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Capítulo 1

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO
PARA O CLÍNICO
Benjamin D. Levine, M.D.

SUMÁRIO DO CAPÍTULO A fisiologia do exercício, aliada à sua aplicação


prática durante o teste de exercício, é um instru-
CAPTAÇÃO DE OXIGÊNIO E CASCATA DE mento essencial para quantificar a capacidade fun-
OXIGÊNIO cional de pacientes e para avaliar a integridade do
Exercício Submáximo e Estado de Equilíbrio sistema cardiorrespiratório. Como tal, ela desempe-
Máximo nha um importante papel para clínicos comprome-
APLICAÇÃO CLÍNICA DE TRANSPORTE tidos com a melhora da qualidade de vida, inde-
MÁXIMO DE OXIGÊNIO DURANTE TESTE pendentemente de sua habilidade para diagnosticar
DE EXERCÍCIO a doença arterial coronariana.
REGULAÇÃO CARDIOVASCULAR DURANTE
EXERCÍCIO: DO TRABALHO EXTERNO PARA
O INTERNO CAPTAÇÃO DE OXIGÊNIO E CASCATA
REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE OXIGÊNIO
DURANTE E APÓS O EXERCÍCIO: O
CONCEITO DE "PRODUTO TRIPLO " Para realizar um trabalho físico , a captação e o
REGULAÇÃO DA FREQÜÊNCIA CARD!ACA transporte de oxigênio são necessários à fosforila-
DEMANDA E SUPRIMENTO DE OXIGENIO çâo oxidativa e à produção eficiente de trifosfato
de adenosina (ATP) a fim de atender às demandas
MIOCÁRDICO
metabólicas do corpo.
PERSPECTIVA PESSOAL
Natureza Contínua da Doença Arterial
e
Na Figura 1.1 apresentado um diagrama sim-
plificado dos componentes da "cascata de oxigê-
Coronariana
nio", ou os passos da cadeia respiratória que o
REFERÊNCIAS
oxigênio eleve percorrer para passar da atmosfera
;) mitocôndria . O diagrama inclui:

1. Pressão atmosft'rica pan:i:,l do oxigênio deter-


minada pdo ambiente.
2. Inte rface entre o ambiente e o corpo via pul-
moes e ventila~;úo.
3, Difusào no sangue pelos capilares pulmonares.

3
O EXFRCÍCIO
PARTE 1 FI SIOI.OGIA NORi'vl r\L D , ~
·1

Atlético

5 Sistema
circulatório

4
-
"7
.5

-.g'.5 3

2 Músculo

1 Coração

_ _ _ _ _ _ Repouso

Transdução de energia

FIGURA 1.1. A figura da direita é uma representação estilizada dos elementos essenciais da "cascata de oxigênio". O
oxigênio, cuja pressão parcial é determinada pela altitude do ambiente , entra no corpo pela ventilação pulmonar; a
partir daí, difunde-se pelo capilar pulmonar, onde se acopla à hemoglobina e é transportado pelo fluxo total vi.a sistema
cardiovascular; um segundo passo da difusão ocorre no capilar muscular, onde o 0 2 passa para a célula do músculo e
em seguida é transportado, do espaço intercelular às mitocôndrias, para ser usado para a fosfori. lação oxi.dativa e
transdução de energia. O lado esquerdo da figura demonstra a grande variação n a captação de oxigênio (Vo 2) da
posição de repouso (barra da direita) ao exercício de pico , tanto no ser humano sed entário (barra do meio) como no
atleta (barra da esquerda). Observe que a maior parte do aumento na captação de oxigênio durante exercício vem do
músculo esquelético. Fonte: Ref. 1.

4. Fixação alostérica do oxigênio à he moglobina. quelé tico e m repouso te m uma demanda m etabó-
S. Transporte da maio r parte do oxigênio através
lica muito baixa e , conseqüe nte me nte, um fluxo
do siste ma cardiovascular.
sangüíneo igualme nte baLxo. Entretanto, durante
6. Difusão no capilar do músculo para dentro do 0
exercício, o músculo esquelé tico te m a capaci-
músculo esquelético.
dade de aume ntar sua d e m anda me tabó lica em
7 . Oxidação na mitocôndria para produção de
e ne rgia 1. t~ais de 10 vezes (>20 vezes e m atletas de resis-
tencia ; Fig. 1.1), levando a um grande a ume nto no
flux_o sistê mico ele oxigênio.
No re pouso, essa de manda metabólica é de ter-
minada pelas exigências ae róbicas re lativa mente A medida q ue o trabalho externo realizado pelo
músculo
' esqt1e1et1
- ·co a ume nta (como por exem-
ahas de tecidos como os cio cére bro, coração e
rins. Para a maio ria cios indivíduos, e m média, a plo , velocidade e graduação ela esteira o u Watts
na. bicicle t·1 ~
ta xa me tabólica de repouso é ele aproximadame n- ' e rgo me• ti.·1ca ) ,· a quantidade ' ele ox1.ge-
te 3,5 mi 0 / min/ kg. Essa medida foi chamada ele nto q ue passa pe la cascata a ume nta e a taxa de
1 MET, o u eq11 i va le11te 111etahólico. O músculo es- captação ventilató ria de oxigê nio o u VO pode
2
se r medida (Fig. 1. 2 ) _ " ' '
4 PARTE I FISIOLOGIA NORiVlAL DO EXERCÍCIO

Atlético

5 Sistema
circulatório
4

'e::

-.f§ 3

2
Múscu lo

1 Coração

Repouso Mitocôndria

Transdução de energia

FIGURA 1.1. A figura da direita é uma representação estilizada dos elementos essenciais da "cascata de oxigênio". O
oxigênio, cuja pressão parcial é determinada pela altitude do ambiente, entra no corpo pela ventilação pulmonar; a
partir daí, difunde-se pelo capilar pulmonar, onde se acopla à hemoglobina e é transportado pelo fluxo total via sistema
cardiovascular; um segundo passo da difusão ocorre no capilar muscular, onde o 0 2 passa para a célula do músculo e
em seguida é transportado, do espaço intercelular às mitocôndrias, para ser usado para a fosforilação oxidativa e
transdução de energia. O lado esquerdo da figura demonstra a grande variação na captação de oxigênio (\/0 2) da
posição de repouso (barra da direita) ao exercício de pico, tanto no ser humano sedentário (barra do meio) como no
atleta (barra da esquerda). Observe que a maior parte do aumento na captação de oxigênio durante exercício vem do
músculo esquelético. Fonte: Ref. 1.

4. Fixação alostérica do oxigênio à hemoglobina. quelé tico e m repouso tem uma dem anda metabó-
5. Transporte da maior parte do oxigênio através lica muito baixa e , conseqüentemente, um fluxo
do sistema cardiovascular. san güíneo igua lmente baixo. Entretanto, durante
6. Difusão no capilar do músculo para d e ntro cio o exercício, o músculo esqu elético tem a capaci-
músculo esque lético. dade de aumentar sua demanda m etabólica em
7. Ox idação na mitocôndria para produção de mais de 10 vezes (>20 vezes e m atletas de resis-
en e rg ia 1.
tência; Fig, 1.1) , levando a um grande aumento no
fluxo sistêmico ele oxigênio.
No repo uso, essa demanda me tabólica é deter- À medida que o trabalho externo realizado pelo
minada pelas exigências aeróbicas relativamente
músculo esque lé tico aumenta (como por exem-
altas de tecidos como os do cérebro ' coração e
., plo, velocidad e e g raduação ela esteira , o u Watts
rins. Para a maioria dos indivíduos, em média , a
na bicicleta ergométrica), a quantidade de oxigê-
taxa metabó lica de repouso é de aproximadamen-
nio que passa pela cascata aumenta e a taxa de
te 3 ,5 mi O / min/ kg, Essa medida foi chamada ele
captação ventilatória de oxigênio ou VO pode
1 MET, ou equivalente metahólicu, O músculo es- ser medida (Fig, :t .2). , '
2
'
CAPÍTULO I FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 5

féricos (extração de oxigênio), fatores que deter-


V02 max minam o transporte sistémico de oxigênio. Entre-
tanto, com exceção de alguns estados patológicos
-------------- --------- que prejudicam a capacidade de utilização de oxi-
gênio pelo músculo esquelético,6 o único fator im-
portante que limita o VO 2• max em indivíduos nor-
o
N
mais no nível do mar é o débito cardíaco máximo. 7
'> Uma das relações mais íntegras em toda a fisio-
logia cio exercício é a que existe entre a captação
Inclinação= "economia "
de oxigênio e o débito cardíaco. Independentemente
da idade, do sexo ou da presença de estados pato-
lógicos, em geral há uma demanda de cerca de 6
litros de débito cardíaco para cada litro ele captação
Taxa de trabalho de oxigênio acima de repouso8 (Fig. 1.3). O rompi-
mento dessa relação pode ser um sinal de patolo-
gia oculta grave e de descompensação iminente.
FIGURA 1.2. Representação idealizada da relação entre Por exemplo, em pacientes com insuficiência car-
taxa de trabalho (velocidade e graduação na esteira, Watts díaca , a despeito de qualquer outra variável clini-
na bicicleta ergométrica) e captação de oxigênio (\To). camente medida , a manutenção de uma relação
Quando a taxa de trabalho é aumentada , a captação de normal entre débito cardíaco e captação de oxigê-
oxigênio aumenta com uma inclinação igual à economia nio identifica pacientes com bons prognósticos de
da atividade. Quando a taxa de trabalho aumenta , mas a curto prazo.9 Ao contrário, quando a relação se
captação de oxigênio não pode aumentar mais, alcança- rompe, pode ser necessário um transplante urgen-
se o Vo 2 max. ·
te. 9 Assim, a avaliação da capacidade máxima de
exercício, ou V0 2 max , pode servir de substituta
para a avaliação do débito cardíaco máximo.

