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DIÊGO FERNANDO SILVA RABÊLO

LINHA DE PESQUISA: Historiografia e Linguagens

INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS: uma análise sobre as representações das


populações indígenas nos livros de História do Ensino Médio adotados pelas escolas
estaduais Liceu Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite
(2014 – 2016)

SÃO LUÍS
2016
DIÊGO FERNANDO SILVA RABÊLO

INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS: uma análise sobre as representações das


populações indígenas nos livros de História do Ensino Médio adotados pelas escolas
estaduais Liceu Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite

(2014 – 2016)

Projeto de pesquisa apresentado à comissão


julgadora do Programa de Pós-Graduação em
História, Ensino e Narrativas, como requisito
parcial de avaliação para ingresso no Mestrado
Profissional.

SÃO LUÍS

2016
1 JUSTIFICATIVA

As populações indígenas ao longo da história do Brasil foram representadas


nos livros didáticos de forma superficial e estereotipadas. Neste sentido, as imagens e
discursos produzidos pelos manuais não retrataram a diversidade étnica e cultural desses
povos que tanto contribuíram para formação da sociedade brasileira.
De acordo com Silva (2014, p. 1), “o livro didático é um instrumento de apoio
ao desenvolvimento da educação formal, utilizado por professores e alunos no processo
de ensino aprendizagem” [...]. Assim sendo, os conteúdos contidos nos mesmos trazem
consigo a ideologia da classe dominante que muitas vezes acaba suprimindo ou
deturpando a história de outros povos.
Segundo Cavalheiro (2012, p.1), foi “durante o final do século XIX e início do
século XX que apareceram os livros de História que abordaram a temática indígena sob
uma perspectiva eurocêntrica” [...]. Esses primeiros compêndios trouxeram consigo uma
visão simplista, homogeneizada, idílica e naturalista acerca dos inúmeros grupos
indígenas que habitavam o território nacional.
Os indígenas ainda na contemporaneidade continuam sendo retratados nos
livros didáticos como aqueles indivíduos preguiçosos que não possuem aptidão para o
trabalho, “bons selvagens”, protetores da natureza, indivíduos que moram em “ocas” e
que vivem nus. Através dessa perspectiva reduziu-se o papel dos indígenas, pois
sabemos que esses estereótipos são resultados das construções sócios históricas de quem
possuem o poder da escrita que acaba inferiorizando os povos com culturas diferentes
das suas.
Os livros didáticos, sobretudo os de história, ainda estão permeados por uma
concepção positivista da historiografia brasileira, que primou pelo relato dos grandes
fatos e feitos dos chamados “heróis nacionais”, geralmente homens brancos,
escamoteando, assim, a participação de outros segmentos sociais no processo histórico
do país. Na maioria deles, despreza-se a participação das minorias étnicas,
especialmente índios e negros. E quando aparecem no livro, seja por meio de textos ou
de ilustrações, são retratados de forma pejorativa e preconceituosa.
À vista do exposto, torna-se necessário estudar e pesquisar o porquê dessa
invisibilidade dos indígenas nos livros didáticos de história, sobretudo os que são
utilizados no Ensino Médio da rede pública de ensino e também analisar a forma como
as populações indígenas passaram a ser representados nos manuais didáticos após o
advento da lei 11.645/081 que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história e cultura
afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos públicos e privados.
A partir dessa lei as editoras tiveram que inserir com maior ênfase as questões
indígenas nos livros didáticos para se adequar a norma em vigor, uma vez que o
Ministério da educação - MEC, através do Plano nacional do livro didático - PNLD
possuem comissões para avaliar os livros que são comprados e distribuídos para
educação pública de todo o país. Desta maneira, todos os livros passam por uma análise
para verificar se atendem as diretrizes curriculares nacionais.
Diante do exposto, este projeto de pesquisa tem como objetivo analisar a forma
como as populações indígenas são representadas nos livros didáticos de História do
ensino médio utilizados na rede pública estadual de ensino de São Luís - MA mais
especificamente nas escolas Liceu Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite. Para
este estudo serão utilizados livros editados entre os anos de 2014 a 2016.
Conforme Borges (2013, p. 3), “sabe-se que é na escola que os jovens formam
a maioria dos conceitos que vão acompanhá-las pela vida toda”. Nesse contexto o livro
didático é, muitas vezes, um dos poucos materiais impressos de que os alunos dispõem
para auxiliar no processo de construção de tais conhecimentos e formação desses
conceitos. Neste sentido, os manuais didáticos precisam representar os povos indígenas
de maneira plural, respeitando suas particularidades e singularidades, pois senão
fomentará visões distorcidas, pitorescas e excêntricas sobre suas culturas.
Sobre a categoria analítica “representação” Pensavento (2004, p.41), diz que:
[...] as representações são também portadores do simbólico, ou seja, dizem
mais do que aquilo que mostram ou enunciam, carregam sentidos ocultos,
que, construídos social e historicamente, se internalizam no inconsciente
coletivo e se apresentam como naturais, dispensando reflexão.Em muitos
livros de História os indígenas foram representados de forma caricata e
homogênea [...].

