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Revista Brasileira

ISSN 1982-3541 de Terapia Comportamental


Volume XX no 2, 9-25 e Cognitiva

Análise funcional da permanência das mulheres


nos relacionamentos abusivos: Um estudo
prático
Functional analysis of women staying in abusive relationships: A
practical study
Análisis funcional de la permanencia de las mujeres en relaciones
abusivas: Un estudio práctico

Daniely Cristina de Souza Pereira


Vanessa Silva Camargo
Patricia Cristina Novaki Aoyama
Universidade Paranaense - Unipar

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal identificar as possíveis variáveis que afetam a permanência
da mulher em relacionamentos abusivos. Sabe-se que mais da metade das mulheres que já sofreram algum
tipo de violência não denunciaram seus agressores, algumas inclusive permanecem no relacionamento. Para
conhecimento dessa realidade, foi realizada pesquisa de campo por meio de entrevista semidirigida com três
mulheres vítimas de violência doméstica. Para análise e compreensão desse contexto, utilizou-se o referencial
analítico-comportamental. Como resultados, foram identificadas contingências mantenedoras para a
permanência no relacionamento abusivo, sendo elas: a esperança sobre a mudança de comportamento do
parceiro, dependência financeira, emocional, preocupação com a criação dos filhos, falta de rede de apoio e
passividade.

Palavras-chave: relacionamento agressivo, violência conjugal, violência doméstica

danielycristina95@gmail.com
Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático

ABSTRACT

The main goal of the present study was to identify the possible variables that affect women staying in abusive
relationships. It is known that more than half of the women who already have suffered some type of violence
did not report their aggressors, and most of them stayed in the relationship. To investigate this reality, a field
work was conducted through semi-directed interview with three women victims of domestic violence. The
behavior-analytic approach was used to analyze and understand this context. Results identified contingencies
for staying in the abusive relationship, such as: hope for behavior change from the partner, financial and
emotional dependence, concerns about raising children, lack of support, and passivity.
Keywords: aggressive relationship, conjugal violence, domestic violence

RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivo principal identificar las posibles variables que afectan la permanencia
de la mujer en relaciones abusivas. Se sabe que más de la mitad de las mujeres que sufrieron algún tipo de
violencia no denunciaron a sus agresores, algunas, incluso, permanecen en la relación. Para conocer mejor
esta realidad, se realizó una encuesta de campo, por medio de entrevistas semi estructuradas con tres mujeres
víctimas de violencia doméstica. Para el análisis y la comprensión de este contexto, se utilizó el marco de
referencia analítico conductual. Como resultados, se identificaron las siguientes contingencias mantenedoras
para la permanencia en la relación abusiva: la esperanza sobre el cambio de comportamiento del compañero;
la dependencia económica, emocional; preocupación por la crianza de los hijos; falta de red de apoyo y la
pasividad.
Palabras clave: relación agresiva, violencia conyugal, violencia doméstica

De acordo com dados do Datasenado – portal VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


institucional da Secretaria de Transparência do
Senado Federal – que, desde 2005, ano anterior à A violência desafia os saberes hegemônicos no
promulgação da Lei Maria da Penha, aplica de dois campo da saúde pública, no campo social, de
em dois anos pesquisas telefônicas sobre o tema organização administrativa, planejamento e
violência doméstica contra as mulheres –, atendimento às vítimas de violência e detecção da
praticamente 100% das entrevistadas declaram situação da violência. É um problema que requer
saber da existência da Lei Maria da Penha, atuação interdisciplinar dos vários setores da
entretanto mais da metade das mulheres que já sociedade civil e das organizações governamentais,
sofreram algum tipo de violência não denunciaram uma vez que não se restringe ao campo da saúde
seus agressores. Pensando nisso, propõe-se que se (Lei n. 9.984, 2000).
levantem possíveis causas condicionantes a essa Segundo Minayo (2006), quem analisa as práticas
realidade. Entende-se também que este trabalho tem de violência descobre que elas se referem a conflitos
relevância social por proporcionar conhecimento de autoridade, a lutas de poder e à vontade de
acerca de um tema cotidianamente banalizado pelo domínio, posse e aniquilamento do outro ou de seus
senso comum. Para o meio científico, contribui para bens. No âmbito jurídico, a violência é entendida
a prática do analista do comportamento em como o uso de força física ou moral para alcançar
contextos relacionados à temática discutida. fim ilícito ou não desejado pela pessoa que a sofre,

