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ALCÂNTARA,

A EVOLUÇÃO INDUSTRIAL
DE MEADOS DO SÉCULO XIX AO FINAL DA
I.ª REPÚBLICA

Renato José Bogalho Jorge da Silva Pistola

___________________________________________________
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em História, realizada
sob a orientação científica da Professora Doutora Maria
Fernanda Rollo

FEVEREIRO DE 2009
2
Para os meus pais

3
AGRADECIMENTOS

Um primeiro momento de gratidão é dirigido à minha orientadora, a Doutora Fernanda


Rollo, pela forma dedicada com que acompanhou todos os momentos deste trabalho. Deve-se
a ela não só a circunscrição dos principais problemas desta investigação, como um
permanente e indispensável apoio ao longo dos últimos meses. Sem o seu estímulo constante
seria interminável a elaboração desta tese.

Um sentido agradecimento é devido também aos professores que acompanharam este


percurso e ajudaram a atingir o resultado final. Foram aí decisivos o Professor António Reis,
o Professor Fernando Rosas e o Professor Medeiros Ferreira. Agradeço, igualmente, aos
Professores António Camões Gouveia, Pedro Cardim, Francisco Caramelo e Ana Isabel
Buesco e a todos os professores do Departamento de História da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas que me acompanharam ao longo dos últimos anos. Devo-lhes, sobretudo,
a transmissão da sua paixão pela História. Uma palavra de gratidão é devida também ao
Doutor Pedro Lains, pelos momentos de reflexão quase diária que impulsionou nos últimas
semanas.

Decisivos igualmente para a definição deste trabalho foram Frédéric Vidal,


emprestando-me todo o conhecimento que detém sobre o Alcântara, do Doutor Jorge
Custódio e da Doutora Ana Cardoso Matos, sempre disponíveis para limar algumas questões
mais pertinentes.

Não teria sido possível esta tese sem o auxílio dos diversos profissionais que me
acompanharam nos diversos arquivos por onde a investigação decorreu. O meu especial
agradecimento para a Dra. Rosa Ávila, para a Dra. Mónica Marques, para o Dr. Rui Pereira e
para o Dr. Vasco Brito, e para todos os funcionários do Arquivo do Arco do Cego da CML.
Retribuo também o carinho e o profissionalismo que me foi dedicado no gabinete de Estudos
Olisiponenses e na Torre do Tombo.

Uma palavra também para os vários amigos que compartilharam dúvidas e angústias.
A maior gratidão pertence ao André Costa, pelos incansáveis momentos de tertúlia
historiográfica que se revelaram essenciais na árdua tarefa de isolar os verdadeiras questões
levantadas por este trabalho.

Para ti Marta, por saberes que o tempo é sempre maior que o silêncio da espera.

4
RESUMO

Alcântara, A Evolução Industrial

De Meados do Século XIX ao Final da

I.ª República

Renato José Bogalho Jorge da Silva Pistola

PALAVRAS-CHAVE: Alcântara, Lisboa, Bairro Industrial, Fábricas, Industrialização,


Urbanização.

O estudo incide sobre o processo de afirmação de Alcântara como o principal bairro


industrial de Lisboa, no período compreendido entre meados do século XIX e a segunda
década do século XX. Objectivando conhecer de que forma evoluiu o seu tecido industrial,
nesta data, foca a sua análise na identificação e na compreensão dos factores que em cada
momento se revelaram decisivos não só para atrair novos estabelecimentos como para a
permanente escultura do tecido produtivo do bairro, no seu todo.
A partir de 1840 Lisboa começa a conhecer um relevante desenvolvimento industrial
de perfil moderno. Em função do seu significativo crescimento urbano, o centro da cidade
encontra-se diminuído como espaço habilitado a receber estabelecimentos industriais de
médias e grandes dimensões. Tendo o assentamento industrial procurado espaços periféricos
ao centro da capital Alcântara, pelo conjunto de factores que possuía, esgrimia as suas
vantagens com outras áreas periféricas. Em primeiro lugar, o espaço livre que tinha para
oferecer, traduzido na significativa oferta de terrenos disponíveis para receber novas
unidades. Sublinhe-se também facto de eles conterem um importante número de factores
naturais essências à laboração de muitas actividades. Destacava-se, sobretudo, a abundante
presença de água, fundamental para uma das principais actividades do bairro na segunda
metade do século: a estamparia.
Acresce a estas vantagens as diversas infra-estruturas que o bairro conhece neste
período, e na qual a mais significativa será, porventura, as obras de modernização do Porto de
Lisboa, um estrutura essencial como porta de acesso a matérias-primas e energia, mas
igualmente como via para escoar os bens produzidos pelas empresas de maior relevo,
sobretudo.
O desenvolvimento industrial de Lisboa foi decisivo, por sua vez, para o seu
desenvolvimento demográfico e urbano. Entre 1860 e 1900 a cidade viu aumentar
grandemente o seu número de habitantes, constituindo-se assim como um mercado natural
próximo e de incontornável importância para a evolução urbanística do bairro.

5
Quando chegamos ao fim do século XIX a efectividade do desenvolvimento urbano de
Alcântara era subsidiário, em grande parte, da sua singular localização geográfica no contexto
de Lisboa. A mudança de século, contudo, revela o duplo efeito do processo industrialização
no bairro. À medida que o pulsar industrial vai promovendo o seu desenvolvimento urbano e
uma mais ampla integração em Lisboa, vai cerceando também muitas das vantagens que o
bairro possuía num primeiro momento, um fenómeno visível, sobretudo, na diminuição do
espaço disponível para o assentamento industrial de medias e grandes unidades.
A década de 1920, e as dificuldades aí sentidas constitui-se, desta forma, como os
anos nos quais se torna mais visível o esgotamento do modelo de desenvolvimento perseguido
no bairro depois de 1840.
O âmbito cronológico perseguido neste trabalho vai assim entre 1840, quando são
instalados no bairro as primeiras unidades de perfil moderno, e a década de 1820, quando
desaparecem do seu tecido produtivo muitas das unidades criadas no século XIX.

6
ABSTRACT

Alcântara, A Evolução Industrial

De Meados do Século XIX ao Final da

I.ª República

Renato José Bogalho Jorge da Silva Pistola

KEYWORDS: Alcântara, Lisbon, Neighbourhood/áreas, Factories, Industrialization,


Urbanzation

This study focuses on the rise of Alcântara as Lisbon’s main industrial neighbourhood
between the mid-19th Century and the second decade of the 20th Century. Seeking to
determine in what ways its industrial fabric evolved in that period, the work focuses its
analysis on the identification and understanding of the factors which, at any given moment,
were decisive not only in attracting new establishments but also in the permanent fashioning
of the productive fabric of the neighbourhood as a whole.
From 1840 onwards, Lisbon begins to experience a relevant modern industrial
development. In the face of this significant urban development, the city centre, because of its
spatial limitations, is unable to accommodate medium or large sized industrial establishments.
As these industries sought peripheral spaces adjacent to the city centre, Alcântara, due to the
set of characteristics it possessed, put forth its advantages in comparison to other peripheral
areas.
Firstly, the free space it had to offer translated into a significant offer of land
available and ready for new units. We should also stress that this land contained an important
number of natural resources essential for the functioning of many activities. What stood out
among these resources was the abundant presence of water, essential for one of the main
activities in the neighbourhood during the second half of the century: fabric printing (de
tecido?).
To these natural advantages, we should add the several infrastructures created in the
neighbourhood during this period, the most relevant of which is possibly the modernization of
the Lisbon Harbour. This was an essential structure as a medium to access raw goods and
energy sources, and equally important as a route through which to channel the goods
produced by the most important companies of the time.
Lisbon’s industrial development played a key role in the city’s demographic and urban
development. From 1860 to 1900, the city registered a large increase in the number of its
inhabitants, thus becoming a natural, adjacent market of fundamental importance in the urban
evolution of the neighbourhood.
7
By the end of the 19th Century, the effectiveness of Alcântara’s urban development
was greatly dependent on its unique geographical placement within the context of Lisbon.
Nevertheless, the dawn of the new century reveals the double effect the process of
industrialization had on the neighbourhood. As the industrial pulse continues to promote its
urban development and a broader industrial integration in Lisbon, it also reduces many of the
advantages the neighbourhood originally possessed, a phenomenon mostly visible in the
diminishing of available space for the settlement of medium or large-sized industrial units in
the area.
The difficulties felt throughout the 1920’s clearly reveal the exhaustion of the
underlying model of development for the neighbourhood, which had been followed since
1840.
The chronological scope of this work thus ranges from the year 1840, when the first
units of a modern character were introduced in the neighbourhood, to the 1920’s, when many
of the units created in the 19th Century disappear from it’s productive fabric.

8
ÍNDICE

Introdução......................................................................................................... 12

Capítulo I: Na gênese da formação de um bairro industrial ............................ 19

1. A singularidade de Alcântara: os factores de fixação industrial ...........19

1. 1. A valorização do perfil periférico ...................................................19

1. 2. O impulso das riquezas naturais .................................................... 26

1.3. O reforço da vocação industrial ...................................................... 29

1.4. Indústria chama indústria. Crescimento urbano e mutações do tecido


produtivo .................................................................................................32

2. A evolução de um bairro industrial: aspectos gerais ..............................35

Capítulo II: Dinâmicas e etapas da industrialização de Alcântara .................. 38

1. Na gênese da industrialização de Alcântara ....................................... 38

2. 1840-1870: lugar à modernização. ..................................................... 41

2. 1. A importância do sector têxtil .................................................. 41

2. 2. Um mundo de novas oportunidades: a emergência da metalurgia

........................................................................................................... 45

3. A afirmação de um bairro industrial ................................................... 48

3. 1. A explosão industrial ................................................................ 48

3. 2. Afirmação e mutabilidade dos principais sectores industriais.. 55

3. 3. A vez do sector alimentar ......................................................... 58

3.4. Sob o impulso do desenvolvimento urbanístico: as


“industrializações” de Alcântara ...................................................... 63

4. Alcântara no contexto da industrialização portuguesa ....................... 67

5. Dinâmicas e características do tecido produtivo ................................ 69

5. 1. A emergência da diversidade industrial ................................... 69

5. 2. Estagnação e modernização ...................................................... 71


9
5. 3. A distribuição espacial .............................................................. 78

5. 4. Os desafios do novo século ...................................................... 80

Capítulo III: Estagnação e dinamismo no desafio dos anos 20 ....................... 83

1. 1917: Guerra e transformação............................................................. 83

2. Anos 20, uma década de decadência?................................................. 89

2. 1. A ilusão do fim da guerra ......................................................... 89

2. 2. 1922-1926: o tecido produtivo de Alcântara num contexto de


crise da indústria nacional ................................................................ 94

2. 3. Um tecido produtivo renascido ................................................ 99

Conclusão ....................................................................................................... 103

Bibliografia .................................................................................................... 108

1. Fontes ................................................................................................ 108

1. 1. Arquivos e Fundos .................................................................. 108

1. 2. Fontes Manuscritas ................................................................. 108

1. 2. Fontes Impressas ..................................................................... 111

1. 4. Publicações Periódicas ........................................................... 113

2. Bibliografia ....................................................................................... 114

2. 1. Obras Gerais ........................................................................... 114

2. 2. Industrialização Portuguesa .................................................... 116

2. 3. História de Lisboa ................................................................... 120

2. 4. Estudos Urbanos ..................................................................... 122

Anexos ............................................................................................................ 125

Anexo 1 – A zona de Alcântara em 1857................................................ 125

Anexo 2 – Alcântara nas primeiras décadas do século XX .................... 126

Anexo 3 – Mapa de Lisboa em 1891 ...................................................... 127

Anexo 4 – Principais indústrias de Alcântara em 1881 .......................... 128

10
Anexo 5 – Tipologia e origem da matéria-prima usada em Alcântara ... 130

Anexo 6 – Mercados de consumo das principais unidades de Alcântara 134

Anexo 7 – Operários em Alcântara por estabelecimento........................ 137

Anexo 8 – Cavalos-Vapor usados em Alcântara (1890) ......................... 139

Anexo 9 – Registo de estabelecimentos por classe industrial (1917-1920)

.................................................................................................................. 140

Anexo 10 – Nomes de ruas de Alcântara (1881-1914) ........................... 141

11
Introdução

O trabalho que aqui se apresenta tem como objecto o estudo do processo de


industrialização de Alcântara, em Lisboa, no período que se estende entre meados do século
XIX e o final da I.ª República.

A análise da temática da industrialização portuguesa estruturada a partir da


caracterização de um espaço geográfico restrito e claramente limitado, conforme se apresenta
o bairro de Alcântara, é um tema ainda pouco explorado pelo conjunto da historiografia
portuguesa, ou até no espectro geral das obras internacionais que se dedicam a esta temática.
Importa assim explicar, primeiramente, quer os motivos de interesse que impulsionam uma
análise com estas características, quer a relevância que um trabalho com este perfil poderá ter
para um melhor conhecimento da industrialização portuguesa no seu todo.

Charles Tilly, quando questionado acerca da importância dos estudos locais


desenvolvidos no âmbito da História Urbana, referiu que a grande importância dos mesmos
advém do facto de permitirem interpretar a forma como um processo social global se articula
com a realidade mais pequena da existência ao nível local.1 Para este autor, a delimitação de
um objecto de estudo materializado num espaço físico mais diminuto permite assim uma
melhor percepção de fenómenos históricos de um cariz mais abrangente. Entendemos, nesta
perspectiva, que encerrar o processo de industrialização aos limites de um bairro nos
possibilitam identificar, com mais clareza, as sua dinâmicas e realizações e conhecer no
contexto local, não só as alterações provocadas por um processo de larga escala, no caso, a
industrialização, como, no ponto que aqui mais nos interessa, analisar um conjunto de
factores que se constituíram decisivos para essa mesma industrialização, assim com a sua
mutação num espaço cronológico preciso. Será esse, simultaneamente, o objectivo do nosso
estudo e o impulso decisivo para a sua realização.
Quando olhamos atentamente para Alcântara no período compreendido entre meados
do século XIX e 1926, objectivamos saber que conjunto de factores existente no seu espaço
permitiu que o bairro se tenha transformado, nas balizas cronológicas definidas para o nosso
estudo, numas das zonas mais industrializadas de Lisboa?

1
Veja-se Charles Tilly - “What Good is Urban History?”. Journal of Urban History. Londres: Sage. 22.º vol.,
n.º6 (Setembro de 2004), pp. 702-719.
12
Deriva, desta questão central, um segundo conjunto de problemáticas em torno das
quais estruturamos a nossa análise. Pretendemos perceber, em primeiro lugar, que vantagens
eram específicas da área em estudo quando comparado com as diferentes zonas da cidade no
momento em que ocorre o momento de take-off industrial do bairro? Esta questão pode ser
colocada na forma mais simples, mas igualmente esclarecedora, sob a forma de identificação
do conjunto de factores pelos quais a industrialização pautou decisivamente Alcântara. A
análise da evolução do tecido industrial do bairro faz emergir, por sua vez, diferentes
interrogações, mas nem por isso de menor importância. A de maior relevância será,
provavelmente, a vontade de esclarecer de que forma o perfil de um local como Alcântara
contribuiu para a definição do tecido industrial aí instalado, sendo que as características do
próprio bairro se apresentam mutáveis ao longo dos anos analisados em grande medida como
consequência do próprio processo industrial que aí ia ocorrendo.

A evolução da investigação, no entanto, revelou-nos não só momentos que


conheceram um importante assentamento industrial ocorridos algumas décadas antes da
década de 1870, como nos levam a colocar a possibilidade da industrialização de Alcântara,
ao contrário do que é sugerido para o conjunto da realidade do País, poder ser sobretudo
caracterizada por uma evolução muito mais lenta e progressiva, do que por impulsos
temporais mais específicos de desenvolvimento. Esta hipótese constitui, desta forma, mais
uma questão complementar ao eixo central da nossa análise: de que forma evolui, e quais as
dinâmicas próprias do tecido industrial de Alcântara? Questionaremos também, por último,
ainda que mais residualmente, o papel transformador por excelência do próprio fenómeno da
industrialização.

Na delimitação do espaço cronológico seguimos, num primeiro momento, as datas


propostas pela historiografia que há menos tempo se debruçou sobre a industrialização
portuguesa. O momento escolhido para iniciar a nossa análise, a década de 1870, pareceu-nos,
numa fase preparatória, aquele que se revelava o mais correcto para melhor compreendermos
as problemáticas globais inerentes ao nosso trabalho. Embora a delimitação temporal não se
pretenda rígida pensamos justificar-se, nesta sua primeira baliza, com a identificação de um
surto industrial ocorrido na década de 1870, no território nacional, conforme nos mostram os
estudos mais recentes sobre a matéria. Na verdade, dos vários debates que evoluem em torno
da industrialização portuguesa, a possibilidade de ela ter ocorrido sob a forma de surtos
industriais é das questões que maior consenso obtém no campo historiográfico português
actual. Apenas uma questão tem dividido os historiadores: a definição da cronologia correcta

13
para o arranque do surto industrial de finais do século XIX. Enquanto investigadores como
Joel Serrão se inclinavam mais para a década de 18902, estudos mais recentes, como os de
Jaime Reis3, baseados em análises quantitativas, falam em taxas de crescimento de cerca de
3% ao ano, o que significa que se pode falar num verdadeiro take-off industrial desde a
década de 1870.

Menos problemática se apresenta a data que escolhemos para finalizar este trabalho.
Não se tratando, entenda-se, de um estudo vincado por uma sólida rigidez nos limites
cronológicos, consideramos que a década de 1920 surge como o período no qual são
colocados novos desafios ao tecido produtivo de Alcântara. Referimo-nos, sobretudo, à
mutação política que representou o fim da I.ª República e o início do Estado Novo, uma
realidade que fez emergir não só uma lógica política e económica diferente cuja análise
resultaria numa vincada dilatação do âmbito cronológico em estudo para além do que é
desejável num trabalho com estas características.

Em termos metodológicos optamos por uma perspectiva que nos permitisse a


identificação das principais actividades instaladas no bairro. Procuramos assim conhecer, na
sua especificidade, os estabelecimentos mais significativos que em cada momento aí se
instalaram. As maiores e mais modernas unidades produtivas de Alcântara são, por assim
dizer, os principais actores do nosso estudo. Através da análise dos seus diferentes momentos
de instalação, da sua localização geográfica, da sua evolução e até do seu modelo produtivo
abrimos uma via no sentido de perceber, com maior clareza, que elementos eram específicos
de Alcântara e qual o seu contributo específico para a evolução industrial do bairro. Mas o
campo deste estudo é igualmente composto por uma importante análise da realidade das
pequenas unidades que laboravam no bairro, dado o papel de grande relevo que atingiram na
definição da industrialização de Alcântara, quer as primeiras unidades de perfil pré-industrial
quer, posteriormente, o mundo manufactureiro que se afirmara em paralelo ao fomento de
unidades maiores. Optamos, neste sentido, por uma perspectiva organizada em função de uma
análise cronológica que nos permitiu identificar as diversas dinâmicas dominantes em cada
momento de estudo, desde o arranque industrial do bairro, no seu sentido moderno, à nova
realidade que pautou a vida económica do bairro nos anos de 1920.

2
Serrão, Joel e Martins, G. (Org.) - Da Indústria Portuguesa: do Antigo Regime ao Capitalismo. Antologia.
Lisboa: editora, 1978.
3
Jaime Reis - “A industrialização num país de desenvolvimento lento e tardio: Portugal, 1870-1913”. Análise
Social. N.º96 (1987), pp. 903-928.
14
Também no campo metodológico, mormente na definição dos limites do nosso objecto
de estudo, optamos por privilegiar uma definição de “bairro de Alcântara” que não obedece
aos diversos traçados de limites projectados pela via administrativa que o local conheceu, mas
assenta na mesma ideia de espaço que era usada pelos contemporâneos ao período em estudo.
Usaremos, nesse sentido, a classificação de “bairro industrial” como sinónimo de “Alcântara”
recorrendo, na verdade, ao uso que do termo era feito, por Augusto d’Esaguy, em 1922, a
título de exemplo, por exemplo, quando descreve Alcântara como «um bairro de trabalho»
marcado pelo «apito do vapor» e pelas «mulheres que descarregam carvão e têm as mãos
enluvadas de negro»4.

Procurámos, com este objectivo, um conjunto variado de informação que


reconstituísse, através da sua complementaridade, a história e o perfil das principais unidades
em diferentes momentos da sua evolução. Recorremos, nesse sentido, a um espectro de
arquivos suficientemente vago, que se estende do âmbito nacional à singular importância dos
arquivos regionais. Dentro destes últimos destaque-se a importância dos Arquivos Municipais
da CML, do arquivo do Grupo de Amigos de Lisboa e a biblioteca e arquivo do Gabinete de
Estudos Olisiponenses. Uma das fontes que viria a revelar mais importante seria,
precisamente, de cariz regional, embora esteja presente nos Arquivos da Torre do Tombo.
Referimo-nos à documentação relativa ao Governo Civil de Lisboa através da qual tivemos
acesso aos diversos estabelecimentos que se foram instalando em Alcântara depois de 1863.
De âmbito nacional destacou-se o Arquivo do Ministério das Obras Públicas Transportes e
Comunicações importante, sobretudo, para a caracterização da industrialização ocorrida no
século XIX. Destaque-se, por último, a grande importância da Biblioteca Nacional para a
evolução deste trabalho.

Não tem havido em Portugal, como referimos, um grande número de estudos que se
foquem sobre as problemáticas locais. Ainda assim, Alcântara conhece a publicação de três
obras que, de perspectivas diferentes, se centram sobre a sua evolução. A primeira dessas
obras, da autoria de João Paulo Freire, é já da década de1920. Em Alcântara. Apontamentos
para uma Monografia5 o autor procura traçar um perfil global do bairro, através dos relato
dos acontecimentos mais marcantes, sublinhando a importância também de alguns edifícios.

4
Augusto, d’Esaguy - “Alcântara”. ABC- Revista Portuguesa, série III, N.º26 (1922), pp.22.
5
Freire, João Paulo - Alcântara. Apontamentos para uma monografia. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1929, p. 22.
15
A industrialização aqui surge, refira-se, não através de uma análise analítica, mas de uma
exposição descritiva de alguns estabelecimentos.

As mesmas características são apresentadas numa dissertação de Maria Amélia Lima


apresentada, na década de 1970, à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Alcântara.
Evolução Dum Bairro de Lisboa6, não obstante as diversas referências que faz à
industrialização do bairro, é um trabalho desenvolvido no âmbito da Geografia. Apresenta,
por isso, importantes análises das características do relevo do bairro e identifica um conjunto
de riquezas naturais que se revelariam de singular importância para a sua industrialização.

Mais recentemente, Frédéric Vidal estruturou uma tese de sociologia sobre as


sociabilidades do bairro desenvolvendo, igualmente, algumas problemáticas em torno da sua
industrialização. Les Habitants d’Alcântara. Histoire Sociale d’un Quartier de Lisbonne au
début du 20.e Siècle7, desenvolve assim uma singular análise sobre a vivência em Alcântara e,
em última análise, a interdependência entre a industrialização do espaço e a estruturação do
seu perfil social. Há assim, nas monografias dedicadas a Alcântara, uma presença constante
do tecido produtivo do bairro, embora esse não seja o centro de nenhuma destas obras.

Um dos autores que mais tem debruçado a sua atenção sobre a industrialização de
Alcântara é Jorge Custódio. Destacam-se as obras Reflexos da Industrialização na Fisionomia
e Vida da Cidade8 e Arqueologia industrial do bairro de Alcântara9, ambas um reflexo do
trabalho de Arqueologia Industrial elaborado pelo autor. Além destas obras escreveu também
diversas entradas sobre a industrialização de Lisboa no Dicionário de História de Lisboa, que
apresentam uma relevante perspectiva sobre os caminhos da industrialização de Lisboa,
destacando o papel de Alcântara nesse processo.

Todavia, apesar desta produção historiográfica, encontramos, na globalidade, uma


grande ausência de obras que expliquem a evolução de uma área de Lisboa sob o ponto de
vista do seu desenvolvimento industrial. Esta é, aliás, uma das razões pelas quais, em nosso

6
Lima, Maria Amélia Fonseca Freire de – Alcântara. Evolução Dum Bairro de Lisboa. Lisboa: Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, 1971, p. 13-15.
7
Vidal, Frédéric - Les habitants d’Alcântara: histoire sociale d’un quartier de Lisbonne ai début du 20e siècle.
Villeneuve d’Ascq: Presses Universitaires du Septentrion, 2006, p.44.
8
Custódio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia da cidade: O mundo industrial na Lisboa
Oitocentista”. In Moita, Irisalva (coord.) O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, pp.435-492.
9
Custódio, Jorge, Ribeiro, Isabel, Santos, Luísa - Arqueologia industrial do bairro de Alcântara: estudo e
materiais. Lisboa: Edição da Companhia Carris de Ferro de Lisboa, 1981.

16
entender, esta tese adquire uma maior justificação, ou seja, o preenchimento de um espaço
historiográfico que vai permanecendo vago.

Esta lacuna dirige-nos, naturalmente, para as diversas obras que versam sobre a
industrialização portuguesa ocorrida a partir de oitocentos, no seu todo. Não só porque elas
nos revelam, muitas vezes, importantes pormenores das unidades instaladas em Alcântara
como sobretudo nos apresentam as dinâmicas e as problemáticas gerais da industrialização
portuguesa, no período em estudo, da qual Alcântara não pode ser dissociada.

Destacam-se, de um espectro assaz mais alargado, várias obras que podemos


considerar como clássicos. É o caso do trabalho de Armando de Castro, A Revolução
Industrial em Portugal no Século XIX,10 na qual o autor nos transmite uma perspectiva geral
sobre a evolução do processo de industrialização desde o século XIX. Já Manuel Villaverde
Cabral Portugal na Alvorada do Século XX11 descreve-nos, essencialmente, como esse
fenómeno ocorre na viragem do século XIX para o XX. Para o período que se estende da
transição do século até ao final da I.ª República revelou-se de singular importância o artigo de
António José Telo “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”.12 Interessou-nos, sobretudo, a
análise do autor dos diversos desafios que foram colocados aos estabelecimentos industriais
nas últimas décadas do século XIX, os quais tiveram importantes repercussões para o tecido
industrial de Alcântara.

Importa referir também os trabalhos de Miriam Halpern Pereira, Politica e economia


(Portugal nos Séculos XIX e XX) e de Joel Serrão e G. Martins, Da Indústria Portuguesa: do
Antigo Regime ao Capitalismo, trabalhos que expõem, sobretudo, muitas das problemáticas
da industrialização portuguesa que, naturalmente, são extensíveis a Alcântara.

Realce também para a obra de Jorge Pedreira, em particular Indústria e Atraso


Económico em Portugal13 que constitui uma fonte incontornável para a percepção das razões
do desenvolvimento de diversas actividades em Alcântara no período anterior àquele que
estamos a estudar.

10
Castro, Armando - A Revolução Industrial em Portugal. 2.ª Ed., Lisboa: Dom Quixote, 1971, p. 33.
11
Cabral, Manuel Villaverde - Portugal na Alvorada do Século XX: Forças politicas, Poder Politico e
Crescimento Económico de 1890 a 1914. Lisboa: A Regra do Jogo, 1979.
12
Telo António José - “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”. In Reis, António (dir.) Portugal
Contemporâneo, Lisboa: Publicações Alfa. 1990, pp. 123-173.
13
Pedreira, Jorge Miguel - Indústria e Atraso Económico em Portugal, 1800-1825: Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas. 1986.
17
De igual relevo revelou-se o trabalho de David Justino, A Formação do Espaço
Económico Nacional. Portugal 1810-191314 que explica, ao fixar a sua atenção na evolução e
nas dinâmicas que impulsionaram a evolução do mercado português, a importância da
localização geográfica de algumas zonas do Pais, mormente, de Alcântara, para o
assentamento industrial.

Refira-se, por último, os estudos de âmbito global mais recentes, sobre esta temática,
sobretudo os já referidos trabalhos de Jaime Reis15 da qual nos interessou, sobretudo, a
análise da temática dos surtos industriais.

São estas, no essencial, as obras que nos permitem situar o caso de Alcântara no
contexto dos estudos globais desenvolvidos sobre a temática da industrialização portuguesa.

Em termos formais, a estrutura do trabalho obedece a três imperativos principais. Em


primeiro lugar, o objectivo de compreendermos o conjunto de factores que dirigiram o espaço
do bairro para um dos locais de Lisboa que conheceram uma maior fixação de tecido
industrial quando chegamos ao último quartel do século XIX. Gizaremos assim, ao longo do
primeiro capítulo, a caracterização do bairro, prestando não só uma particular importância às
suas riquezas naturais, como também à evolução da sua actividade económica nas décadas
anteriores ao período que estamos a estudar.

O segundo capítulo constitui, sobretudo, a caracterização do processo de


industrialização do bairro, apresentando os seus principais actores, as indústrias, e detectando
as diversas mutabilidades que o tecido produtivo vai sofrendo até ao final da I.ª Guerra
Mundial.

Já na terceira parte, por último, centraremos a nossa atenção na resposta dos principais
estabelecimentos de Alcântara aos desafios que lhe são colocados pelo conjunto de
transformações que caracterizou a industrialização portuguesa durante a década de 1920.

14
Justino, José David Gomes - A Formação do espaço Económico Nacional: Portugal 1810-1913. Vol. I.,
Lisboa: Faculdade De Ciências Sociais e Humanas, 1986.
15
Reis, Jaime, ob.cit.
18
Capítulo I

Na Génese da Formação de um Bairro Industrial

1. A singularidade de Alcântara: os factores de fixação industrial

1.1 A valorização do perfil periférico

Uma das questões que adquiriu alguma centralidade nas obras que anteriormente se
debruçaram exclusivamente sobre Alcântara é a preocupação em definir os seus limites. Na
verdade, a limitação do objecto de análise nos estudos urbanos tem-se revelado uma
dificuldade recorrente.16 No caso que estamos a estudar as maiores interrogações advêm das
mutações que o espaço do bairro têm sofrido em função das diversas reformas administrativas
de Lisboa.17 Desta transmutação constante resulta uma repetida alteração da dimensão da
freguesia de Alcântara, assim como alguma mutabilidade de territórios entre ela e as
freguesias que lhe são vizinhas, da qual a indefinição com a freguesia de Santos se apresenta
como o exemplo mais óbvio. Um segundo factor que dificulta a precisa noção da área que
constitui Alcântara é uma certa sobreposição entre a sua designação como freguesia e o seu
entendimento como bairro. É verdade que Alcântara conheceu a denominação administrativa
de “bairro” entre 1852 e 1867, abraçando um conjunto de paróquias civis pertencentes à parte
ocidental da cidade. Todavia, apesar desta realidade, o frequente uso desse termo não se
reporta a nenhuma limitação administrativa, mas a uma noção menos rígida do seu
significado, conforme o ângulo que em que se analise Alcântara. João Paulo Freire, no final
dos anos de 1920, define o espaço tendo em conta a sua percepção do que seriam os limites,
diminuindo a importância da estruturação administrativa.18 Na década de 1970 Maria Freire
de Lima centra a sua atenção na identificação de uma “Alcântara popular”, ou seja, elegeu,
como principal elemento definidor do espaço, o sentimento de pertença e a opinião que os
habitantes que entrevistou tinham sobre os limites do bairro.19 Já o estudo de Frédéric Vidal
procura um equilíbrio maior entre as diversas divisões administrativas e o que era usado, no

16
Veja-se, sobre as diversas questões inerentes à definição dos limites de um bairro para posterior estudo Vidal,
Frédéric, ob.cit.. p.44.
17
Para um melhor conhecimento destas reformas atente-se a “Limites da Cidade”. In Dicionário da História de
Lisboa. Santana, Francisco e Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, pp. 497-499.
18
Lima, Maria Amélia Fonseca Freire de, ob.cit.. p. 22.
19
idem, ibidem, p.13.
19
senso comum, como sendo o bairro de Alcântara.20 Sublinha, sobretudo, um espaço lato que
mostra importantes similitudes com a paróquia que fora criada no século XVIII.21

Figura 1 – A zona de Alcântara em

Fonte: Planta da cidade de Lisboa com os diferentes melhoramentos introduzidos e projectados


[material cartográfico] Lisboa: Lith. Matta, 1888.

Não obstante estes contributos, a demarcação exacta do bairro mantém-se uma questão
em aberto. Por essa razão, e porque pensamos que o estudo da evolução do seu tecido
produtivo sai diminuído se a análise estiver centrada numa definição rígida da sua área,
optamos por entender como bairro de Alcântara o local que reunia um conjunto exclusivo de
vantagens que favoreceu o seu desenvolvimento industrial. Devemos ter em conta, nesse
sentido, não só os estabelecimentos que se enquadram numa zona mais nuclear do seu espaço,
como nos interessam as diversas unidades que localizando-se em áreas exteriores, embora
fronteiras ao bairro, nos permitem ter um maior conhecimento das lógicas de fixação e de
desenvolvimento industrial as quais, estando bem vincadas em Alcântara, não se extinguem
quando olhamos para as freguesias vizinhas. Entendemos também, por outro lado, ser esta a
solução preferível para melhor contornar as dificuldades que nos são colocadas pelo facto de
algumas vias que atravessam o bairro se expandirem para lá dos seus limites. Resulta daí o

20
Vidal, Frédéric, ob cit, p. 45.
21
idem, ibidem, p. 48.
20
facto de estarem contemplados, neste estudo, alguns estabelecimento localizados na Av. 24 de
Julho, para além dos limites impostos pela Av. Infante Santo, e também na Rua da Junqueira
e na Av. Da Índia, a ocidente, depois do marco que corresponde à antiga FIL ou, se
preferirmos, à Cordoaria Nacional.

Uma análise mais correcta do tecido produtivo de Alcântara leva-nos a responder,


nesta fase inicial do trabalho, quais os factores que fizeram emergir este espaço, no contexto
da industrialização de Lisboa, como bairro industrial. Referimo-nos, por um lado, às
dinâmicas que são subjacentes à evolução urbanística da própria cidade de Lisboa, e as suas
implicações na distribuição geográfica do seu tecido produtivo. Veremos, igualmente, o
conjunto de factores de cariz natural presentes no espaço de Alcântara que funcionaram como
elementos atractivos para a fixação do tecido industrial. A esse grupo que constitui, por assim
dizer, o impulso inicial para a industrialização do bairro num período que se estende até cerca
de 1870, junta-se o desenvolvimento urbanístico do bairro e a construção de diversas infra-
estruturas que depois de 1890, na sua totalidade, obrigaram a uma inflexão das características
gerais do tecido produtivo do bairro. Ora vejamos.

O primeiro elemento decisivo para o desenvolvimento do tecido produtivo resulta das


cronologias da evolução urbanística que Lisboa foi conhecendo, ao longo do tempo, e que
transformaram Alcântara, a partir da primeira metade do século XIX, num espaço cuja
periferia o colocava como um local de expansão natural para os muitos estabelecimentos que
se quiseram instalar nessa altura. A mutação da localização geográfica do tecido industrial de
actividades que contemplam estabelecimentos de médias e grandes dimensões é, na verdade,
um fenómeno que caracteriza vários centros urbanos europeus ao longo do século XIX e que
deriva do próprio crescimento urbanístico que estes burgos iam conhecendo neste período. É
disso exemplo Barcelona, onde a expansão da cidade foi dirigindo o seu tecido industrial para
zonas marginais ao centro da cidade. Tratou-se de uma mutação, neste caso, delineada pelo
planeamento urbanístico.22

Em Lisboa, a localização do tecido industrial não é determinada por nenhum plano


urbanístico de longa escala e acompanha o próprio desenvolvimento urbano da cidade. De
uma perspectiva global, conforme nos descreve Vítor Matias Ferreira23 a cidade de Lisboa

22
O resumo dos planos urbanísticos de Barcelona e a sua relação com a relação da cidade encontra-se em Nadal,
Jordei e Tafuell, Xavier - Sant Martí de Provençals: Pulmó Industrial de Barcelona (1847-1992). Barcelona:
Columna Edictions, 1992.
23
Ferreira, Vítor Matias - “Modos e Caminhos da Urbanização de Lisboa: a cidade e a aglomeração de Lisboa,
1890-1940”. Ler História, N.º7 (1986), Lisboa: Edições Salamandra, p.101-131.
21
assiste a uma expansão da sua dimensão que a leva a extravasar o núcleo de assentamento
mais antigo24. Este fenómeno de fixação em zonas mais periféricas é liderado, numa primeira
fase, pelos diversos estabelecimentos que doravante passam a escolher espaços mais
periféricos para a sua localização. Afirma-se assim uma tendência para que os locais onde
essa fixação se efectuou inicialmente – embora com unidades bem distintas daquelas que
procuramos agora descrever – tenham esgotado a capacidade para absorver os
estabelecimentos de média e grande dimensão.

Ocorre assim, sinteticamente, uma lógica de assentamento que evolui do centro para a
periferia, por esgotamento do núcleo da cidade, e que vai progressivamente valorizando os
espaços periféricos, entre os quais se encontra Alcântara. Como refere Jorge Custodio «se
num período mais recuado ainda era possível a montagem de uma oficina ou pequena fábrica
no centro urbano (...) a partir dos finais do século quem quisesse crescer por intermédio da
indústria teria de procurar terrenos na periferia da cidade ou nos concelhos limítrofes para
se estabelecer como comerciante-industrial».25

As diversas zonas da cidade obedeceram a cronologias de desenvolvimento


populacional e industrial distintas entre si. Nesse sentido, o estudo das alterações da
localização geográfica do tecido produtivo de Lisboa deve ter em conta as diferentes lógicas e
dinâmicas que acabariam por condicionar, quer a tipologia do tecido produtivo de cada uma,
quer a própria cronologia de fixação de muitas dessas unidades. Importa ter em conta,
sobretudo, que o bairro competia com outras partes da capital no intuído de absorver os
diversos estabelecimentos que iam sendo criados. Olhando para o mapa da distribuição
industrial de Lisboa à luz do Inquérito Industrial de 1890,26 a cidade era tingida por zonas
onde a concentração de unidades atingia proporções semelhantes a Alcântara, não sendo
assim uma realidade exclusiva da zona ocidental da cidade, onde o bairro se localizava. Uma
análise mais atenta dessa distribuição, no seu conjunto, ajuda-nos a compreender melhor a
emergência de Alcântara, depois de meados do século XIX, como um local de forte
implantação industrial em Lisboa.

