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ESCRITAS EM LIBERDADE

Com esta exposição, pretende-se aproximar o público, de uma


maneira abrangente pela primeira vez, às poéticas experimentais que
se geraram em Espanha e América Latina ao longo do século XX.
Trata-se de um relato histórico, construído a partir da própria
experiência de cada um dos autores seleccionados, e centrado
fundamentalmente em dois períodos-chave, início do século e década
dos sessenta; sem dúvida os mais significativos, onde se encontram
as figuras representativas da poesia experimental que, aliás, o são
também da literatura e da arte em geral.

O título da mostra, “Escritas em liberdade”, rende homenagem a


Filippo Tomaso Marinetti, cuja obra esteve presente no debate contínuo que se
gerou em torno da modernidade ao longo do século XX. A sua exaltação do
novo, que na escrita é representada pelas palavras em liberdade, foi o motor
que levou os escritores a experimentar através da palavra. Um deles, Ramón
Gómez de la Serna, sempre atento àquilo que era novo, traduz e publica em
1909 o manifesto fundador do futurismo de Marinetti que, apesar de não ter tido
um grande acolhimento, assinalou o ponto de partida da vanguarda em
Espanha e na América Latina. No mencionado manifesto condena-se o
passado, a tradição e o academicismo. Exalta-se o maquinismo, a violência e a
velocidade. E anunciam-se novos tempos em que a poesia representa a vida
moderna em toda a sua intensidade e dinamismo. Esta ruptura com a visão
que provocava o romantismo, foi o avanço de um projecto mais ambicioso que
o próprio Marinetti desenvolve com o lançamento das palavras em liberdade,
autêntica revolução na linguagem poética fundamentada na destruição da
sintaxe e na revolução tipográfica. Após um longo parêntese de mais de trinta
anos, em inícios da década de sessenta, entra-se num novo período de
experimentação.

O ESTALAR DAS VANGUARDAS

Um dos principais protagonistas da vanguarda na Catalunha foi Josep Dalmau,


que converteu a sua galeria num centro de difusão da arte contemporânea.
Para Dalmau, como para outros intelectuais catalães, o ponto de referência era
Paris. A essa cidade dirigiam-se à procura de informação e de reconhecimento.
Por sua vez, alguns artistas franceses estabeleceram-se em Barcelona, onde
chegaram fugindo da guerra. Foi esse o caso de Francis Picabia. Também
contribuiu para o desenvolvimento desse espírito renovador, a presença dos
pintores uruguaios Joaquín Torres-García e Rafael Barradas.
Dos escritores, foi Josep Maria Junoy a figura mais destacada da poesia
de vanguarda catalã e o impulsionador mais combativo deste intercâmbio entre
culturas. Junoy, nos seus começos um poeta próximo do noucentisme, tinha
como referente literário Apollinaire, embora a sua poesia esteja mais próxima
das palavras em liberdade, futuristas, que dos caligramas. Apesar da sua
escassa produção, os poemas visuais de Junoy constituem um dos mais
brilhantes contributos à vanguarda espanhola.

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A poesia de Junoy abriu o caminho a outros autores, ainda que de forma
transitória e não representativa no conjunto da sua obra, transitaram pela
vanguarda, como é o caso de Joan Salvat Papasseit, Vicenç Solé de Sojo,
Sebastià Sánchez-Juan, Joaquim Folguera e Carles Sindreu. O mais
representativo é Salvat Papasseit, a quem se deve o primeiro manifesto
futurista catalão, “Contra els poetes amb minúscula”, cujo conteúdo está muito
longe da radicalidade dos manifestos futuristas italianos.
Entretanto, em Madrid, sob a tutela de Rafael Cansinos Assens, um
grupo de jovens poetas, entre os que há que destacar, pela sua projeção
futura, Guillermo de Torre, César A. Comet, Pedro Garfias e José Rivas
Panedas, redigem o primeiro manifesto ultraista (1919). Este texto, que não é
mais do que uma simples declaração de princípios, termina com o anúncio da
publicação de uma revista que levará o título de Ultra e “na qual só o que é
novo encontrará acolhimento”.
O ultraismo surge como um movimento de síntese de todas as estéticas
vanguardistas. Marinetti, Apollinaire e Tristan Tzara são os modelos a seguir. O
nexo de união produz-se através de Vicente Huidobro e, sobretudo, com
Guillermo de Torre, que durante estes anos vai desenvolver um intenso labor
de difusão do que era novo que irá culminar com a publicação do livro
Literaturas europeas de vanguardia (1925).
Os manifestos ultraístas não atingiram a força provocadora e incendiária
dos futuristas e dos dadaístas. Entre eles merecem ser mencionados o
“Manifesto vertical” (1920), de Guillermo de Torre, e o texto “Ultraísmo” (1921),
de Jorge Luis Borges. Neste último, definem-se pela primeira vez, e de forma
contundente, os princípios da poesia ultraísta.
Ramón Gómez de la Serna foi uma figura determinante no devir da
vanguarda, transformando-se num dos escritores mais destacados e originais
da cultura hispânica do início do século. O ciclo da vanguarda histórica que ele
iniciou em 1909 foi fechado, em 1928, por Giménez Caballero, com a
exposição dos seus “cartazes literários”, e pelo próprio Marinetti com a sua
tournée de conferências e recitais por diversas cidades espanholas e do
continente americano.