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podendo caracterizar coerção (Parodi & Gama, prostituição. Já no que se refere à violência
2009). patrimonial, verifica-se que é caracterizada por
Schraiber e Oliveira (1999) dizem que a violência ações que configurem retenção, subtração ou
doméstica (física, psicológica ou sexual) está ligada destruição (parcial ou total) dos objetos da mulher
a condições interpessoais associadas às (Lei nº 11.340, 2006).
desigualdades de gênero humano. Os vários tipos de A última forma prevista na Lei nº 11.340 (2006) é
violência são considerados “pequenos assassinatos violência moral, que consiste em qualquer
diários” (p. 4), e, contra a mulher, no âmbito comportamento que represente calúnia, difamação
interpessoal, a violência é uma das mais difíceis de ou injúria. Esses comportamentos são denominados,
ser prevenida e evitada. Além dos problemas segundo Greco e Rassi (2010), respectivamente
surgidos na saúde física e mental, a relação violenta como o ato de imputar falsamente a alguém fato
diminui a qualidade de vida da mulher, sua definido como crime, a imputação de fato ofensivo
capacidade produtiva, seu trabalho, sua educação e à reputação de outrem e ofensa à dignidade da
autoestima (Rede Nacional, 2002). vítima.
O art. 7º da Lei nº 11.340 (2006), intitulada “Lei Segundo pesquisa do instituto Datafolha (Acayaba
Maria da Penha”, que versa sobre a violência contra & Reis 2017), a cada hora do ano de 2016, 503
a mulher e sua proteção, estabelece algumas formas mulheres sofreram algum tipo de agressão física,
gerais de violência, tendo em vista que outras sendo que 26% delas ainda convivem com o
condutas possam se enquadrar nesses contextos, agressor. Além disso, no que se refere ao agressor,
sendo elas: a) a violência física; b) a violência verifica-se que, em 49% dos casos, ele era o próprio
psicológica; c) a violência sexual. d) a violência marido ou companheiro. No ano de 2015, o
patrimonial; e) a violência moral. Datasenado publicou que praticamente 100% das
De acordo com essa lei, a violência física é mulheres declararam saber da Lei Maria da Penha,
compreendida como qualquer comportamento que entretanto o Datafolha reitera que 52% das mulheres
venha a denegrir a integridade física ou a saúde não fizeram nada após a agressão.
corporal. No que tange à violência psicológica, O art. 5º da Lei nº 11.340 (2006) caracteriza
verifica-se que é caracterizada por qualquer conduta violência doméstica e familiar contra a mulher
que cause um dano emocional na pessoa agredida, como quaisquer ações e/ou omissões que lhe
diminuindo a autoestima, prejudicando seu pleno causem morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
desenvolvimento, bem como controlando seus
psicológico e dano moral ou patrimonial. A
comportamentos e crenças. Ameaça,
violência doméstica não é somente um caso de
constrangimento, humilhação, manipulação,
polícia, mesmo porque se lida com relações
chantagem e exploração também representam
intrafamiliares, que são complexas, embora a
prejuízo à saúde psicológica (Lei nº 11.340, 2006).
polícia também deva ser vista como uma das partes
A mesma lei diz que a violência sexual representa que compõem a rede de combate à violência
modos de coerção que gerem constrangimento ao doméstica (Lima, 1999).
violado em presenciar, manter ou participar de
No Brasil, os primeiros frutos das reivindicações
relação sexual não consentida, bem como que a
feministas foram os Conselhos Estaduais de
impeça de usar qualquer método contraceptivo; que
Direitos das Mulheres (1982; 1983), as delegacias
a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
de Polícia de Defesa da Mulher e a primeira Casa

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Abrigo para Mulheres (1986). Essas iniciativas com grandes e inexplicáveis mudanças de humor; 6)
visam a diminuir a violência doméstica, mais externamente agradáveis, mas incapazes de lidar
especificamente a violência conjugal contra a com a rejeição e agressivos quando sentem que a
mulher (Rede Nacional, 2002). companheira os decepcionou; 7) excessivamente
dependentes, ansiosos e deprimidos; 8) que só
Características de um relacionamento abusivo/ apresentam pequenos sinais das outras sete
coercitivo
características e, para as autoras, não têm nenhuma
Miller (1999) afirma que o propósito de todo abuso, psicopatologia.
diferentemente do sadismo, não é o prazer de
Caballo (1999) afirma que o indivíduo que se
infligir dor, mas a necessidade de controlar: o
comporta de modo agressivo impõe suas opiniões
controle é o fim em si mesmo. O seu grau de
de forma coercitiva (o que gera conflitos
consciência a respeito do próprio comportamento e
interpessoais e contrarreação quase automática),
dos resultados é determinado pelo grupo social no
gerando assim sentimento de culpa e frustração,
qual ele se encaixa. Os agressores que utilizam o
prejuízo aos demais, perda de oportunidades,
abuso como método normal para solucionar
sensação de tensão, sensação de perda de controle,
controvérsias e erradicar irritações sabem o que
percebendo-se solitário e ineficaz e não aprovando
estão fazendo e o fazem com indiferença, não vendo
a proximidade dos demais.
o que está errado em seu comportamento. Na
realidade, eles não consideram seu comportamento Violência para a análise do comportamento
como um abuso. Para eles, esses atos são normais, a
Sob a perspectiva da Análise do Comportamento,
maneira natural de marido e esposa se relacionarem.
Skinner (2003) enfatiza que toda contingência em
A maioria não sente culpa. Os homens que recorrem
que estiver operando alguma forma de evento
ao abuso quando a frustração ultrapassa a sua
aversivo será chamada de contingência coercitiva.
habilidade para lidar com ela tendem a discriminar
Guilhardi (2005) denomina esse contexto como
o que estão fazendo: enfraquecendo a esposa para
coercitivo, sendo qualquer condição em que as
fortalecer-se.
relações entre os indivíduos e o ambiente forem
Ainda segundo Miller (1999), o agressor manipula tipicamente de natureza coercitiva. Assim, por
a vítima fazendo-a pensar que é culpada, e, como exemplo, uma família em que as relações entre as
resultado, ela tenta agradá-lo cada vez mais. pessoas se definem por punições e comportamentos
Durante muito tempo, ele a faz acreditar que as de fuga-esquiva pode ser definida como um
coisas vão melhorar concedendo-lhe momentos contexto coercitivo. Em tais contextos, o controle
ocasionais de concórdia, mas, depois de algum aversivo se dá basicamente por reforçamento
tempo, deixa apenas a incessante dor da esperança. negativo e punição (negativa e positiva).
Miller (1999) cita um estudo no qual se identificou Na mesma linhagem, Keefe, Kopel e Gordon (1980)
oito grupos característicos de perfis de agressores. afirmam que, em geral, os casais com problemas
Eles são homens: 1) incapazes de controlar os seus não conseguem aplicar adequadamente os
impulsos, mudam rapidamente seguindo um princípios de reforço positivo. Geralmente,
padrão; 2) que exigem obediência total às regras e empregam a coerção recíproca como uma estratégia
que, sem nenhuma emoção, aplicam castigos primária para a alteração de comportamento. Isso
àqueles que as infringem; 3) rebeldes, hostis e com conduz a ressentimentos, frustrações, hostilidade e
baixa autoestima; 4) agressivos e antissociais; 5) agressões. Sidman (2009) relata violência como