24
Veja-se, para uma melhor percepção de Lisboa neste período, o anexo 3.
25
Custodio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia e vida da cidade: o mundo industrial na Lisboa
Oitocentista”, ob.cit.. p.446.
26
Inquérito Industrial de 1890. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria - Direcção Geral do
Comércio e Indústria. Lisboa: Imprensa Nacional, 1891.
22
Na parte mais antiga da cidade, como menciona Jorge Custódio, «a presença fabril
estava condicionada pela própria lógica da ocupação habitacional».27 Este autor mostra-nos
assim que não obstante a presença de várias oficinas de tipologia artesanal, na segunda
metade do século XIX este espaço era caracterizado, essencialmente, por se dedicar à
actividade comercial. Esta era a zona da cidade que, em 1890, estava administrativamente
classificada como 2.º Bairro.

No que respeita ao tecido industrial, esta zona da cidade vinha conhecendo, desde
meados do século XIX, a diminuição de estabelecimentos de maior dimensão. Acentua, por
sua vez, uma tendência para a concentração de actividades que eram pautadas por
estabelecimentos em tudo semelhantes a oficinas. Enquadram-se, nesse grupo, as diversas
unidades que pautavam o sector do papel e da impressão, enquadrando estabelecimentos
como a Companhia Tipográfica, com 32 operários, ou a Minerva Central, com 16.

Mantinham-se também em laboração, neste bairro, algumas unidades que pertenciam a


actividades de assentamento mais antigo. É o caso da Bello & Pinto, que se dedicava a
fabricar chapéus, com apenas 21 operários. A reforçar a tendência para as pequenas oficinas,
este espaço assistia ainda à decadência de muitas unidades que anteriormente tinham atingido
dimensões maiores. É o caso da fábrica de calçado Gomes & Filhos. Dos 100 operários
contabilizados, em 1881, contava em 1890, com apenas 23. Em decadência surgia também,
nestes anos, a cerâmica Viúva Lamego passando, nos mesmos anos, de 90 para 14
trabalhadores. Neste espaço, que se prolonga da baixa da cidade, ao Bairro Alto, ocupando
também as zonas da actual Av. Almirante Reis, até Arroios e ao Arco do Cego, é reduzida a
presença de grandes unidades industriais. No global concentram-se, em 1890, 2 637 operários
distribuídos por 63 estabelecimentos.28 A fábrica mais importante, em número de
trabalhadores, era o Arsenal da Marinha, no sector metalúrgico, com 1 385 operários. Já no
sector têxtil a fábrica de maiores dimensões era a Companhia de Lanifícios de Arroios, com
294 operários, em 1890.

Também preenchendo a zona central da cidade, e conhecendo igualmente um processo


de desindustrialização neste período, encontrava-se o 3.º Bairro. A tipologia da instalação
desta divisão administrativa era semelhante ao espaço que referimos anteriormente.

27
Custodio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia e vida da cidade: o mundo industrial na Lisboa
Oitocentista”, ob.cit.. pp. 455-451.
28
Vasconcelos, Rui Manuel Dias de Almeida e - Indústria e Industriais na 2.ª metade do século XIX: Portugal,
1845-1890. Vol. I. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1998,
p.138.
23
Localizava-se aqui um tecido produtivo globalmente direccionado para satisfazer as
necessidades emergentes de uma população urbana em crescimento. Destacavam-se as
tipografias, os fotógrafos e outras unidades manifestamente diferentes daquelas que
caracterizamos por assentamento industrial moderno.

Agrupando um longo espaço, era preenchido pelas zonas de S. Paulo e Santa Catarina,
locais próximos de Alcântara, estendendo-se depois até às Amoreiras, a S. Sebastião da
Pedreira, ao Campo Grande e a Benfica. Englobando 42 estabelecimentos que ocupavam 2
520 operários,29 conhece algumas unidades de média dimensão que se encontravam
distribuídas por diversos sectores industriais. Uma das maiores era a Companhia Nacional
Editora. Situada no Bairro Alto, pertencia ao ramo do papel e da impressão e laborava 165
operários. Já nos têxteis destacava-se a Sociedade da Fábrica de Lanifícios do Campo
Grande, com 160 trabalhadores, um dos estabelecimentos mais emblemáticos da
industrialização de Lisboa, neste período.

Pela sua grande extensão e diversidade, as diversas zonas do 3.º Bairro obedecem a
lógicas de desenvolvimento diferentes. Na verdade, a grande parte das unidades de média
dimensão que aparecem aqui instaladas localizam-se nas áreas fronteiras a Alcântara,
beneficiando de muitas das vantagens aí existentes. Enquadram-se, essencialmente, nos
sectores metalúrgico e da construção. É o caso da empresa de construções navais H. Parry &
Sons, com 127 operários, mas também a Previdente e a Fundição Vulcano que terão, como
veremos posteriormente, uma estreita relação com o tecido produtivo do bairro. Refira-se, por
último, que pertencia ao Estado uma das unidades de maior relevo, a Imprensa Nacional, com
396 operários.

Face a esta realidade, e não obstante a permanência de alguns estabelecimentos de


grande e de média dimensão, esta análise sintética do tecido produtivo localizado nas zonas
mais centrais da cidade vem sublinhar a predominância de actividades que são
tradicionalmente caracterizadas por pequenas oficinas. Nesse sentido, a localização em Lisboa
de unidades maiores, por volta de meados do século XIX, é pautada pela procura de espaços
periféricos ao centro da cidade, onde existia uma grande oferta de terrenos disponíveis para o
assentamento industrial (anexo 1). Alcântara, pelas suas características, ganhava um lugar de
destaque na atracção de muitas unidades.

29
idem, ibidem, pp. 139-140.
24
À semelhança de Alcântara, também a zona oriental da cidade se apresentava, nestes
anos, como marginal face ao centro. Administrativamente, só em 1885 passou a pertencer ao
concelho de Lisboa, tendo formado até aí o Concelho dos Olivais. Nessa data foram
agrupadas ao concelho de Lisboa as freguesias do Beato e dos Olivais fruto, provavelmente,
do desenvolvimento industrial que este espaço já conhecia. Relevante para esse progresso foi,
certamente, para além do seu perfil periférico, a criação de algumas infra-estruturas
importantes, sobretudo a Linha de Caminho-de-ferro do Leste e do Norte, a qual promoveu o
assentamento industrial do espaço compreendido entre a estação de Santa Apolónia e
Sacavém.30 Não cabe aqui, todavia, a análise cuidada dos factores que transformaram o 1.º
Bairro num local de grande atracção para as diversas unidades industriais que aí se
instalaram.31 Sublinhe-se, sobretudo, a sua importância no contexto de Lisboa, expressa na
quantidade de grandes e médias fábricas que laboravam no início da década de 1890.

Segundo o Inquérito Industrial de 189032 o 1.º Bairro tinha, nessa data, 5 565
operários distribuídos por 84 estabelecimentos.33 O sector do tabaco apresentava-se como um
dos mais importantes. Laboravam aqui a Fábrica de Tabacos de Xabregas, com 518
operários, e a Fábrica Lisbonense de Tabacos, com 2 067 trabalhadores. Já no sector têxtil
encontramos a Companhia da Fábrica de Algodões de Xabregas, conhecida como a “Fábrica
Samaritana”, que tinha passado de 191 operários, em 1881, segundo o inquérito industrial
desse ano,34 para 507, em 1890. Também no sector da metalurgia este espaço conhecia alguns
estabelecimentos de dimensões que importa sublinhar, como a fábrica de armas e de fundição
de canhões do Campo de Santa Clara, com 526 trabalhadores, e da pregaria de H. Schalck,
Sucessores, com 136. Quando chegamos à década de 1890 a única área da cidade que
rivalizava com Alcântara e com toda a área ocidental da cidade, em número de
estabelecimento, na quantidade de operários e no recurso a maquinaria moderna era a zona
oriental da cidade.

A análise do 1.º Bairro mostra-nos que apesar da predominância de Alcântara para a


composição do tecido produtivo de Lisboa, o seu desenvolvimento industrial deve ser sempre
enquadrado no fenómeno de maior dimensão de industrialização de toda a cidade de Lisboa e

30
Custódio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia da cidade: O mundo industrial na Lisboa
Oitocentista”, ob.cit.. p. 468.
31
idem, ibidem, pp. 467-472.
32
Segundo Vasconcelos, Rui, ob.cit.. p.137.
33
Vasconcelos, Rui, ob.cit.. p. 137.
34
Resumo do Inquérito Industrial de 1881. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria
(repartição de estatística) - Direcção Geral do Comércio e Indústria. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883.
25
das dinâmicas gerais que lhe estão subjacentes, como o processo de desindustrialização do
centro da cidade e a fixação de actividades que comportam unidades de maiores dimensão,
como o têxtil e a metalurgia, preferencialmente fora dos limites do centro. No mesmo sentido,
a afirmação do bairro também não pode ser dissociada do próprio crescimento industrial da
área da cidade em que se insere.

A zona ocidental, sendo pautada, na totalidade, por uma acentuada periferia apresenta-
se, em 1890, como o locais da cidade que conhecia um maior assentamento industrial desde
meados do século XIX. Contava nessa altura com 69 estabelecimentos e 4 325 operários, no
seu todo.35 Destacavam-se as unidades ligadas à transformação de algodão, as estamparias e
tinturarias e os lanifícios. Este ramo, aquele que dominará também Alcântara, é o mais
importante do 4.º Bairro, com 9 empresas e 2159 operários.36 Emergiam, também,
fundamentalmente, o sector da alimentação e bebidas, os curtumes e a cerâmica.

Alcântara deve assim a sua afirmação, em grande medida, por estar enquadrada na
zona da cidade mais industrializada. São exemplo do dinamismo dessa zona os casos dos
bairros Bom Sucesso, no antigo Concelho de Belém, e o da Boavista.37 Ambos conheciam,
igualmente, um desenvolvimento industrial que se traduziria, de certa forma, num
enquadramento decisivo para o desenvolvimento industrial do bairro.

Mas quer a importância do factor periférico, quer a localização de Alcântara numa


área em grande desenvolvimento industrial não justificam, por si só, que Alcântara se tenha
afirmado, no último terço do século XIX, como o bairro privilegiado para a fixação de
diversas actividades industriais, até porque o traço periférico marcava muitas outras zonas da
cidade. Nesse sentido, o que tentaremos perceber, seguidamente, é a conjugação de motivos
que levaram à emergência de Alcântara como o grande bairro industrial da capital.

1.2. O impulso das riquezas naturais

A periferia de Alcântara é uma realidade verificável não apenas numa perspectiva


geográfica, como nas diferenças que o próprio espaço do bairro apresenta em relação ao
«umbigo pombalino»38 que vinha qualificando o centro de Lisboa desde o Terramoto de

35
Vasconcelos, Rui, ob.cit.., pp.140-141.
36
idem, ibidem, pp. 140-141.
37
Custódio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia da cidade: O mundo industrial na Lisboa
Oitocentista”, ob.cit.. pp.459-462.
38
Ferreira, Vítor Matias, ob.cit.. p.103.
26
1755. Na realidade, enquanto Frederico Ressano Garcia ia estruturando a cidade, depois de
1874, seguindo o modelo que o Barão Haussmann utilizara para Paris,39 Alcântara era ainda
caracterizada, no início da década de 1860, pela convivência entre o traço marcadamente
rural40 que pautou o espaço até o seu desenvolvimento industrial se tornar mais efectivo, a
partir de meados de oitocentos, e a emergência de um tecido produtivo de cariz industrial que
começava a transformar a face do bairro. É precisamente da herança rural que resulta a
existência de um vasto conjunto de terrenos disponíveis para a fixação de novos
estabelecimentos que se constituirá como um dos mais importantes factores de atracção para
as diversas unidades que se vão instalando desde ainda antes de meados do século.

Um elemento decisivo para essa realidade deriva do facto de até ao início da década de
1860, conforme demonstra o anexo 1, o crescimento demográfico e urbanístico diminuto de
Alcântara não ter efectuado uma significativa diminuição da quantidade de terrenos
disponíveis para o assentamento industrial que o bairro oferecia. Na verdade, o
desenvolvimento industrial que já vinha ocorrendo em Alcântara antes deste período não
fomentara ainda um grande aumento populacional no seu espaço. Comprova-o a existência de
apenas 5 331 habitantes que, em 1864, habitavam a freguesia de Alcântara (intramuros).41
Neste ponto o bairro não se diferenciava, sublinhe-se, da restante cidade, que conheceu um
aumento populacional pouco acentuado até meados do século XIX, passando de 169 816
habitantes, em 1801, para 174 335, em 1864.42

A par da oferta de espaço livre importa sublinhar, igualmente, a presença de condições


naturais favoráveis para a fixação de novos estabelecimentos, como os solos calcários, que
permitiram a instalação no bairro da fabricação de cal.43 De facto, foram estas características
que permitiram que ainda antes do início do século XIX o espaço tenha conhecido a fixação
de muitas pedreiras e fornos de cal, um tipo de actividade que encontramos ainda em
laboração quando o bairro conhece o seu desenvolvimento industrial.

Do conjunto das riquezas naturais destaca-se, sobretudo, a presença abundante de


água. Este factor natural foi decisivo para a fixação e para o desenvolvimento de actividades

39
Para um melhor conhecimento das transformações efectuadas na cidade sob a orientação de Ressano Garcia
atente-se a Silva, Raquel Henriques da – “Os últimos anos da Monarquia: desenvolvimento urbanístico, os novos
bairros”. In Moita, Irisalva (coord.) O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 1994, pp.411-412.
40
A marca da ruralidade no bairro é sublinhada, a título de exemplo, na obra Silva, Augusto Vieira da - A Ponte
de Alcântara e as suas circunvizinhanças. Lisboa, 1942, p.17.
41
Rodrigues, Teresa - Nascer e Morrer na Lisboa Oitocentista: migrações, mortalidade e desenvolvimento.
Lisboa: Cosmos, 1995, pp. 328-329.
42
idem, ibidem, pp. 328-329.
43
Lima, Maria Amélia Fonseca Freire de, ob.cit.. p. 26.
27
industriais, propriamente ditas, as quais atingirão, no final do séc. XIX, uma enorme
relevância no tecido produtivo de Alcântara. Reveste-se aqui, de grande importância, a
Ribeira de Alcântara. A relação entre este canal e o tecido produtivo do bairro, no essencial,
revela-se numa importante fonte de atracção da ribeira para as unidades que necessitavam de
água para o seu funcionamento, quer se trate de manufacturas, quer sejam estabelecimentos
que pertencem a actividades industriais com um nível mais elevado de modernização. Em
relação às primeiras é importante referir aquelas que são próprias do período pré-industrial,
sobretudo as mais ligadas ao aproveitamento dos recursos naturais. Mas o que aqui mais nos
interessa é, essencialmente, o impulso dado por ela às actividades que encontramos a dominar
o tecido produtivo do bairro no último terço de novecentos, e que conheceram um importante
momento de fixação a partir do início do mesmo século, ainda que nesse período, e antes dos
anos de 1840, os seus estabelecimentos nos surjam sob roupagem oficial. Referimo-nos,
genericamente, à globalidade do sector têxtil e, na particularidade, às estamparias, as quais
constituirão o grande motor para o desenvolvimento de um tecido produtivo moderno no
bairro. Seguimos aqui a classificação proposta por Armando de Castro que entende como
tecido produtivo moderno aquele que é caracterizado por «grandes instalações constituindo
unidades orgânicas de produção empregando máquinas e recorrendo a tipos de energia
motriz muito mais potentes, duma mobilidade, “divisibilidade” e controle muito superiores a
tudo quanto era imaginável com as antiquíssimas fontes energéticas utilizadas pelo
homem».44 A unidade moderna, para o autor, é assim marcada pelo recurso à energia do
vapor, por oposição àquela usada até aí, como a eólica, a hidráulica, a animal e a própria força
do homem. Armando de Castro dá como exemplo da introdução dessa modernização em
Portugal, precisamente, dois estabelecimentos dedicados à estamparia que se localizavam em
Alcântara, a Fábrica de Estamparia de Alcântara, detentora de um motor de 26 CV, e a
Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria, com 28 CV.45

A presença de significativos recursos naturais ganha também uma singular


importância se tivermos em conta que foi sob o seu impulso que o bairro conheceu, numa
análise de tempo longo, o assentamento de diversas actividades que se constituíram numa
herança para o tecido produtivo que encontramos no final do século XIX. Vinca-se desta
forma, ainda antes do período que estamos a estudar, a sua apetência para a instalação de
estabelecimentos de cariz industrial.

44
Castro, Armando - A revolução Industrial em Portugal, ob.cit.. p. 33.
45
idem, ibidem, p. 52.
28
Analisaremos com mais pormenor, no segundo capítulo, algumas das actividades que
mantiveram uma maior relação com os recursos naturais de Alcântara. Entenda-se agora,
sobretudo, que do pioneirismo da sua apetência para enquadrar diversas actividades
produtivas, ainda antes de meados de oitocentos, derivou uma certa ideia de Alcântara como
um local natural, no contexto de Lisboa para a localização de actividades viradas para a
extracção ou transformação de matérias-primas. Este facto constitui, por si só, um factor de
atracção para os estabelecimentos de perfil mais moderno que se começam a instalar no bairro
ainda antes de meados do século XIX.

1.3. O reforço da vocação industrial: a emergência de novas infra-estruturas

De natureza diferente, mas de igual importância, o bairro viu surgir também um


conjunto de infra-estruturas que eram elas próprias, em parte, uma consequência directa de
um momento pioneiro da industrialização do bairro, e que se afirmariam decisivas para o
desenvolvimento industrial de Alcântara no último quartel do século XIX (anexo 3).

Destaque-se, primeiramente, a progressiva reestruturação da faixa ribeirinha do Tejo,


com particular incidência na zona do bairro, num processo que se inaugura em meados do
século XIX e que atingirá uma maior relevância com as obras ocorridas no Porto de Lisboa,
na década de 1890. A valorização da zona situada nas proximidades do rio começou a ocorrer
na década de 1860 quando se iniciou a construção do Aterro da Boavista. Esta obra surgiu do
impulso dado pelas emergentes preocupações com a saúde pública que marcariam esse
período. Esta ideia é vincada por Adolfo Loureiro que sublinha o facto desta transformação
ter surgido da necessidade de resolver o problema «das praias lodosas que orlavam a cidade
do lado do Tejo, e em que se despejavam os canos de esgoto e os lixos e immundices da
cidade».46 Estas eram tidas, pelos higienistas, como sendo as responsáveis pelas diversas
doenças que afligiam ciclicamente a cidade. Estavam na lembrança de Lisboa as epidemias de
cólera e de febre amarela que atingiram a cidade entre 1854 e 1855. Todavia, as obras
dirigidas por António Vitorino Damásio não eram impulsionadas apenas por cuidados
sanitários. Quando se iniciaram, em 1858, para efectuar o aterro entre o Boqueirão da Moeda
e a praia de Santos estava também latente a ideia que elas impulsionariam a construção naval
e promoveriam o comércio e a industrialização em Lisboa. As obras fazem também emergir

46
Loureiro, Adolfo - Portos Marítimos de Portugal e Ilhas Adjacentes. Vol. III, Parte I. Lisboa: Imprensa
nacional, 1906, p. 216.
29
diversas docas de abrigo para barcos, conforme relata Adolfo Loureiro.47 Na verdade,
precursor das obras do Porto de Lisboa que ocorreriam cerca de trinta anos depois, a
construção do Aterro da Boavista ofereceu às fábricas já existentes em Lisboa e aos
estabelecimentos que se vieram a criar, um novo e nobre espaço. Mas a transformação mais
relevante que Alcântara sofreria, neste período, e que em grande parte é subsidiária da
industrialização que o bairro já conhecia, é a reestruturação do Porto de Lisboa. Trata-se de
uma obra que estará concluída no início da década de 1890 e que enriquecerá decisivamente
Alcântara como um local impar para o assentamento industrial, no espaço de Lisboa.

A história da apresentação dos projectos para a modernização do porto é longa e


repleta de intermitências. Interessa-nos atentar assim, essencialmente, às datas mais
importantes. No dia de 18 de Maio de 1885 foi apresentada a proposta vencedora, por H.
Hersent. Segundo Adolfo Loureiro, as obras foram pensadas, inicialmente, para o espaço
compreendido entre Santa Apolónia e a foz do “caneiro de Alcântara”, estando também
projectadas para se expandirem, quer para Belém, quer para a zona do Beato, a oriente da
cidade.48 No essencial a modernização do porto deve ser entendida sob dois prismas.
Possibilita, por um lado, que se fosse conquistando ao rio muitos terrenos nos quais se
puderam instalar diversas fábricas e armazéns. Segundo o mesmo autor, Alcântara ficou com
uma nova faixa de terrenos de 254 metros situada num local privilegiado para a fixação
industrial.49 Permitiu, conjuntamente, o surgimento de diversas vias de comunicação que
melhoraram a ligação do bairro com a restante cidade. Refira-se, no entanto, que desse espaço
apenas 184 metros estava destinado a edificações.50 As obras não se restringiram, sublinhe-
se, ao espaço do bairro. Mas, como sublinha Vieira da Silva, «os terrenos conquistados ao
Tejo medem neste sítio uma área mais considerável do que qualquer outro ponto do Porto de
Lisboa, e a linha marginal, que no século XVI não passava para além da ponte de Alcântara,
avançou em direcção ao Tejo uma extensa de cerca de 900m. A conquista destes terrenos
altamente valiosos foi uma necessidade que o incremento do comércio e da indústria e da
circulação citadina tornam imprescindível, e que ainda mais veio valorizar o populoso e
fabril bairro de Alcântara.»51

47
idem, ibidem, p. 453.
48
idem, ibidem, p. 372.
49
idem, ibidem, p. 373.
50
idem, ibidem, pp. 372-373.
51
Silva, Augusto Vieira da, ob.cit.. p. 17.
30
O aparecimento destes terrenos disponíveis para a fixação industrial, numa zona de
grande proximidade ao porto, adquire um maior significado se tivermos em conta a
necessidade elevada de matérias-primas importadas. Esta realidade atingia os sectores que
conheciam um grau de modernização mais elevado e que necessitavam de quantidades
maiores de matéria-prima e de maior força motriz. Era esse o caso do sector têxtil, da
metalurgia e do sector alimentar, os três de maior expressão no bairro, conforme prova o
anexo 5.

Grande era também a dependência da indústria nacional em termos energéticos. O


recorrente recurso às máquinas a vapor por parte destes estabelecimentos tornava-os
grandemente dependentes do carvão que era importado, sobretudo, de Inglaterra e que
continuará a ser, pelos menos até à Grande Guerra, a sua principal fonte de energia.52 O anexo
5 mostra-nos como os principais estabelecimentos de Alcântara recebiam o carvão através do
porto, beneficiando assim de um fácil acesso a esta fonte de energia, evitando o seu
encarecimento através do aumento do preço dos transportes. Esta dependência face aos
produtos que chegavam pelo Porto de Lisboa pautava, igualmente, muitas das actividades que
tradicionalmente eram caracterizadas por estabelecimentos de pequena dimensão e que
conheciam pouca mecanização. Era esse o caso, a título de exemplo, dos curtumes, onde as
unidades que o preenchiam eram dependentes da importação de peles, de produtos químicos e
de outras matérias-primas indispensáveis ao seu funcionamento.

Por sua vez, as vantagens competitivas que advinham de uma maior proximidade ao
porto resultavam também do facto de esta infra-estrutura se apresentar como o canal
privilegiado para o escoamento de uma importante parte dos produtos de muitas indústrias
nacionais. Esta era uma realidade que caracterizava, conforme nos descreve Manuel
Villaverde Cabral, olhando para o conjunto da industrialização portuguesa ocorrida em finais
de oitocentos, as unidades maiores e mais mecanizadas, como eram aquelas que pautavam o
sector têxtil, a actividade que conhecia também uma maior implantação em Alcântara53
(anexo 8).

52
Veja-se sobre a dependência energética do tecido produtivo do País, face ao estrangeiro, Faria, Fernando,
Cruz, Luís e Teives, Sofia - “Energia e indústria”. In A História da Energia: Portugal 1890-1980. Nuno
Madureira (Coord.), Lisboa: Livros Horizonte, 2005, p. 85.
53
Segundo o autor a abertura dos mercados coloniais terá representado um papel importante para o
desenvolvimento do sector têxtil nacional, apresentando-se como um mercado essencial para o escoamento os
seus produtos. Veja-se, para um conhecimento mais aprofundado desta temática Cabral, Manuel Villaverde,
ob.cit.. pp. 148.
31
Por último, o Porto de Lisboa terá constituído, igualmente, um elemento de estímulo
para as actividades directamente ligadas ao sector da construção, sobretudo a construção
naval, mas também para os diversos estabelecimentos que se dedicavam a produzir produtos
que serviriam as necessidades que derivavam da actividade exportadora. Destacam-se, de
entre elas, as diversas carpintarias que se dedicavam a produzir as caixas de madeira que
serviam de invólucro a muitos produtos exportados. Sendo indiscutível a importância que o
Porto de Lisboa teve para o desenvolvimento industrial da capital e, de certa forma, de outras
zonas do País, a dimensão da relação entre industrialização e desenvolvimento portuário
requer ainda uma análise geral mais profunda para que se perceba a sua importância pelo
menos para a zona metropolitana de Lisboa. Todavia, o estudo de uma área mais restrita,
como Alcântara, que permite um isolamento desta problemática numa área geográfica mais
diminuta, permite-nos estruturar uma questão. Comparando apenas para as cronologias de
fixação do tecido produtivo sobre as quais nos debruçaremos mais à frente, e a data de
modernização do Porto de Lisboa, e sabendo que muitas das maiores unidades do bairro
estavam em plena laboração antes da década de 1890, qual será o peso da modernização do
porto para o desenvolvimento industrial de Alcântara?

1.4. Indústria chama indústria: crescimento urbano e mutações do tecido produtivo

Este conjunto de factores, somados à conjuntura geral que pautava a evolução


industrial do País, contribuiu para que o espaço de Alcântara tenha começado a concentrar um
importante número de fábricas de médias e grandes dimensões ainda antes de meados do
século XIX. Analisaremos, no segundo capítulo, quais as principais unidades que pautaram o
desenvolvimento industrial do bairro neste período. Entenda-se agora, sobretudo, que este
fomento industrial ocorrido a partir da década de 1840 impulsionará o crescimento
demográfico e urbanístico do bairro, um factor que, por sua vez, introduzirá uma profunda
mutação da sua fisionomia. Em última instância, sublinhe-se, fará emergir uma substantiva
alteração nas dinâmicas do seu próprio desenvolvimento industrial.

Fruto da evolução que o seu tecido industrial tinha conhecido anteriormente, Alcântara
afirmou-se, como refere Vítor Matias Ferreira, como um dos locais de maior crescimento
urbano no contexto de Lisboa do século XIX. O «aumento da densidade demo-urbanística»54
ocorre, em primeiro lugar, na implantação de fábricas e de armazéns. A industrialização em

54
Ferreira, Vítor Matias, ob.cit.. p. 126.
32
curso teve assim, certamente, um papel decisivo para que no período compreendido entre
1878 e 1890, com uma taxa de crescimento de 62%, nestes doze anos, a zona ocidental da
cidade conhecesse um ritmo de crescimento muito mais acelerado que a totalidade da cidade
de Lisboa. Enquanto o conjunto da capital aumentou a sua população em 29%, o 4.º Bairro
aumentou 34%55. Nas décadas de 1870 e 1880 chegavam, em média, a Lisboa, 2 500 pessoas
por ano.56 No seu conjunto, Lisboa passou de 201 165 habitantes, em 1878, para 300 859, em
1890.57 Eram sobretudo as zonas de Lisboa que conheciam uma maior implantação industrial
que funcionavam como um catalisador para muita da população que acedia a Lisboa
almejando melhorar as suas condições de vida. Esta será uma dinâmica que, sublinhe-se,
pautará o desenvolvimento demográfico da cidade até ao final do século XIX.

Se esta grande mutação se traduz na ocupação do espaço pela grande quantidade de


pessoas que era atraída pelo trabalho oferecido nas diversas unidades que laboravam na
capital Alcântara, fruto do seu desenvolvimento industrial, apresentou-se, no contexto de
Lisboa, como um dos locais de maior fixação desses fluxos migratórios. Na verdade, ainda
que o aumento de população da freguesia de Alcântara comece a ocorrer nas décadas
anteriores, como referimos, será a partir do final do século XIX que esse crescimento será
mais visível. De 1890 a 1930 a população do bairro com origem no exterior do distrito de
Lisboa não cessa de aumentar. Em 1890 ela representava 33% dos habitantes da freguesia, em
1911 era já de 37,6%, para representar 49,7%, em 1930.58

O desenvolvimento urbanístico absorvia, em primeiro lugar, alguma da migração


ocorrida internamente no distrito de Lisboa. Em 1890 esses indivíduos representavam 7,5%
da população total do bairro. Já em 1911 o seu número crescera para 9,2%.59 Importa referir,
no entanto, que neste período o distrito de Lisboa abrangia uma área mais vasta, englobando
locais onde seria maior o impulso migratório, como Setúbal. Refira-se que segundo a análise
de Frédéric Vidal, era igualmente grande o peso dos habitantes originários da própria cidade
na estrutura demográfica do bairro. Apenas em 1930 a percentagem de indivíduos
provenientes dos limites de Lisboa deixou de ser superior a 50%, passando de 50,2%, em
1890, para 45,2%, em 1930.60

55
Vidal, Frédèric, ob.cit.. p. 51.
56
idem, ibidem, p. 54.
57
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. pp. 327-328.
58
idem, ibidem, p. 56.
59
Vidal, Frédéric, ob.cit.. pp. 56.
60
idem, ibidem, p. 56.
33
A importância do tecido industrial de Lisboa, como factor primordial de fomento
demográfico e urbanístico, conhecerá apenas uma diminuição quando, a partir da segunda
década do século XX, o assentamento industrial começar a ocorrer em locais mais periféricos
à cidade, sendo esse, a título de exemplo, o caso do Barreiro. Percebe-se assim que em 1930
apenas 3,7% era nascida no distrito de Lisboa.61

Quer o aumento demográfico e urbanístico de Lisboa, quer o crescimento dos


efectivos do bairro deverão ser analisados sob duas perspectivas distintas. Sublinhe-se, por
um lado, que a proximidade de Alcântara ao resto da cidade de Lisboa significava uma
relação de contiguidade muito proveitosa tendo em perspectiva a necessidade dos
estabelecimentos fixados no bairro escoarem os seus produtos. Lisboa emergia, desta forma,
como o mercado natural para muitas dessas unidades. A importância deste mercado é
anunciada, recorrentemente, em muitas das respostas que são dadas pelos responsáveis de
muitos estabelecimentos às questões colocadas pelo Inquérito Industrial de 1881,62 que aí
afirmam colocar uma parte importante dos seus produtos.

É verdade que o aumento da densidade populacional, como sublinha Jorge Custódio,


ofereceu aos estabelecimentos aí instalados uma grande oferta de mão-de-obra; mas entre
meados do século XIX, e cerca de 1890, o espaço sofreu uma significativa mutação que
provocaria algumas alterações na tipologia das vantagens aí existentes em meados do século
para a fixação industrial. Esta transformação decorreu, segundo Jorge Custódio, através de um
processo em que a evolução do bairro, em muito subsidiária da sua vertente marcadamente
industrial «acompanha o evoluir da implantação industrial ao redor de Lisboa, acabando por
ser absorvida e transformada pela aceleração no crescimento da área urbana e pela
necessidade de ligações rodoviárias rápidas com os arredores (...) a paisagem natural, as
penetrações fluviais, a linha da costa, tudo se transforma por acção do crescimento urbano e
das modificações exigidas pela implantação industrial».63

Importa questionar, sendo assim, se à semelhança do que ocorreu com o centro da


cidade, onde a evolução urbanística condicionou não só o tecido produtivo aí instalado como
transformou, na última metade do século XIX, esse espaço num local que já não oferecia
condições para a instalação de unidades com as dimensões e as características que muitas
apresentavam, se também o desenvolvimento urbanístico de Alcântara, com o cerrar da malha

61
idem, ibidem, p.56.
62
Inquérito Industrial de 1881:Resumo. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883.
63
Custodio, Jorge Ribeiro, Isabel e Santos, Luísa, ob.cit.. p.9.
34
populacional, não só começou a condicionar a implantação de novas unidades, como dirigiu o
tecido produtivo do bairro para uma lógica produtiva de consumo vincadamente local.

A partir de meados do século XIX Alcântara conhece um acentuado crescimento da


taxa de densidade de habitante por quilómetro quadrado, sendo uma tendência que se acentua
no último quartel desse século. Assim, se em 1853 essa taxa era de 9 hab/km2 em 1857 era já
de 16 hab/km2 e, em 1878 de 26 hab/km2. No final do século essa densidade passaria de 28
hab/km2, em 1890, para 36 hab/km2, em 1900.64 Refira-se que para a totalidade do País essa
taxa evolui de 32,8 hab/km2, em 1801, para 60,1 hab/km2 em 1900.65 Este rápido crescimento
urbanístico de Alcântara, sendo uma consequência directa do processo de desenvolvimento
urbanístico que o bairro conhecia terá, certamente, como veremos, importantes consequências
na tipificação do seu tecido industrial.

2. A evolução de um bairro industrial: aspectos gerais

Tendo em conta a evolução global de Alcântara, conforme a apresentamos, torna-se


perceptível que a sua afirmação como um importante bairro industrial de Lisboa pode ser
analisada considerando dois momentos que não obstante apresentarem grandes similitudes
entre si, obedecem a diferentes lógicas e dinâmicas.

O principal momento de arranque da sua industrialização terá ocorrido nos anos de


1840 quando, sob a liderança do sector têxtil, conhece uma primeira fixação de unidades
industriais modernas propriamente ditas. Não tendo ocorrido aí uma mutação profunda nas
actividades que evoluíam no bairro – Alcântara conhecia um longo período de instalação de
diversas actividades de cariz pré-industrial, desde o Terramoto de 1755, que pautavam até aí o
seu tecido produtivo – a instalação destas unidades constituiria um ponto inaugural do
desenvolvimento industrial constituindo-se, por si só, como um factor de atracção para as
muitas unidades que foram criadas depois de meados do século XIX, quando se acelerou o
desenvolvimento industrial de Lisboa. Sob o impulso do sector têxtil são criados médios e
grandes estabelecimentos que pautarão o pulsar da sua industrialização até pelo menos ao
início do século XX. Referimo-nos, essencialmente, às diversas metalúrgicas que foram
estabelecidas ou desenvolvidas na década de 1860, sobretudo as unidades direccionadas para
a produção de máquinas a vapor. Trata-se de uma actividade que, como veremos, em muito é

64
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. pp. 334-335.
65
idem, ibidem, p. 76.
35
subsidiária da implantação industrial ocorrida na década de 1840. Acentua-se, desta forma,
uma certa tendência para se desenvolverem no bairro as actividades que apresentam uma
relação de interdependência com outros sectores industriais.

Já o período compreendido entre 1870 e 1890 constitui-se, por sua vez, como aquele
onde o espaço de Alcântara se afirmou, verdadeiramente, como bairro industrial. O fomento
da década de 1840 permitira, como vimos, o desenvolvimento de infra-estruturas
fundamentais ao crescimento industrial. Além do Porto de Lisboa importa sublinhar também
o caminho-de-ferro, e as diversas vias que se iam abrindo no bairro, como a Av. 24 de Julho.
No mesmo sentido, o crescimento urbanístico de Lisboa fornecia, por um lado, o mercado
natural e próximo para os estabelecimentos do bairro e, por outro, a mão-de-obra que as
unidades que se encontravam em acentuado crescimento necessitavam. Em última análise, o
acentuado fomento do tecido produtivo do bairro, nestas décadas, era subsidiário da
industrialização que já vinha ocorrendo anteriormente, uma realidade que nos leva a
questionar a ocorrência de um surto industrial, no contexto do bairro, e a equacionar uma
ideia de fomento industrial ocorrido numa lógica de desenvolvimento essencialmente
progressiva. Nesta perspectiva, a década de 1870 poderá ser encarada mais como um período
onde a industrialização que já vinha ocorrendo no bairro, há cerca de três décadas, se
manifesta mais visivelmente, e não tanto como sendo um período onde tenha ocorrido corte
com o passado mais recente através de uma aceleração do assentamento industrial, apesar do
grande desenvolvimento ocorrido nesses anos.

No espaço cronológico onde a industrialização terá conhecido a sua fase mais intensa,
entre 1870 e 1890, Alcântara beneficia também, naturalmente, não só evolução do tecido
produtivo de Lisboa que transformara a zona ocidental da cidade no pólo industrial mais
importante da capital, mas também das diversas infra-estruturas que vão sendo criadas no seu
espaço. Importa não esquecer também que nestes anos o bairro beneficia de um ambiente
extremamente positivo que pauta a globalidade do desenvolvimento industrial português.
Resultou, desta forma, que quando chegamos ao final da década de 1880 Alcântara conheça
no seu espaço alguns dos estabelecimentos mais importantes de Lisboa e do País, das quais se
destacavam as unidades ligadas ao sector têxtil.

Já entre a década de 1890 e a Grande Guerra, não obstante as permanências do período


anterior, o tecido produtivo do bairro passa a ser caracterizado pela emergência de uma maior
diversidade na tipologia dos sectores que evoluíam no seu espaço. Esta diversidade foi
impulsionada, essencialmente, pela evolução demográfica e urbanística de Lisboa, uma
36
realidade que levaria a que no início do século XX o sector alimentar se tivesse transformado
num dos mais importantes do espaço alcantarense. No mesmo sentido, o fecho da malha
urbana, no espaço de Alcântara, começava a retirar ao bairro a grande oferta de terrenos
disponíveis para a instalação de novas unidades que o tinha pautado anteriormente. Não
obstante estas mutações, e como veremos no próximo capítulo, nas vésperas da I.ª Guerra
Mundial Alcântara apresentava-se ainda, no espaço de Lisboa, como um dos locais onde era
maior a concentração industrial.