A citação acima ajudar-nos a entender que, é no livro didático que as


representações sobre os indígenas revestem-se de uma importância crucial, pois, é por
intermédio dele que crianças e jovens leitores constroem suas primeiras impressões e
discursos acerca da cultura dos outros povos.
A relevância desta pesquisa está alicerçada na análise da implementação das
leis que regem a educação básica no país, bem como nas orientações propostas pelo

1
A lei 11.645 foi sancionada em 10 de Março de 2008 para tornar obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena. Entretanto com a nova medida provisório Nº 746/06 alguns trechos
foram suprimidos e acrescentados novos elementos.
MEC, sobre o ensino de História na educação básica em consonância com o material
didático utilizado. Dessa forma, torna-se essencial a discussão sobre a ausência ou a
maneira como são retratados os povos indígenas nos manuais didáticos de História,
buscando alternativas de mudança.
Em sua grande maioria, os conteúdos abordados falam dos índios no passado
como se esses não mais existissem ou fossem desprovidos de uma História. Nesse
sentido, Fernandes (1993, p. 143) assinala que:
Pesquisas feitas por alunos do curso de História, da Universidade Federal do
Maranhão, para a disciplina de Antropologia cultural, revelam dados
preocupantes. A grande maioria dos livros, aplicados em salas de aula da
capital, coloca o índio no passado - eles “eram”, “moravam”, “viviam” - e
mostram um índio genérico e uniformizado - “moravam em ocas”, “viviam
da caça e pesca”, “adoravam o sol e a lua”, “o feiticeiro era o pajé”.
Sistematicamente, os livros desconsideram a diversidade cultural e étnica das
populações indígenas [...].

Muitos dos livros didáticos utilizados nas escolas públicas da rede estadual de
ensino de São Luís apresentam uma visão equivocada sobre os povos indígenas. Sendo
assim, buscaremos compreender as imagens e discursos difundidos pelos livros
didáticos em História e de que forma esse contribui para uma generalização das
populações indígenas, reduzindo-se à categoria de índios, sem levar em consideração as
particularidades de cada etnia. Segundo Chartier (1990, p. 17), “representações do
mundo social, embora aspirem à universalidade fundada na razão, são sempre
determinadas pelo interesse do grupo que as forjam”. Sendo assim, é importante
observar como foram cristalizadas as imagens produzidas pelo livro didático de História
do ensino médio sobre as populações indígenas brasileiras, e se essas imagens propõem
rupturas nas abordagens com relação às visões equivocadas sobre as populações
indígenas no seu contexto histórico.
Segundo Fernandes (1993, p. 15):
Em função de uma política de dominação veiculam-se imagens distorcidas
sobre o índio. Não há interesse em se conhecer a realidade indígena, seus
costumes, sua sabedoria, na medida em que esse conhecimento poderia
colocar em cheque toda a “civilização” dos brancos.

