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por

Arthur W. Pink

"De fato sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb. 11:6)

"... mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido
acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram" (Hb. 4:2).

A conexão entre estes dois versículos nos mostra como é vã toda a


atividade religiosa onde não há fé. A atividade exterior deve ser
realizada correta e diligentemente, mas a menos que a fé esteja em
operação, Deus não é honrado e a alma não é edificada. A fé abre o
coração para Deus, e fé é o que se recebe de Deus; não uma mera
aceitação do que é revelado em Sua Palavra, mas um princípio
sobrenatural de graça que existe no Deus das Escrituras. Isso o homem
natural, não importa o quanto religioso ou ortodoxo ele seja, não tem e
nenhum de seus esforços, nem atos da sua vontade , podem adquirir. É
um dom supremo de Deus.

A fé deve operar em todas as atividades do cristão, se Deus há de ser


glorificado e ele edificado. Primeiro, na leitura da palavra: "Estes,
porém, foram registrados para que creiais" (Jo. 20:31). Segundo, no
ouvir da pregação dos servos de Deus: "A pregação da fé" (Gl. 3:2).
Terceiro, na oração: "Peça-a porém com fé, em nada duvidando" (Tg.
1:6). Quarto, na nossa vida diária: "Visto que andamos por fé, e não
pelo que vemos" (2Co. 5:7) e "esse viver que agora tenho na carne, vivo
pela fé no filho de Deus" (Gl. 2:20). Quinto, em nossa partida deste
mundo: "Todos estes morreram na fé" (Hb. 11:13).

O que o fôlego é para o corpo, a fé é para a alma, pois alguém que sem
fé busca realizar ações espirituais, é como se colocasse uma mola em
um boneco de madeira, fazendo-o mover-se mecanicamente.

Um professo não-regenerado pode ler as Escrituras e ainda assim não


ter qualquer fé espiritual. Assim como o hindu devoto lê atentamente o
Upanishad e o muçulmano o seu Alcorão, muitos países "cristãos"
adotam o estudo da Bíblia e mesmo assim não tem mais da vida de
Deus em suas almas do que têm os seus irmãos pagãos. Milhares nesta
terra lêem a Bíblia, crêem na sua autoria divina e se tornam mais ou
menos familiarizados com o seu conteúdo. Um mero professo pode ler
vários capítulos diariamente e mesmo assim nunca compreender um
único versículo. Mas a fé aplica a Palavra de Deus: ela proclama Suas
terríveis ameaças e tremores diante deles; ela proclama Seus solenes
avisos, e procura alertá-los; ela proclama Seus preceitos e clama a Ele
por graça para andar neles.

Acontece o mesmo no ouvir da Palavra pregada. Um professo carnal


se orgulhará de ter comparecido a esta ou aquela conferência, de ter
ouvido aquele famoso professor e aquele renomado pregador e ter tido
tanto proveito para a sua alma, quanto se nunca tivesse ouvido
qualquer um deles. Ele pode ouvir dois sermões todo domingo e
depois de cinqüenta anos ser tão morto espiritualmente como o é hoje.
Mas o homem regenerado compreende a mensagem e avalia a si
mesmo pelo que ouve. Ele é muitas vezes convencido dos seus
pecados e os lamenta. Ele testa a si mesmo pelo padrão de Deus e se
sente tão longe de ser aquilo que deveria, que sinceramente duvida da
sinceridade da sua própria profissão (de fé). A palavra o corta em
pedaços , como uma espada de dois gumes e o faz clamar:
"desventurado homem que sou!".

Na oração, o mero professo muitas vezes faz o crente humilde


envergonhar-se de si mesmo. O religioso carnal, que tem o "dom da
palavra", nunca se perde com elas; frases fluem de seus lábios tão
prontamente como águas de um riacho murmurante; versículos das
Escrituras parecem correr através da sua mente tão livremente como
pó passa pela peneira, ao passo que o pobre e oprimido filho de Deus é
muitas vezes incapaz de fazer algo mais do que clamar: "Ó Deus sê
propício a mim pecador!". Ah, meus amigos, nós precisamos distinguir
nitidamente entre a aptidão natural em fazer "boas" orações e o espírito
de súplica verdadeira: um consiste meramente de palavras, o outro de
"gemidos inexprimíveis"; um é adquirido por educação religiosa, o
outro é implantado na alma pelo Espírito Santo.