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coerção e a define como uso da punição, ameaça de Andery e Sério (1997) afirmam que na sociedade o
punição e reforçamento negativo na relação entre as controle aversivo é predominante nas relações
pessoas e entre elas e o ambiente. Para Catania humanas e que essa mesma sociedade incentiva seus
(1999), a punição é uma relação funcional na qual membros a fazerem uso da estimulação aversiva
certas consequências que seguem o responder o como punição. Segundo as autoras, o uso da
tornam menos provável de ocorrer no futuro. Sendo violência acarreta mais violência e nos torna
assim, é tradicionalmente usada para eliminar impotentes, pois, em um ambiente com muitos
comportamentos classificados como indesejáveis estímulos aversivos, a esquiva e a fuga são as
por quem a aplica. É chamada popularmente de alternativas mais prováveis, produzindo pessoas
castigo para uma conduta considerada má. passivas ou agressivas. Segundo Medeiros (2010),
pessoas que provavelmente foram punidas no
A punição pode assumir duas funções: a punição
passado ao discordarem de opiniões, principalmente
negativa e a punição positiva. A punição negativa
as expostas por figuras de autoridade, tenderão a
confronta o organismo com o término ou retirada de
concordar com a opinião de outras pessoas, mesmo
algo que é um reforçador positivo. Já a punição
que ela não lhes faça sentido algum.
positiva se dá quando há o acréscimo de um
estímulo aversivo (Sidman, 2009). Por outro lado, Além disso, Martins e Guilhardi (2006) esclarecem
existem os reforçadores que, por sua vez, tendem a que punições severas dificultam o contracontrole: a
aumentar a probabilidade de um determinado agência controladora que maneja os eventos
comportamento voltar a ocorrer. Moreira e aversivos inibe e inviabiliza qualquer
Medeiros (2007) esclarecem dizendo que os comportamento de oposição. Uma longa história de
reforçadores possuem duas características contato com contingências coercitivas intensas
importantes: o reforçador deve seguir uma ação; o produz déficits importantes de repertório, um deles
reforçador deve fazer com que essa ação tenha mais é a ausência de iniciativa, contribuindo para o
probabilidade de se repetir. Portanto, quando o surgimento de um padrão submisso.
comportamento é reforçado positivamente, o Pesquisas indicam haver um histórico de
sentimento correspondente geralmente é de bem- experiência de violência na vida individual das
estar; quando reforçado negativamente, remove-se, mulheres vítimas de alguma forma de abuso que é
foge-se ou esquiva-se de algum estímulo aversivo. transmitido ao longo das gerações (Carrasco, 2003;
Os tipos de comportamentos fortalecidos por Cecconello, 2003; Narvaz, 2005). Junto a esse fator,
reforço negativo são os de fuga e esquiva. A fuga é identificada também a falta de modelo de família
consiste na suspensão de um estímulo aversivo, protetiva (Narvaz, 2005). A partir dessas condições,
quando está presente no ambiente, após a resposta verifica-se que a mulher vítima de violência
de um organismo. Na esquiva, a resposta do doméstica pode, em sua história de vida, já
organismo é reforçada por evitar que o estímulo apresentar um repertório de vivências violentas, o
aversivo ocorra, ou seja, ele não está presente no que pode favorecer seu assujeitamento frente à
ambiente quando a resposta é emitida (Moreira & violência.
Medeiros, 2007). Andery e Sério (1997) escrevem que outros efeitos
Segundo Catania (1999), um padrão agressivo pode oriundos do controle aversivo são: ficar sempre em
ser produzido ou controlado por contingências em estado de vigilância com o objetivo de diminuir ou
vigor ou também pode ser aprendido por meio do evitar a coerção; limitação no desenvolvimento do
ambiente social, de imitação e controle por regras. repertório comportamental; estereotipia, compulsão

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e mecanização dos comportamentos de fuga e autores, o termo “resistência à extinção”, descreve


esquiva; bem como maior ocorrência de o número de respostas emitidas sem reforçamento
comportamentos supersticiosos. antes que o comportamento volte ao seu nível
operante. Baseando-se nessa teoria, pode-se
Variáveis que afetam a permanência no entender que o agressor tem o manejo de
relacionamento abusivo
condicionar a vítima, mesmo de forma não
A socialização feminina tradicional coloca que, para consciente, a um repertório em que a o qual há uma
a mulher ser considerada completa, deve ter um melhora na relação.
companheiro permanente. Insistir em um
Diante de um contexto violento, a mulher pode
relacionamento após sucessivos episódios de
apresentar dificuldades na habilidade de se
violência ou retornar à relação após a separação é
comunicar com os outros, de reconhecer e
uma constante na vida de mulheres que sofrem
comprometer-se de forma realista com os desafios
violência conjugal. Quando, no entanto, a mulher
encontrados, além de desenvolver sentimento de
consegue enfrentar o medo e separa-se do marido,
insegurança concernente às decisões a serem
inicia-se um jogo emocional no qual ocorre uma
tomadas (Lei n. 9.984, 2000). Associando, então, a
suposta mudança de comportamento do
fragilidade emocional da mulher na relação abusiva
companheiro, o que a faz sentir-se mais confiante e
ao fato de estar resistente à extinção do
dedicar-se mais a preservação desse
comportamento de permanecer na relação, percebe-
relacionamento, reiniciando o ciclo da violência
se que ela, nesse momento, necessita de uma rede
(Cardoso, 1997).
de apoio que a acolha, ofereça uma escuta
Esse ciclo vai do espancamento da mulher, qualificada e a oriente, auxiliando-a a pensar sobre
arrependimento e pedido de perdão do agressor até as possibilidades que ela tem para retirar-se da
uma nova agressão (Brito, 1999). Em geral, o situação de violência, ou não, e sobre as
parceiro agressivo torna-se muito afetivo após as consequências da sua decisão. É difícil para a
situações de violência, e a mulher alimenta a mulher conseguir sair sozinha de uma relação tão
esperança de que ele mude com o tempo (Paiva, complexa na qual é vítima de violência conjugal. Há
1999b). necessidade de que alguém a escute de forma
Essa atitude do parceiro de ser afetivo após a verdadeira e sem julgamentos (Francisquetti, 1999).
agressão tende a reforçar o comportamento da Outro fator que contribui para a permanência das
mulher em se submeter ao agressor, pois, segundo a mulheres nos relacionamentos abusivos é a
definição do reforço intermitente proposto pela dependência financeira. Sobre isso, Paiva (1999b)
abordagem da análise do comportamento, um observa certa aceitação da violência, pois a
comportamento (perdoar o agressor) tende a necessidade de proventos faz com que as vítimas de
aumentar de frequência quando é reforçado violência conjugal pactuem com um relacionamento
intercaladamente. Ou seja, a mudança não precisa violento e submisso mostrando que, muitas vezes, a
ser permanente ou constante; pequenos episódios de dependência financeira é fator de corroboração em
trocas afetivas já seriam suficientes para manter a um relacionamento marcado pela violência, seja
relação, tornando-a mais resistente à extinção física, sexual ou psicológica. Destaca-se que, em
(Moreira & Medeiros, 2007). Os esquemas alguns casos, a dependência financeira não foi
intermitentes, segundo Moreira e Medeiros (2007), confirmada como um fator para permanência no
são ideais para a manutenção da resposta. Para esses relacionamento abusivo, pois há mulheres que