Assim sendo, é evidente como são negligenciadas as produções do


conhecimento histórico brasileiro em relação à História indígena, abordado nos livros
didáticos, prevalecendo (quase sempre) uma visão dominante. A qual necessita ser
superada.
A escolha deste tema justifica-se 2 pela ausência de trabalhos científicos de
História que analisam as maneiras como os livros didáticos representam as populações
indígenas. Essa realidade nos remete a algumas indagações referentes ao que
pretendemos discutir: como é a imagem do índio que os livros didáticos mostram hoje?
Como o livro didático de História trata ou tratou a temática indígena? Após o advento
da lei 11.645/08 como os povos indígenas passaram a ser representados?
A pertinência desta investigação dá-se pela invisibilidade dos indígenas nos
livros didáticos ou quando aparecem são colocadas como atores coadjuvantes dos
processos históricos. Neste sentido, é essencial analisar os motivos pelos quais os povos
indígenas foram estigmatizados, estereotipados e ao mesmo tempo o porquê da sua
ausência em alguns compêndios escolares.
Portanto, esta pesquisa insere-se na linha de pesquisa Historiografia e
Linguagens do mestrado em História, ensino e narrativas da UEMA, no eixo análise e
produção de material didático, uma vez que, a pretensão deste projeto é analisar os
livros didáticos de História utilizados pelos alunos do ensino médio das escolas Liceu
Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite da rede estadual de educação de São Luís -
MA no que concernem as representações dos povos indígenas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO

Sobre o ensino da história, a Constituição da Republica Federativa do Brasil de


1988, Art. 242,§ 1º, especifica:
O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das
diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.

Em consonância como texto constitucional a lei 10.639/033 foi modificada para


11.645/08 para inserir a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e
indígena nas escolas públicas e privadas. Desta maneira, o artigo 26. A da lei vigente
determina que:
Art. 26 –A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio,
públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena.

2
Após uma consulta minuciosa nos bancos de dados das bibliotecas centrais da UEMA E UFMA
constatou que em nível de Pós-Graduação inexistem dissertações e teses sobre as representações das
populações indígenas nos livros didáticos que são utilizados nas escolas de São Luís – MA.
3
A lei 10.639/03 determinava o ensino da história e cultura afro-brasileira, entretanto foi alterada, sendo
que não contemplava a temática indígena. Diante da lacuna foi preciso criar a lei 11.645/08 para abordar a
história dos povos indígenas. Atualmente com a medida provisória nº746/06 alguns trechos foram
acrescentados e outros suprimidos.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a
cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

Após situar os marcos legais que preconiza como deve ser o ensino da história.
Passamos a nos questionar:como vêm sendo abordadas as temáticas indígenas nos livros
didáticos de História?
Segundo Monteiro (2010, p. 10), “a História do Brasil nos manuais didáticos
começa sempre com a chegada do colonizador. E, os índios aparecem somente a partir
desse contato e são retratados quase sempre em situação de inferioridade”. Desta forma,
não há uma preocupação em mostrar uma história indígena anterior à colonização
portuguesa. Para Grupioni (1995, p. 482) “os livros didáticos ainda valorizam as
conquistas dos colonizadores e a cultura europeia”. Sendo assim,os povos indígenas
aparecem como sujeitos secundários na narrativa histórica.
A temática da diversidade cultural das populações indígenas no ensino e nos
livros didáticos tem recebido um tratamento insuficiente e inadequado. Isto se dá pela
falta de conhecimento, tanto dos professores quanto de autores 4 de livros escolares,
sobre o resultado de pesquisas recentes em âmbitos acadêmicos nas áreas da
antropologia, sociologia e história.
As contribuições acadêmicas têm avançando rumo à desconstrução da ideia
que índio é um ser pertencente a um passado distante. Entretanto, apesar de nas últimas
décadas a temática indígena ter ocupado espaço5, os conteúdos ministrados nas escolas
continuam os mesmos de tempos passados, expressos por meios dos livros didáticos que
trazem informações negativas e errôneas sobre as comunidades indígenas. Nesse mesmo
sentido, Grupioni (1995, p. 482), diz que:
Apesar da produção e acumulação de um conhecimento considerável sobre as
sociedades indígenas brasileiras, tal conhecimento ainda não logrou
ultrapassar os muros da academia e o círculo restrito dos especialistas. Nas
escolas a questão das sociedades indígenas, é frequentemente ignorada nos

