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1.

Introdução
O presente trabalho tem como tema: evolução do sistema judicial moçambicano. Nele pretende-
se analisar: influencia ou papel dos tribunais comunitários no sistema jurídico moçambicano;
papel dos tribunais comunitários no sistema jurídico moçambicano; papel da unidade técnica da
reforma legal em Moçambique.

Para entender o trabalho em apreso parte-se de principio que Moçambique é um Estado de


direito democrático baseado no princípio da separação e interdependência de poderes. De acordo
com a Constituição de 2004, a terceira constituição adoptada após a independência do país, os
direitos individuais e a independência dos tribunais foram fortalecidos. A constituição é a lei
suprema do país e todos os actos contrários às disposições constitucionais são nulos.
Moçambique é ainda um Estado unitário, que respeita o princípio da autonomia das autoridades
locais.

Para a elaboração do trabalho Foi utilizado o seguinte método de investigação: pesquisa


documental. A pesquisa documental constitui-se uma valiosa técnica de abordagem de dados
qualitativos. A pesquisa documental resumiu-se no levantamento de dados primários que é
desenvolvida a partir de material já elaborado constituído principalmente de livros e artigos
científicos e tem por finalidade conhecer as diferentes contribuições científicas que se realizam
sobre determinado assunto ou fenómeno, de forma a explorar o sustentáculo temático em estudo.

Na pesquisa bibliográfica basei-me em livros que atendem a situação judicial de mocambique e a


sua reforma.

1.1.Objectivos

1.1.1.Objectivo geral
 Analisar a evolução histórica do sistema judicial em Moçambique.

1.1.2.Objectivos específicos
 Analisar a Reforma legal em Moçambique aplicada após a independência e explicar sua
função.

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 Compreender a natureza de constituição dos Tribunais comunitários e sua função.

2.A evolução da justiça moçambicana

2.1.A organização judiciária


A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique. É, assim, possível observar quatro períodos, correspondendo cada um deles ao
tempo de vigência das transformações que se fizeram sentir, com incidência sobre a composição,
a organização e o funcionamento dos tribunais e dos outros órgãos de administração da justiça:

– de 1975 a 1978, a (re) construção do sistema judiciário;

– de 1978 a 1992, a implantação do sistema de Justiça Popular;

– de 1992 a 2004, a criação de uma organização judiciária do Estado de Direito, com a separação
dos tribunais comunitários; – o período que se inicia com a recente revisão constitucional, de
Novembro de 2004, é o do reconhecimento do pluralismo jurídico e da criação de um sistema
integrado de Justiça, com o objectivo de tornar a justiça mais próxima, mais acessível, mais
eficiente, mais transparente e ao serviço da cidadania, da democracia e do desenvolvimento.

O período entre a proclamação da independência e a aprovação da primeira Lei da Organização


Judiciária foi o da concepção do sistema judiciário moçambicano e, ainda, de tomada de medidas
pragmáticas necessárias para garantir o funcionamento das instituições de justiça, dentro do novo
quadro constitucional de um novo país, (ANTEPROPOSTA DA LEI DE BASES DO SISTEMA
DE ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, p. 6 ).

3.Reforma legal em Moçambique

3.1.Conteúdo da Reforma
O Presidente do Tribunal Administrativo constitui, no seio do próprio Tribunal, um grupo de
trabalho para estudar as modalides da Reforma do Contencioso Administrativo - chamado

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"Grupo de Trabalho da Reforma Legal", abreviadamente “Grupo de Trabalho” - presidido pelo
juiz titular da Primeira Secção e constituido por juízes conselheiros da Primeira Secção do
Tribunal Administrativo, do Assessor do Presidente do Tribunal Administrativoe de um
Professor da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane.

O Grupo de Trabalho decidiu estabelecer, no início da sua actividade, os princípios que deviam
nortear o seu trabalho e a sequência das tarefas a realizar, no dia 11 de Novembro de 1997,
(CISTAC , Gilles , História do direito processual administrativo contencioso moçambicano).