Ramón Gómez de la Serna


Madrid, 3 de Julho de 1888 – Buenos Aires, 13 de Janeiro de 1963.
Novelista, inventor da greguería e figura chave da vanguarda espanhola. Em
1936, depois de ter estalado a guerra civil espanhola, exilou-se em Buenos
Aires.
Bibliografia essencial: Ismos (1931) e Automoribundia (1948).

Josep Maria Junoy


Barcelona, 10 de Dezembro de 1887 – Barcelona, 3 de Maio de 1955.
Poeta e crítico de arte. Figura central da primeira vanguarda catalã. Editor das
revistas Correo de las letras & de las artes, Troços, Un enemic del poble, Proa
y Arc Voltaic.
Bibliografia essencial: Arte & artistas (1911) e Poemes i cal-ligrames (1920).

Ultraísmo
Movimento literário que surge no início de 1919, como resposta ao
modernismo, com a publicação do seu primeiro manifesto nas revistas

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Cervantes e Grecia. Foi o primeiro movimento espanhol de vanguarda. Entre
outros, formaram parte do grupo Rafael Cansinos Assens, Guillermo de Torre,
Pedro Garfias e Jorge Luis Borges. O meio de expressão que melhor define o
ultraismo foram as revistas. A mais representativa foi Ultra, revista internacional
de vanguarda, que começou a editar-se em Janeiro de 1921. Outras revistas
afins foram Alfar, Reflector, Tableros e Horizonte.
Bibliografia essencial: Guillermo de Torre, Literaturas europeas de vanguardia
(1925), Gloria Videla, El ultraísmo (1963) e Rafael Cansinos Assens, El
movimiento V.P. (1921).

Vicente Huidobro
Santiago, Chile, 10 de Janeiro de 1893 – Cartagena, Chile, 2 de Janeiro de
1948.
Instala-se em Paris em 1916 e entra em contacto com destacados membros da
vanguarda internacional. Fundou o seu próprio movimento, o Criacionismo.
Bibliografia essencial: Horizon carré (1917) e Tour Eiffel (1918).

José Juan Tablada


Cidade de México, 1 de Abril de 1871 – Nova Iorque, 2 de Agosto de 1945.
Poeta, crítico de arte e diplomata. É considerado o iniciador da poesia moderna
mexicana.
Bibliografia essencial: Li-Po y otros poemas (1920).

Ernesto Giménez Caballero


Madrid, 2 de Agosto de 1899 – Madrid, 14 de Maio de 1988.
Escritor, cineasta e diplomata. Editor da revista La Gaceta Literaria. Em 1927
expôs os seus “cartazes literários” assinados sob o pseudónimo de Gecé. É
autor dos filmes de vanguarda Esencia de verbena e Noticiario de Cineclub.
Bibliografia essencial: Carteles (1927) e Yo, inspector de alcantarillas (1928).

F. T. Marinetti
Alexandria, Egipto, 22 de Setembro de 1876 – Milão, 2 de Dezembro de 1944.
Em 20 de Fevereiro de 1909 publicou no jornal parisiense Le Figaro o primeiro
manifesto do Futurismo. Em 1928 visita Espanha e profere uma série de
conferências e recitais em Madrid, Barcelona e Bilbau.
Bibliografia essencial: Les mots en liberté futuristes (1918) e Spagna veloce e
toro futurista (1931).

A POESIA TOTAL

A segunda parte começa no início dos anos sessenta. Este salto de mais de 30
anos relativamente à vanguarda histórica explica-se pelo esgotamento das
ideias futuristas, que se vêem substituídas pelo surrealismo. A nível
internacional não se produz uma ruptura tão importante, na década de
quarenta aparece o Letrismo em França e, a partir da década de cinquenta, a
poesia concreta, movimento iniciado pelo grupo brasileiro Noigandres e pelo
poeta suíço de origem boliviana Eugen Gomringer.
Destes acontecimentos, em Espanha e na América Latina não só não se
tinham noticias, como também se vivia de costas voltadas para a própria
história, desconhecia-se ou tentava-se ocultar o ocorrido no principio do século.

