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SÃO LUÍS
2016
DIÊGO FERNANDO SILVA RABÊLO
(2014 – 2016)
SÃO LUÍS
2016
1 JUSTIFICATIVA
1
A lei 11.645 foi sancionada em 10 de Março de 2008 para tornar obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena. Entretanto com a nova medida provisório Nº 746/06 alguns trechos
foram suprimidos e acrescentados novos elementos.
MEC, sobre o ensino de História na educação básica em consonância com o material
didático utilizado. Dessa forma, torna-se essencial a discussão sobre a ausência ou a
maneira como são retratados os povos indígenas nos manuais didáticos de História,
buscando alternativas de mudança.
Em sua grande maioria, os conteúdos abordados falam dos índios no passado
como se esses não mais existissem ou fossem desprovidos de uma História. Nesse
sentido, Fernandes (1993, p. 143) assinala que:
Pesquisas feitas por alunos do curso de História, da Universidade Federal do
Maranhão, para a disciplina de Antropologia cultural, revelam dados
preocupantes. A grande maioria dos livros, aplicados em salas de aula da
capital, coloca o índio no passado - eles “eram”, “moravam”, “viviam” - e
mostram um índio genérico e uniformizado - “moravam em ocas”, “viviam
da caça e pesca”, “adoravam o sol e a lua”, “o feiticeiro era o pajé”.
Sistematicamente, os livros desconsideram a diversidade cultural e étnica das
populações indígenas [...].
Muitos dos livros didáticos utilizados nas escolas públicas da rede estadual de
ensino de São Luís apresentam uma visão equivocada sobre os povos indígenas. Sendo
assim, buscaremos compreender as imagens e discursos difundidos pelos livros
didáticos em História e de que forma esse contribui para uma generalização das
populações indígenas, reduzindo-se à categoria de índios, sem levar em consideração as
particularidades de cada etnia. Segundo Chartier (1990, p. 17), “representações do
mundo social, embora aspirem à universalidade fundada na razão, são sempre
determinadas pelo interesse do grupo que as forjam”. Sendo assim, é importante
observar como foram cristalizadas as imagens produzidas pelo livro didático de História
do ensino médio sobre as populações indígenas brasileiras, e se essas imagens propõem
rupturas nas abordagens com relação às visões equivocadas sobre as populações
indígenas no seu contexto histórico.
Segundo Fernandes (1993, p. 15):
Em função de uma política de dominação veiculam-se imagens distorcidas
sobre o índio. Não há interesse em se conhecer a realidade indígena, seus
costumes, sua sabedoria, na medida em que esse conhecimento poderia
colocar em cheque toda a “civilização” dos brancos.
2
Após uma consulta minuciosa nos bancos de dados das bibliotecas centrais da UEMA E UFMA
constatou que em nível de Pós-Graduação inexistem dissertações e teses sobre as representações das
populações indígenas nos livros didáticos que são utilizados nas escolas de São Luís – MA.
3
A lei 10.639/03 determinava o ensino da história e cultura afro-brasileira, entretanto foi alterada, sendo
que não contemplava a temática indígena. Diante da lacuna foi preciso criar a lei 11.645/08 para abordar a
história dos povos indígenas. Atualmente com a medida provisória nº746/06 alguns trechos foram
acrescentados e outros suprimidos.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos
aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a
cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
Após situar os marcos legais que preconiza como deve ser o ensino da história.
Passamos a nos questionar:como vêm sendo abordadas as temáticas indígenas nos livros
didáticos de História?
Segundo Monteiro (2010, p. 10), “a História do Brasil nos manuais didáticos
começa sempre com a chegada do colonizador. E, os índios aparecem somente a partir
desse contato e são retratados quase sempre em situação de inferioridade”. Desta forma,
não há uma preocupação em mostrar uma história indígena anterior à colonização
portuguesa. Para Grupioni (1995, p. 482) “os livros didáticos ainda valorizam as
conquistas dos colonizadores e a cultura europeia”. Sendo assim,os povos indígenas
aparecem como sujeitos secundários na narrativa histórica.