O conjunto de propostas legislativas que se destinava a consubstanciar a almejada reforma da


justiça teve como pontos permanentes de referência os princípios e regras constitucionais atrás
referidos e levou, naturalmente, em consideração as críticas e os comentários recebidos das
várias entidades auscultadas.

Após ponderar as várias soluções de técnica legislativa, optou-se por elaborar um Anteprojecto
de Lei de Bases do Sistema de Administração da Justiça – no qual se consagram os princípios
gerais e as bases fundamentais de um sistema de justiça plural e integrado, que aproveite as
potencialidades normativas e de solução de litígios existentes na sociedade moçambicana –,
completado pelos anteprojectos de Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, de Lei Orgânica dos
Tribunais Comunitários e de Lei do Acesso à Justiça e ao Direito. As inovações propostas podem
agrupar-se em cinco grandes áreas:

a) O estabelecimento de um novo modelo de organização e de repartição de


competências dos tribunais judiciais;

Para responder à dimensão do território, à distribuição da população, dos recursos e das


necessidades, foi consensual entre todos os operadores judiciários e as pessoas auscultadas
durante a realização dos painéis de discussão, que o princípio actualmente em vigor da
coincidência entre a divisão judicial e a divisão administrativa deveria ser afastado15. Deveria
prever-se a possibilidade de existir tribunais distritais com competência territorial em mais do
que um distrito, ou distritos com mais do que um tribunal judicial distrital. Também em cada
província poderia ser instalado mais do que um tribunal judicial de província, se o volume e a
natureza dos processos o justificassem.

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b) A criação de um sistema de controlo do funcionamento, da qualidade do sistema de
justiça e da avaliação do desempenho dos tribunais

O controlo do funcionamento e da qualidade da administração da justiça compete aos órgãos de


direcção e gestão dos tribunais e de gestão e disciplina dos juízes. Nos termos avançados pelo
anteprojecto da Lei de Bases do Sistema de Administração da Justiça, o Governo deverá mandar
estudar e elaborar uma adequada grelha de padrões de qualidade a que deve obedecer o sistema
de administração da justiça, devendo a mesma ser aprovada mediante Decreto-Lei. Propõe-se
igualmente a criação de um Observatório da Justiça com a função de preparar a entrada em vigor
da reforma e de monitorar e avaliar o grau de realização dos objectivos e de concretização das
medidas estabelecidas nos diplomas que a integram.

c) O reforço da capacidade de direcção e de gestão dos tribunais judiciais

De modo a melhorar a eficiência dos tribunais é necessário reforçar a sua capacidade de


administração e gestão. Nos termos da proposta formulada, isso será conseguido
progressivamente através da criação da figura do gestor judicial junto do presidente do tribunal
judicial de província para o assessorar na gestão do tribunal a que preside e dos tribunais
judiciais de distrito e comunitários sob sua jurisdição.17 De entre as competências que lhe são
atribuídas no anteprojecto de Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais contam-se as de executar os
planos de actividades definidos centralmente para os tribunais judiciais de província e de distrito;
dirigir e supervisionar a execução dos orçamentos; dirigir e supervisionar os serviços
administrativos e os recursos humanos dos tribunais; providenciar a elaboração das propostas de
orçamento; supervisionar a recolha, sistematização e envio ao Departamento de Estatística
Judicial do Tribunal Supremo, da informação estatística relativa à actividade judicial.

d) O reforço da capacidade de direcção e de gestão dos tribunais judiciais e a criação


de um sistema de controlo do funcionamento, da qualidade do sistema de justiça e

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da avaliação do desempenho dos tribunais. Consideremos detalhadamente cada
uma dessas áreas.

Nos anteprojectos de lei que integram o pacote da proposta de reforma é desenvolvido e


concretizado o princípio de que todos os cidadãos têm acesso à justiça e ao direito para defesa
dos seus direitos e interesses legítimos. Esse direito abrange a informação e a consulta jurídica, o
patrocínio judiciário e o acompanhamento por advogado ou por qualquer outra pessoa de
confiança perante as autoridades e entidades públicas. O sistema de acesso à justiça e ao direito
que se propõe aponta para a substituição do actual modelo do Instituto de Patrocínio e
Assistência Jurídica – que já se revelou ineficiente e insustentável – tendo em vista a promoção
das condições que permitam que a ninguém seja impedido ou dificultado, em consequência das
condições sociais e culturais, ou por insuficiência de meios económicos, o acesso ao direito e às
instâncias de justiça, ( TRINDADE, 2010)

O projecto viria a ser aprovado pela Assembleia da República no dia de 12 de Abril de 2001.
(CISTAC , Gilles , História do direito processual administrativo contencioso moçambicano).