37
Capítulo 2

Dinâmicas e Etapas da Industrialização de Alcântara

1. Na génese da industrialização de Alcântara

Conhecida, de forma genérica, o conjunto de factores que contribuíram decisivamente


para que Alcântara se tenha afirmado como o grande bairro industrial de Lisboa, centremos
agora a nossa atenção na caracterização do seu tecido industrial.

Percebemos, anteriormente, que ainda antes da intensificação de uma industrialização


de cariz moderno, o bairro conhecia já, numa análise de tempo longo, o desenvolvimento de
actividades de cariz pré-industrial no seu espaço. Quer de uma perspectiva cronológica, quer
partindo da análise da tipologia das unidades que aí evoluíram antes do período que estamos a
estudar, essa fixação é passível de ser dividida em dois momentos distintos. O primeiro é
inaugurado, essencialmente, com o Terramoto de 1755 sendo marcado pelo surgimento de
diversas unidades ligadas à extracção das riquezas naturais do sítio de Alcântara, às quais já
fizemos referência. Os autores que se têm debruçado sobre Alcântara têm reconhecido e
identificado, unanimemente, a importância da herança de uma certa tradição industrializante
no bairro ainda antes do século XIX.66 Jorge Custódio sublinha, a título de exemplo, que o seu
espaço conhecera já uma ocupação pré-industrial, proto-industrial e manufactureira.67 Esta
realidade é traduzida em moinhos hidráulicos, azenhas, moinhos de vento e fornos de cal.
Trata-se, segundo o autor, de uma função que se pode caracterizar, em termos gerais, por um
aproveitamento dos recursos naturais do sítio através, sobretudo, das pedreiras de calcário
existentes no local, havendo também diversos fornos de cal e de carvão mineral.68

Paralelamente à actividade extractiva, foram sendo criadas, ainda antes do século XIX,
diversas unidades manufactureiras, quer no espaço de Alcântara, quer nas suas proximidades.
Importa destacar aí o pioneirismo de algumas unidades das quais o maior exemplo é a

66
Veja-se, por exemplo, Custódio, Jorge - “Reflexos da industrialização na fisionomia e vida da cidade: O
mundo industrial na Lisboa Oitocentista”, ob.cit.. p. 463-465.
67
idem, ibidem, p.434-492.
68
idem, ibidem, p. 464.
38
Cordoaria Nacional. Tendo-se instalado em 1771, torna-se um dos estabelecimentos mais
emblemáticos no relevo industrial da zona de Alcântara durante um largo período.69

Mas apesar da presença destas unidades, no início do século XIX as lógicas de


distribuição geográfica do tecido produtivo no bairro continuavam a ser pautadas pela
existência de variados recursos naturais. Era essa também, globalmente, uma das principais
dinâmicas que dominavam a fixação de novas unidades no contexto nacional. Como sublinha
Jorge Pedreira na tese, Indústria e Atraso Económico em Portugal, 1800-1825 tratava-se de
um assentamento em que os padrões de localização industriais «passam iniludivelmente pela
morfologia dos territórios. As águas e lenhas fixam as indústrias, porque para todas elas são
imprescindíveis.»70 Percebe-se assim que Alcântara, pelos recursos naturais que possui seja
também, no início do século XIX, um espaço privilegiado do assentamento das novas
unidades que vão surgindo Lisboa.71

O segundo momento corresponde ao final da primeira metade do século XIX, na qual


começaram a ser instalados as primeiras actividades que seriam caracterizadas,
posteriormente, por diversas unidades de cariz moderno. No início do século XIX o bairro vê
serem desenvolvidos dois sectores que terão grande relevo no período que estamos a estudar.
Referimo-nos aos curtumes e, sobretudo, ao surgimento de diversas estamparias. A primeira
estamparia de algodões tinha sido introduzida em Portugal cerca de 1775. O seu
desenvolvimento decorre nessa altura, essencialmente, na região de Lisboa, aproveitando a
água fornecida pelo rio Tejo e pelos seus afluentes.72 A escolha de Alcântara para esta
fixação, no contexto da capital deveu-se, naturalmente, à existência abundante de água no seu
espaço. O “sector da água”, como o classificam Jordi Nadal e Xavier Tafunnell,73 quando
analisam o desenvolvimento industrial de Barcelona neste período, nasce assim em estreita
relação com a água fornecida pela Ribeira de Alcântara.

A tendência, no contexto português, era para que as estamparias formassem núcleos


produtivos de médias e grandes dimensões quando comparadas com as unidades existentes

69
Veja-se, para um melhor conhecimento da História da Cordoaria Nacional, Reis, António Estácio dos Reis –
“Cordoaria (Fábrica Nacional de)”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e Sucena, Eduardo
(Dir.). Lisboa, 1994, p.309.
70
Pedreira, Jorge Miguel - Indústria e Atraso Económico em Portugal, 1800-1825, ob.cit.. p. 97.
71
Veja-se, objectivando um maior conhecimento dos recursos naturais de Alcântara, Lima, Maria Amélia
Fonseca Freire de, ob.cit.. p. 13-15.
72
Pedreira, Jorge - “Indústria e negócio: a estamparia na região de Lisboa, 1780-1880”. Análise Social. N.º 112-
113 (1991), p.541.
73
Nadal, Jordei e Tafunell, Xavier, ob.cit.. pp. 8-82.
39
nos restantes ramos.74 Diga-se, a título de exemplo, que em 1829, e no contexto nacional,
cerca de 75% dos estabelecimentos eram unidades com mais de 25 operários.75 Apesar disto,
as estamparias de Alcântara conheciam uma realidade substancialmente diferente neste
período. Este sector era, na passagem do século XVIII para o XIX, e até cerca de 1830,
caracterizado não tanto pela instalação de grandes unidades, mas pela fixação de pequenos
estabelecimentos que se dedicavam a estampar algodão. Era esse o caso das oficinas de
Aniceto José dos Santos, a de Francisco Luís da Silva, a de José Pereira Pessoa, a de Pedro
Alexandrino do Couto, entre outras.76

Um outro ramo que conheceu aí um importante desenvolvimento foi o dos curtumes.


Igualmente dependente da existência de água abundante, tornou-se natural a sua fixação perto
da Ribeira de Alcântara. Também aqui a tipologia dominante eram as pequenas oficinas.
Todavia, ao contrário das estamparias que conhecerão a instalação de grandes
estabelecimentos, o sector dos curtumes será sempre maioritariamente composto por
pequenas unidades, mesmo depois da viragem do século. Por entre o conjunto de pequenas
oficinas laboravam as de Ana Maria Nazareth e de António José da Costa, sitas na Ribeira de
Alcântara, e as de Domingos da Cunha Fialho, na Rua de Alcântara, a de Ferreira & C.ª, na
Villa Pouca, a de José António Mota na Horta Navia, e a de José António de Alcântara, na
Rua Velha.77

Além de nos ajudarem a perceber melhor uma certa predisposição de Alcântara para a
fixação de unidades industriais, importa compreender também a longa permanência de
algumas destas actividades. Elas indiciam que o surgimento do tecido industrial moderno
propriamente dito, não se fez através de um processo de substituição das actividades que
anteriormente vinham laborando no bairro. Pelo contrário, uma das características mais
vincadas da industrialização de Alcântara foi, precisamente, a convivência e a decorrência
entre as unidades e os ramos produtivos que podemos considerar próprios da primeira
Revolução Industrial, e as aquelas de perfil mais moderno, conforme o provam os diversos
fornos de cal patentes no Inquérito Industrial de 1890.

2. 1840-1870: lugar à modernização

74
Pedreira, Jorge Miguel - Indústria e Atraso Económico em Portugal, 1800-1825, ob.cit.. p. 97.
75
idem, ibidem, p. 77.
76
Cf. Custodio, Jorge - “Alcântara (Industrial)”. In. Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e
Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, p.33.
77
idem, ibidem, p. 33.
40
2.1. A importância do sector têxtil

Ao debruçarmo-nos sobre a evolução do tecido produtivo de Alcântara prendemo-nos,


primordialmente, com a necessidade de conhecer as cronologias do assentamento no bairro,
quer dos principais ramos produtivos que o pautam, quer dos estabelecimentos que lhe dão
forma. Neste sentido, se analisarmos o Inquérito Industrial de 1881, somos levados a
fixarmo-nos, primeiramente, na década de 1840, quando o bairro conheceu uma parte
relevante de criação e de desenvolvimento de algumas das unidades que encontraremos em
acentuada vitalidade depois da década de 1870.

O primeiro momento de fixação de tecido produtivo moderno terá surgido no bairro


depois de 1836. Conforme vincam diversos autores78 o impulso dado nessa data, por Passos
Manuel, fomentou algum desenvolvimento industrial no conjunto do território nacional.79 No
contexto mais restrito de Lisboa, aquele que aqui mais nos interessa, na década de 1840
fomentou-se também a criação de diversos estabelecimentos de média e grande dimensão que
se destinavam à produção fabril.80 Lisboa comandava já, nesse período, o processo de
desenvolvimento industrial do País. Desde a passagem de setecentos para oitocentos a cidade
era, na verdade, o local privilegiado para esta nova tipologia de desenvolvimento industrial.
David Justino caracteriza-a como sendo de «recente maquinofactura» e desenvolvida «a
partir de grandes unidades industriais», e nas quais «o sector têxtil, em especial o
algodoeiro, e neste a estamparia, é, pela mão-de-obra empregue e pelas máquinas a vapor
utilizadas, o sector mais importante, seguindo-se-lhe a manipulação de tabaco, a metalurgia
e a metalomecânica, a indústria química e as alimentares.»81

A ocorrência de um desenvolvimento industrial de cariz moderno ainda antes de


meados do século tem sido identificada também por outros autores que estudaram os
principais momentos de desenvolvimento industrial no País. Armando de Castro, enquadra os
anos 40 naquilo a que chamou de «etapas básicas do processo geral da industrialização
portuguesa» no século XIX.82 Afirma igualmente que Portugal teria conhecido, nos anos 40,

78
O impulso conferido à industrialização por Passos Manuel é sublinhado, por exemplo, por Armando de Castro,
que vinca, entre outras coisas, a pauta proteccionista instaurada em 1837. Atente-se, nesse sentido a Castro,
Armando, ob.cit.. p. 30.
79
Uma análise mais profunda das problemáticas abertas em torno desta questão pode ser encontrada em
Bonifácio, Maria de Fátima - “Lisboa, bastião do proteccionismo: pautas, política e Indústria nos anos 30-40 do
século passado”. Análise Social. N.º112-113 (1991), p. 551-535.
80
Justino, José David Gomes, ob.cit. p.108-118.
81
idem, ibidem, p.118.
82
Castro, Armando, ob.cit...p. 49.
41
«a aplicação (...) das grandes conquistas iniciais da Revolução Industrial».83 Surgiram, nesse
sentido, diversas unidades de médias e grandes dimensões, muitas delas na região de Lisboa,
enquadradas numa lógica de fixação que privilegia, tendencialmente, as zonas mais
periféricas e nas quais se enquadra Alcântara.

A importância da pauta de Passos Manuel para o bairro advém, igualmente, do facto


de proceder à defesa do sector que conhecerá um maior desenvolvimento no bairro neste
período, os têxteis.84 Percebe-se assim que ao grande número de pequenas oficinas que
preenchiam o sector da estamparia se tenham imposto as primeiras fábricas de grandes
dimensões. Dedicavam-se, precisamente, à actividade têtxtil. Esta nova realidade, surgida nos
anos 40, está bem patente no Inquérito Industrial de 1881, no qual se percebe a instalação de
diversas unidades no bairro, nesse período. Foi nessa data criada, por exemplo, a Anjos,
Cunha, Ferreira & C.ª.. Localizada na Rua da Fábrica da Pólvora, n.º 38, foi fundada, em
1840, por Rodrigues Barros & C.ª. Em 1844 passou para as mãos de Miranda Batalha & C.ª,
dedicando-se, até essa altura, à tinturaria de algodões. Em 1847 passa a estampar chitas de
uma e duas cores, conhecendo aqui um importante momento de modernização, com a
implantação de duas máquinas de estampar. Em 1854 passou para a posse dos proprietários
que mantém em 1881. Empregava, na altura do inquérito de 1881, 110 operários, e usava 36
CV na produção. Designava-se então Fábrica Portuguesa de Estamparia e Tinturaria.

Tabela 1
Principais estabelecimentos de Alcântara criados antes de 1870
Ano Ramo
Indústria Localização
Formação Industrial
Largo do Conde Barão,
Companhia Perseverança 1809 metalurgia
n.º14
Fábrica Nacional de Produtos Cerâmicos Rua das Janelas Verdes,
1837 cerâmica
Constância n.º40
Companhia de Fiação e Tecidos
Rua de S. Joaquim, n.º8 1838 têxtil
Lisbonense
B. Daupias & C.ª Calvário, 1839 têxtil
Anjos, Cunha, ferreira & C.ª Rua da Fábrica da Pólvora 1840 estamparia
Fábrica de curtumes de António José da Calçada dos Terremotos,
1842 cortumes
Costa n.º9
Fábrica de Pinto & C.ª, Ponte Nova 1842 estamparia
José António Alcântara & Filhos, Rua Velha, n.º2 1842 cortumes
Pinto & C.ª. Ponte Nova 1842 estamparia

83
idem, ibidem, p. 49.
84
Bonifácio, Maria de Fátima, ob.cit.. p.527
42
Fábrica Vulcano Boqueirão do Duro 1843 metalurgia
Fábrica Vitória Rua 24 de Julho 1846 metalurgia
Viúva Lamego & Filhos 1848 cerâmica
Fábrica de Joaquim Antunes dos Santos Aterro da Boa Vista 1852 metalurgia
Fábrica da Companhia Previdente Rua do Instituto industrial 1853 metalurgia
Rua Direita do Calvário,
L. Dauphinet & Castay 1856 metalurgia
n.º33.
Rua Direita de Junqueira,
Monteiro & Filhos 1858 cortumes
n.º74
Companhia União Industrial Lisbonense Rua 24 de Julho 1862 alimentação
Ferreira & C.ª. Rua 24 de Julho 1862 alimentação
António Cypriano Ferreira Rua Velha, n.º59-A 1863 cortumes
Centeno & C.ª Horta Navia 1863 estamparia
Lamas & C.ª Rua da Junqueira, 98 1864 cortumes
Companhia União Fabril Rua das Fontainhas 1865 sabão/velas
Companhia dos Vendedores de tabaco
Rua 24 de Julho 1866 tabaco
Regalia
José Rodrigues Mendes, Sucessores Calçada de Santos, 35 1866 alimentação
Rua Praia da Junqueira,
Caetano Lopes da Silva 1869 extração/gesso
n.º24,
Fontes: Inquérito Industrial de 1881; Catálogo da Exposição Nacional das Indústrias Fabris realizada
na Avenida da Liberdade em 1888; Inquérito Industrial de 1890.

O processo de instalação de maquinaria moderna não era, no entanto, extensível a


todas as unidades. Algumas estamparias de média dimensão continuavam sem conhecer a
energia de vapor, não sendo esse um elemento que impossibilitasse a sua sobrevivência até
1881. Encontramos, nessas condições, a Pinto & C.ª. A firma de António da Silva Pinto, tinha
sido formada em 1842. Em 1881 contabilizava já 110 operários e dedicava-se igualmente à
estamparia de lenços e de chitas, e à tinturaria de zuartes. Este desenvolvimento acentuado da
estamparia e da tinturaria, neste período, deve-se também, segundo David Justino, à política
alfandegária de Espanha que tornava lucrativa a passagem dos tecidos por Lisboa como via
indirecta de entrada no país vizinho, o que terá aguçado o apetite dos negociantes de algodão
portugueses a investirem nestes bens.85

Mas um dos exemplos maiores do desenvolvimento deste sector, na década de 40, é a


Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense. Fundada em 1838 por Francisco Rodrigues
Batalha e António José Pereira Guimarães, entre outros, e tendo, inicialmente, um capital
social de 40 000$000, instala-se, num primeiro momento, no Convento de Xabregas.
Conheceu, nessa fase inicial, diversos entraves ao seu crescimento, materializados, sobretudo,

85
Justino, David, ob.cit.. p. 162.
43
num edifício que não continha as condições exigidas para o seu desenvolvimento. Um
primeiro passo para a mudança desta companhia para Alcântara ocorreu quando um incêndio
destruiu parte do mesmo edifício a 12 de Janeiro de 1844, contrariedade a que se juntou a
avaria das suas caldeiras, já antigas. Um ano mais tarde alugou o palácio do Marquez de Niza,
na mesma zona da cidade, cedendo o anterior edifício de Xabregas aos Contratadores do
Tabaco, Sabão e Pólvora. Permaneceram, no entanto, as limitações das instalações em que
agora estava a laborar. A solução passou pela sua mudança para um edifício em Alcântara de
que era proprietário o Conde da Ponte. Tendo as obras começado em 1846, esta mudança
propiciou um acentuado desenvolvimento nas décadas que se seguiram.

É esse crescimento que permitirá que em 1874 tenha já um capital social de 1 000
000$000, sendo nessa altura dirigida por Isidoro Thomás de Moura Carvalho, por Francisco
José Ribeiro e por António José Rodrigues Leitão, sendo a fábrica de Santo Amaro gerida por
António Nery da Silva. Quando se localizou na Rua de S. Joaquim, a Santo Amaro, a unidade
que se dedicava à fiação de algodão importava 400 000 kg de algodão do Brasil e de Angola,
e 2 000 000 kg de carvão.86 Quatro anos mais tarde contabilizava cerca de 700 operários
enquanto, em 1888, evoluiu para 1 181 trabalhadores.87

Já no sector têxtil, propriamente dito, os anos 40 conheceram também a criação de


alguns dos estabelecimentos que se revelariam de maior importância no tecido produtivo do
bairro. A fábrica de lanifícios de Bernardo Daupiás era o maior expoente da expansão do
sector. Desenvolvida depois de 1839, a nova instalação foi transferida para o Calvário em
1845, estando a administração entregue ao próprio Bernardo e ao seu filho Pedro-Eugénio
Daupiás. A Bernardo Daupias & C.ª. conheceu um forte crescimento das décadas que se
seguiram à sua criação. Em 1881, o seu crescimento era já bem visível, tendo-se transformado
numa das maiores têxteis do bairro. Produzia xailes e caxemiras, entre outros produtos de lã.
A fábrica tinha aí cerca de 700 operários e três máquinas a vapor de 100 CV cada, 36 teares
mecânicos, entre outra maquinaria,. A produção era dirigida para Portugal, para o Brasil e
para as colónias portuguesas em África.

Alcântara conhece assim, em meados do século, um importante momento de fixação


de estabelecimentos de média e grande dimensão acompanhando a criação de um parque

86
Veja-se “Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão em Santo Amaro”. Diário Illustrado, 3.º Ano, n.º506
(Janeiro de 1874).
87
Associação Industrial Portuguesa - Catálogo da Exposição Nacional das Indústrias Fabris Realizada na
Avenida da Liberdade em 1888. Vol. II, Lisboa: Imprensa Nacional, 1889, p.107.
44
industrial de cariz moderno que era, na verdade, uma tendência comum a todo o espaço da
região de Lisboa. Esta ideia é defendida por David Justino, que sublinha o facto de em
meados do século XIX as fábricas da capital «teriam já uma importância muito superior à
indústria oficinal, quer pela mão-de-obra empregue, quer pela sua capacidade de produção,
em grande parte dependente da força de trabalho»88. Para este autor, a afirmação da fábrica
na região de Lisboa, em detrimento da oficina derivou, sobretudo, do facto de ser na capital
que a máquina a vapor teve uma maior difusão depois de ter sido implantada na década de 40.

No seu conjunto, os anos 40 inauguram verdadeiramente o desenvolvimento industrial


do bairro. A sua importância advém do impulso que forneceram a outras actividades nascidas
nos trilhos de oportunidade abertos pelo pioneirismo dos estabelecimentos que se instalaram
nessa década.

2.2. Um mundo de novas oportunidades: a emergência da metalurgia

No contexto da industrialização europeia o nascimento da indústria química moderna


foi uma consequência, em parte, do desenvolvimento do sector têxtil que ocorreu num
primeiro momento. As unidades do sector químico começaram por produzir agentes
branqueadores. Dedicaram-se também, posteriormente, a fabricar colorantes sintéticos que
seriam usados nas diversas indústrias têxteis em desenvolvimento. Seguindo esta lógica, ao
crescimento desta actividade, nos anos 40, Alcântara poderia ter conhecido a criação de um
importante sector químico nos anos posteriores. Não foi, todavia, isto que aconteceu. Em
parte porque quer as estamparias, quer outras têxteis, importavam a grande parte das “drogas”
usadas no seu fabrico. A Anjos, Cunha, Ferreira & C.ª, a título de exemplo, importava os
produtos químicos de Inglaterra e da Alemanha (anexo 5). Face a esta realidade, o sector
químico no bairro só conheceria um relativo desenvolvimento à custa não do sector têxtil,
mas da complementaridade entre a indústria e a agricultura, mormente, através da produção
de adubos que será centralizada na CUF, da qual falaremos posteriormente.

Não obstante esta realidade, o desenvolvimento industrial dos anos 40, com o recurso,
ainda que diminuto, a uma maior mecanização, teria uma importante influência na estrutura
do tecido produtivo desenvolvido no bairro anos seguintes. Revela-se, primeiramente, ao
originar a carência de produção de máquinas a vapor e também no fomento da necessidade de
haver quem reparasse a maquinaria que ia sendo instalada. Assiste-se assim, no início da

88
Justino, David, ob.cit.. p. 112.
45
segunda metade de oitocentos, à emergência do sector metalúrgico. Esta seria, na verdade, a
actividade mais beneficiada não só pelo desenvolvimento industrial anterior, como pelo
fomento urbanístico que este começara a promover. Percebe-se, desta forma, que seja aquela
que mais se desenvolveu nos anos de 1850 e 1860. Ana Cardoso Matos refere, nesse sentido,
que a criação de diversas unidades metalúrgicas até à década de 70 «só pode ser explicado
por uma procura mais consistente de maquinaria por parte da agricultura e indústria
portuguesa e pela incorporação crescente do ferro na construção civil.».89 Ao lado dessas
diversas oficinas que já se encontravam em laboração no bairro, emergiram unidades de cariz
moderno viradas para a produção de maquinaria e, na mesma dimensão de importância, para
as diversas obras que a cidade ia conhecendo.

Foi assim que nasceram e se desenvolveram as grandes metalúrgicas existentes no


bairro. Um dos exemplos mais claros é o crescimento da L. Dauphinet & Castay. Foi criada
na Rua Direita do Calvário, em 1856, precisamente para produzir caldeiras a vapor e efectuar
diversas obras de serralharia. Beneficiava, desta forma, das crescentes necessidades de
maquinaria originadas pelo crescimento e modernização do tecido industrial nacional. A
grande evolução que conheceu, até 1881, leva-a a atingir aí 25 operários. Em 1853 esta lógica
determina, igualmente, o aparecimento da Companhia Previdente na Rua do Instituto
Industrial. O seu dinamismo é verificável, em 1881, nos 60 operários que empregava, e no
recurso a 83 CV de energia a vapor.

A par com estas unidades de maior dimensão havia estabelecimentos nascidos de um


impulso diferentes. Foi o caso da metalúrgica de Joaquim Antunes dos Santos. Fundada em
1852, no Aterro da Boavista fabricava, essencialmente, produtos virados para o sector da
construção, como pregos. Recorre, para isso, a 75 operários que trabalham o ferro, o cobre, o
zinco e o latão, matérias-primas que lhe chegam através do porto, fazendo o uso também de
duas máquinas de vapor de 25 CV cada.

O efeito de arrastamento provocado pelo desenvolvimento do sector têxtil nos anos 40


permitiu também que algumas das pequenas oficinas de metalurgia que vinham laborando na
cidade, ainda na primeira metade do século, tivessem conhecido um acentuado crescimento,
tornando-se agora estabelecimentos modernos de média dimensão. Uma dessas unidades, cuja
história entronca com a evolução da própria industrialização de Alcântara, ficou conhecida

89
Matos, Ana Cardoso de - “A indústria Metalúrgica e Metalomecânica em Lisboa e no Porto na segunda
metade do século XIX”. Arqueologia e Indústria - Revista da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial.
N.º1 (Julho de 1998), p.94.
46
como Vulcano & Collares,90 nome que adquirirá na fusão ocorrida entre duas empresas, em
1915. A sua história é, contudo mais antiga. No início do século XIX José Pedro Collares,
funda uma pequena oficina na Rua Augusta. Esta unidade conhece uma lenta evolução que a
leva a ter 9 operários, em 1821. Um primeiro grande momento de desenvolvimento ocorre,
precisamente, na década de 40 quando, em 1842, se muda para perto do Largo do Conde
Barão, adquirindo o nome de Fábrica Nacional de Fundição de Ferro e Bronze. Em 1945 o
fundador da oficina primitiva associa os seus filhos José Pedro Collares Júnior, João, Tomás e
António Collares à sua fábrica, que se passou a denominar José Pedro Collares & Filhos.
Apesar do crescimento destes anos, o período de maior dinamismo acontece na década de 50,
acompanhando o progresso que a actividade metalúrgica da zona de Alcântara conheceu neste
período.

A mudança para o número 14 do Largo do Conde Barão decorre de um incêndio que


destrói as instalações anteriores. Fabricava, entre outros produtos, rodas hidráulicas de ferro.
O mais empreendedor dos irmãos, José Pedro Collares Júnior cria paralelamente, nessa altura,
a Companhia Perseverança. Em 1858, João e António Collares afastam-se da fábrica criada
pelo seu pai e os irmãos que permaneceram vendem-na à Perseverança, em 1959.

Tinha sido criada, em 1820-21, a oficina que dará origem à Fábrica Vulcano. Em
1842 transfere-se para o Boqueirão do Duro, no Bairro da Boavista. Em 1951 a Fundição
Vulcano é arrendada a Henry Peters, também proprietário da Fábrica Fénix, por Jacinto
Damásio, accionista da Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás. As máquinas da oficina,
no entanto, tinham sido vendidas a José Pedro Collares. Henry Peters consegue, ainda assim,
adquirir novas máquinas para o funcionamento da Vulcano, dando seguimento à sua
produção. Quando chegamos a 1881 a oficina encontra-se sob a direcção da Viúva Peters &
Filhos. Produzia, nesta altura, máquinas a vapor até 30 CV, engenhos para massas, prensas
para azeite, guindastes, engrenagens, moinhos de trigo, entre outros produtos destinados a
serem consumidos pelas novas e emergentes unidades fabris, não só em Alcântara, como no
contexto nacional. Não podemos dissociar também a sua evolução da expansão industrial que
ocorria à sua volta. Beneficia-a, igualmente, a proximidade ao Porto de Lisboa, de onde lhe
chegam o ferro fundido, o coque e o carvão de pedra. Até 1915, ano em que se fundem, dando
origem à Vulcano & Collares, funcionaram como unidades totalmente distintas. Refira-se, no

90
Custodio, Jorge - “Vulcano & Collares”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e Sucena,
Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, p. 965-966.
47
entanto, que apenas a Perseverança, de menor dimensão, pertencia realmente ao contexto do
bairro de Alcântara, tendo fixado fábrica na Av. 24 de Julho.

A par destes estabelecimentos, e enquadradas na zona de influência do tecido


produtivo do bairro, outras metalúrgicas de menor ou maior dimensão desenvolveram-se
também desde a década de cinquenta. Como fruto dessa evolução, quando chegamos aos anos
70 o sector metalúrgico era um dos mais importantes no tecido produtivo de Alcântara.

3. A afirmação de um bairro industrial

3.1. A explosão industrial

Em termos genéricos, ainda que não se consiga contabilizar totalmente a influência


deste crescimento industrial ocorrido antes da década de 70 para o desenvolvimento urbano e
demográfico de Alcântara, percebe-se que olhando para a evolução demográfica do bairro, ele
terá funcionado como um importante catalisador de populações exteriores ao bairro que viam
nos estabelecimentos industriais criados importantes oportunidades de emprego. Entre 1864 e
1900 o número de habitantes de Alcântara aumentou 123,5% enquanto entre 1801 e 1864 o
local crescera 59,4%.91 O afluxo das populações à cidade fez emergir as preocupações com a
qualidade de vida em muitos locais de Lisboa.92 Os higienistas portugueses viam nas zonas da
capital que conheciam um maior assentamento industrial o foco das muitas doenças que
assolavam Lisboa nesse período. Procedem, nesse sentido, à elaboração de diversos estudos
que resultariam, no que aqui mais nos interessa, na necessidade de regulamentar a relação
entre o desenvolvimento urbano e o processo de industrialização em curso.

A emergência destas preocupações com a saúde pública influenciou, de forma directa,


o processo de industrialização que estava em curso, obrigando à regulamentação das
condições de laboração, quer para os estabelecimentos novos, quer para aqueles que se
encontravam já em laboração. Lisboa seguia, também aqui, o exemplo que lhe chegava da
Europa. Em Paris um decreto e 1810 atribui ao Estado a decisão de autorizar a abertura de
uma fábrica em determinada localização.93

91
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. p.54.
92
Veja-se, para um conhecimento mais aprofundado do debate sobre as condições de vida das populações, e da
proliferação da habitação operária em Lisboa, entre outras obras Pereira, Nuno Teotónio - “Pátios e vilas de
Lisboa, 1870-1930: a promoção privada do alojamento operário”. Análise Social. N.º127 (1994), p.509-524.
93
Faure, Alain - “La Ville et L’Industrie a Paris et en France (1800-1939)”. L’Archéologie industrielle en
France. N.º 35 (Dezembro de 1999), p. 79-21.
48
Em Portugal a legislação que regulamentava a relação da laboração industrial com
desenvolvimento urbano surge na década de 60, com a Lei de 5 de Julho de 1863 e o Decreto
de 21 de Outubro de 1863. Esta legislação classificou os estabelecimentos considerando o seu
nível de insalubridade e os malefícios que pudessem causar à saúde pública, distribuindo-os
por três tabelas gizadas em função dos seus níveis de perigosidade. Na primeira encontravam-
se as unidades que se deviam situar fora das povoações por terem elevados níveis de
perigosidade. Na segunda eram referidos os estabelecimentos cujo funcionamento envolvia
acções incómodas ou insalubres, mas que não obriguem a um afastamento das populações.
Em terceiro lugar estavam os que representavam pouco perigo, podendo ficar instalados
dentro das povoações, ainda que fiquem sujeitos a vistorias regulares da polícia.

Esta legislação obriga à obtenção de uma licença concedida pelos Governos Civis para
que um estabelecimento, pertencente à primeira e segunda classe, possa seja fundado,
respeitando várias condições prévias para o seu assentamento, como a segurança das
máquinas a vapor e a altura da chaminé. As unidades têm ainda que respeitar uma distância
mínima para as habitações, estabelecida de acordo com o seu nível de perigosidade. As
referenciadas como sendo de primeira classe não podiam fixar-se perto das habitações, sendo
a distância a que se situavam estabelecida pelo Governo civil. As da segunda classe poderiam,
em alguns casos, estar perto de casas, mas a sua fixação estava sujeita a uma prévia avaliação.
Já às da terceira classe é permitido estar perto das habitações, mas sujeitas a uma vigilância
permanente.

No contexto de Lisboa a regulamentação da relação entre o desenvolvimento industrial


e o crescimento urbano acentua naturalmente, nesta fase, uma das vantagens de Alcântara
como pólo atractivo para a instalação de novas indústrias: a oferta de espaço livre. Na
verdade, o bairro tinha disponíveis terrenos de uma dimensão significativa que ofereciam às
novas fábricas a possibilidade de cumprir a legislação em vigor. Importa referir, todavia, que
quer no momento do requerimento colocado pelos industriais para começarem a laborar, quer
na data do alvará, quer quando é concedida a licença de funcionamento, muitos dos
estabelecimentos já estavam em funcionamento. Desta forma, sem diminuir a importância da
regulamentação do processo industrial, é necessário ter em conta o nível nem sempre elevado
de rigor aquando da sua implementação prática.

Ainda assim, a publicação da Lei de 5 de Julho e o Decreto de 21 de Outubro, ao


resultarem da necessidade de regulamentar a instalação dos estabelecimentos, parecem
confirmar, de certa forma, uma já considerável dimensão do processo de industrialização que
49
ocorria no País desde a década de 1840, sobretudo em Lisboa. E esta regulamentação surge
assim nas vésperas de um assentamento mais efectivo, quer em Alcântara, quer na totalidade
do território português, contribuindo também para delinear a distribuição geográfica do tecido
industrial emergente. Vimos, nesse sentido, como a historiografia mais recente tem situado
um surto industrial no início da década de 70. Jaime Reis defende precisamente, vincando
esse facto, que «não só a indústria se estava a desenvolver antes da crise de 1891, como esse
desenvolvimento foi mais acentuado do que aquele que se veio a verificar mais tarde».94
Sublinha, o autor, uma taxa de crescimento tendencial alta, desde essa década, que variou
entre 2,5 e 2,8% ao ano95 diminuindo a anterior tendência que apontava a década de 1890
como o início do mesmo surto.96

Na rede de análise mais fina que nos é facultada pelo estudo de um bairro, como
veremos, é evidente que a evolução do tecido industrial parece ter conhecido alguns
momentos em que o seu crescimento foi mais efectivo, como a década de 1870.

É na década de 1870 que se começam a acrescentar ao conjunto de factores vantajosos


à fixação industrial, um espectro mais alargado de vantagens que advém, sobretudo, do
desenvolvimento de diversas infra-estruturas que a potencializam. No mesmo sentido, o
acentuado aumento urbanístico que Lisboa ia conhecendo nesses anos traduz-se no aumento
do mercado mais próximo do bairro, na oferta vasta de mão-de-obra e na emergência de
diversas obras que estimulam a produção de muitas actividades aí instaladas, sobretudo as
viradas para o sector da construção. Na verdade, a capital passa de 174 335 habitantes, em
1864, para 201 165, em 1878.97

Vimos que a industrialização tinha sido estimulada, desde o final da década de 30,
quer pela pauta proteccionista de 1837 quer, no caso da estamparia, também pelo contrabando
de panos de algodão para Espanha. Com os anos 70, todavia, este sector passa a ser
impulsionado, maioritariamente, pelo aumento da procura nacional.98 Chegados a 1870, o
sector seria, a par com o sector têxtil propriamente dito, aquele com mais estabelecimentos na
capital, contabilizando 11 unidades, enquanto existiam 10 estabelecimentos de dimensão

94
Reis, Jaime, ob.cit.. p. 214.
95
idem, ibidem, p. 213.
96
Esta ideia era defendida, por exemplo, por Joel Serrão. Para um conhecimento mais aprofundado da tese deste
autor veja-se, Serrão, Joel, ob.cit.
97
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. pp. 327-328.
98
Pedreira, Jorge Miguel - “Indústria e Negócio: a Estamparia na Região de Lisboa, 1780-1880”, ob.cit.. p.555.
50
significativa que se dedicava, à fiação e à tecelagem de algodão e 13 aos lanifícios.99 Estão
ainda referenciadas, de acordo com estas dimensões, 6 metalúrgicas e 6 estabelecimentos
dedicados ao tabaco. O seu pioneirismo, na perspectiva da instalação de unidades modernas,
no contexto nacional, segundo o mesmo autor, é provado pelo facto de estas ainda terem, em
1881, uma maior recorrência à energia do vapor, dado que usavam 1,44 de CV por
trabalhador, enquanto a metalurgia usava 0,25 CV, os lanifícios 0,35 CV e a fiação e
tecelagem 0,37 CV.100

No contexto de Alcântara a estamparia viu também consolidada a sua singular


importância. Na década de 70 o seu dinamismo pode ser medido não só pela dimensão em
operários e em cavalos-vapor, como pela instalação de novos estabelecimentos. Refira-se, no
entanto, que como em outros sectores, também aqui, lado a lado com unidades mais
modernas, evoluíam unidades em tudo semelhantes às antigas manufacturas.

Uma das que adquiriu um nível mais elevado de modernização foi a Companhia de
Estamparia de Alcântara. Fundada em 1876, na Quinta do Inferno, para produzir chitas,
zuartes e lenços, passou a tingir algodões em 1879, ocupando já 80 operários aquando do
inquérito de 1881. Um outro exemplo da importância que a estamparia adquiriu em Alcântara,
como um dos motores do desenvolvimento do seu tecido produtivo moderno, foi a sua vizinha
Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões. Sendo dois anos mais nova,
esta fábrica, situada na Rua da Pólvora, tinha uma dimensão superior, dando trabalho a 106
operários e usava 135 CV de energia distribuídos por três caldeiras a vapor. Todos os
elementos que constituem o processo produtivo desta unidade servem para compreendermos
que Alcântara constitua um local privilegiado para o desenvolvimento das estamparias neste
período. A produção da Companhia inicia-se com a importação de panos de algodão de
Inglaterra que são, posteriormente, e através da estampagem e da tinturaria, transformados em
chitas e em lenços pelas três caldeiras a vapor que a Companhia detinha. A mesma lógica de
produção estará na origem da fixação da Centeno & C.ª. Fundada ainda em 1863, na Horta
Navia, para a estampagem e tinturaria de algodões dedicou-se depois de 1866, todavia, à
moagem de cereais. Mas em 1875 regressa ao sector da estamparia apresentando-se, em 1881,
como um estabelecimento de média dimensão, com 90 operários.

Em 1890 o modelo produtivo é semelhante àquele desenvolvido na década de 40.