4
Apesar de muitos autores de livros didáticos serem historiadores de formação acadêmica muitos
continuam ainda retratando as populações indígenas de forma simplista e superficial, embora existam no
Brasil grandes grupos de pesquisas ligados a Pós-Graduação e centros de pesquisas que produzem
excelentes estudos sobre a temática indígena. De acordo com Grupioni o que falta, é que estas
informações possam chegar aos escritores de livros didáticos para poderem se apropriar desses
conhecimentos e assim produzir manuais didáticos atualizados com base nas pesquisas acadêmicas na
área de história, sobretudo no que concerne a temática indígena.
5
Os espaços referidos são: livros didáticos e escolas.
programas curriculares, tem sido sistematicamente mal trabalhada. Dentro da
sala de aula os professores revelam-se mal informados sobre o assunto e os
livros didáticos, com poucas exceções, são deficientes no tratamento da
diversidade étnica dos povos indígenas.

Grupioni (1995) constatou que, este conhecimento acadêmico produzido não


tem tido o impacto que poderia ter sobre os conhecimentos escolares. Os índios
continuam sendo pouco conhecidos e muitos dos estereótipos sobre eles continuam
sendo veiculados. Permanece a imagem de um índio genérico, estigmatizado, que vive
na mata, cultua Tupã e Jaci e que fala tupi. Essas representações são vinculadas na
mídia, cinema e principalmente nos manuais escolares.
Para Gobbi (2006, p. 17), “os autores de livros didáticos ainda tratam a
temática indígena a partir de uma visão evolucionista e eurocêntrica. Onde na escala
evolutiva, os indígenas estariam em estágio primitivo e que, seriam incapazes de
adentrar ao estágio de civilização”. Nessa mesma ótica, Freitas (2010, p.23) destaca
que:
[...] a maioria dos livros didáticos utilizados nas escolas de educação básica
do Brasil, traz uma visão eurocêntrica dos indígenas colocando-os como
indivíduos homogêneos, protetores das matas, primitivos e que só sairiam da
condição de primitivos somente com ajuda dos brancos civilizados [...]

