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A poesia de Junoy abriu o caminho a outros autores, ainda que de forma
transitória e não representativa no conjunto da sua obra, transitaram pela
vanguarda, como é o caso de Joan Salvat Papasseit, Vicenç Solé de Sojo,
Sebastià Sánchez-Juan, Joaquim Folguera e Carles Sindreu. O mais
representativo é Salvat Papasseit, a quem se deve o primeiro manifesto
futurista catalão, “Contra els poetes amb minúscula”, cujo conteúdo está muito
longe da radicalidade dos manifestos futuristas italianos.
Entretanto, em Madrid, sob a tutela de Rafael Cansinos Assens, um
grupo de jovens poetas, entre os que há que destacar, pela sua projeção
futura, Guillermo de Torre, César A. Comet, Pedro Garfias e José Rivas
Panedas, redigem o primeiro manifesto ultraista (1919). Este texto, que não é
mais do que uma simples declaração de princípios, termina com o anúncio da
publicação de uma revista que levará o título de Ultra e “na qual só o que é
novo encontrará acolhimento”.
O ultraismo surge como um movimento de síntese de todas as estéticas
vanguardistas. Marinetti, Apollinaire e Tristan Tzara são os modelos a seguir. O
nexo de união produz-se através de Vicente Huidobro e, sobretudo, com
Guillermo de Torre, que durante estes anos vai desenvolver um intenso labor
de difusão do que era novo que irá culminar com a publicação do livro
Literaturas europeas de vanguardia (1925).
Os manifestos ultraístas não atingiram a força provocadora e incendiária
dos futuristas e dos dadaístas. Entre eles merecem ser mencionados o
“Manifesto vertical” (1920), de Guillermo de Torre, e o texto “Ultraísmo” (1921),
de Jorge Luis Borges. Neste último, definem-se pela primeira vez, e de forma
contundente, os princípios da poesia ultraísta.
Ramón Gómez de la Serna foi uma figura determinante no devir da
vanguarda, transformando-se num dos escritores mais destacados e originais
da cultura hispânica do início do século. O ciclo da vanguarda histórica que ele
iniciou em 1909 foi fechado, em 1928, por Giménez Caballero, com a
exposição dos seus “cartazes literários”, e pelo próprio Marinetti com a sua
tournée de conferências e recitais por diversas cidades espanholas e do
continente americano.
Ultraísmo
Movimento literário que surge no início de 1919, como resposta ao
modernismo, com a publicação do seu primeiro manifesto nas revistas
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Cervantes e Grecia. Foi o primeiro movimento espanhol de vanguarda. Entre
outros, formaram parte do grupo Rafael Cansinos Assens, Guillermo de Torre,
Pedro Garfias e Jorge Luis Borges. O meio de expressão que melhor define o
ultraismo foram as revistas. A mais representativa foi Ultra, revista internacional
de vanguarda, que começou a editar-se em Janeiro de 1921. Outras revistas
afins foram Alfar, Reflector, Tableros e Horizonte.
Bibliografia essencial: Guillermo de Torre, Literaturas europeas de vanguardia
(1925), Gloria Videla, El ultraísmo (1963) e Rafael Cansinos Assens, El
movimiento V.P. (1921).
Vicente Huidobro
Santiago, Chile, 10 de Janeiro de 1893 – Cartagena, Chile, 2 de Janeiro de
1948.
Instala-se em Paris em 1916 e entra em contacto com destacados membros da
vanguarda internacional. Fundou o seu próprio movimento, o Criacionismo.
Bibliografia essencial: Horizon carré (1917) e Tour Eiffel (1918).
F. T. Marinetti
Alexandria, Egipto, 22 de Setembro de 1876 – Milão, 2 de Dezembro de 1944.
Em 20 de Fevereiro de 1909 publicou no jornal parisiense Le Figaro o primeiro
manifesto do Futurismo. Em 1928 visita Espanha e profere uma série de
conferências e recitais em Madrid, Barcelona e Bilbau.
Bibliografia essencial: Les mots en liberté futuristes (1918) e Spagna veloce e
toro futurista (1931).
