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POLUENTES DE EFEITO GLOBAL: A CHUVA ÁCIDA

1 - INTRODUÇÃO

Chuva ácida refere-se à deposição úmida de constituintes ácidos presentes na


atmosfera, os quais dissolvem-se nas nuvens e nas gotas de chuva para formar uma
solução com pH inferior a 5,6.
Apesar do termo chuva ácida ter-se generalizado para abranger também a
deposição seca de poluentes ácidos gasosos e particulados, a tendência atual é usar a
expressão "deposição ácida" para incluir ambas as formas de deposição, ficando o
termo “chuva ácida” limitado à deposição úmida de compostos ácidos presentes na
atmosfera.

Figura 1 - Deposição ácida: precipitação úmida e seca

A água de chuva já é naturalmente ácida, pois o gás carbônico (CO2)


atmosférico dissolve-se nas nuvens e na chuva para formar um ácido fraco: o ácido
carbônico (H2CO3).
Este ácido confere à chuva um pH igual a 5,6. Este valor de pH, resultante da
contribuição de um gás naturalmente presente na atmosfera, indica que a água de
chuva já é levemente ácida. Entretanto, valores de pH inferiores a 5,6 indicam
freqüentemente que a chuva encontra-se poluída com ácidos fortes como o ácido
sulfúrico (H2SO4) e o ácido nítrico (HNO3) e, eventualmente, com outros tipos de ácidos
como o clorídrico (HCl) e os ácidos orgânicos (ácido fórmico e ácido acético).
As reações químicas abaixo representam a acidez natural da chuva, ou seja, a
formação do ácido carbônico (H2CO3) a partir do CO2 (gasoso) quando em contato com
a água da chuva:

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CO2 (g) + H2O H2CO3(aq)

H2CO3(aq) HCO3- (aq) + H+ (aq)

HCO3-(aq) CO32- (aq) + H+ (aq)

A deposição ácida é causada principalmente pelas emissões de dióxido de


enxofre (SO2) e dos óxidos de nitrogênio (NOx = NO e NO2), já que estes gases são as
espécies formadoras de ácidos fortes mais freqüentemente emitidos pela atividade
antropogênica (atividade humana).
Estes poluentes primários do ar são gerados pela queima de combustíveis
fósseis, como petróleo e carvão mineral, em veículos e indústrias, notadamente nas
usinas termelétricas, refinarias de petróleo e indústrias siderúrgicas e, ainda, no
processo de fabricação de ácido sulfúrico, ácido nítrico, celulose, fertilizantes e na
metalurgia dos minerais não metálicos, entre outros.
Uma vez liberados na atmosfera, estes gases podem ser convertidos
quimicamente em poluentes secundários, como os ácidos sulfúrico e nítrico.
A chuva ácida pode ter causas naturais, pois em algumas regiões localizadas, a
chuva pode ser acidificada por emissões naturais provenientes da atividade geotérmica
(vulcões e fontes termais), da queima de biomassa e através de processos metabólicos
em algas, fitoplâncton e em algumas plantas presentes em ambientes marinhos,
costeiros e continentais. Os oceanos e os litorais formados de pântanos salgados e
manguezais são fontes expressivas de liberação de compostos ácidos para a atmosfera.
A chuva ácida nem sempre cai onde foi gerada – tangida pelo vento, pode
desabar a grandes distâncias das fontes poluidoras. Inicialmente, as enormes
chaminés, com as quais se pretende evitar a poluição, contribuem para que isso
aconteça, pois lançam a fumaça em correntes altas de vento. A viagem dos poluentes
explica, por exemplo, o fato de as paradisíacas ilhas Bermudas, a 960 km da costa
atlântica dos Estados Unidos, ou as montanhas amazônicas do sul da Venezuela,
enfrentarem hoje chuvas tão ácidas quanto as que tombam sobre os países
industrializados.
O dióxido de enxofre e os óxidos de nitrogênio, que são os principais gases
formadores da chuva ácida, podem ser transportados até cerca de 3000 km de
distância, dependendo do vento, da altura das chaminés das fábricas, da freqüência
das chuvas e das condições da atmosfera. A exportação das chuvas ácidas para