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permanecem em um relacionamento violento e em uma relação violenta. Na Bíblia Sagrada (2000)


sustentam os filhos e até mesmo o companheiro está escrito que Deus odeia o divórcio (Malaquias
agressor (De Souza & Da Ros, 2006). De acordo 2.16, versão NTLH). Entretanto, na mesma
com Pallota & Lourenço (1999 como citado em De escritura, consta que existem dois motivos legais
Souza & Da Ros, 2006, p. 517), a grande maioria para a separação, sendo eles: a) a imoralidade sexual
das mulheres sabe que têm direitos, mas, pelo fato (Mateus 19.9) e b) abandono por incrédulo (I
de viverem sob o jugo econômico de seus Coríntios 7.15). Qualquer outra razão é considerada
companheiros, submetem-se por anos a fio a todos ilícita perante a lei divina. Considera-se, dessa
os tipos de violência e somente procuram lutar por forma, que uma mulher cuja devoção à religião seja
esses direitos quando a situação fica de fato
fator determinante, ou mesmo significativo, em suas
intolerável.
tomadas de decisão tem maior probabilidade de
A dependência emocional do companheiro e a permanecer em uma relação violenta por não se
necessidade de ter alguém como “referênciaˮ levam caracterizar como causa válida para um divórcio
a mulher à submissão e à sujeição às agressões, que perante os princípios bíblicos.
vão da emocional à física e, muitas vezes,
De certa maneira, a dependência das mulheres
intercalam-se. A criação dos filhos é outro fator
agredidas em relação aos seus parceiros pelos mais
importante, pois, muitas vezes, as mulheres
diversos fatores, como clarificado por De Souza e
acreditam ser necessária a presença da “figura
Da Ros (2006), levam-nas a ter uma atitude passiva
paternaˮ na educação. A falta de apoio de amigos e
para com o agressor, não os denunciando. Pensando
parentes também contribui para que as mulheres não
nisso, Caballo (1999) afirma que o indivíduo
denunciem seus companheiros (De Souza & Da
passivo não produz respostas adaptativas em favor
Ros, 2006).
do que acredita e, caso isso seja um acontecimento
Outra variável que pode manter a mulher no frequente, os efeitos podem ser o rebaixamento de
relacionamento abusivo é a religião. Quando a humor, autoimagem empobrecida, sensação de
religião ensina que as mulheres devem ser ineficácia, perda de oportunidades, ansiedade,
obedientes, passivas e submissas, acaba sensação de falta de controle da situação e de si,
contribuindo para a produção e reprodução das sentimento de solidão, baixa autoestima, entre
diversas formas de violência que as acometem. Os outros. Sendo assim, a mulher com comportamentos
discursos religiosos, os textos sagrados e suas passivos favorece o domínio do agressor sobre ela,
interpretações, as práticas de exclusão e visto que esse tende a apresentar um repertório
discriminação sexista da Igreja em relação às controlador.
mulheres colaboram para a manutenção dessa
Consequências emocionais da permanência nos
violência (Ströher, 2009). relacionamentos coercitivos
A teóloga Green (2015, s/p) afirma que a
Ao interferir na crença que a mulher possui sobre
subordinação das mulheres, o sofrimento como
sua competência, a violência psicológica
fonte de salvação, a imagem de Deus Pai, uma compromete a saúde mental, isto é, a habilidade de
mensagem distorcida do amor e do perdão cristãos utilizar adequadamente seus recursos para o
veiculada por expressões como “o amor suporta cumprimento das tarefas relevantes em sua vida.
tudo” e “carregar a própria cruz” são elementos que Ocorrências expressivas de alterações psíquicas
contribuem para justificar a permanência da mulher podem surgir em função do trauma, entre elas o

