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Símbolos da

Transformação
Carl Gustav Jung

Professor Dr. Jorge Miklos


Agenda
• A História do Livro
• O que é Símbolo
• O Símbolo na Psicologia Junguiana
• Arquétipo e Símbolo
• Símbolo e Signo
• Símbolo como Mediador
• Símbolo como Transformador de Energia
• Símbolos no contexto Individual e Coletivo
• Símbolos no Processo de Individuação
• A Capacidade da Psique para transformar os símbolos
Em 2012, um dos livros mais
importantes para a história
da Psicologia Analítica
completou 100 anos:
“Símbolos da
Transformação” .

Nelas se reconhece
claramente o lugar de primazia
que cabe ao símbolo na psique
humana.
Um Livro que carrega uma História
• De acordo com o “prefacio dos editores”, “Símbolos da
Transformação” foi uma obra elaborada por mais de 40
anos.
• Esse longo período permite fazer uma biografia da obra.
• Em 1911 surge a primeira parte do estudo e em 1912
seguiu-se a segunda parte completa.
• Originalmente, seu título era “Metamorfoses e Símbolos
da Libido”
• A obra foi publicada pela segunda vez em 1925 (com um
prefácio datado de 1924) e reeditada em 1938 pela terceira
vez.
• Em 1952 aparece a quarta edição com um prefácio escrito
em 1950.
Em 1950 ele promoveu uma ampla
revisão e ampliação do livro,
atualizando a linguagem,
conceituação, mas, sem perder a
essência do texto, que veio a se
chamar “Símbolos da
Transformação” como conhecemos
hoje.
Bifurcações
• A biografia do livro confirma o interesse
permanente de Jung sobre a dinâmica
simbólica bem como a seu relacionamento
com a Psicanálise Freudiana.
• Segundo Hopcke: “ a obra foi escrita quando
Jung ainda estava ligado a Freud, mas
representou a tentativa de Jung abrir um
caminho diferente”.
Em suas memórias Jung nos conta a semente que
originou esse livro foi lhe dada num sonho,
• Eis os sonho: eu estava numa casa desconhecida, de dois andares. Era a “minha”
casa. Estava no segundo andar onde havia uma espécie de sala de estar, com belos
móveis de estilo rococó. As paredes eram ornadas de quadros valiosos. Surpreso
de que essa casa fosse minha, pensava: “Nada mau!” De repente, lembrei-me de
que ainda não sabia qual era o aspecto do andar inferior. Desci a escada e cheguei
ao andar térreo. Ali, tudo era mais antigo. Essa parte da cada datava do século XV
ou XVI. A instalação era medieval e o ladrilho vermelho. Tudo estava mergulhado
na penumbra. Eu passeava pelos quartos, dizendo: “Quero explorar a casa inteira!”
Cheguei diante de uma porta pesada e a abri. Deparei com uma escada de pedra
que conduzia à adega. Descendo-a, cheguei a uma sala muito antiga, cujo teto era
em abóboda. Examinando as paredes descobri que entre as pedras comuns de que
eram feitas, havida camadas de tijolos e pedaços de tijolo na argamassa.
Reconheci que essas paredes datavam da época romana. Meu interesse chegara
ao máximo. Examinei também o piso recoberto de lajes. Numa delas, descobri
uma argola. Puxei-a. A laje deslocou-se e sob ela vi outra escada de degraus
estreitos de pedra, que desci, chegando enfim a uma gruta baixa e rochosa. Na
poeira espessa que recobria o solo havia ossadas, restos de vasos e vestígios de
uma civilização primitiva. Descobri dois crânios humanos, provavelmente muitos
velhos, já meio desintegrados. – Depois, acordei. (JUNG, 1985, 143)
• Esse sonho ocorreu durante a viagem que ele realizou com
Freud aos Estados Unidos em 1909.
• Nesta viagem, Jung relata que haviam ocorridos alguns
