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A Função da proteína CFTR e as alterações produzidas pelas

diferentes classes de mutações do gene CFTR


Giselda MK Cabello – Laboratório de Genética Humana – IOC/Fiocruz

Função da CFTR
Cl-
N

Cromossomo 7 ATP ATP

CFTR+
C

CFTR+ A proteína CFTR: Cl-


1480 aa, 5 domínios, canal de cloro, regulado por
ATP

5’ 3’

TM1 NBF R TM2 NBF


O gene CFTR: 230 Kb; mRNA 6,5 Kb; 27 exons.

A proteína CFTR (Cystic Fibrosis Transmembrane Regulation) é responsável pela


regulação de um canal de cloretos, regulados pelo cAMP. Têm sido descritas outras
funções celulares da CFTR, como a regulação de outros canais iônicos, funções de
exocitose e de formação de complexos moleculares na membrana plasmática.
A proteína codificada pelo gene da fibrose cística:
Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator (CFTR)

Um canal de Cl-
2 séries de 6 domínios transmembranares
2 “ATP-binding cassettes” (ou “ABC transport protein”)

Cl-
out

in

N
ATP ATP

1 Domínio Regulador -
R-domain
único entre canais e entre C
transportadores ABC

CFTR é um canal de Cl- ativado pela fosforilação e pela quebra de ATP

out

in
R-domain
N ATP ATP

cAMP-activated C
protein kinase
A proteína CFTR ajuda a controlar o fluxo de água através do epitélio
Epitélio: camada de células intimamente ligadas umas as
outras em forma de folha contínua.

lumen Na+ água Na+ 1. Os canais de Na+


“superfície geralmente estão
apical” Cl- Cl- abertos, mas seu fluxo
extensivo requer um
fluxo de íons de carga
oposta.
2. Se canal CFTR está
aberto, o Cl- torna-se o
contra-íon e o NaCl flui
através da membrana.
3. A água então flui
entre as células para
manter a pressão
osmótica.
4. Resultado: fluxo de
A superfície dos vasos sanguíneos geralmente é solução isotônica de
permeável aos íons NaCl do sangue para o
lumen (ou vice-versa)

As diversas mutações no gene CFTR, atualmente cerca de 1700 descritas no


Cystic Fibrosis Mutation Database (http://www.genet.sickkids.on.ca/), têm
efeitos sobre a síntese da proteína, sendo estas classificadas em seis
grupos:
As classes de mutações do gene CFTR

Existem 6 classes de mutações que afetam o gene CFTR.

- classe I (A e B): proteína CFTR não é sintetizada

- classe II: proteína CFTR não é corretamente sintetizada

- classe III: proteína CFTR é mal regulada

- classe IV: a condução iônica através do canal é alterada

- classe V e VI: síntese da proteína CFTR é reduzida

As mutações de classe I e classe II caracterizam-se pela inexistência de


moléculas de CFTR, enquanto nas restantes está presente a atividade
residual da molécula.

Classe I: (alteração da biossíntese) Existe uma ausência total da

CFTR, devido a uma terminação precoce do RNA (inclui muitos alelos

nulos e os fenótipos mais graves, por exemplo, G542X).


Classe I-A: nenhuma proteína é expressa

Cromossomo 7 Classe I-A :


CFTR- Mutações que afetam a produção da
proteína: CFTR não é produzida.
CFTR-
Por causa de mutações « sem sentido »:
códon de terminação precoce.
Ex: G542X, W1282X

5’ 3’

UGG UGA
Trp Stop

Classe I-B: nenhuma proteína é expressa

Classe I-B :
Cromossomo 7 Mutações que afetam a produção da
CFTR- proteína: CFTR não é produzida.
Por causa de mutações que alteram a fase de
CFTR- leitura. Adição ou deleção de um ou dois
pares de base.
A proteína produzida será truncada. Ex:
444delA

5’ 3’

5’ GGA AGA ATC ATA GCT TCC 3’


Gly Arg Ile Ile Ala Ser

5’ GGA AGA TCA TAG CTT CC 3’


Gly Arg Ser stop

Classe II: (alteração na maturação) A CFTR é sintetizada, mas não


sofre o processo de maturação e migração adequada até a membrana,
ocorrendo degradação prematura. A mutação ∆F508 é a mais
relevante, ocorre no primeiro domínio que liga ATP (NBF1) e é
resultante de uma deleção de três pares de bases que causa a perda
de um resíduo de fenilalanina na posição 508 da proteína.
Provavelmente uma proteína parcialmente glicosilada é produzida,
mas é reconhecida como anormal por um mecanismo de controle
celular e é conseqüentemente degradada.