A POESIA TOTAL
A segunda parte começa no início dos anos sessenta. Este salto de mais de 30
anos relativamente à vanguarda histórica explica-se pelo esgotamento das
ideias futuristas, que se vêem substituídas pelo surrealismo. A nível
internacional não se produz uma ruptura tão importante, na década de
quarenta aparece o Letrismo em França e, a partir da década de cinquenta, a
poesia concreta, movimento iniciado pelo grupo brasileiro Noigandres e pelo
poeta suíço de origem boliviana Eugen Gomringer.
Destes acontecimentos, em Espanha e na América Latina não só não se
tinham noticias, como também se vivia de costas voltadas para a própria
história, desconhecia-se ou tentava-se ocultar o ocorrido no principio do século.
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Esta situação começou a mudar no início da década dos sessenta com a
presença em Madrid de Julio Campal, um poeta uruguaio que começou a
organizar actos e ciclos de conferências nas quais se reivindicavam os logros
da vanguarda. O passo seguinte que Campal dá é o de entrar em contacto com
os poetas mais representativos da vanguarda internacional do momento
difundindo a sua obra através de uma série de exposições que apresenta em
diferentes pontos do país. A primeira teve lugar em Bilbau em 1965 com o título
de “Poesía concreta”.
Na América latina nos anos sessenta, ressurge também a poesia
experimental sobretudo em três países: Uruguai, Argentina e Chile. Designar-
se-á como “nueva poesía” ou “novísima poesía”, e a sua difusão deve-se
sobretudo ao labor difusor dos poetas Edgardo Antonio Vigo e Clemente Padín,
exercido através das suas revistas Diagonal Cero e OVUM10. Ao contrário do
que ocorria em princípios do século, o ponto de referência dos poetas latino-
americanos já não é Espanha ou Paris, mas sim o Brasil, país onde existia
desde os anos cinquenta um grande movimento de renovação em torno da
poesia concreta.
Neste apartado é possível contemplar-se a poesia visual e objectual de
Brossa, a poesia de acção de Juan Hidalgo, os livros objecto de Francisco
Pino, os poemas letristas de Juan Eduardo Cirlot, as revistas poemas de Vigo,
a poesia concreta de Felipe Boso, o poema instalação de Valcárcel Medina ou
a poesia visual de Fernando Millán.
Joan Brossa
Barcelona, 19 de Janeiro de 1919 – Barcelona, 30 de Dezembro de 1998.
Em 1948 participa na criação da revista Dau al Set com os pintores Joan Ponç
e Antoni Tàpies. Além de poeta foi artista plástico de reconhecido prestígio. A
sua primeira grande exposição retrospectiva foi apresentada pela Fundação
Miró (Barcelona, 1986).
Bibliografia essencial: Pluja (1970), Poemes visuals (1975), e Joan Brossa o la
revolta poètica (2001).
Julio Campal
Montevideu, Uruguai, 1933 – Madrid, 19 de Março de 1968.
Poeta uruguaio que se estabeleceu em Madrid em começos dos anos
sessenta. Até à sua morte, ocorrida de forma acidental, desenvolveu uma
intensa actividade em defesa da poesia experimental, através de conferências,
seminários e exposições. Na galeria Grises de Bilbau apresentou, em
colaboração com Enrique Uribe, com o título de “Poesia concreta” (1965), a
primeira mostra de poesia experimental que se celebra em Espanha.
Bibliografia essencial: Poemas (1970).
Zaj
A apresentação pública do grupo Zaj teve lugar em 19 de Novembro de 1964
quando os seus integrantes, Juan Hidalgo, Walter Marchetti e Ramón Barce,
iniciaram uma aprazível marcha pelas ruas de Madrid transportando três
objectos de madeira. Os seus integrantes introduziram em Espanha a música
de acção sob a influência dos compositores e intérpretes americanos John
Cage e David Tudor. Os “concertos” zaj são uma sucessão de curtas acções,
nas quais o autor/intérprete apresenta factos descontextualizados. São
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espectáculos visuais onde o que interessa é a atmosfera criada e os objectos
exibidos.
Os membros de Zaj não limitaram o seu campo de acção à apresentação
pública dos seus concertos, como também exploraram novas vias de
expressão, transformando-se em precursores em Espanha do mail-art e do
livro de artista. Em 1967 incorporou-se ao grupo a artista Esther Ferrer.