Assenta na enorme importância da localização geográfica de Alcântara, mas também nos

99
idem, ibidem, p. 555.
100
idem, ibidem, p. 537.
51
recursos naturais existentes no bairro. A lógica de funcionamento destas unidades era pautada
por três importantes momentos. Isolamos, num primeiro instante, a importação de panos de
algodão cru de Inglaterra, e do carvão de Newcastle e de Cardiff, que alimentaria as caldeiras
a vapor. Quer a matéria-prima, quer a energia chegavam através do Porto de Lisboa (Anexo
5). Como vimos assiste-se depois à transformação desses panos de algodão em chitas e em
lenços, fazendo-se um constante uso de água. Num terceiro momento os produtos eram
colocados no mercado nacional e, depois do início da década de 90, com maior intensidade
para as colónias, (Anexo 6) percebendo-se, novamente, a importância da sua localização perto
do Porto de Lisboa. Nos três momentos mais importantes deste modelo produtivo – adquirir
matérias-primas e energia, transformar os panos e, finalmente, escoá-los – a localização
geográfica do bairro é assim fundamental.

Outro sector que continuava em crescimento era a metalurgia. À semelhança da


estamparia, aos primeiros estabelecimentos fabris instalados na viragem do século
apresentou-se a década de 70 como um segundo momento de significativa fixação, mas agora
mais vincado pela fixação de estabelecimentos de maior dimensão. Como vimos, o fomento
industrial da década de 40 gerara um novo mercado de produção de máquinas e caldeiras a
vapor. Se o desenvolvimento do tecido produtivo do bairro já tinha promovido empresas
como a L. Dauphinet & Castay, nos anos 50, a década de 70 traz consigo a afirmação de
muitas unidades através do aproveitamento do processo de desenvolvimento industrial e
urbano de Lisboa, e da afirmação de uma complementaridade entre ramos industriais mais
evidente. Gera-se, das necessidades de umas fábricas, o impulso para o surgimento de outros
estabelecimentos. É este novo mercado que começa a ser explorado por industriais de maior
dinamismo, como João Burnay, que criou aquela que é, porventura, a mais importante
metalúrgica alcantarense neste final de século: a Empresa Industrial Portuguesa.

Começara a funcionar, anteriormente, na Calçada da Tapada, com duas máquinas a


vapor, uma de 12 CV e outra de 6 CV. Segundo Jorge Custódio, a origem mais remota desta
empresa pode ser encontrada na iniciativa de João Burnay e de um grupo de empresários
quando fundam ou estruturam um pequeno estabelecimento denominado Phenix, às Janelas
Verdes.101 Em 1882 seria constituída, finalmente, a Empresa Industrial Portuguesa. S.A.R.L.,
uma sociedade de grande capital fruto dos desafios que se colocavam à companhia. Na
verdade, a Empresa Industrial Portuguesa, naquilo que se diferencia da lógica de fixação e

101
Custódio, Jorge - “Empresa Progresso Industrial”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e
Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, p. 334-335.
52
desenvolvimento das estamparias e das têxteis, não assenta o seu desenvolvimento numa
relação de dependência directa com o fácil acesso às matérias-primas, à energia e ao mercado.
O seu sucesso decorre, essencialmente, da própria industrialização e da urbanização de Lisboa
e do País que ocorre desde a década de 40, assim como de diversos desenvolvimentos que se
entrelaçam com essa mesma industrialização e urbanização, sobretudo a construção de infra-
estruturas, para referirmos, para já, o elemento mais evidente. O seu crescimento foi notório.
Em 1881 tinha 20 CV e ocupava 200 operários, sendo que nesta altura era já administrada
pela Henrique Burnay & C.ª. Em 1888 tinha já 450 000$000 de capital social e 15 000 m2 de
superfície, sendo desta 5 000 m2 coberta.102

Na mesma década, em 1874, e obedecendo também à dinâmica de desenvolvimento de


muitas das outras metalúrgicas, foi criada, na Rua do Assento, a Garcia & C.ª. Esta fábrica
nasceu da iniciativa de dois ex-operários da Fábrica Linder, José Luís Garcia e José Maria da
Costa Nunes, que direccionaram a sua produção para o fabrico de máquinas destinadas ao uso
por outros estabelecimentos fabris. Produzia moinhos mecânicos, engenhos para massas,
bombas, montagem e reparações na maquinaria de outras unidades. Beneficiava, igualmente,
da expansão industrial não só de Alcântara, como de todo o País. Esse desenvolvimento
possibilitou, inclusive, uma mudança para umas instalações mais apropriadas, situadas na
mesma rua. A 14 de Agosto de 1881, demonstrando o seu crescimento, faz a primeira
fundição, utilizando, como matéria-prima e ferro coado e laminado e como energia carvão e
coque, ambos importados.

Na mesma lógica, mas empregando apenas 68 operários em 1890, a J. L. Garcia, na


Rua Vieira da Silva importava também a sua matéria-prima principal, o ferro coado, de
Bilbao, e a energia de Inglaterra, além do ferro laminado em barra, entre outros produtos, de
origem diversa. Esta fábrica era, provavelmente, o mesmo estabelecimento que, em 1883,
tinha recebido o alvará para instalar, nas suas instalações, uma máquina a vapor de 5 CV para
a fundição de ferro e de bronze, e para as obras de serralharia mecânica, depois de ter feito
este pedido em 1881.103

102
idem, ibidem, pp. 334-335.
103
Processo Preliminar de Licença para o Estabelecimento de uma Máchina a vapor na Fábrica de Fundição,
sita na Rua do Assento. Estabelecimentos Insalubres e Visitas Sanitárias aos mesmos (G e H). IANTT. Governo
Civil de Lisboa (1.ª incorporação), Cx. 2539.

53
Em termos geográficos a Av. 24 de Julho era o local de localização preferencial das
metalúrgicas. Laborava aí um conjunto de pequenas oficinas em comunhão com fábricas de
maior dimensão, quer dentro dos limites de Alcântara, quer nas suas imediações. Em 1890,
uma das unidades maiores, a F. Baerlein, ocupava cerca de 100 homens tendo duas máquinas
a vapor que perfaziam 18 CV. Na mesma Rua, mas em 1872, nasce a Sociedade Cooperativa
Industrial Social, e a Fábrica Tejo, uma unidade fundada na Rua 24 de Julho, junto ao Aterro,
direccionada para a produção de mecanismos e máquinas a vapor. Algumas destas unidades
que não se dedicam à construção de máquinas beneficiarão bastante, mais tarde, do
crescimento do sector alimentar, sobretudo do sector conserveiro, produzindo as caixas de
metal que necessitavam para os seus produtos. É o caso da Société Générale Métallurgique,
estabelecimento que já se encontrava em laboração nestes anos. Era aí ainda uma pequena
oficina, mas terá um acentuado crescimento nas décadas seguintes.

De uma perspectiva geral, e abrangendo várias zonas industriais, a par da criação de


unidades produtivas de média e grandes dimensões, os anos 70 assistiram também à
continuação de um mundo de oficinas que mantinham, globalmente, uma grande proximidade
com as manufactureiras do início do século XIX. A unidade Anjos, Cunha, Ferreira & C.ª, a
título de exemplo, apesar do recurso às máquinas a vapor continuava, em 1881, a recorrer à
força de alguns burros.

Um maior conhecimento destes estabelecimentos é, todavia, uma tarefa pautada por


algumas deficiências que emanam das lacunas das próprias fontes disponíveis. É no entanto
possível efectuar uma aproximação ao peso que estas pequenas unidades tinham neste
período, não só no contexto da industrialização de Alcântara, como em toda a industrialização
portuguesa. José António Telo, analisando o Inquérito Industrial de 1881, afirma,
precisamente, essa dimensão, sublinhando que o total dos operários portugueses era, neste
período, de 90 998, mas apenas um décimo desses operários trabalhava em indústrias que
empregavam mais de 10 trabalhadores, e que usavam máquinas a vapor. Mas estes
estabelecimentos produziam, todavia, 56% da produção industrial portuguesa.104 Importa
perceber também que no contexto do bairro, esta difusão engloba não só os ramos que
estavam implantados há mais tempo, como os curtumes, as unidades ligadas ao sector da
extracção ou os fornos de cal, como também abrange os sectores tendencialmente mais
desenvolvidos, como os têxteis, e as metalúrgicas.

104
Telo, António José - Economia e Império no Mundo Contemporâneo. Lisboa: Edições Cosmos, 1994, p. 56.
54
Nos curtumes, a título de exemplo, verificamos, precisamente, que nenhum dos
estabelecimentos emprega mais de 25 operários e não há recorrência ao uso de qualquer
máquina a vapor. Encontra-se, nessas condições, a fábrica de curtumes de Villa Pouca e a de
Bernardo Heitor, com 24 operários, ambas criadas na década de 70.

3.2. Afirmação e mutabilidade dos principais sectores industriais

Depois de 1870 o tecido industrial de Alcântara começou a beneficiar da conjuntura


positiva que pautava a industrialização portuguesa no seu todo. Como no contexto nacional
este desenvolvimento industrial era liderado pelo sector têxtil (Anexo 4).105 Em Alcântara esta
actividade continuava a crescer desde os anos 40, uma evolução que transformou, no início
dos anos 70, muitas das unidades fabris deste sector em fábricas de grande dimensão. Na
maioria dos exemplos, a criação de novas unidades traduz-se em estabelecimentos cujo
modelo de produção assenta, sobretudo, no recurso a uma organização de perfil moderno. É
caso da Llosent & C.ª, uma têxtil que produzia tecidos de linho e de algodão. Ainda que tenha
sido criada, em 1882, na Rua do Arco número 22. Efectuou o requerimento para obter licença
de funcionamento apenas a 22 de Dezembro de 1883. Mas em 1888 apresenta já uma máquina
a vapor de sistema Farcot de 15 CV, uma caldeira horizontal feita pela Dauphinet & Castay e
60 teares mecânicos, dando trabalho a cerca de 100 operários. A juntar-se a esta mecanização
implementada no acto da sua criação, a Llosent mostra-se igualmente inovadora se a
compararmos com o modelo de funcionamento das têxteis criadas nas três décadas anteriores.
Ao contrario delas adquire a sua matéria-prima principal, o algodão, não através da
importação directa, mas recorrendo ao algodão fiado nacional. Mantém, todavia, o espaço
nacional e as colónias como o mercado principal para escoar os seus produtos.

Já a Associação Fraternal dos Fabricantes de Tecidos e Artes Correlativas, estando


situada no número 22 da Travessa do Fiúza, tinha na origem um impulso diferente das outras
têxteis. Tendo sido instalada na Travessa do Fiúza, a sua existência devia-se à iniciativa de
um grupo de operários e tinha como objectivo dar trabalho a associados desempregados e
providenciar outras ajudas que estes trabalhadores necessitassem. Dedicava-se à tecelagem de
algodão, fabricando toalhas, guardanapos e riscados, saias e mantas de lã, entre outros

105
O crescimento ocorrido entre 1870 e 1880 está patente no Inquérito Industrial de 1881. No anexo 4 são
referidas algumas das unidades mais importantes do bairro, preservando a informação recolhida através da visita
às fábricas (ID) mas também aquela recolhida através do inquérito indirecto (IInd), dado que, desta forma, se
encontram abrangidas mais unidades.

55
produtos. Esta associação, que tinha 150 sócios em 1881, não contava por entre a sua
maquinaria com qualquer motor, sendo a sua produção assegurada por 22 teares manuais
nessa data.

Alcântara conhecia ainda uma fábrica de tecelagem em linho, a Companhia de Tecidos


Aliança. Instalada na Rua de Cascais, usava o fio de linho, de juta e o fio de estopa importado
da Escócia, e o linho cru e o branqueado que adquiria da Bélgica para produzir, através dos
seus cerca de 120 operários, e recorrendo a duas máquinas a vapor com 35 CV, atoalhados de
linho e outros produtos que tentava colocar no mercado nacional.

No anos de 1870 Alcântara assiste também à mudança para o seu espaço de outras
fábricas que já laboravam há mais tempo noutros lugares da cidade. Foi este o caso de uma
unidade de produção e tinturaria de chapéus de feltro que pertencia a Augusto Mendes da
Silva e que tinha sido criada na freguesia de S. José, em 1875.

A análise do percurso desta unidade permite-nos sublinhar, igualmente, uma das


características mais evidentes do desenvolvimento industrial deste período e que se pode
traduzir numa clara readaptação do modelo produtivo de muitos dos estabelecimentos que
pautavam actividades que conheciam alguma decadência, por outras de maior vitalidade.
Quando muda as suas instalações para a Senhora de Santana, em 1889, Augusto Mendes da
Silva pede, a título de exemplo, para procede a uma alteração dos produtos produzidos,
solicitando uma licença para vir a derreter sebo nas caldeiras que a fábrica possuía.106

Algumas das metalúrgicas que encontramos no Inquérito Industrial de 1890 tinham


sido criadas na década de 60, estando em grande expansão cerca de 20 anos depois. É o caso
da L. Dauphinet & Castay que tinha visto o seu número de operários crescer para 88, fazendo
agora uso de uma máquina a vapor de 10 cavalos. Este aumento é por demais significativo
dado que a sua produção de caldeiras de vapor e tanques, entre outros produtos de serralharia,
era colocada inteiramente no mercado nacional. Este facto demonstra que o sector da
metalurgia, nas suas fábricas mais importantes, continuava a beneficiar do impulso
industrializador do bairro e do País. Esta mesma interdependência é igualmente comprovada
por um estabelecimento que também se dedicava ao fabrico de caldeiras de vapor e tanques
de ferro, a fábrica de João Peres & João Dumond. Em 1890 empregava mais de 100 operários
e utilizava duas máquinas a vapor que contabilizavam 13 CV. Embora esteja situada fora dos

106
Processo preliminar de licença requerida para uma fábrica de chapéus de feltro e respectiva tinturaria no
Largo da Senhora de Sant’Anna, Freg.ª de S. Pedro em Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª
incorp.) - Processos preliminares para licenças de estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2548.
56
limites de Alcântara, na Calçada da Boa Hora, pela sua proximidade e pelas semelhanças com
algumas metalúrgicas do bairro, tornou-se importante esta referência. Também em 1890,
continuava a evoluir a Empresa Industrial Portuguesa. Dava agora trabalho a cerca de 460
operários e utilizava quatro máquinas a vapor. O impulso da companhia continuava a derivar,
igualmente, da dinâmica que as novas obras que o desenvolvimento urbanístico que Lisboa
conhecia nesse período lhe iam oferecendo. Produzia ferro fundido, em tubagem, e ferro
fundido e forjado para diversas obras no mercado nacional. A sua dimensão obrigou-a,
provavelmente, a diversificar a origem da matéria-prima. Importava ferro coado para
fundição, cobre, latão, bronze e chumbo em Inglaterra, Espanha e Bélgica, e carvão de
Inglaterra. A proximidade ao Porto de Lisboa era-lhe, assim, fundamental.

No início da década de 60, e também para a produção de máquinas, é criada a Filippe


Linder & C.ª. O requerimento a pedir a licença de funcionamento é de 31 de Maio de 1872, e
e o despacho de concessão a 16 de Fevereiro de 1872. A fábrica de Filipe Linder, situada na
Rua do Arco, n.º 40, tinha como principal objectivo a construção de maquinismos. Usava,
entre outra maquinaria, um locomóvel a vapor de 4 CV, além dos tornos e das diversas forjas
necessárias à laboração.107 Em 1875, e fruto do seu crescimento, a Fillipe Linder & C.ª
avança com um requerimento para se poder instalar também na Rua do Assento, n.º 1, tendo
recebido o alvará a 8 de Junho de 1876. Com estas novas infra-estruturas, que se encontravam
junto ao “caneiro” conseguia, essencialmente, uma área maior na qual pode conhecer um
desenvolvimento mais evidente. Mantinha, contudo, as instalações na Rua do Arco. O espaço,
com 25 metros de largura, e 26 de cumprimento, servirá para instalar uma carpintaria e a
fundição de ferro e bronze. Recorria a uma máquina a vapor de 8 CV, e uma caldeira de 12
CV.108 Refira-se, por último, que na Travessa do Conde da Ponte, em 1880, Frederico
Guilherme Burnay instalou uma oficina de serralharia mecânica que também ela beneficiária
da evolução que o bairro conhecia. Tratava-se da Oficina dos Vapores Lisbonenses, que
utilizava uma máquina a vapor de 8 CV e uma caldeira de 10 CV.109

3.3. A vez do sector alimentar

107
Processo preliminar de licença requerida para fundação de uma serralharia mecânica na Rua do Arco, n.º
40. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares de obtenção de licenças para
estabelecimentos (1872-1908), Cx. 2177.
108
idem, ibidem
109
Processo preliminar de licença para a fundação de uma serralharia mecânica movida a vapor sita na
Travessa da Conde da Ponte, Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos
Preliminares de obtenção de licenças para estabelecimentos (fábricas e lojas) (1873-1900), Cx. 2178.
57
Temos vindo a vincar a forma como o desenvolvimento urbano e demográfico da
capital, e a construção de infra-estruturas que lhe foi subjacente, influencia a estruturação do
tecido produtivo do bairro. Perceba-se agora melhor de que forma isso aconteceu. Lisboa
passou de 174 335 habitantes, em 1864, para 355 873, em 1900.110 No espaço da capital
Alcântara era, por sua vez, um dos locais da cidade que conhecia uma maior expansão
demográfica, com uma taxa de crescimento médio elevado passando de 10 499 habitantes, em
1878, para 17 909, em 1890.111 Importa considerar aqui, contudo, as transformações nos
limites da freguesia delineadas pelas alterações administrativas.

A década de 1880 significou também, à semelhança da década anterior, o sublinhar de


alguns dos principais factores de atracção do bairro para a fixação industrial. Importa realçar,
sobretudo, o início das obras de modernização do Porto de Lisboa, no final da década, que
ofereceu às unidades que se iam instalando no bairro, e àquelas já existentes, um acesso ainda
mais fácil a matérias-primas e à energia do carvão. Permitia também uma maior facilidade de
colocação dos seus produtos nos mercados, sobretudo àquelas unidades que exportavam para
as colónias. O porto absorvia, por último, um grande número de produtos, uma situação que
beneficiava, essencialmente, as metalúrgicas e as indústrias do sector da construção. As
diversas obras que Alcântara conheceu nestes anos permitem também uma maior ligação à
restante cidade de Lisboa, sobretudo com a abertura de novas vias e o desenvolvimento do
Caminho-de-Ferro.

As grandes transformações da década de 80 expandiram-se também ao campo


administrativo. Até 1885, importa lembrá-lo, pertenceu ao Concelho de Belém. Todavia, a
riqueza gerada pelo processo de industrialização ocorrido depois de 1834 levou a que tivesse
sido extinto o Concelho de Belém, sendo aí enquadrada no Concelho de Lisboa.112

Esta estreita relação entre o desenvolvimento urbano e a industrialização, num


processo de influência mútua, teve uma grande preponderância na definição do tecido
produtivo de Alcântara, com muitas das unidades a dirigirem a sua produção segundo os
estímulos gerados pelo crescimento urbano. Percebe-se assim que no início da década de 90
os principais ramos industriais em crescimento sejam aqueles claramente virados para
satisfazer uma cidade em grande crescimento. O sector mais beneficiado por estas

110
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. p.328-329.
111
idem, ibidem, p.328-329.
112
Custódio, Jorge - “Alcântara (Indústria)”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e Sucena,
Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, p. 32-34.
58
transformações é, nesta perspectiva, o da alimentação. Inicia-se aí um período que o levará a
ser um dos sectores com um maior peso no tecido produtivo de Alcântara quando chegarmos
às vésperas da I.ª Guerra Mundial. Na verdade, dos diversos sectores industriais que temos
analisado este é, porventura, aquele que está mais interdependente do processo de crescimento
demográfico e de urbanização que Alcântara.113 Esta dependência resulta não tanto do
aproveitamento das dinâmicas e das necessidades geradas pelos outros ramos industriais
como acontece, por exemplo, com a metalurgia, mas da existência de um mercado
consumidor e urbano que em muito se deve ao crescimento demográfico de algumas cidades
do País, em particular, de Lisboa.

Será sobretudo depois de 1860 que começamos a encontrar estabelecimentos virados


para a produção de produtos alimentares. Um dos primeiros a instalar-se foi a Ferreira & C.ª,
em 1862. Trata-se de uma fábrica de gelo, cerveja, xaropes, limonada e chocolate situada na
Rua 24 de Julho. A análise do seu desenvolvimento permite perceber melhor a ascensão deste
sector. Em 1862 produzia apenas gelo, pertencendo à Mousinho, Vasconcellos & C.º. Já em
1871 adquiriu dois aparelhos para proceder à refrigeração. Em 1878, depois de ter tido como
proprietário Caetano José de Figueiredo & C.ª, e estando ainda situada numa barraca
pertencente ao Ministério da Marinha, no Beco do Carvalho, passou para a posse de Ferreira
& C.ª. Nesse mesmo ano mudou-se para a Rua 24 de Julho, onde se encontrava em 1881.
Passa a fabricar, além de gelo, cerveja, chocolate e a gasosa. Vende, essencialmente, para
Lisboa e usa matérias-primas nacionais e importadas da Alemanha, de França, da Bélgica,
entre outros países.

Claramente responsável pelo crescimento do sector alimentar são as fábricas de


moagem. O último quartel do século XIX assiste a uma grande fixação de novas unidades,
assim como a modernização de estabelecimentos já existentes. Traduzem, essencialmente, o
impulso que a indústria da moagem conheceu nestes anos, fruto, sobretudo, da
«democratização do consumo do pão e do trigo».114 Uma das unidades que já vinha
laborando, e que agora procede à modernização das suas instalações, situa-se na Rua das
Fontainhas n.º 21. No início da década de 70 Manuel João Baptista entrega no Governo Civil
um pedido de licença para poder instalar uma máquina a vapor de sistema horizontal de alta e
média pressão e condensação, com a potência de 15 CV. Depois da visita do delegado de

113
Veja-se, para o caso do desenvolvimento das fábricas de moagem, Pires, Ana Paula Soares - A Indústria de
Moagem de Cereais: Sua Organização e Reflexos Políticos do seu Desenvolvimento durante a I República
(1899-1929). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p.17-19.
114
idem, ibidem, p. 18.
59
saúde, a quatro de Junho de 1872, a fábrica recebe o despacho autorizando a concessão, em
Agosto, e o alvará em Novembro de 1872.115 Será esta, provavelmente, a unidade que está
identificada na mesma rua, no Inquérito Industrial de 1890, como um estabelecimento que
tinha uma máquina a vapor de 15 CV, dando trabalho a 22 operários. Produz massa alimentar,
farinhas e resíduos que colocava no mercado nacional, em África e no Brasil.

Também na década de 70 surge a Fábrica Nacional a Vapor de Bolachas e Biscoitos.


Era, igualmente, uma pioneira dos diversos estabelecimentos ligados à moagem que
começavam a ganhar algum peso no tecido produtivo da zona de Alcântara. Tinha sido
fundada por Eduardo Conceição e Silva, na Rua de S. Joaquim, ao Calvário, em Julho de
1874. A Conceição Silva & Irmão era, em 1877, segundo o Diário Illustrado, «a mais
importante do País».116 Utilizava, nessa altura, duas caldeiras e uma máquina a vapor de 15
CV, ocupando 41 operários na altura da sua formação. Não muito longe, mas fora do bairro,
situava-se a Fábrica de Moagem do Bom Sucesso, na Rua da Praia do Bom Sucesso. Dava
trabalho a 42 homens e utilizava 60 CV de energia. Produzia para todo o mercado nacional e
utilizava trigo nacional e estrangeiro para a produção da farinha. Outras moagens situadas
fora dos limites administrativos de Alcântara, mas que importa referir, eram a fábrica Bellos
& Formigaes, na Rua 24 de Julho, e a fábrica de Costa Irmãos, na mesma rua. A primeira
utilizava um sistema austro-húngaro e duas caldeiras que perfaziam 300 CV para produzir a
farinha de trigo, enquanto a segunda utiliza um motor de 80 CV.

Paralelamente à implantação de moagens, surgem no bairro, e nas suas imediações, as


refinarias de açúcar. Muitas delas começaram a instalar-se na década de 60. É esse o caso do
estabelecimento de Jerónimo José Moreira. A 4 de Novembro de 1868 enviou um
requerimento ao Governo Civil para fundar uma fábrica de refinação de açúcar de grandes
dimensões na Rua da Praia de Santos. Pretendia fabricar não só açúcar refinado, como alguma
doçaria. A fábrica, de três ou quatro andares, estava virada para o Largo de Santos, e teria
uma caldeira de vapor.117

115
Processo administrativo para concessão de licença para montar uma máquina motor a vapor na fábrica de
massas próxima do caneiro de Alcântara n.º2, freguesia de S. Pedro em Alcântara, Conselho de Belém. IANTT.
Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processos preliminares para licenças de estabelecimentos (1888-1900),
Cx. 2553.
116
“A Fábrica de Bolachas a Santo Amaro”. Diário Illustrado, Lisboa, n.º 1552 (24 de Maio de 1877).
117
Processo administrativo para concessão de licença para fundar uma fábrica de refinação de açúcar na Rua da
Praia de Santos. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processo de Pedidos de Estabelecimentos
(1888-1897), Cx. 1730.
60
Do final da década de 80 surge uma refinaria pertencente à firma Alvarez & Alvarez.
Trata-se de um estabelecimento situado na Rua Vieira da Silva, n.º12, que atingirá uma
dimensão assinalável no contexto do bairro. Ocupará um rectângulo com cerca de 27 metros
de cumprimento, por 13 de largura, e produzirá, essencialmente, açúcar. O processo que levou
à sua instalação inaugura-se quando efectua um pedido de licença de funcionamento, a 31 de
Dezembro de 1889.118

Já dentro dos limites do bairro as refinarias são, neste período, de reduzida


implantação. A maioria é de pequena dimensão. Identificamos aí as José Martins Calisto da
Fonseca, situada na Rua Fradesso da Silveira, empregando 8 operários, ou a de Joaquim
Caetano dos Santos, localizada na Rua de Vasco da Gama, produzindo os seus sete
trabalhadores, açúcar refinado. Havia ainda, na Rua do Olival, a Mello & C.ª, que produzia
açúcar refinado através do açúcar bruto e do açúcar em rama.

Já as conservas, outra vertente da indústria alimentar, não terão em Alcântara a


importância que vieram a ter noutros pontos do País. Existiam, ainda assim, algumas
unidades. A mais importante era a Companhia Nacional de Conservas, estando situada na
Rua de Cascais. Os seus cerca de 220 operários transformavam a matéria-prima que adquiria
no mercado nacional, como frutas de todas as qualidades, peixe, carne de porco, vaca, vitela e
carneiro, tomates, caça e aves, azeitonas, legumes e hortaliças, azeite e vinagre. Produzia
peixe enlatado, frutas em compotas e marmelada, carnes de porco, vaca, vitela e carneiro,
tomates em massa e puré, caça e aves, azeitonas, legumes e hortaliças que exportava,
essencialmente, para o Brasil, para França, para Inglaterra, para África, e para Espanha.

Além de possibilitar a formação de estabelecimentos de média e grande dimensão, o


sector conserveiro conhecia, igualmente, alguma mecanização do seu modelo produtivo. A
Companhia Nacional de Conservas detinha, a título de exemplo, uma máquina a vapor fixa
com 5 CV, um locomóvel de 3 CV e um motor a gás com 0,5 CV.

Já a Emílio Luiz Rollet, tinha sido erguida na Travessa da Guarda, à Junqueira. Em


1890 este estabelecimento contava com 139 operários. Produzia, essencialmente, latas de
sardinha que exportava para Inglaterra, Itália e Áustria, com a ajuda de um motor a gás com
0,5 CV.

118
Processo preliminar de licença requerida para a fundação d’uma fábrica de refinação de açúcar na Rua de
Vieira da Silva, n.º12, freguesia de S. Pedro de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -
Processos de Licenças e Visitas Sanitárias (1890-1900), Cx. 2529.
61
Dentro do sector alimentar as fábricas de moagem e as de conservas eram, no período
em estudo, aquelas que conheciam um maior desenvolvimento. Existiam, todavia, outras que
não se enquadrando em nenhum destes grupos industriais, reforçavam a preponderância do
sector da alimentação no bairro. Uma dessas unidades, que produzia manteiga artificial,
pertencia à firma Esteves & C.ª. Tendo requerido, junto do Governo Civil, a licença de
funcionamento, a 26 de Dezembro de 1887, instala-se na Rua do Arco, no n.º28, utilizando,
desde a sua formação, a energia do vapor. Dois anos depois Manuel Adrião Esteves, gerente
da fábrica, pede ao Governo Civil de Lisboa licença para mudar de instalações, mas
permanecendo em Alcântara. Decorre assim a transferência da Fábrica Nacional de
Butterine119 da Rua dos Arcos para a Rua do Cais da Alfandega Velha, n.º 63, sendo a licença
para a mudança datada de 8 de Abril de 1889. O Inquérito Industrial de 1890 encontrou a
Fábrica Nacional de Butterine já no Cais da Alfândega Velha, dando trabalho a 20 operários
que produziam, recorrendo ao leite e à manteiga natural nacional e à manteiga natural
importada da Holanda, a manteiga artificial que era colocada no mercado nacional.

Atente-se, por último, à produção de chocolates limonadas e refrigerantes. A


importância desta actividade no bairro percebe-se, a título de exemplo, na análise da
Companhia União Industrial Lisbonense. Esta unidade que emprega, em 1888, 30 homens e
12 mulheres, sendo que no Verão esse número eleva-se a 90 operários, tinha-se estabelecido
em 1862, no Beco do Carvalhão, na altura pertencente à freguesia de S. Paulo. Passou,
posteriormente, para um edifício próprio na Rua 24 de Julho. Em 1872 seria adquirida pela
firma Ferreira & C.ª mudando-se depois, definitivamente, para a Companhia União
Industrial Lisbonense.

3.4. Sob o impulso do desenvolvimento urbanístico: as “industrializações” de


Alcântara

Uma das características mais visíveis do tecido industrial alcantarense, em 1890, é a


permanência de uma diversidade de sectores que vinham sendo desenvolvidos há longas
décadas e que, de modo geral, são ainda pautados por um modo de produção oficinal. Esta
proliferação de oficinas caracteriza, sobretudo, os curtumes, a produção de cal, os pequenos

119
Processo preliminar de licença para estabelecer, por transferência, na Rua do Cais d’Alfandega Velha,
n.º63, freguesia de Belém, a fábrica de manteiga artificial que se achava na rua dos Arcos, a Alcântara, n.º28.
IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares para Licenças de Estabelecimentos
(1888-1900), Cx. 2553.
62
canteiros, os funileiros, os canteiros, as carpintarias, os fabricantes de ladrilhos, as tanoarias,
as serrações de madeira, as tipografias, entre outras actividades. A relevância da sua análise
advém, sobretudo, de manterem um importante peso na totalidade do tecido produtivo de
Alcântara.120

O sector dos curtumes é paradigmático desta realidade. Os estabelecimentos


identificados no Inquérito Industrial de 1890 ocupavam, na sua generalidade, menos de dez
operários, estando quase desprovidos de qualquer maquinaria. A proximidade à Ribeira de
Alcântara continuava a ser uma das suas principais características. Era aí que se situavam as
principais unidades. A Fábrica de Curtumes Esperança, a título de exemplo, ocupava 10
operários, em 1890, enquanto o estabelecimento de António José da Costa, na Rua do Arco
do Carvalhão, dava trabalho a seis homens e um mestre. O modelo de produção destas
oficinas apresenta grandes similitudes entre elas. Genericamente, o grosso das peles e a casca
de sobro - matérias-primas essenciais à sua laboração - chegavam através da importação. Já a
maioria da sua produção, as peles verdes e secas, destinavam-se ao mercado nacional.

Importa salientar, no entanto, que esta disseminação de oficinas não era um fenómeno
circunscrito a alguns sectores que na tradição do bairro, não necessitavam de muita
mecanização, nem de recorrer a numerosa mão-de-obra para assegurarem a sua actividade.
Era uma realidade comum a todos os ramos de produção industrial, mesmo aqueles onde se
conhecem as maiores empresas, como os têxteis, as estamparias e a metalurgia. Estas
pequenas oficinas dependiam e mantinham uma relação de complementaridade com as
empresas maiores, preenchendo as exigências de consumo que a urbanização e o crescimento
demográfico do bairro e de Lisboa ia exigindo. Contudo, apesar da sua reduzida dimensão
muitos destes estabelecimentos recorriam, com frequência, ao uso do vapor. O exemplo mais
claro pode ser encontrado nas pequenas unidades que se dedicavam à serração de madeira, e
ao fabrico de produtos essenciais às outras fábricas, como as caixas de madeira. Uma dessas
oficinas, uma serração de madeira, situava-se na Rua do Assento, n.º1. Tendo pedido licença
para instalar uma máquina a vapor de seis CV, obteve licença a 18 de Junho de 1881. Trata-
se, na verdade, de uma unidade que produzia caixas de madeira destinadas à exportação de
frutas, vincando a importância da proximidade ao porto para muitas destas unidades que

120
A defesa que o crescimento industrial pode ter assumido várias formas, não se devendo, assim, na análise da
evolução de um tecido industrial considerar aquele que é moderno é defendido por Miriam Halpern Pereira na
obra Diversidade e Assimetrias: Portugal nos séculos XIXD e XX. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2001,
p. 15.
63
temos vindo a sublinhar. Já em 1886 outra serração de madeira, localizada na Rua Vasco da
Gama, faz o mesmo pedido de modernização das suas máquinas.121

A cerâmica, por sua vez, era uma actividade que conhecia um razoável
desenvolvimento em Lisboa. Todavia, em Alcântara ainda não teria uma fixação muito
acentuada por volta de 1880. Conhece-se desta altura, um pedido de Diogo José de Almeida
para continuar a laborar com a cerâmica Almeida & C.ª na Rua das Fontainhas. N.º9.122

Quer nos inquéritos industriais realizados na segunda metade do século, quer nos
pedidos de alvarás ao Governo Civil de Lisboa há um espectro de estabelecimentos fabris que
contribui fortemente para a caracterização de Alcântara como bairro industrial. Todavia, em
função da sua dimensão e do cariz muitas vezes artesanal, e também pelas deficiências
apresentadas aos próprios inquéritos, escapa a uma primeira análise do tecido produtivo do
bairro baseada, precisamente, nos inquéritos industriais.

Um desses sectores produtivos dedicava-se à calcinação de ossos. Situava-se,


essencialmente, na zona do Arco do Carvalhão, onde se localizavam várias unidades
pertencentes à mesma actividade. A 8 de Maio de 1869 Joaquim Nunes pedia ao Governo
Civil para continuar a laborar no Arco do Carvalhão. Trabalhava num barracão de madeira no
qual se efectua a extracção de gordura dos ossos com a ajuda de uma pequena caldeira e de
cilindros. Era uma unidade em decadência que se encontraria já encerrada em Abril de
1872.123 A mesma decadência pautava, em 1869, a unidade de calcinação de ossos que José
Severiano Pereira pedia que se conservasse.124 Algumas destas oficinas passavam pelas
diversas gerações da família do seu fundador. É o caso da unidade para a qual Maria Vitoria
solicita, na década de 1880, uma licença para manter em funcionamento. Esta oficina

121
Processo preliminar de licença para estabelecer, por transferência, na Rua do Cais d’Alfandega Velha,
n.º63, Freg.ª de Belém, a fábrica de manteiga artificial que se achava na rua dos Arcos, a Alcântara, n.º28.
IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) – Processos preliminares para licenças de estabelecimentos
(1888-1900), Cx. 2551.
122
Processo preliminar de licença para o estabelecimento de uma fábrica de louça vidrada na Rua das
Fontainhas, Frag.ª de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos de Licenças e
Visitas Sanitárias (1890-1900), Cx. 2530.
123
Requerimento de Joaquim Nunes pedia para continuar a laborar na sua fábrica de calcinação de ossos.
IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) –. Estabelecimentos Insalubres e Visitas Sanitárias aos mesmos:
Processos Preliminares de Licenças, Cx. 2544.
124
Requerimento de José Severiano Pereira para continuação da laboração da sua fábrica de calcinação de ossos,
no sitio do Arco do Carvalhão. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp) - Processo de Pedidos de
Estabelecimentos (1888-1897), Cx. 1730.
64
pertencido ao seu marido, depois da licença atribuída em 1869. O novo alvará, refira-se, tem a
data de 13 de Julho de 1882.125

De 7 de Junho de 1884 consta a licença passada a Emílio Castello Branco para


começar a laborar com a unidade que pertencia anteriormente a José Jorge Baptista para a
produção de guano, na Quinta da “Água Forte”.126 Este estabelecimento que começou a
funcionar no início da década de 70, situava-se próximo de outra fábrica de guano pertencente
a Rocha & C.ª exemplificando, novamente, uma certa permanência da concentração
geográfica por sectores.127

Neste mundo de pequenas unidades, a zona de Alcântara conhece também duas


fábricas de gesso. Uma é de Manuel Ruas & C.ª que pede uma licença de instalação a 4 de
Janeiro de 1887. Consegue uma autorização, passada pelo Governo Civil, para se instalar na
Rua Nova do Cais do Tojo, na freguesia de Santos,128a 21 de Dezembro de 1886. Já
Domingos Gomes Rocha Vianna, um comerciante, começa a funcionar sozinho depois de
dissolvida a sociedade que tinha com Manuel Ruas num estabelecimento na Rua Nova do
Cais do Tojo.129

Alcântara conhecia ainda a produção de velas. Data de 1 de Maio de 1865 o


requerimento feito ao Governo Civil por Pedro Santarém para continuar a laborar na sua
fábrica de velas e sebo na Rua Direita do Calvário, n.º72, requerimento que repetiu em
1869.130

Alcântara era pautada, igualmente, pela existência de algumas oficinas que se


dedicavam ao manuseamento de pólvora. Encontramos na Rua do Alvito, antes de 1890, a
fábrica de pólvora de Pedro Joaquim Rodrigues, situada na Rua do Alvito, tendo obtido o

125
Requerimento de Maria Vitória, sucessora de José Manuel da Cunha, para continuar a laborar com uma
fábrica de calcinação de ossos, junto ao Arco do Carvalhão, freguesia de Sta.ª Isabel. IANTT. Governo Civil de
Lisboa (1.ª Incorp.) - Processos Preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), CX. 2550.
126
Processo preliminar de licença para a fundação de um fábrica de guano na quinta do “Água Forte”,
Freguesia de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos Preliminares de Licenças
Para estabelecimentos (1865-1908), Cx. 2522.
127
idem, ibidem
128
Processo de licença para a fundação de uma fábrica de gesso na Rua Nova do Cais do Tojo, n.º50, freguesia
de Santos-o-Velho. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) –Processos preliminares para Licenças de
Estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2560.
129
Requerimento de Domingos Gomes Rocha Vianna Sucessores de D. Manuel Ruas e Comp.ª para continuar a
laborar com a sua fábrica de gesso. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos Preliminares
para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900) – CX. 2560.
130
Requerimento de Pedro Santarém para continuar a laborar na sua fábrica de velas e sebo na Rua Direita de
Santo Amaro, n.º72. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos Preliminares de Licenças Para
estabelecimentos (1865-1908), CX. 2522.
65
alvará a 12 de Julho de 1878.131 A funcionar há menos tempo, desde 1887, está o
estabelecimento de Rodrigues Rego & C.ª. Situado no Casal da Pimenteira, tinha pertencido a
Caetano da Costa.

