes da Trindade, como se fossem
três subsidiárias pertencentes a uma corporação internacional. Ao contrário, eles são
diferenciações internas da Trindade, o que fica evidente na economia (plano) da
salvação e na experiência humana da redenção e graça. A doutrina da Trindade afirma
que, sob a superfície de complexidades da história da salvação e de nossa experiência de
Deus, encontra – se apenas um único Deus.14

2. Como Leonardo Boff apresenta a comunhão Trinitária.

Boff começa apresentando o Deus cristão como um Deus que possui uma
comunicação de vida com ele mesmo, esse Deus é uma “comunhão eterna dos divinos
Três, Pai, Filho e Espírito Santo.” 15 Ele tem a preocupação de apresentar uma teologia
bíblica e diz que uma palavra que foi encontrada para expressar esta dinâmica divina é a
“vida” 16
. Deus é entendido como um viver eterno, doador de vida e protetor de toda
vida ameaçada como aquela dos pobres e injustiçados. Vida é um mistério de
espontaneidade, um processo inesgotável de dar e receber, de assimilar, incorporar e
entregar a própria vida em comunhão com outra vida. Entenderemos alguma coisa da
Santíssima Trindade se a referirmos ao mistério da vida. Pai, Filho e Espírito Santo são
viventes eternos se autorrealizando na medida em que se autoentregam uns aos outros.17
A saber, sobre a dinâmica divina que para ele é a “vida”, ele diz:

Não sabemos o que é a vida. Mas ela implica movimento,


espontaneidade, liberdade, futuro e novidade. A Trindade é vida
eterna, logo é liberdade, doação e recepção perene, invenção de si
mesma para dar – se incessantemente.18

14
Ibid
15
Ibid.
16
Palavra que expressa à dinâmica da Trindade para Leonardo Boff.
17
Ibid., p. 77 – 79
18
Ibid., p. 80
Boff também vai apresentar a trindade como uma comunhão que se expressa
junto. A saber, sobre isso ele cita o documento de Puebla:

Revela – nos Cristo que a vida divina é comunhão trinitária.


Pai, Filho e Espírito vivem em perfeita intercomunhão de amor, o
mistério supremo da unidade. Daqui procede todo amor e toda
comunhão para a grandeza e dignidade da existência humana. 19

2.1 A comunhão eterna da Trindade.

Como grande parte dos teólogos que estão preocupados com uma teologia
saudável, Leonardo Boff defende a união das três pessoas da Trindade e essa união é
constituída por um laço de amor, vida e essa comunhão é eterna. “Eles emergem
simultaneamente, irrompem eternamente um na direção do outro, constituindo uma só
comunidade de vida, de amor e de união.” 20
Essa união é apresentada de forma como
três fontes em que cada água vai de encontro um com o outro, constituindo uma única
lagoa. “É como três esguichos d’água irrompem para cima e se encontram no topo
formando um só jato torrencial d’água. E isso eternamente.” 21 O grande impacto para a
compreensão da comunhão eterna da Santíssima Trindade é que essa união só pode ser
estabelecida por pessoas diferentes uma das outras, e essa comunhão é então
estabelecida porrelações de intimidade, de mútua entrega, de amor que funda uma
comunhão e uma comunidade. “Entre as divinas Pessoas a comunhão é absoluta e a
relação infinita. Este conviver e coexistir constitui a unidade da assim chamada divina
22
essência ou natureza ou substância.” Santo Agostinho dizia com acerto que o amor
entre os divinos Três fundamenta a união trinitária. Com expressões cujo segredo ele
conhece, escrevia: “Cada uma das pessoas divinas está em cada uma das outras e todas
em cada uma e cada em todas e todas estão em todas e todas são somente Deus.” 23São
Bernardo de Claraval também escreve em seu tratado sobre o amor de Deus e diz que:

Na Santíssima Trindade o que é que conserva aquela suprema


e inefável unidade, senão o amor? O amor é a lei e esta lei é lei do

19
Leonardo Boff citando “Documento de Puebla, n.212” em seu livro “A Santíssima Trindade é
a melhor comunidade” P. 81.
20
Ibid., P. 77
21
Ibid.
22
Boff, Leonardo. (p. 89)
23
Ibid.
Senhor. Este amor constitui a Trindade na unidade e de certa forma
unifica as Pessoas no vínculo da paz. Amor cria amor. Esta é a lei
eterna e universal, lei que cria tudo e tudo governa. 24

Eis ai uma pergunta que pode ser feita, sabemos que O Pai, Filho e o Espírito
Santo são coeternos e simultâneos. Como deixar de forma clara que cada uma das
Pessoas da Trindade édiferente uma das outras e, ao mesmo tempo, relacionada sempre
entre si? Boff responde da seguinte forma:

A Teologia, à deriva do Novo Testamento, fala de processões


divinas. Com isso se quer mostrar como uma Pessoa se relaciona
sempre com a outra. Do Pai se diz que é fonte e causa de toda a
divindade. Dele procedem o Filho e o Espírito Santo. Também se diz
que o Pai “gera” o Filho. Pai e Filho “espiram” ou sopram o Espírito
Santo como de um só princípio. Estas expressões “causa”, “geração”,
“espiração” e “processões” podem nos dar a impressão de que em
Deus existe uma espécie de teogonia (gênese e geração de Deus). Na
perspectiva da eternidade, o Pai não é anterior ao Filho e ao Espírito
Santo. Eles irrompem sempre juntos e já entrelaçados no amor e na
comunhão infinita.25

Diante desta concomitância das Três Pessoas da Trindade, precisamos entender


as expressões usadas pela Igreja e recobradas pela teologia, como “causa”, “geração”,
“espiração” num sentido analógico e figurativo. Estamos diante de fórmulas altamente
sugestivas. Veremos que elas são altamente respectivas, mostrando com afinco como os
divinos Três estão entrelaçados em uma união de amor. “Não existe Pai sem o Filho,
nem o Filho sem o Pai. Não existe o sopro (Espírito) que não acompanha a Palavra
(Filho) proferida pela boca do Pai.” 26

2.2 Como relacionar os dois pensamentos?

Ambos os pensamentos seja o pensamento Reformado (Conservador) ou


pensamento defendido pelo Leonardo Boff, parte do pressuposto da fidelidade bíblica
quanto está doutrina. Todos os dois trabalham com a defesa da comunhão eterna entre
os divinos Três, os dois pensamentos dizem a cerca da relação que um tem com o outro
desde a eternidade. O uso da Pericórese e da Apropriação na explanação da doutrina
deixa claro essa relação. “O pensamento central de ambos é que Deus é eternamente,

24
Leonardo Boff citando São Bernardo de Claraval em seu livro “A Santíssima Trindade é a
melhor comunidade” na página 90, São Bernardo, Livro do amor de Deus, cap. 12, n. 35: PL 182, 996 B.
25
Ibid., p. 91.
26
Ibid.
sem começo e sem fim, Pai, Filho e Espírito Santo, reciprocidade dos divinos Três num
único amor, irrupção infinita de uma mesma via.” 27

Os dois são concomitantes no que dizer a respeito da “Triunidade.” 28


Sobre a
relação na Trindade Agostinho de Hipona argumenta sobre uma relação correspondente
entre os elementos da Trindade. Ele expressa:

O dom deve refletir a natureza do doador. Deus já está


presente na relação que ele deseja promover entre nós. E assim como
o Espírito é o elo de união entre Deus e os cristãos, da mesma forma o
Espírito desempenha um papel correspondente entre os elementos da
Trindade, unindo as três pessoas. O Espírito Santo... nos faz habitar
em Deus e Deus em nós. Mas isso é o efeito do amor, assim o Espírito
Santo é Deus, o qual é amor. 29