Bibliografia essencial: Zaj (1996).
Juan Hidalgo
Las Palmas de Gran Canaria, 14 de Outubro de 1927.
Compositor, escritor e artista plástico. Fundou, em 1964, o grupo Zaj junto com
Walter Marchetti e Ramón Barce. É o precursor em Espanha da música de
acção e do livro objecto.
Bibliografia essencial: Viaje a Argel (1967) e De Juan Hidalgo (1971).
Grupo N. O.
Após a morte de Julio Campal, um grupo de jovens poetas assinou um
manifesto dirigido à vanguarda nacional e internacional, no qual se defende a
sua memória e se declaram dispostos a continuar o seu trabalho em favor da
difusão da poesia experimental. Os subscritores deste documento, Fernando
Millán, Jesús García Sánchez, Enrique Uribe, Juan Carlos Aberasturi e Jokín
Díez, cumprindo com os objectivos expostos, criaram o grupo N. O., iniciais
que negam a poesia discursiva e que estão abertas, segundo os seus
promotores, a qualquer interpretação: “a poesia N. O. é a poesia Nunca
Cheirada (Nunca Olida), é a poesia Nova Vaga (Nueva Ola), é a poesia Nova
Orientação (Nueva Orientación), é a poesia Nova Ordem (Nuevo Orden), é a
poesia Não Obsequiosa”. Os poetas N. O. propõem como alternativa face à
poesia oficial uma total renovação através da procura de novas linguagens.
Bibliografia essencial: Situación uno (1969), Situación cinco (1970).
Fernando Millán
Villarrodrigo (Jaén), 24 de Agosto de 1944.
Criador do grupo N.O.
Bibliografia essencial: Textos y antitextos (1970) e Mitogramas (1978).
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Juan Eduardo Cirlot
Barcelona, 9 de Abril de 1916 – Barcelona, 11 de Maio de 1973.
Escritor e crítico de arte. Entrou em contacto com o surrealismo e simbolismo a
partir de 1940. Conheceu André Breton e colaborou com o grupo Dau al Set. A
sua extensa obra poética, que teve uma escassa divulgação. Foi reconhecida
tardiamente.
Bibliografia essencial: Variaciones fonovisuales (1996) e Mundo de Juan-
Eduardo Cirlot (1996).
Guillen Viladot
Agramunt (Lérida), 26 de Abril de 1922 – Barcelona, 19 de Novembro de 1999.
Foi um dos impulsionadores mais destacados da poesia experimental na
Catalunha. A sua obra poética iniciada no início dos anos sessenta condu-lo ao
poema-objeto e também à prosa poética.
Bibliografia essencial: Entre opus i opus (1971), Poesía T/47 (1971) e Poema
de l´home (1974).
Francisco Pino
Valladolid, 18 de Janeiro de 1910 – Pinar de Antequera (Valladolid), 22 de
Outubro de 2002.
Fundador e colaborador das revistas Meseta (1928-29), DDOOSS (1931) e A la
nueva ventura (1934). Durante a sua estadia em França entre 1931 e 1932
entra em contacto com a literatura francesa de vanguarda e sobretudo com o
surrealismo. Após a guerra civil estabeleceu-se na sua cidade natal, onde
realizou uma intensa obra poética experimental e religiosa.
Bibliografia essencial: Hombre canción (1973), Terrón, cántico (1974), En no
importa qué idioma (1986) e Siyno sino (1994).
Felipe Boso
Villarramiel de Campos (Palencia), 1 de Junho de 1924 – Meckenheim,
Alemania, 3 de Fevereiro de 1982.
Felipe Boso, nome literário de Felipe Fernández Alonso. Em 1952 fixou a sua
residência na Alemanha. É autor da primeira antologia sobre poesia
experimental espanhola publicada na revista alemã Akzente (1972).
Bibliografia essencial: T de Trama (1970) e Los poemas concretos (1994).
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Editor das revistas WC, Diagonal Cero e Hexágono 70. Promotor de uma arte
tocável que facilite a participação lúdica do espectador que se possa situar em
qualquer lugar e não encerrada em Museus e Galerias.