Por razões óbvias, e tendo em conta todo o processo de criação e de evolução da CUF,
do qual falaremos posteriormente, a produção de sabão merece aqui uma atenção especial.
Uma dessas unidades de produção de sabão situava-se na Rua das Fontainhas, n.º14, e tinha
sido requerida por Nicolau de Leon, conhecendo licença para iniciar a produção a 3 de Agosto
de 1877.132 Já François Grangeou instalou em 1866, na Rua da Boavista, uma fábrica de
sabão cru, tendo o edital sido publicado no Diário de Notícias de 29 de Agosto de 1863, como
consta no processo do Governo Civil.133

O sector dos tabacos, no entanto, não tinha uma grande relevância no bairro. No
contexto de Lisboa a sua distribuição espacial passava, essencialmente, pela zona oriental.
Ainda assim a área de Alcântara conhece alguns estabelecimentos. O mais importante era a
La Peninsular. Obteve a autorização para laborar a 8 de Abril de 1880, quando Francisco
Domingos Limon, sócio da firma Limon & C.ª requer a licença de funcionamento. Situada na
Rua Vasco da Gama, n.º15, mudou-se para o Calvário três meses depois de entrar em
funcionamento. Fazia tabacos em picado, cigarros e charutos, e cuja produção era toda
manual.134

Chegados ao final da década de 90 encontramos assim um tecido industrial


alcantarense caracterizado por uma grande diversidade de modelos produtivos que
englobavam, no mesmo espaço, diversos momentos da industrialização. O tecido produtivo
de Alcântara era assim caracterizado por estabelecimentos industriais que se estendem de um
espectro que vai desde a manufactura a unidades caracterizadas por uma grande
modernização, tendo em conta o contexto nacional. Foi a totalidade deste tecido produtivo, e

131
Processo preliminar de licença para a fundação de uma fábrica de pólvora no casal denominado de
Pimenteira. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos Preliminares de Licenças Para
Estabelecimentos, Cx. 2522.
132
Processo preliminar de licença para fundar e por em laboração uma fábrica de sabão Phenico situada na rua
das Fontainhas n.º14. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -Processos Preliminares de Licenças Para
estabelecimentos (1865-1908), Cx. 2521..
133
Processo requerido por François Grangeon para licença para a fundação de uma fábrica de sabão em cru no
pátio da galega, Freg.ª de S. Paulo, distrito do bairro de Alcântara. 3 Maio de 1866. Situa-se na Rua da Boa
Vista, no Pátio da Galega. IANTT. Governo civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos Preliminares de obtenção
de licenças para estabelecimentos, Cx. 2178.
134
Processo preliminar de licença para a fundação de uma fabrica de manipulação a picados, cigarros e
charutos, sita na Rua Vasco da Gama n.º15, Freg.ª de Santos. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) –
Processos Preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), CX. 2559.
66
não apenas as fábricas de maior modernização, que conferiu a Alcântara a ideia de bairro
industrial de Lisboa, por excelência.

4. Alcântara no contexto da industrialização portuguesa

O contributo e a importância do tecido industrial de Alcântara para a globalidade da


industrialização portuguesa podem ser medidas, essencialmente, pelo número de operários
que trabalhavam nas sua unidades e pela quantidade de cavalos-vapor que estavam instalados
nos seus estabelecimentos. Importa esclarecer, no entanto, que esta comparação se encontra
limitada por diversos factores. Por um lado pelas deficiências do Inquérito Industrial de 1890
que omite, para muitas unidades, o número de operários e os cavalos-vapor que dispunham.
Por outro lado, pela ausência de uma delimitação clara da ideia dos limites de Alcântara.
Contudo, apesar dos números que dispomos não espelharem com total fidelidade o tecido
produtivo de Alcântara servem-nos, todavia, para percebermos a dimensão do bairro no
contexto da industrialização portuguesa e a razão pela qual Alcântara adquiriu a imagem de
bairro industrial. O exemplo mais evidente das limitações do inquérito é a não inclusão da
CUF para estas contas. Ainda assim arriscamos avançar estes números porque nos mostram,
apesar da imprecisão, a dimensão da industrialização de Alcântara no contexto nacional.

A cidade de Lisboa tinha, segundo o Inquérito Industrial de 1890, 2 310135 CV


enquanto a totalidade do distrito perfazia 3 327 CV.136 Já Alcântara, no seu conjunto,
contabilizava cerca de 1 352 CV (Anexo 8). Continha, no seu espaço, mais de metade da
energia concentrada nos estabelecimentos de Lisboa, apresentando-se como o grande bairro
industrial da capital neste período.

A profundidade do tecido industrial de Alcântara fica claramente patente se o


compararmos com alguns distritos do País que conheciam um maior desenvolvimento
industrial neste período. Segundo o Inquérito Industrial de 1890, nas contas de Rui
Vasconcelos137 o distrito de Lisboa, o mais industrializado no contexto nacional tinha, à data,
19 354 dos 57 275 operários do País. A capital concentrava, desta forma, mais de um terço do
total nacional. Alcântara tinha, na mesma data, cerca de 2 700 (Anexo 7) dos operários do
distrito Lisboa. Esse importância fica mais vincada se percebermos que o distrito do Porto,

135
Vidal, Frédèric, ob. cit.. P.68
136
Vasconcelos, Rui Manuel Dias de Almeida e, ob.cit.. p. 38-58.
137
idem, ibidem, pp. 38-58.
67
por exemplo, conhecia, 13 292 trabalhadores, pouco mais que três vezes mais do local do
nosso estudo.138 Já o terceiro distrito mais industrializado do País, o de Braga, tinha, na época,
4 272 operários,139 um valor não muito distante dos 2 768 de Alcântara (Anexo 7), assim
como o quarto distrito, Castelo Branco, com 3 704140. Em quinto surge o distrito de Faro, com
2 625, um número de operários inferior ao do bairro de Lisboa. No contexto industrial
português de 1890, seria necessário agrupar o número de operários dos onze distritos menos
industrializados do pais – Bragança, Funchal, Vila Real, Viana, Viseu, Beja, Portalegre,
Angra, Évora, Ponta Delgada e Coimbra -, que perfazem 4 852 operário no seu conjunto, para
conseguirmos ter um número aproximado à concentração operária alcantarense.141

A importância de Alcântara é ainda mais vincada quando se olha para o uso de energia
no País e se percebe que os quinze distritos com menos cavalos-vapor – Vila Real, Bragança,
Ponta Delgada, Viana, Angra, Funchal, Aveiro, Évora, Guarda, Beja, Portalegre, Faro,
Santarém, Coimbra e Viseu - perfazem, no seu conjunto, 1 939 CV, pouco mais que o número
com que contava a zona de Alcântara.142 Já o distrito do Porto, na mesma altura, dispunha de
2 326 CV.

A dimensão do peso da industrialização de Alcântara no contexto nacional é também


perceptível na dimensão média dos estabelecimentos segundo o número de operários. No
contexto do bairro, e tendo apenas presente as unidades contempladas no Inquérito Industrial
de 1890, Alcântara tinha cerca de 58,9 operários, por estabelecimento, em média, ainda que
seja necessário ter em conta que muitas das unidades para as quais o inquérito omite
informação têm uma dimensão reduzida.

Nos anos de 1890 este dinamismo firma Alcântara, como um dos locais mais
importantes da industrialização do País. O bairro continuava a ser marcado pelos sectores que
tradicionalmente dominavam o seu tecido produtivo. Mas não obstante esta realidade, este
período viu surgir, paralelamente, uma das características que marcarão a industrialização do
bairro nas décadas seguintes: a diversificação do seu tecido produtivo.

5. Dinâmicas e características do tecido produtivo

138
idem, ibidem, p.57.
139
idem, ibidem, p.57.
140
idem, ibidem, p.57.
141
idem, ibidem, p.57.
142
idem, ibidem, p.57.
68
5.1. A emergência da diversidade industrial

A década de 70 foi pautada por uma acentuada criação de novas unidades produtivas
no bairro, sendo as mais importantes pertencentes aos sectores que conheciam já um
desenvolvimento acentuado desde as décadas anteriores. A década de 80 assistiu, por sua vez,
a uma lógica de desenvolvimento assente não tanto na fixação de novas indústrias, mas ao
desenvolvimento dos principais estabelecimentos já instalados no bairro.

O final do século XIX conhecerá o surgimento da diversidade industrial,


impulsionada, sobretudo, pelo desenvolvimento urbanístico143. Esta transformação
impulsionou uma alteração na hierarquia dos sectores mais dinâmicos. O sector alimentar é,
como vimos, o principal beneficiado por esta mutação. Conhecendo um acentuado mas
discreto desenvolvimento na década de 80 suportado, sobretudo, pela indústria da moagem e
pelas refinarias de açúcar, passa a equivaler ao têxtil e à metalurgia em termos de importância
absoluta. Esta importância é verificável no número de estabelecimentos e de operários que
ocupava, e também por ser uma actividade onde a existência de máquinas a vapor era uma
realidade corrente. Mas a diversificação industrial traduz-se na afirmação de muitos outros
sectores, sendo mais evidente o sector da construção.

A emergência desta actividade é uma consequência lógica do desenvolvimento


urbanístico de Lisboa que se afirma neste período. Um dos exemplos mais importantes é a
unidade de António Moreira Rato & Filhos. Situado na Rua 24 de Julho, e dando emprego a
cerca de 60 operários, direccionava a sua produção para a fabricação de ladrilhos.

Empenhando-se também preferencialmente a trabalhar a pedra, José Moreira Rato


empregava na Travessa do Corpo Santo, por sua vez, cerca de 40 trabalhadores, em 1890. Já
na Rua das Fontainhas, quer o estabelecimento de Eduardo Augusto Pinto de Magalhães, quer
a Goarmon & C.ª - que no Inquérito Industrial surgem como fabricantes de ladrilhos -
empregavam, respectivamente, 29 e 16 homens. O mesmo sucedia com J. Lino, que se
encontrava na Rua 24 de Julho, direccionando a sua produção para Portugal e para as
colónias.

Um dos estabelecimentos mais importantes era a Fábrica de Alcântara, de Lopes &


C.ª, situada na Rua Velha. O seu desenvolvimento ficou a dever-se à crescente procura de

143
O Anexo 2 mostra, precisamente, o aumento da malha urbana de Alcântara, em 1910, sobretudo quando
comparada com o desenvolvimento urbano de 1860 (Anexo 1).

69
louça e de azulejos esmaltados, produtos que fabricava recorrendo ao barro e ao vidro
nacional, e às tintas e ao carvão que lhe chegavam de Inglaterra. Tinha, em 1890, 83 operários
e uma máquina a vapor fixa de 8 CV. Este desenvolvimento do sector da cerâmica estimulou,
igualmente, a unidade de José Gregório Baudoin, que se encontrava localizada na Rua do
Arco, com 30 operários. Nesta altura produzia louça e tubos de barro vermelho que colocava
no mercado nacional.

A explosão das diversas obras na cidade fez surgir também, nestes anos, diversas
serrações de madeira. Destacamos, neste caso, a Fábrica Lisbonense de Serração e Aparelho
de Madeira, uma unidade localizada na Rua de Vasco da Gama que empregava cerca de 50
trabalhadores nesta altura. Esta serração de madeira tinha, em 1890, uma máquina a vapor de
120 CV, facto que espelhava alguma modernização deste sector.

Já outra actividade ligada ao sector da construção, a produção de vidros não conheceu,


por sua vez, uma firme implantação em Alcântara. Havia, ainda assim, a Fábrica de Vidros de
Alcântara. Localizada na Rua Vieira da Silva, recorria a cerca de 55 trabalhadores para
produzir, além de vidros propriamente ditos, copos, frascos e diversos objectos que eram
absorvidos, certamente, quer pelo sector da construção, quer por um mercado doméstico que
se encontrava em desenvolvimento nestes anos.

Este crescimento do consumo privado resultaria também na estimulação das unidades


que se dedicavam à produção de curtumes, mormente, de artigos de calçado. O
estabelecimento mais emblemático deste ramo é a Alcântara & C.ª. Localizada na Travessa
da Cascalheira, esta unidade produzia sapatos de trança que colocava no mercado nacional. A
Alcântara & C.ª, pela sua dimensão, era a excepção entre um sector que continuava a ser
pautado por um mundo de pequenas oficinas. Identificamos, de entre elas, a de António José
da Costa, direccionada para a produção de couros. Com 7 homens na Rua do Arco do
Carvalhão laborava também a Fábrica de Curtumes Esperança, contando com 10
trabalhadores. Já a unidade de José Carlos Xavier & Filhos laborava na Rua de Santo
António, com oito trabalhadores. Na zona de Alcântara situava-se ainda a Fábrica do Bom
Sucesso, na Rua da Praia do Bom Sucesso, com 8 homens, e o estabelecimento de Nicolau
Luís da Silva e Sobrinho, na Rua da Junqueira que, como a maioria destas unidades produzia,
essencialmente, solas de couro.

Um dos sectores que também se afirma neste período, obedecendo à mesma lógica de
desenvolvimento, é o das artes gráficas. Tal como os curtumes, é caracterizado pelo fomento
de diversas unidades de pequena dimensão. A que adquire um maior relevo situa-se na Rua
70
Fradesso da Silveira, a J. J. Nunes & C.ª, fabricando, sobretudo, cartas de jogar. Tinha, em
1890, cerca de 20 operários.

A diversidade industrial nasce assim da relação indissociável, em Alcântara, entre o


impulso industrializador e o desenvolvimento urbano. A marginalidade do bairro resultava
não só da sua acentuada vocação industrializante, mas igualmente por enquadrar em si uma
realidade social oposta, muitas vezes, à realidade do centro da cidade. Um dos traços dessa
periferia é espelhado, mais claramente nas difíceis condições de habitabilidade no bairro, que
põem em relevo, ainda mais, alguns traços de periferia em relação a Lisboa. Não obstante essa
realidade, o início do século XX vai encontrar Alcântara como um bairro agora muito mais
enquadrado na cidade de Lisboa. Essa nova proximidade constitui-se, sobretudo, no
desenvolvimento urbanístico que o bairro conhecera nas décadas anteriores.144 O maior
enquadramento em Lisboa condicionou, certamente, a tipologia do tecido produtivo do bairro.

5.2. Estagnação ou modernização?

Apesar do surgimento de uma certa diversidade das actividades importa sublinhar, no


entanto, que o tecido industrial de Alcântara não diferia, em grande medida, daquele que tem
sido classificado pelos diversos autores que se têm estudado a industrialização portuguesa na
transição do século XIX para o século XX. No contexto nacional o têxtil manifestava-se como
o sector mais activo, tendo sido beneficiado, em parte, pela «abertura dos mercados
coloniais».145

Todavia, segundo Villaverde Cabral, o início do século apresenta dificuldades a este


sector devido, essencialmente, “à incapacidade para alargar os mercados coloniais”.146
Ficando limitado pelo crescimento modesto de 25% do mercado nacional, os anos de 1906 e
1908 inauguram um período de sérias dificuldades. Esta situação é agravada, igualmente, por
uma conjuntura internacional desfavorável.147 Ainda assim o sector ocuparia, quando
chegarmos a 1917, cerca de um terço dos operários, sendo o responsável por perto de 50% das
exportações industriais.148 Tem igualmente a maior concentração de trabalhadores por

144
Rodrigues, Teresa, ob.cit.. pp. 334-335.
145
Cabral, Manuel Villaverde, ob.cit.. p.148.
146
idem, ibidem, p. 149.
147
idem, ibidem, p. 149.
148
Telo, António José - “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”, ob.cit.. p.127.
71
estabelecimento, com cerca de 78 operários por fábrica, utilizando 30% da energia empregue
nas máquinas a vapor.149

Também em Alcântara, depois de um período de acentuado crescimento, parece haver


um desenvolvimento mais moderado deste sector. Não contamos com a totalidade dos dados
referentes à saúde das diversas unidades têxteis que laboravam no bairro, no início do século
XX, que nos permitam ter uma ideia mais próxima da realidade desta actividade neste
período. Escapa-nos, por exemplo, a dimensão do capital investido ou os valores dos lucros
das principais fábricas. Mas se nos fixarmos, especificamente, na quantidade de operários, por
estabelecimento, percebemos que comparativamente às décadas de 80 e 90 do século XIX,
parece haver senão uma estagnação, pelo menos um crescimento bastante lento quando
comparado com o ocorrido no período anterior. De uma forma geral, continuavam a laborar a
maioria das unidades aí instaladas anteriormente. Sublinhamos aquelas que conheceram um
grande desenvolvimento na última metade do século XIX. Todavia, esses estabelecimentos
estavam reduzidos agora na sua dimensão. Na sua maioria, não ultrapassavam, na verdade, os
100 operários.150 As estamparias vêem acentuado o declínio que tínhamos referido
anteriormente. A Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões, que
mantendo em uso 3 caldeiras a vapor, dá trabalho agora a apenas 80 homens, um número que
contrasta com os 130 de 1890, e se aproxima dos valores de 1881. Já a Companhia Nacional
de Tinturaria e Estamparia, que tinha cerca de 220 operários em 1890, contava agora com 90
trabalhadores. Esta diminuição é também visível nos 34 operários que trabalhavam na
Companhia de Estamparia de Alcântara, contra os 130 que a preenchiam em 1890. Já uma
unidade que não tínhamos referido, a fábrica de tinturaria e estamparia de Otero Salgado, que
estampava lenços, chitas e flanelas, tinha uma dimensão média, dando trabalho a 478
operários.151

No sector têxtil propriamente dito, ocorre também uma estagnação na dimensão dos
estabelecimentos, em número de operários. Veja-se, por exemplo, a Llosente & C.ª, que se
mantém na Rua do Arco conservando, igualmente, os cerca de 90 trabalhadores que tinha, em
1888. Mantinha-se a produzir, por exemplo, sarjas e riscados que coloca nos mercados de

149
idem, ibidem, p.127.
150
Veja-se o Boletim do Trabalho Industrial, n.º 80 - Ministério do Fomento, Direcção Geral do Comercio e
Indústria, Repartição do Trabalho Industrial (Relatório dos Serviços da 3.ª Circunscrição dos serviços técnicos
da Indústria, pelo engenheiro Luís Feliciano Marrecas Ferreira). Coimbra: Imprensa da Universidade, 1913.

151
idem, ibidem
72
Lisboa e nas colónias. Surgem também algumas novas unidades, como a Companhia de
Lanifícios Portuguesa, que tinha cerca de 60 operários nesse período. Contava também com
duas caldeiras a vapor e uma máquina de 60 CV. Algumas delas, de menor dimensão,
dedicavam-se agora a uma produção mais diversificada. É o caso da fábrica de fiação e
tinturaria de Vieira Reis, Sequeira, Santos, Ltd.. Localizada na Travessa da Galé, e recorrendo
à lã francesa e inglesa, produz fio de estambre que vende, posteriormente, para outras fábricas
nacionais. Tem, neste período, cerca de 17 operários. Já na Travessa do Fiúza laborava outra
pequena unidade que produzia riscados para colchões pertencente a Manuel António Martins.
Com apenas 6 trabalhadores recorria às matérias-primas que, ao contrário da maioria das
têxteis, não importava de Inglaterra mas comprava às unidades nacionais. Tem, como
principal mercado, Lisboa. De uma dimensão média era a Fábrica de Fiação e Tecidos de
Peres & C.ª. Recorrendo à lã que importa da Argentina e de França, e aos cerca de 200
trabalhadores que emprega, produz lenços e roupa de senhora que vende para Lisboa e para o
Porto.

Dos estabelecimentos mais antigos, apenas a Companhia de Fiação e Tecidos


Lisbonense continua a manter uma dimensão próxima daquela que conhecia no final dos anos
oitenta do século XIX. Ela preservava, na realidade, o estatuto de maior fábrica têxtil de
Alcântara. Ocupava, na primeira década do século XX, cerca de 800 operários.

Esta diminuição quase generalizada do número de operários do sector têxtil não


impedia, no entanto, que ele continuasse a dominar o tecido produtivo do bairro. É inegável
na viragem do século que o sector industrial propriamente dito continuava a ter um grande
peso na totalidade do tecido produtivo de Alcântara. O acentuado crescimento urbano que
tinha conhecido nas últimas décadas era fruto, sobretudo, do desenvolvimento industrial que
se aí se fixara. Por sua vez, o desenvolvimento urbanístico teve um importante papel como
impulsionador do surgimento de Alcântara como o grande bairro industrial de Lisboa.
Importa questionar agora, sobretudo, se essa relação de mútuo proveito se cristaliza no tempo
ou, pelo contrário, ela acabará por diminuir qualquer um dos fenómenos envolvidos.

O desenvolvimento urbanístico que o bairro conhecera resultou também na


estimulação no bairro de diversas actividades que não pertenciam ao tecido industrial. A
diminuição da vocação industrial de áreas de diversas cidades europeias, promovida pelo
aumento da densidade urbanística é sublinhada por Richard Rodger e David Reader.
Debruçando-se sobre a realidade inglesa, estes autores explicam como a emergência dos
serviços promove uma menor especialização de algumas cidades e de alguns bairros como
73
espaços essencialmente industriais. Este confronto entre a emergência de uma actividade
económica virada para os serviços, e a anterior especialização industrial caracterizou também
Alcântara na viragem do século.152

O maior exemplo foi a implantação de estruturas ligadas aos transportes, como a


Carris, presente no bairro desde 1874. A própria evolução urbana faz cerrar a malha
habitacional, limitando o espaço disponível para a instalação de novas unidades.
Provavelmente, depois de se ter constituído, durante a fase final do século XIX, um
importante estímulo ao desenvolvimento industrial, o crescimento urbano e demográfico no
bairro apresenta-se agora como, de certa forma, com um efeito limitador das vantagens para a
fixação de unidades industriais. Referimo-nos, obviamente, a uma menor oferta de terrenos,
situação que poderá ter condicionado a fixação de unidades de maior dimensão. Podemos
encontrar um claro exemplo desta realidade, precisamente, naquela que seria, provavelmente,
no início do século XX, a indústria mais importante do bairro: a CUF.

A história da CUF e da sua presença em Alcântara, é manifestamente conhecida.153 Da


evolução do grupo no bairro interessa-nos questionar assim, essencialmente, se teria sido
possível instalar, na Alcântara do início do século XX, uma empresa com a dimensão que a
CUF conheceria nas suas instalações do Barreiro. A fixação da CUF no Barreiro não se
deveu, importa dizê-lo, apenas ao espaço que o local oferecia; esta instalação obedece a um
conjunto de vantagens que vão da localização geográfica do Barreiro a imperativos de
estratégica económica.154 A CUF nasceria da fusão, como é conhecido, da Aliança Fabril com
a Companhia União Fabril, duas unidades em tudo semelhantes a outras existentes no
bairro,155 que começaram por produzir sabão e diversos óleos.

É verdade que quando chegou à liderança da companhia, Alfredo da Silva mandou


erguer uma nova fábrica no Largo das Fontainhas, perto de uma unidade de sabão aí existente,
para produzir adubos compostos e massa de purgueira. A CUF passava assim a produzir, além
dos sabões e dos óleos, os adubos. A companhia beneficia, no ano seguinte, da conjuntura
favorável que a agricultura portuguesa veio a conhecer, protegida com a “lei da fome”,

152
Reader, David e Rodger, Richard - “Industrialization and the City Economy”. in The Cambridge Urban
History of Britain. Cambridge: University Press, 2000, p. 553.
153
Refira-se, por exemplo, um trabalho mais recente, da autoria de Miguel Faria, que descrevendo a vida de
Alfredo da Silva, nos conta como, através da fusão de duas pequenas unidades, em Alfredo da Silva: Biografia
1871-1942. Lisboa: Bertrand Editora, 2004.
154
idem, ibidem, p.133-138.
155
Para um maior conhecimento quer da Aliança Fabril, quer da Companhia União Fabril veja-se Faria, Miguel
Figueira de, ob.cit.. p.70-92.
74
conhecendo um importante desenvolvimento.156 Nos anos seguintes, fruto da expansão da
companhia, Alfredo da Silva começa a projectar o futuro através da promoção da
diversificação industrial.157 A vontade de expansão levará assim muitas das novas unidades
do grupo a serem fixadas não junto ao coração de Alcântara, onde se encontrava a Fábrica
Sol, mas em espaços mais afastados de Lisboa. É nesse sentido que se instala, em 1907, uma
fábrica de azeite em Alferrarede, perto de Abrantes. Já na origem da localização no Barreiro
esteve, segundo Miguel Ferreira de Faria, a necessidade de evitar que a sul do Tejo fosse
instalada uma unidade que fizesse concorrência à fábrica de Alferrarede.158 Nasceu assim o
complexo do Barreiro que passou a produzir, num primeiro momento, bagaço de azeitona e,
posteriormente, ácido sulfúrico e de superfosfatos. Dez anos depois desta inflexão, no início
da década de 20, a CUF tinha crescido no número de operários, não só engrossando os cerca
de 100 trabalhadores que a fábrica tinha quando ainda estava apenas localizada em Alcântara,
em 1907, mas contabilizava agora cerca de 2 000 trabalhadores.159 Em Alcântara a CUF
mantém as unidades que mostravam bastante similitude com o conjunto de actividades
presentes no bairro – estabelecimentos de média e de pequena dimensão virados quer para um
mercado doméstico em desenvolvimento, quer como complemento às actividades localizadas
no Barreiro. É neste sentido, por exemplo, que Alfredo da Silva recupera a Companhia de
Tecidos Aliança, uma unidade têxtil que tinha pertencido a Henry Burnay.

Através do exemplo da CUF tentamos perceber a forma como o desenvolvimento


urbano ocorrido no bairro acabou por cercear algumas das vantagens que o local oferecia
depois de meados do século XIX e que agora, no início do século XX, apareciam menos
atractivos para as indústrias. Alcântara ainda conservava, é verdade, algumas das
características que lhe permitiram atrair muitas dos estabelecimentos que albergava.
Mantinha, a título de exemplo, o fácil acesso às matérias-primas e à energia que lhe chegavam
através do Porto de Lisboa. No mesmo sentido, quer a sua proximidade à capital, quer os
inúmeros transportes que a serviam continuavam a permitir um escoamento fácil dos seus
produtos. Tinha visto aumentada também, nas últimas décadas, a oferta de mão-de-obra. Mas
o crescimento urbano retirara-lhe, por outro lado, a possibilidade de oferecer o espaço
necessário às indústrias que procurassem seguir um modelo de organização e de
desenvolvimento diferente das unidades que se encontravam no bairro. A análise da evolução

156
idem, ibidem, p.96.
157
idem, ibidem, p.131.
158
idem, ibidem, p. 134.
159
idem, ibidem, p.138.
75
da CUF permite-nos questionar, desta forma, a capacidade de Alcântara para, no inicio do
século XX, continuar a absorver unidades e grandes dimensões. Chegados a 1910, o traço
periférico de Alcântara dava agora lugar a um bairro de plena integração administrativa em
Lisboa continuando, no entanto, a ser o grande espaço industrial da capital, embora não o
único.

Acresce a esta realidade o facto dos principais sectores em expansão no tecido


produtivo nacional neste período, as conservas e a cortiça, terem conhecido uma fixação
residual em Alcântara. De facto, uma actividade que se encontrava virada para a exportação, e
na qual ocorria um grande desenvolvimento, era a produção de rolhas de cortiça, cuja
actividade empregaria, perto da I.ª Guerra Mundial, cerca de 7.000 operários.160 Mas, no
bairro, a presença de corticeiras era também residual. Se olharmos, por exemplo, para o
Almanach Comercial de 1910 identificamos apenas a presença de uma unidade pertença de
Percy Ellis.

Já as conservas de sardinha faziam também desenvolver um grande conjunto de


unidades no contexto nacional. Esse crescimento é verificável no aumento das exportações de
conservas de sardinhas que evoluíram, entre 1890 e 1904, de 6 872 toneladas para 14 107
toneladas respectivamente.161 A região de Lisboa acompanhou, por sua vez, a evolução do
crescimento desta actividade. Alcântara, todavia, não obstante a sua aproximação ao Porto de
Lisboa, não se apresentou como um local privilegiado para fixação. Mostra-nos Manuel
Villaverde Cabral que em 1905 existiam 34 fábricas na zona de Lisboa (3.ªcircunscrição) mas
localizavam-se, quase na sua totalidade, na cidade de Setúbal.162 Alcântara tinha, ainda assim,
alguns estabelecimentos. A principal era a Companhia Nacional de Conservas.

Quer os estabelecimentos que se dedicam à transformação da cortiça, quer as fábricas


de conservas representam o ponto de divergência mais importante existente na comparação
entre os sectores que conheciam um maior desenvolvimento, no contexto nacional, e as
actividades de maior fomento no tecido produtivo do bairro.

A alimentação continuava a ser, não obstante, uma actividade em claro crescimento


em Alcântara, mas a sua produção encontrava-se virada para o mercado nacional, e não tanto
para a exportação. Produzia-se, essencialmente, e recorrendo a modelos produtivos simples,
produtos que pudessem ser assimilados facilmente pelo mercado de Lisboa. Veja-se o caso da

160
Cabral, Manuel Villaverde, ob.cit. p.150.
161
idem, ibidem, p.150.
162
idem, ibidem, p.150.
76
Companhia União Industrial Lisbonense. Criada em Abril de 1895, a Companhia faz um
requerimento ao Governo Civil de Lisboa para instalar uma unidade na Av. 24 de Julho para
produzir cerveja, gasosas, gelo, amêndoas, soda, torrefacção e moagem de café e raiz de
chicória e chocolate. Tendo saído o anúncio no Diário Popular em Abril de 1899, o alvará de
funcionamento é concedido no mesmo mês. A Companhia conhecia, desde a sua criação, uma
considerável mecanização do processo produtivo. A fábrica tinha duas máquinas a vapor, uma
de sistema Farcot, de 18 CV, e outra de 8 CV. Contava também com três caldeiras a vapor,
respectivamente com 40, 18 e 10 CV. Esta maquinaria era usada, todavia, em processos de
produção pouco exigentes.

A opção por um modelo produtivo bastante simples mostra-nos, sobretudo, as


limitações inerentes a muitas unidades do bairro. Desta forma é visível a simplicidade na
utilização da técnica poderá ter impedido um desenvolvimento industrial mais firme no
bairro, dirigido para sectores tecnologicamente mais exigentes.

O modelo de produção de cariz manufactureiro e artesanal continua a ter, nas


primeiras décadas do século XX, um grande peso no bairro. Surgem, nessas condições,
diversas unidades em tudo semelhantes a manufactureiras, produzindo uma grande
diversidade de produtos viradas para o consumo local. A título de exemplo, continuavam a
surgir na transição do século estabelecimentos enquadrados em actividades com forte
ausência de maquinaria, como a produção de sabão. Era o caso da unidade de Pinheiro &
Villas, na Calçada de Santo Amaro, em 1999, ou a de José Avelino Martins, em 1895, na Rua
das Fontainhas. Ambas reforçam a ideia de um imensa mancha de oficinas que, longe de se
constituir como excepção, via o seu peso crescer no tecido produtivo de Alcântara vincando já
uma certa fragilidade do bairro, nestes anos, como um dos locais de assentamento industrial
de unidades de média e grande dimensão, por excelência, no contexto de Lisboa, não obstante
continuarem a surgir algumas unidades com essas características. Essa debilidade percebe-se
melhor quando analisamos o modelo de produção destas oficinas. A unidade de Pinheiro &
Villas, a título de exemplo, produzia sebo de uma forma completamente manual. A gordura
animal é colocada numa caldeira de cobre para que possa derreter, sendo alimentada pela
energia da lenha. Depois de derretido, e separado do torresmo, o sebo é deitado em pequenas
latas que servem de formas. Posteriormente, ou é vendido assim, ou sob a forma de velas.

77
Refira-se que esta unidade produz, na totalidade, cerca de 600 litros de sebo por ano.163 O
mesmo modelo de produção está subjacente também, certamente, à unidade de José Avelino
Martins, direccionada, igualmente, para a produção do mesmo produto.164

5.3. A distribuição espacial

Vimos, anteriormente, como a importância dos recursos naturais tinha contribuído


para uma certa distribuição geográfica das unidades instaladas em Alcântara, promovendo
uma notada concentração, por sector, em algumas zonas do bairro. A explosão industrial
ocorrida depois da década de 70 não altera muito esta realidade, obedecendo, naturalmente, a
factores de localização mais vastos e complexos que aqueles existentes em meados do século
XIX. No início do século XX a situação era semelhante. Partindo da identificação dos
principais estabelecimentos presentes no Almanach Commercial de 1910 percebe-se que quer
os recursos naturais, quer a emergência de infra-estruturas, quer a própria oferta de terrenos
disponíveis funcionaram, como vimos, como estímulos diferentes para as diversas actividades
industriais. No mesmo sentido, a sua influência na estruturação do tecido produtivo apresenta-
se desigual conforme o período sobre o qual nos debruçamos. Desta forma, a concentração
geográfica de muitos estabelecimentos parece obedecer igualmente à sua própria cronologia
de instalação.

De uma forma geral, o têxtil, de desenvolvimento mais antigo, e em especial as


fábricas mais dependentes da existência abundante de água situam-se, maioritariamente, nos
espaços mais interiores do bairro. A localização geográfica desta actividade, nas suas
unidades de assentamento mais antigo, espelhava ainda a importância da Ribeira de
Alcântara. Assim, o “sector da água” continuava a ter as suas unidades fixadas perto do local
da antiga ribeira. Era o caso da Companhia de Estamparia e Tinturaria, na Quinta da
Cabrinha, da Companhia de Estamparia de Alcântara, na Quinta do Inferno, e da Companhia
Nacional de Estamparia e Tinturaria, na Rua da Fábrica da Pólvora. As têxteis propriamente
ditas localizavam-se, essencialmente, na zona de Santo Amaro. Era aí que laborava a
Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, enquanto a Bernardo Daupiás & C.ª estava na

163
Processo preliminar de licença para o estabelecimento d’uma fábrica de sebo na Calçada de Santo Amaro
n.º62. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processos Preliminares de Licenças Para
estabelecimentos (1865-1908) (Caixas 2518-2523), Cx. 2522.
164
Processo preliminar de licença requerida para uma fábrica de sabão na Rua das Fontainhas n.º19 e 20,
freg.ª de Alcântara.. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processo Preliminar de Licença Requerida
para uma Fábrica de Sabão na Rua das Fontainhas n.º19 e 20, CX. 2558.
78
Rua de Sto. António e a Companhia de Tecidos Alliança tinha-se instalado na mesma zona,
na Rua de Cascais.

As zonas mais periferias, ou até exteriores a Alcântara, muitas delas decorrentes das
obras de melhoramento do Porto de Lisboa, foram escolhidas para a fixação de muitas das
unidades surgidas depois do último terço do século XIX, transformando a Av. 24 de Julho
numa das vias que conhecia uma maior concentração industrial. Localizavam-se aí muitas das
metalurgias, elas que conhecem uma instalação mais recente que as têxteis. Era o caso da
Cooperativa Industrial Social, a Promittente, e as unidades de Hugh Parry & Son, de António
Correia, de Alfredo Merinório dos Santos e de Joaquim José Tavares. Algumas das
metalúrgicas situavam-se em zonas mais interiores do bairro, como Empresa Progresso
Industrial e as unidades de Dionísio José Rodrigues, de Júlio e Franco e de Cesário Luís da
Cruz, todas perto da Rua das Fontainhas. Já a Companhia Nacional de Fundição de Forja
surge com duas unidades, uma na Rua de S. Joaquim, e outra na Rua Luís de Camões, onde se
situava também a Empresa Industrial Portuguesa. Na parte mais ocidental do bairro
localizavam-se a Dargente & C.ª, na Travessa do Conde da Ponte, a Fábrica Vúlcano, no
Boqueirão do Duro, e a Perseverança, no Largo do Conde Barão.

Também a distribuição geográfica do sector da alimentação tinha um importante


núcleo na Av. 24 de Julho. Era aí que se localizava a Companhia União Industrial
Lisbonense, uma refinação de açúcar de Joaquim Pestana dos Santos e ainda a Fábrica
Indústria Nacional da Pampulha. Já na zona mais ocidental do bairro, na Rua da Junqueira,
ficariam instaladas algumas unidades ligadas à refinação de açúcar, como a Refinaria
Privilegiada de Portugal. O sector alimentar apresentava, no entanto, uma maior diversidade
na distribuição geográfica que a metalurgia e o têxtil. A Companhia Nacional de Conservas, a
título de exemplo, localizava-se na Rua Conselheiro Pedro Franco e na Rua de Cascais,
enquanto a Companhia Frigorifica Portuguesa e a J. B. Chaves & Irmão laboravam na Rua
da Fábrica da Pólvora. Já a “Napolitana”, fundada no início do século, tinha ficado instalada
na Rua de S. Joaquim, enquanto a Alvarez & Alvarez procedia à refinação de açúcar na Rua
Vieira da Silva.

