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Uma vez fui chamado atenção por um amigo jurista pelo facto de cometer aquilo que ele
chamou de atropelo ao seu vocabulário técnico. Repreendeu-me por ter usado o termo alugar
ao invés de arrendar. Fiquei bastante grato pela correcção e ao mesmo tempo percebi que
muita gente que ignorava as minhas gralhas talvez fosse por consentirem e não notarem nada
de estranho.
Na sua simples explicação, dizia ele que alugam-se os bens moveis e que aos imóveis
arrendam-se. Tão simples quanto isso. Apenas um exemplo: quando se trata de um bem
imóvel como uma flat ou vivenda, podemos falar de arrendamento; para uma viatura que
neste caso trata-se de um bem móvel ou que se pode transportar de uma lado ao outro,
podemos falar de aluguer.
Existem porem vários outros atropelos que cometemos sem nos apercebermos e que de
alguma forma podemos considerar de normal. Assim o digo porque nas ciências sociais e
humanas existem terminologias usadas no vocabulário corrente que podem de alguma forma
confundir a atenção dos leigos. Por ser um vocábulo corrente, pode-se inocentemente
confundir com o significado que damos no senso comum. Não obstante, importa realçar o
facto de haver certos conceitos técnicos que são assimilados para o nosso vocabulário
corrente e que por vezes deturpamos inconscientemente o seu significado original.
Em sociologia isso é muito frequente pois os seus principais conceitos usam terminologias do
vocabulário corrente, dai a elevada probabilidade de usarmos os seus conceitos de forma
leviana por pensarmos que o seu significado é o mesmo que se encontra no dicionário de
sinónimos.
Nas ciências nomotético (proposição da lei) é já diferente, porque os seus conceitos não se
baseiam no vocabulário corrente, o exemplo disso podemos encontrar na fotossíntese da
biologia, inércia da física, a termodinâmica da química, o espaço vectorial e as equações
diferenciais da matemática, etc.
Existem porem varias definições do conceito supracitado, mas proponho a mais simples
definição que retirei da (enciclopédia virtual) Wikipedia. No entanto a socialização pode ser
entendida como a assimilação de hábitos característicos do seu grupo social, todo o processo
através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a
cultura que lhe é própria. É um processo contínuo que nunca se dá por terminado, realizando-
se através da comunicação, sendo inicialmente pela "imitação" para se tornar mais sociável.
O carácter contínuo incutido no conceito remete-nos a ideia de um processo sem fim. Já diz o
adágio popular que morremos sempre a aprender. Durkheim (1983), Weber (1920) e Simmel
(1992) são tidos como os propulsores dos estudos a volta do conceito, depois destes vários
outros estudiosos da área como Mead (1934), Parsons (1955), Piaget (1975), Habermas
(1973) e Luhmann (1987), prosseguiram com as suas pesquisas em torno deste conceito.
Na aculturação existe uma troca de valores entre os actores que interagem entre si, fazendo
com que estes se misturem dando origem a novos valores de uma nova cultura. Na
inculturação, o indivíduo incorpora para o seu estilo de vida novos valores provenientes da
influência do seu meio, e neste caso concreto das pessoas com quem interage. A
transculturação, não muito diferente da inculturação ocorre quando o indivíduo adopta para si
valores diferentes dos seus podendo ou não abandonar os seus valores culturais ou mesmo
costumes.
Autores como Leopold von Wiese (1931, 1933) e Norbert Elias (1939, 1970) exploram o
conceito de socialização como um processo contínuo sobretudo quando se baseiam na
concepção simmeliana de Vergesellschaftung que se poderia traduzir como “ processos de
socialização”.
É comum nos nossos círculos de reflexão e debates sobre assuntos da actualidade ouvir-se
falar de Ressocialização, principalmente quando se fala da questão ligada aos reclusos. O
termo Ressocialização remete-nos a ideia de uma nova socialização ou seja da repetição de
algo interrompido a um dado momento. Isto é uma clara negação do principio da socialização
como um processo continuo e assim sendo poderia ser algo descontextualizado do circulo
sociológico.
Não precisamos de ser juristas, antropólogos, linguistas, ou sociólogos para fazermos uso dos
conceitos destas áreas do saber; o que importa porem é que não seja deturpada a essência do
significado a si adjacente.
Temos que usar o termo alugar apenas para os bens móveis, e arrendar para os bens imóveis.
Seria injusta qualquer tentativa de justificação do tipo “estou a usar um conceito do senso
comum em que arrendar e alugar tem a mesma aplicação” que se diferencia porem do
contexto jurídico.