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regiões não produtoras de poluição foi a causa imediata para que o problema fosse
avaliado à nível internacional.
O Brasil, por exemplo, pode estar levando chuva ácida para o Uruguai, assim
como os países da Europa Ocidental exportam acidez para a remota Escandinávia.
O Brasil, que além de menos industrializado do que a Europa e os Estados
Unidos, praticamente não precisa queimar carvão mineral ou óleo combustível para
produzir energia – algo muito comum, sobretudo na Europa onde é escassa a energia
hidrelétrica – já começa a exibir números assustadores. No centro de Cubatão, a
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), do governo do Estado
de São Paulo, detectou, em 1983, índices de pH que iam de 4,7 a 3,7. Os maiores
responsáveis por essa anomalia são os derivados de enxofre que as chaminés das
petroquímicas e siderúrgicas não cessam de despejar na carregada atmosfera de
Cubatão. O problema não seria tão grave se as indústrias da região passassem a
queimar, em suas caldeiras, óleo com 1% de enxofre – o que se usa hoje tem 5%.
A chuva ácida não é um fenômeno recente. O termo chuva ácida foi cunhado
por um químico, Robert Angus Smith, quando descrevia a poluição em Manchester,
Inglaterra, há mais de um século, em sua monografia O Ar e a Chuva: O Início da
Climatologia Química, a Chuva Ácida. Entretanto, a nível mundial, a percepção da
acidez da chuva só ocorreu a partir da década de 1950, quando diversos ecossistemas
(lagos e florestas, principalmente) já estavam seriamente comprometidos. Esta
percepção tardia deve-se ao fato de que os ambientes naturais possuem um longo
tempo de resposta a agressões como a acidificação. A água e o solo possuem a
capacidade de neutralizar adições de ácidos e bases, e só depois de esgotada esta
capacidade é que o pH destes ambientes sofre mudanças bruscas e acentuadas.
Nem todas as regiões têm a mesma capacidade de neutralizar os ácidos.
Os ecossistemas terrestres e aquáticos possuem diferentes graus de
sensitividade à deposição ácida. Esta vulnerabilidade depende da geologia do leito de
rochas, do tipo de solo, do uso do solo e da precipitação que ocorre naquela área.
Rochas como o calcário, fornecem altos níveis de alcalinidade e, portanto, uma grande
capacidade para neutralizar níveis acentuados de acidez. Por outro lado, áreas
sustentadas por rochas altamente silicosas como o granito, alguns gnaisses, quartzito
e arenito possuem menor alcalinidade, sendo, portanto muito mais sensíveis ou
vulneráveis às cargas ácidas.
Quando o ambiente não consegue mais neutralizar a acidez que vem com a
chuva, inicia-se um processo de degradação ambiental que vai desde a acidificação
das águas e do solo, com sérios problemas de redução da biodiversidade e de

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alterações físico-químicas nestes ambientes, até a ocorrência de declínio de florestas e
prejuízos à agricultura e à pesca. Além disso, a chuva ácida acelera a corrosão e
desgaste de materiais e, no homem, o organismo pode ter suas funções
comprometidas pelo acúmulo de metais pesados dissolvidos, trazidos pelas águas de
chuva acidificadas.

Os efeitos da chuva ácida sobre o solo e a vegetação


A solubilidade de metais potencialmente tóxicos, tais como: alumínio,
manganês e cádmio é dependente do pH e aumenta rapidamente com a diminuição do
pH da solução do solo. O alumínio é fitotóxico e causa prejuízos ao sistema de raízes,
diminuindo a habilidade das plantas para absorver os nutrientes e a água do solo,
afetando o crescimento das sementes e a decomposição do folhedo, e interagindo com
os ácidos para aumentar o prejuízo às plantas e aos ecossistemas aquáticos. Outro
efeito líquido sobre a vegetação é a redução no seu crescimento ou, no pior caso à
morte, devido não só à lixiviação dos nutrientes como o magnésio e o potássio
percolados pelo ácido, mas também por causas secundárias afetando a planta
enfraquecida.

Figura 3 - Fotografia de uma floresta alemã tirada em 1970 e em 1983, após a ação da
chuva ácida.

