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Significado Político-Constitucional
do Direito Penal
Constitutional and Political meaning of Criminal Law
Cláudio Brandão*
Resumo: Através do Direito Penal o Estado ganha o poder de retirar da pessoa humana os direitos
constitucionalmente assegurados, quais sejam: vida, liberdade e patrimônio, configurados como
cláusulas pétreas da Constituição. O que se atinge no Direito Penal são os bens assegurados pela
Carta Política, cuja aplicação e interpretação devem ser feitas em consonância com os Princípios
Constitucionais. A discussão aqui empreendida quer demonstrar que, além do caráter técnico-dog-
mático, o Direito Penal tem um caráter político e este é o condicionante do objeto e do método do
Direito Penal, fazendo com que os mesmos apresentem uma relação substancial com os princípios
constitucionais.
Palavras-chave: Direto Penal. Direito Constitucional. Tutela dos bens jurídicos. O método do Di-
reito Penal. Princípios Constitucionais da Legalidade. Dignidade da Pessoa Humana.
Abstract: Through by Criminal Law the State gets the power to remove constitutional rights of hu-
man being, as follows: life, natural freedom and patrimony, assured as unchangeable clause of Con-
stitution. What’s reached in the Criminal Law is assured possessions by Political Charter, which
application and interpretation must have to be done with the Constitutional Principles. The discuss
wants to show that, besides the thecnical-dogmatic character, Criminal Law has a political character
and that is the quality of the object and the method of Criminal Law, succeeding in both, presented
a substantial relation with the constitutional principles.
Key Words: Criminal Law. Constitutional Right. Personal Estate Protection. Criminal Law’s meth-
od. Constitutional Principles of Legality. Human being dignity.
* Doutor em Direito. Professor de Direito Penal nos cursos de graduação, mestrado e doutorado em Direito da UFPE. Professor
do Centro de Ensino Superior do Extremo Sul da Bahia.
e outro político. Atualmente, é recorrente Direito Subjetivo como duas faces de uma
falar-se da crise do Direito Penal. A preten- mesma moeda, sendo apenas pontos de
sa crise decorre da separação destes dois vista oriundos do mesmo fenômeno.
aspectos, isto é, a dogmática nua, despida Na seara penal, a distinção entre Di-
de sua significação traduzida no poder vio- reito Objetivo e Direito Subjetivo ressoou
lento do Estado, conduz a um autismo ju- de uma forma muito premente, inician-
rídico, que a encerra num mundo próprio, do-se já no século XIX. Identificava-se o
alheio à realidade dos fatos. Neste sentido, Direito Penal em sentido objetivo como a
diz Zaffaroni que “as mais perigosas com- norma penal e o Direito Penal em sentido
binações tem lugar entre fenômenos de subjetivo como o Direito do Estado de pu-
alienação técnica dos políticos com outros nir, chamado de Jus Puniendi.
de alienação política dos técnicos, pois Como dito, o Direito Penal em sen-
geram um vazio que permitem dar forma tido objetivo seria conceituado a partir da
técnica a qualquer discurso político”.15 norma. É definido como “um conjunto de
normas jurídicas que têm por objeto a de-
3. Direito Penal Objetivo e Subjetivo. terminação das infrações de natureza penal
Crítica da viabilidade da distinção. e suas respectivas sanções – penas e medi-
das de seguranças”.16
A divisão do Direito em Direito Ob- É correto afirmar-se que, desde o iní-
jetivo e Direito Subjetivo foi cunhada pelo cio do século XIX, encontra-se na Dogmá-
Positivismo Jurídico. Sua origem se dá, tica Penal referência à idéia de Direito Sub-
mais precisamente, na Alemanha, no decor- jetivo. Tal afirmativa pode ser comprovada
rer do século XIX. Nesta época, o Direito pela obra de Anselm von Feuerbach, que
naquele país gravitava em torno do Direito definia o crime como uma injúria prevista
Romano. Com efeito, o Digesto, também por uma lei penal, que se consubstancia-
chamado de Pandectas, originou a Esco- va numa ação violadora do direito alheio,
la dos Pandectistas e nela, pelas mãos de proibida mediante uma lei penal17.