desentendimentos com Freud, que abalaram a amizade
que tinham.
• Jung conta que Freud não foi capaz de apreender o
conteúdo deste sonhos, fixando-se na imagem das caveiras,
que julgou ser um desejo de morte por parte de Jung.
• Ficou claro para Jung que a diferença que havia entre
ambos, impedia a Freud de compreender o conteúdo de
seu sonho.
• Entretanto, para Jung a semente do sonho começou a
germinar.
O sonho da casa teve um curioso efeito sobre
mim: despertou meu antigo interesse pela
arqueologia. Voltando a Zurique, li um livro
sobre as escavações na Babilônia e diversas
obras os mitos. O acaso me conduziu
ao Simbolismo e Mitologia dos Povos
Antigos, de Friedrich Creuzer, e esse livro me
causou entusiasmo.(MSR, p. 145)
Estimulado por esse sonho, Jung
enveredou pelo estudo da mitologia,
aprofundando conhecimentos de
história, símbolos, mitos de diversos
povos.
• Quando estava imerso nesses trabalhos, encontrei os
materiais fantasmagóricos nascidos da imaginação de uma
jovem americana que eu não conhecia, Miss Miller. Haviam
sido publicados por Teodoro Flournoy, amigo paternal, que
gozava de toda minha estima, nos Archives de
Psychologie(Genebra).
• Fiquei imediatamente impressionado pelo caráter
mitológico dessas fantasias.
• Agiram como um catalisador sobre as ideias ainda
desordenadas que eu acumulava.
• A partir dessas fantasias, e também dos conhecimentos
que adquirira sobre mitologia, nasceu meu
livro Metamorfoses e símbolos da Libido. (MSR, p. 146).
Jung sabia que seu trabalho o
afastaria de Freud, contudo, esse
não foi o único efeito “colateral” de
seu livro. Em suas Memórias, ele
afirma:
• Depois da ruptura com ele, todos meus amigos e
conhecidos se afastaram de mim. Meu livro não foi
considerado uma obra séria. Passei por um místico e desse
modo encerram o assunto. Riklin e Maeder foram os únicos
que ficaram do meu lado. Mas eu tinha previsto a solidão e
não me iludi acerca das reações dos pretensos amigos.
Muito pelo contrário, refleti profundamente sobre o
assunto. Sabia que o essencial estava em jogo e que
deveria tomar a peito minhas convicções. Vi que o capitulo
“O Sacrifício” representava o meu sacrifício. Isso posto,
pude recomeçar a escrever, se bem que de antemão que
ninguém compreenderia minhas ideias. (JUNG, 1985, p.
149).
• O “Símbolos da Transformação” marca o inicio de
um novo caminho, o inicio da psicologia analítica.
• Sua importância vai além de um aspecto
histórico, pois, na década de 1950, a mudança de
nome significou seu renascimento.
• Este livro guarda em si tanto a semente lançada
em 1912 como os frutos colhidos na década
1950, o que o torna uma obra impar na literatura
junguiana.
• Na obra, Jung fala sobre sua teoria da Energia
Psíquica, a libido Freudiana, e sobre seu
caráter neutro não-sexual.
• Como Freud não podia abrir mão da
sexualidade em sua psicanálise, ele então
declarou Jung como persona non grata nos
círculos psicanalíticos.
• Isso fez com que Jung se distanciasse da prática clínica
no hospital psiquiátrico e se exilasse em sua casa,
iniciando a fase que foi conhecida como “o confronto
com o inconsciente”.
• Durante esse tempo, ele continuava atendendo
pacientes particulares e iniciou um processo de
regressão/introspecção que fez com que entrasse em
contato com elementos psíquicos próprios, que o
ajudaram a moldar suas principais teorias, como os
complexos, o Ego, a Sombra, a Persona, o Self, a Anima
e o Animus, entre vários outros.
O que é Símbolo