Boff também faz uma pronuncia que deixa claro seu pensamento acerca da
relação de comunhão na Trindade, relação está que explicamos acima chamada de
Pericórese. Ele diz que ao pensar sobre a Trindade devemos pensar na comunhão entre
os divinos três, Pai, Filho e Espírito Santo. E está comunhão que se dá por parte das três
pessoas da Trindade, que os teólogos ortodoxos cunharam a expressão Pericórese que
começou a se espalhar a partir do século VII, especialmente por São João Damasceno
(morreu em 750).30

A física moderna mostrou que não podemos mais falar de


partículas elementares, como átomos, núcleos e hádrons. Na nova
visão, o universo é concebido como uma teia de eventos sempre inter
– relacionados; todos os fenômenos naturais estão interligados, de
sorte que nenhum pode ser explicado por si sem os outros. É o reflexo
da pericórese divina dentro da criação.31

27
Ibid., p. 90.
28
Termo também usado por muitos teólogos para se referir a Trindade.
29
McGrath, Alister E., P. 386 – 387.
30
Ibid., p.40.
31
Leonardo Boff citando “Fritjof Capra, o capítulo Interpenetração do livro ‘O tao da Física’, S.
Paulo 1987, 213 – 225” em seu livro “A Santíssima Trindade é a melhor comunidade” P. 41.
3. Qual é a relevância, para a Igreja, do modo como a Trindade se
relaciona?

Heber Carlos de Campos expõe três motivos importantes para se estudar e


aprender sobre a doutrinada Trindade:

Se não damos a devida importância a essa doutrina, a questão


da expiação fica totalmente sem sentido. Se não há a Trindade, não há
encarnação; e se não há encarnação do Verbo, a expiação torna – se
apenas uma apresentação teatral mórbida sem qualquer significação
para nós. Se foi apenas um homem que morreu na cruz em nosso
favor, ainda estamos mortos em nossos pecados.32

Em segundo lugar ele diz:

Se não dermos a devida importância a essa doutrina, a


questão da justificação pelo sangue de Cristo fica totalmente
prejudicada. As nossas culpas continuariam conosco, porque um
homem simplesmente não pode levar a culpa de homens, morrendo na
cruz, sem condições de ressuscitar por seu próprio poder. Se não
houvesse a Trindade, ainda estaríamos com a dívida por pagar.
Poderíamos depender da obra de um homem para ter nossa dívida
paga? Porque o Redentor é Deus – homem, podemos ter cancelada a
nossa dívida.33

Em terceiro lugar ele encerra dizendo:

Se não dermos a devida importância à doutrina da Trindade,


o objeto de nossa fé, Jesus Cristo, é apenas um homem, nada mais.
Somente a doutrina da Trindade faz com que vejamos em Cristo o
Verbo encarnado.34

Somos chamados a estudar e aceitar tal grandeza e gloriosa revelação da


Santíssima Trindade.35 Como disse Alister Mcgrath: “A doutrina da Trindade é, sem
dúvida alguma, um dos assuntos mais complexos da teologia cristã e requer uma
36
cuidadosa discussão.” Não é por isso que não seja primordial para a vida da igreja;
pelo contrário é tão necessário quanto qualquer outra. Como disse Herman Bavinck:
“Atanásio entendeu melhor do que todos os seus contemporâneos que o cristianismo
37
permanece ou cai com a confissão da divindade Cristo e da Trindade.” Há certo
ceticismo na mente de algumas pessoas quanto à aplicabilidade dessa doutrina. Mas

32
Ibid.,P. 157
33
Ibid.
34
Ibid.
35
Ibid.
36
Ibid., 374
37
Bavinck, Herman. The Doctrine of God, reedição (Edimburgo: Banner of Truth, 1991). P. 281.
devemos nos lembrar que Deus se revelou por meio da sua Palavra e devemos buscar
compreensão daquilo que nos foi revelado sobre sua natureza. 38 “Sem a Trindade não
poderia haver a noção de salvação”. Heber Carlos de Campos expressa sobre a
importância desta doutrina nas seguintes palavras:

Se Deus não fosse triúno, o Pai não poderia enviar o seu


Filho. Se alguém tivesse que morrer seria apenas homem e não Deus –
homem. Se não houvesse o Filho para se encarnar, o nosso redentor
seria apenas humano. Se fosse apenas humano, ele não poderia morrer
pelos pecados de muitos. Seria apenas um homem substituindo um
homem. Os demais seriam castigados pelos seus pecados.39