4.Tribunais comunitários
Após os acordos de paz de 1992, foram criados os Tribunais Comunitários pela Lei nº 4/92 de 6
de Maio, que se seguiu à reforma da organização judiciária, concretizada pela Lei Orgânica dos
Tribunais Judiciais, de 1992 (Lei nº 10/92 de 6 de Maio), emanada no âmbito da Constituição de
1990 que introduziu o multipartidarismo e reconheceu sem reservas os direitos políticos,
estabelecendo o princípio da estrita legalidade.
No processo de constituição e funcionamento dos tribunais comunitários, intervêm os tribunais
judiciais para o controlo e a validação dos resultados eleitorais na eleição dos juízes, na formação
do pessoal do tribunal comunitário e na avaliação das competências para os casos que lhes são
incumbidos.
Igualmente, os Tribunais Comunitários articulam-se com outras instâncias do sistema informal
de justiça, na avaliação das medidas tomadas se não atentam contra a Constituição e as demais
leis e nas autoridades comunitárias buscam as boas práticas locais e delas obtêm informações
necessárias sobre os litigante.

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Os Tribunais Comunitários articulam-se também com as Procuradorias no processo de educação
jurídica e na prevenção de conflitos. Igualmente, na sua actuação, os tribunais comunitários
articulam-se com outras formas alternativas de resolução de conflitos nas comunidades, como
sejam:

 Organizações sócio profissionais;


 Liga Moçambicana dos Direitos Humanos;
 Régulos e outros líderes tradicionais;
 Secretários e outros líderes comunitários;
 Organizações Religiosas;
 Organizações de Massas;
 Organizações sócio-profissionais.

Os tribunais comunitários constituem, assim, a base do sistema integrado de justiça, articulando-


se com os tribunais judiciais e demais órgãos do sistema judiciário, (Trindade, 2010).

De acordo com dados oficiais constantes do Relatório ao X Conselho Coordenador do Ministério


da Justiça12, em 2004 haviam sido inventariados no país 1653 tribunais comunitários – dos quais
254 (cerca de 15%) instalados no período de 2000 a 2004 –, com cerca de 8265 juízes.

4.1.Função
A Constituição da República estabelece no número 2 do artigo 223 que podem ser criados os
tribunais comunitários como uma espécie de tribunais distintos dos demais tribunais, facto que
pressupõe uma orgânica e actuação própria desta instância de resolução de conflitos na nossa
sociedade, (Salimo, 2011:4).
Por outro lado, o nº 5 da Lei nº 24/2007 de 20 de Agosto, Lei de Organização Judiciária define
os Tribunais Comunitários como instâncias não judiciais de resolução de conflitos.

No sistema de Administração da Justiça, os tribunais comunitários, articulam-se com os


seguintes órgãos:
 O Tribunal Judicial do Distrito;

 A Procuradoria do Distrito;

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 As representações da Ordem dos Advogados e do Instituto Nacional de Patrocínio e
Assistência Jurídica;

 A Polícia da República de Moçambique.


Como corolário deste princípio, os tribunais comunitários são consagrados como órgãos de base
do sistema de justiça, deixando de ser jurisdição voluntária e passando a ser jurisdição
obrigatória.

Nos termos do respectivo anteprojecto de Lei Orgânica, estes tribunais tem a competência para
todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que estejam em causa princípios e normas
constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo valor da causa seja duas vezes o salário
mínimo nacional, digam respeito à capacidade das pessoas, à validade ou interpretação de
testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil ou, ainda, em matéria criminal,
relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o pedido de indemnização cível
exceda duas vezes o salário mínimo nacional, (Trindade, 2010).