Bibliografia essencial: Poème Mathémathiqe Baroque (1967) e De la Poesía
Proceso a la Poesía para y/o a Realizar (1970).
Clemente Padín
Lascano, Uruguay, 8 de Outubro de 1939.
Director das revistas Los Huevos del Plata e Ovum 10. Cultivou desde a poesia
experimental até à net art, passando pela vídeo arte, a performance e a arte
postal. Comissário da mostra “Exposición internacional de la Nueva Poesía”
(1969).
Bibliografia essencial: Signografías y Textos (1967-1970) e De la
représentation a l’action (1975).
Ulises Carrión
San Andrés Tuxtla, Veracruz, México, 29 de Janeiro de 1941 – Amesterdão,
Holanda, 2 de Outubro de 1989.
Ulises Carrión foi um artista que publicou livros e revistas, e criou uma ampla
rede de distribuição postal. Fundou a editorial Other Books and So, promoveu
eventos e performances, e a sua obra, assim como os seus conceitos teóricos
e críticos sobre a arte, tiveram uma projecção internacional.
Bibliografia essencial: Arguments (1973), O domador de boca (1978) e Ulises
Carrión, ¿Mundos personales o estrategias culturales? (2003).
Guillermo Deisler
Santiago, Chile, 15 de Junho de 1940 – Halle, Alemanha, 21 de Outubro de
1995.
Deu-se a conhecer no Chile, nos finais dos anos sessenta, através do seu
trabalho editorial sob o selo de Ediciones Mimbre. Autor de uma antologia de
poesia experimental internacional intitulada Poesía Visiva en el mundo (1971).
Após o golpe de estado, foi detido e enviado para o exílio, vivendo
sucessivamente em França e na Bulgária, até se finalmente estabelecer na
cidade alemã de Halle em 1986.
Bibliografia essencial: Poemas visivos y proposiciones a realizar (1972) e Le
Cerveau (1975).
Antonio Gómez
Cuenca, 17 de Janeiro de 1951.
Poeta visual e artista experimental. Actualmente é um dos criadores de maior
projecção dentro do experimentalismo poético espanhol.
Bibliografia essencial: Y por qué no si aún quedan margaritas (1972) e De acá
para allá (2007).
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enamoró donde fue hospedado (1976) e Ondulaciones (2008).
Eduardo Scala
Madrid, 11 de Junho de 1945.
A sua obra poética relaciona-se com o universo da palavra, joga com os
significados das palavras e apresenta-as em distintos suportes, que vão desde
o aço até ao papel, a fotografia ou as fachadas dos edifícios que começou em
1974. Não se considera um poeta visual, mas sim um “verbal-visual".
Bibliografia essencial: Geometría del éxtasis (1974) e Poesía. Cántico de la
Unidad (1999).
Ángel Sánchez
Gáldar (Las Palmas), 17 de Maio de 1943.
Poeta, tradutor e ensaísta.
Bibliografia essencial: Logística del tapir (1976) e A(e)fectos personales (2001).
Bartolomé Ferrando
Valência, 1 de Março de 1951.
Artista de acção e poeta visual. Estudou música e filologia hispânica. É
professor titular de performance e arte intermédia na Faculdade de Belas Artes
de Valência. Fundador da revista Texto Poético.
Bibliografia essencial: Hacia una poesía del hacer (1980) e Jocs. Poesia visual
(2006).
J. M. Calleja
Mataró (Barcelona), 11 de Junho de 1952.
Poeta visual e performer. Realizou instalações e exposições individuais e,
como coordenador, preparou diferentes encontros de criadores que ficaram
reflectidos nos livros e catálogos.
Bibliografia essencial: Llibre de les hores (1981) e Pets (2009).
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internacional. Entre eles encontram-se Carles Santos, autor do disco Voices
Tracks (1981), publicado em Nova Iorque, em cujas composições experimenta
com uma voz mecânica baseada nos ritmos e na percussão, Bartolomé
Ferrando, que fundamenta a sua obra no fragmentário e na indeterminação, e
Fátima Miranda, que utiliza a voz não apenas na sua forma tradicional como
também recorre alem disso a técnicas vocais inventadas por ela própria, o seu
sonar vai do “mais transparente e angelical fio de voz ao alarido mais
selvagem”.