E não apenas com o objetivo de compreender nossa salvação; o foco desse


ensaio é mostrar a importância da Santíssima Trindade como exemplo de comunhão
para a vida da Igreja. Com esse mesmo enfoque Catherine laCugna relata:

A verdade, tanto a respeito de Deus como de nós próprios, é


que nós existimos como pessoas em comunhão numa família comum,
vivendo como pessoas da parte de outros e para outros, não como
pessoas em isolamento ou separação ou autocentradas.40

Podemos ver o exemplo da Igreja Primitiva dos Atos dos Apóstolos que diz:
“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.” (Atos 2.44) Uma breve
analise sobre o adjetivo comum, pode nos levar a ter um vislumbre melhor, veja o que o
Dicionário Vini diz:

koinos (koινóç) denota: (a) “comum, pertencente a vários”


(em latim, communis), referido a coisas tidas em comum (At 2.44;
4.32); à fé (Tt 1.4); à salvação (Jd 3); está em contraste com o termo
idios. “próprio da pessoa”.41

De igual modo, em um sermão aos catecúmenos sobre o Credo expressa:

Na comunidade dos Atos dos Apóstolos, os cristãos se


amavam tanto que formavam um só coração e uma só alma (At 4.32).

38
Ibid.
39
Ibid., P. 158.
40
Heber Carlos de Campos citando “Catherine Mowry laCugna, God for Us: The Trinity and
Christian Life (San Francisco: Harper Collins, 1991), P.383,” Em seu livro “O Ser de Deus e seus
Atributos”.
41
Vine, W. E. Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do
Novo testamento/ W. E. Vine; editado por Merril F. Unger, William White, JR.; traduzido por Luís Aron
de Macedo. 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016. P.484.
Se lá o amor constituía tão forte comunidade, como não deve ser com
a Trindade! Santo Agostinho comentando tal fato disse: “O amor em
Deus é tanto que impede a desigualdade e cria a igualdade inteira. Se
na terra e nos homens pode haver tanto amor a ponto de muitas almas
fazerem – se uma só, como não existir também tal amor entre o Pai e o
Filho, já que ambos são sempre inseparáveis, e, assim, serem um Deus
só? Lá as muitas almas fizeram – se uma só, por uma inefável e
suprema conjunção; aqui igualmente e pela mesma razão as Pessoas
divinas se fizeram não dois deuses, mas um único Deus. 42

Entendemos que a Trindade é o verdadeiro exemplo de uma “melhor


comunidade”.43 O casamento, por exemplo, que é uma instituição divina, tem como
fundamento a idéia de um relacionamento complementar.44 Grudem diz que “no
relacionamento entre homem e mulher no casamento, vemos também uma figura do
relacionamento entre o Pai e o Filho na Trindade”. Paulo diz: “Quero, entretanto, que
saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem o cabeça da mulher, e Deus o
cabeça de Cristo” (1 Co 11.3). Como diz Heber Carlos de Campos:

A idéia de cabeça está presente nos três relacionamentos


mencionados na passagem. Portanto, assim como o homem tem uma
relação de autoridade sobre a mulher no casamento, o Pai também a
tem com relação ao seu Filho. 45

No entendimento de Grudem, “o papel do marido é paralelo ao de Deus, o Pai, e


o papel da esposa ao de Deus, o Filho”.46 Podemos perceber a importância da Trindade
para nós, por isso Leonardo Boff diz:

Na Trindade o que faz a união dos divinos Três é a comunhão


entre eles e a completa entrega de uma Pessoa às outras. Da mesma
forma deve ocorrer na Igreja: superando a centralização do poder e
distribuindo – o entre todos é que surge a unidade dinâmica, reflexo da
união Trinitária.47