Windscheid, encetou-se a dicotomia Direi- Segundo Feuerbach, o “crime é, no
to Objetivo e Direito Subjetivo. Não é sem mais amplo sentido, uma injúria contida
razão que a dicotomia em análise começou em uma lei penal, ou uma ação contrária
pelas mãos dos pandectistas. O Digesto ro- ao Direito de outro, cominada numa lei
mano recorreu com freqüência ao conceito penal”.18 Os crimes são sempre lesões ao
de facultas agendi, isto é, a faculdade de Direito, por exemplo, “a lesão do direito à
agir, que norteava a regulação das relações vida constitui o homicídio”.19
privadas. Foi a partir deste conceito que Deste modo, o crime não é somente
Windscheid definiu o Direito Objetivo, conceituado a partir de uma ofensa à lei pe-
que seria a norma, e o Direito Subjetivo, nal, já que para a sua existência será necessá-
que seria o poder da vontade de realizar o ria também a violação de um direito alheio,
comando da norma. Outro pandectista a isto é, a violação do Direito Subjetivo.
procurar precisar o conteúdo dos conceitos Todavia, apesar de Feuerbach vincu-
de Direito Objetivo e de Direito Subjetivo lar o conceito de crime ao conceito de vio-
foi Jhering, para quem enquanto o Direi- lação do Direito Subjetivo, não podemos
to Objetivo é a norma, o Direito Subjetivo afirmar que ele criou o conceito de Direito
é o interesse juridicamente protegido. No Penal Subjetivo. Isto se dá porque o con-
século XX, o positivismo normativo de ceito de Direito Penal Subjetivo é muito
Kelsen identificou o Direito Objetivo e o mais amplo que o próprio conceito de cri-
me. Este último é o “direito que tem o Es- essa crítica, aos estudos que envolvem o
tado a castigar – jus puniendi –, impondo chamado Direito Alternativo.
as sanções estabelecidas pela norma penal, Mas não é este o fundamento da ine-
àqueles que tenham infringido os preceitos xistência desta dicotomia no Direito Penal.
da mesma”.20 Na verdade, não se pode falar em
O conceito de Direito Penal Subjeti- Direito Penal em sentido Subjetivo por-
vo foi desenvolvido por Karl Binding, que que não há o direito do Estado de punir
se utiliza do conceito de norma como co- ninguém com a retirada dos direitos fun-
mando de conduta extraído da lei para for- damentais à vida, à liberdade e ao patri-
mular um sistema geral acerca das mesmas mônio. Seria uma contradição reconhecer
e suas violações. É das normas que surge o o direito subjetivo do Estado de violar di-
Direito de Punir do Estado, isto é, o Direito reitos subjetivos constitucionais do sujeito.
Penal subjetivo. O que existe é, isto sim, um dever de pu-
No panorama atual, alguns penalistas nir em face do cometimento de um crime
ainda recorrem à dicotomia Direito Penal e todo dever supõe requisitos que tornam
Objetivo e Direito Penal Subjetivo. Mir obrigatória alguma prestação. O conceito
Puig, grande jurista espanhol, por exem- de Direito Subjetivo tem como elemento
plo, utiliza-se da noção de Direito Penal essencial a faculdade de dispor do deste
Objetivo para o estudo da norma penal, e direito, que é precisamente o que os roma-
do Direito Penal Subjetivo para a análise nos falavam: a facultas agendi, a faculdade
do Direito de castigar do Estado (Jus Pu- de agir. Por ter o Estado o dever de aplicar
niendi) que seria o Direito de criar e apli- a pena quando os seus pressupostos estive-
car o Direito Penal objetivo21. Neste últi- rem configurados, não há que se falar em
mo conceito, Mir Puig enfrenta o escorço Direito Penal Subjetivo. Com efeito, o de-
doutrinário acerca dos limites ao poder de ver de agir é conceitualmente incompatível
punir do Estado e seus limites22. Tais limi- com a essência do multi referido conceito
tes são de várias ordens e têm sempre, na de Direito Subjetivo.
substância, um fundamento constitucional, Outrossim, conclua-se afirmando que
traduzindo-se nos Princípios que limitam não existe uma utilidade prática desta dis-
a atividade punitiva23. Todavia os princí- tinção burilada no século XIX no estágio
pios constitucionais limitadores da ativi- atual da ciência penal. Isto se dá porque o
dade punitiva, deve-se consignar aqui, são estudo dos limites à aplicação da pena por
de extraordinária importância no sistema parte do Estado se faz na seara dos Prin-
de dogmática penal, devendo os mesmos cípios do Direito Penal e não no pretenso
serem cuidadosamente tratados no estudo
Direito Penal Subjetivo. Aceitar-se a con-
desta disciplina, mas eles não se situam no
tinuidade hodierna dessa dicotomia é assi-
campo do Direito Penal Subjetivo.
milar de modo acrítico o panorama penal
Não é viável, em uma interpretação
de dois séculos atrás, que possuem pontos
constitucional do Direito Penal, a recor-
de partida diferentes daqueles utilizados na
rência à dicotomia Direito Objetivo versus
dogmática contemporânea.