A inclinação da linha que relaciona o VO 2 à


taxa de trabalho é chamada de economia e varia
conforme o tipo de exercício. Por exemplo, cami-
nhar é bastante econômico, assim como andar de
bicicleta, e a economia dessas duas atividades va-
20
ria relativamente pouco ele indivíduo para indiví-
duo. Ao contrário, correr é me nos eficiente, e ati-
_ 15
vidades como natação conseguem converter apenas e
10% da produção de energia em trabalho útil. 2·., ~
u 10
16 lit<os
No final , chega um ponto além cio qual maiores ·O
aumentos da taxa ele trabalho não representam
aumentos adicionais na captação de oxigênio. É 5 1 litro
esse valor que re presenta o \10 2 max , ou a taxa
máxima de captação ventilatória ele oxigênio. 1 o
o 500 1000 1500 2000
O \10 2 . max é a medida que me lhor avalia o 2500

condicionamento e é um índice ele integrid:1cle da V02 (ml/mln)


função cardiovascular ampl:tmenLe usaclo.'i Segun-
do o Princípio de Fiel<, o vol t' o produto cio FIGURA L3 . I:st,~ figura rep resenta um dos princípios
débito cardíaco multiplicado pela cliferen~·a do oxi- luncbrncnt:11s ela f1 s10log1a do exercício: a relação cons-
gênio arteriovenoso no corpo. Assim , o transporte tante cnl rc o aumento da captação de oxigênio (Vo) e 0
sistémico ele oxigênio é determinado tanto por fo - au111c1~1n correspondente no débito cardíaco (Qc), que,
tores centrais (liberação de oxigênio) corno peri- na maioria dos casos, é 6/1.
- 1,·{
,1
1

11· PARTE I FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO


6
1 'i
'. li dam a resposta da freqüência cardíaca ao exercício.
: 11 Estado de equilíbrio máximo
l Ao contrário, patologias que diminuem a reserva
1, i .....,_ freqüência cardíaca diastólica e limitam a capacidade de aumento do

-
1,
.... ventilação
lactato .I 150
volume-contração durante o exercício (ver adiante)
!/; 10 f150
.l também influenciarão a resposta de batimento car-
1, a. ~
8 ;/ díaco, uma vez que a relação entre captação d~
o"'
co
u ,.·, ~
E -~ :'/
100 o
,co
oxigênio e débito cardíaco é relativamente fixa. A
.so "O 100
cii
(.),
medida que a intensidade do exercício vai aumen-
:u 5
·u
u
co -~ / .!2
-~
e tando , chega um momento em que a taxa de au-
0 e I ~
ro
_J ;g; 50
50
mento do batimento cardíaco começa a cair, o que
CY
~ ·" caracteriza a capacidade máxima de exercício. A
LI.. 411••···· ,,_.,,.
.....=-•..:..,..--r-- esse momento se dá o nome de limite da freqüên-
10
o 2 4 cia cardíaca, ou freqüência cardíaca de Conconi. ·' '
Taxa de trabalho (1/min) Outra variável que pode ser avaliada é a venti-
lação (Ve), que é relativamente baixa em níveis
FIGURA 1.4. O gráfico mostra o aumento da freqüên- baixos de exercício. À medida que a intensidade
cia cardíaca , da ventilação e do lactato durante os au- do exercício aumenta, chega-se a um ponto além
mentos na taxa de trabalho. Numa taxa de trabalho fisio- do qual a taxa de aumento do Ve começa a ficar
• ]?
lógica específica, representada pela coluna hachurada , maior do que a taxa de aumento do Vo 2 . - Esse
a taxa de aumento da freqüência cardíaca diminui (ponto ponto é chamado de limiar ventilatório.
de in ílexão da freqüência cardíaca) , a ventilação aumenta
Embora o tema da regulação da respiração du-
desproporcionalmente à captação de oxigênio (limiar de
rante o exercício ultrapasse o objetivo deste capítu-
ventilação) e o lactato começa a se acumular no sangue
(limiar de lactato). Como é impossível manter intensi- lo, alguns pontos merecem comentários. Em pri-
dades de exercício além dessa taxa de trabalho por perí- meiro lugar, há uma reserva substancial no sistema
odos prolongados, ela é chamada de "estado de equilí- pulmonar, tanto no aspecto funcional como estru-
brio máximo ". tural, de modo que, em indivíduos normais, no ní-

Jovem Idoso
12

EXERCÍCIO SUBMÁXIMO E ESTADO 8


DE EQUILÍBRIO MÁXIMO
4
U)
:::::,.
As respostas s ubmáximas ao exercício podem
fornecer indícios importantes sobre a capacidade
o
X o
:J

funcional e a capacidade de desempenhar as tare-


u::
-4
fas do dia-a-dia (Fig.1.4).
A variável mais fácil e mais comum de ava liar é -8
a fr<.'.qüência cardíaca , que aumen ta linearmente com o 2 4 6 o 2 4 6
a capta~·ão de oxigênio. A inclinaç;1o dessa linha Volume (1)
depende de C<.'.rtos fatores , principalmente do con-
dicionamento cardiorrespiratório. Em sujeitos sem FIGURA l.S . Curvas ele volume-fluxo num indivíduo
preparo físico , num:J taxa de trabalho baixa , a fre- Jovem e num idoso , em rrpouso (curva interna pequena)
qüé~cia_ c:1rdíac.1 ,H1men1a mais rapidamente do que e.em excrc1c10 de pico (curva do mcin): ambas são envol-
c:m ind1v1duos com bom condicion:1mc nto, para vidas por uma curva ele vn lumc de fluxo m,\ximo. Obscr-
quem <.:Ss<.: aum<.:nlo (: suhsta nci al1nl'nte mais dl'- ~.~ (!l'.C. P·~'.'ª
º_ indivíduo jnvcm hü uma reserva inspirató-
morado. Al<:m u-11·,.,,.,,> , . ,j, .- l
.,., ' ' 1 I C ,l~;J() J)CJ( (' Sl'r 1l:JSt:Jlll l' 1;,1 e_ ~~p11 ,1l(í1 ia substnnc1al, mesmo em exercício ele pico.
afet1d·1 p .,, ... En11L 1,11110, para a pessoa idosa, h,í uma notável limita-
' or mcu1c1me11tos como lic1:1 -hloq11eado-
res ou bloqueadores do canal de c;í lcio, qtll' ahr:111 - de
,·;lo !luxo, tanto inspiratôrio como expiratório, bem
co 11H1 !luxos de pico se nsivelment e reduzidos.
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNI CO 7

vel do mar, o sistema pulmonar raramente oferece lactato, ou início de acúmulo de lactato (IAL). O
qualquer limitação ao transporte de oxigênio.1.13 termo limiar anaeróbico é aplicado a esse nível
Na Figura 1.5, o gráfico da esquerda mostra de intensidade de exercício e goza de amplo reco-
uma curva típica de volume-fluxo durante repou- nhecimento popular. 18 •19 Contudo, os últimos estu-
so (curva pequena interna) e durante exercício (cur- dos da bioquímica do exercício deixam claro que
va do meio) num indivíduo normal e saudável. não há um "limiar" em que ocorre urna mudança
Esse gráfico demonstra a diminuição do volume do metabolismo "aeróbico" para "anaeróbico" .20-22
do pulmão no final da expiração e o seu aumento Em vez disso, em situações de alta demanda ele
no final da inspiração, durante o exercício. Tanto energia, a fosforilação básica (produção de ATP
um como outro estão bem dentro da capacidade via glicose , creatina cinase, adenilato cinase e
de reserva da curva de fluxo-volume máximo (cur- succinil CoA sintetase) desempenha um papel im-
va externa). Em contraste com esse indivíduo jo- portantíssimo no suprimento de ATP para a fun-
vem, a curva da direita mostra o que acontece com ção contrátil, muito embora a taxa de suprimento
um indivíduo idoso durante o exercício. Embora energético via fosforilação oxidativa não seja ex-
haja pouca diferença em repouso , durante o exer- cedida. 23·24 Opondo-se a uma mudança dos per-
cício o indivíduo idoso não consegue diminuir o cursos oxidativos para glicóticos, o limiar de lacta to
volume do pulmão no final da expiração , por cau- durante protocolos de exercícios progressivos ocor-
sa da diminuição do fluxo expiratório máximo e re por causa (a) da energética da utilização do
do volume reduzido do pulmão. Assim , para que substrato , que pela ação média leva ao aumento
haja um aumento satisfatório de ventilação duran- da taxa de produção de piruvato e que, inevitavel-
te o exercício, o volume do pulmão no final da mente, resulta na produção de lactato, uma vez
inspiração deve ter um aumento acentuado . usa n- que ambos são produtos da glicose usados para
do praticamente toda a reserva de inspiração dis- oxidação direta por meio da liberação de lactato;
ponível e resultando numa sensação ele dispné ia (b) do aumento da taxa do fluxo glicótico à medi-
evidente, ainda que sem hipoxemia . Essas curvas da que aumenta a intensidade do exercício e (c)
demonstram uma concepção errônea mu ito comum da eficiência dos mecanismos de liberação de
entre os clínicos - a de que se a saturação de oxi-- lactato. 25 ·26 Conseqüentemente, da perspectiva de
emoglobina arterial estiver normal, então a dispnéia um sistema de órgãos , o aumento do lactato
de exercício não pode ser de origem pulmonar. sangüíneo fornece informações úteis sobre os me-
Essa conclusão não é verdadeira , e para muitos canismos de compensação de conjuntos de fun-
pacientes, principalmente os idosos, que sof~e~ ções diferentes mas inter-relacionadas. Deve-se
de enfisema, ou mesmo pacientes obesos, as hm1- reconhecer também que os níveis máximos ou pró-
tações pulmonares à realização de e~erc!~ios tor- ximos do máximo do fluxo oxidativo continuam,
nam-se manifestas e levam a uma dispne,a acen- durante o exercício, em intensidades que se equi-
tuada_ 14-1 6 param, ou até mesmo excedem, a captação máxi-
De modo semelhante à resposta ventilatória du- ma de oxigênio. Além disso, com o início rápido
rante exercício, conforme mo stra ª Figura 1. 4, 0 de exercício de qualquer intensidade, a fosforila-
, • o produto do .metabo- ção em nível de substrato é necessária para o su-
lactato sangümeo, ou seia,
, eis próxllTIOS dos primento energético. Assim, o conceito de "limiar
!ismo glicótico, permanece em mv
. ·d a des moderadas anaeróbico" não é correto e deve-se estimular o
níveis de repouso com mtens1 .. de
~ d l ctato é equ1hbra- uso de uma terminologia mais fisiológica.
exercício pois a produçao e a , . . Além da terminologia, entretanto, é importante
'
da pela desobstrução do museu , lo esquelet1co
, atl-
17 reconhecer que existe sim um nível de intensida-
vo e inativo, bem como d o coraç ão e do, f1gado.. . de de exercício para cada indivíduo, que não pode
Entretanto durante protoco los de exercic1os mais ser ultrapassado por longos períodos. Por isso, pre-
' d ~ de ]actato aumenta
fortes, nos quais a pro uçao . d. oní- fere-se o termo estado de equilíbrio máximo quan-
mais rapidamente d o que os mecanismos isp d
do se trata de um nível clinicamente relevante de
veis conseguem compensar, alcança-se uma e- atividade. Essa taxa de trabalho pode ser identificada
,cio na qua 1a con-
terminada intensidade d e exerci . . ação por qualquer uma das técnicas mencionadas ant~-
st1bir Essa me110
centração de lactato começa ª · t olos de riormente (isto é, freqüência cardíaca de Concom,
1 t durante pro oc limiar ventilatório ou início de acúmulo de lactato)
na concentração de act~ 0 de liniiar de
exercícios mais fortes e chamac1ª
8 PARTEI FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO