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Esta situação começou a mudar no início da década dos sessenta com a
presença em Madrid de Julio Campal, um poeta uruguaio que começou a
organizar actos e ciclos de conferências nas quais se reivindicavam os logros
da vanguarda. O passo seguinte que Campal dá é o de entrar em contacto com
os poetas mais representativos da vanguarda internacional do momento
difundindo a sua obra através de uma série de exposições que apresenta em
diferentes pontos do país. A primeira teve lugar em Bilbau em 1965 com o título
de “Poesía concreta”.
Na América latina nos anos sessenta, ressurge também a poesia
experimental sobretudo em três países: Uruguai, Argentina e Chile. Designar-
se-á como “nueva poesía” ou “novísima poesía”, e a sua difusão deve-se
sobretudo ao labor difusor dos poetas Edgardo Antonio Vigo e Clemente Padín,
exercido através das suas revistas Diagonal Cero e OVUM10. Ao contrário do
que ocorria em princípios do século, o ponto de referência dos poetas latino-
americanos já não é Espanha ou Paris, mas sim o Brasil, país onde existia
desde os anos cinquenta um grande movimento de renovação em torno da
poesia concreta.
Neste apartado é possível contemplar-se a poesia visual e objectual de
Brossa, a poesia de acção de Juan Hidalgo, os livros objecto de Francisco
Pino, os poemas letristas de Juan Eduardo Cirlot, as revistas poemas de Vigo,
a poesia concreta de Felipe Boso, o poema instalação de Valcárcel Medina ou
a poesia visual de Fernando Millán.

Joan Brossa
Barcelona, 19 de Janeiro de 1919 – Barcelona, 30 de Dezembro de 1998.
Em 1948 participa na criação da revista Dau al Set com os pintores Joan Ponç
e Antoni Tàpies. Além de poeta foi artista plástico de reconhecido prestígio. A
sua primeira grande exposição retrospectiva foi apresentada pela Fundação
Miró (Barcelona, 1986).
Bibliografia essencial: Pluja (1970), Poemes visuals (1975), e Joan Brossa o la
revolta poètica (2001).

Julio Campal
Montevideu, Uruguai, 1933 – Madrid, 19 de Março de 1968.
Poeta uruguaio que se estabeleceu em Madrid em começos dos anos
sessenta. Até à sua morte, ocorrida de forma acidental, desenvolveu uma
intensa actividade em defesa da poesia experimental, através de conferências,
seminários e exposições. Na galeria Grises de Bilbau apresentou, em
colaboração com Enrique Uribe, com o título de “Poesia concreta” (1965), a
primeira mostra de poesia experimental que se celebra em Espanha.
Bibliografia essencial: Poemas (1970).

Zaj
A apresentação pública do grupo Zaj teve lugar em 19 de Novembro de 1964
quando os seus integrantes, Juan Hidalgo, Walter Marchetti e Ramón Barce,
iniciaram uma aprazível marcha pelas ruas de Madrid transportando três
objectos de madeira. Os seus integrantes introduziram em Espanha a música
de acção sob a influência dos compositores e intérpretes americanos John
Cage e David Tudor. Os “concertos” zaj são uma sucessão de curtas acções,
nas quais o autor/intérprete apresenta factos descontextualizados. São

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espectáculos visuais onde o que interessa é a atmosfera criada e os objectos
exibidos.
Os membros de Zaj não limitaram o seu campo de acção à apresentação
pública dos seus concertos, como também exploraram novas vias de
expressão, transformando-se em precursores em Espanha do mail-art e do
livro de artista. Em 1967 incorporou-se ao grupo a artista Esther Ferrer.
Bibliografia essencial: Zaj (1996).

Juan Hidalgo
Las Palmas de Gran Canaria, 14 de Outubro de 1927.
Compositor, escritor e artista plástico. Fundou, em 1964, o grupo Zaj junto com
Walter Marchetti e Ramón Barce. É o precursor em Espanha da música de
acção e do livro objecto.
Bibliografia essencial: Viaje a Argel (1967) e De Juan Hidalgo (1971).

José Luis Castillejo


Sevilha, 7 de Setembro de 1930.
Escritor e diplomático. Formou parte do grupo Zaj.
Bibliografia essencial: La caída del avión en el terreno baldío (1967) e The
books of i´s (1968).

