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FLF0368:
Teoria do Conhecimento
e
Filosofia da Ciência I
Dissertação Final
Afirmamos que o nascimento está na Interpretação dos Dados empíricos e, além disso,
intimamente ligado a dualidade Interpretação/Observação. Independentemente da posição tomada,
seja ela a Kantiana ou a visão apresentada nessas linhas, propomos a avaliar a questão de forma
geral, tomando um certo cuidado para não colocá-las em conflito.
Pelo que foi desenvolvido até aqui, entendemos que a preocupação da nossa discussão não
deve situar no quão o método é eficiente no tratamento de problemas concretos, no qual as
aproximações são eficazes para a prática, mas sim o quanto ele pode caminhar para levar-nos ao
verdadeiro conhecimento. E para tanto é preciso entender o que é verdade para ciência.
Verdades científicas
Por uma questão de hábito, algumas pessoas são levadas a crer que o cientista possui, de
fato, as respostas para tudo, ou ao menos, as respostas para as perguntas que ele fórmula. A
começar pela matemática, que é para tantos, a ciência das verdades irrefutáveis.
Sabemos bem, que a matemática é constituída por muitas teorias e que a afirmação de que
certa proposição P é verdadeira em uma teoria, significa simplesmente, que P é logicamente
dedutível dos axiomas dessa teoria. Além disso, há um problema de relativismo bem maior nessa
questão, pois os axiomas podem ser dedutíveis, inclusive, dependendo da nossa aceitação do
modelo de lógica.
Tal (imaturo) sentimento de segurança para com a ciência, não é de exclusividade nossa.
Galileu sustentou que com a ciência matemática atingimos um nível de cognição semelhante ao do
intelecto divino: “convém recorrer a uma distinção filosofia, dizendo que o entender se pode tomar
em duas acepções, a saber, intensiva ou extensiva: extensiva, isto é, quanto à multiplicidade dos
inteligíveis, que são infinitos, o entender humano é ineficaz, já que, quando ele entendesse mil
proposições, mil relativamente à infinidade é como zero, mas, tomando o entender intensivo,
porquanto este termo implica intensivamente, isto é, perfeitamente, qualquer proposição, digo o
que o intelecto humano entende algumas delas perfeitamente e tem disso uma certeza tão absoluta
quanto a que tem a própria natureza; assim são as ciências matemáticas puras. (...) creio que a
cognição iguala a divina na certeza objetiva, já que chega a compreender-lhes a necessidade,
acima cada qual não parece haver maior certeza”4.
Problemas nos modelos e, conseqüentemente, no processo de observação e interpretação,
nas ciências naturais são também visíveis. Na física, por exemplo, era impossível conceber a idéia
da falsidade da Mecânica Newtoniana, em função da sua grande semelhança com a observação,
inclusive bastante criteriosa.
Após a Teoria da Relatividade devida Albert Einstein, grande parte dos pensadores da
época, acreditavam que a mecânica newtoniana teria chegado ao seu fim. Todos os cientistas se
perguntaram: Como poderia uma ciência que se comportava maravilhosamente bem com o mundo
real poderia estar errada? Não havia sequer uma prova empírica possível para desbancá-la.
Entretanto, não foi isso que aconteceu. Em primeiro lugar, em vista do fato que a teoria de
Newton se aplicava satisfatoriamente bem para pequenas velocidades, mais precisamente:
velocidades abaixo da velocidade da luz; a teoria foi mantida e utilizada para essas ocasiões por
conveniência. Além disso, está ainda foi capaz de derivar uma das áreas de grande pesquisa na
física atual com diversos problemas em aberto, chamada de Mecânica Clássica Moderna.
A noção de verdade, portanto, foi também relativizada. Significar que uma teoria é verdade,
pode também, significar, que esta teoria é verdade em um determinado universo. Dessa forma, se
duas teorias podem ser confrontadas – como, por exemplo, a Mecânica Relativista e a Mecânica
Newtoniana – e assim, diremos que uma teoria T é “mais verdadeira” que uma Teoria T' se o
âmbito de verdade que T incluiu como seu conjunto próprio, o âmbito de verdade de T'.
Tal definição abre a possibilidade de representar as verdades cientifica segundo um espaço
topológico, e não segundo conjuntos de partes. Como se sabe, a diferença entre um conjunto e um
espaço topológico está – de forma simples - no fato de que para se formar um espaço topológico se
exige que os elementos liguem entre si por relações bem determinadas, de maneira que o acréscimo
de um novo ponto num conjunto deixa imutáveis os que pertenciam já ao conjunto, enquanto o
acréscimo análogo num espaço topológico implica a introdução de uma nova relação entre os
elementos desse conjunto.
Processo da descoberta
Conclusão
Shakespeare,
Hamlet, Ato 2, Cena 2.
Steven Hawking, astrofísico britânico, disse que “Hamlet talvez quisesse dizer que, embora
nós, seres humanos, sejamos limitados fisicamente, nossas mentes estão preparadas para avançar
audaciosamente, se os maus sonhos permitirem”.4
Embora a ciência tente aproximar-se das verdades de forma clara e precisa, a influência do
meio e do seu próprio método – que a destaca e a diferencia – acabam tornado-a semelhante às
outras formas de concepção e entendimento da vida, como as citadas na introdução. O cientista,
embora faça de tudo para não sê-lo, assemelha-se com o dançarino de Kierkegaard, embora tenha
sempre o estereotipo auto-suficiente descrição do moto do MIT e de Hawking.
É satisfatório e visível a evolução atingida pelo homem por meio do conhecimento
científico. Melhoramos exponencialmente a nossa qualidade de vida, expandimos a nossa
comunicação, e tudo isso causa um maior bem estar em nossas vidas. Chegamos a resultados
profundos. Apesar de tudo isso, nem mesmo o próprio método pode assegurar a verdade e a
confiabilidade destes. Ao contrário, podemos apenas refutá-lo.
Talvez o maior mérito do progresso cientifico não está nos resultados teóricos obtidos ou no
grau de abstração atingido, mas sim, na evolução instrumental e na proporção com que esta traz
benefícios práticos ao homem. Parafraseando Nietzsche, pode ser que, um dia, alguém consiga levar
ao máximo a afirmação de que o objetivo da ciência não está nas próprias verdades, mas sim, em
algo diferente, algo próximo de um conforto, saúde, esperança, amor e vida.
4
Contra-capa do livro [3]
Referências
Citações:
[1] Frederich Nietzsche, Gaia Ciência, Companhia das Letras, 2001 (pg. ).
[2] Strathern, Paul / Geordane, Maria Helena, Einstein e a Relatividade em 90 minutos, Jorge
Zahar, 1998.
[3] Stefen Hawking, O Universo numa casca de Noz, Arx, 2004, (contra-capa).
[4] Benoit B. Mandelbrot, The Fractal Geometry of Nature, Freeman, New York, 1983.
Textos de referência:
[5] El problema del conocimiento, Ernst Cassier, Fondo de Cultura, 1993.
[6] Albert Einstein, Comment Je vois le monde, Champs, 1989.
[7] Rubem Alves, Filosofia da Ciência, Loyola, 2000.
[8] Erwin Schrodinger, O que é a vida?, UNESP, 1997.
[9] Lodovico Geymonat, Elementos de Filosofia da Ciência, Gradativa, 1988.
[10] S. Morgenbesser (org), Filosofia da Ciência, Observação e Interpretação, Cultrix.