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RESUMO
ABSTRACT
Although the notion of primitiveness has occupied a central place in Freud's thought, the concept of
primitive faces the problems inherent to psychoanalytic conceptual constructions, due to its
vagueness and ambiguity. Thus, to recover this concept in Freudian work enabled for enhacing
understanding related to this object of study, from the links that it promotes with the author's
thinking on cultural and clinical processes. The aim was to outline further as the author sets this
primitive question, seeking to clarify the concept and implications of its use. From a
methodological point of view, this is a conceptual research, through which it has focused on the
Brazilian Standard Edition of the Complete Works of Sigmund Freud. It was observed that the
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 1, p. 370-385, jan. 2019. ISSN 2525-8761
371
Brazilian Journal of Development
author uses the primitive term, with various non exclusive meanings, which emphasize elements of
constituent part of the psyche, from the initial states of mental functioning of both the species
(phylogenesis) and the individual (ontogenesis), which remain dynamically working together to
further developments, while preserving its imperishable character as it is highlighted by the
author, and which are decisive in his theoretical construction about cultural, civilizing or group
processes, as well as those which are specific of the individual, manifested in the psychoanalytic
clinics.
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Grotstein (1997), o conceito de “primitivo”, com acepção substantiva ou
adjetiva, sempre exerceu fascinação no seio da psicanálise, tendo organizado a teoria e a prática
psicanalíticas, mesmo considerando-se as diferentes escolas. Embora se considere a existência dessa
fascinação e seu uso apresente uma frequência muito numerosa, é interessante observar que os
diversos dicionários psicanalíticos consultados se apresentam, digamos, silenciosos, quando se
observam os índices de verbetes. Apenas em Mijolla-Mellor (2005, p. 1418) consta tal verbete:
Assim sendo, chama a atenção o descompasso entre a altíssima frequência com que
aparecem no discurso psicanalítico, tanto informal como formal, o conceito de primitivo, os termos
congêneres, as inúmeras outras palavras adjetivadas por ‘primitivo’ e o baixíssimo índice de
presença nessas obras de referência. Entretanto, o que queremos chamar a atenção aqui é o fato de
que esse termo contém uma imprecisão conceitual que desperta inquietude no sentido de buscar
maior compreensão.
O próprio termo “primitivo” tal como apresentado acima, por Mijolla-Mellor (2005), não
parece ser suficientemente preciso por não apresentar um conjunto de caracteres que permitam a
detecção das condições necessárias que favoreçam as possibilidades descritivas, classificatórias e
identificadoras do que pode ser circunscrito pelo uso da expressão que identifica o conceito.
Entretanto, é preciso considerar que na psicanálise “[...] a incerteza e a relatividade dos conceitos
são os principais ingredientes” (KORBIVCHER, 2005, p. 1595) como nos processos do
conhecimento humano em geral e que pluralismo e controvérsia são inerentes particularmente ao
campo psicanalítico (WIDLOCHER, 2003) desde os tempos de Freud.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Afirmar que é possível compreender que o termo primitivo, encontrado ao longo da obra
freudiana, apresenta acepções não excludentes de inicial, arcaico, originário, precoce, primário,
primordial, primevo, elementar, fundamental e, por vezes, incipiente, rudimentar, não significa
dizer que se pretenda uniformizar, padronizar os significados, mas que permitem clarificar o
conceito em questão e o seu uso, seja no plano do desenvolvimento da humanidade, seja no campo
da constituição da subjetividade do indivíduo.
Um ponto que é preciso destacar aqui se refere ao próprio uso, por Freud, dos termos
primitivo e primitividade, bem como quando alude aos povos primitivos na atualidade. Certamente
que ao utilizar tais expressões ele se pautou nas concepções antropológicas vigentes em sua época,
que não cabe aqui aprofundar, cuja noção acerca do primitivo foi contestada pela Antropologia
como contendo elementos negativos e etnocêntricos. Contudo, um olhar mais atento, que não se
prenda somente aos momentos em que pode ser depreendido um sentido etnocêntrico na utilização
freudiana do termo primitivo, perceberá que, no geral, sobressai um sentido de demarcar modos
diferentes de funcionamento mental, com modalidades distintas que expressam uma complexidade
sempre presente na busca de compreensão do psiquismo. E é por isso, provavelmente, que o termo
primitivo aparece também na literatura pós-freudiana com muita frequência, inclusive nos autores
atuais, sem o caráter etnocêntrico, mas como forma de explicitar determinados aspectos do
funcionamento psíquico. Tal compreensão permite transitar entre inúmeras possibilidades de
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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