Professional Documents
Culture Documents
1. Introdução
1
A perspectiva contrária, por não ser coerente com as definições de gênero
socialmente ditas "normais", tem feito que os transgêneros sejam estigmatizados
pela sociedade, tornando-os mais vulneráveis a diversos tipos de discriminação
e violência. Portanto, a presente pesquisa se faz necessária, uma vez que há
uma carência de estudos que incluam pessoas trans., mesmo de forma indireta.
2
2. A Busca pela Legitimação de Identidade: Considerações Acerca do
Corpo, Gênero em Pessoas Trans e Contribuições da Teoria da Identidade
Social
3
assegurar, de modo que, excepcionalmente, possam ser feitas
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, todavia sem
menosprezar o merecimento das pessoas enquanto seres humanos
(MORAIS, 2005, p. 16).
Morais (2005), ressalta que a dignidade da pessoa manifesta-se na
possibilidade de autodeterminação da própria vida, o que traria consigo a
pretensão ao respeito por parte do restante da sociedade, constituindo assim,
um mínimo invulnerável que qualquer ordenamento jurídico deverá resguardar.
Entre suas características, está o fato de ser impessoal e independente de uma
situação específica para se concretizar. Todos, mesmo o maior dos criminosos,
possuem dignidade, muito embora não se porte com dignidade para com seus
semelhantes. Além disto, a dignidade é inexaurível, pois nunca se chegará a
ponto de sua total satisfação, a qual está sempre clamando por expansão.
4
esforço multidisciplinar para defini-lo, diferenciando-o dos discursos do sexo e do
gênero.
Por sua vez, o sexo jurídico, nas palavras de Maranhão (2017), seria uma
mera decorrência do assentamento registral civil, o qual possui presunção de
legitimidade. Sua importância está adstrita à atribuição de direitos e deveres
concernentes à participação social do indivíduo, sendo baseado em uma
constatação médica atrelada à anatomia do recém-nascido.
5
sobre o gênero não é explícita, mas constitui, no entanto, uma
dimensão decisiva da organização, da igualdade e desigualdade. As
estruturas hierárquicas baseiam-se em compreensões generalizadas
da relação pretensamente natural entre o masculino e feminino.
É neste contexto que se apresenta a teoria da identidade de gênero, a qual
não possui necessariamente ligação com os sexos morfológicos e/ou endócrino.
Silva (2014) explícita que tal identidade possui elementos conscientes e
inconscientes, os quais são integrados às características físicas do sujeito.
6
apenas uma reunião de pessoas com base em uma ou mais características
comuns. Certos conjuntos ou categorias de pessoas são constituídos por
critérios menos arbitrários ou mais primários como raça, gênero, sexo biológico,
identidade de gênero, orientação sexual, etc. Esses agrupamentos são
denominados, geralmente, de ‘categorias sociais’.
Além disso, no que concerne a esta identificação social, a teoria expõe que
a necessidade de uma imagem positiva de si mesmo poderia levar os grupos
sociais considerados desfavorecidos a desenvolverem diferentes estratégias de
mobilidade social que valorizassem o seu grupo em relação aos outros, o que
poderia acontecer com o grupo em questão. Por um lado, podem mudar o
exemplo da comparação feita por indivíduos que já realizaram a cirurgia de
mudança do sexo anatômico para com aqueles que ainda não passaram por tal
procedimento cirúrgico; redefinir as dimensões incluídas na comparação ou,
finalmente, os valores os quais avaliam essas dimensões (ÁLVARO, 2007).
8
nas transexuais, e do pênis, nos transexuais, apareceu como um dos fatores
para se obter apoio e satisfação conjugal. Mas a mesma autora pontua que,
apesar da “genitalização das relações”, a ideia de que um (a) transexual ou
travesti tem rejeição ao seu corpo e é assexuado, não possui nenhum respaldo
nas narrativas encontradas; e que seriam muitas as técnicas de dar e sentir
prazer, abrindo sempre outras possibilidades de negociação com suas/seus
companheiras/os no contexto das relações afetivas e sexuais.
Num certo sentido, precisamos nos desfazer para que sejamos nós
mesmos: precisamos ser parte de um extenso tecido social para criar
quem nós somos. Este é, sem dúvida, o paradoxo da autonomia, um
paradoxo que é intensificado quando as regulações do gênero
funcionam para paralisar a capacidade de ação do gênero em vários
níveis. Até que essas condições sociais tenham mudado radicalmente,
a liberdade requererá não-liberdade, e a autonomia estará enredada
em sujeição. Se o mundo social - um sinal de nossa heteronomia
constitutiva - precisa mudar para que a autonomia se torne possível,
então a escolha individual mostrará ser dependente desde o início de
condições que nenhum de nós produziu ou desejou, e nenhum
indivíduo será capaz de fazer escolhas fora do contexto de um mundo
social radicalmente mudado. A mudança vem de uma ampliação de
ações coletivas e difusas que não seriam próprias a nenhum sujeito
singular, ainda que um efeito dessas mudanças seja que se venha a
agir como um sujeito. (BUTLER, 2009, p. 123).
