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Abstract The scope of this case study is to discuss Resumo Trata-se de um estudo de caso no qual se
the ideas of the Brazilian Codex Alimentarius discutiram as ideias do Comitê do Codex Alimen-
Committee (CCAB) coordinated by National In- tarius do Brasil (CCAB), coordenado pelo Insti-
stitute of Metrology, Standardization and Indus- tuto Nacional de Metrologia, Normalização e
trial Quality (Inmetro), with respect to the Codex Qualidade Industrial (Inmetro) sobre a norma
Alimentarius norm on Risk Analysis (RA) applied Codex Alimentarius de Análise de Risco aplicada
to Food Safety. The objectives of this investigation aos alimentos (AR). Os objetivos deste trabalho
were to identify and analyze the opinion of CCAB foram identificar e analisar a opinião dos mem-
members on RA and to register their proposals for bros do CCAB sobre AR e levantar as propostas
the application of this norm in Brazil, highlight- para a adoção desta norma no país, destacando as
ing the local limitations and potential detected. limitações e as potencialidades locais apontadas.
CCAB members were found to be in favor of the Os membros do CCAB mostraram-se favoráveis à
Codex Alimentarius initiative of instituting an iniciativa do Codex em instituir a norma AR para
RA norm to promote the health safety of foods that promover a segurança sanitária dos alimentos que
circulate on the international market. There was transitam no mercado internacional. Houve con-
a consensus that the Brazilian government should cordância no sentido de que o governo brasileiro
incorporate RA as official policy to improve the deva incorporar a AR como política oficial para
country’s system of food control and leverage Bra- melhorar o sistema de controle de alimentos do
zilian food exports. They acknowledge that Brazil país e para fortalecer as exportações brasileiras de
has the technical-scientific capacity to apply this alimentos. Reconheceram que o Brasil dispõe de
norm, though they stressed several political and capacidade técnico-científica para aplicar essa
institutional limitations. The members consider norma, porém destacaram várias limitações polí-
1
Diretoria de Vigilância
RA to be a valid initiative for tackling risks in tico-institucionais. Os membros reconhecem a AR
Sanitária da Secretaria de
Saúde do Distrito Federal. food, due to its ability to improve food safety con- como uma iniciativa valiosa para enfrentar os
SGAN 601, Lotes O/P, Asa trol measures adopted by the government. riscos dos alimentos, devido a sua capacidade de
Norte. 70830-010 Brasília
Key words Food safety risk analysis, Sanitary aprimorar as ações de controle sanitário de ali-
DF. anavirginia.figueiredo@
gmail.com surveillance, Food safety mentos realizadas pelo governo.
2
Departamento de Análises Palavras-chave Análise de risco de alimentos,
Bromatológicas da
Faculdade de Farmácia,
Vigilância sanitária de alimentos, Segurança sa-
Universidade Federal da nitária dos alimentos
Bahia.
2252
Figueiredo AVA, Miranda MS
a 2006, que continham como pauta a AR para ral da Bahia para conhecimento e, na sequência,
verificar a evolução das discussões. Em comple- entregue o Termo de Consentimento Livre e Escla-
mentação, foram analisadas as sete Posições Bra- recido para ciência, preenchimento e assinatura.
sileiras referentes ao mesmo período, que corres- A gravação das entrevistas realizou-se no pe-
pondem aos documentos oficiais onde constam ríodo de agosto a dezembro de 2006, em Brasília
as considerações, as críticas e as sugestões sobre (DF). Após a leitura das narrativas das entrevis-
os projetos de normas a serem defendidas pelo tas, adotou-se o Plano de Análise com base nas
Brasil na ocasião da Reunião do Comitê do Co- orientações de Bardin25. Os trechos recortados
dex Alimentarius sobre Princípios Gerais (CCGP), foram analisados à luz das referências teóricas
responsável pela condução da temática de AR. relacionadas à globalização da economia, riscos
Optou-se pela técnica da entrevista semies- dos alimentos e segurança sanitária de alimentos
truturada, porque possibilita extrair os signifi- (Quadro 1).
cados que os indivíduos atribuem ao objeto in-
vestigado e compreender a lógica que respalda a
sua aplicação prática. Após a realização do pré- Resultados e discussão
teste, as entrevistas foram previamente agenda-
das e posteriormente programadas, com cada A impressão geral dos membros do CCAB sobre
membro, de forma independente. a instituição da norma de AR do Codex é que tal
Antes de iniciar as entrevistas, os sujeitos da iniciativa visa promover a segurança sanitária dos
pesquisa foram informados sobre o objetivo da alimentos que transitam no mercado internacio-
investigação, a gravação das entrevistas, o sigilo nal; estimular o comércio justo entre os países; e
das informações e o anonimato dos entrevista- fundamentar cientificamente as medidas sanitá-
dos. Em seguida, foi apresentado o Formulário rias impostas pelos países para proteger a saúde
de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do dos consumidores, atendendo ao disposto no
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Fede- Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
controlar os efeitos negativos das tecnologias uti- os riscos –, a qual foi alvo de reflexões e críticas
lizadas na produção de alimentos, segundo os pelos membros do CCAB. Entre os comentários
moldes especificados pelos países importadores mencionados, destacam-se a falta de integração
– os compradores. entre os órgãos, a duplicidade de ação e o mode-
Por essa ótica é que os membros ligados ao lo incompatível com as necessidades atuais, as-
segmento produtivo identificam a AR como par- pectos que demonstram a insatisfação com a es-
te integrante da política comercial dirigida aos trutura vigente.