O termo símbolo tem


como origem, no grego,
(sýmbolon). Syn = junto
+ Ballein = lançar,
arremessar, ativar.

Ao pé da letra: ativar,
arremessar junto.
“Epifania de um mistério” (Durand) - Revelação
O Símbolo é central na
Psicologia Junguiana

Para Jung “símbolo éa


melhor
representação de
alguma coisa que
jamais poderá ser
conhecida
plenamente.”
É mais fácil reconhecer um símbolo
do que defini-lo ou aplicá-lo
a capacidade de
refletir e viver a vida
em um nível
simbólico e não em
um nível
simplesmente literal
Símbolos são as
manifestações dos
arquétipos nesse
mundo
Os arquétipos são
O símbolo é agregado pelo modo
elementos estruturais
como a energia aparece e se torna numinosos da psique e têm
justamente constatável –índole e
retrato da energia psíquica
certa autonomia e energia
específicas, graças as quais
são capazes de atrair os
conteúdos do consciente
que lhes são convenientes.
A forma arquetípica é em si
mesma inimaginável. É pura
energia.
Os símbolos não são idênticos aos
arquétipos que eles expressam.
o símbolo é a sua
manifestação
peculiar

O arquétipo é molde
psíquico da experiência,
Símbolo x Signo
• Signo (Semiótica):
• Uma espécie de abstração, uma designação de
livre escolha que por convenção social ou
consenso, é ligado ao designado, como por
exemplo os signos matemáticos ou verbais.
• O que pode ser explicado por analogia ou
designação abreviada de uma coisa
conhecida. Ex: marca da Shell.
Símbolo x Signo
• 3.2.2 - Símbolo (Hermenêutica):
• A melhor formulação possível de uma coisa
desconhecida.
• O que aponta para alguma outra coisa, além
do que representa e da qual se pode deduzir
ou reconhecer algo. Ex.: Cruz
os símbolos apontam para o caráter os signos apontam para codificação das
arquetípico e transformador da psique linguagens.
individual e coletiva,
Fenomenologia
• Um símbolo nunca é inteiramente “abstrato”,
mas sempre “encarnado”.
• As relações, situações e ideias mais abstratas
de natureza arquetípica são traduzidas na
forma de processos retratáveis ou de eventos
expressos em imagens, quando não até
mesmo em figuras, imagens e objetos, tanto
de natureza concreta, quanto abstrata.
Fenomenologia
• O símbolo está presente nas imagens
dos mitos, contos, fábulas, epopeias,
dramas, romances, enfim, todas as
obras atemporais da arte; nas visões
dos profetas e na fantasia dos
poetas; nos sonhos, visões, delírios,
etc.
Relação do Símbolo com a
consciência
• Se algo é ou não símbolo, isso depende, antes
de tudo, do ponto de vista da consciência que
o contempla – atitude simbólica.
• o caráter demonstrativo do símbolo jamais
pode ser esgotado pela compreensão racional.
O significado etimológico de symballo já
aponta para a idéia de multiplicidade e de
disparates.
Relação do Símbolo com a
consciência
• como unificador de antagonismos, o símbolo é
uma inteireza que não pode nunca se dirigir a
uma única capacidade do homem, como por
exemplo, ao seu raciocínio ou exclusivamente
ao seu intelecto.
• o símbolo sempre solicita a nossa totalidade,
afeta todas as nossas quatro funções
[pensamento, sentimento, intuição e
sensação] a um só tempo e as leva a ressoar.
Relação do Símbolo com a
consciência
• como ‘imagem’, o símbolo tem um caráter de
“chamariz” e estimula todo o ser do homem
no sentido de uma reação integral.

• um símbolo pode ser vivo ou extinto. O
símbolo só é vivo quando ainda não foi
decodificado pela consciência.
“Ele só é vivo, enquanto está prenhe de
sentido. Mas, após o nascimento do
sentido, isto é, depois que a consciência
tenha encontrado a expressão que
formula ainda melhor a coisa procurada,
esperada ou intuída, o símbolo está
morto e passa a ser um mero signo
convencional..” (JUNG, apud Jacobi pp.
80)
O Símbolo como Mediador:
• O símbolo responde à necessidade do homem
expressar suas emoções de forma não literal
ou concreta.
• O símbolo tem a qualidade de unificador dos
pares de opostos: consciente-inconsciente,
luz-sombra, masculino-feminino, etc. (imagem
da conniunctio ou casamento sagrado).
O Símbolo como Mediador:
• Possue a qualidade mediadora, de “lançador
de pontes”;
• Anula os antagonismos, ao uni-los dentro de si
– e logo os deixa se separarem novamente –
mantém a vida psíquica em constante fluxo e
a impulsiona em direção a seu destino.
JUNG – Uma visão simbólico-
arquetípica
• O inconsciente contempla também uma
dimensão coletiva;
• Os arquétipos são estruturas básicas da
psique;
• Os conteúdos arquetípicos só podem se
apresentar à consciência através de imagens
ou símbolos;
JUNG – Uma visão simbólico-
arquetípica:
• Os símbolos seriam uma espécie de
“personificação”, que apresenta os conteúdos
arquetípicos à consciência, num aqui-agora;
• O símbolo NÃO pode ser explicado de forma
causal, apresenta sentidos múltiplos e é
bipolar.
Símbolo é
um
Mediador tem um
efeito que
promove e cria
vida. (...)”
“Lançador de
Pontes”
Função Transcendente
Função Transcendente
• A função transcendente é um símbolo que
marca o confronto e a união de opostos, seu
objetivo não é a transformação de energia,
mas a unidade psíquica, ou seja, a função
transcendente é um símbolo unificador, que
intimamente relacionado com o processo de
individuação.
Transformador
Psíquico de Energia
Poder Curativo e
Restaurador .
Símbolos no contexto Individual e Coletivo
Símbolos no Processo de Individuação
Símbolos no Processo de Individuação
• Os símbolos podem surgir no contexto de um conflito
neurótico, se opondo à atitude da consciência.
• Não que o símbolo seja patológico ou mesmo
patogênico, mas sim a atitude da consciência.
• Para haver mudança é necessário que haja um símbolo
constelado.
• Dessa forma, a psicoterapia só é eficaz se possibilitar a
relação simbólica do indivíduo com consigo mesmo.
• Em outras palavras, é necessário que a psicoterapia
seja simbólica para o cliente, de modo que favoreça
seu processo de individuação.
A Capacidade da Psique para transformar os símbolos
“Vivemos no Kairós da
‘transfiguração dos deuses’, os
princípios e símbolos
fundamentais. Essa preocupação
do nosso tempo, que não foi
conscientemente escolhida por
nós, constituiu a expressão do
homem inconsciente em sua
transformação interior.” ($ 585)
Pergunta 1
Como o
inconsciente
“fala” por meio
dos símbolos?
Pergunta 2:
Como o símbolo
pode responder aos
desafios impostos
pela vida?
Qual é o seu Símbolo Diretor?
Jorge Miklos
jorgemiklos@gmail.com

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