Direito Subjetivo. De início, registre-se
que, no panorama hodierno, do pós-positi- 4. Objeto do Direito Penal
vismo, a própria distinção entre eles é bas-
tante criticada, por conta da constatação de Segundo José Cerezo Mir, “o Direito
manifestações do Direito fora do Estado. Penal é um setor do ordenamento jurídico,
Refere-se o pós-positivismo, para efetuar segundo a opinião dominante na dogmáti-
ca moderna, ao qual se lhe incumbe a tare- Todo bem ou valor que existe no
fa de proteger os bens vitais fundamentais mundo fático-social, cabe aqui ressaltar,
do indivíduo e da comunidade. Esses bens somente se converte em bem jurídico a
são elevados pela proteção das normas do partir de uma lei penal, que define a sua
Direito Penal à categoria de bens jurídicos. violação e comina a respectiva pena. Isto
(...) O substrato destes bens jurídicos pode posto, somente o legislador pode consti-
ser muito diverso. Pode ser, como assinala tuir um bem jurídico, daí se infere que o
Welzel, um objeto psíquico-físico (a vida, surgimento ou a manutenção de um bem
a integridade corporal), um objeto espiri- jurídico no Direito Penal é uma eleição po-
tual-ideal (a honra), uma situação real (a lítica do citado legislador. O bem jurídico,
paz do domicílio), uma relação social (o assim, corrobora a face política do Direito
matrimônio, o parentesco) ou uma relação Penal.
jurídica (a propriedade). Bem jurídico é Todavia, deve-se concluir com este
todo bem, situação ou relação desejado e alerta, a tutela de bens jurídicos não pode
protegido pelo Direito”.24 ser realizada de qualquer modo e a qual-
Ao conceituar o Direito Penal a partir quer preço. Em primeiro lugar, essa tutela
de sua missão, Cerezo Mir revela o próprio somente poderá ser realizada e considera-
objeto do referido Direito Penal. da como legítima se forem observados os
Quando se procura precisar o objeto requisitos impostos pelo Estado de Direito
do Direito punitivo, devemos aqui consig- (v.g. Legalidade. Culpabilidade, Interven-
nar, coloca-se o alicerce que permite justi- ção Mínima). Em segundo lugar, porque a
ficar racionalmente o poder de punir e, em pena retira direitos constitucionais da pes-
conseqüência dessa justificação, o Direito soa humana, somente haverá proporcio-
Penal tem condições de se legitimar. nalidade se o bem jurídico tutelado tiver
Toda norma penal que institui um cri- guarida constitucional, isto é, se se situar
me tutela um bem. Se observarmos a estru- entre aqueles bens protegidos pela Carta
tura do nosso Código Penal, veremos que Magna, quer sejam de natureza individual
todos os crimes estão gravitando em torno (vida, patrimônio etc.) ou supra-individual
de um bem, por exemplos: o homicídio (art. (meio-ambiente, ordem econômica etc.)
121), o induzimento, instigação ou auxílio ao
5. Método do Direito Penal
suicídio (art. 122), o infanticídio (art.123) e o
aborto (art. 124 usque 128) estão reunidos em 5.1. Escorço histórico sobre o Método Penal.
função do bem vida. Com efeito, o título que
os agrupa (Título I do Código Penal) é o dos Por método se entende o caminho
“Crimes contra a Vida”. No mesmo espeque para a investigação de um objeto. É, pois,
do exemplo dado, os demais crimes vigentes o método, o instrumental que se traduz nos
no nosso ordenamento também se agrupam cânones para possibilitar as investigações
em torno de bens, descritos nos títulos e/ou das evidências apreendidas sobre algum
capítulos do Código ou das leis penais espar- objeto e a conseqüente formulação de
sas. Pois bem, bem jurídico é o nome técnico enunciados que tornem o referido objeto
dado a esses ditos bens, protegidos através da conhecido.