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estado de choque, que ocorre imediatamente após a clínicas de universidades e centros de apoio às
agressão, permanecendo por várias horas ou dias vítimas de violência (Paiva, 1999a). Grossi (1994)
(Lei n. 9.984, 2000). afirma que as mulheres, quando realizam queixa na
delegacia, estão em um momento de conflito, pois,
Os sintomas psicológicos frequentemente
a esses sentimentos de desespero, vergonha e
encontrados em vítimas de violência doméstica são:
humilhação, junta-se o temor de expor o homem a
insônia, pesadelos, falta de concentração,
quem escolheu para ser o pai de seus filhos.
irritabilidade, falta de apetite e até o aparecimento
de psicopatologias como a depressão, ansiedade, Há, na literatura, relatos de que, no caso de casais
síndrome do pânico, estresse pós-traumático, além separados judicialmente, persiste a violência
de comportamentos autodestrutivos, como o uso de psicológica, e não existe sistema jurídico que
álcool e drogas, ou mesmo tentativas de suicídio impeça sua perpetuação. Ficam sequelas
(Kashani & Allan, 1998). Nesse sentido, Marques irreparáveis tanto nos filhos quanto na mulher
(2005) afirma que o comportamento abusivo causa, (Fagundes, 1999). Uma das características dessa
nos parceiros íntimos, sofrimento e injúrias violência é tornar-se rotineira e crônica, uma vez
emocionais. A mulher vítima de abuso psicológico que obedece a uma escalada formada por ameaças
pode apresentar sintomas como perda da iniciativa, de morte dirigidas a ela ou mesmo aos filhos e a
resignação e até mesmo incapacidade para lidar com outros parentes e por tentativas de homicídios
tarefas simples do dia a dia. Loring (1994) anteriores (Teles, 1999).
complementa reconhecendo que o abuso emocional
é um processo contínuo no qual um indivíduo Possíveis intervenções: Mulheres em situação de
violência
deprecia sistematicamente e destrói o círculo
pessoal de outra pessoa. As ideias essenciais, Segundo Porto (2002), é de extrema importância o
sentimentos, percepções e características da estabelecimento de uma rede de atendimento à
personalidade da vítima são constantemente mulher em situação de violência que realize uma
depreciadas. atenção integral à saúde das mulheres e promova
ações intersetoriais de combate, prevenção e
A decisão de buscar ajuda assistência à violência contra a mulher. O autor
O momento em que decide efetuar a denúncia é afirma ainda que a intervenção psicológica aparece
muito difícil para a mulher vítima de violência, pois como uma ação especializada que precisa de uma
é comum haver pressão da própria família para decisão da paciente.
acomodação do conflito, especialmente em brigas Soares (2005) declara que o psicólogo,
entre casais. Em um primeiro momento, ocorre independentemente de sua abordagem, deverá
revolta tanto da família quanto da mulher, e, primeiramente criar um rapport e um vínculo
posteriormente, tenta-se colocar a responsabilidade terapêutico com a vítima. Outro objetivo do
sobre ela (Barros, 1999). atendimento psicológico às vítimas é fazer com que
A busca por auxílio para cessar as agressões pode, elas resgatem sua condição de sujeito, bem como
algumas vezes, ser de grande importância, assim sua autoestima, seus desejos e vontades que ficaram
como a intervenção da família do agressor, a ajuda encobertos e anulados durante todo o período em
do profissional de saúde, do psicoterapeuta, do que conviveram em uma relação marcada pela
advogado, de um líder religioso ou de centros de violência. Hirigoyen (2006) complementa
ajuda comunitária, como a Delegacia da Mulher, afirmando que a pessoa consegue superar o

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sofrimento psíquico quando possui uma boa características do relacionamento abusivo


autoimagem. estabelecido com o companheiro, 2) investigar as
variáveis que contribuíram para sua permanência
Pensando no conceito de autoimagem na
nesses relacionamentos e 3) compreender as
perspectiva analítico-comportamental, podemos
consequências emocionais decorrentes da
dizer que, valendo-se da interação com o meio, o
permanência em tais relações.
indivíduo vai construindo seu julgamento sobre si
mesmo, sua noção de “eu”, o que pouco a pouco vai MÉTODO
repercutir em seu desenvolvimento emocional
(González & Valles, 1998). A formação do Para o desenvolvimento deste trabalho foram feitas
autoconceito é um processo lento que se desenvolve pesquisas bibliográficas e de campo. Da pesquisa de
nas experiências pessoais e com a reação dos outros campo, participaram 3 mulheres de 26 a 40 anos que
ao seu comportamento. Desse modo, a maneira conviveram em um relacionamento abusivo por
como os outros reagem ao seu comportamento, mais de 4 meses. Já para a pesquisa bibliográfica,
aprovando-o ou desaprovando-o, influencia as houve a busca por artigos e livros com a temática de
características do autoconceito que se desenvolve. violência contra a mulher.

Para Skinner (1978/ 2000), o autoconhecimento (ou Para a coleta de dados, foi realizada uma entrevista
conhecimento do “eu”) é de origem social, pois semidirigida (Tabela 1) com cada uma das
somente quando se torna relevante para os outros é participantes vítimas de violência doméstica lotadas
que também se torna importante para o falante. A na Delegacia da Mulher e Abrigo de Mulheres
comunidade verbal modela a capacidade do Vanusa Covatti, da cidade de Cascavel, PR. A
indivíduo de discriminar seu próprio entrevista foi dividida em duas partes; na primeira,
comportamento quando responde sobre ele. Assim, elencaram-se dados sociodemográficos, e, na
pode-se dizer, que o self, o “eu” surge quando um segunda parte, foram direcionadas perguntas
indivíduo aprende por meio de interações verbais a relacionadas aos objetivos deste trabalho
discriminar seus próprios comportamentos. Diante fundamentadas pela teoria da Análise do
disso vale ressaltar que a mulher que vive em Comportamento.
contexto coercitivo, com interações da mesma Após prévia aprovação para pesquisa de campo, via
natureza, tende a construir uma autoimagem submissão à Plataforma Brasil (CAAE:
“enfraquecida”. Dessa forma, a partir da aceitação 68940217.3.0000.0109), as pesquisadoras
de si mesma e da sua história, podem ocorrer as dirigiram-se até os locais onde foram realizadas as
possibilidades de mudança subjetiva. entrevistas para apresentar a proposta deste trabalho
Tendo em vista essas múltiplas variáveis atuando na e solicitar a autorização para realizar as entrevistas
dinâmica da vida da mulher e do relacionamento, com alguma usuária do serviço em questão. Posto
este estudo visou a investigar as percepções de isso, após a permissão, foram realizadas três
mulheres vítimas de violência doméstica, bem como entrevistas, uma na Delegacia da Mulher e duas no
da bibliografia já existente, em relação aos Abrigo de Mulheres. Antes de cada entrevista,
relacionamentos abusivos que vivenciaram com foram fornecidos às participantes os termos de
seus companheiros. Para tanto, alguns objetivos consentimento livre e esclarecido (TCLE), bem
foram elencados, pautando-se na teoria da Análise como demais informações sobre a
do Comportamento: 1) compreender as confidencialidade das entrevistas.