APLICAÇÃO CLÍNICA DE TRANSPORTE


e representa um substrato fisiológico discreto (barra
MÁXIMO DE OXIGÊNIO DURANTE
hachuracla na Fig. 1.4) que ocorre toda vez que
TESTE DE EXERCÍCIO
uma determinada porcentagem ele Gtptaçáo máxi-
ma de oxigênio é alcançacla. 11 ·21 Para a maioria cios
A principal unidade de captação de oxigênio é
indivíduos normais, isso geralmente ocorre numa
0
litro de oxigênio por minuto (1/min) que, em ter-
captaçáo máxima ele oxigênio entre 50% e 70%,
mos absolutos, é uma função diretamente relacio-
embora em atletas ele elite possa chegar a uma
nada ao tamanho do corpo. Entretanto, como me-
faixa entre 90% e 95% do \10 2 max. O estado ele
dida ele capacidade de trabalho, ou a capacidade
equilíbrio máximo é um parâmetro fisiológico im-
que O ser humano tem de se mover através does-
portante a se identificar, uma vez que ativida-
paço, ela geralmente é convertida em massa corpo-
des de duração mais longa em pessoas que não
são atletas são realizadas bem abaixo da capacida- ral e em sua forma mais familiar é expressa em
de máxima . Além disso, a maioria dos exercícios mililitros por quilograma por minuto (ml/kg/min).
prescritos com propósitos de treinamento para pa- Clinicamente, o Vo2 é novamente convertido em
cientes deve ocorrer em intensidades abaixo do equivalentes metabólicos (MET) que, como foi des-
estado de equilíbrio máximo. crito anteriormente, representam um valor médio
Embora não exista um "limiar anaeróbico", a ca- de gasto energético em repouso de 3,5 ml/ kg/min.
pacidade máxima do fluxo glicolítico, ou "capaci- O grau de preparo físico, ou função cardiovascular,
dade anaeróbica ", que pode ser entendida como a exigido por várias atividades ocupacionais, recrea-
taxa e a magnitude da quantidade absoluta de ener- tivas ou de condicionamento pode, então, ser re-
gia disponível na fosforilação em nível de substrato, presentado pelo número de equivalentes metabóli-
desempenha um papel importante em atividades cos ou pelo transporte sistémico de oxigênio exigido
de alta intensidade com duração de 1 ou 2 minutos. pela atividade acima do nível de repouso (Tabela
Ela pode representar uma característica extrema- 1. 1). Assim, tanto os equivalentes metabólicos atin-
mente importante a ser identificada em corredores gíveis como os sustentáveis são fatores importan-
de velocidade ou de meio-fundo. Embora ainda se tíssimos para determinar a capacidade funcional
discuta qual seria o método ideal de avaliar essa de um paciente.
característica, provavelmente a melhor abordagem A captação máxima de oxigênio muda confor-
é a descrita por Melbo et ai. ,27 que emprega o défi- me algumas variáveis, como treinamento, sexo e
cit máximo de oxigênio acumulado. Em essência, idade.5 Em média, o Vo2 max convertido em peso
se o exercício de alta intensidade for iniciado re- corporal total diminui cerca de 10% a cada 10 anos
pentinamente, e numa intensidade acima daquela (0,4 a 0,5 ml/min/ kg por ano),3º· 3 1 embora o ritmo
que pode ser supo1tada pela captação máxima de de declínio possa diminuir com a manutenção de
oxigênio, será necessário gerar ATP para a contra- um alto nível ele atividade física e de peso corpo-
ção muscular por meio da fosforilação em nível de 1.ª1 1·c1 ea 1•32·33· Q uan d o o Vo,,
· max absoluto for con-
substrato. Sobretudo no primeiro minuto ele exercí- siderado, ou for convertido em massa isenta de
cio ela será a principal fonte de energia. A diferen- gordura (MIG) , o declínio será muito menor (4% a
ça entre a quantidade de energia que seria usada se
5% a cada dez anos, ou 0,2 ml/min/ kg de MIG por
todo exercício fosse realizado "aerobicamente", ou
ano). A American Heart Association estabel'e ceu
com energia proveniente de fontes oxiclativas e a diretrizes espec'f·1 icas para 1'd ade e sexo que po-
'
captação real de oxigênio é denominada dqficit de
dem ser usadas para avaliar a capacidade funcio-
oxi!.{ênio. Tal esforço de alta intensidade raramente
nal ele _um paciente (Tabela 1.2).
consegue ser mantido por mais do que de 2 a 4
O ~~2 max, ou nível máximo de equivalente
minutos, e o d6ficit de oxigênio alcançado durante meraboltco , n-,10 "só c onstttu1 • . uma variável impor-
esforço exaustivo é denominado capacidade
a_naero-h ica.
. 272< •
· ~ Se (a) a capta\-·ão máxima ele oxigê-
tante para· , ,-1 capac1'd ad e funcional como
determii1·11·

n~o; (h) a economia ; (c) o estado de equilíbrio m;í -


possui inerente relevância clínica (Tabela ; .3). Por
xuno e (d) a capacidade anaeróhict forem calcul:t - e~emplo, ª maior parte elas atividades do dia-a-
~os, ~ode-se obter uma avaliap1o ahr:tngente da cl,a requer um gasto energético de $ 4 METs _.-HYi
Para. um ()'tciente
' c) .
( m msu t··1ciencia
-~ cardíaca con-
c:r~c1dad~ (~e desempenho de qualquer atleta , sej;1
gestwa,. se o nível· ele t·1c1nsporte
., . ~
de co111pct1çao ou ele recreaçi'io. (. 1e oxioenio exce-
der o Vo 1 m·tx o ().1 ' - . b
' • ' ogno.st1co ele curto prazo será

j
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 9

TABELA_ 1.1. QUANTIDADE EXIGIDA DE CAPTAÇÃO DE OXIGÊNIO/PRODUÇÃO DE ENERGIA


PARA VARIAS ATIVIDADES

Cuidados Pessoais ou Condicionamento


Categoria Domésticos Profissionais Recreativas Físico
Muito leve Tomar banho, barbear-se, Trabalho sentado Shuffleboard Caminhada (3,2 km/min)
< 3 METs vestir-se
(escritório, reunião) Lançamento de ferradura Bicicleta ergométrica
< 10 ml/kg/min Trabalho de escritótio, Trabalho em pé Pesca simples (resistência muito
< 4 kcal escrever
(vendedor, barman) Bilhar baixa)
Lavar louça Ginástica calistênica
Dirigir caminhão Arco e flecha
Dirigir carro muito leve
Operar guindaste Golfe (carrinho)
Leve Limpar janelas Reposição de estoque Dança (social ou Caminhada
3-5 METs Varrer folhas (objetos leves) quadrilha) (4,8-6,4 km/h)
11-18 Capinar Soldagem leve Golfe (a pé) Ciclismo
ml/kg/min Aparar grama (cortador Carpintaria leve (9 ,6-12 ,8 km/h)
Vela
4-6 kcal motorizado) Montagem de Ginástica calistênica
Cavalgar
Encerar o chão (lentamente) máquina Voleibol leve
Pintar Reparo de automóveis Tênis (duplas)
Carregar objetos Aplicação de papel de
(7 ,5-15 kg) parede

Moderado Cavar o jardim levemente Carpintaria (constru- Badmínton Caminhada


5-7 METs Aparar a grama (cortador ção de exteriores) Tênis (simples) (7,2-8 ,0 km/h)
18-25 manual) Cavar (leve) Esqui na neve (descida) Ciclismo
ml/kg/min Subir escadas (devagar) Operação de ferra- Caminhada longa com (14 ,5-16,0 km/h)
6-8 kcal Carregar objetos (15-25 kg) mentas pneumáticas mochila Natação (nado peito)
Basquete
Futebol americano
Patinação (gelo/rodas)
Cavalgada (galope)

Forte Serrar madeira Cuidar de fornalha Canoagem Jogging (8 ,0 km/h)


7-9 METs Cavar (pesado) Cavar valas Escalada Natação (nado crawl)
25-32 Subir escada (mod.) Trabalho com picareta Esgrima Máquina de remo
ml/kg/min Carregar objetos (25-40 kg) e pá Paddle Ginástica calistênica
8-10 kcal Touch Football pesada
Ciclismo (19 km/h)

Subir escada ~om peso Cortar lenha Handebol Corrida (mais de


Muito Forte
Carregar objetos(> 40,0 kg) Mão-de-obra pesada Squash 10 km/h)
> 9 METs
Subir escada (rápido) Esqui Ciclismo (mais de
> 32 ml/kg/min
Basquete vigoroso 21 km/h ou subida
> 10 kcal Cavar neve pesada
íngreme)
Cavar com pá por 10 min
Pular corda
(7,2 kg)

. . E·spec1.i 1·st·ts menor que 2ºA>ao :mo. i- Uma capacidade máxima


extremamente negativo J
1· '· em trnnsplan-
.·,
. _. de exercício ele 13 METs, independentemente de
, 1 110 cletermmante
te cardíaco usam esse nive coi ic, > . outras comorbidades ou da presença de isquemia
. . . ' 1 • tr'l11Sj11ante .· I OI
para a necessidade 11rnnente e e ' · . ., e sua extens;1o, permite um prognóstico de curto
. . . ·om card1opat1,1
outro lado, para um paciente e ~ . 1 ·10 MI~1-·s prazo também excelente.
, rc1c10 e e_ .· , . ~. ·_
. . d e., d e., exe
coronariana, a capac1cla Assim, urna avaliaç:1o precisa da capacidade de
grupo ele 1isco ex
sem isquemia coloca-o num su 1J - , . , __ , exercício é essencial para um teste de tolerância
, X'l ele mort,1 1JC1.ice 1
tremamente baixo, com uma t'1 '
PARTE I FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO
10