lei penal, que comina uma pena em face de O Direito Penal que rompe com o ar-
sua violação. bítrio e se preocupa com a pessoa humana
O objeto do Direito Penal é, pois, a é relativamente recente. Foi somente com
tutela de bens jurídicos. o iluminismo, mais precisamente a partir
jus puniendi estatal e a não garantia, via de deveriam responder por casa de prostitui-
conseqüência, do homem em face do poder ção, diferente é a aplicação hodierna do
de punir.28 direito penal. O Tribunal de Justiça de São
Como sabido, desde a Declaração Paulo, por exemplo, tem decisão que não
Universal dos Direitos do Homem e do Ci- reconhece o crime em tela – no caso dos
dadão, a legalidade dos crimes de das pe- motéis – dentre outras coisas porque não se
nas é uma garantia fundamental, inserida pode fechar os olhos para a drástica modi-
em quase todas as constituições democrá- ficação dos costumes porque passou a so-
ticas ocidentais, donde se encontra a Cons- ciedade de 1940, época da lei, até os dias
tituição Federal de 1988 brasileira. Essa atuais29. Por óbvio, para dar tal decisão,
garantia fundamental traduzida na multi não se utilizou o silogismo, que conduziria
referida legalidade é a maior característica inevitavelmente à condenação.
do Direito Penal liberal. Com efeito. Com a crise do positivis-
Por conseguinte, infere-se que o si- mo, o seu método também entrou em crise
logismo legal integra o método do Direito por revelar-se insuficiente.
Penal liberal, posto que é através dele que Foi nos anos cinqüenta do século
se realiza a principal limitação do poder de vinte que um jusfilósofo alemão, chamado
punir, assegurando-se ao homem um ante- Teodore Viehweg, chama-nos atenção para
paro frente ao poder do Estado. a tópica. Tópica é a compreensão dos fa-
Todavia, a compreensão silogística, tos. Segundo a tópica, a decisão tem que
desde a crise do positivismo, mostrou-se ser tomada a partir de uma interpretação
como um elemento necessário, mas não universal da totalidade do acontecer, ou
suficiente, para se apreender o método do seja, de uma história compreendida.
Direito Penal. Para o método tópico, deve-se fazer
É que no Direito Penal muitos casos um processo semelhante ao dos romanos
se resolvem até mesmo contra a lei, o que para chegar-se a decisão jurídica: os roma-
comprova a insuficiência do método pro- nos consideravam o Direito uma arte, por-
posto. Por exemplo, traga-se à colação o que o pretor em caso concreto construiria
crime do art. 229 do Código Penal. Dito a decisão boa e justa. É essa a definição
crime – casa de prostituição – tipifica a de Celso: Ius ars boni et aequi. A tópica
conduta de manter por conta própria ou defende, pois, que a decisão deve brotar
de terceiro local especialmente destinado sempre do caso em si.
à manutenção de atos libidinosos, haja ou No último capítulo de sua obra,
não intuito de lucro, haja ou não mediação Viehweg aponta o papel fundamental da
direta de proprietário ou gerente. Ninguém retórica para a sua teoria. É a retórica que
que viva na nossa sociedade questiona que desenvolve a tópica, na medida que ela
os estabelecimentos conhecidos como mo- justifica a decisão. Por óbvio, os sinais
téis existem para proporcionar a realização lingüísticos são fundamentais para a argu-
de atos de natureza sexual, e que nesses mentação em face do caso, mas a retórica
locais existe, ademais, tanto o intuito de não é formada somente por eles, já que
lucro quanto a mediação de proprietário ela também leva em conta a semântica e
ou gerente. Se na década de setenta do sé- a pragmática. Por conseguinte, a retórica
culo passado, o Supremo Tribunal Federal que constrói a decisão a partir do caso se
decidiu, pelo método da subsunção lógica, assentará em três pilares: a sintaxe, a se-
que as pessoas que mantinham os motéis mântica e a pragmática.
“Na sintaxe: se diz a relação dos si- tibilidade entre elas. Com efeito, são pos-
nais com os outros sinais, semântica: a re- síveis decisões não baseadas no silogismo,
lação dos sinais com os objetos, onde sua pela importância que deve ser dispensada
designação é afirmada, e a pragmática: a ao Homem. Isto, em verdade, representa o
relação situacional (der situativ Zusamme- cumprimento do Princípio Constitucional
nhang) onde os sinais são usados entre os da Dignidade da Pessoa Humana, porque
interessados”.30 só se valoriza o homem a partir da com-
preensão do caso, que traduz a sua história
5.2. O método atual: o pós-positivismo real, que é única e irrepetível.
Vejamos um exemplo da decisão a
Entretanto, a tópica em si mesma é partir do caso, isto é, da tópica, que ser-
tão radical quanto o positivismo. A ideo- ve para aumentar o âmbito de liberdade.
logia da lei trouxe um grande benefício à Como sabido, a lei somente prevê duas
aplicação do direito, conforme declinado causas legais de exclusão da culpabilida-
acima, e não pode ser simplesmente afas- de: obediência hierárquica e coação mo-
tada em favor da análise do caso concreto. ral irresistível (art. 22 do Código Penal).