exportadores de alimentos, pois são eles que ne- Para viabilizar a AR, o grupo entende ser ne-
cessitam adequar os seus produtos aos padrões cessária a identificação de estratégias para admi-
internacionais para se manterem estáveis no nistrar o conjunto diversificado de instituições
mercado externo. envolvidas e apontou três estratégias distintas
Observa-se a clareza que os membros têm para lidar com essa realidade institucional:
sobre a utilidade da AR para o comércio exterior, (1) AR sob um comando político-institucio-
e pouco é destacada a sua importância na preser- nal único. Propõem a reorganização do Estado
vação da qualidade sanitária dos produtos de brasileiro, ou seja, a formação de uma nova es-
circulação interna e na proteção da saúde da co- trutura institucional única, coordenada pelo se-
munidade local. tor público de saúde, mediante a retirada de áre-
as de competências de dentro das estruturas da
Análise de Risco do Codex: agricultura e saúde responsáveis pelo controle
discutindo a sua prática sanitário de alimentos, subordinando-a à Presi-
dência da República. Desta forma, acreditam que
Os membros do CCAB reconhecem a im- as duplicidades e os conflitos de ação possam ser
portância da AR para o Brasil e concordam que superados.
o governo deveria incorporá-la como política (2) AR como responsabilidade da Presidência
oficial para lidar com os riscos relativos aos ali- da República. Os membros reconhecem que esse
mentos. Os argumentos apresentados em sua trabalho extrapola o âmbito das instituições que
defesa se fundamentam no reconhecimento da hoje realizam o controle sanitário de alimentos e,
coerência desse instrumental, dos êxitos para a portanto, é um tema de interesse nacional que
melhoria do sistema de controle de alimentos de deve ser conduzido pela Presidência da República.
qualquer país e das vantagens auferidas ao país (3) AR sob a coordenação de uma instância
ao focalizar o comércio internacional. supraministerial ou interministerial. Os membros
Entendem que os efeitos positivos da AR para sugerem que se organize uma instância colegiada
o mercado externo, em que o agronegócio é o com representação ministerial, selecionada em
motor da economia, estão nos incrementos das razão da competência relacionada com a com-
exportações de alimentos e na ampliação do mer- modity de exportação ou com o segmento da ca-
cado internacional, pois a adoção de padrões in- deia produtiva em questão. A proposta circuns-
ternacionais que representam o consenso mun- creve-se às demandas relativas aos produtos de
dial qualifica a segurança sanitária dos produtos exportação.
alimentícios nacionais e dificulta a existência de As três alternativas suscitam a necessidade de
barreiras comerciais. se repensar a atual estrutura dicotomizada de
Preocupados com a imprevisibilidade dos controle sanitário de alimentos do Brasil, quan-
resultados desse trabalho sobre as exportações to à capacidade de promover agilidade e efetivi-
de alimentos devido às condições político-eco- dade das ações prestadas, racionalização das ati-
nômicas e ao aparato técnico-operacional dis- vidades regulatórias e uso eficiente dos recursos
ponível que possibilitem fornecer uma resposta públicos. Observa-se que essas posições apon-
satisfatória, os membros entendem que é neces- tam trajetórias distintas: a instituição de uma
sário ter cautela quanto à AR. política de Estado, criando uma nova instância
A aplicação da AR implica enfrentar os riscos político-administrativa responsável por gerenci-
presentes na totalidade da cadeia produtiva de ar os riscos, centralizando e concentrando as ati-
alimentos, em vez de tratar isoladamente os ris- vidades de controle sanitário de alimentos; ou a
cos inerentes a cada segmento em particular. Isto formulação de uma política de AR, que mante-
remete, diretamente, à complexa estrutura orga- nha a diversidade institucional e aposte na efeti-
nizacional do país envolvida no controle sanitá- vidade da estratégia de articulação.