A Av. 24 de Julho é também o local privilegiado para a fixação de unidades ligadas


ao sector da construção. Encontravam-se aí algumas cerâmicas, como a de António Moreira
Rato & Filhos e a Baudoin, Júnior Sucessor, assim como diversas serrações de madeira,
como a de J. A. Santos & C.ª, embora uma importante serração, a de J. Lino, estivesse situada
na Rua Vasco da Gama.
79
5.5. Os desafios do novo século

Os anos que medeiam a instauração da República, em 1910, e o final da I.ª Guerra


Mundial trouxeram novos desafios ao tecido produtivo de Alcântara. O bairro era, na
conjuntura da industrialização de Lisboa, e mesmo no contexto nacional, um dos locais onde
era mais efectiva a presença de unidades caracterizadas por um modelo de laboração
moderno. Esta era uma realidade que abrangia vários sectores, como a metalurgia ou a
alimentação, mas que conhecia, nos têxteis, o seu maior expoente. Não podemos dissociar
este tecido produtivo das problemáticas da industrialização portuguesa no seu todo porque
dessa realidade derivam, neste período, muitos dos seus próprios problemas.

O primeiro impacto negativo que a indústria nacional sofre depois da implantação do


novo regime resultou de uma diminuição acentuada das suas exportações, situação que atinge,
com maior incidência, o sector que tradicionalmente conhecia uma maior modernização em
Alcântara, o têxtil. Esta situação foi provocada, segundo António José Telo, por «um certo
pânico do mundo financeiro e industrial»165 gerado no «aumento do nível de vida das
camadas populares urbanas», pelo «crescimento do movimento operário» e pela
«organização da “rua” republicana numa força disciplinada de apoio aos partidários de
Afonso Costa».166 No conjunto da indústria nacional assistiu-se à retracção das exportações de
6 200 contos, em 1910, para 3 900, em 1911, e para 3 600 contos em 1912.167 O sector que
mais sentiu esta diminuição foi, como referimos, o têxtil, com as exportações provenientes
desta actividade a diminuírem de 3 000 contos, em 1910, para 1 100, em 1912.168

Os primeiros anos da I.ª República terão colocado assim, certamente, algumas


dificuldades aos sectores mais desenvolvidos do bairro. Mas foi o surgimento da I.ª Guerra
Mundial que terá tido um maior impacto no tecido produtivo de Alcântara. Em primeiro lugar
porque, como nos refere António José Telo, a guerra promoveu, para o conjunto da indústria
portuguesa, a escassez de novas máquinas e o acesso a peças sobressalentes das mesmas, e
uma acentuada falta de energia. A guerra impulsiona, de facto, dificuldades maiores no acesso
à energia. A importação de carvão vegetal diminuiu, por exemplo, de 1 235 t, em 1914, para
225 t em 1917. Já as importações de carvão de coque decrescem de 33 714 t, em 1914, para 6

165
Telo, António José - “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”, ob.cit, p.138.
166
idem, ibidem, p.138.
167
idem, ibidem, p.138.
168
idem, ibidem, p.138.
80
416 t, em 1917. A mesma diminuição é sentida na importação de máquinas e aparelhos
industriais, que decaem de 9 501 t para 3 647 t, entre 1914 e 1917, respectivamente.169

Tal como para a totalidade da indústria nacional, também para Alcântara os efeitos da
guerra não afectam, de forma igualitária, todos os sectores. Promove, por um lado, uma certa
atrofia das unidades que conheciam uma modernização mais acentuada. No sector têxtil as
unidades têxteis lutavam agora não só contra a retracção das suas exportações, como tinham
grandes dificuldades em obter muita da matéria-prima que, como vimos, de grosso era obtida
através da importação.

Mas a guerra oferece, por outro lado, muitas vantagens para os estabelecimentos de
dimensão reduzida que se assemelham, em muitos dos casos, a pequenas manufacturas ou a
oficinas de artesanato. Assim, e numa primeira análise, o surgimento da guerra vem acentuar
a tendência de Alcântara para a proliferação de centenas de unidades pequenas que já vinham
sendo impulsionadas quer pelo aproveitamento dos espaços de oportunidade conquistados na
sombra de unidades maiores, quer pelo impulso oferecido pelo crescimento urbano (anexo 9).
Mas a principal característica da industrialização do bairro na segunda década do século XX,
se nos centrarmos na análise de estabelecimentos de média e de grande dimensão, é a
progressiva importância que as actividades ligadas à alimentação assumem nestes anos, dando
continuidade a um processo que o bairro vinha já conhecendo há alguns anos. Encontramos,
neste ramo dois grupos. Por um lado as fábricas de moagem, situadas no bairro e nas suas
imediações, sendo que a Av. 24 de Julho surgia como um dos locais mais importantes para a
sua fixação. Aí continuavam em laboração a Bellos & C.ª, e, depois de 1911, a Fábrica de
Farinhas Esperança. Numa parte mais central do bairro encontrávamos companhias como a
Companhia Industrial Portugal e Colónias e “A Napolitana”, que se tinha instalado na Tv. do
Calvário, além da Companhia Frigorífica Portuguesa, esta a produzir, essencialmente,
chocolates. Já as refinarias de açúcar da zona da Av. de Ceuta desenvolviam-se, sobretudo,
sob o impulso da Companhia de Açúcares de Moçambique. A guerra, por sua vez, deu
certamente um importante impulso às poucas unidades conserveiras presentes no bairro, como
a Companhia Nacional de Conservas e fábrica de conservas de peixe de A. Santos.

Neste período, Alcântara sente também o mais intenso desenvolvimento dos


estabelecimentos ligadas à construção. Era o caso das metalúrgicas, impulsionadas não só
pela procura crescente dos seus produtos como, provavelmente, pelo surto da indústria

169
idem, ibidem, p.138.
81
extractiva.170 Em Alcântara as unidades mais importantes são aquelas que temos vindo a
referir, a Companhia Perseverança, a unidade de Pedro Dumorá e, sobretudo, a Empresa
Industrial Portuguesa, que nestes anos se esforça por diversificar a sua produção pensando,
inclusive, a passar a produzir automóveis. No Largo do Conde Barão persistia também a
Vúlcano & Collares, depois da fundição, em 1915, das duas unidades que a compõem.

Também as cerâmicas mostram algum dinamismo nestes anos. A Empresa Cerâmica


de Lisboa, a título de exemplo, tinha sido fundada para produzia telhas, em 1881. Tem, no
início do século, 50 CV 2 142 operários. Em 1883, fruto de se ter constituído em sociedade
anónima, constrói uma nova fábrica na Rua Saraiva de Carvalho. Já no século XX produz
também cerâmica vidrada e não vidrada.

Globalmente, os têxteis, a alimentação e a metalurgia continuavam a ser os três


sectores principais do bairro nestes anos. Faltam-nos dados, no entanto, para percebemos
melhor de que forma o tecido industrial de Alcântara resistiu às dificuldades criadas pela
guerra. Mais perceptível é, no entanto, a forma como nas ruas de Alcântara, no final da
guerra, continuavam a prosperar um mundo de pequenas oficinas viradas, sobretudo, para o
consumo local.

170
idem, ibidem, p.144.

82
Capítulo 3

Estagnação e dinamismo no desafio dos anos 20

1. 1917: guerra e transformação

A agitação social surgida na sequência da emergência da I.ª República, as


dificuldades geradas pela Grande Guerra e as diversas epidemias, das quais se destaca a gripe
de 1918-1919, infligiram a Alcântara algumas transformações na forma como o seu
desenvolvimento urbanístico vinha ocorrendo. Na verdade, o ritmo de crescimento
populacional que pautou o bairro até à primeira década do século XX, sofre uma grande
desaceleração. No período compreendido entre 1911 e 1920, Alcântara viu o seu número de
habitantes crescer somente 4%, enquanto a totalidade da população de Lisboa aumentou,
nesses anos, 12%,171 passando a capital de 486 372 habitantes, em 1920, para 594 390, em
1930.172

Se nos reportarmos apenas ao período da I.ª Guerra Mundial e às implicações da


mesma no campo económico - ainda que esteja por realizar, no entanto, um estudo profundo
sobre o seu impacto na economia portuguesa no seu todo e, mais concretamente, no tecido
industrial do País - há, ainda assim, alguns dados que nos permitem perceber, em traços
gerais, quais as principais características da indústria portuguesa quando o conflito termina.173
Refira-se, em primeiro lugar, a permanência da hierarquia existente, em termos sectoriais,
pelo menos desde o final do século XIX. A Estatística Industrial174 de 1917 mostra-nos como
o têxtil se mantinha como o sector mais importante, sendo o responsável por 50% das
exportações da indústria nacional, conhecendo uma concentração de operários
manifestamente superior à média, com 78 trabalhadores por fábrica, e utilizando 30% da
energia motriz das máquinas a vapor e dois terços da energia hidráulica nacional, perfazendo
35 000 CV.175

171
Vidal, Frédéric, ob.cit.. pp. 51-52.
172
Guinote, Paulo - “A Sociedade: da agitação ao desencanto”. In Reis, António (Dir), Portugal
Contemporâneo, Vol. III, Lisboa: Edições Alfa, 1999, pp. 171-230.
173
Veja-se, para uma abordagem mais completa, Telo, António José - “A Busca do Desenvolvimento”, ob.cit..
pp. 150-152.
174
“Estatística Industrial de 1917”. In Boletim do Trabalho Industrial, N.º 119 (1923), Lisboa: Imprensa
Nacional, Lisboa, pp.39-43.
175
Telo, António José - “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”, ob.cit.. p. 127.
83
No contexto do País a guerra, como vimos anteriormente, apresentou-se
particularmente nociva para os estabelecimentos mais modernos, logo, mais dependentes da
importação regular da energia do carvão, de máquinas e de peças sobressalentes, uma
dependência que é naturalmente mais acentuada nos sectores que conheciam uma maior
mecanização.176 Ora, o têxtil apresentava-se como o sector industrial que conhecia os
estabelecimentos mais modernos do espectro da indústria nacional, e Alcântara, como vimos,
era um dos locais de Lisboa onde havia unidades têxteis de maior dimensão. Apreende-se,
desta forma, que muitas das maiores unidades do bairro tenham sentido dificuldades, neste
período. Ainda assim, e perto do final da guerra, continuavam em laboração de acordo com o
Annuário Commercial de Portugal e Colónias de 1917,177 a maioria dos grandes
estabelecimentos de maior dimensão que tinham sido criadas a partir de meados do século
XIX. Era esse o caso da Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões,
com a sua fábrica na Quinta da Cabrinha, na Rua da Pólvora, sob a direcção de Guilherme de
Passos Costa. Também em Vila Pouca mantinha-se em funcionamento a Companhia de
Estamparia de Alcântara, enquanto a Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, localizada
na Rua 1.º de Maio, continuava a laborar, mas agora encontrava-se arrendada à firma Mendes,
Valadares, Lda., conhecendo a presença de Custodio Aurélio Gomes Névoa, um comissário
nomeado pelo governo para a sua direcção. Igualmente em actividade estava a unidade de
fiação Vieira, Reis, Sequeira & Santos, localizada na Travessa da Galé, à Junqueira, e a
fábrica de tecidos de lã de Peter, Ferreira & C.ª, na Rua da Cozinha Económica. Apesar da
identificação destes estabelecimentos, no final da guerra, os dados a que acedemos não nos
permitem um conhecimento preciso sobre a saúde destas unidades. Veremos mais à frente, no
entanto, as dificuldades que os anos que se seguiram à guerra colocaram a estes
estabelecimentos, cerceando a vitalidade que muitas conheciam à entrada para a última
década do século XIX.

Já o sector da alimentação surgia, em 1917, em segundo lugar no contexto nacional,


ocupando 19,2% dos operários.178 Quando olhamos para a totalidade do País o factor mais
importante foi o crescimento das unidades ligadas à alimentação, substancialmente suportado
pelo impulso que a economia de guerra trouxera às conserveiras. Já em Alcântara a evolução
deste sector, como vimos, obedece a uma lógica diferente. Os estabelecimentos em maior
destaque eram aqueles que se dedicavam à produção de farinha e dos seus derivados e as

176
idem, ibidem, p.144.
177
Anuário Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar. Caldeira, Pires (Coord.). Lisboa: 1854-1930.
178
Telo, António José - “ Busca Frustrada do Desenvolvimento”, ob.cit.. p.127.
84
unidades que produziam produtos facilmente escoáveis no mercado próximo de Lisboa, como
aqueles que são feitos de chocolate. De entre os primeiros destacava-se, sobretudo, a
Companhia Nacional de Portugal e Colónias, que controla 80% do consumo de Lisboa.179
Mas outras unidades, de menor dimensão, encontravam-se em laboração no bairro
transformando-se, inclusive, em símbolos da própria industrialização de Alcântara. Um deles
era “A Napolitana”, conforme era conhecida a fábrica de massas alimentícias de Gomes,
Brito, Conceição, Reis & C.ª. Localizada na Rua das Cozinhas Económicas, tinha sido
construída por Vieillard & Trouzet, formando um conjunto de quatro edifícios principais que
incluíam a moagem, os silos, a fábrica de massas e a casa das máquinas, num conjunto que
abraçava 5.000 m2 na totalidade.180 Destacava-se igualmente, como símbolo da força que o
sector alimentar adquiriu no bairro, a Empresa de Moagens Esperança, na Rua 24 de Julho,
que tinha, próxima de si, e nas proximidades dos limites mais orientais do bairro, a Fábrica
de Bolachas da Pampulha, Lda., que tinha sido fundada, em 1872, por Eduardo Costa, na
mesma rua. Já na zona mais ocidental evoluíam outras unidades, como a de José Manuel da
Silva & C.ª, na Rua da Junqueira.

Algumas unidades foram conhecendo uma acentuada diversificação nos produtos que
produziam, como a unidade Iniguez & Iniguez. Fundada, em 1886, na Rua 24 de Julho, por
Joaquim Iniguez, dedicava-se, essencialmente, e numa fase inicial da sua existência, à
produção de chocolate. Beneficiava da estreita relação de Francisco Iniguez com Henrique
Monteiro de Mendonça, proprietário de uma roça em S. Tomé. Depois do desaparecimento do
seu fundador, a fábrica passou a ser dirigida pelo seu filho Manuel António Iniguez e, em
1917, dedicava-se não só à produção de chocolate, como à moagem de farinhas, entre outros
produtos alimentares.

Mantinham-se também em actividade a União Industrial Lisbonense, na Rua 24 de


Julho, a Companhia Frigorífica Portuguesa, na Rua da Fábrica da Pólvora - que produzia
diariamente 80 000 kg de gelo - e a fábrica de gelo Pólo, de Pereira & C.ª, Lda., perto da
estação de Alcântara-Mar. Já na Junqueira laboravam algumas das principais unidades que
procediam à refinaria de açúcar, como a Companhia de Açúcar de Moçambique - que também
possuía uma fábrica na Av. da Índia - ou a “Fábrica Suíça” de Francisco José Cerqueira,
produzindo chocolate, e outros doces.

179
idem, ibidem, p.128.
180
Veja-se, para um conhecimento mais aprofundado das instalações da fábrica Santos, António Maria dos
Anjos - Para o estudo da Arquitectura Industrial na regia de Lisboa (1846-1918). Vol. I, Lisboa: Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1999.
85
Olhando novamente para o País, como um todo, o terceiro sector em número de
operários era constituído por um conjunto de estabelecimentos que se dedicavam a trabalhar a
madeira, proliferando assim inúmeras serrações e unidades que se produziam móveis, dando
trabalho a 11% dos operários portugueses neste período.181 Em Alcântara, eram muitas as
unidades que podemos enquadrar neste grupo, e que proliferavam no término da guerra.
Beneficiavam não só do surto que o desenvolvimento urbanístico vinha dando ao sector da
construção, como também da própria exigência de produtos que lhe era feita, quer pelas
actividades directamente relacionadas ao Porto de Lisboa, quer através das necessidades das
muitas unidades que pautavam o bairro.

No final da guerra encontravam-se em Alcântara estabelecimentos que se dedicavam a


produzir o mais diverso rol de produtos em madeira, sobretudo, caixotes, muitos usados para
a exportação dos produtos da indústria conserveira. Era esse o caso da Activa, uma unidade
pertença de Manuel Martins Franco, na Rua 24 de Julho, da Caixotaria Macânica
Portuguesa, de Fuertes & Commandita, perto e Alcântara-Mar, ou uma unidade pertencente a
José Joaquim da Costa, na Travessa do Conde da Ponte. Proliferavam, igualmente, muitos
carpinteiros civis, como José dos Santos, na Calçada de Santo Amaro, e Luís Guilherme dos
Santos Azevedo, na Rua das Fontainhas, além da Empresa Anglo-Portuguesa, na antiga Rua
de Cascais, só para referir alguns.

O desenvolvimento do sector conserveiro no País beneficiou, igualmente, algumas


metalúrgicas, como a Société Générale Metallurgique, que já referimos anteriormente, e que
se dedicava agora a produzir entre outros produtos, chaves para latas de conservas. Era este
também o caso da unidade Viúva Maceira & Filhos, instalada na Rua da Junqueira. Esta
realidade parece reforçar a vitalidade das diversas oficinas que se já se dedicavam à produção
de pequenos produtos metalúrgicos, elas que representavam o exemplo mais claro da
complementaridade entre os diversos sectores industriais do bairro. Não se estranhe então que
o já elevado número de serralharias já existentes tenha sido aumentado neste período.
Exemplos dessa proliferação são as unidades que encontramos, em 1917, como a de André de
Almeida, na Rua Vasco da Gama, de Augusto & Dias, na Rua de Alcântara, de Bernardo
Manuel, na Rua da Cozinha Económica, de Manuel & Soares, na Rua do Alvito, de Augusto
& Dias, na Rua de Alcântara, entre outras.

181
Telo, António José - “A Busca Frustrada Frustrada do Desenvolvimento, ob.cit.. p. 128
86
No contexto nacional este sector representava 9,1% dos trabalhadores da indústria
portuguesa, sendo que a maior concentração destes estabelecimentos ocorria na periferia de
Lisboa.182

Em 1917 pautava o bairro também um importante conjunto de unidades de maior


dimensão, e de formação mais antiga, que iam sobrevivendo à guerra. Algumas tinham
crescido, na verdade, a partir de pequenas oficinas. Era esse o caso da agora designada
Cardoso, Dargent & C.ª, na Travessa do Conde da Ponte, a anterior L. Dargent. Produzia,
entre outros produtos, caldeiras a vapor. Existia também a Fábrica Promitente, de Ramires
Sobrinho, na Rua 24 de Julho, que fabricava ascensores e monta-cargas hidráulicos e
eléctricos, além da Vúlcano & Collares, dirigida, depois de 1916, por Carlos Alfredo da Silva,
e da Parceria dos Vapores Lisbonense, que também produzia caldeiras a vapor. Por último
persistiu a H. Parry & Son, a Empresa Industrial Portuguesa, que continuava a laborar na
Rua Luís de Camões, a Cooperativa Industrial Social, na Rua 24 de Julho, e a Empresa
Progresso Industrial, que produzia parafusos, na Rua das Fontainhas, entre outras.

Paralelamente a estes sectores o bairro conhecia, no final da guerra, um conjunto de


outros ramos de expressão mais diminuta. Eles que eram caracterizados por unidades de
pequena dimensão funcionando, globalmente, com uma fraca presença de máquinas. Muitas
destas unidades relacionavam-se com o sector da construção. Era esse o caso da F. H.
D’Oliveira & C.ª, um dos maiores estabelecimentos do bairro, neste sector. Produzia, entre
outros produtos, banheiras e azulejos.

Também viradas para o sector da construção, e conhecendo uma importante dimensão,


encontravam-se as fábricas de cerâmica. Destacavam-se, de entre elas, a Inovadora
Portuguesa, de Feitas & C.ª, na Ruas das Fontainhas, a unidade de Eduardo Augusto Pinto de
Magalhães, na Rua Maria Pia, a Fábrica 24 de Julho, que produzia ladrilhos, a de J. Lino &
C.ª, na Rua do Cais do Tojo, e a de R. Potau & C.ª, na Rua Saraiva de Carvalho, igualmente a
produzir ladrilhos, e a Xavier & Ferraz, do mesmo ramo, perto do Calvário. Importa referir
também as unidades mais direccionadas para a produção de loiça, como a Lopes & C.ª e a
Fábrica de Alcântara, na Rua Gilberto Rola. No contexto nacional, refira-se, a cerâmica
ocupava, de acordo com a Estatística Industrial de 1917, 3,4% dos operários nacionais.183

182
idem, ibidem, p.128.
183
idem, ibidem, p.128.
87
De sublinhar também a importância do sector químico, dominado pela CUF, mas
onde se podem encontrar outros estabelecimentos, como a fábrica de Santos Secretário, na
Rua da Cruz, e da Viúva Reis & C.ª, Lda, na Rua da Fábrica da Pólvora, que preenchiam uma
actividade direccionada para a produção de adubos para a agricultura nacional.

No fim da guerra permaneciam ainda algumas das actividades de fixação mais antiga
no bairro. Era o caso da produção de cal, onde se destacavam a Empresa Cerâmica de Lisboa,
localizada na Ponte Nova, e a unidade de F. H. D’Oliveira & C.ª, já referida, que também se
dedicava a extrair cal no Casal do Alvito. Nos curtumes mantinha-se a Alcântara & C.ª, na
Travessa da Horta Navia, e a Benitez & Comt.ª, na Vila Pouca, continuando este sector a
privilegiar a localização espacial que já lhe tínhamos apontado. Estes anos são igualmente
pautados pela permanência de unidades que se dedicavam à produção de guano, apesar da
contestação que era feita à presença destes estabelecimentos em áreas próximas das
habitações, como a unidade de Santos Secretario, na Rua da Cruz.

Havia ainda, além destes, um conjunto de oficinas que moldam os sectores com menor
dimensão no bairro, mas em crescendo, como a produção de calçado, de papel, de vidro, as
gráficas e o cimentos, apenas para referir alguns, embora contendo unidades de dimensão
reduzida.

Na realidade, a principal característica do tecido produtivo alcantarense do pós-guerra


é a continuação da tendência para a proliferação de unidades de pequena dimensão que
vinham pautando a economia local do bairro desde o início do século. A guerra parece surgir,
desta forma, como um elemento que vem reforçar a tendência para a criação de muitas
oficinas de cariz artesanal. Este fenómeno vinha sendo impulsionado pelo estímulo do
desenvolvimento urbanístico de Lisboa que proporciona a emergência de muitas unidades de
traço oficinal viradas para o consumo local, e agora é reforçado por muitos estabelecimentos
que aproveitam a oportunidade da guerra para laborarem fazendo uso de um pequeno número
de braços e estando quase desprovidos de máquinas. Este fenómeno é transversal, de certa
forma, aos diversos ramos industriais, mesmo aqueles mais propícios à existência de unidades
de grandes dimensões.184

O final do conflito encontra o tecido produtivo do bairro na encruzilhada entre estas


duas realidades. Por um lado, assistia-se à explosão de um espectro alargado de pequenas
unidades; por outro, vislumbra-se uma certa subtracção do espaço Alcântara como um espaço

184
idem, ibidem, p. 144.
88
propício à instalação industrial, por excelência, dois factores que parecem fazer dos anos 20
um período de profundas transformações do tecido produtivo de Alcântara.

2. Anos 20, uma década de decadência?

2.1. A ilusão do fim da guerra

Quando chegamos à década de 1920 que similitudes apresenta o tecido produtivo de


Alcântara quando comparado com aquele estruturado na segunda metade do século XIX? De
que forma as novas dificuldades aí colocadas aos estabelecimentos mais modernos terão
forçado o desaparecimento de muitas das grandes fábricas que o bairro acolheu desde meados
do século XIX?

Importa perceber primeiramente, para uma mais clara percepção deste período, e
perseguindo a perspectiva da totalidade do desenvolvimento industrial nacional, que o
momento que se seguiu ao final da Grande Guerra parece ter representado um novo fôlego
para muitas das unidades instaladas no bairro. Na verdade, a política económica seguida no
pós-guerra pelo Partido Democrático de António Maria da Silva procura ir no sentido de
fomentar o tecido industrial nacional. A industria beneficia, por um lado, de uma política
económica inflacionista que protege o mercado interno e, no mesmo sentido, de um conjunto
de obras, a desenvolver nas colónias, que visavam fornecer o alargamento do mercado
colonial e potenciar a sua capacidade de absorção dos produtos industriais produzidos nas
fabricas da metrópole.185 Da perspectiva da análise da industrialização do País esta nova
politica económica só começa a ser verdadeiramente implantada depois dos finais de 1919,
quando a crescente desvalorização do escudo quase que impossibilita a importação de
produtos estrangeiros libertando, desta forma, o mercado nacional para os produtos
produzidos pelas fábricas portuguesas.186 O resultado, como o sintetiza António José Telo, «é
um importante surto de desenvolvimento com o crescimento de importantes sectores pouco
desenvolvidos, favorecido pela aprovação de poucas horas de trabalho, que conduz à
modernização das indústrias artesanais».187 Ainda assim o têxtil é aquele que conhece, nestes
anos, um maior desenvolvimento, assistindo-se à duplicação da importação do algodão em
rama e de lã entre 1919 e 1921.188 No seu conjunto, a importação de matérias-primas para a

185
idem, ibidem, p.152.
186
idem, ibidem, p.152.
187
idem, ibidem, p.152.
188
idem, ibidem, p.152.
89
indústria passa de 99 000 contos, em 1919, para 502 000 contos em 1922, sendo uma
importante parte desse investimento empregado em nova maquinaria.189

No contexto mais restrito dos quatros bairros administrativos de Lisboa a cidade


conheceu, entre 1917 e 1920, o registo de 529 estabelecimentos. Desses, 119 foram registados
no 4.º Bairro, o qual corresponde à zona ocidental da cidade. Os dados do Boletim do
Trabalho Industrial, ao definirem com um sentido muito abrangente o que entendem por
indústrias, não permitem clarificar, com exactidão, qual a quantidade de fábricas
propriamente dita que foi registada neste período. No mesmo sentido, a elaboração desta
série, gizada segundo a organização administrativa da cidade (Anexo 9) não só não nos
permite compreender melhor quais as consequências que o surto industrial ocorrido entre
1919 e 1921 produziu em Alcântara, como o seu teor, de cariz estatístico, promove a
impossibilidade de obtermos um conhecimento mais profundo sobre a individualidade das
indústrias registadas.

Da análise destes dados percebe-se, ainda assim, que no período compreendido entre
1917 e 1920, o espaço administrativo de Lisboa onde se situava Alcântara, parece ter
conhecido alguma vitalidade económica, conforme nos mostra a quantidade de
estabelecimentos registados neste período. De facto, 33,5% das indústrias registadas na
cidade, neste período, localizavam-se no 4.º Bairro. Dos sectores que parecem conhecer um
maior estímulo destaque para a grande percentagem de unidades direccionadas para o sector
agrícola, 25,99% do total dos estabelecimentos. Em segundo lugar surgem as unidades
pertencentes ao sector químico, com 18,64% dos estabelecimentos, enquanto 14,69% de
unidades classificadas pertencem ao sector vidreiro.

Refira-se, novamente, que os dados presentes no Boletim do Trabalho Industrial, não


se reportam exclusivamente a fábricas, propriamente ditas, mas a um agregado de
estabelecimentos que obedecem a um critério largo de classificação, num espectro que se
estende do tecido industrial a um conjunto de pequenas oficinas. Na verdade, muitas destas
unidades assemelham-se mais a estabelecimentos comerciais do que a fábricas, conforme a
temos vindo as apresentar. Referimo-nos, essencialmente, ao grande número de ferreiros, de
carpinteiros, ou de sapateiros que, podendo ser o seu estabelecimento enquadrado nos dados
do Boletim do Trabalho Industrial, direccionam a sua produção da sua pequena oficina para o
consumo directo pela população do bairro.

189
idem, ibidem, p.152.
90
Este conjunto de dados sugere-nos que, chegada a década de 20, a economia local de
Alcântara parece ser dirigida não tanto pelas grandes unidades fabris que tinham pautado o
bairro desde meados do século XIX, mas pela proliferação de um grande número de pequenos
estabelecimentos que se distribuem pelas ruas do bairro, sendo que muitos deles eram
dedicados exclusivamente à actividade comercial.190 Esta ideia foi igualmente colocada por
Frédéric Vidal na tese que anteriormente referimos. O autor, através da análise do imposto
municipal estabelecido sobre o comércio e a indústria, pela CML,191 centrando-se no primeiro
semestre de 1930 e de 1931, e alertando para a distinção que não é feita com precisão, por
essa instituição, entre fábricas, oficinas e algumas lojas, identifica um grande número de
oficinas direccionados para o consumo local, muitas vezes efectuado dentro do próprio
bairro.192 Estritamente como fábrica são identificados 36 estabelecimentos, um número que
rivaliza com os 18 sucatas, as 19 padarias, os 28 barbeiros, as 30 unidades de venda e
armazém de carvão e de vinho, os 46 ateliês, as 88 lojas e depósitos e as 94 mercearias de
vinhos e legumes.193 A afirmação de uma economia local pautada pelos pequenos
estabelecimentos é, segundo o autor, ainda mais vincada quando olhando para a mesma fonte,
nos mesmos anos, apenas 40 dos 752 estabelecimentos declaram valer mais de 50 000
escudos, sendo que 347 declaram entre 1000 e 5000 escudos, e 269 entre 250 e 1000
escudos.194

Apesar da década de 1920 permitir uma melhor análise desta realidade, por ser o
período em que ela conhece uma maior afirmação, a tendência para grande proliferação de
pequenos estabelecimentos de cariz comercial, ainda que englobem igualmente a vertente
produtiva, vinha já sendo desenvolvida desde o início do século XX, quando o bairro viu
sendo diminuída a sua vertente periférica em relação a Lisboa, ao mesmo tempo que viu
nascer uma economia própria de um espaço que conhecia já uma grande densidade de
urbanização.

Esta realidade, dum local que vê emergir em si as funções comerciais e de prestação


de serviços, está patente, a título de exemplo, nos Livros de Licenças para Estabelecimentos,

190
Vidal, Frédéric, ob.cit.. p. 78
191
Este imposto municipal foi fixado em 1918 e centra-se sobre o valor das instalações de comércio e de
indústria presentes na cidade e, em 1921, existiam cinco taxas de imposto, de 10 % a 18 %, em função do seu
valor, sendo o imposto pago semestralmente. Veja-se, para uma melhor conhecimento, Vidal, Frédéric, ob.cit..
pp. 76-77.
192
idem, ibidem, p. 79.
193
idem, ibidem, p. 79.
194
idem, ibidem, p. 79
91
Indústria e Ocupação da Via pública,195 presentes nos Arquivos Municipais da CML. Apesar
de não permitirem um conhecimento completo da forma como as fábricas, as pequenas
oficinas e as lojas se encontravam distribuídas pelas diversas ruas de Alcântara, constituem
uma fonte incontornável no sentido de uma melhor apreensão dessa mesma distribuição.
Através da análise desse novo arranjo do tecido económico, olhando para uma das principais
vias do bairro, a Rua das Fontainhas, entre o início do século, e o germinar da Grande Guerra,
percebe-se como a própria evolução demo-urbanística impulsionou uma economia local na
qual se assistiu à emergência da pequena loja/oficina. O processo de industrialização iniciado
desde meados do século XIX, como vimos, funcionou, desta forma, como arrastamento para
um grande número de actividades subsidiárias das várias fábricas de maiores dimensões
criadas no bairro, nesse período. Assim, desde o início do século XX encontramos a
emergência de duas realidades distintas que pautaram a economia do bairro.

Tabela 2
Estabelecimentos Registados na Rua das Fontainhas (1902-1913)

1902-1907 1908-1913
carpintaria carpinteiro
fundição de ferro carpinteiro
fábrica de massas venda de vinho
oficina de carruagens venda de carvão
fábrica mecânica carpinteiro
ferro velho ferreiro
canastreiro fundição de ferro
fábrica de ladrilhos fábrica de parafusos
canastreiro fábrica de ladrilhos
carpinteiro
ferreiro
carpinteiro
fábrica de torrefacção de café
Fonte: Licenças para Estabelecimentos, Indústria e Ocupação da Via Pública, Lisboa: Arquivo do Arco
do Cego, 1900-1917.

Evoluíram, por um lado, as fábricas de maior dimensão, pautadas pela lógica de


localização e de funcionamento que sublinhamos anteriormente. Esta era a dinâmica que,
como temos vindo a referir, caracterizou a economia de Alcântara até pelo menos aos

195
Licenças para Estabelecimentos, Indústria e Ocupação da Via Pública. Lisboa: Arquivo do Arco do Cego,
1900-1917.
92
primeiros anos do século XX. Paralelamente a este modelo, e dele subsidiário, emergiu uma
economia local, no sentido mais restrito do termo, na qual um conjunto de lojas/oficinas
produziam, essencialmente, para a população de Alcântara.

Obviamente que, num primeiro momento e até ao início do século XX, a


industrialização foi o grande factor que permitiu o desenvolvimento de uma lógica económica
mais complexa. Mas agora, depois dos anos 20, não só esta nova realidade da vida económica
de Alcântara não estava tão dependente dos factores que permitiram a fixação anterior de
fábricas modernas, como terá funcionado possivelmente, como temos vindo a referir, como
um entrave à fixação de novas unidades de médias e grandes dimensões, cerceando muitas
das vantagens que o bairro apresentara, mormente, a oferta de espaço.

A Alcântara que encontramos no início do século XX, já plenamente integrada em


Lisboa, conhecia assim também o mesmo processo de desindustrialização que marcou muitas
das zonas que conheceram um assentamento industrial pioneiro, em diversas cidades
europeias, sobretudo quando essas áreas, que eram periféricas aquando do início do seu
desenvolvimento industrial, foram engolidas pelo próprio desenvolvimento urbanístico das
cidades que ajudaram a desenvolver, um fenómeno que levou à mudança de muitas unidades
para locais ainda mais periféricos e à extinção de muitas outras.

Retomando o exemplo de Barcelona, o processo de desindustrialização, aí ocorrido, e


efectuado do centro para as periferias da cidade, é apresentado por Jordi Nadal como um dos
factores que transformaram Sant Martí, em meados do século XIX, num dos principais bairros
industriais de Barcelona, absorvendo as unidades que não cabiam já no saturado centro
amuralhado da cidade que se apresentava limitado espacialmente para acolher as diversas
fábricas que iam sendo criadas. Exemplificando, Nadal analisa o processo de
descongestionamento e expansão industrial de Barcelona196 recorrendo à comparação da
concentração industrial, no centro da cidade, conforme ela ocorreu em 1861 e em 1904. Este
processo resulta, sinteticamente, no grande abandono do centro pelas grandes unidades dos
sectores dominantes em 1861 – o têxtil, a metalúrgica, o sector químico, entre outros –
emergindo, em seu lugar, de estabelecimentos virados para a produção de materiais de
construção e produtos alimentares, globalmente de menores dimensões.

À semelhança do que ocorre em Alcântara, os primeiros anos do século XX são


caracterizados, em Sant Marti, pela maior afirmação de sectores menos modernos, como os

196
Nadal, Jordei e Tafunell, Xavier, ob.cit. p. 119.
93
curtumes ou os estabelecimentos direccionados para a construção, entre outros, que
utilizavam apenas 6,5 % da energia total usada na cidade. Constituíram, no entanto, 20% do
total das empresas, em 1904. Entre 1904 e 1933 passaram, inclusive, de 142 para 360
unidades.197 Este crescimento deve-se, segundo o autor, ao aprofundamento do processo de
industrialização, da qual deriva a necessidade das maiores unidades pelos produtos que estes
estabelecimentos produziam, e do impulso da urbanização que, em conjunto, promoveram a
diversificação produtiva.198

Nesta perspectiva, e voltando à realidade de Alcântara, o surto ocorrido entre 1919 e


1921 terá constituindo, também ele, mais um elemento impulsionador do fomento de
pequenas unidades intensificando-se, ao que tudo indica, um certo declínio de muitos dos
grandes estabelecimentos de formação mais antiga. Este cenário terá sido ainda mais vincado
quando, ainda no ano de 1921, despoletou uma crise internacional que afectaria sobretudo,
alguns dos ramos do bairro que conheciam, tradicionalmente, alguns dos estabelecimentos
maiores, como os têxteis e a metalurgia.199

2.2. 1922-1926: O tecido produtivo de Alcântara num contexto de crise da indústria


nacional

Em 1922, terminada a crise, a indústria nacional continuou a beneficiar de uma ainda


mais acentuada desvalorização do escudo, que lhe permitia dominar o mercado nacional e
alguma afirmação no mercado externo.200

O ano de 1923 seria já, todavia, pautado por uma diferente realidade, com a indústria
nacional a confrontar-se com a falta de crédito, com o aumento do proteccionismo em vários
países europeus - que lhe dificulta a exportação dos seus produtos - e com a diminuição da
capacidade de absorção do mercado interno, uma situação potencializada pela queda do poder
de compra e pelo aumento dos produtos agrícolas.201 Como sublinha António José Telo, «em
fins de 1923 o modelo de crescimento industrial baseado na inflação parecia ter atingido os

197
idem, ibidem, p 119.
198
idem, ibidem, p. 201.
199
Telo, António José - “A Busca Frustrada do Desenvolvimento”, ob.cit.. p. 154.
200
idem ibidem, p. 158.
201
idem ibidem, p. 159.
94
seus limites: a grande desvalorização do escudo era acompanhada por uma retracção do
mercado, e não a um alargamento, como sucedeu até aí».202

A mudança da política económica não favorece, contudo, o tecido industrial nacional.