Por fim, mediante as diferenças dissipantes entre as formas de se pensar
corpo e gênero da maior parte da população e de homens e mulheres
transexuais, pressupõe-se que a construção da identidade social da
mulher/homem trans. no contexto atual, é fortemente influenciada e determinada
pela relação e redes de apoio sociais estabelecidas entre eles. De outra
maneira, acredita-se que a percepção sobre si envolvendo aspectos como
corporalidade e sexualidade, sobre os grupos de pertença identidade social, tem
estreita conexão com a maneira como a família, os pares, e os
9
cônjuges/namorados encaram essas “outras” formas de se sentir mulher/homem
e a identidade de gênero dos sujeitos em questão. Uma vez que não se nasce
sujeito, mas torna-se sujeito numa breve adaptação, a partir do momento em que
é possível perceber pertencimento a uma determinada realidade social e
societal.
3. Questões de Gênero
Discutir gênero vai muito além das questões homem e mulher, dos
aspectos fisiológicos e das diferenças corporais. Quando um determinado
indivíduo nasce, este por sua vez deve ter uma conduta e comportamentos para
seguir de acordo com seu sexo, entretanto, atualmente vivenciamos vários casos
de pessoas que nascem com sexo masculino, mas se enxergam como feminino
e vice-versa. Entende-se por gênero a forma na qual uma pessoa se identifica e
esta pode ser adotada igual ou não ao sexo a qual nasceu. É importante
ressaltar que o indivíduo não deverá seguir na vida exclusivamente o mesmo
sexo que nasceu ou ter comportamentos semelhantes ao seu sexo apenas
porque é o que a sociedade espera, mas sim deverá direcionar-se a forma na
qual se enxerga independentemente do sexo de nascença.
10
diferença. Fora disso, qualquer outro tipo de distinção é cultural (e é
aqui que reside a violência de gênero: que é eminentemente cultural).
Cada sociedade (e cada época) forma (cria) uma identidade
(comportamental) para a mulher e para o homem. O modo como a
sociedade vê o papel de cada um, com total independência frente ao
sexo (ou seja: frente ao substrato biológico), é o que define o gênero.
Todas as diferenças não decorrentes da biologia (menstruação,
gestação e amamentação) e impostas pelas regras culturais da
sociedade são diferenças de gênero (GOMES, 2013, p. 02).
Na distinção de gêneros podemos acentuar o grande problema na
diferenciação dos sexos e sua forma na qual a sociedade enxerga. Gomes
segue a ideia de que não se deve diferenciar os sexos, uma vez que a única
diferença visível é a forma corporal e o fato da mulher poder gerar outro
indivíduo. Não se deve dividir os papéis que cada um deverá desenvolver na
sociedade tendo como base o sexo, porque nesse momento entram inúmeros
aspectos que atualmente ambos os sexos desempenham no corpo social. A
dissemelhança entre os gêneros é visível desde o momento do nascimento,
entretanto, a forma na qual a sociedade, a cultura e os pais abordam os filhos é
que se configura o problema. As crianças nascem sem preconceitos ou distinção
de gêneros, os adultos que as impõem. Um exemplo é a discrepância nas
brincadeiras e nos brinquedos que são designados a meninos e meninas.
11
sentido de conflitos individuais e, de certa forma, reforça a patologização da
identidade, construídos fora do referencial biológico. Contudo, esses estudos
habilitam aqueles designados como pervertidos, desviados, psicóticos, enfermos
e transtornados, incluindo-se as transexuais, travestis, lésbicas, bissexuais e
gays, como sujeitos que constituem suas identidades de gênero mediante os
mesmos processos que os considerados “normais” (BENTO, 2006).
12
discussão qualificada. Visando reorientar as políticas de saúde e objetivando a
ampliação do acesso às ações e serviços de qualidade, essas políticas têm
reafirmado o compromisso do SUS com a integralidade e a universalidade, por
contemplarem ações voltadas para a promoção, prevenção e recuperação da
saúde (BRASIL, 2010).
O universo trans., no entanto, acaba por, na maior parte das vezes, figurar
como conceitos sem definição para muitos indivíduos, e, consequentemente,
sem a indicação de encaminhamentos pertinentes à especificação da realidade
de vida e saúde da população TTT. Políticas públicas, tal como, a política
nacional de saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros
– LGBT (BRASIL, 2010), fazem-se necessárias como estratégias de ação em
saúde diante da especificidade das vivências desses grupos, qualificando ações
e provocando, transversalmente, diversas áreas técnicas, objetivando a
integralidade e a equidade (LIONÇO, 2008).
5. Discussão
Como primeiros resultados deste trabalho, pôde-se notar que a maior parte
do movimento LGBT, não reconhece que a identidade transgênero tenha
reivindicações claras e coerentes que somem lutas importantes ao conjunto
geral, onde o poder dos grupos identitários já estabelecidos cria uma gama de
estratégias discursivas de bloqueio que visam rebater a possibilidade de que
novas categorias ascendam para a formatação geral do movimento.