Assim é também em assuntos sobre as coisas de Deus. O professo fútil


pode conversar loquazmente e muitas vezes, de modo ortodoxo, de
"doutrinas", sim, e de coisas terrenas também. De acordo com a sua
disposição, ou dependendo da sua audiência, assim é o seu tema. Mas
o filho de Deus, embora sendo pronto para ouvir o que é para a
edificação, é "tardio para falar". Oh meu leitor, cuidado com pessoas
que falam muito; um tambor faz bastante barulho mas é vazio por
dentro! "Muitos proclamam a sua própria benignidade, mais o homem
fidedigno quem o achará?" (Pv. 20:6). Quando um santo de Deus abre
os seus lábios para falar de assuntos espirituais, é para dizer o que o
Senhor, em Sua infinita misericórdia, tem feito por ele; mas o religioso
carnal está ansioso para que os outros saibam o que ele tem feito pelo
Senhor.

A diferença é evidente da mesma forma, entre o crente genuíno e o


crente nominal, com relação à vida diária: conquanto este último possa
parecer exteriormente justo, ainda assim por dentro está "cheio de
hipocrisia e iniquidade"(Mt. 23:28). Eles colocarão a pele de uma
verdadeira ovelha, mas na realidade são lobos em pele de ovelhas. Mas
os filhos de Deus têm a natureza da ovelha, e aprendem dAquele que é
"manso e humilde de coração" e, como eleitos de Deus, se revestem de
"ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade" (Cl. 3:12). Eles são em secreto o que são
em público. Eles adoram a Deus em espírito e em verdade.

Também é assim no fim de suas vidas. Um professo vazio pode morrer


tão fácil e tranqüilamente como viveu - abandonado pelo Espírito
Santo e não perturbado pelo diabo; como diz o salmista: "para ele não
há preocupações" (Sl. 73:4). Mas isso é muito diferente do fim daquele
cuja consciência, profundamente sulcada e reconhecidamente
corrompida, foi aspergida com o precioso sangue de Cristo: "Observa o
homem íntegro, e contempla o justo; porquanto o fim daquele homem
é de paz" (Sl. 37:37) - sim, uma paz que "excede todo o entendimento".
Tendo vivido a vida do justo, ele morre "a morte do justo" (Nm".
23:10).

E o que é que distingue um caráter do outro? onde está a diferença


entre o crente genuíno e o que o é apenas no nome? Nisso: em uma fé
dada por Deus e implantada no coração pelo Espírito. Não um mero
concordar intelectual com a Verdade, mas um vivo, espiritual e vital
princípio no coração - uma fé que "purifica o coração"(At. 15:9), que
"atua pelo amor" (Gl. 5:6), que "vence o mundo" (1Jo. 5:4). Sim, uma fé
que é divinamente mantida em meio a provações por dentro e
oposições por fora; uma fé que exclama "ainda que Ele me mate, nEle
confiarei" (Jó 13:15).
É bem verdade que essa fé não está sempre em atuação, nem é
igualmente forte em todo o tempo. O beneficiário dela deve ser
ensinado por dolorosa experiência que da mesma forma como ele não
a criou, ele também não pode comandá-la; por essa razão ele se volta
para o seu Autor e diz: "Senhor eu creio, ajuda-me com a minha falta
de fé". E é assim para que quando ler a Palavra ele seja capaz de
apossar-se das suas preciosas promessas; quando prostrar-se diante do
trono da graça, ele seja capaz de lançar o seu fardo sobre o Senhor; que
quando ele levantar-se para seus deveres temporais, seja capaz de
apoiar-se nos braços eternos; e quando ele for chamado a passar pelo
vale da sombra da morte, clame triunfantemente: "não temerei mal
nenhum, porque Tu estás comigo". "Senhor aumenta-nos a fé".

Tradução: Ronaldo Pernambuco

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