de exerctcto. Infelizmente, o hábito e o aspecto


TABELA 1.2. DIRETRIZES QUE CARACTERIZAM econômico têm conspirado para reduzir a precisão
A CAPACIDADE FUNCIONAL da maior parte dos testes clínicos, com base no
Classificação da Aptidão Cardiorrespiratória uso disseminado do protocolo de Bruce para teste
Captação Máxima de Oxigênio (1111/min/kg)
de tolerância ele exercício. Desenvolvido no final
da década de 196038 por Robert Bruce, na Univer-
Idade sidade de Washington, as velocidades e a gradua-
Baixo Médio Normal Bom Alto
(anos)
ção nele utilizadas não foram determinadas por uma
Mulheres análise racional, nem por princípios fisiológicos,
24-30 31-37 38-48 49+ mas por marchas fixas disponíveis na esteira usada
20-29 < 24
30-39 < 20 20-27 28-33 34-44 45+ para o desenvolvimento e validação iniciais do con-
40-49 < 17 17-23 24-30 31-41 42+ ceito. O problema maior do uso do protocolo de
50-59 < 15 15-20 21-27 28-37 38+ Bruce para testar pacientes com doença cardiovas-
60-69 < 13 13-17 18-23 24-34 35+ cular são os aumentos relativamente grandes da
demanda de Vo 2 na transição dos primeiros estágios.
Homens Por que essa questão é importante?
20-29 < 25 25-33 34-42 43-52 53+ Na medicina e na ciência há um princípio que
30-39 < 23 23-30 31-38 39-48 49+ diz que a freqüência de amostragem de qualquer
40-49 < 20 20-26 27-35 36-44 45+ medida determina a resolução máxima do instru-
50-59 < 18 18-24 25-33 34-42 43+ mento de medida (limite Nyqvist). Um exemplo bem
60-69 < 16 16-22 23-30 31-40 41+ conhecido desse fenômeno aparece na Figura 1.6,
que mostra a capacidade de resolução visual do
Adaptado com permissão da American Hean Association: Exercise Testing olho humano para determinar a direção do movi-
and Training of Apparently Healthy Individuais: A Handbook for Physicians,
1972 , p. 15.
mento da hélice de um avião.
À medida que a rotação da hélice aumenta até
o ponto em que ela realiza menos do que uma
rotação completa durante um único período de
amostragem Cl/35 s para o olho humano, pontos
5-6), a hélice parece mudar de direção. Esse pro-
cesso é chamado de aliasing e representa a perda
TABELA 1.3. NÍVEL MÁXIMO DE
do poder discriminatório da técnica.
EQUIVALENTE METABÓLICO PARA
Para o teste de exercício, uma das informações
DETERMINAR A CAPACIDADE FUNCIONAL
clínicas mais importantes vem da capacidade de
MET Capacidade Funcional discriminar aumentos de pelo menos 1 MET na
Repouso capacidade funcional. Principalmente em níveis bai-
Caminhada plana a 3,2 km/h xos de ª:ividade física , 1 MET pode representar
Caminhada plana a 6,4 km/h uma fraçao substancial da capacidade aeróbica de
Prognóstico fraco ; limite usual imediatamente um paciente. Exemplos simplificados de alguns
após IM ; custo máximo de atividades básicas do Protocol os cl'mteos
· comuns são apresentados na
dia-a-dia Figura 1.7_3s
•10 Prognóstico com terapia médica tão bom Dentre todos, o protocolo de Bruce se destaca
quanto a cirurgia de bypass de artéria
porque inicia com cerca de 4 METs e vai aumen-
Prognóstico excelente independentement e ele
outras respostas de exercício taJ1c.lo progressivamente as exigências aeróbicas em
1

MFTs ~ · '
-1 c-tcl- 3
' d
·
minutos, ' meio do aumento
por
Atletas de resistência
Atletas de nível internacional da _velocidade e ela graduaçüo da esteira. A pri-
1~1e~·a mudança ele estágio implica a quase dupli-
IM , infano do miocárdio . Gl~.~~o da exigência de trabalho (partindo de 4 a 7
MI..,. l ·s) e n-10 - ·1
AEdap_tadoScomdpedrmissão de Fletcher GF, Balady G, Froelicher VP ri ,,1 ' e<, 111 u1't o ut1 para determinar a verda-
xerc1se Lan ar 5 • A t t fh •
American Hean ~s ..5 a emenL .º ea 1thca re professionals frnm Lhe cl~i~:a capacidade funcional no nível que muitos
1997. oc1at1on . Wnung Group. Circulalion 20:684-696,
pacientes com cardiopatia vascular podem alcan-
çar. Os protocol os ªIternat1vos · mostrados na figu-
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 11

Freqüência da amostragem

F~35 amostras/s

FIGURA 1.6. Demonstração do princípio de aliasing de uma hélice de avião, conforme descrito no texto. Quando a
velocidade da rotação da hélice excede o intervalo de amostragem do olho humano , de modo que mais da metade da
rotação esteja completa antes da amostra seguinte , a hélice parece girar para trás. Essa figura demonstra a importância
da freqüência de amostragem (deve ser maior do que duas vezes o intervalo de interesse) em respeito à capacidade do
instrumento de medida para observações científicas.

ra começam com intensidades e velocidades de trabalho específica ou uma porcentagem prevista


caminhada diferentes , com aumentos na gradua- ele freqüência cardíaca máxima.40 Essa última é
ção que acrescentam aproximadamente 1 MET a muito variável, com um desvio-padrão de ±. 10
cada 2 minutos. Tais protocolos devem ser uma batimentos por minuto e , portanto, inútil para pa-
regra e não uma exceção, a menos que o p:c~ente cientes individuais. 4°Critérios específicos para cada
seja jovem, tenha bom condicionamento flsico : paciente, tais como fadiga , dispnéia , hemodinâmi-
uma expectativa clínica de capacidade de exerci- ca , desenvolvimento de sinais ou sintomas de
. supenor. a 10 METs • Os testes para atletas de isquemia ou de arritmias são pontos terminais mais
c10
apropriados, alterando o limiar conforme a situa-
competição devem obedecer a mesma co_n~t'.ta.
d eve-se esc olher uma velocidade m1cial ção clínica específica.
.
Ass1m, f ,
. .
que deve refletir um ntmo e 1d t •ei·namento con ·or-
,
tavel (como por exemp 1o, 14 ,5 ae 16 , O km/ h para
. , . . 1~
REGULAÇÃO CAR,DIOVASCULAR
.
corredores univers1tanos e e me io-funclo com um DURANTE EXERCICIO: DO TRABALHO
Vo max de 65 a 75 ml/kg/ min), com aum~ntos
2 • ri•, · . protocolos 1nva- EXTERNO PARA O INTERNO
graduais de 2% a cada 2 m111. ,us
. , , ·ta- dentro de 10 a
navelmente resultam cm exaus 0 As seções anteriores deste capítulo concentra-
· , r~ ele teste para 0
12 min e fornecem um am L)le11 e · , ram-se nas respostas integradas e sistêmicas do
J,
11
--y1cklade rna -
atleta.39Finalmente, uma vez que d Cc · ' , . . .,- corpo durante o exercício, com ênfase na capta-
. e , ·ões cl1111cas 1.10
xima de trabalho fornece m1ormaç · ção de oxigênio. A maior parte do aumento da
, · clínicos nunca
importantes os testes de exercicto . . demanda de oxigênio durante o exercício se origi-
' . ·b· . iamente po1 seu
devem ser interrompidos ª 1 itt ar ·l na no músculo esquelético, 1. 41 que deve ser aten-
. como uma taxa e e
f
administrador em pontos 1xos,
12 PARTEI FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO

16

- Bruce
14 ........ Mod Balke (3,4 mph) 4,3mph, 16%

- - . Balke (3 mph)
12 _ .. Naughton (2 mph)
3,4mph, 14%
10 10%
~ 1
w 8% ! 12,5% 1
2 8 2,5mph, 12% 6% 10% : - -1;;. - -,
-------t--
.. % 7,5% 1
------r-
13,5% .
·-·-
6 - - - · ------t·- ·-·-
1,7mph, 10% 2% i 5% 1 10% ,
----:------t·---·~
0% j 2,5% _ -..:.. . ..27-_. _;
4
- - '!_%_ - .L ...!:~~ . j
2 __ .,!~_.J
o 1 1 1 1 1 1

o 2 4 6 8 10 12

Tempo

FIGURA 1. 7. Representação idealizada de protocolos clínicos comuns. O protocolo de Bru~e se desrnca na medida
em que a taxa de trabalho aumenta bruscamente (pela alteração da velocidade e da graduaçao da esteira) , de modo
que em pacientes destreinados , a capacidade máxima de trabalho é rapidamente ultrapassada. _O utros protocolos
estabelecem uma velocidade básica de esteira que aumenta aproximadamente 1 MET a cada 2 mmutos apenas com
o aumento na graduação da esteira .

dida por aumentos apropriados no transporte de para uma combinação precisa entre a liberação de
oxigênio ao longo da cascata de oxigênio. As pró- oxigênio sistêmico e a demanda metabólica .4; ·46 A
ximas seções tratarão dos mecanismos específicos resistência vascular diminui para facilitar aumen-
pelos quais o sistema cardiovascular intermedeia tos da perfusão muscular e o débito cardíaco au-
esse aumento do transpo1te de oxigênio, tanto para menta proporcionalmente à captação de oxigênio,
o músculo esquelético como para o cardíaco. Me- o que permite a manutenção e até mesmo o au-
canismos neurais, mediados pelo sistema nervoso mento da pressão arterial média .
autônomo, e mecanismos locais, mediados pela As respostas cardiovasculares ao exercício di-
função mecânica do coração e pela regulação re- nâmico e estático são muito diferentes: o exercí-
gional da resistência vascular, são essenciais para cio estático (contrações musculares prolongadas e
essa resposta coordenada. Uma visão geral dares- de alta intensidade que limitam o fluxo sangüí-
posta cardiovascular ao exercício é apresentada neo , como levantamento de peso ou exercício
na forma de diagrama na Figura 1.8. isométrico) é associado a aumentos menores na
Durante exercício dinâmico, envolvendo con- captação de oxigênio, no débito cardíaco e no vo-
trações rítmicas de grandes grnpos musculares (tais lume-contração do que o exercício dinâmico, mas
como corrida , natação ou ciclismo) , a resposta com aumentos equivalentes na pressão sangüínea47
cardiovascular ao exercício é iniciada por centros (Fig. 1.9).
de comando mais elevados do cérebro, chamados Muitas atividades, como remo, ciclismo de alta
de comando central.12·11 Com a continuidade do resistência, ou esportes de salto, incluem uma com-
exercício, tanto os sinais mecânicos como os me- binação ele exercício estático com exercício dinâ-
tabólicos do músculo esquelético ativo fornecem mico . Nelas , os aumentos da pressão arterial po-
feedhack aos centros cardiovasculares do cérebro dem ser particularmente drásticos18 •49 (Fig. 1. 1O).
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 13

Ergorreceptores do
Medula ventrolateral músculo esquelético
(Centro cardiovascular) (mecanorreceptores
metaborreceptores)

Mecanorreceptores Mecanorreceptores
arteria is/ca rótida/aorta cardíacos

Reflexos
cardiopu\monares

Rim e Vasconstrição
vasoconstrição muscular
do leito
esplâncnico
Função
cronotrópica e
Modulação do inotrópica do
tônus vasomotor coração

FIGURA 1.8. Representação pictográfica da resposta cardiovascular ao exercício. O comando central inicia a resposta
vasoconstritora do exercício , que é mantida e aumentada via Jeedbach a partir de barorreceptores cardiorrespiratórios e
arteriais , bem como por estimulação de receptores musculoesqueléticos mecânica e metabolicamente sensíveis. Depois
da integração no cérebro , as respostas eferentes via sistemas nervosos parassimpático (vaga!) e simpático resultam em
aumento da freqüência cardíaca , vasoconstrição do músculo esquelético inativo e vasodilatação dos leitos musculares
ativos mediados pela liberação de substâncias vasodilatadoras locais ("simpatólise funcional ")