Em certas regiões, o subsolo compõe-se de rochas calcárias, podendo ocorrer


infiltrações da água das chuvas, que penetra nos corpos rochosos, causando a sua

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dissolução na forma de bicarbonato de cálcio. Ao se introduzir por juntas e poros
dessas rochas, a água vai alargando os vazios, abrindo canais e, às vezes, cavando
grandes espaços ocos (cavernas). Tais cavernas apresentam-se sob a forma de
corredores e salões subterrâneos, alguns de grande extensão. No caso de o teto dessas
cavernas desabar, há o afundamento do terreno sobrejacente e a formação de
depressões afuniladas que são chamadas "dolinas". Eventualmente as depressões
acumulam água, dando origem a lagoas mais ou menos circulares. Já os
desabamentos em áreas habitadas provocam a destruição de edifícios e de vias
públicas, como já aconteceu, na década de 80, em cidade da Grande São Paulo.
As águas de infiltração que geram as cavernas calcárias podem ser drenadas
por cursos d'água subterrâneos, que eventualmente afloram nas proximidades dessas
formações geológicas. É de se esperar que o interior das cavernas contenha ar com um
alto teor de gás carbônico, que se acumula nas partes baixas (o CO2 é mais denso que
o ar), especialmente junto ao solo. Esse fato representa um perigo para os
exploradores de cavernas e, em alguns casos, chega a impedir a entrada de pequenos
animais, que são sufocados por estarem com as narinas mergulhadas no gás
carbônico acumulado próximo ao solo.

Figura 4 - Formação de cavernas devido ao efeito da chuva ácida

Em 1989 cientistas da Holanda noticiaram que um determinado pássaro canoro


que habita as florestas daquele país estava produzindo ovos com a casca fina e
porosa. Problema semelhante foi detectado nas décadas de 60 e 70 causado pelo
inseticida DDT. Durante as investigações não foi encontrada nenhuma evidência de
intoxicação.

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Os cientistas resolveram verificar então o suprimento de cálcio disponível para
os pássaros na natureza e necessário para a formação de cascas resistentes nos ovos.
Aqueles pássaros usavam normalmente como fonte de cálcio, caramujos que eram
componentes importantes na sua dieta. Entretanto, os caramujos haviam
praticamente desaparecido das florestas. O solo seco contém normalmente de 5 a 10
gramas de cálcio por quilograma. O cálcio daquela região havia caído para cerca de
0,3 gramas por quilograma de solo, um nível muito baixo para que os caramujos
sobrevivessem.
Sem caramujos para comer, os pássaros passaram a se alimentar de sobras de
alimentos de galinhas e de outros animais domésticos e sobras de piqueniques, muito
comuns na Europa.
A queda no conteúdo de cálcio do solo da Europa e dos Estados Unidos da
América foi atribuída à ocorrência de chuva ácida, principalmente devido ao ácido
sulfúrico.

Os efeitos da chuva ácida sobre os ecossistemas aquáticos


Um lago ou uma represa acidificado parece limpo e cristalino, mas não contém
vida. Os seres vivos são afetados não só pela acidez da água em si, que interfere em
seus processos fisiológicos, mas também pela solubilização e mobilização de metais
tóxicos à vida aquática. Em geral, à medida que o pH da água se aproxima de 6,0
algumas espécies de crustáceos, insetos e plânctons começam a desaparecer.
Em pH próximo a 5,0, ocorrem variações mais significativas na comunidade
planctônica, algumas espécies de musgos e plânctons começam a proliferar e inicia-se
uma progressiva perda de algumas populações de peixes menos tolerantes à acidez.
Abaixo de pH 5,0, a água é relativamente desprovida de peixes, e o fundo do
lago é recoberto com detritos orgânicos, já que as bactérias têm suas funções
prejudicadas em ambientes ácidos, o que provoca uma redução na taxa de
decomposição de matéria orgânica e um conseqüente aumento de detritos na água. A
interferência na ciclagem de nutrientes é a principal conseqüência da alteração das
comunidades de microdecompositores.

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Figura 5 - Variação do pH da água e a existência de algumas espécies de peixes
Os efeitos da chuva ácida sobre os materiais
A chuva ácida acelera a corrosão da maior parte dos materiais empregados na
construção de edifícios, pontes, represas, equipamentos industriais, redes de
canalização de água, depósitos de armazenamento subterrâneos, turbinas
hidrelétricas e cabos elétricos e de telecomunicações. Pode também desgastar e
descolorir monumentos antigos, prédios históricos, esculturas, ornamentos e outros
objetos culturais importantes. A pintura dos automóveis, o concreto e o vidro das
edificações também se deterioram rapidamente com a acidez da chuva.
As chuvas ácidas transformaram a superfície do mármore (CaCO3) do
Parthenon, em Atenas, em gesso (CaSO4), macio e sujeito à erosão.