A temática da diversidade cultural das populações indígenas no ensino e nos
livros didáticos tem recebido um tratamento insuficiente e inadequado. Isto se dá pela
falta de conhecimento, tanto dos professores quanto de autores 4 de livros escolares,
sobre o resultado de pesquisas recentes em âmbitos acadêmicos nas áreas da
antropologia, sociologia e história.
As contribuições acadêmicas têm avançando rumo à desconstrução da ideia
que índio é um ser pertencente a um passado distante. Entretanto, apesar de nas últimas
décadas a temática indígena ter ocupado espaço5, os conteúdos ministrados nas escolas
continuam os mesmos de tempos passados, expressos por meios dos livros didáticos que
trazem informações negativas e errôneas sobre as comunidades indígenas. Nesse mesmo
sentido, Grupioni (1995, p. 482), diz que:
Apesar da produção e acumulação de um conhecimento considerável sobre as
sociedades indígenas brasileiras, tal conhecimento ainda não logrou
ultrapassar os muros da academia e o círculo restrito dos especialistas. Nas
escolas a questão das sociedades indígenas, é frequentemente ignorada nos
4
Apesar de muitos autores de livros didáticos serem historiadores de formação acadêmica muitos
continuam ainda retratando as populações indígenas de forma simplista e superficial, embora existam no
Brasil grandes grupos de pesquisas ligados a Pós-Graduação e centros de pesquisas que produzem
excelentes estudos sobre a temática indígena. De acordo com Grupioni o que falta, é que estas
informações possam chegar aos escritores de livros didáticos para poderem se apropriar desses
conhecimentos e assim produzir manuais didáticos atualizados com base nas pesquisas acadêmicas na
área de história, sobretudo no que concerne a temática indígena.
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Os espaços referidos são: livros didáticos e escolas.
programas curriculares, tem sido sistematicamente mal trabalhada. Dentro da
sala de aula os professores revelam-se mal informados sobre o assunto e os
livros didáticos, com poucas exceções, são deficientes no tratamento da
diversidade étnica dos povos indígenas.
Nessa ótica, a citação acima nos ajuda a compreender que ao longo dos tempos
o livro didático tem se mostrado omisso com relação à abordagem da história indígena.
Os autores dos manuais escolares continuam dando ênfase aos feitos heroicos dos
colonizadores portugueses. Desta maneira, percebe-se que as seleções dos conteúdos
dos livros privilegiam uma visão eurocêntrica, embora o número de pesquisas nas
universidades sobre povos indígenas tenham aumento.
Diante do exposto, concordamos com a professora Kátia Abud (1984), quando
afirmam que o livro didático de história é um dos construtores do conhecimento
histórico daqueles cujo saber não vai além do que lhes foi ensinado pela escola através
das aulas e manuais escolares. Assim sendo, a maioria dos professores do ensino médio
acaba de uma forma ou de outra, tendo o livro didático como apoio para o seu trabalho.
E, este tem sido um dos canais mais utilizados 6 para a manutenção dos mitos e
estereótipos para com a história dos povos indígenas, o que se torna preocupante
quando se observa que o mesmo tem assumido a função de informar professores e
alunos.
De acordo Lima (2015, p. 6),“inúmeros são os livros didáticos de história que
não falam sobre os povos indígenas ou quando abordam trazem informações
equivocadas”. Assim sendo, muitos autores desconhecem a diversidade cultural,
linguística, étnica desses povos.
Para Silva (2010, p.241), “a incorporação das populações indígenas nos livros
didáticos deve ser entendida não como uma ilustração ou modismo”. Antes, deve ser
compreendida como uma forma de valorização da história desses povos que tanto
contribuíram para formação da sociedade brasileira. Nessa ótica, a inclusão da história
das sociedades indígenas no ensino e nos livros permite também que os alunos tenham
acesso a culturas diferentes e promove uma educação pautada no respeito, na tolerância
e diversidade.