Freitas (2009), em pesquisa realizada em âmbito nacional em relação aos


conteúdos dos livros didáticos em história indicou a localização da temática indígena na
periodização do processo histórico brasileiro: sendo que a temática indígena é
apresentada (50) no período colonial, (15) no período imperial e somente (35) no
período republicano.
Assim, observa-se que no período colonial com maior porcentagem de
conteúdo, a narrativa histórica concentra-se aos fatos relativos aos primeiros contatos.
Esses dados revelam entre outros aspectos, que os livros didáticos não levam em
consideração as vivências das sociedades indígenas em contextos anteriores ao contato
colonial, elas apenas entram em cena secundariamente sob a penumbra das ações de
dominação e exploração do capitalismo comercial das sociedades europeias a partir do
século XVI.
Grupioni (1995, p. 487), “evidenciou que os livros privilegiam os feitos e a
historiografia das potências europeias, silenciando ou ignorando os feitos e a vivência
dos povos que aqui viviam. Isto resulta no fato do índio aparecer como coadjuvante na
história e não como sujeito histórico, o que revela o viés etnocêntrico e estereotipado da
historiografia em uso”.
Para Coelho (2014, p. 24), “as populações indígenas continuam sendo descritas
nos livros didáticos por abordagens generalizantes e como indivíduos cerceados das
suas capacidades de ação, sem presente e expectativas de futuro”.
Segundo, Ribeiro (2011, p. 23), “as narrativas sobre a identidade indígena
difundida pelos livros didáticos, que possuem status de “discurso autorizado”,
cristalizam no imaginário dos estudantes, idealmente considerados indivíduos ainda em
processo de formação intelectual, informações equivocadas sobre a alteridade, que
podem engendrar atitudes de discriminação e preconceito”. Neste sentido, para um
tratamento mais justo da temática indígena na escola, é necessário que se estabeleça um
constante diálogo entre os resultados das pesquisas de ponta acadêmicas nas áreas de
antropologia e história, que adotam posturas relativistas em relação à alteridade, e a
produção da escrita didática de história. Além disso, deve-se oportunizar aos
professores e gestores do ensino básico o acesso às atividades de formação continuada
nas universidades.
Estas são alternativas viáveis para a promoção de uma abordagem da
alteridade, não na perspectiva de inferioridade ou superioridade de um povo sobre o
outro, mas como atitude de respeito às diferenças. Isto sem prescindir da própria
atuação dos movimentos indígenas, como nos informou Coelho (2014, p.12), “os povos
indígenas através dos seus líderes reclamam da forma como são representados nos
manuais escolares e pedem aos autores dos livros que revejam os discursos que os
retratam”.
Conforme Silva et al.(2010, p.16), [...] “ a historia ensinada nas escolas é
sempre fruto de uma seleção, um “recorte” espacial e temporal” [...]. Desta forma, as
histórias são resultados de múltiplas leituras, interpretações de sujeitos históricos
situados socialmente.
Assim, como a História, os livros didáticos não é um mero conjunto neutro de
conhecimentos, mas sim resultados de escolhas, visões, interpretações, concepções de
alguém ou de algum grupo que, em determinados espaços e tempos, detém o poder de
dizer e fazer. Nesse sentido, Azevedo etal diz que:
[...] “os livros didáticos, em suas transformações ao longo do tempo, podem
denunciar características da sociedade da época em que foram produzidos,
tendo, dessa maneira, a possibilidade de representar as expectativas e os
anseios, bem como as mentalidades das sociedades escolarizadas”. Assim, é
preciso compreender que os manuais didáticos, como documentos,
representam o conteúdo específico de uma área de conhecimento relacionada
a uma determinada perspectiva pedagógica, carregando em si a configuração
didática de um período. Além disso, retrata um tipo de aluno e um sujeito que
se desejava formar.

Nessa ótica, a citação acima nos ajuda a compreender que ao longo dos tempos
o livro didático tem se mostrado omisso com relação à abordagem da história indígena.
Os autores dos manuais escolares continuam dando ênfase aos feitos heroicos dos
colonizadores portugueses. Desta maneira, percebe-se que as seleções dos conteúdos
dos livros privilegiam uma visão eurocêntrica, embora o número de pesquisas nas
universidades sobre povos indígenas tenham aumento.
Diante do exposto, concordamos com a professora Kátia Abud (1984), quando
afirmam que o livro didático de história é um dos construtores do conhecimento
histórico daqueles cujo saber não vai além do que lhes foi ensinado pela escola através
das aulas e manuais escolares. Assim sendo, a maioria dos professores do ensino médio
acaba de uma forma ou de outra, tendo o livro didático como apoio para o seu trabalho.
E, este tem sido um dos canais mais utilizados 6 para a manutenção dos mitos e
estereótipos para com a história dos povos indígenas, o que se torna preocupante
quando se observa que o mesmo tem assumido a função de informar professores e
alunos.
De acordo Lima (2015, p. 6),“inúmeros são os livros didáticos de história que
não falam sobre os povos indígenas ou quando abordam trazem informações
equivocadas”. Assim sendo, muitos autores desconhecem a diversidade cultural,
linguística, étnica desses povos.
Para Silva (2010, p.241), “a incorporação das populações indígenas nos livros
didáticos deve ser entendida não como uma ilustração ou modismo”. Antes, deve ser
compreendida como uma forma de valorização da história desses povos que tanto
contribuíram para formação da sociedade brasileira. Nessa ótica, a inclusão da história
das sociedades indígenas no ensino e nos livros permite também que os alunos tenham
acesso a culturas diferentes e promove uma educação pautada no respeito, na tolerância
e diversidade.
Rodrigues (2000, p. 7), diz que “após 500 anos de tentativas de abolir as
populações indígenas, elas continuam existindo, recriando práticas ancestrais e
reivindicando sua sobrevivência como sociedades”. Desta forma, torna-se relevante que

