Obs: analisem este trecho de um diálogo de Sócrates com dois de seus
discípulos, onde ele divaga sobre o entendimento que alma é capaz de ter da verdade, quando não é prejudicada pelos desejos terrenos, nesse caso, ele se refere diretamente á sua prisão ás necessidades do corpo físico... Ele vai mais além: fala da morte como um estado de libertação dos desejos, mas, provavelmente ele estava se referindo á morte decorrente de sua última encarnação (separação definitiva da alma e do corpo – vida consciente, livre do ciclo de renascimentos e mortes...) "...devo agora prestar-vos contas, expor as razões pelas quais considero que o homem que realmente consagrou sua vida à filosofia é senhor de legítima convicção no momento da morte, possui esperança de ir encontrar para si, no além, excelentes bens quando estiver morto! Mas como pode ser assim? Isso será o que me esforçarei para explicar. Receio, porém, que, quando uma pessoa se dedica à filosofia no sentido correto do termo, os demais ignoram que sua única ocupação consiste em preparar-se para morrer e em estar morto! Se isso é verdadeiro, bem estranho seria que, assim pensando, durante toda sua vida, que não tendo presente ao espírito senão aquela preocupação, quando a morte vem, venha a irritar-se com a presença daquilo que até então tivera presente no pensamento e de que fizera sua ocupação! - Por Zeus, Sócrates, eu não tinha nenhuma vontade de rir, mas tu me fizeste rir! É que, penso, se o vulgo te ouvisse falar desse modo se convenceria de que há muito boas razões para atacar os que se ocupam de filosofia, e a ele fariam coro sem reserva os nossos amigos: "na verdade", diria ele, "os que se dedicam à filosofia são homens que se estão preparando para morrer". E, se há uma cousa que seguramente pensarão, é que é justamente esse o fim que eles merecem! - E o vulgo teria razão, Símias, de dizer isso, embora, é claro, não soubesse que estava a dizer uma verdade. Pois os que ignoram ele e os que lhe fazem coro é de que modo se estão preparando para morrer aqueles que verdadeiramente são filósofos, de que modo eles merecem a morte, e que espécie de morte merecem. Entre nós, com efeito, é que devemos tratar dessa questão, e, quanto ao vulgo e aos outros, não lhes demos atenção ! - Segundo posso pensar, é a morte alguma cousa? - Claro – replicou Símias. - Nada mais do que a separação da alma e do corpo, não é? Estar morto consiste nisto: apartado da alma e separado dela, o corpo isolado em si mesmo; a alma, por sua vez, apartada do corpo e separada dele, isolada em si mesma. A morte é apenas isso? - Sim Sócrates. - Examine agora, meu caro, se te é possível: Crês que seja próprio de um filósofo dedicar-se avidamente aos pretensos prazeres tais como o de comer, beber e tantos outros? - Tão pouco quanto possível, Sócrates. - Não é, no ato de raciocinar, e não de outro modo (através dos sentidos), que a alma aprende, em parte, a realidade de um ser? - Sim. - E, sem dúvida alguma, ela raciocina melhor precisamente quando nenhum empecilho lhe advém de nenhuma parte, nem do ouvido, nem da vista, nem dum sofrimento, nem sobretudo dum prazer – mas sim quando se isola o mais que pode em si mesma, abandonando o corpo à sua sorte, quando, rompendo tanto quanto lhe é possível qualquer união, qualquer contato com ele, anseia pelo real? -É bem isso! - E não é, ademais, nessa ocasião que a alma do filósofo, alçando-se ao mais alto ponto, desdenha o corpo e dele foge, enquanto por outro lado procura isolar-se em si mesma? - Evidentemente!..."