Rodrigues (2000, p. 7), diz que “após 500 anos de tentativas de abolir as
populações indígenas, elas continuam existindo, recriando práticas ancestrais e
reivindicando sua sobrevivência como sociedades”. Desta forma, torna-se relevante que
6
Segundo Katia Maria Abud em pesquisa realizada em âmbito nacional sobre livros didáticos de história
diz que a maioria dos alunos e professores do ensino médio utilizam os livros didáticos para estudo. Desta
maneira torna-se preocupante uma vez que muitos livros trazem muitas informações obsoletas sobre as
populações indígenas.
os livros didáticos registrem as suas histórias, lutas e conquistas, para que as futuras
gerações possam valorizar as diversidades étnicas dos povos indígenas.
A partir da exposição acima sobre as representações das populações indígenas
nos livros didáticos de história a nível nacional. Passamos a nos questionar, como os
livros de história adotados na rede estadual de ensino de São Luís – MA representam os
indígenas?
Diante desta pergunta ainda não temos respostas. Conforme, a historiadora
Bonifácio (2014, p. 10) “infelizmente não temos estudos sobre como os povos indígenas
são retratadasnos livros didáticos utilizados no ensino Médio da rede estadual de ensino
de São Luís”. Diante desta lacuna na historiografia local, torna-se urgente pesquisar essa
temática para conhecermos como os manuais abordam a temática indígena e assim nos
posicionarmos de forma critica apontando erros e acertos desses manuais. Desta forma,
poderemos reivindicar alterações nas abordagens, uma vez que o MEC também possui
canais de escuta para sociedade civil no que tange a política pública de distribuição de
livros o PNLD.
Diante de tudo o que foi exposto, corroboramos com Bittencourt (1997, p. 23)
quando diz que, “o livro didático não constitui um objeto simples. Sua marca principal é
a complexidade, pois ao mesmo tempo em que é um instrumento pedagógico, é também
um objeto da indústria cultural”. Um veículo portador de um sistema de valores, de uma
cultura e mesmo de uma ideologia, não sendo dessa forma um objeto neutro, imparcial,
diante da complexidade do real histórico. Os livros ainda são condicionados por razões
econômicas, ideológicas e técnicas.
Assim, devemos sempre nos questionar a quem interessa a ausência,
invisibilidade ou a representação negativa das populações indígenas nos livros didáticos
de história?. Neste sentido, a prática da pesquisa sobre as representações dos povos
indígenas nos livros torna-se uma constante e urgente.
3 OBJETIVO GERAL
2017 2018
Mar
Mar
Atividades/
Abr
Mai
Ago
Nov
Abr
Mai
Ago
Nov
Out
Out
Jun
Dez
Jun
Dez
Jan
Fev
Jan
Fev
Jul
Set
Jul
Set
Período
Levantamento
X X X X X X X X X X X X X X
Bibliográfico
Leitura,
análise e
X X X X X X X X X X X X X X
fichamento
bibliográfico.
Pesquisa de
X X X X X X X X X X X X
campo
Submeter o
projeto ao
x x x
comitê de
Ética
Entrevista e
aplicação de X X X X X X X X X X X
questionários
Análise e
discussão dos X X X X X X X X X X X
dados
Redação
inicial da X X X X X X X X X X X X X X X X
dissertação
Qualificação
X
da dissertação
Revisão
sugerida pela
X X X
banca de
qualificação
Entrega da
versão final da X
dissertação
Apresentação
pública da X
dissertação
REFERÊNCIA
LIMA, Fabricia Maria Lucas. A representação dos povos indígenas nos livros
didáticos de História: um olhar no Pós-PNLD. Revista Clio – UERN. v. 3, n. 3, p. 8-
10, fev. 2015.
RIBEIRO, Berta. O índio na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1991.
SILVA, Maria da Penha. A “presença” dos povos indígenas nos subsídios didáticos:
leitura crítica sobre as abordagens das imagens e textos impressos. Revista Mnemosine.
V. 1, n.2, p. 221- 243, jul/dez. 2010.