6
Segundo Katia Maria Abud em pesquisa realizada em âmbito nacional sobre livros didáticos de história
diz que a maioria dos alunos e professores do ensino médio utilizam os livros didáticos para estudo. Desta
maneira torna-se preocupante uma vez que muitos livros trazem muitas informações obsoletas sobre as
populações indígenas.
os livros didáticos registrem as suas histórias, lutas e conquistas, para que as futuras
gerações possam valorizar as diversidades étnicas dos povos indígenas.
A partir da exposição acima sobre as representações das populações indígenas
nos livros didáticos de história a nível nacional. Passamos a nos questionar, como os
livros de história adotados na rede estadual de ensino de São Luís – MA representam os
indígenas?
Diante desta pergunta ainda não temos respostas. Conforme, a historiadora
Bonifácio (2014, p. 10) “infelizmente não temos estudos sobre como os povos indígenas
são retratadasnos livros didáticos utilizados no ensino Médio da rede estadual de ensino
de São Luís”. Diante desta lacuna na historiografia local, torna-se urgente pesquisar essa
temática para conhecermos como os manuais abordam a temática indígena e assim nos
posicionarmos de forma critica apontando erros e acertos desses manuais. Desta forma,
poderemos reivindicar alterações nas abordagens, uma vez que o MEC também possui
canais de escuta para sociedade civil no que tange a política pública de distribuição de
livros o PNLD.
Diante de tudo o que foi exposto, corroboramos com Bittencourt (1997, p. 23)
quando diz que, “o livro didático não constitui um objeto simples. Sua marca principal é
a complexidade, pois ao mesmo tempo em que é um instrumento pedagógico, é também
um objeto da indústria cultural”. Um veículo portador de um sistema de valores, de uma
cultura e mesmo de uma ideologia, não sendo dessa forma um objeto neutro, imparcial,
diante da complexidade do real histórico. Os livros ainda são condicionados por razões
econômicas, ideológicas e técnicas.
Assim, devemos sempre nos questionar a quem interessa a ausência,
invisibilidade ou a representação negativa das populações indígenas nos livros didáticos
de história?. Neste sentido, a prática da pesquisa sobre as representações dos povos
indígenas nos livros torna-se uma constante e urgente.
3 OBJETIVO GERAL

Analisar a forma como os livros didáticos de História do Ensino Médio,


adotados pelas escolas estaduais Liceu Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite em
São Luís-MA representam as populações indígenas nos textos e imagens.
3.1 Objetivos específicos

Identificar os livros de história do ensino médio utilizados nos anos de 2014-


2016 nas escolas Liceu Maranhense e Escola Modelo Benedito Leite;
Obter informações sobre quais critérios a coordenação pedagógica escolheu os
livros;
Analisar como que a temática indígena é representada nos livros didáticos de
história;
Descrever como esses livros abordaram a história dos povos indígenas;
Verificar como as populações indígenas passaram a ser retratados nesses livros
após o advento da lei 11.645/08;
4 METODOLOGIA