REGULAÇÃO D~ PRESSÃO ~RTERIAL A gravidade desempenha um papel importan-


DURANTE E APOS O EXERCICIO: O tíssimo na determinaçào da distribuiçào da pres-
CONCEITO DE "PRODUTO TRIPLO" são e do volume dentro cio sistema cardiovascu-
lar. '1 Na posiçào ereta , o volume-contraç,10 é
A pressão arterial 6 uma função do produto apenas ;1 metade do que st>ria n:i posição supina ,
triplo de freqüência cardíaca X volume-contra ção por causa do acúmulo perif(·rico e da reclui;ào do
(isto é débito cardíaco) X resistê ncia perif6rica
)
volume diastólico final ve ntricular esq uerdo. No
total.5° Os aumentos tanto na freqüência cardíaca início do exercício, a ac,;;1o de bombeamento cio
como no volume-contração contribuem para o músrnlo esquelélico (Fig. 1. Jl) trabalha para au-
aumento do débito cardíaco, muito embora a pos- mentar de modo substancial o retorno venoso,5253
tura corporal influencie sobremaneira a importân- e o volume-contração normalmente aumenta > 500/4
cia relativa das alterações no volume-contração. por meio do mecanismo de Starling.5·1

J
Rl\i1AL DO EXERCÍCIO
14 PARTE I FISIOLOGIA NO

Dinâmico Estático

-
O)
.Y
e 60
.E
:::::::- 40
E 20
N
o 0,0 0,5 1,0 1,5 2 ,0
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-
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50 0,0 0,5 1,0 1,5 2 ,0

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10
o 3 6 9 12 0,0 0,5 1,0 1,5 2 ,0

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E 150 •·····•······
•···••"····• PSD •········ • o •
~ 100
• • • • • • • PSD
50
o 3 6 9 12 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0

(Intensidade) Minutos

FIGURA 1.9. Respostas hemodinâmicas a exercício dinâmico (contraçâo rítmica regular ele grandes grupos muscula-
res) e estático (contração isométrica ou ele longa duração ele alta intensidade) . Fonte : Ref. 47 .
CAPÍTULO l FJSIOLOGJA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 15

Levantamento de peso
(O
(l) leg press 90% 1 RM
-~
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400
---
oi-
e Ol 300
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(/) E 200 -
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12]
o-

1 5s

Figura 1.10. O gráfico superior mostra a enonne hipertensão (pressão sistólica 300-400 mmHg) que ocorre durante o
levantamento de peso a 90% de uma extensão de perna com repetição única máxima (lRM) . (Fonte : Ref. 48.) O gráfico
mfenor mostra uma hipertensão semelhante , com pressões sangüíneas médias de aproximadamente 200 mmHg, que
ocorre durante cada contração num ergõmetro de remada . Fonte: Ref. 49 .

O volume-contração máximo é alcançado em insuficiência cardíaca congestiva apresentam re-


níveis relativamente baixos ele intensidade ele exer- dução da reserva cliastólica com aumento insufi-
cício (aproximadamente 50% cio \10 2 max) , uma ciente do volu me-contração, mesmo durante exer-
vez que a restrição pericárclica se1ve para limitar o cício ereto.57
volume diastólico fina l ventricula r esquerdo. Indí- Em taxas de trabalho muito altas. com envolvi-
cios que apóiam esse conceito podem ser encon- mento de uma grande quantidade de massa mus-
trados durante o exercício de supino, quando o cu lar ativa , a capacidade ele vasoclilataç;lo muscu-
volume diastólico final ventricu lar esq uerdo e , con- lar pode exceder a capacidade ele bombeamento
seqüentemente , o volume-contração (VC) perma- cardíaco e a pressão arterial pode cair. a menos
51 que no músculo ativo. be m como em outros leitos
necem os mesmos durante exercício forte . · Além
disso , em experimentos com animais c uj o vasculares , ocorra a vasoconstriç:lo mediada pelo
pericárdio fora removido c irurgicamente , foi pos- sistema ne rvoso simpático.".s~.w Se o exercício e a
sível aume ntar o volume-contr;1~;;1o e o d ébito car- contrac.;:1o muscular cessarem repentinamente , a
díaco m áximos , além da cap1a1.-·;10 m{1xima de oxi - a<;;1o de bombeame nto do músculo esquelético se
gên io.5~ Atletas de elite aprese ntam um aumento perderá , apesar ele uma vasoclilataçélo persistente
notável na capacidade de usar o mecanismo de (Fig. 1.12).
Starling durante excrcício.~r, Trnta-sc ele uma im- A import:1ncia dessa redistribuição cio débito
portante adaptaçúo para permitir ca ptações ele cardíaco cm capacidade venosa foi reconhecida
oxigênio e débitos cardíacos muito superiores em h:1 mais de :300 anos por Lower, que em 1669 es-
atletas de elite . Por o utro lado, os pacientes com creveu em De Core/e.
16 PARTE I FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO

BOMBA MUSCULAR, o "Segundo Coração"

120 200 ::::-200+ 200 O a neg. 200


mrHg mrHg rmi-lg nni-lg rmi-lg rmi-lg

6P=8011'1Tttg 6 P =200 nntlg

Repouso Contração Pós-contração


passivo ereto muscular imediata

FIGURA 1.11. Na posição ereta , existem amplos graus de mudança hidrostática nos membros inferiores, com uma
pressão de perfusão de aproximadamente 80 mmHg no músculo esquelético da perna. Durante a contração muscular,
as veias são temporariamente obstruídas , resultando numa elevação de pressão (figura do m eio) ; quando o músculo
relaxa, as válvulas venosas intactas levam a uma pressão negativa nas veias, aumentando significativamente a pressão
real de perfusão. Fonte: Ref. 8.

A pulsação deficie nte e o ânimo abatido são seqüelas da


super-dilatação dessas veias - dilatação venosa em qual-
quer parte do corpo diminui sensivelme nte o movimento
ax)+ do coração, desviando o devido suprimento e influxo san-
120
güíneos."º
rm1-tJ rm1-tJ
Não eleve causar surpresa, portanto, a queda de
pressão arterial nessas circunstâncias, e a síncope é
relativamente comum em atletas ou em indivíduos
praticantes ele exercício que inten-ompem brusca-
mente a atividade logo após uma série de exercí-
cios intensos , como uma corrida ele fundo. ou que
param para cobrar um lance livre durante uma par-
tida ele basquete. Originalme nte descrito por Gordon
em 1907,61 esse processo de hipotens~"\o pós-exercí-
~p =00 rm1-tJ cio foi investigado de maneira sistemática pela pri-
Após exercício meira vez na década de 1940, por LuLh:vig Eichna.
Ele realizou estudos com sole.lados logo após mar-
cha e exercícios de esteira, no Armored Medical
FIGURA 1.12. Durnntc o exe rcício , h,\ uma redi stribui -
lkse:irch Lahoratory em Fort Knox, reserva militar
ção marcant e do dé bito ca rdíaco ao 111úsc ulo csquclét ico
no L'St:1do de Ke ntucky .(,2 Suas principais obserua-
devido à vasodilatac,:ào 1rn: tabóli ca . Depoi s do cxl'.rcícin,
sem a bomba muscular para aumentar o retorno vcnosn , ~ú!s foram :
o conteúdo ca rdíaco pode cair dra sticamente devido a
uma redução do VDFVE e do VS , levando il hipntensüo e I. Pouco m:1is de SOºAi dos soldados apresentaram
síncope. hipotcns:10 ortostática pós-esforço.
CAPÍTULO l FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 17

2. Desses, um adicional de 50% (27% cio total) ./eedhacle de metaborreceptores musculares ,4:i o
desenvolveu síncope e foram incapazes ele per- comando central desempenha um papel essencial
manecer em posição inclinada durante 5 minu- no aumento da freqüência cardíaca durante o exer-
tos . cício. Três (extensas) linhas de indícios apóiam
3. A repetiçào ele testes em indivíduos suscetíveis esse paradigma. Em primeiro lugar, a aceleração
revelou síncope e hipotensão ortostática du- cardíaca realmente precede o início da contração
rante um período médio ele 1 e 2 horas , res- muscular durante o exercício voluntário .42 ·67 Em
pectivamente - em um paciente a hipotensão segundo, quando agentes bloqueadores neuromus-
ortostática ainda perdurou por 12 horas após culares como o curare são administrados para re-
uma caminhada de 58 km. duzir a força muscular e a estimulação metabólica ,
4. Manobras simples como movimento elas per- mas os sujeitos são instruídos a tentar manter a
nas foram suficientes para restaurar a pressão força (aumento de esforço e comando central mas
arterial durante hipotensão aguda , demonstran- Jeedback reduzido elo músculo em exercício), a
do a importância da redistribuição periférica do resposta ela freqüência cardíaca aumenta.4468 Ter-
volume sangüíneo e da bomba muscular. ceiro , se em exercícios um manguito ele pressão
arterial for inflado até os níveis supra-sistólicos de
Estudos feitos por Holtzhausen e Noakes63 an- pico e o paciente interromper o exercício, pren-
tes e depois de uma ultramaratona de 80 km reve- dendo metabólitos e mantendo a estimulação do
laram que 68% dos corredores apresentaram hipo- metaborreceptor mas eliminando o comando cen-
tensão ortostática durante o tempo em que ficaram tral e a estimulação mecanorreceptora, a freqüên-
parados em pé. Embora nenhum dos sujeitos ti- cia cardíaca retorna imediatamente à linha básica,
vesse sofrido síncope , 23% apresentaram pressões enquanto a pressão arterial e a atividade do siste-
arteriais abaixo de 90 mmHg e sintomas de tontu- ma nervoso simpático permanecem elevadas. 69
ra e náusea. É interessante notar que a magnitude O principal determinante da magnitude da res-
da hipotensão ortostática pós-corrida não pode ser posta ele freqüência cardíaca e pressão arterial ao
relacionada ao volume de plasma perdido duran- exercício é a intensidade relativa- isto é , a fração
te a corrida , apesar de os corredores terem perdi- ela contração voluntária máxima para exercício es-
do em média cerca ele 5% do peso corporal. As- tático, ou a porcentagem de \/0 2 max para exercí-
sim, embora a desidratação provavelmente tenha cio dinâmico ,70 bem como a quantidade absoluta
contribuído para reduzir o conteúdo ventricular e ele massa muscular envolvida. 70 - 1 Por exemplo. con-
a hipotensão ortostática, parece plausível que ou- sidere dois indivíduos diferentes: um de 30 anos
tros fatores reguladores da distribuição elo débito de idade e um executivo sedentário de 50. Se os
cardíaco, como a termorregulação , sejam mais dois fizerem jogging - o maratonista a 16 km/ h e
impo1tantes. Durante estresse grave causado pelo o executivo a 8krn/ h - e.levem estar correndo a
calor, aproximadamente um terço do débito cardía- 70% e.lo \/02 max e com urna freqüê ncia cardíaca
co pode ser redirecionado à pele para facilitar o ele 150, ou 85% ela freqü ê ncia rn{1xima. Em con-
esfriamento .M traste, se o executivo tentasse correr a 16 km/ h.
alcançaria facilmente sua freqü ê ncia cmlíaca rn:.í.-
xima ele 180 e 11{10 seria capaz de manter ess:1 taxa
REGU~AÇÃO DA FREQÜÊNCIA de trabalho absoluta por mais do que alguns se-
CARDIACA gundos. D:1 mesma 111:meir:1, se o maratonista cor-
resse a 8 km/ h, seu l'sfot\'O percl'hido seria míni-
Em nívds baixos dc: e xercício , : 1 freqü ê ncia ctr- mo , L' :1 ux:1 de trabalho ficll'i:1 pouco acima da
díaca aumenta quase que exclusiv:11nenll' pL'la :ths- crn1<.lic.::'10 dl' rl'pouso. Além clis:-;o, :-;e o executivo
tinência vagai , com poucos sin;ib dc: :tllll1L'nlos sis- rL·:1li1.:1ssl' trl'in:llllL'nlo de exercício por 6 meses
temáticos na atividadl' do sístl'll1:t lll'rvosu ele aument:1ri:1 seu Vu 2 max e :-;eria capaz ele cor-
simpático enquanto a intensidack do exl'rdcio n:'10 rer em velocidades substancialmente mais altas ,
alcance ou ultrapasse o estado de equilíhrio m:íxi - ;tinda que sua freqüência cardíaca permanecesse
mo.65·66 Em contraste com a atividade do sistema em 150, ou 7O°/t, do \/0 2 max. Um exemplo seme-
nervoso simpático e a regulaç,ào da resistência vas- lhante poderia :-;er dado com o exercício estático.
cular sistêmica, que é adaptada de acordo com o Um fisirnlturisrn de 113,25 kg é capaz de levantar
18 PARTE I FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO

um peso de 230 kg com uma contraç.1o voluntária ele exercício rotineiros. A Figura 1.14 mostra a de-
máxima (CVM) , enquanto o mesmo executivo con- rivação elo "produto pressão freqüência", que for-
seguiria levantar apenas 69 kg. Entretanto, a 30% nece uma boa estimativa elo ii10/ 2 e que influencia
do CVM (69 kg para o fisiculturista , 20 ,7 kg para o bastante a contribuição ela freqüência cardíaca e
executivo), a resposta de freqüência cardíaca e do trabalho cronotrópico, mas também incorpora
pressão arterial seria essencialmente a mesma. O a contribuição significativa do trabalho inotrópico,
treinamento com halteres reduziria o estresse ele pressão e volume do coração.
cardiovascular relativo em qualquer carga ele tra- Uma forma da equação de Fick, semelhante à
balho absoluta , ele modo semelhante ao treina- da captação sistémica ele oxigênio, ressalta que a
mento de resistência mencionado anteriormente. captação niiocárdica ele oxigênio (MJ2) é uma fun-
ção do fluxo sangüíneo miocárdico multiplicado
pela diferença do oxigênio arteriovenoso no ou-
DEMANDA E SUPRIMENTO DE tro lado do coração. Entretanto, o coração é úni-
OXIGÊNIO MIOCÁRDICO co, no sentido em que extrai a maior parte do
oxigênio que recebe , mesmo em repouso. Assim,
A magnitude da resposta cardiovascular ao exer- a capacidade que ele tem de aumentar a utilização
cício determinará a magnitude cio aumento do flu- cio oxigênio para atender a crescente demanda
xo sangüíneo ao coração necessário para atender energética deve ser atendida principalmente pelo
suas exigências de oxigênio, independentemente aumento do fluxo sangüíneo.
do nível absoluto de trabalho externo que está sen- Normalmente , a corrente sangüínea coronaria-
do realizado. A captação ele oxigênio miocárclico na pode aumentar pelo menos cinco vezes pela
(i10) , ou trabalho interno cio coração, dependerá vasodilatação de pequenas arteríolas de resistên-
da extensão cio aumento cios fatores determinantes cia periférica, bem como pela vasodilatação das
elas exigências de oxigênio miocárdico durante o artérias de grande conduto mediada pelo fluxo.
exercício (Fig. 1.13). É importante ressaltar que é o Esse processo é chamado de reserva do fluxo co-
Á1o2 , e não o Vo 2 , que detennina para quanto deve ronariano, e é o principal fator fisiológico para
aumentar o fluxo sangüíneo miocárdico durante determinar se o exercício resultará em isquemia
o exercício. miocárdica em pacientes com aterosclerose. Quan-
Embora seja difícil obter medidas diretas do do a aterosclerose envolve os vasos epicárdicos,
ii1o 2, elas podem ser calculadas por meio do uso tanto a função condutora como a responsividade
de parâmetros clínicos simples durante os testes vascular podem ser prejudicadas. Um efeito de

DETERMINANTES DE DEMANDAS
PIP = FC m a x * PSS
I ni ax
DE OXIGÉNIO DO MIOCÁRDIO (Mo) FC * (Ôc * RPT)
.-L-,
ESTRESSE DE PAREDE (PRESSÃO DO VE • VOLUME DO VE) FC * (FC *VS) * PT

ESPESSURA DA PAREDE PIP = FC 2 * VS ·~ RPT

FREQÜ ÊNCIA CARDIACA

CONTRATILIDADE
FIGURA 1.14. Derivaçüo do prnduto do índice de pres-
sr1n (PIP) como índice do consumo miocárdico de oxigê-
nio durante exercício. FC == freqüência cardíaca; PSS ==
FIGURA 1.13. Principais deLerminantes de demandas prcssí1o sangüínea sisLólica ; RPT == resistência periférica
de oxigênio do miocárdio , incluindo Lensão da parede tola! ; Qc == débito cardíaco . Assim, o PIP tende a favore-
logo antes do início da contração (pré-carga), logo após e cer o trabalho cronotrópico, mas também inclui compo-
durame a contração (pós-carga), freqüência cardíaca (tra- nentes que reíletem tanto o trabalho da pressão como do
balho cronoLrópico) e contratilidade. volume do coração.
CAPÍTULO l FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA. O CLÍNICO 19

cascata começa a se tornar fisiologicamente im- mento ST do ECG .7 ' Assim , não há nenhuma "má-
portante quando a área total ela seçào transversal gica" associa ela aos critérios clínicos padrões da
cio lúmen for reduzida em aproximadamente 75% depressão ele 1 mm cio segmento ST É apenas
(> 50% cio diâmetro ela seção transversal) ?~ Além uma medida ele conveniência , inicialmente deter-
disso, até mesmo níveis modestos ele aterosclero- minada pelo fato de o impresso apresentar incre-
se podem prejudicar a vasodilatação normal elas mentas de 1 mm e depender totalmente do ponto
artérias coronarianas, levando à vasoconstrição e no qual o teste de exercício é interrompido. Esse
não à vasodilatação durante o exercício, confor- ponto crítico também tem uma relevância clínica
me mostra a Figura 1.15. 74 direta.
Finalmente, se a capacidade de aumentar o flu- Por exemplo, o conceito de análise bayesiana
xo sangüíneo coronariano for insuficiente parasa- do teste de tolerância de exercício, no qual a pro-
tisfazer as demandas de oxigênio do miocárdio babilidade pré-teste de doença é um determinante
em um dado nível de trabalho tanto sistêmico como específico da probabilidade pós-teste (ver Capítu-
miocárdico , haverá isquemia. O ponto fraco da lo 4 para uma análise mais detalhada), é citado
interpretação de um teste clínico de exercício é com freqüência como uma limitação do teste de
provavelmente o fato de ele usar um fenômeno exercício. Entretanto, essa moldura conceituai exi-
indireto e relativamente não específico para de- ge que um teste de exercício seja '·positivo·' ou
tectar a presença de isquemia - alterações no seg- "negativo" com base em uma análise discreta do
mento ST do eletrocardiograma (ECG). 35 Tais alte- ECG de exercício (positivo , depressão do ST > 1
rações dependem de um padrão diferencial de mm; negativo, depressão do ST < 1 mm) . O fato
repolarização entre o endocárdio e o epicárdio, de que , além da análise em grupo de todos os
que resulta em alterações do segmento ST que testes com desvios de segmento ST > 1 mm. tam-
podem ser detectadas na superfície do coração. bém são realizadas análises separadas de desvios
Entretanto, é importante enfatizar que essas alte- do segmento ST com aumentos de 0,5 mm, é fre-
rações ocorrem num nível mais elevado e são pro- qüentemente negligenciado na descrição original
porcionais ao desequilíbrio entre o M0 2 e o supri- da análise bayesiana do ECG76 de exercício.
mento de 0 2 do miocárdio. 35 Uma isquemia mais Essa abordagem está reproduzida na Figura 1.16
grave e intensa levará a alterações maiores no seg- e confirma a natureza contínua ela resposta do ECG

Angiograf icamente normal Segmentos doentes

120 100 -

E 100
E
Q) o~ 80
5l gi (/)
~e
<O

~ ~ 80 Q)

ou
-ao
ou
-o o 6o
2 o. 60 e o.
-Q) -o
<O
-Q) -o
<O
E Q) 40
E Q)
~~ o
:~ 0 40 Op
Op e
e
-ª 20
-ª 20

Repouso do exerclcio ACH Repouso do exercício ACH

FIGURA 1.15. Mudança no diâmclro da arLéria cornrníria duranlc artcriognüia, nos mcsnws pacientes que apresentaram
segmentos que pareciam angiograficamcnlc normais (grálkn e.la esquerda) e segmentos co1nprometido_s por aterosclerose
(gráfico da direita). Nos segmenLos aparcnLcmcnlc normais, limlo o cxcrclcio como a infusão de aceulcolma (ACH, um
vasodilatador dependente de endotélio) resuharnm em vasodilatação; nos segmentos obviamente doentes, eles causaram
vasoconsLrição. Fonte: Ref. 74.
20 PARTE I FISIOLOG IA NO RMAL DO EXE RCÍCI O