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Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático

Os dados coletados foram analisados segundo o técnica afirmando que ela leva em conta aspectos do
referencial da Análise do Comportamento, que ambiente e a função que o comportamento tem ali.
utiliza a Análise Funcional como ferramenta de Apesar de a autora ressaltar a importância da
compreensão dos comportamentos apresentados verificação das hipóteses, este trabalho limitou-se
pelas participantes. Matos (1999) define essa apenas ao levantamento delas.

Tabela 1
Questões norteadoras para as entrevistas e suas respectivas funções

QUESTÕES FUNÇÃO
1. Gostaríamos que nos falasse como foi seu relacionamento. Conhecer a história do relacionamento, bem como
identificar possíveis padrões de comportamento de
ambos os cônjuges.
2. O que essa relação teve de bom e de ruim para você? Identificar as contingências de reforço e punição da
relação.
3. Você considera que sofreu algum tipo de agressão? Obter a discriminação da participante em relação à
ocorrência (ou não) de agressão.
4. Quais eram seus sentimentos e pensamentos no período que Identificar comportamentos eliciados pelo
vivenciou este relacionamento? relacionamento abusivo.
5. Quanto tempo você permaneceu nesta relação? Dados complementares utilizados para caracterização
de cada participante.
6. O que você acha que a manteve nesse relacionamento? Identificar a percepção da participante sobre a
contingência mantenedora da relação.
7. Você acha que a violência te afetou? De que forma? Distinguir possíveis consequências da violência no
relacionamento.
8. Quando e como você tomou a decisão de denunciar? Analisar o estímulo decisivo para a denúncia.
9. Como se sentiu ao fazer a denúncia? Discriminar o sentimento frente a uma tomada de
decisão para acabar com a relação abusiva e ao possível
afastamento do parceiro.
10. Como é o seu contato com o agressor atualmente? Pergunta complementar à questão 11.
11. Como você está hoje? Explorar sentimentos atuais da participante após um
histórico de violência e denúncia do abusador.
12. Qual seu sentimento por ele hoje? Averiguar sentimento atual da participante em relação
ao companheiro abusador.
13. O que você diria para uma mulher que está sofrendo agressão Ponderar, por parte da participante, possíveis
hoje? discriminações de uma relação abusiva em relação à
outra vítima.
Nota. As perguntas foram feitas seguindo o andamento de cada entrevista, não respeitando, necessariamente, a ordem apresentada. Fonte: as
autoras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO meses e sete anos, sendo que duas delas tiveram
relacionamentos anteriores caracterizados também
Este trabalho proporcionou o contato com três
como abusivos. As entrevistadas serão chamadas
mulheres que foram vítimas de agressões por parte
neste relato de P1, P2 e P3.
dos cônjuges. Caracterizando-as, têm entre 26 e 40
anos, sendo 2 amasiadas e 1 casada. Sobre o nível Sobre como avaliavam suas relações conjugais e o
de instrução, elas têm de ensino fundamental que elas observavam como pontos positivos e
completo à superior incompleto. O tempo de negativos, a P1 diz que a parte boa da relação é o
duração dos relacionamentos está entre quatro sentimento recíproco que ela e o parceiro têm um

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Daniely Cristina de Souza Pereira - Vanessa Silva Camargo - Patricia Cristina Novaki Aoyama

pelo outro, e a ruim é que são estressados. P2, por possivelmente, em suas histórias de vida, elas
sua vez, relatou que conviviam bem e que o parceiro podem ter sido sujeitadas a esse tipo de violência,
a ajudava nas tarefas domésticas e familiares; por aprendendo assim a responder às contingências
outro lado, mostrava-se agressivo sem motivos aversivas e compreendendo-as como um processo
aparentes. A entrevistada P3 disse que o que via de natural aos relacionamentos.
bom em seu relacionamento era a atividade sexual Sobre os sentimentos eliciados no período que
do casal; a parte ruim eram “apenas” as agressões. vivenciaram violência na relação, duas das três
Com isso percebe-se que a parte reforçadora dos participantes relataram que a violência é prejudicial
relacionamentos entre as entrevistadas não é à autoestima da mulher, sendo que a terceira fez
consensual, uma vez que uma remete às questões menção ao medo decorrente do arrependimento da
emocionais, outra traz o ponto do auxílio prestado denúncia: “a gente fica meio perdida, desanimada”
pelo parceiro, e, por fim, a terceira coloca a (P2); “[Senti-me] Humilhada! Humilhada! Falei
satisfação sexual. Sobre o que essas relações tinham meu Deus, onde fui me meter? Tudo de novo...”
de ruim, a agressão apareceu em dois dos três (P3); “Me senti horrível, a pior das mulheres, você
relatos, sendo o terceiro caracterizado pela alteração se sente um lixo. Um lixo, um lixo, um lixo, a cada
do estado de humor dos cônjuges. Ou seja, a dia pior. Eu me olhava no espelho, não era mais eu”
contingência de punição positiva (agressão) está (P3).
diretamente relacionada ao aspecto nocivo da
relação avaliada pelas participantes. [...] baixa muito a autoestima da mulher,
primeira coisa que acontece, ela não se
Avaliando com as entrevistadas sobre o tipo de
arruma, fica jogada, fica feia, horrorosa, o
agressão sofrida, percebeu-se que apenas uma
pensamento da mulher agredida é que você
relatou sofrer violência física e psicológica: “das
não presta mais pra nada, que ninguém vai
duas partes, tanto psicológica quanto soco na cara,
ter olhos pra você, que você é feia mesmo,
física” (P3). As demais entrevistadas descreveram
que você é horrorosa. (P3).
somente agressão física. Entretanto, no relato de
uma delas, foram verificados também indícios de Sobre isso, confirma-se o que afirma Miller (1999):
violência psicológica: “na verdade eu queria sair de para tentar suportar essa realidade (violência), a
lá (casa) faz tempo, só que eu não conseguia. Eu mulher precisa abdicar não somente de seus
arrumava minhas coisas para ir embora e ele não sentimentos, mas também de sua vontade. Com isso,
deixava. [...] Às vezes nem me deixava trabalhar, ela passa a desenvolver uma autopercepção de
me trancava em casa” (P2). incapacidade, inutilidade e baixa autoestima pela
perda da valorização de si mesma e do amor próprio,
Evidencia-se, portanto, na fala das participantes,
sendo essas, portanto, algumas das consequências
indícios de humilhação e manipulação que são
emocionais produzidas pelo permanecer em um
características de violência psicológica de acordo
relacionamento abusivo.
com a lei Maria da Penha (11.340/2006), causando
assim prejuízos à saúde emocional das vítimas, o No que se refere aos motivos que as fizeram
que se confirma nos relatos posteriores. Também é permanecer nessa relação, as três colocaram como
possível compreender como as mulheres estão principal o sentimento pelo agressor, sendo que uma
submetidas à violência psicológica e não a delas acrescentou o fator financeiro e sexual. Nota-
percebem, uma vez que ela se dá de forma velada. se aqui que as participantes estão sob o manejo de
Testificando Martins e Guilhardi (2006), reforçamento positivo, uma vez que tanto o