Os alunos e professores das escolas estaduais de São Luís – MA utilizam


comumente livros didáticos de história para estudos e ensino. Assim sendo, interessa-
nos nesta pesquisa analisar a forma como os livros didáticos de história do ensino médio
adotado pelas escolas estaduais Liceu Maranhense e escola modelo Benedito Leite
representam as populações indígenas. Neste sentido, a metodologia que fundamentará
este estudo é a pesquisa bibliográfica e historiográfica, pois através desses métodos
buscaremos analisar as representações (discursivas e imagéticas) que acompanham os
capítulos dos livros didáticos que tratam sobre os povos indígenas.
Para o estudo do conteúdo dos livros didáticos de história, focalizaremos dois
eixos: os textos escritos (discursos) e os textos imagéticos (gravuras, pinturas e
fotografias). Nesta etapa de análise pretendemos compreender como os autores dos
livros didáticos constroem através da narrativa histórica discursos sobre a história e
cultura dos indígenas e também verificar como as imagens que ilustram os livros
representam os indígenas.
É importante frisar que os livros que analisaremos serão aqueles editados ou
reeditados no período (2014 – 2016), que foram enviados as escolas através do
Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio – PNLEM. Esse programa
é uma iniciativa do Ministério da educação – MEC foi criado com objetivo selecionar,
avaliar e distribuir livros didáticos as escolas públicas de todo país.
A discussão sobre o tema proposto passará também pelos estudos de
Bittencourt (2009) que viabilizam a compreensão e possível mudança na abordagem
feita pelo livro didático sobre as populações indígenas no Brasil.
Em Chartier (1990) buscaremos o suporte teórico necessário sobre a categoria
de representação. Em Fernandes (1993) observaremos a discussão sobre a diversidade
étnica dos grupos indígenas brasileiros com suas particularidades. Na abordagem de
Grupioni (2004) observaremos a problemática da produção dos livros didáticos no
Brasil. Já na análise da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB
9394/96 procuraremos compreender as orientações que determinam a regulamentação
do ensino brasileiro sobre a abordagem da questão indígena na educação básica, e em
especial, com, a relação à inserção obrigatória de conteúdos referentes à história
indígena nas escolas de Ensino Médio. Neste sentido será observada também a lei
10.639/03 e 11.645/08 que regulamenta a obrigatoriedade do ensino da cultura Afro-
Brasileira e Indígena, pois essas leis influenciaram a confecção de livros didáticos para
o Ensino Médio.
O percurso metodológico para esta pesquisa será o seguinte:
1 Identificação dos livros didáticos de história do ensino médio utilizados nas
escolas Liceu Maranhense e escola modelo Benedito Leite.
2 Recorte temporal e espacial: serão analisados somente livros de história do
ensino médio editados ou reeditados entre os anos (2014-2016) das escolas já citadas
anteriormente;
3 Leitura dos livros didáticos nos capítulos que tratam da questão indígena
4 Analisar os textos escritos (discursos) e imagens (fotografia, pinturas e
gravuras)
5 Aplicação de questionários com a coordenação pedagógica e professores para
saber quais critérios da escolha de tais livros. Nesta etapa serão aplicados questionários
com perguntas abertas e fechadas.
6 Leitura e fichamento da bibliografia adotada para aprofundamento teórico da
pesquisa.
7 Analisar as Leis 10. 639/03 e 11.645/08 sobre o que concerne a temática
indígena. Neste momento da pesquisa será observado se os livros didáticos editados
após essas leis trazem a temática indígena e como são representados. É importante
destacar que os livros didáticos analisados serão aqueles utilizados nas escolas Liceu
maranhense e Escola Modelo Benedito Leite nos anos (2014 - 2016).
5 CRONOGRAMA

2017 2018
Mar

Mar
Atividades/
Abr

Mai

Ago

Nov

Abr

Mai

Ago

Nov
Out

Out
Jun

Dez

Jun

Dez
Jan

Fev

Jan

Fev
Jul

Set

Jul

Set
Período

Levantamento
X X X X X X X X X X X X X X
Bibliográfico

Leitura,
análise e
X X X X X X X X X X X X X X
fichamento
bibliográfico.

Pesquisa de
X X X X X X X X X X X X
campo

Submeter o
projeto ao
x x x
comitê de
Ética
Entrevista e
aplicação de X X X X X X X X X X X
questionários
Análise e
discussão dos X X X X X X X X X X X
dados
Redação
inicial da X X X X X X X X X X X X X X X X
dissertação

Qualificação
X
da dissertação

Revisão
sugerida pela
X X X
banca de
qualificação
Entrega da
versão final da X
dissertação
Apresentação
pública da X
dissertação
REFERÊNCIA

AZEVEDO, Crislane Barbosa et al. Leitura e compreensão do mundo na educação


básica: o ensino de História e a utilização de diferentes linguagens em sala de
aula.Roteiro, v. 36, n. 1, p.55-80, jan./jun. 2011.

BORGES, Lukas Magno et al.Indígenas no livro didático e na sala de aula: estudos


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