Em finais de 1923 surge o primeiro governo conservador que inaugura um novo sentido da
política económica, definindo agora, como principal objectivo o «saneamento financeiro».203
Esta política de equilíbrio orçamental inaugura, para a indústria, uma «crise profunda e
duradoura» dirigida pela crise colonial, pela retracção dos mercados externos pautados agora
por um crescente proteccionismo e, finalmente, pela valorização do escudo que vem castrar a
principal vantagem competitiva dos produtos fabricados em Portugal, o seu baixo valor.204

Na globalidade, e face às dificuldades que a indústria de Alcântara conhecia, o início


do século XX e, sobretudo, os anos 20, constituem, para Alcântara um importante período de
mutação do seu tecido produtivo, com o bairro a assistir ao declínio de muitas das unidades
que estavam aí instaladas e, simultaneamente, à emergência de novas unidades. Na verdade,
quando comparados com os anos que se seguiram à Grande Guerra, a crise sentida pela
indústria depois de 1922 parece ter sido mais dura com os estabelecimentos mais antigos de
Alcântara.

Como referimos, uma das características destes anos foi o desaparecimento de muitas
das maiores e mais antigas fábricas do bairro. Vejamos agora alguns desses exemplos. Umas
das unidades que se encontrava em grandes dificuldades era a fábrica impulsionada pelo
Conde de Burnay, a Empresa Industrial Portuguesa, aquela que tinha sido uma das mais
modernas. Este estabelecimento tinha sido mesmo a primeira fábrica portuguesa a produzir
aço através de um convertidor do tipo de Bessemer, no ano de 1905, depois de ter recorrido à
ajuda de um técnico alemão, de nome Roeder. A empresa continuou a crescer nos anos
seguintes. Em 1911 contava com cerca de 200 operários nas suas oficinas de fundição, usando
225 CV, enquanto em 1882 usara 32 CV.205 Saiu beneficiada do período da Grande Guerra,
ao fornecer ferro, aço e armamento para os exércitos participantes na guerra,206 conhecendo aí
o seu momento dourado. Seria integrada, no início dos anos 20, num grupo liderado pela
Companhia União Metalúrgica, através de um processo de concentração industrial horizontal.

202
idem ibidem, p. 159.
203
idem ibidem, p. 161.
204
idem ibidem, p. 163.
205
Custódio, Jorge - “Empresa Industrial Portuguesa”, ob.cit.. pp. 334-335
206
idem, ibidem, p.335.
95
O pós-guerra apresentou-se, todavia, doloroso para a companhia e, em 1924, acabaria por
encerrar as suas instalações em Santo amaro.207

Já a CUF conhecia uma situação diferente. Como vimos, iniciara no início do século
XX um processo de desinstalação de Alcântara que durará quase até final de novecentos.
Depois de 1909 deixou, em Santo Amaro, uma unidade que se dedicava ao sector têxtil.
Permaneceu também, no Largo das Fontainhas, uma unidade que produzia de óleo de
amendoim. Trata-se de uma actividade que será também transferida para o Barreiro, em 1934,
porque o desenvolvimento deste produto torna impossível a sua conservação no espaço
diminuto da fábrica do Largo das Fontainhas, segundo a justificação da própria CUF.208 Na
globalidade, depois de 1909, e durante grande parte do século XX, o desmembramento da
empresa, no bairro, decorre de forma progressiva. Isto apesar de, em 1915, o grupo ter
colocado em funcionamento uma nova central para gerar energia, e, em 1937, ter dado início
à reconstrução da fábrica de óleo nas Fontainhas.

As grandes companhias do sector têxtil são também elas grandemente afectadas. A


Companhia de Fiação e Tecidos de Santo Amaro, depois de se encontrar em plena actividade,
até ao início da I.ª República, entra aí num processo de lenta agonia. Em 1917, estando ainda
em funcionamento, encontra-se já em grandes dificuldades. Em 1920 ocorre, inclusive, o seu
desmoronamento, passando os seus edifícios, em Santo Amaro, para a indústria Portugal e
Colónias.209

Na mesma situação de declínio encontramos a Companhia Lisbonense de Estamparia


e Tinturaria de Algodões, uma unidade que encontraremos, em meados do século XX, a
pertencer à Sociedade Têxtil do Sul, Lda.210, designando-se aí Fábrica da Cabrinha, fruto de
se localizar no bairro da Cabrinha.

Já a Bernardo Daupias & C.ª conhecera uma desestruturação mais precoce. O início
do século XX encontra a empresa numa grave situação. Depois da morte do conde de
Daupiás, em 1900, dá-se o encerramento definitivo, embora o desmembramento ocorra de
forma progressiva. O seu vasto espaço ficou dividido entre uma oficina de automóveis e,

207
Vidal, Frédéric, ob.cit.. p. 75.
208
Álbum Comemorativo da Companhia União Fabril. Lisboa: CUF, 1945.
209
Custódio, Jorge - “Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão em Santo Amaro”. In Dicionário da História de
Lisboa. Santana, Francisco e Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, pp. 376-378.
210
Custodio, Jorge - “Fábrica da Cabrinha (em Alcântara)”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana,
Francisco e Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, p. 372.
96
possivelmente, pela Sena Sugar.211 Numa terceira parcela de terreno nasceu a fábrica Perez,
Ferreira & C.ª, Lda., criada por antigos operários da firma M. Carp, depois de terem
adquirido os terrenos, em 1908.212

Percebe-se assim que, ao contrário do que se encontra espelhado no Anuário


Comercial de 1917, estejam ausentes das páginas do Anuário de 1926213 muitas das antigas
fábricas que pautavam o revelo de Alcântara. Referimo-nos, sobretudo, às grandes unidades
que se dedicavam à indústria têxtil, mormente as companhias de fiação e as estamparias de
maior dimensão. Emergem, em contrapartida, alguns estabelecimentos que já mereciam um
especial destaque no volume de 1917, como a fábrica que se dedicava à produção de tecidos
de lã, de Perez, Ferreira & C.ª, que já referimos, ou a Companhia Portuguesa de Algodões,
localizada em Vila Pouca, mantendo também uma unidade de produção em Rio de Mouro.

Os anos 20 não significam, assim, um absoluto abandono de fábricas de maior


dimensão do espaço e Alcântara. Opõe-se à ideia de uma decadência absoluta do tecido
industrial as diversas unidades cujos sectores não abraçavam, de uma perspectiva global,
estabelecimentos de maior dimensão, ou aqueles que procederam a um progressiva variedade
da sua produção, afirmando-se os que fabricavam produtos que estavam mais de acordo com
as exigências mutáveis de um mercado de consumo em muito esculpido pela demanda de uma
nova e crescente população urbana de Lisboa. É esse o fenómeno que ocorre nas
metalúrgicas, onde se assiste à permanência de muitas unidades fundadas há várias décadas
atrás, mas que souberam direccionar a sua produção conforme as exigências das diversas
conjunturas. É o caso, sublinhe-se novamente, da Sociéte Générale Métallurgique, na 24 de
Julho. Gerida por Ferdinand Viaud, especializou-se no fabrico de chaves para latas de
conservas, aproveitando o impulso que a guerra deu às conserveiras. Mantêm-se igualmente
em funcionamento outras unidades de criação mais antiga, como a H. Parry & Son, Lda., na
Rua 24 de Julho, a Parceria de Vapores Lisbonense, além da Vulcano & Collares, que
conhece um processo de reestruturação nestes anos, como já referimos, e que produz agora
instalações frigoríficas, material agrícola, prensas de vinho e azeite, vigas, colunas, portões,
reparações em automóveis, motores a gás pobre, máquinas a vapor, máquinas para

211
Custódio, Jorge - “Daupiás (Palácio e Fábrica)”. In Dicionário da História de Lisboa. Santana, Francisco e
Sucena, Eduardo (Dir.). Lisboa, 1994, pp. 329-378.
212
idem, ibidem, pp. 329-378.
212
idem, ibidem, pp. 329-378
213
Anuário Commercial de Portugal Ilhas e Ultramar. Caldeira, Pires (Coord.). Lisboa, 1926.
97
refrigerantes, etc., além da L. Dargent, que se mantém, em laboração na Travessa do Conde
da Ponte.

Mais no interior do bairro fixavam-se algumas unidades de formação mais recente,


como a J. B. Cardoso, localizada em frente à Carris, a Sociedade de Construções Metálicas,
na Rua Luís de Camões, e a Empresa Mecânica, Lda., no Largo das Fontainhas, esta mais
vocacionada para construir válvulas para torneiras e prensas hidráulicas. Era vizinha da
Promitente, Lda., uma serralharia civil que produzia moldes, máquinas para cerâmicas,
conservas e elevadores, e da unidade de Eduardo Gomes Cardoso, que se dedicava à
construção de geradores de gás, de bombas semi-centrifugas, de bancadas, entre outros
produtos.

Outro sector igualmente a manter uma importante vitalidade e que, à semelhança do


sector metalúrgico, é também ele preenchido por unidades de dimensão bastante menor que as
fábricas têxteis que dominaram o bairro, é o da alimentação. Continuam a compô-lo as
unidades ligadas à moagem, como a Companhia Comercial e Industrial Portuguesa, com a
fábrica de bolachas na Pampulha que tinha sido fundada por Eduardo Costa, a Fábrica de
Moagem Esperança, na Rua 24 de Julho, e a fábrica de chocolates “Suiça”, na Rua do Cais da
Alfandega Velha. Laboravam, igualmente, como a já referida “Napolitana”, a fábrica de
fermentos e gelo da Companhia de Portugal e Colónias, na Rua da Cozinha Económica, a
Companhia Frigorífica Portuguesa e a fábrica de gelo Pólo. Refira-se ainda as unidades que
se dedicavam à refinação de açúcar, na Av. Da Índia. Os anos 20 viram ainda nascer um
conjunto de estabelecimentos que caracterizariam o bairro durante uma grande parte do século
XX, como a Sociedade Industrial Aliança, uma fábrica direccionada para a produção de
doces, e a Fábrica de Chocolates Regina, na Rua Sá de Miranda.

A mutação do tecido produtivo do bairro beneficia muitas das unidades que tinham
nascido sob o impulso do surto de construção que pautou Lisboa desde meados do século,
como a António Moreira Rato & Filhos, a Goarmon & C.ª, e a Empresa Cerâmica de Lisboa,
com a sua fábrica instalada na Rua Saraiva de Carvalho.

Refira-se, por último, a Companhia Industrial Portuguesa, que conhecendo uma


manifesta difusão geográfica das suas unidades, possuía uma fábrica em Alcântara, para além
daquelas que detinha na Póvoa de Santa Iria e na Marinha Grande para a produção de super
fosfato de cálcio, carbonato de soda, sulfatos de soda e ferro, além does vidros e dos cristais.

98
2.3. Um tecido produtivo renascido

Globalmente, e à semelhança do que acontecera em Barcelona, o período que medeia


entre a instauração da I.ª República e o início dos anos 30 é caracterizado, quando analisamos
o tecido produtivo de Alcântara, por uma mutação consideravelmente profunda do seu tecido
produtivo da qual emergem, como factores mais visíveis, a decomposição das grandes
unidades surgidas depois de meados do século XIX, assistindo-se, consequentemente, à
diminuição, em importância, dos sectores mais antigos do bairro, mormente, o têxtil. Uma
segunda consequência desta mutação é a maior afirmação progressiva de um conjunto de
sectores, como o da construção e o da alimentação, culminando um processo que se iniciara
ainda antes da viragem do século. A principal consequência desta transformação é o quase
desaparecimento de unidades de grandes dimensões, sobretudo no que reporta ao número de
operários que empregavam, gerando a ideia de decadência globalidade do tecido industrial do
bairro depois da década de 30.

Apesar desta realidade, os anos 20 não devem ser encarados como o declínio
definitivo do tecido produtivo industrial de Alcântara, mas sim como o período de um certo
encerramento do fomento industrial iniciado em meados do século XIX, com as
características que lhe são inerentes, e a emergência de uma nova realidade.

De facto, a década de 30 encontra Alcântara ainda tingida por várias unidades de uma
dimensão que importa assinalar. Esta realidade percebe-se, a título de exemplo, nos diversos
estudos efectuados para a elaboração do Plano de Groer214 nos quais se procedeu à
elaboração da «relação das fábricas e oficinas mais importantes das principais indústrias
existentes na cidade de Lisboa.»215 Tendo o plano sido publicado em 1938, o seu conteúdo
apresenta um conjunto de estudos que foram sendo elaborados desde o início da década de 30
sendo, de certa forma, e ainda que despido de alguma precisão ao nível do levantamento
industrial, um importante documento para se perceber a dimensão de algumas fábricas da
cidade, a década de 30. Na zona de Alcântara, e nas suas imediações, havia cerca de 20
estabelecimentos de dimensão assinalável. Na Rua da Junqueira, perto da Ponte Nova,

214
O Plano de Groer foi estruturado entre 1938 e 1943 quando Duarte Pacheco chama o urbanista Etienne de
Gröer para elaboar o Plano Geral de urbanização e Expansão de Lisboa. Veja-se, sobre este plano, “Urbanismo”.
in Dicionário de História de Portugal, Vol. IX. Barreto, António e Mónica, Maria Filomena (Coord.), Porto:
Figueirinhas, 2000.
215
Plano De Groer. Elementos para o estudo do plano de urbanização da cidade de Lisboa (Elaborado pelo
Engenheiro civil António Emídio Abrantes). Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa (Direcção dos Serviços de
Urbanização e Obras, 1938.

99
localizava-se a Sociedade Industrial de Calcários, Lda., que ocupava 16 operários e tinha 16
CV de potência, que se dedicavam à extracção de cal. Já na Rua da Praia da Junqueira
localizava-se a Percy Ellis, de assentamento mais antigo, que produzia rolhas de cortiça, e que
dava trabalho a 149 operários.

A Empresa Progresso Industrial mantinha-se em funcionamento, com uma fábrica na


Av. 24 de Julho, na freguesia de Santos, com 155 operários e 245 CV. Dedicava-se a fabricar
parafusos, arame farpado, entre outros produtos, enquanto na Rua das Fontainhas ocupava 88
homens e usava 146 CV para fabricar parafusos, porcas, rebites, etc. Tendo igualmente
sobrevivido aos anos 20, a L. Dargent & Lda, que nos tem acompanhado nesta exposição.
mantinha-se a fabricar caldeiras, enquanto a Sociedade Portuguesa de Construções Metálicas,
Lda., na Rua Luís de Camões, mantinha 158 homens e usava 92 CV. Na Rua do Arco do
Carvalhão, na freguesia de Santa Isabel, tinha-se instalado a Sociedade de Parafusos
Florescente, que fabricava parafusos, recorrendo a 73 operários e a 255 CV de energia. De
destacar ainda, nas metalúrgicas, a fábrica de Progresso Mecânico, de F. José Simões, Lda., e
uma unidade localizada na Rua João de Lemos, em Alcântara, que ocupava 86 operários e 42
CV para produzir alfinetes, agulhas, ganchos para os cabelos, entre outros produtos. Também
a produzir agulhas laborava, na Rua Rodrigues de faria, a Manufactura Portuguesa de
Agulhas, Lda., com 66 operários e 17 CV.

Tabela 3
Principais estabelecimentos em Alcântara na década de 1930
Estabelecimento Morada Operários CV
Sociedade Industrial de Calcários, Ltd Largo da P. Nova 16 25
Empresa Progresso Industrial Av 24 de Julho 155 245
Empresa Progresso Industrial Rua das Fontainhas 88 146
L. Dargent & Lda Tv. Do Conde da Ponte 169 270
Indústria Social, Lda Av 24 de Julho 58 41
Sociedade Portuguesa de Construções Mecânicas,
Rua da Junqueira 97 57
Lda
Sociedade de Construções Metálicas, Lda Rua Luís de Camões 158 92
Companhia Decoradora Predial Rua da Junqueira 34 2.5
Sociedade de Parafusos Florecente Rua do Arco do Carvalhão 73 255
Serafim Ramos, Lda. Rua do Cais ao Tojo 27 165
Empreza Cerâmica de Lisboa Rua de Tomaz daAnunciação 134 164
Viúva de José da Silva Pinto, Ltd. Rua de Vieira da Silva 9 23
Agência Portugueza da Sociedade L’Air Liquide Rua da Junqueira 69 249
Companhia União Fabril Largo das Fontainhas 1038 1842
Companhia União Fabril Rua de Cascais 39 7
Companhia União Fabril Av. 24 de Julho 466 133
M. Carp, Lda. Rua de Bartolomeu Dias 399 441

100
Perez, Ferreira & C.ª, Rua da Cozinha Económica 233 128
Adelino Alves Ferreira Rua da Junqueira 10 43
M. Pires Nogueira Rampa dos Marinheiros 24 40
Perey Ellis Rua da Praia da Junqueira 149 34
Fábrica Progresso Mecânico Rua de João de Lemos 86 42
Manufactura Portuguesa de Agulhas, Ltd. Rua de Rodrigues Faria 66 17
Companhia Portuguesa de Alpargatas, Ltd. Rua dos Lusíadas 52 55
Serviços Industriais da Câmara municipal de
Av 24 de Julho 558 228
Lisboa
Companhia Carris de Ferro de Lisboa Rua 1.º de Maio 667 490
Cordoaria Nacional Rua da Junqueira 137 2929
Fonte: Plano De Groer. Elementos para o estudo do plano de urbanização da cidade de Lisboa (Elaborado
pelo Engenheiro civil António Emídio Abrantes). Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa (Direcção dos Serviços
de Urbanização e Obras), 1938.

Nas cerâmicas mantinha-se em actividade, na mesma freguesia, a Empresa Cerâmica


de Lisboa, que dava agora emprego a 134 operários e empregava 164 CV de energia. Já na
Rua Vieira da Silva, no interior da freguesia de Alcântara, mas de menor dimensão, estava
localizada a unidade da Viúva de José da Silva Pinto, Lda., enquadrando 23 CV e 9 operários
no tratamento de gesso.

Não obstante ter vindo a perder importância no bairro, a CUF continuava a


apresentar-se, naturalmente, como a mais importante empresa aí instalada, laborando em três
núcleos industriais. Na antiga Rua de Cascais mantinha em funcionamento a sua fábrica de
sabão, enquanto no Largo das Fontainhas produzia óleos e sabões, recorrendo a 1 038
operários e a 1 842 CV. Já na Av. 24 de Julho a sua fábrica ocupava 466 operários que
usavam 133 CV de energia, quer para produzir velas, quer nas oficinas metalúrgicas. Já na
Rocha Conde de Óbidos a CUF instalara as suas oficinas metalúrgicas e de construções
navais, que ocupavam 328 homens, fazendo uso de 183 CV.

Nos têxteis o Plano refere a continuidade da existência da unidade de fiação e


tecelagem de lã de Perez, Ferreira & C.ª, instalada na Rua da Cozinha Económica, com 233
operários e 128 CV.

No bairro mantinham-se, igualmente, alguns estabelecimentos que preenchiam


sectores de longa instalação, como as fábricas de pólvora. Era esse o caso da oficina de
Francisco Fernandes Oliveira, no Casal da Pimenteira. De sublinhar, também, a permanência
de diversas unidades de curtumes, como a de José Augusto Tavares, em Vila Pouca. Já na
Rampa dos Marinheiros estava uma marcenaria, de M. Pires Nogueira, com 24 braços e 40
CV para fabricar móveis, enquanto na Rua dos Lusíadas estava a Companhia Portuguesa de
Alpercatas, Lda., com 52 operários e 55 CV.

101
Alcântara conhecia ainda, nesta década, a presença dos Serviços Industriais da CML,
na Av. 24 de Julho, que ocupavam cerca de 550 operários, além de outras empresas, como a
Carris, com 667 operários, ou a Cordoaria Nacional, na Rua da Junqueira, com 137
trabalhadores.

O Plano de Groer não abrangerá, ainda assim, todas as unidades de média e de grande
dimensão que continuavam instaladas no bairro. Ainda assim, e através da sua análise,
percebe-se que, nos anos de 1930 Alcântara continuava a ser, no contexto de Lisboa, um dos
locais que conhecia uma maior concentração industrial, ainda que, como referimos,
estivessem já ausentes as grandes unidades fabris que tinham marcado o bairro nas décadas
anteriores.

Desta forma, o grande bairro industrial de Lisboa da segunda metade do século XIX
dá lugar a um espaço onde predominam, lado a lado, as já não tão dominantes instalações
fabris, diminuídas na importância que tiveram na economia local de Alcântara, com o grande
número de estabelecimentos que se dedicavam à actividade comercial e aos serviços, ou,
simplesmente, à permanência de uma grande quantidade de armazéns que davam apoio a toda
a actividade portuária.

102
Conclusão

Entre meados do século XIX e as três primeiras décadas do século XX Alcântara


conheceu um acentuado crescimento do seu tecido produtivo que a levaram a afirmar-se como
o grande bairro industrial de Lisboa. Que conclusões podem ser retiradas da análise deste
processo de desenvolvimento industrial?

Um factor que importa sublinhar, como primeira nota conclusiva, foi a importância do
bairro reunir no seu espaço um conjunto de características únicas que redundaram numa
grande capacidade para atrair os diversos estabelecimentos que se iam criando na cidade. A
análise mais cuidada dessas vantagens indica, no entanto, que os diversos elementos pelos
quais as diversas unidades se instalaram no bairro devem ser considerados tendo em conta, de
uma perspectiva global, dois períodos ao longo do espaço cronológico que estamos a estudar.

Importa perceber assim, primeiramente, as vantagens existentes no bairro entre 1840,


quando a industrialização de Lisboa se torna mais efectiva, e 1890, quando a capacidade
transformadora do processo de industrialização promoveu uma acentuada urbanização do
bairro. Na verdade, em meados do século XIX a cidade conheceu um importante crescimento
do tecido produtivo, em função do impulso político, que resultou na chegada ao País das
inovações técnicas e de organização do trabalho que a Revolução Industrial já proporcionava
nas regiões europeias mais desenvolvidas. Este desenvolvimento industrial ocorre numa altura
em que o centro da capital do País esgotara a capacidade para absorver estabelecimentos de
médias e grandes dimensões. À semelhança do que acontecia em diversas cidades europeias,
as zonas periféricas ganharam uma singular importância transformando-se em locais naturais
para a instalação de muitas dessas unidades. Alcântara era, nesse período, um espaço marginal
a Lisboa. Mas não era único nessas condições. A cidade conhecia um espaço vasto nos seus
limites que concorriam com o bairro pela fixação de unidades industriais. Apresentou-se
assim de singular importância as vantagens exclusivas do seu espaço.

Em primeiro lugar a presença dos recursos naturais. Destacava-se a riqueza dos seus
solos calcários. Este factor originou que se tenha instalado um conjunto de actividades de
perfil extractivo, como a produção de cal, que laboravam no bairro desde, pelo menos, o
Terramoto de 1755. Já durante as primeiras décadas do século XIX Alcântara vai beneficiar
da existência abundante de água no seu espaço fornecida, em grande parte, pela Ribeira de
Alcântara, para atrair pequenas oficinas que se dedicavam à estamparia e aos curtumes. A
constituição deste tecido produtivo de perfil pré-industrial e manufactureiro até à década de
1830 reveste-se de grande importância por dois motivos. Permitiu que o bairro de afirmasse
103
como espaço de trabalho e fosse considerado como um local natural para a instalação de
diversas actividades transformadoras. No mesmo sentido, a presença destas unidades acaba
por atrair, por si só, diversos outros estabelecimentos quando, em meados do século, ocorre
um aumento no número estabelecimentos criados.

Já no período que medeia entre a década de 1870 e o final do século XIX Alcântara
conhece o desenvolvimento de várias infra-estruturas da qual o Porto de Lisboa é o exemplo
mais importante. O porto vem valorizar o espaço do bairro ao permitir um acesso mais fácil a
matérias-primas, a energia e aos mercados coloniais que absorviam uma parte importante da
produção das unidades mais desenvolvidas. Sublinhava assim um terceiro elemento decisivo
para o desenvolvimento industrial de Alcântara, até 1890, a existência abundante de terrenos
disponíveis para a fixação industrial num local nobre do ponto de vista das unidades que
procuravam um local para se instalarem. Importa destacar, igualmente, a abertura de diversas
vias e a implantação do caminho-de-ferro, dois elementos que permitiram uma mais próxima
ligação de Alcântara a Lisboa e ao restante País.

Sublinhe-se que ao contrário dos factores naturais, a emergência destas estruturas é


impulsionada, em grande medida, pelo seu próprio desenvolvimento industrial que depois da
década de 1870 se tornara mais evidente. Acresce a estas vantagens o facto da
industrialização portuguesa ter conhecido uma conjuntura muito positiva, nessa data. De
sublinhar também o facto do bairro se localizar na zona de Lisboa que conhecia um maior
desenvolvimento industrial. Sublinhe-se, igualmente, o beneficio que retira da sua
proximidade ao importante mercado que constituía a capital nesse período. Estes são os anos,
por sua vez, em que o desenvolvimento do tecido produtivo de Lisboa funcionava como o
principal factor de atracção para os diversos fluxos migratórios que afluíam à cidade,
instalando-se nos locais mais dinâmicos da capital.

Mas o crescimento demográfico de Lisboa e o desenvolvimento urbanístico do bairro


que potencializa embora seja decorrente do processo de industrialização que ocorria há
algumas décadas apresenta, todavia, uma face menos estimulante para a fixação de novas
unidades. O cerrar da malha urbana resulta, desta forma, numa diminuição das vantagens do
bairro traduzida, essencialmente, na diminuição do espaço oferecido. Este factor vem limitar,
nas primeiras décadas do século XX, a capacidade de Alcântara atrair fábricas de médias e
grandes dimensões. No mesmo sentido, este crescimento demo-urbanístico e a consequente
maior integração na cidade de Lisboa faz emergir uma economia direccionada para o
consumo local. Proliferaram desta forma, no bairro, diversas actividades pautadas por um
104
número significativo de pequenas oficinas preocupas apenas em satisfazer as necessidade de
consumo no próprio bairro.

Em 1840 Alcântara é assim manifestamente diferente do espaço que encontramos na


primeira década do século XX. Desta forma, importa ter em conta que os factores de atracção
que tiveram um papel decisivo para a formação do tecido produtivo, conhecem uma
acentuada mutabilidade ao longo do período que estamos a estudar. Este facto ganha um
maior significado se percebermos que esta transformação contribuirá de forma decisiva para
as diferentes fases que pautaram a industrialização do bairro.

Uma segunda nota conclusiva prende-se, precisamente, com a forma como foi gerada
e evoluiu essa industrialização. Durante o espaço cronológico que pautou a nossa analise
Alcântara conheceu diferentes etapas onde da relação de interdependência entre a fixação de
unidades industriais e a sua evolução urbanística resultaram quatro períodos distintos de
industrialização.

O momentos inaugural ocorre entre a década de 1840 e 1870. Os anos 40 vêem surgir
os primeiros estabelecimentos de cariz moderno localizados no bairro. Este desenvolvimento
e promovido pelo sector têxtil. Não tendo ainda a dimensão do crescimento conhecido depois
de 1870, a sua importância advém, por um lado, de ter sido neste período que se inaugurou
uma tipologia de desenvolvimento industrial que perduraria durante as décadas seguintes, e
que pode ser caracterizado pela fixação no bairro de unidades de médias e de grandes
dimensões que recorriam a maquinaria moderna e que dependiam da proximidade ao Porto de
Lisboa para importarem a matéria-prima e a energia essencial ao seu funcionamento, e
exportarem, em alguns casos, uma parte importante da sua produção. Por outro lado, os
estabelecimentos instalados neste período foram decisivas para que nas duas décadas
seguintes tenham surgido um conjunto de actividades em muito subsidiária deste primeiro
desenvolvimento. O exemplo mais evidente advém das diversas unidades metalúrgicas, cujos
estabelecimentos mas importantes devem uma relevante parte do seu crescimento,
precisamente, às exigências de consumo fomentadas pelas unidades de maiores dimensões
que tinham sido criadas em 1840.

A introdução de um tecido produtivo moderno não se efectua, no entanto, através de


um processo de substituição das actividade de perfil pré-industrial e manufactureiro que
vinham laborando no bairro antes desta data. Uma das características mais vincadas de todo o
período que analisamos é, precisamente, a convivência de actividades próprias da I.ª
Revolução Industrial e aquelas de cariz mais moderno .
105
Entre 1870 e 1890 ocorre o tempo áureo da industrialização do bairro. À semelhança
da globalidade do País, Alcântara conhece agora um desenvolvimento industrial mais
acentuado, espelhado no significativo número de unidades de médias e grandes dimensões
que preenchem os diversos sectores industriais. O crescimento ocorrido nestas décadas
assentou, sobretudo, na afirmação dos sectores que vinham evoluindo desde meados do
século. Neste sentido, é sobretudo o têxtil e o sector metalúrgico que conhecem um maior
crescimento no número e na dimensão dos estabelecimentos em operários e em cavalos-
vapor. Decisivo terá sido o aumento significativo da procura de bens de origem industrial no
mercado nacional, uma realidade que era potencializada, sobretudo, pelo acentuado
desenvolvimento urbanístico que começara a pautar Lisboa.

O período compreendido entre 1890 e 1910 é pautado, precisamente, pelo crescimento


urbano de Lisboa e do próprio bairro. Deriva daí que os sectores que conheceram um maior
incremento foram aqueles que estavam virados para satisfazer as necessidades de uma cidade
em grande crescimento. O grande beneficiado desta fase é o sector alimentar, o qual vê
emergir um grande significativo de unidades de média dimensão. Destacavam-se, sobretudo,
as fábricas de moagem e as refinarias de açúcar. Há, naturalmente, mais factores que
concorreram para o estímulo desta actividade. Ela não teria ganho a dimensão que atingiu,
todavia, se não se tivesse formado um mercado capaz de absorver a sua produção. Igualmente
beneficiado foi o sector da construção. Quer as infra-estruturas criadas no bairro, quer as
diversas obras que resultaram da expansão da cidade possibilitaram a criação de diversos
estabelecimentos direccionados para a produção de ladrilhos, de canos, entre outros produtos.

Por outro lado, a evolução demográfica e urbanística da capital impulsionou também a


explosão de actividades industriais pautadas, globalmente, por unidades de pequenas
dimensões, como as carpintarias ou as fábricas de sapatos, a título de exemplo. Afirma-se
assim aquela que será, daqui para a frente, uma das principais características do bairro: uma
acentuada diversidade industrial.

O final da década de 1890 apresenta-se, desta forma, como um período de mudança na


tipologia do tecido produtivo do bairro. Doravante o bairro inaugura, em função do seu
desenvolvimento urbanístico, um período de uma certa estagnação. Esta nova realidade é
traduzida, sobretudo, no reduzido aparecimento de novas unidades de médias e grandes
dimensões e na explosão de pequenas e pouco modernas oficinas que estavam vocacionadas,
muitas vezes, para o consumo que ocorria no próprio bairro. A década de 1920 apresenta-se
como o culminar das dificuldades que começam a surgir na viragem do século e que são agora
106
potencializadas pelos novos desafios que o tecido produtivo de Alcântara enfrenta nesses
anos. A principal característica dos anos 20 é o desaparecimento do bairro de uma importante
parte dos grandes estabelecimentos que aí se instalaram desde 1840, fruto, sobretudo, da
diminuição das potencialidades de Alcântara como bairro predominantemente industrial.

Uma última conclusão, mas de igual importância, prende-se com a forma como terá
ocorrido a industrialização do bairro do ponto de vista da análise dos principais momentos de
fixação e desenvolvimento do seu tecido industrial. Partimos da constatação da existência de
um período de forte desenvolvimento industrial ocorrido no País na década de 1870. A análise
que efectuamos leva-nos a identificar o espaço decorrido entre essa década e o final do século
como aquele onde o desenvolvimento industrial foi, de facto, mais efectivo. Todavia, o estudo
dos principais momentos de fixação industrial no bairro permite-nos perceber a significativa
relação que existe entre os sectores que primeiro se instalaram e a evolução das actividades
posteriormente desenvolvidas. No mesmo sentido, identificamos uma linha de evolução do
tecido produtivo de Alcântara desde a década de 1840 que criou condições para o
desenvolvimento mais efectivo que decorreu depois da década de 1870. Somos levados assim
a avançar a possibilidade de um processo de industrialização no bairro mais lento e
progressivo do que aquele que é avançado para a globalidade da industrialização portuguesa
no período.

107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Fontes
1.1. Arquivos e Fundos
Arquivo da Associação Industrial Portuguesa
Arquivo do Arco do Cego
Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa
Arquivo do Grupo de Amigos de Lisboa
Gabinete de Estudos Olisiponenses
Instituto Nacional de Estatística
Instituto Nacional Torre do Tombo
Fundo do Governo Civil de Lisboa

1.2. Fontes Manuscritas


Processo preliminar de licença para a fundação e por em laboração uma fábrica com duas
machinas a vapor e fornos para fundição de ferro e bronze, estabelecida na Calçada da
tapada. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares para licenças
de estabelecimentos (1888-1900), Cx 2552.

Processo Preliminar de Licença para o Estabelecimento de uma Máchina a vapor na Fábrica


de Fundição, sita na Rua do Assento. Estabelecimentos Insalubres e Visitas Sanitárias aos
mesmos (G e H). IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorporação), Cx. 2539.

Processo administrativo para concessão de licença para montar uma máquina motor a vapor
na fábrica de massas próxima do caneiro de Alcântara n.º2, freguesia de S. Pedro em
Alcântara, Conselho de Belém. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processos
preliminares para licenças de estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2553.

Processo preliminar de licença para o estabelecimento de uma fábrica de louça vidrada na


Rua das Fontainhas, Freg.ª de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -
Processos de Licenças e Visitas Sanitárias (1890-1900), Cx. 2530.

Processo preliminar de licença para montar uma máchina a vapor da força de 6 cavallos
numa fábrica de serração de madeiras cita na Rua do Assento, n.º1, Freg.ª de Alcântara.
IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares para licenças de
estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2548.

108
Processo preliminar de licença para estabelecer, por transferência, na Rua do Cais
d’Alfandega Velha, n.º63, Freg.ª de Belém, a fábrica de manteiga artificial que se achava na
rua dos Arcos, a Alcântara, n.º28. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) – Processos
preliminares para licenças de estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2551.

Autos administrativos processados em virtude do decreto do decreto com força de lei de Vinte
e Um de Outubro de mil oitocentos e sessenta e três a requerimento de José Rodrigues da
Silveira, que requer licença para fundar uma pequena fábrica de curtumes n’um terreno faz
parte da quinta dominada de Nova nos limites do lugar de Villa Pouca, freguesia de S. Pedro
de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) – Processo de Pedidos de
estabelecimentos (1888-1897), Cx. 1730.

Requerimento de Joaquim Nunes pedia para continuar a laborar na sua fábrica de


calcinação de ossos. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) – Estabelecimentos
Insalubres e Visitas Sanitárias aos mesmos: Processos Preliminares de Licenças, Cx. 2544.

Requerimento de José Severiano Pereira para continuação da laboração da sua fábrica de


calcinação de ossos, no sítio do Arco do Carvalhão. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª
incorp) - Processo de Pedidos de Estabelecimentos (1888-1897), Cx. 1730.

Processo preliminar de licença para a fundação de um fábrica de guano na quinta do “Água


Forte”, Freguesia de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -Processos
Preliminares de Licenças Para estabelecimentos (1865-1908), Cx. 2522.

Processo de licença para a fundação de uma fábrica de gesso na Rua Nova do Cais do Tojo,
n.º50, freguesia de Santos-o-Velho. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) –Processos
preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2560.

Requerimento de Pedro Santarém para continuar a laborar na sua fábrica de velas e sebo na
Rua Direita de Santo Amaro, n.º72. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -
Processos Preliminares de Licenças Para estabelecimentos (1865-1908), CX. 2522.

Requerimento de Manuel António Garrido para continuar a laborar com uma fábrica de
velas e sebo situada no Alto de Santo Amaro, n.º33. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª
incorp.) - Processos Preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), CX.
2553.

Processo preliminar de licença para a fundação de uma fábrica de pólvora no casal


denominado de Pimenteira. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos
Preliminares de Licenças Para Estabelecimentos, Cx. 2522.

109
Processo preliminar de licença para fundar e por em laboração uma fábrica de sabão
Phenico situada na rua das Fontainhas n.º14. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -
Processos Preliminares de Licenças Para estabelecimentos (1865-1908), Cx. 2521.

Processo requerido por François Grangeon para licença para a fundação de uma fábrica de
sabão em cru no pátio da galega, Freg.ª de S. Paulo, distrito do bairro de Alcântara. 3 Maio
de 1866. Situa-se na Rua da Boa Vista, no Pátio da Galega. IANTT. Governo civil de Lisboa
(1.ª incorp.) - Processos Preliminares de obtenção de licenças para estabelecimentos, Cx.
2178.

Requerimento de Maria Vitória, sucessora de José Manuel da Cunha, para continuar a


laborar com uma fábrica de calcinação de ossos, junto ao Arco do Carvalhão, freguesia de
Sta.ª Isabel. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª Incorp.) - Processos Preliminares para
Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), CX. 2550.

Processo preliminar de licença para a fundação de uma fabrica de manipulação a picados,


cigarros e charutos, sita na Rua Vasco da Gama n.º15, Freg.ª de Santos. IANTT. Governo
Civil de Lisboa (1.ª incorp.) – Processos Preliminares para Licenças de Estabelecimentos
(1888-1900), CX. 2559.

Processo administrativo para concessão de licença para fundar uma fábrica de refinação de
açúcar na Rua da Praia de Santos. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processo
de Pedidos de Estabelecimentos (1888-1897), Cx. 1730.

Processo preliminar de licença requerida para a fundação d’uma fábrica de refinação de


açúcar na Rua de Vieira da Silva, n.º12, freguesia de S. Pedro de Alcântara. IANTT.
Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos de Licenças e Visitas Sanitárias (1890-
1900), Cx. 2529.

Requerimento de Domingos Gomes Rocha Vianna Sucessores de D. Manuel Ruas e Comp.ª


para continuar a laborar com a sua fábrica de gesso. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª
incorp.) - Processos Preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900) – CX.
2560.