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Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático

sentimento pelo agressor quanto o dinheiro e o sexo Pensando em como as entrevistadas tomaram a
são estímulos reforçadores acrescentados à decisão de denunciar os agressores e como se
contingência: “O que eu sinto por ele, eu sinto muito sentiram ao fazê-lo, tem-se que a primeira decidiu,
amor por ele, muito” (P1); “Eu gostava dele né? segundo ela, por impulso a fim de amedrontar o
Gostava, ou achava que gostava né? Não sei... só parceiro e sentiu-se preocupada com a possibilidade
isso, mais nada” (P2); “Eu senti que ele me amou de ser apreendido. Verifica-se nesse relato o
muito, era amor mesmo, e a gente não se separou, sentimento de culpa da vítima, reforçando o que
não deixava se separar mesmo com as agressões, afirma Guilhardi (2002), que a pessoa que se sente
porque na minha cabeça outro homem não iria me culpada não tem uma visão crítica sobre o controle
satisfazer no sexo” (P3); “Porque eu não precisava aversivo de que é vítima e acaba admitindo que são
trabalhar, ele me dava de tudo mesmo preso” (P3). seus comportamentos (ou, até pior que isso, que é
ela) que geram sofrimento no outro. Já a segunda
Diante dos relatos, verifica-se que os motivos
participante fez a denúncia em um episódio em que
mencionados pelas entrevistadas como
foi agredida e, por acaso, encontrou-se com um
condicionantes para permanência nas relações
policial na rua. Por fim, a terceira solicitou reforço
abusivas aparecem nessa circunstância pelo fato de
policial para retirar seus pertences da casa após uma
que possivelmente lhes foram privados em suas
agressão: “Num momento de raiva, raiva no sentido
histórias de reforçamento, tornando-os objeto de
de... ‘Ah você me paga por ter me machucado [...]’
necessidade, trazendo-nos à tona o que declara
mas tudo eu fiz na euforia” (P1); “Preocupada por
Skinner (1974/2006) sobre o tipo de comportamento
que eu ‘tava’ com medo dele ser preso” (P1); “Ah
no qual membros individuais comportam-se de
por que eu ‘tava’ cansada, daí ele me agrediu e eu
acordo com as consequências importantes para si
saí pra rua e um policial ‘tava’ na academia e me
durante a sua vida. Do ponto de vista da teoria da
ajudou, daí ele (agressor) fugiu. Eu chamei a polícia
evolução, uma suscetibilidade ao reforço deve-se ao
e fiz o B.O. né?” (P2); “Mais segura, mais segura
seu valor de sobrevivência, e não a qualquer
[...] a qualquer momento pode sair o mandado de
sensação que lhe esteja associada.
prisão dele” (P3).
Sobre o sentimento em relação ao agressor, observa-
Por que depois de algumas horas (desde a
se afetividade ainda presente, confirmando o que
afirma Grossi (1998), que a violência na relação última agressão), eu liguei pra mãe dele e
afetivo-conjugal faz parte da relação de falei: ‟Eu quero tirar minhas coisas daí. Eu
comunicação entre alguns casais, o que faz com que posso ir sozinha ou tem que descer com a
o relacionamento tenha ação nas duas vias, polícia?” Eu já entendi pelo tom da voz dela
oscilando entre o amor e a dor. que eu teria que ir lá com a polícia. [...] e eu
fui lá com a polícia, e ele não deixou retirar
Complementando, observa-se ainda que os relatos
minhas coisas, eu saí só com a roupa do
coincidem com a literatura pesquisada, uma vez que
corpo [...] depois eu vim na polícia e fiz o
Paiva (1999) afirma que a dependência financeira
B.O. tive coragem de fazer e eu sabia o que
faz com que as vítimas aceitem a violação. Isto é,
eu ‟tava” fazendo. (P3).
para evitar a privação de recursos financeiros, a
mulher permanece nesses relacionamentos, A partir dos relatos, nota-se que duas das três
comportando-se em esquema de reforçamento entrevistadas passaram por diversos episódios de
negativo. violência para então realizarem a denúncia. Diante