Figura 6 - Efeito de corrosão da chuva ácida sobre estátuas

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Os efeitos da chuva ácida sobre a saúde
Suspeita-se da existência de riscos indiretos para a saúde humana causados
por metais, tais como: chumbo, cobre, zinco, cádmio e mercúrio que são liberados dos
solos e sedimentos por causa do aumento da acidez. Esses metais podem atingir as
águas subterrâneas, rios, lagos e correntes usadas para a provisão de água potável e
serem introduzidos nas cadeias alimentares que chegam ao homem. Deste modo, o
homem pode apresentar sérios problemas neurológicos após anos de ingestão de água
de chuva não tratada ou através do peixe contaminado por metais pesados.

As soluções para evitar a chuva ácida


Alguns “guarda-chuvas” têm sido abertos contra essa terrível modalidade de
poluição. Em março de 1984, reunidos em Madri, representantes de nove países
europeus e do Canadá acertaram reduzir em 30%, na próxima década, suas emissões
de enxofre.
Não será tarefa suave, dado o elevado custo dos equipamentos para combater a
chuva ácida. Na França, por exemplo, onde já são obrigatórios, estes dispositivos
representam 10% do custo global das usinas termelétricas, onde estão instalados.
Para financiá-los, quase sempre é indispensável aumentar as tarifas de energia – um
risco político que os governantes relutam em assumir. Alguns casos, porém,
comportam soluções mais baratas. Foi algo assim que fez o governo da Grécia, em
janeiro passado: a área do centro de Atenas, onde os carros só podem trafegar em dias
alternados, foi ampliada de 8 para 67 km2, numa tentativa de dissolver a nuvem negra
que corrói implacavelmente os dois milênios e meio do Parthenon.
Algumas mudanças em nosso comportamento podem contribuir para minimizar
a produção de chuva ácida, são eles:
• Incentivar o transporte coletivo
• Utilizar metrôs em substituição à frota de ônibus a diesel.
• Incentivar a descentralização industrial.
• Mudanças nas técnicas agrícolas e de silvicultura
• Retirar o enxofre dos combustíveis com alto teor desta substância antes da sua
distribuição e consumo.
• Retirar o enxofre dos gases de combustão nas indústrias antes do seu
lançamento na atmosfera.
• Subsidiar a utilização de combustíveis limpos (gás natural, energia elétrica de
origem hidráulica, energia solar e energia eólica) em fontes de poluição tipicamente
urbanas como hospitais, lavanderias e restaurantes.

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• Utilizar combustíveis limpos em veículos, indústrias e caldeiras.
• Utilizar purificadores nos escapamentos de veículos.
O problema da chuva ácida e todos os outros fenômenos globais de poluição
dependem unicamente das nossas atitudes frente ao meio ambiente e dos governantes
que além de estabelecer a legislação pertinente que controla a emissão destes
poluentes, deve propiciar condições adequadas ao cumprimento desta legislação.

Como medir a acidez da chuva


A escala utilizada pelos pesquisadores para medir a acidez da chuva vai de zero
a 14. E é conhecida como escala de pH (Fig 3). Uma solução é ácida quando o pH é
menor que 7,0; é básica quando o pH é maior que 7,0 e neutra quando o pH é igual a

pH pH
1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 1 0 – 11 – 1 2 – 13 - 1 4
S olu ções ácidas S olu ções básicas

N eu tra
A u m en to da acidez da solu ção

A u m en to da alcalin idade d a solu ção

7,0.

Figura 7 – A escala de pH
Para medir com precisão a acidez das gotas de chuva o correto é coletar a água
da chuva no início, durante e no final da precipitação.
Existem aparelhos chamados pHmetros que são os mais indicados para medir
com precisão o pH das soluções, mas existem fitas de papel indicadoras de pH que
podem ser utilizadas nos casos em que não se necessita de medidas muito precisas.
Estas fitas de papel vêm impregnadas com substâncias que apresentam
coloração diferente dependendo da acidez do meio, então após a coleta da água da
chuva, mergulha-se esta fita de papel na água, obtém-se o nível de acidez
comparando-se a cor da fita com uma escala colorida contendo os valores de pH que
variam de zero a 14.
A seguir serão apresentados alguns roteiros de experimentos destinados a
mostrar aos alunos: a escala de pH, que a chuva é naturalmente ácida e as

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