rio dos alimentos – constituída por várias insti- Apesar da criação da Agência Nacional de Vi-
tuições com comandos distintos para lidar com gilância Sanitária (Anvisa), na década de 90, con-
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tar o objeto estudado, gerando divergências e são consideradas um dos tipos mais frequentes e
antagonismos quanto à forma de intervenção, importantes de barreiras não alfandegárias26. Este
que polariza os benefícios sociais e a expansão fato se comprova quando, no ano de 2006, os
das atividades econômicas. países fizeram 585 notificações à OMC, sendo
Assim, os membros sugeriram que a coor- que 31% delas foram motivadas por questões
denação das atividades de avaliação de risco fi- relativas à segurança sanitária de alimentos36.
casse sob a responsabilidade de um técnico do Porém, o ideal é associar a aplicação do postula-
governo, o qual assumiria o papel de manter o do com investimentos na ampliação dos requisi-
grupo de avaliadores inseridos no contexto da tos de segurança sanitária dos produtos e no
realidade social. aperfeiçoamento dos mecanismos de defesa e de
Apesar de reconhecerem que cabe à instância proteção à saúde dos consumidores.
governamental a incumbência do gerenciamento Outro tema polêmico, expresso pelos mem-
de risco, não constatam inconveniências em ha- bros do CCAB, reside na inserção dos fatores
ver participação governamental como avaliador ambientais na AR. Eles entendem que tal preocu-
de risco, quando forem identificados técnicos do pação extrapola a missão do Codex e é objeto de
governo que atendem aos critérios de qualifica- discussão no âmbito do fórum que administra o
ção estabelecidos e que dominam o objeto a ser Protocolo de Cartagena38.
avaliado. Merece atentar que, no mundo moderno, a
A intenção da norma Codex é proporcionar globalização dos riscos se manifesta em termos
maior independência ao processo de avaliação de intensidade e de expansão27, por ameaçar a
de risco; todavia, flexibilizá-la não implica neces- toda a humanidade ou afetar um grande contin-
sariamente prejuízos na sua aplicação. As críticas gente de pessoas. Desse modo, já não se pode tra-
formuladas apresentam como ponto comum a tar isoladamente os riscos, inclusive os proveni-
ampliação da presença do governo na avaliação entes dos alimentos, dissociados do meio ambi-
de risco, e os argumentos apresentados buscam ente, pois os eventos globais estão em plena inter-
valorizar as potencialidades profissionais existen- conexão39. Essa situação impõe ao CCAB ampli-
tes na esfera do governo e direcionar os traba- ar os horizontes de entendimento dos riscos atu-
lhos da avaliação de risco à luz da realidade con- ais dos alimentos e das tecnologias a eles aplica-
creta em busca de resultados efetivos. das, os quais não se restringem a causar ameaças
O segundo ponto relaciona-se ao princípio à vida humana, mas também ao meio ambiente,
de precaução constante na AR, quando os mem- tanto pela perda da biodiversidade quanto pela
bros reconhecem que há indícios do uso indevi- contaminação ambiental, buscando romper as
do de medidas precautórias como forma de res- barreiras que os impedem de reconhecer as con-
trição do comércio internacional de alimentos, o tradições do “progresso” técnico-econômico.
que coincide com o relato feito por vários auto-
res9,26,35,36; ou quando há omissão do governo Gerenciamento de risco
em utilizar esse postulado em situações que se O gerenciamento de risco, como tarefa a ser
justificam. assumida pelo governo, significa lidar primeira-
Ancorada em pressupostos de que a verdade mente com escolhas e decisões sociopolíticas e cul-
científica é relativa e provisória37 e de que o co- turais e, em seguida, com o estabelecimento das
nhecimento produzido segundo as condições da atividades técnicas e legais necessárias para inter-
modernidade apresenta apenas uma estabilidade vir nos riscos34. A proposta de gerenciamento par-
relativa27, a norma AR considera as incertezas e a ticipativo do Codex busca a extensão da demo-
variabilidade da informação científica no proces- cracia e a incorporação da ciência ao processo
so de Análise de Risco e admite, portanto, o prin- decisório para tornar mais efetiva a capacidade
cípio da precaução. Nessas circunstâncias, esse de intervenção do governo e facilitar a mediação
postulado jurídico torna-se polêmico e suscita dos conflitos, importando disputas de interesses.
reflexões com focos divergentes: como elemento Agir dessa maneira significa ampliar as chances
de estagnação do desenvolvimento científico, por de solucionar os problemas, de modo eficaz, em
impor a suspensão da atividade produtiva ou prol da saúde da coletividade40-42. Embora o go-
comercial; ou como sinalizador da necessidade de verno seja o coordenador do processo de gerenci-
maior investimento em ciência e tecnologia para amento, para os membros todos os atores envol-
tornar o risco cientificamente conhecido5. vidos devem participar dessa atividade.
No entanto, não se pode descartar totalmen- Ao tratar do gerenciamento de risco em uma
te a razão da desconfiança, pois tais restrições perspectiva internacional, os membros atestam
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Agradecimentos
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