Classe II: proteína mal sintetizada

Classe II:
A proteína não tem função N
Cromossomo 7 porque ela não foi sintetizada
CFTR- corretamente.

A proteína não é
CFTR-
corretamente encaminhada
até a membrana plamática Ex:
C
F508.

5’ 3’

ATC ATC TTT GGT ATC ATT GGT


F508: A deleção de uma trinca CTT no éxon 10 produz uma
proteína com um aminoácido a menos: a fenilalanina.

Classe III: (alteração na regulação) a proteína não responde a

estimulação pelo cAMP, com diminuição da ligação do ATP à CFTR e

hidrólise. A consequência é a alteração da regulação do canal iônico e

diminuição de sua atividade, como é o caso da mutação G551D.


Classe III: a proteína é mal regulada
N

Classe III:
mutação dos sítios de fixação
do ATP. ATP ATP
Cromossomo 7 Sem sinal de abertura.
C
CFTR-
Exemplo : na mutação de Cl-
falso sentido (ou significado
CFTR-
trocado) G551D
a glicina na posição 551 é
trocada pelo ácido aspártico.

5’ 3’

GGU GAU
Gly Asp

Classe IV: (alteração da condutância) identificam-se moléculas de


CFTR na superfície celular, mas o fluxo dos eletrólitos através dos
canais iônicos é menor (incluem numerosos alelos brandos, por
exemplo, R117H).

Classe IV: a condutividade iônica é alterada

N Cl-

Cromossomo 7 Classe IV:


mutações que alteram a
CFTR- condutividade e a ATP
ATP
seletividade iônica. Essas
CFTR- são as mutações das regiões C
transmembranares. Cl- ou outros

Exemplo : mutações de falso sentido dentro das


regiões TM1 e TM2 - R117H (troca da Arginina por
Histidina) e R334W (troca da Arginina por Triptofano)
O fluxo de Cl- é reduzido e a seletividade é
modificada.

5’ 3’
Classe V: existe uma menor síntese de CFTR, mas a sua função
é normal.

Classe V: menos proteína é produzida

N Cl-

Cromossome 7 Classe V:
Diminuição do número de
CFTR- canais de cloro por defeito ATP
ATP
na síntese da proteína
CFTR- CFTR. C
Defeito de excisão-junção Cl-
altera a estabilidade do
RNA mensageiro CFTR.

Exemplo: defeito da excisão-junção entre o íntron 8 e


o éxon 9, o mRNA torna-se instável.

5’ 3’

Mutações que afetam a estabilidade da proteína é uma classe adicional


(Classe VI) proposta por Haardt et al. (1999). Esta nova classe inclui
proteínas que perdem resíduos da região C terminal ou que são resultantes
de deleções de grandes resíduos de aminoácidos que às vezes não são
essenciais, mas que levam a redução drástica da estabilidade da proteína e
potencialmente levam a fenótipos severos (exemplo, Q1412X) (Rowntree
and Harris, 2003).

Classe VI: produção de CFTR normal, mas com remoção rápida


da superfície celular. Molécula com menor estabilidade, como é
também o caso da mutação Q1418X que leva a remoção de 50
resíduos de aminoácidos no C terminal.
Classe VI: menos proteína é produzida

N Cl-

Cromossomo 7 Classe VI:


Mutações que afetam a
CFTR- estabilidade da proteína. ATP
ATP
C
CFTR-
Cl-

Exemplo: Deleção da porção C-terminal da


proteína que a torna instável

5’ 3’

Em síntese:
As seis classes de mutações do gene CFTR
classe IV: a condução iônica é
classes V e VI: menos proteína alterada
é produzida Cl- Cl- ou outros

Cl- Cl- Cl- ou outro classe III:


a função da
proteína CFTR é
classe I: mal regulada
classe II:
proteína CFTR
proteína CFTR mal
não expressa
sintetizada

Cromoss. 7 gene CFTR


CFTR-
5’ 3’
CFTR- TM1 NBF R TM2 NBF

Referências Bibliográficas

Haardt M, Benharouga M, Lechardeur D, Kartner N, Lukacs GL 1999. C-terminal

truncations destabilize the cystic fibrosis transmembrane conductance

regulator without impairing its biogenesis. A novel class of mutation. J Biol

Chem 274:21873-77.

Rowntree RK, Harris A 2003. The phenotypic consequences of CFTR mutations.

Ann Hum Genet 67:471-485.

Créditos de imagens:

Philippe Rousseau - La Mucoviscidose et le gène cftr

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