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disso, comprova-se o que Marcon e Aceti (1999) ainda. Eu não ‘tô’, porque ele que fez a maldade pra
relatam: que a decisão da denúncia parte da própria mim né? E agora nesse momento quem ‘tá’ presa
vítima, o que aponta para o caráter privado e sou eu” (P3).
doméstico que reveste os episódios de violência nas Identifica-se que os relatos das entrevistadas P2 e
relações de gênero. O sentimento que leva as P3 descrevem consequências de contingência de
mulheres à denúncia é a exaustão com a situação de punição negativa, visto que mencionam o
agressão, especialmente a vergonha diante dos desconforto da retirada do privilégio de estarem em
filhos. Outro sentimento detectado é o medo de que suas casas. Pensando nisso, nota-se certa
a situação se agrave mais. insatisfação sobre a situação atual das entrevistadas.
A respeito do contato com o agressor atualmente, Pode-se dizer, então, segundo Marques (2005), que
bem como sobre seu sentimento por ele, apenas uma o abuso emocional ameaça os limites do bem-estar
participante permanece no relacionamento, sendo da vítima, aterroriza e provoca danos mentais. Além
que as outras duas estão sob medida protetiva. Das disso, deve-se levar em conta que podem existir
três, duas possuem vínculo afetivo fortalecido com outros fatores relacionados à insatisfação.
o agressor: “Ah eu gosto muito dele, eu quero ficar Indagadas sobre o que falariam a uma mulher que
com ele e, [...] eu não me vejo sem ele” (P1); “Eu está sofrendo agressão, todas encorajam a busca
sinto raiva, por que eu não amava ele, eu gostava pela ajuda: “Ai, por mais que doa, você tem que
dele. Eu sinto raiva pelo que ele me fez” (P2); P3 seguir em frente (com a denúncia) por que o homem
“Eu amo ele, é incrível, mas eu ‘tô’ sendo sincera” fica com receio e acaba não querendo agredir né?”
(P3). (P1); “Pra ela procurar ajuda e não ficar mais com o
Os relatos reafirmam Lins (2017), que afirma que agressor por que não muda. É só promessa,
dependência emocional e amor se confundem, e isso promessa. Isso é só ilusão, não muda” (P2).
pode levar as pessoas a continuarem juntas,
Por mais que ama a pessoa tem que se
acomodadas, dando a impressão de estarem
afastar, por que a primeira coisa é a vida,
anestesiadas. Diante disso, a dependência
uma pessoa que fala que te ama, ela cuida.
emocional caracteriza-se como reforço negativo,
Então pode amar o companheiro do jeito que
levando-se em consideração o medo da perda do
for, tem que se afastar, tem que desapegar.
afeto do companheiro, e o amor configura-se como
(P3).
reforço positivo, visto o acréscimo da afetividade.
Quando alguém fica junto por hábito ou Observam-se nos relatos recomendações no sentido
dependência emocional, não é raro desencadear um de agir sobre a situação, contradizendo o que foi, por
sentimento de ódio pelo outro, mesmo que não um período considerável, seu próprio
consciente. comportamento. Medeiros (2010) explica isso
afirmando que, segundo a Análise do
No que se refere ao sentimento atual de cada uma
Comportamento, não basta apenas descrever o
das entrevistadas em relação a si mesmas, apenas
comportamento, identificar suas variáveis
uma relata estar bem; as demais disseram sentir-se controladoras e especificar as consequências de
descontentes: “Eu ‘tô’ me sentindo bem com ele” novos cursos de ação para que o comportamento
(P1); “A gente se sente perdida [...] você queria tá mude. É essencial que se modifiquem suas
na sua casa, né?” (P2); “[suspiro] Ó eu não ‘tô’ legal contingências mantenedoras.

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Análise funcional da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos: Um estudo prático

CONSIDERAÇÕES FINAIS comportamentos de fuga e esquiva, maior


ocorrência de comportamentos supersticiosos,
Diante da bibliografia pesquisada e dos relatos
rebaixamento de humor, autoimagem empobrecida,
obtidos por meio da pesquisa de campo, conclui-se
sensação de ineficácia, perda de oportunidades,
sobre a existência de variáveis que condicionam a
sensação de falta de controle da situação e de si,
permanência de uma mulher vítima de alguma
sentimento de solidão, insônia, pesadelos, falta de
forma de abuso em um relacionamento afetivo,
concentração, irritabilidade, falta de apetite, e até o
sendo elas: um padrão de comportamento resistente
aparecimento de psicopatologias como a depressão,
à extinção mantido por reforço intermitente no ciclo
ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-
da violência e cuja justificação é descrita como
traumático, além de comportamentos
“esperança”; um repertório empobrecido e com
autodestrutivos, como o uso de álcool e drogas, ou
pouca variabilidade comportamental que contribui
mesmo tentativas de suicídio. Por fim, as
para o desenvolvimento de um padrão
contingências presentes nas relações averiguadas
comportamental inapto a solucionar problemas e
foram de esquemas de reforçamento positivo,
criar alternativas, que, neste trabalho, apresenta-se
negativo e intermitente e punição positiva e
nas formas da dependência financeira, dependência
negativa.
emocional e passividade; um comportamento
modelado pela regra da “figura paterna” na criação Durante a elaboração dessa pesquisa encontrou-se
dos filhos e outro modelado pela regra de uma limitações em função do curto período e dos prazos
crença religiosa, que revelam-se, respectivamente, estipulados para sua conclusão. Além disso, pelo
nas variáveis da preocupação da vítima quanto à mesmo motivo, restringiu-se a um número reduzido
criação dos filhos e na religião; além da falta de rede de participantes na pesquisa de campo. Sendo
de apoio. Uma das entrevistadas trouxe a variável assim, sugerem-se pesquisas futuras sobre o tema
da satisfação sexual, que não fora mencionada neste abordado.
trabalho.
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P. Villalobos, Trans.). São Paulo: Cultrix.

Recebido em 23/03/2018
Revisado em 24/05/2018
Aceito em 30/06/2018

Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2018, Volume XX no 2, 9-25 | 25

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