Das decisões proferidas pelos tribunais comunitários caberá sempre recurso para o tribunal
judicial de distrito competente, e o recurso poderá ser interposto oralmente ou por escrito pelos
interessados, sem necessidade de patrocínio jurídico. O julgamento destes recursos está sujeito
aos mesmos critérios de equidade, bom senso e justa composição dos litígios, sendo vedado ao
juiz decidir de acordo com critérios de legalidade.

A justiça comunitária é tendencialmente gratuita, devendo o orçamento anual dos tribunais


judiciais de província incluir uma verba destinada aos tribunais comunitários situados na sua área
de jurisdição, para financiamento dos recursos humanos e das despesas materiais correntes, à
excepção das despesas com edifícios, equipamento e demais recursos materiais, que serão da
responsabilidade dos governos provinciais, ( Trindade, 2010).

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5.Conclusão
Feita a analise do trabalho conclui-se que a lei que cria estes tribunais serve para a “promoção do
acesso à justiça e ao direito, a dinamização e consolidação de uma justiça de proximidade, a
prevenção dos conflitos, o reforço da estabilidade social e a valorização, de acordo com a
Constituição, das normas, regras, usos, costumes e demais valores sociais e culturais existentes
na sociedade moçambicana”. Com base no que foi instituído pela lei, entendemos haver motivos
suficientes para o alargamento das competências para conferir mais autoridade a essas instâncias
judiciais.
A evolução da organização judiciária desde a independência até aos dias acompanha, em termos
gerais, a evolução do próprio sistema político e da ordem jurídico-constitucional de
Moçambique.

Os tribunais tem a competência para todo o tipo de conflitos, à excepção daqueles em que
estejam em causa princípios e normas constitucionais ou de contencioso administrativo, ou cujo
valor da causa seja duas vezes o salário mínimo nacional, digam respeito à capacidade das
pessoas, à validade ou interpretação de testamento, à adopção e à dissolução de casamento civil
ou, ainda, em matéria criminal, relativamente a crimes de natureza pública ou sempre que o
pedido de indemnização cível exceda duas vezes o salário mínimo nacional,

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6.Referências Bibliográficas

Artigos
Anteproposta da lei de bases do sistema de administração da justiça. consultado em
https://www.legal-tools.org/doc/a9f701/pdf/ no dia 8 de Maio de 2019.

CISTAC , Gilles , História do direito processual administrativo contencioso moçambicano.


Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane. Consultado em
http://www.fd.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2014/12/Cistac-Gilles-HISTORIA-DO-DIREITO-
PROCESSUAL-ADMINISTRATIVO-CONTENCIOSO- no dia 8 de Maio de 2019

LOURENÇO, Vitor Alexandre « Estado, Autoridades Tradicionais e Transição


Democrática em Moçambique: Questões teóricas, dinâmicas sociais e estratégias políticas »,
Cadernos de Estudos Africanos, 16/17 | 2008, 115-138.

TRINDADE, João Carlos .Constituição e reforma da justiça um projecto por realizar .


Constituição e Reforma da Justiça Desafios para Moçambique 2010 consultado em
http://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/des2010/IESE_Des2010_10.ConstRefor.pdf no dia
8 de Maio de 2019.

Legislação

Constituição da Republica de Moçambique (2004) Imprensa Nacional: Maputo;

Br (1992) Lei nº 04/92 de 6 de Maio, ¨ Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais”. I Série no 19,
Imprensa Nacional: Maputo.

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Indice
1.Introdução .................................................................................................................................... 1

1.1.Objectivos ................................................................................................................................. 1

1.1.1.Objectivo geral ....................................................................................................................... 1

1.1.2.Objectivos específicos ........................................................................................................... 1

2.A evolução da justiça moçambicana ............................................................................................ 2

2.1.A organização judiciária ........................................................................................................... 2

3.Reforma legal em Moçambique ................................................................................................... 2

3.1.Conteúdo da Reforma ............................................................................................................... 2

4.Tribunais comunitários ................................................................................................................ 5

4.1.Função ....................................................................................................................................... 6

5.Conclusão..................................................................................................................................... 8

6.Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 9

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