durante o exercício. Nessa aná lise , a probabilid a- zação p e rcutâ nea e ci rCi rgi c a també m melh o rar:1111
de pós-teste de d oe nça na s artéri as coron aria nas muito , incluindo a te rapia d e rccl u ~:ào :1grcssiv: ,
angiograficamente sig nifi ca ti vas será rad ica lme nte cios lipíd ios , a ng io pl as ti a e sten ts coro n:1ri:m os ,
difere nte se ho uve r uma d e pressão do seg me nto a lé m ele n ovas estra tégias ele re clu ç:10 d e risco e
ST e ntre 1,0 e 1,5 mm, co mpa rada a um a d e pres- a um e nto ela eficúc ia ela cirurgia ele l~)'/XAss. Essa
são do segme nto ST > 2,0 mm o u d esce nd e nte . revolução na acl minis tr:1ç;10 da d oe nça d eve-se , c m
Mesmo pa ra uma probabilidade pré-teste baixa com p a rte , a a lte rações funcl :1ment:iis n:1 compn~c ns:1o
um res ultad o d e 20% a 30%, um teste co m um ela fis io1x u o logia e atualme nte :1 bi o logia da :llc-
segmento ST > 2,0 mm o u d esce nd e nte provave l- roscle rose , que levou :1 :tlte ra çôes na le r:1p i:1 b:1sc-
me nte de monstra ri a lesões corona rian as > 50%. Na aclas e m m eca n is m os .
verdade , há ma is d e 20 anos , a co nclusão fu nd a- Ao co ntr:í ri o elo traume nto , :is cstr:1tégi:1s para
m e nta l dessa apresentação o ri g in a l el e anúlise avali;1 ç:1o d o pa cie nte n,1o tive ram o m es m o pro-
bayesiana fo i d e que "os termos 'p ositi vo ' e 'nega- g resso da ciê nc ia b ásica e da te r:1pia . Uma cbs
tivo' não e ra m a pro pri ados p a ra d escreve r a m a ior r:1z(>es dessa cliscrcpâ nc i:1 é :1 pre fe rê nci:1 cb m:i iori:1
parte d os res ultad os ci os testes ele estresse . Em vez dos méd icos por um te ste que se j:1 pre lo e branco ,
di sso , e la deve ri a se r inte rpre tad a e m termos de co m rcs ult :1dos pos it ivos o u nega i ivos , e co nsc-
um continuum ele risco baseado na cxtens:1o cb qCtcntcmc nt c um a doen ça qu e seja "prese n te " <>li
de pressão cio seg me nto sT·.-<> ":1U SL' t1tc ". Em b ora essa es tratégi:1 p ossa se r Citil
p:1r:1 comlic./>cs visive lm e nt e d isc re tas , :1 :1ho rcl :1-
gc111 poc.lc ~c r rn :1is compl ictd a no célso d e d istC1r-
PERSPECTTVA PESSOAL: NA DIRl:'(,'ÀO l)f:' {!,\ / h io ~ C()I1lO :1 c:1rd io pat ia a te roscle rótica.
USO RACIONAL DO TES7E Df:' 1:Xl:HCÍC!CJ ,\ >1 A lL·nd ê nc i:1 :'1 :111 (tl ise d isc rcla ele prohlcrnéls c lí-
ADMINISTRAÇÃO DE PAC/1:N'fl::S COM !)CJ/:·,\ {.'.-1 n ico-.. SL' c.lcs1:1 c 1 na v:i lo rizac;ão ele termos co mo
ARTél?JAL COR ONARJANA se11sihilidr1de e e.,jJec !ficidade ra ra a in terpreta~ão
dL· lL·~t c ~ c:1rd iov:1sc ularcs .n-KO teste el e exercício
Na d écad a passada ho uve uma mu cl:tn r: 1 1101 :·1- ,·L·111 .-. L·nd () us: 1<.10 h(t ma is el e 70 anos para ava lia -
ve l na administ ração ele pac ie nLes co m c:1rd iop:1-
c:10 de p:1 c ie ntcs com ca rdi opa tia coro nariana .7'J
ti a co ronariana . A tera p ia mé d ica e :1 rev:1scul:tri-
Torn()u -sc um dos tes tes ele d iag n ósti cos ma is us a-

ST em incli nação descenden te


1,0
------=--
2.0- ~
- --:-,.
-~ _'~ .... •· ;;; -
/"" . ;.,. - / . J:/
1

0,8

Õ'
-.;;;.
e.a.
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l ·<::-7. ~ 1··
0,4 ·
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r
/. ( 1) <(~/~;; ,' <0,5nYn
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0,2-I/
'
I ~
.:::::- , , .,,,,.-
•' ( l = Índ ice de probabi li dade

0,2 0,4 0,6 0,8 1,0


p
L
FIGURA 16. Representação gráfi ca do teorema de Bayes demonstra nd o a re la ão entr .. .
teste (P, denvado de prognósticos clín icos) e a probal l d d d d _ ç e a probabil1dade de doença pre-
uma lesão de pelo menos 50% numa artéria coronár~1 a fe e oe nça pos-Leste l(P (D/0) , determinada pela presença de
J

a con onn e ang1ograf1a] e como ela - . íl .d 1


segmento ST de ampla magnitude durame O teste cl . . U e 111 uenc1a a pe a depressão cio
d . d e exerc1c10. m valor de 1 no índ· d b b ·J·d . .
epois o Leste, não há diferença entre a probabiliclad d cl _ . ice e pro a 1 1 ade 111d1ca que,
e e oe nça pre-LesLe e pos-Leste. Adaptad o da Ref. 76.
CAPÍTULO l
F l SIOLociA Do. EXERctc10 PAR'\ o
· ·
..
CL1 N ICO 21
dos em medicina dínic3. - .\ ..
800 000 . . . ' conta ) l1izando mais de
. p1ocedirnentos por ano E . pode. se r ráp ida e catastrófica d · _
liz::icão do t . d . . . · ntr eta nto. a rea - •• • , _ • A , cau san o alteraçoes
= ,, - e~te _e exercic10 sem o auxílio de tes- rctp1das no chametro dos vasos ocl11sa~o va l
·111 f · · · seu a r e
tes ha::,eados em trnaoens tem 51 -·d - , ano do miocá rdio. Na verdacle , a 1na1.o n.a d os
literatun ~) A 1 •r _ • . 0
0
i eprovada pela eventos_ corona
A d. · · ª~ ~ ise cntica d o TrE (teste de tole-
• ,
_ rianos ocorre · em vasos• ,5 ,angu...meos
ranc1a e exercicio) envolYe ndo 14- d . que nao estao necessariamente este nosados.86,s,
de ?4 000 . t estt1 os e ffla1s Ass im, não deve causar surpresa a ineficácia do
- •· . pacientes que fizeram. tanto testes de
e xercic10 n1onitorados por ECG . teste ele exercício projetado para revelar isquemia
. como angiografia
na detecção de lesões que não sejam fisiologica-
coronan~na demonstrou que a sensibilidade rela-
mente significativas, mas que possam levar à rup-
tada Yanou de 23% a mais de 90%, dependendo
tu ra de p laca e à trombose. .
d~ população estudada , com uma sensibilidade mé-
dia _de 68% -s i _s2. A espec1·r·ici·dade fo1· levem.e nte su- Essa limitação também se faz presente em qua-
se todos os testes d iagnósticos disponíveis na me-
penor, c~m uma média de 77% .8i & Esse desempe-
d icina cardiovascu la r. O desempenho do teste de
nho relativamente fraco levou a lguns investigadores
exercício ten1 sido freqüentemente comparado à
a afirmarem que o teste de exercício é quase inútil angiografia co ronarian a como "padrão ouro" para
para a ad1ninistraçào de pacientes com coronario- dete rminar a p resença ou a ausência da doença . .
patia.80
Entretanto , a an giografia coronariana descreve ape-
Entretanto. para adotar essa abordagem, dois nas o lú m e n dos vasos sangüíneos coronarianos e
pru1.cípios devem ser aceitos : (a) o de q u e o teste n ão n os p e rmite uma con clusão precisa sobre a
de exercício seja positivo ou negativo e (b) o da p resen ça o u a ausência de aterosclerose, confor-
presença ou ausência da coronariopatia. Nas seções me m ostra a Figura 1 .18 .
anteriores , deve ter ficado evidente q u e, partin do Alé n1 disso, a m a io r parte dos artigos que ana-
de uma compreensão abrangente da fisio logia d o lisam o d ese mpe n ho do teste de exercício ba-
exercício , o primeiro princípio é in suste ntável, e seia -se e m inte rpre tações visua is do angiograma
as respostas de exercício são variáveis contínuas coro n a ria n o p a ra dete rminar a importân cia da le-
q u e descartam caracterizações discre tas e simples. são, uma técnica n o to ria m ente falha. Em p rimei-
A compreensão modern a d o dese n volv ime nto e ro lu gar, h á p o u ca variabilidade inter e intra-ob-
do progresso da cardiopatia coron a rian a ta mbé m serva d o r n a avaliação de estenoses coronarianas
fornece indícios de que a aterosclerose é u m pro- realizad a p e la inte rpre tação visu a l de angiogra-
cesso contínuo. m as.88 Adem a is, mesmo qua n do a porcentagem
d o di â m e tro fo r detenTlinada pela angiografia
q u a ntitativa , a correlação entre a gravidade da
NATUREZA CONTÍNUA DA DOENÇA ARTERIAL
este n ose d o a n giograma e a m agnitude de seus
efe itos sobre a limitação da reserva de fluxo co-
CORONARIANA
ro n a ria n o é fraca (Fig. 1.18) .89 Sobretu do em pa-
c ie ntes com d oen ça multiarterial. nem a porcen-
O processo de ate roscle rose com eça muito
tage m do d iâ m e tro da seção tra nsversal e nem. a
cedo . Estudos anterio res reali zad os com n7ortos
p o rce ntage m da á rea estenosada são eficazes para
na Guerra da Coré ia revelara m q u e um n~1111ero
d e tecta r reserva d e flu xo coron a ria no anormal.
su rpreendentemente a lto d e j~ve n s a m e ri can o~ e mbora O diâm etro lumin al mínimo poss;;\ ser mais
com idades entre 18 e 20 a n os ja a presentava1_n os , e l .'Jº T·lis
.· . , . . d e go rd u ra- e d e p lacas ftbro- co n I:·1av • , medidas~ oa t
recem ser mais ·p reci-1
9
pnmciros vcst1g1os · _ . , _ . ·l _, .• _ sas q u:1nclo a co ro n ,trio p atia é menos exte nsa .
, t ·•nsf<·)rma1·i'un e m lesoes <1 te 1osc e1o p o rqu e a p orcetage n.1 ele área este_nosad:1 : e flete
sas que se r.:.. · ' , . . . ..
. 1. .7 'thnnge n te d e v 1t1m tts d e tn a is precisame nte o diâ 1ne tro lum1nal rnmtrno. A
ticas .K:'., Uma ava iaçao ' e • , ' •• 1' .
. - ' i:: •tr dos 1 ]n idns co nfm nou l.SS,\ ( cs-
ac1dentes nos 1 ,s a · .. ., . _ prese nç,1 d e lesões e xc€: ntsicas, l~)n ga_s o u_ com~
0 p· ., 1 17Ks ,1n rese n ta rnos um i cs u
coberta,l-1 Na igu 1a . . , t· . .. , , . - )lcxas p o d e complica r :~inda 11:ais a _1: lª? º . e n -
- · l ·nt'··1
m.0 d a atua . 1 , , . ·p ret· 1ção sobre " n a tu 1cz,1 d ,1 p i o l . ~. . ·ogrf\liC'l e a 1mpo 1tctnC1a f1s10
' ... trc :i a p a re n c1a a ng1 ' • /.
g r essão d a coro n ari o p atia • . . \ó •ic 1 d e u n, a ksào (Tabe \~1 lA). . ,
~.Essa f.ig ura e• nl:"t·1za.... .
CJ\..te n ão ap e n as a :ite.1os-
_, , gUrn dos artigos in ais impo rtantes q u e a1udd
a a
,. -d.·. \e f <) 1· 111· 1 lenta e con t1n u.1, . c1· , .· J, d e entre resulta os
d orogr e li e - , exp licar a a pa re nte isp ,uK a . " ele ca rdiopa·-
cle ro se p o e .t . . . l , lesões que ca u -
desenvolv rme nto eu , -- d e testes d e ex ercício e a "presençt1
le v a n d o ao b. qu e su a progressa o
sam isque 1nia, mas tam . e m .
22 PARTE I FISIOLOGIA NORMAi. DO EXERCÍCIO