Nesse sentido, a filosofia pós-positi- Entretanto, não se nega a existência das
vista busca um equilíbrio entre o silogismo causas supralegais de inexigibilidade de
e a tópica, reconhecendo que o Direito ad- outra conduta, que por óbvio não estão ba-
mite uma superposição entre duas esferas: seadas na lei, para afastar a culpabilidade
a esfera da compreensão da norma, de um do agente. Esta referida exclusão se realiza
lado, e a esfera da compreensão do fato, com base em um julgamento das circuns-
de outro, levadas a cabo pelo ser histori- tâncias do caso concreto que excluem a
camente presente, pelo procedimento ar- censurabilidade do autor da conduta, reco-
gumentativo. Esse método é chamado de nhecendo-se que elas afetaram a liberdade
tópico-hemenêutico. do agente entre se comportar conforme ou
Usa-se, portanto, no método penal, a contrário ao Direito. É o caso da jurispru-
lei e a compreensão do caso. dência abaixo transcrita:
A lei é o limite negativo, isto é, não “PENAL E CONSTITUCIONAL.
se admite a incriminação do que está fora NÃO-RECOLHIMENTO DE CONTRI-
dela, já que a mesma tem por função dar BUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ART. 95,
a garantia do homem em face do poder “D”, § 1º, DA LEI 8.212/91. MATERIA-
de punir, conforme se apregoava desde o LIDADE COMPROVADA. FALÊNCIA
iluminismo. O limite negativo do método DA EMPRESA. INEXIGIBILIDADE DE
penal o harmoniza com o Princípio Consti- OUTRA CONDUTA.
tucional da Legalidade. I - Pratica o delito previsto no art. 95,
O caso dá o limite positivo, poden- “d”, da Lei 8.212/91 (hoje com redação
do ser utilizado como um meio para jus- dada pela Lei 9.983/00, que inseriu o art.
tificar uma decisão que aumente o âmbito 168-A no Código Penal Brasileiro), o em-
da liberdade, isto é, que seja pró-libertatis. pregador que desconta contribuição previ-
Como a finalidade da legalidade foi garan- denciária de seus empregados e deixa de
tir a liberdade do homem em face do po- recolhê-la aos cofres da Previdência.
der de punir, conforme discorrido acima, II - Dolo manifestado na vontade li-
a tópica é teleologicamente conforme a le- vre e consciente de não repassar as con-
galidade, não havendo nenhuma incompa- tribuições recolhidas dos contribuintes à
NOTAS 12
Barreto, Tobias. “Prolegômenos do Estudo do
Direito Criminal”. Estudos de Direito II. Re-
1
Menezes, Tobias Barreto de. “Prolegômenos cord – Governo de Sergipe: 1991. P.102.
do Estudo do Direito Criminal”. Estudos de Di- 13
Ouviña, Guillermo. “Estado Constitucional
reito II. Record – Governo de Sergipe: 1991. de Derecho e Derecho Penal”. Teorías Actuales
P.102. en Derecho Penal. Buenos Aires:Ad-hoc. 1998.
2
Tradução livre de: „Strafrecht ist der Ingbegri- Pp. 56-57.
ffs derjening saatlichen Rechtgeleln, durch die 14
Bustos Ramírez, Juan. Contol Social y Dere-
an das Verbrechen als Tatbestand die Strafe als cho Penal. Barcelona:PPU. 1987. Pp. 584-585.
Rechtfolge genküpft wird“. Liszt, Franz von. 15
Zaffaroni, Eugenio Raul. En torno de la cues-
Lehrbuch des Strafrecht. Berlim und Lipzig: tión penal. Montevideo - Buenos Aires:BdeF.
VWV. 1922. P. 1. 2005. P.77.