Processo preliminar de licença para estabelecer, por transferência, na Rua do Cais


d’Alfandega Velha, n.º63, freguesia de Belém, a fábrica de manteiga artificial que se achava
na rua dos Arcos, a Alcântara, n.º28. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) -
Processos preliminares para Licenças de Estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2553.

Processo preliminar de licença para a fundação de uma fábrica de Estamparia e Tinturaria


de Algodão na Rua das Fontainhas n.º17, Freg.ª de Alcântara. IANTT. Governo Civil de
Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares para licenças de estabelecimentos (1888-1900),
Cx. 2547.

110
Processo preliminar de licença para fundar uma fábrica de estamparia e tinturaria
d’algodões na Rua das Fontainhas n.ªs 67 a 71, Freg.ª de S. Pedro de Alcântara. IANTT.
Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Estabelecimentos Insalubres e Visitas Sanitárias aos
Mesmos, (G e H), Cx. 2539.

Processo preliminar de licença requerida para uma fábrica de chapéus de feltro e respectiva
tinturaria no Largo da Senhora de Sant’Anna, Freg.ª de S. Pedro em Alcântara. IANTT.
Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares para licenças de
estabelecimentos (1888-1900), Cx. 2548.

Processo preliminar de licença requerida para fundação de uma serralharia mecânica na


Rua do Arco, n.º 40. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª incorp.) - Processos preliminares
de obtenção de licenças para estabelecimentos (1872-1908), Cx. caixa 2177.

Processo preliminar de licença para a fundação de uma serralharia mecânica movida a


vapor sita na Travessa do Conde da Ponte, Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1.ª
incorp.) - Processos Preliminares de obtenção de licenças para estabelecimentos (fábricas e
lojas) (1873-1900), Cx. 2178.

Processo preliminar de licença para o estabelecimento d’uma fábrica de sebo na Calçada de


Santo Amaro n.º62. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processos Preliminares
de Licenças Para estabelecimentos (1865-1908) (Caixas 2518-2523), Cx. 2522.

Processo preliminar de licença requerida para uma fábrica de sabão na Rua das Fontainhas
n.º19 e 20, freg.ª de Alcântara. IANTT. Governo Civil de Lisboa (1,ª incorp.) - Processo
Preliminar de Licença Requerida para uma Fábrica de Sabão na Rua das Fontainhas n.º19 e
20, CX. 2558.

1.3. Fontes Impressas


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1877).

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1854-1930.

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Imprensa Nacional, 1906-1926.

Cartografia de Lisboa – séculos XVII – XX. Lisboa: Comissão Nacional para as


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CASTILHO, Júlio de - A Ribeira de Lisboa: Descripção histórica da margem do Tejo desde


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Catálogo da Exposição Nacional das Indústrias Fabris realizada na Avenida da Liberdade


em 1888. Lisboa: Imprensa Nacional, 1889.

FINO, Gaspar Cândido da Graça Correia - Collecção de Legislação Industrial. Lisboa, 1893.

Inquérito Industrial de 1865. Actas das sessões da Comissão de Inquérito. Lisboa: Imprensa
Nacional, 1865.

Inquérito Industrial de 1881: Inquérito Directo. Ministério das Obras Públicas, Comércio e
Indústria. Lisboa: Imprensa Nacional, 1881-1883.

Inquérito Industrial de 1890. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria –
Direcção Geral do Comércio e Indústria. Lisboa: Imprensa Nacional, 1891.

Lisboa Antiga e Lisboa Moderna. Elementos históricos da sua evolução. Lisboa: Typographia
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LOUREIRO, Adolfo – Portos Marítimos de Portugal e Ilhas Adjacentes. Vol. III, Parte I.
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112
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Pedidos entregues aos governos civis para a instalação de fábricas, 1852-1885, Lisboa:
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Plano De Groer. Elementos para o estudo do plano de urbanização da cidade de Lisboa


(Elaborado pelo Engenheiro civil António Emídio Abrantes). Lisboa: Câmara Municipal de
Lisboa (Direcção dos Serviços de Urbanização e Obras), 1938.

Planta da cidade de Lisboa com os diferentes melhoramentos introduzidos e projectados


[material cartográfico]. Lisboa: Lith. Matta, 1888.

Planta de Lisboa. Limites pela linha de cintura interna e melhoramentos projectados,


incluindo as zonas em que a Câmara Municipal de Lisboa projectas as novas avenidas, ruas
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Planta topográfica de Lisboa. Planta n.º 7 E [material cartográfico] -Pinto, A. V. da Silva e


Coreia, A. de Sá (dir.). Lisboa, 1910

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SILVEIRA, Joaquim Henriques Fradesso da - Estatísticas da Indústria e do Comércio em


Portugal. Lisboa, 1872.

1.4. Publicações Periódicas


113
ABC
Análise Social
Brasil-Portugal
Diário de Notícias
Illustração Portuguesa
Indústria Portuguesa
Journal of Urban History
Ler História
Revista Occidente

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BAIROCH, Paul – Mythes et Paradoxes de l’Histoire Économique. Paris: La Découverte,


1993.

BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena - Dicionário de História de Portugal,


Suplemento. Vols. 7, 8 e 9, Porto: Figueirinhas, 1999, 2000.

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Documentais e Roteiro Bibliográfico. Lisboa: CISEP, 1998.

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Engenho e Obra. Uma abordagem à História da Engenharia em Portugal no Século XX.


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Editora Arcádia, 1971.
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Alcântara: estudo e materiais. Lisboa: Edição da Companhia Carris de Ferro de
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124
Anexos

Anexo 1
A zona de Alcântara em
1857

125
Fonte: Atlas da Carta Topográfica de Lisboa. Planta n.º47 [material cartográfico] – Folque, Filipe (dir.).
Lisboa, 1857.
Anexo 2
Alcântara na primeira década do século
XX

Fonte: Planta Topográfica de Lisboa. Planta n.º 7 E [material cartográfico] – Pinto, A. V. da Silva e Correia,
A. de Sá (dir.). Lisboa, 1910.

126
Anexo 3

Mapa de Lisboa em 1891

Fonte: Planta de Lisboa. Limites pela linha de cintura e melhoramentos projectados, incluindo as zonas em que
a Câmara Municipal de Lisboa projecta as novas avenidas, ruas e parques da capital [material cartográfico].
Lisboa, 1891.

127
Anexo 4

Principais indústrias de Alcântara em 1881

Ano Ramo N.º


Indústria Localização maquinaria CV
formação Industrial operários
Rua Direita do
L. Dauphinet & Castay (ID) Calvário
1856 metalurgia Não tem motores 25

Anjos Cunha Ferreira & C.ª Rua da Fábrica da


1840 estamparia
1 máquina de alta pressão com 3 caldeira,
36 cv 110
(Ind) Pólvora, tendo mais 3 para gerar vapor

calçada dos
António José da Costa (Iind) Terremotos, n.º9
1842 curtumes 14

Vila Pouca, Ribeira


Bernardo Heitor (Iind) de Alcântara
1871 curtumes 24

(oficinas) de João Burnay (ID) Santo Amaro 1876 metalurgia

Anjos, Cunha, Ferreira & C.ª Ribeira de


estamparia
Cinco caldeiras a vapor, uma máquina de
36 cv
(ID) Alcântara vapor de 36cv, três máquinas de vapor.

António Cypriano Ferreira Rua Velha 1863 curtumes

Associação Fraternal dos


Fabricantes de Tecidos e Artes Travessa do Fiúza têxtil Não tem motores a vapor 31
Correlativas (ID)

B. Daupias & C.ª (ID) Calvário, 1839 Têxtil 3 máquinas de vapor 300 cv 700

B. Daupias & C.ª (Iind) Calvário 1839 Têxtil 3 motores a vapor 100 cv 598
Janeiro de
Basto & C.ª (Iind) Rua do Alvito
1881
extração/cimento 1 motor a vapors 12 cv

Rua Praia da
Caetano Lopes da Silva (Iind) Junqueira
1869 extração/gesso 1 máquina a vapor 5 cv 11

Centeno & C.ª (ID) Horta Navia 1863 6 caldeiras de vapor 90

Companhia de Estamparia de Quinta do Inferno 1876 estamparia 3 máquinas de estampar com motores anexos 80
Alcântara (ID)

1 máquina de vapor na fábrica pequena de


Santo Amaro de alta e baixa pressão 2
Companhia de Fiação e Tecidos Rua de S. Joaquim 1838 Têxtil
máquinas de vapor na fábrica grande de Santo
850
Lisbonense (ID) Amaro obtidas em 1848 e transformadas 20
anos depois, uma máquina de alta e baixa
pressão, funcionando as 3 com 4 caldeiras

Companhia dos vendedores de Rua 24 de Julho 1866 tabaco 2 caldeiras, uma inglesa 38 cv 270
tabaco Regalia (ID)
Companhia Lisbonense de
Estamparia e Tinturaria de 1874 estamparia fabrico mecânico com motores a vapor 135 cv 106
Algodões (ID)
Companhia Lisbonense de
Estamparia e Tinturaria de Rua da Pólvora 1875 estamparia 4 caldeiras de vapor 135 cv 105
Algodões (Iind)
Largo do Conde
Companhia Perseverança (ID) Barão
1809 metalurgia 2 máquinas de vapor 38 cv 220

Fábrica da Companhia União 1865 sabão/velas 2 máqunas e vapor 37 cv 133


Fabril
Empreza Cerâmica (ID) Rua das Fontainhas 1879 cerâmica 2 caldeiras de vapor. 24

Empreza Cerâmica (IIND) Rua das Fontainhas Cerâmica 1 máquina a vapor 20

Fábrica Curtumes de Villa ribeira de Alcântara 1879 curtumes


Pouca (Iind)
Fábrica da Companhia Rua do Instituto
1853 metalurgia 2 caldeiras 83 cv 60
Previdente industrial

Joaquim António Pinheiro Rua Vasco da


1870 papel 3
(Ind) Gama, n.º44

Rua do
Fábrica do Bemformoso (ID) Bemformoso, n.ºs 65 há 8 meses têxtil 1 máquina de vapor 18 cv 30
a 73

128
Terras de Santo
Fábrica do João Burnay (ID) Amaro
1874 metalurgia 2 máquinas a vapor 20 cv 200

Rua de Santo Abril de


Fábrica La Peninsular (ID) António, ao Calvário 1880
tabaco 36

Fábrica Tejo Rua 24 de Julho 1879 metalurgia 1 máquina a vapor 4 cv 30

Fábrica Vitória (ID) Rua 24 de Julho 1846 metalurgia

Fábrica Vulcano (ID) Boqueirão do Duro 1843 metalurgia 1 caldeira de vapor e 1 máquina de vapor 28 cv 66

Tem dois geradores verticais de sistema H.


Ferreira & C.ª (ID) Rua 24 de Julho 1862 alimentação Lachappell e 1 máquina de vapor com 12 cv 12 cv 20
nominais
Rua do assento, 1 caldeira a vapor 1 máquina construída na
Garcia & C.ª (ID) n.º13
1874 metalurgia
fábrica
12 cv

Joaquim Antunes dos Santos Aterro da Boa Vista 1852 metalurgia 2 caldeiras de vapor e 2 máquinas 50 cv 75
(ID)
José António Alcântara & Rua da Horta Navia
1 de Julho
curtumes 16
Filhos de 1879

José António Alcântara & Rua Velha, n.º2 1842 curtumes 25


Filhos
Manuel José Dias Monteiro & Rua Direita de
1858 curtumes 25
Filhos Junqueira

Pinto & C.ª (ID) Ponte Nova 1842 estamparia não tem motores 110

Pinto & c.ª (IIND) Ponte Nova 1842 estamparia todo o trabalho é manual 60

serralharia mecânica na Rua


24 de Julho. Representada por 1879 metalurgia tem uma máquina a vapor 25
Luis Telles Drumond (ID)

Sociedade Cooperativa Rua Vinte e Quatro


1872 metalurgia 1 máquina fixa 4 cv
Industrial Social (ID) de Julho

Fonte: Inquérito Industrial de 1881:Resumo. Lisboa: Imprensa Nacional, 1883.

129
Anexo 5

Tipologia e origem da matéria-prima usada em Alcântara

Estabelecimento Tipologia Matéria-prima origem quantidade valor (rs)


Assoc. Fraternal
têxtil
Fabricantes Tecidos e algodão em fio nacional 2.700$000
(algod)
Artes Correlativas
Comp.ª Fiacção Tecidos têxtil
algodão em rama diversa 720.000 k 200.000$000
Lisbonense (algod)
fio para tecelagem
nacional 670.000 k 270.000$000
e torcedura
anil - 670 k 1.800$000

cloreto de sal - 7 900 k 370$000

soda - 4 000 160$000

ácido sulfúrico 5 300 170$000


anilinas e outras
- 900$000
substâncias
1 407 870 K 476 100$000
Joaquim Caetano dos Refinaria
açúcar em bruto diversas 360 000 k
Santos (açúcar)
açúcar em rama diversas 400 000 k

carvão pedra Inglaterra 1 500$000

carvão mineral nacional 1 200$000

clarificante e água nacional 150$000

760 000 k 16 350 $000

Alcântara & C.ª Calçado sola nacional 4 000 k

trança de lã nacional 3 000 k 7 000$000

7 000 k 7.000$000
fero em Chapa, Inglaterra e
L. Dauphinet & Castay metalúrgica 9 000$000
barra e cantoneira Bélgica
aço em chapa e Inglaterra e
600$000
tubos Bélgica
cobre em chapa Inglaterra e
400$000
em tubos Bélgica
Inglaterra e
latão em tubos 800$000
Bélgica
Totais 10 800$000
António Moreira Rato &
Filhos

João Peres $ Pierre


metalúrgica ferro diversas 1 400$000
Dumont
pedra em bruto e
António Moreira Rato &
construção lavrada, lagedos e nacional 44.000$000
Filhos
basaltos
mármores serrados itália 2.000$000

46 000$000
pedra de diferentes
José Moreira Rato construção nacional 20.000$000
qualidade

130
Fábrica de Alcântara
cerâmica barro nacional 120 000 k 400$000
Lopes & C.ª
barro preparado Inglaterra 300 000 k 3 000$000

vidros Inglaterra 10 000 k 900$000

carvão Inglaterra 800 000 k 4 000$000

tintas Inglaterra 400$000

Totais 1 230 k 8 700$000


José Joaquim de Almeida
cerâmica barro nacional 1 800 k 3 240$000
Junça
Alimentação
Emílio Luis Rollet azeite de oliveira Itália 34 000 k 8 000$000
(conservas)
azeite de oliveira nacional 10 000 k 3 250$000

folha de flandres Inglaterra 770 caixas 7 100$000

estanho Inglaterra 6 000 k 2 700$000

chumbo Inglaterra 13 000 k 820$000


arame e ferro para
Áustria 6 000 k 600$000
chaves
caixas de madeira nacional 3 500 k 1 025$00

utensílios diversos França 200$000

sal nacional 149 00 lit 600$000


72 500 k / 149 000
Totais 24 495$000
L
Comp.ª Nacional de Alimentação frutas de todas as
nacional 300 000 k 20 000$000
Conservas (conservas) qualidades
peixe nacional 80 000 k 6 000$000
carne de porco,
vaca, vitela e nacional 80 000 k 15 000$000
carneiro
tomates nacional 800 000 k 12 000$000

caça e aves nacional 7 000 peças 1 400$000

azeitonas nacional 80 000 k 3 200$000


legumes e
nacional - 1 500$000
hortaliças
folha de flandres,
estanho e caixas de Inglaterra 3 000 k 13 500$000
chumbo
açúcar Alemanha 50 000 k 10.000$000
azeite, vinagre e
caixotes de nacional - 6 000$000
madeira
2 786 000 K 7 000
Totais 88 600$000
peças
Cordoaria Nacional
Comp.ª Nacional de
Têxtil algodões crus e Portugal e
Estamparia e Tinturaria - 142.000$000
(estamparia) brancos Inglaterra
(Rua da Pólvora)
Portugal,
drogas diversas Inglaterra e 26.500$000
Alemanha
Totais 168 500$000
Comp.ª Lisbonense Portugal,
Têxtil algodões tecidos
Estamparia e Tinturaria Inglaterra e - 142 000$000
(estamparia) brancos e crus
Algodão Alemanha
Portugal,
diversas drogas Inglaterra e - 26 500$000
Alemanha

131
Totais 168 500$000
Portugal,
Comp.ª Estamparia de Têxtil algodões tecidos
Inglaterra e - -
Alcântara (estamparia) branco e crus
Alemanha
Portugal,
drogas diversas Inglaterra e - -
Alemanha
Totais -
Comp.ª Nacional Têxtil algodões crus e Portugal e
- 54 600$000
Estamparia e Tinturaria (estamparia) brancos Inglaterra
Portugal,
diversas drogas Inglaterra e - 21 000$000
Alemanha
Totais 75 600$000

J. L. Garcia metalúrgica ferro coado Inglaterra 144 000 k 2 100$000


Espanha
ferro coado 32 000 k 419$000
(Bilbau)
coque e carvão de
Inglaterra 220 000 k 1 410$000
pedra
ferro laminado em
Diversas 500$000
barra
ferro fundido
Diversas 60 000 k 840$000
metralha
bronze e cobre Diversas 1 200$000

Totais 456 000 K 6 469$000


Empresa Industrial ferro coado para Espanha e
metalúrgica 1 874 000 k 21 716 $852
Portuguesa fundição Inglaterra
cobre, latão, Espanha e
10 180 K 1 534$232
bronze e chumbo Inglaterra
carvão de pedra Inglaterra 526 319 K 2 724$184

carvão de coque Inglaterra 299 700 k 2 357$350

ferro forjado Bélgica 1 183 403 k 59 170$150

Totais 2 031 476 K 87 502$768


Argentina e
Bernardo Daupias & C.ª têxtil lãs - 83 000$000
Uruguai
Austrália,
algodão em fio Inglaterra - 2 000$000
Castelo Branco
drogas - - 7 000$000

Totais 92 000$000

J. Lino construção Cal hidráulica França 150 000 k 1 500$000

cimento portland Inglaterra 20 000 k 300$000

areias Portugal 500 000 k 700$000

tintas França 2 000 k 200$000

672 000 K 2 700$000


cal hidráulica,
Goarmon & C.ª construção cimento e matérias França - 2 850$000
corantes
Têxtil
Comp.ª Tecidos Aliança fio de juta Escócia - 68 000$000
(linho)
fio de linho e juta Escócia -

fio de estopa Escócia -

linho cru Escócia -

linho branqueado Escócia -

132
Totais 6 8000$000
Fábrica Nacional de Alimentação
leite nacional 150 000 Lit 10 000$000
Butterine (manteiga)
manteiga natural nacional 5 000 k 3 000$000

manteiga natural Holanda 30 000 k 18 000$000

margarina América 160 000 k 40 000$000

sal Nacional 30 300 k 300$000


215 300 K 150 000
Totais 71 300$000
Lit
Fábrica a vapor de Massas moagem trigo diversas 2 000 k 100 000$000
Empresa Progresso
serralharia ferro laminado Bélgica 150 000 k 6 600$000
Industrial
Fábrica de Vidros de
vidros areia nacional 90 000 k 450$000
Alcântara
carbonato de soda diversas 45 000 k 2 250$000

zarcão diversas 10 000 k 900$000

cal nacional 15 000 k 150$000


salitre, óxido de
nacional - 500$000
manganez, etc
barro refractário nacional - 150$000

lenha de pinho nacional 50 000 fach 4 000$000


160 000 K 50 000
Totais 8 400$000
fach
Fonte: Inquérito Industrial de 1890. Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria – Direcção Geral do
Comércio e Indústria, Lisboa, 1891.

133
Anexo 6

Mercados de consumo das principais unidades de Alcântara

Estabelecimento ramo Produtos Quantidade Valor (reis) mercados consumo

Assoc. Fraternal atoalhados e


têxtil
Fabricantes Tecidos e riscados de - 5 240$000 nacionais
(algodão)
Artes Correlativas colchões
Comp.ª de Fiação e têxtil fio (tramas e
670 000 k 270 000$000 continente, Ilhas e colónias
Tecidos Lisbonense (algodão) urdiduras)

linha de algodão 51 000 k 28 000$000


algodões crus e
brancos, lisos e 440 000 k 235 000$000
sarjados
baetilhas de
43 000 k 27 000$000
algodão
tecidos riscados
56 000 k 45 000$000
diversos
cobertores e
47 000 k 20 000$000
mantas de algodão
toalhas e
6 000 k 6 000$000
guardanapos

1 313 000 K 361 000$000

Joaquim Caetano dos refinaria


açúcar refinado - - -
Santos (açúcar)

Alcântara & C.ª calçado sapatos de trança 30 000 pares 10 000$000 nacional, ultramar e Brasil
caldeiras a vapor,
tanques e diversos
L. Dauphinet & Castay metalúrgica artigos de - 40 000$000 nacional
serralharia e
caldeiraria
João Peres & Pierre de caldeiras a vapor e
metalúrgica - 3 100$000 nacional
Dumont tanques de ferro
António Moreira rato &
construção diversas obras - 65 000$000 nacional e Brasil
Filhos

José Moreira Rato construção diversas obras - 30 000$000 nacional e Brasil


faiança ordinária,
Gregório Baudouin cerâmica tubos de barro - 14 000$000 nacional
vermelho
louça de todo o
Fábrica de Alcântara cerâmica - 24 000$000 nacional
género
azulejos
- 600$000 nacional
esmaltados

24 600$000

alimentação
Emílio Luís Rollet latas de sardinha 850 000 latas 45 000$000 Inglaterra, Itália e Áustria
(conservas)
Brasil, França, Inglaterra,
Comp.ª Nacional de alimentação frutas em compota Angola, Moçambique,
400 000 latas 40 000$000
Conservas (conservas) e marmelada Hong Kong, Espanha,
Goa, etc.
peixe em
150 000 latas 15 000$000
escabeche
carnes de porco,
vaca, vitela e 120 000 latas 24 000$000
carneiro
tomates em massa
200 000 latas 20 000$000
e puré
caça e aves 20 000 latas 2 000$000

azeitonas 130 000 latas 9 000$000

134
legumes e
80 000 latas 4 000$000
hortaliças

1 950 000 latas 114 000$000

Nicolau Luís da Silva & sola e raspa de


curtumes 79.000 k 31 800$000 nacional
Sobrinho couros
Comp:º Nacional têxtil chitas pretas e de
53 000 peças 144 400$000 nacional
Estamparia e Tinturaria (estamparia) cores
lenços de
122 000 pelas 88 000$000 nacional
diferentes tipos

175 000 peças 232 400$000


Comp.ª Lisbonense de
têxtil
Estamparia e Tinturaria chitas e lenços 300 000 k 300 000$000 continente e ilhas
(estamparia)
de algodões
Comp.ª de Estamparia de têxtil
chitas e lenços 270 000 k 270 000$000 continente e ilhas
Alcântara (estamparia)
Comp.ª Nacional de
têxtil chitas pretas e de
Estamparia e Tinturaria 21 000 peças 42 000$000 nacional
(estamparia) cores
(alcântara)
20.000 peças 31 000$000 nacional

41 000 peças 73 000$000

J. L. Garcia metalúrgica diversos - 26 000$000 nacional

Empresa Industrial ferro fundido em


metalúrgica 777.900 k 31 115$960 nacional
Portuguesa tubagem
ferro fundido em
749 650 k 52 489$370 nacional
obra diversa
ferro forjado em
1.200 000 k 118 000$000 nacional
obra diversa

2 727 550 K 201 605$333


xailes, castorinas,
casimiras,
casimiretas,
Têxtil flanelas,
Bernardo Daupias & C.ª - 350 000$000 nacional
(lã) cobrejões, cintas,
gabões, trança
para sapatos, fio
cardado, etc
Portugal, Brasil, África,
Eduardo A. P. De
construção ladrilhos mozaicos 120 000 m2 120 000$000 Espanha, França,
Magalhães
Alemanha e Rússia

J. Lino construção ladrilhos mozaicos 12 000 m2 12 000$000 Portugal e Colónias

Goarmon & C.ª construção ladrilhos mozaicos 12.000 m2 6 000$000 Portugal e Colónias
grossarias e
Comp.ª Tecidos Alliança têxtil atoalhados de - 100 000$000 nacional
linho
Fábrica Nacional de
alimentação manteiga artificial 153 000 k 91 800$000 nacional
Butterine
Fábrica a Vapor de massas
alimentação 360 000 k 36 000$000 Continente, África e Brasil
Massas alimentares

farinhas e resíduos 1 280 000 k 64 000$000

1 640 000 K 100 000$000

Fábrica de Moagem do
alimentação farinhas 4 374 392 k - nacional
Bom Sucesso
resíduos 1 447 061 k - nacional

quebras 216 171 K - nacional

6 037 524 K

135
Fábrica Lisbonense de
construção
Serração e e Aparelho de - 15.025$953 Portugal e colónias
(carpintaria)
Madeira
Empresa Progresso parafusos, anilhas, 20.000$000
metalúrgica 400.000 peças
Industrial rebites, etc nacional
cartas de jogar e
J. J. Nunes & C.ª tipografia produtos - 8.000$000 nacional
tipográficos
copos, frascos,
Fábrica de Vidros de
vidreira garrafas, vidroe - 20.000$000 nacional
Alcântara
diversos objectos
Fonte: Inquérito Industrial de 1890. Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria – Direcção Geral
do Comércio e Indústria, Lisboa, 1891.

136
Anexo 7

Operários em Alcântara por estabelecimento (1890)

Total
Estabelecimento Ramo
operários
Associação Fraternal dos Fabricantes de Tecidos e Artes
têxtil (algodão) 16
Correlativas
Comp.ª de Fiação e Tecidos Lisbonense têxtil (algodão) 1 221
José Martins Calisto da Fonseca refinaria (açúcar) 8
Joaquim Caetano dos Santos refinaria (açúcar) 7
Mello & C.ª refinaria (açúcar) 10
Martinez & Santos caixas de cartão 20
Alcântara & C.ª calçado 31
L. Dauphinet & Castay metalúrgica 88
João Peres & Pierre Dumont metalúrgica 20
António Moreira Rato & Filhos construção 60
José Moreira Rato construção 40
José Gregório Boudouin cerâmica 30
Fábrica de Alcântara cerâmica 83
José Joaquim de Almeida Junça cerâmica 30
José Dias cerâmica 37
Alfredo Nicolete Travassos Valdez alimentação (chocolate) 10
Emílio Luís Rollet alimentação (conservas) 160
Comp.ª Nacional de Conservas alimentação (conservas) 62
Fábrica do Bom Sucesso curtumes 8
Nicolau Luís da Silva & Sobrinho curtumes 20
Comp.ª Nacional de Estamparia e Tinturaria estamparia 115
Comp.ª Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodão estamparia 75
Comp.ª de Estamparia de Alcântara estamparia 130
Comp.ª Nacional de Estamparia e Tinturaria estamparia 109
J. L. Garcia metalúrgica 68
Empresa Industrial Portuguesa metalúrgica 463
Société Générale Métallurgique metalúrgica 44
Caetano Lopes da Silva gesso 7
Bernardo Daupias & C.ª têxtil (lã) 392
Eduardo Augusto P. De Magalhães construção 29
J . Lino construção 8
Goarmon & C.ª construção 16
Comp.ª de Tecidos Aliança têxtil (linho) 122
Fábrica Nacional de Butterine alimentação (manteiga) 20
José Roque de Sousa & Irmão móveis 10
Fábrica a Vapor de Massas alimentação (massas) 22
Fábrica de Moagem do Bom Sucesso alimentação (moagem) 42
José Maria Pires fósforos 7
construção (serração
Fábrica 4 de Março madeira)
40

137
construção (serração
Fábrica Lisbonense de Serração e Aparelho de Madeira madeira)
51
Empresa Progresso Industrial metalúrgica 19
F. Baerlein metalúrgica 102
Empresa Mecânica Metalúrgica metalúrgica 45
João Maria Balby tanoaria 8
J. J. Nunes & C.ª tipografia 22
José Maria Borges Lousada tipografia 7
Fábrica de Vidros de Alcântara vidros 55
Total 2 768
Fonte: Inquérito Industrial de 1890. Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria – Direcção Geral
do Comércio e Indústria, Lisboa, 1891.

138
Anexo 8

Cavalos-vapor usados em Alcântara (1890)

Máquinas a Motores a TT
Estabelecimento Ramo vapor gás CV/estabelecimento
N.º CV N.º CV N.º TT CV
Comp.ª de Fiacção e Tecidos Lisbonense têxtil (algodão) 4 506 4 506
L. Dauphinet & Castay metalúrgica 1 10 1 10
João Peres e Pierre Dumont metalúrgica 1 1 1 1 1
Fábrica de Alcântara cerâmica 1 8 1 8
José Joaquim de Almeida Junça cerâmica 1 8 1 8
alimentação
Emilio Luis Rollet (conservas) 1 0,5 1 0,5
alimentação
Comp.ª Nacional Conservas (conservas) 2 8 1 0,5 3 8,5
Cordoaria Nacional construção 1 25 1 25
Silvestre & Irmão curtumes 1 2,5 1 2,5
têxtil
Comp.ª Nacional estamparia e Tinturaria (estamparias) 24 24
Comp.ª Lisbonense de Estamparia e Tinturaria têxtil
de algodão (estamparias) 20 120 20 120
têxtil
Comp.ª de Estamparia de Alcântara (estamparias) 14 14
Fundição de Ferroe Bronze metalúrgica 1 4 2 4
Empresa Industrial Portuguesa metalúrgica 4 65 4 65
Société Générale Metallurgique metalúrgica 1 1
Bernardo Daupias & C.ª têxtil (lã) 3 100 3 100
Comp.ª Tecidos Aliança têxtil (linho) 2 35 2 35
Fábrica Nacional de Butterine alimentação 1 1
Fábrica a vapor de massas alimentação 1 15 1 15
Fábrica de Moagem do Bom Sucesso alimentação 1 60 1 60
construção
Fábrica 4 de Março (carpintaria) 1 20 1 209
construção
Fábrica Lisbon. Serração e Aparelho Madeira (carpintaria) 1 120 1 120
Empresa Progresso Industrial metalúrgica 1 10 1 10
F. Baerlein construção 2 18 2 18
Empresa Mechãnica e Metalurgica serralharia 2 27 2 27
Total* 54 1352,5
Fonte: Inquérito Industrial de 1890. Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria – Direcção
Geral do Comércio e Indústria, Lisboa, 1891.

139
Anexo 9

Registo de Estabelecimentos por classe industrial (1917-1920)

Estabelecimentos Registados Total/classe % classe % classe % classe


Classes industriais
1.º 2.º 3.º 4.º 4.º 4.º
Bairro Bairro Bairro Bairro Lisboa Lisboa bairro bairro/LX
Indústria Mineira - - 1 - 1 0,19% - -
Indústria de Caça, Pesca e Sal - 1 2 11 14 2,65% 6,21% 2,07%
Indústria Agrícola 10 13 21 46 90 17,01% 25,99% 8,69%
Indústria dos Metais e da Construção
Mecânica 3 2 1 1 7 1,32% 0,57% 0,18%
Indústria Cerâmica e de Materiais para
Construção - 2 - 1 3 0,57% 0,57% 0,18%
Indústria Vidreira 8 13 16 26 63 11,91% 14,69% 4,91%
Indústria Química 7 13 11 33 64 12,10% 18,64% 6,23%
Indústria de Alimentação 9 - 3 3 15 2,84% 1,69% 0,56%
Indústria Têxtil 8 2 6 4 20 3,78% 2,26% 0,75%
Indústria de Vestuário e Acessórios 16 36 14 12 78 14,74% 6,78% 2,26%
Indústria de Pele e Artigos de Pele 1 1 1 3 6 1,13% 1,69% 0,56%
Indústria de Madeira e Mobília 4 3 4 6 17 3,21% 3,39% 1,13%
Indústrias Corticeira 1 2 1 2 6 1,13% 1,13% 0,37%
Indústria de Papel 31 30 31 19 111 20,98% 10,73% 3,59%
Indústria Gráfica e do Livro 2 2 2 3 9 1,70% 1,69% 0,56%
Indústria de Electricidade 2 7 4 1 14 2,65% 0,57% 0,18%
Pequenas Indústrias e Diversas - 2 - 2 4 0,76% 1,13% 0,37%
Edifícios e Obras de Interesse Público - - - - 0 0 - -
Construção Naval - 2 1 4 7 1,30% 2,26% 0,75%
Total: 102 131 119 177 529 100% 100% 33,5%
Fonte: Inquérito Industrial de 1890. Ministério das Obras Públicas, Comercio e Indústria – Direcção Geral
do Comércio e Indústria, Lisboa, 1891.

140
Anexo 10

Nome de Ruas de Alcântara (1881-1914)

1881 1914

Praça de Alcântara Pátio do Abílio (nas Escadinhas de Santo Amaro)

Rua de Alcântara Alto de Santo Amaro

Ponte de Alcântara Rua do Alvito

Ribeira de Alcântara Vila Amélia

Caneiro de Alcântara Largo da Amendoeira

Beco do Forno de Alcântara Beco do Arco

Rua Alexandre Herculano Rua do Arco a Alcântara

Rua do Alvito Praça da Armada

Casal do Alvito Rua Avelar Brotero

Calçada de Santo Amaro Rua Bocage

Alto de Santo Amaro Rua do Borja

Largo da Amendoeira Páteo da Cabrinha

Rua de Santo António Largo do Calvário

beco de Santo António Travessa do Calvário

Beco do Arco Pateo do Canelas (na Rua Possidónio da Silva)

Rua do Assento Casal Ventoso

Rua do Borja (ou se Santa Isabel) Rua da Cascalheira

Quinta da Cabrinha Rua das Cavalariças do Infante

Rua do Calvário Rua Cindo de Abril

Largo do Calvário Travessa do Conde da Ponte

Caneiro Velho Rua do Conselheiro Pedro Franco (também Rua dos Lussíadas)

Rua das Cavalariças do Infante Beco dos Contrabandistas

Travessa do Sebeiro Travessa dos Cordoeiros

Travessa do Conde da Ponte Rua da Correnteza de Baixo

Beco dos Contrabandistas Rua da Cozinha Económica

Rua da Cruz Rua da Costa

Rua da Fábrica da Pólvora Travessa da Costa

Travessa do Fiúza Cova da Onça

Rua das Fontainhas Rua da Creche

Largo das Fontainhas Rua da Cruz a Alcântara

141
Beco das Fontainhas Rua da Escola Asilo

Rua da Fonte Santa Rua da Fábrica da Pólvora

Beco do Funileiro Vila do Faustino (na Travessa da Cascalheira)

Travessa da Galé Páteo do Fialho (na Rua de Alcântara)

Terras da Horta Navia Rua Filinto Elísio

Travessa da Horta Navia Travessa do Fiúza

Rua de S. Jerónimo Páteo das Flamengas

Travessa de S. Jerónimo Beco das Fontainhas

Pátio do João Paulino Largo das Fontainhas

Rua da Junqueira Rua das Fontainhas

Beco Lagoia Travessa da Galé

Rua do Livramento Travessa do Gibraltar

Calçada do Livramento Rua de Gil Vicente

Estrada do Loureiro Rua Gilberto Rola

Rua dos Mouros Páteo do Grilo

Rua do Nazareth Travessa da Guarda

Largo das Necessidades Travessa da Horta Navia

Rua Direita das Necessidades Avenida da Índia (até Bom Sucesso)

Rampa das Necessidades Rua da Indústria

Beco das Necessidades Rua João de Barros

Bairro Pedro Franco Rua de João de Lemos

Travessa do Pimenta Rua João Oliveira Martins (Rua de Cascais)

Beco das Pirralhas Rua Jau

Praia Pedro Franco Páteo do José Dias

Rua Primeiro de Dezembro Rua da Junqueira (n.º 1-63 e 2 a 128 é Alcântara)

Rua do Principe Rua Leão de Oliveira

Alto dos Quartéis Calçada do Livramento

Travessa do Quebra Costas Rua do Livramento

Pátio do Ratão Travessa do Livramento

Beco e Pátio das Saboarias Estrada do Loureiro

Beco do Sabugueiro Rua Luís de Camões

Rua Direita do Sacramento Páteo do Luís Soldado (na Rua do Alvito)

Travessa do Sacramento Vila Margarida (na Rua da Cruz)

Travessa dos Surradores Vila Mariana (na Rua Maria Pia)

Largo dos Tanques Beco das Necessidades

142
Calçada da Tapada Calçada das Necessidades

Travessa do Thesouro Rampa das Necessidades

Travessa da Trabuqueta Rua das Necessidades

Rua Velha Travessa das Necessidades

Páteo do Paulino (na Rua de Cascais)

Vila Pilar Cid (na Rua D. Maria Pia)

Travessa do Pimenta

Casal da Pimenteira (Serra de Monsanto)

Beco das Pirralhas (Rua da Costa)

Largo da Ponte Nova

Rua Primeiro de Maio

Rua do Príncipe (actualmente Rua Cinco de Abril)

Escadinhas do Quebra Costas

Páteo do Quintalinho (na Calçada do Livramento)

Rua do Rilvas (antigo Largo das Cortes)

Bairro do Roldão ou Rolão

Rua de S. jerónimo

Travessa de S. Jerónimo

Rua de S. Joaquim (actual Rua Primeiro de Maio)

Rua Sá de Miranda

Beco do sabugueiro

Alto de Santo Amaro

Calçada deSanto Amaro

Beco de Santo António

Vila Santo António (na Rua da Junqueira)

Travessa do sebeiro

Rua Soares de Passos

Travessa dos surradores

Travessa da Tapada

Tapada da Ajuda

Travessa do Tesouro

Travessa da Trabuqueta

Triste Feia

Páteo dos Vidros (na Travessa do Conde da Ribeira)

143
Rua Vieira da Silva (antiga Rua do Assento)
Fonte: Vellozo, Eduardo O. Pereira Queiroz - Roteiro das ruas de Lisboa e Immediações., 4.ª edição, Lisboa:
Typographia da Casas de Inglaterra, 1881; Guia Policial de Lisboa. A. Morgado (coord.), Lisboa: tipografia
Universal, Lisboa, 1914.

144

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