14
Há quem diga que as questões acerca da sexualidade humana estão “fora
de moda”; na verdade, é agora que estamos começando a entender a
complexidade da sexualidade humana que até pouco tempo era binária, isto é,
homem e mulher heterossexuais e cisgêneros.
Ora, podemos mencionar a Lei Maria da Penha que até poucos anos atrás
também havia aplicações de multas/fianças e cestas básicas. Agressores que
eram punidos com penas de multas ou doações de cestas básicas, passaram a
ser proibidos; com a nova redação passou para agravante o que não era
considerado agravante.
Quando a Lei for ampliada, tirando o direito de multas como por exemplo,
toda a sociedade tenderá a respeitar a pessoa em todos os aspectos sociais. Os
travestis, transexuais e os transgêneros são as maiores vítimas de homofobia
15
dentre a comunidade LGBT; segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos
as mulheres trans. são os maiores alvos, somando 73%, resultando em uma
expectativa de vida de apenas 35 anos de idade (a média geral brasileira é de 75
anos). Já segundo a Associação Nacional dos Travestis e dos Transexuais, 90%
destas pessoas se prostituem, um número diretamente ligado à evasão escolar,
exclusão social e desemprego.
6. Considerações Finais
16
pela exclusão, mas que se acentua consideravelmente quando se trata de
transgêneros, tendo em vista que estes trazem as “marcas do corpo” que tanto
incomodam a sociedade pautada pela normatização e padrões definidos como
aceitáveis. Trazer à tona esse debate no campo da Psicologia Social é
importante para o processo de conquista da equidade da sociedade como um
todo.
Referências:
ARONSON, Elliot; WILSON, T. D.; AKERT, R. M. Psicologia Social. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v15n2/v15n2a04.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2017.
17
scholar.google.com.br/scholar?cluster=474112909789670183&hl=pt-BR&as_sdt=0,5&sciodt=0,5>. Acesso
em: 03 abr. 2017.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/.../0/BOURDIEU_A%20dominação%20masculina .pdf>. Acesso em: 30 jul. 2017.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível
em: <
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Texto Base da Conferência Nacional de
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, 2010. Disponível em: <http://portal.mj.
gov.br/sedh/co/glbt/texbaglbt.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BUTLER, Judith. Desdiagnosticando o gênero. Physis Revista de Saúde Coletiva, v. 19, p. 95-126,
2009. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v15n2/v15n2a04.pdf>. Acesso em: 16 abr.
2017.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa, coleção primeiros passos,
brasiliense 2ª Ed., revista, 1994. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_
pdf/cartilha_ma_direitos_humanos.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2017.
LIONÇO, T. Que direito à saúde para a população GLBT? Considerando direitos humanos,
sexuais e reprodutivos em busca da integralidade e da equidade. Saúde & Sociedade, v. 17, n.2, p. 11-21,
2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n98/a11v37n98.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2017.
MARANHÃO, Odon Ramos. Curso Básico de Medicina Legal. São Paulo. Malheiros, 2007, p. 127.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X 2005000400012>.
Acesso em: 15 abr. 2017.
18
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa Departamento de Apoio à
Gestão Participativa. Transexualidade e Transvestilidade na Saúde. Brasília, DF, 2015. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/transexualidade_ travestilidade_saude.pdf>. Acesso em: 10 abr.
2017.
MORAIS, Alexandre de. Direito constitucional. Editora Atlas, p. 16, 2005. Disponível em:
<https://jornalistaslivres.org/wp-content/uploads/2017/02/DIREITO_CONSTITUCIONAL-1. pdf>. Acesso em:
19 abr. 2017.
PERES, Ana Paula Ariston Barion. Transexualismo: o direito a uma nova identidade sexual. Rio
de Janeiro: Renovar, 2001. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/conpedi/
manaus/arquivos/anais/fortaleza/4144.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2017.
SANTOS, L. Direito a saúde e sistema único de saúde: conceito e atribuições. O que são ações
e serviços de saúde. In: SOUZA, A. E. et al. (Org). Direito a saúde no Brasil. São Paulo: Saberes Editoras,
2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S0103-11042013000300011>.
Acesso em: 20 ago. 2017.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre,
v.16, n.2, p. 5-22, 1990. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/his/v24n1/a04v24 n1.pdf>. Acesso em: 10
abr. 2017.
SILVA, Bruno de Brito. Apoio e suporte social na identidade social de travestis, transexuais e
transgêneros. Revista da SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 15, n. 2, p. 27-44, 2014. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v15n2/v15n2a04.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017.
TAJFEL, Henri. Human groups and social categories. Cambridge: Cambridge University Press,
1981. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rspagesp/v15n2/v15n2a04.pdf>. Acesso em: 25 abr.
2017.
19