3
Idem. Ibidem. P.1. 16
Hernandez, Cesar Camargo. Introducción al
4
Tradução livre de: „Strfrecht ist der Inbegri- estudio del derecho penal. Barcelona:Bosch.
ff der Rechtnormen, welche die Ausübung der 1960. P.9.
staatlichen Strafgewalt reglen, idem sie an das 17
Neste sentido: Rocco, Arturo. El objeto Del
Verbrechen als Voraussetzung die Strafe als Re- delito y de la tutela jurídica penal. Contribui-
chtsfolge knüpfen“. Mezger, Edmund. Strafre- ción a las teorías generales del delito y de la
cht. Ein Lehrbuch. Berlin und Munich:Duncker pena. Montevideo – Buenos Aires: BdeF. 2001.
und Humblot. 1949. P.3. Pp. 29-30.
5
Idem. Ibidem. P.3. 18
Feuerbach, Anselm von. Tratado de Derecho
6
Tradução livre de: „Das Strafrecht bestimmt Penal. Buenos Aires:Hammurabi. 1989. P. 64.
welche Zuwiderhandlungen gegen die so- 19
Idem. Ibidem. P. 164.
ziale Ordnung Verbrechen sind, es droht als 20
Hernandez, Cesar Camargo. Introducción al
Rechtfolge des Verbrechens die Strafe an. estudio del derecho penal. Barcelona:Bosch.
Aus Anlaβ eines Verbrechens sieht es ferner 1960. P.45.
Maβreglen der Besserung und Sicherung und 21
Mir Puig, Santiago. Derecho Penal. Parte Ge-
andere Maβnahmen vor.“ Jescheck, Hans-Hein- ral. Barcelona: Edição do Autor. 1998. Pp.7-8.
rich. Lehrbuch des Strafrecht. Berlin: Duncker 22
Segundo Mir Puig, o estudo dos limites ao
u. Humblot. 1988. P.8. poder de punir são feitos no âmbito do Direito
7
Toledo, Francisco de Assis. Princípios Bási- Penal Subjetivo, verbis: “La alussión al Dere-
cos de Direito Penal. São Paulo: Saraiva. 1994. cho penal em sentido subjetivo será oportuna
P.1. más adelante, cuando se trate de fijar los limites
8
Neste sentido veja-se a obra de Zaffaroni, que há de encontrar el derecho del Estado a in-
Eugenio Raul. En torno de la cuestión penal. tervir mediante normas penales”. Op. Cit. P.8.
Montevideo - Buenos Aires:BdeF. 2005. Pp. 23
Mir Puig, Santiago. Derecho Penal. Parte
72-73. 77 e ss. General. Op. Cit. Pp. 71 e ss.
9
Idem. Ibidem. P.74. 24
Cerezo Mir, José. Curso de Derecho Penal
10
Brandão, Cláudio. Introdução ao Direito Español. Madrid:Tecnos. 1993. P.15.
Penal.Rio de Janeiro: Forense. 2002. P.43.No
25
Cesar Bonecasa. Marques de Beccaria. Trata-
mesmo sentido veja-se a afirmação de Tobias do de los Delitos e de las Penas. Buenos Aires:
Barreto, o qual modera seu pensamento positi- Arengreen. 1945. P.47.
vista ao escrever que: “A aplicação legislativa
26
Feuerbach, Anselm von. Tratado de Derecho
na penalidade é uma pura questão de política Penal. Buenos Aires:Hammurabi. 1989. P.63.
social”. “Prolegômenos do Estudo do Direito
27
Engisch, Karl. Introdução ao Pensamento
Criminal”. Estudos de Direito II. Record – Go- Jurídico.Lisboa:Calouste Gulbenkian. 2001.
verno de Sergipe: 1991. P.116. P.206.
11
Carnelutti, Francesco. El Problema de la
28
Bettiol, Guissepe. Mantovanni, Luciano Pe-
Pena. Buenos Aires: Europa América. 1947. toelo. Diritto Penale. Pádua: CEDAM. 1986.
P.14. P.20.
29
AC 98.873. Rel. Des. Luiz Betanho. In: Fran- Zeichen mit Gegensatänden, deren Bezeich-
co, Alberto Silva et alli. Código Penal e sua nung behaupetet wird, und Pragmatik: der
Interpretação Jurisprudencial. São Paulo:RT. situativ Zusammenhang, in dem die Ziechen
1993. P. 2595.
von den Beteiligten jeweils benutzt werden“.
30
Tradução livre de: „ Syntax soll also heiβen:
der Zusammenhang von Zeichen mit anderen Viehweg, Teodor. Topik und Jurisprudenz.
Zeichen, Semantik: der Zusammenhang von München: Beck. 1974. P.111.