Usando a Trindade como fundamento para a comunidade, surge então uma


comunidade com diversidades que são respeitadas e valorizadas como expressão da
riqueza da comunhão da própria Trindade. Cada um, na medida em que cria comunhão
e se insere na comunhão, é representante da Santíssima Trindade. 48 Podemos afirmar
como Boff:

42
Leonardo Boff citando (Sermão aos catecúmenos sobre o Credo, I, 4: PL 40, 629) Em seu livro
“A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, P.85.
43
Tema central abordado por Leonardo Boff.
44
Ibid., P. 159
45
Ibid.
46
Ibid., P. 257.
47
Ibid., P. 100.
48
Ibid., P. 99.
Quando a Igreja esquece a fonte da qual nasceu – a
comunhão das Três divinas Pessoas – deixa que sua unidade se
transforme em uniformidade; que um grupo de fiéis assuma sozinho
todas as responsabilidades, dificultando a participação dos demais;
deixa que os interesses confessionais predominem sobre os interesses
do Reino; enfim, o rio de águas cristalinas corre o risco de se
transformar num charco de águas paradas. Importa converte – se à
Trindade para recuperar a diversidade e a comunhão, que cria a
unidade dinâmica e sempre aberta a novos enriquecimentos. 49

Considerações finais

Nesta pesquisa, partimos da perspectiva visual de duas linhas. Foi analisado o


ponto de vista de Leonardo Boff e a dos conservadores quanto a Doutrina da Trindade.
A partir de ambos os pensamentos nos aprofundamos em tentar explicar brevemente a
doutrina e trazer teorias que contribuíram para o desenvolvimento e na compreensão da
doutrina.

Buscamos mostrar ponto a ponto para desenvolver uma compreensão sobre o


que a pesquisa apresenta. Contudo foram apresentadas e respondidas as indagações que
muitos têm quanto à doutrina da Trindade. Por mais que seja uma doutrina difícil para
se compreender, o que foi proposto pela pesquisa, teve seu êxito no final da mesma.

Somos convidados a experimentar conhecer a Trindade por meio da revelação de


Deus proposta ao ser humano; uma experiência com ela poderá mudar nossa
cosmovisão eclesiástica. Já não bastasse a falta de unidade que tem entre diversas
Igrejas cristãs, vemos dentro do mesmo circulo seja ele protestante ou católico, uma
falta de união entre as pessoas, e essa pesquisa teve esse fim, mostrar ao leitor o
exemplo da Trindade para uma melhor comunidade.

Chegamos ao fim desta pesquisa com a certeza de abordar, mesmo que de forma
geral, os fatores decisivos do tema em questão, depois de ter apontado diversas amostras
da necessidade desta doutrina e como nos é benéfica para nós em nossa realidade.
Certamente não respondemos a todas as questões, por isso faz parte de um processo, um
caminho que vai sendo feito ao se unir a teoria à experiência cristã, na vida pessoal,
espiritual e na pastoral.

49
Ibid.
Bibliografia

A lista é dos livros e artigos citados na obra. Os artigos acessados na internet


têm seu endereço citados nas notas de rodapé onde foram mencionados.

Bavinck, Herman. The Doctrine of God, reedição (Edimburgo: Banner of Truth,


1991).

Boff, Leonardo. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade/ Leonardo Boff.


12. Ed. – Petrópolis, Rj : Vozes, 2011.

Campos, Heber carlos de. O ser de Deus/ Heber Carlos de Campos. _ São
Paulo: Cultura Cristã, 2012.

Ferreira, Franklin. Artigo Agostinho e a Santíssima Trindade.

Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática/ Wayne Grudem – São Paulo: Vida


Nova, 1999.

Júnior, Isaías Lobão Pereira. artigo sobre a doutrina da trindade.

Lawson, Steven J. Pilares da graça: 100 – 1564 D.C/ Steven Lawson; tradução
Valter Graciano Martins. – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. – (Longa
linha de vultos piedosos; v.2).

McGrath, Alister E. 1953 – Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma


introdução a teologia cristã/ Alister E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira
Lopes]. – São Paulo: Shedd Publicações, 2005.

Vine, W. E. Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras


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