FASE 4

FASE 1 FASE 2 FASE 5

0 8
Síndromes agudas
Infarto do miocárdio
Angina instável
Morte súbita por isquemia
8
FASE 3 FASE 5

Sem sintomas
0 8

Angina de peito Processo oclusivo


agudo silencioso

FIGURA 1.17. Representação pictórica da interpretação atual sobre a progressão da aterosclerose , que começa em
idade precoce com depósito progressivo de placa aterosclerótica (fase 1) e fissura de placa intermitente (fase 2) , que não
são oclusivas mas levam a alterações mais rápidas no tamanho da placa . A angina de peito desenvolve-se quando o grau
de oclusão é suficiente para prejudicar o fluxo miocárdico (fase 3) ; síndromes coronarianas agudas desenvolvem-se
quando o vaso sangüíneo está realmente obstruído , o que pode ocorrer repentina e rapidamente, mesmo que a estenose
não seja grave (fase 4). Adaptado da Re f. 85 .

tia coronariana p ela angiografia foi publicado e m são de segmento ST durante exercício ou reserva
1991 por Wilson et ai. , naCirculation. 92 Esses pes- ele fluxo coronariano . Entretanto , a grande maio-
quisado res estudaram 40 pacientes com coronario- ria cios pacie ntes sem depressão de segmento ST.
patia vasc ular única , com ECG de repouso normal ou com uma depressão mínima durante exercício,
e sem hipemofia de ventrículo esquerdo (HVE) apresentou reserva de fluxo coronariano normal
ou anteccxJente de infarto do miocárdio. Todos os (Fig. 1.19) indepe nde nteme nte da gravidade da
pacientes foram submetidos a testes progressivos lesão. Isso confirma a capacidade que a circulação
de exercícios na esteira com monitoramento ele coronariana te m ele aumentar o fluxo para com-
ECG e de arteriografia. Houve avalia~:ào de gravi - pensar os aume ntos e.lo ~,101 durante exercício . Em
dade da lesão tanto pela angiografia coronariana contraste , :.1 maiori:1 e.los pacientes com depress,1o
quantitativa como pela an{tlise da reserva do fluxo anormal de segmento ST apresentou reserva de
coronariano por meio do uso de um catcter fluxo :111ormal (Fig. 1.20). Além disso, 100% dos
Doppler depois de injeção de pap,tverina intraco- p ,tcientes com rcduçúo grave de reserva de fluxo
ronariana (aumento normal da velocidade do llu - ( velocidac.le m:íxima/ vclocic.lade em repouso < 2,5)
xo > 3,5 acima <le repouso). Conforme estudos apresentaram c.lepress:1o significativa de segmento
anteriores feitos por esse grupo, nenhuma avalia - ST durante exercício (Fig. 1.21). Embora esse es-
ção estática da gravidade da lesão (diâmetro per- tudo tenha envolvido uma população de pacien-
centual ou área percentual) consegue fazer um tes relativamente seleta, ele confirma que a de-
prognóstico adequado ele pacientes com clepres- pressão cio segmento ST durante exercício está
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 23

Análise angiográfica (diâmetro)


' " /'. - o
d•, " 25%
- 50%

Diâmetro mín . Diâmetro mín.


Diâmetro máx.
= 75% J, do = 88% J, do
= 50% J, do
normal mas normal mas
normal
50% J, do 75% J, do
diâmetro máx. diâmetro máx.
Análise histológica (diâmetro) em segmento
adjacente

75% J, diâm . 50% ..1, diâm. = 75% J, diâm . = 88% J, diâm. =


Normal Efeito de 50% J, diâm .
75% ..1, área 95% área da 75% ..1, área da 95% J, área da 98% J, da área da
Glagov
seção seção seção transversal seção transversal
" lúmen da seção
transversa l transversa l transversal (20% J, da área da (23% J, da área
normal "
(Área máxima) seção transversal) máxima da seção
transversal)

FIGURA 1.18. Demonstração da diferença entre a análise angiográfica de um lúmen coronariano e a análise patológica
do vaso sangüíneo inteiro. A análise angiográfica pode subestimar totalmente a carga aterosclerótica total devido ao
efeito de Glagov, que induz a remodelação vascular em estágios iniciais da aterosclerose. Além disso , a angiografia pode
ser dificultada pela exigência de comparar uma lesão a um vaso vizinho que pode ou não ser envolvido difusamente
com aterosclerose. Fontes: Refs. 89 , 90.

diretamente relacionada à reserva de fluxo coro- dilatação. Eu consideraria esses pacientes como ten-
nariano prejudicada , e que a reserva de fluxo co- do um cateterismo "falso negativo". Do mesmo
ronariano normal , independente da gravidade da modo, alguns pacientes não apresentam evidência
lesão, normalmente está associada à ausência ele de depressão do segmento ST durante o e xercício.
isquemia detectável pelo ECG ele superfície. mas a angiografia revela este nose < 50%. Tradicio-
A importância clínica dessa análise é grande. Por nalmente , o resultado do teste ele exercício destes
exemplo, há casos em que os pacientes apresen- pacientes em geral tem sido considerado falso ne-
tam depressão substancial do segmento ST durante gativo. Uma outra alte rnativa seria tais pacientes
exercício, mas lesões ele menos ele 70% cio diâme-
tro ele seção transversal pela angiografia. Em ge ral ,
o resultado cio teste de exercício destes pacientes TABELA 1.4. PROBLEMAS COM A ANGIOGRAFIA
era considerado "um falso positivo" . Uma outra in-
terpretação poderia ser, entretanto, que o angiogra - Pouca variabilidade inter e intra-observador (principal-
ma subestimou a importância fisiológica ela lesão mente com lesões intermediárias de 30%-60%)
(particularmente comum com doença difusa) ou Lesücs excêntricas
que, durante o exercício, a disfunção endotelial pro- Doença diíusa
vocou vasoconstrição coronariana em vez de vaso- Medição estática e em repouso
24 PARTE I FISIOLOGIA NORMAL DO EXERCÍCIO

9,8 9,8
0- o
,ro o
N U)
8,4 · r •-0,25 o DAE
ro ::, 8,4 ·
-=-ro o
o.
• Ramo diagonal
□ ACD, principal
e a, 7,2 ·
o 7,2. ■ ACD , ramo marginal
ro ~ o
·e: o o
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'- Q)
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ACD DAE o 20 40 80 ao 10
Normal Doença arterial coronariana
(% de estenose diametral)

FIGURA 1.19. Reserva de vasodilatador medida a partir da hiperemia reativa (com um cateter Doppler numa artéria
coronariana) após infusão de papaverina . Uma razão entre velocidades de pico/repouso de 3 ,5 ou mais, refletindo o
aumento de pico na velocidade do fluxo sangüíneo comparado a um valor de controle, é considerada normal , confor-
me mostra o gráfico da esquerda. O gráfico da direita mostra que interpretações visuais comuns de um angiograma para
avaliação de doença arterial coronariana a partir da porcentagem de estenose diametral não prevêem adequadamente a
reserva de vasodilatador na circulação coronariana , um fator importante que determina se haverá ou não isquemia
durante o exercício . Fonte : Ref. 89.

apresentarem reserva de fluxo normal , com uma 7.


o
estimativa exagerada da gravidade anatômica da
o o
lesão (o que é especialmente comum na interpreta- o o
ção visual de angiogramas coronarianos). Eu consi- o
deraria essa situação como um falso positivo no
cateterismo. É possível também que o teste tenha
sido interrompido antes da hora adequada , numa
freqüência cardíaca ou taxa de trabalho fixa, ou- o
que simplesmente não houyesse isquemia nas ta-
xas de trabalho sistêmico e miocárdico alcançadas
no teste de exercício específico. 1 .

Em resumo , as Tabelas 1.5 e 1.6 apresentam


o .1.---------"------
uma lista das metas de um teste ele exercício que < 0.1 ~ 0.1

são ou não alcançáveis. Depressão do segmento ST (mV)


Por fim , em dias de experiências clínicas de larga
escala como padrão de avaliação do cuidado médi-
FIGURA 1.20. Essa figura mostra que os pacientes com
co, não se deve esquecer que a teoria estatística não depressão de segmento ST < 0,1 mV durant e um teste
permite a aplicação de estatísticas baseadas na po- de exe rcício quase sempre apresentam uma reserva de
pulação para casos individuais. Assim , a avaliação fluxo coronariano normal , como indica a razàú de 3.5
cuidadosa de um paciente, com base em conheci- entre as reservas ele fluxo de pico/re pouso (linha ponti-
mento fisiológico sólido, tanto da fisiologia do exer- lhada) . Em contraste , pacientes com depressão do seg-
cício como da cardiopatia coronariana , continua sen- mento ST ~ O, 1 rnV quase sempre apresentam rese rva
do um instrumento essencial para o médico, que ele rluxo cnronariann anormal, inclcpcndcntementc da
deve administrar seus 11acientes individualmente. anatomia cnronariana. Fonte: Rd. 92.
CAPÍTULO 1 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA O CLÍNICO 25

TABELA 1.6. METAS DO TESTE DE EXERCÍCIO

~~
ro
E ro
= O teste de exercício não pode:
ro E
o
O)
o e
'6 ro Determinar a estrutura e a composição de uma placa
m.º
(.)
o--
(.)
aterosclerótica (isto é, carregada de lípides e propensa
~(.)

â> ID
- X
à ruptura versus placa rígida e resistente à ruptura por
UJ Q)
calcificação).

< 2,5 2,5-3,4 ~ 3,5


Identificar a presença de placas ateroscleróticas que se
Reserva de fluxo coronariano
romperão e causarão infarto do miocárdio .
(velocidade de pico/repouso)

FIGURA 1.21. Relação quantitativa entre a magnitude Prever a presença ou a ausência de isquemia em taxas
do dano na reserva de fluxo coronariano e a presença de de trabalho superiores às alcançadas no teste.
depressão ST de pelo menos 0,lmV num eletrocardio-
grama de exercício. Observe que praticamente 100% dos
pacientes com reserva de fluxo coronariano seriamente
comprometida demonstram depressão significativa do ST
durante exercício. Fonte: Ref. 92.

REFERÊNCIAS
AGRADECIMENTOS 1. Hoppeler H, Weibel ER: Limits for oxygen and
substrate transport in mammals. J Exp Biol
Gostaria de expressar meus agradecimentos a 201:1051-1064, 1998.
George Brooks, PhD., Loren Bertocci, PhD. , Tony 2. van Ingen Schenau GJ, Cavanagh PR: Power equa-
Babb, PhD. ejeraniie Hinojosa, M.S. , pela leitura tions in endurance sports. J Biomech 23:865--881,
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cuidadosa deste capítulo e pelas valiosas sugestões. 3. Baudinette RV: The energetics and cardiorespira-
tory correlates of mammalian terrestrial locomo-
tion. J Exp Biol 160:209-231 , 1991.
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