La Cooperativa de Producción Artística


Grupo criado em Madrid, em 1967, por Ignacio Gómez de Liaño em
colaboração com Manolo Quejido e Herminio Molero. Na sua primeira
declaração pública manifestaram o seu desejo de defender uma nova arte
comprometida com a sociedade e com a vida contemporânea. A sua actuação
limitou-se fundamentalmente à difusão da poesia experimental empregando
como meios a organização de exposições e ciclos de conferências.
Bibliografia essencial: Letras textos imágenes (1968).

Grupo N. O.
Após a morte de Julio Campal, um grupo de jovens poetas assinou um
manifesto dirigido à vanguarda nacional e internacional, no qual se defende a
sua memória e se declaram dispostos a continuar o seu trabalho em favor da
difusão da poesia experimental. Os subscritores deste documento, Fernando
Millán, Jesús García Sánchez, Enrique Uribe, Juan Carlos Aberasturi e Jokín
Díez, cumprindo com os objectivos expostos, criaram o grupo N. O., iniciais
que negam a poesia discursiva e que estão abertas, segundo os seus
promotores, a qualquer interpretação: “a poesia N. O. é a poesia Nunca
Cheirada (Nunca Olida), é a poesia Nova Vaga (Nueva Ola), é a poesia Nova
Orientação (Nueva Orientación), é a poesia Nova Ordem (Nuevo Orden), é a
poesia Não Obsequiosa”. Os poetas N. O. propõem como alternativa face à
poesia oficial uma total renovação através da procura de novas linguagens.
Bibliografia essencial: Situación uno (1969), Situación cinco (1970).

Fernando Millán
Villarrodrigo (Jaén), 24 de Agosto de 1944.
Criador do grupo N.O.
Bibliografia essencial: Textos y antitextos (1970) e Mitogramas (1978).

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Juan Eduardo Cirlot
Barcelona, 9 de Abril de 1916 – Barcelona, 11 de Maio de 1973.
Escritor e crítico de arte. Entrou em contacto com o surrealismo e simbolismo a
partir de 1940. Conheceu André Breton e colaborou com o grupo Dau al Set. A
sua extensa obra poética, que teve uma escassa divulgação. Foi reconhecida
tardiamente.
Bibliografia essencial: Variaciones fonovisuales (1996) e Mundo de Juan-
Eduardo Cirlot (1996).

Guillen Viladot
Agramunt (Lérida), 26 de Abril de 1922 – Barcelona, 19 de Novembro de 1999.
Foi um dos impulsionadores mais destacados da poesia experimental na
Catalunha. A sua obra poética iniciada no início dos anos sessenta condu-lo ao
poema-objeto e também à prosa poética.
Bibliografia essencial: Entre opus i opus (1971), Poesía T/47 (1971) e Poema
de l´home (1974).

Francisco Pino
Valladolid, 18 de Janeiro de 1910 – Pinar de Antequera (Valladolid), 22 de
Outubro de 2002.
Fundador e colaborador das revistas Meseta (1928-29), DDOOSS (1931) e A la
nueva ventura (1934). Durante a sua estadia em França entre 1931 e 1932
entra em contacto com a literatura francesa de vanguarda e sobretudo com o
surrealismo. Após a guerra civil estabeleceu-se na sua cidade natal, onde
realizou uma intensa obra poética experimental e religiosa.
Bibliografia essencial: Hombre canción (1973), Terrón, cántico (1974), En no
importa qué idioma (1986) e Siyno sino (1994).

Felipe Boso
Villarramiel de Campos (Palencia), 1 de Junho de 1924 – Meckenheim,
Alemania, 3 de Fevereiro de 1982.
Felipe Boso, nome literário de Felipe Fernández Alonso. Em 1952 fixou a sua
residência na Alemanha. É autor da primeira antologia sobre poesia
experimental espanhola publicada na revista alemã Akzente (1972).
Bibliografia essencial: T de Trama (1970) e Los poemas concretos (1994).

Isidoro Valcárcel Medina


Murcia, 21 de Dezembro de 1937.
Realizou filmes, peças sonoras, acções, projectos de arquitectura, intervenções
poéticas, livros objectos e acções postais. Tanto a sua trajectória histórica
como as suas intervenções mais recentes revelam uma atitude comprometida e
alheia à dinâmica do mercado da arte. Foi Prémio Nacional de Artes Plásticas
no ano de 2007.
Bibliografia essencial: Secuencia (1969), El libro transparente (1970), Ir y venir
de Valcárcel Medina (2002).

Edgardo Antonio Vigo


La Plata, Argentina, 28 de Dezembro de 1928 – La Plata, Argentina, 4 de
Novembro de 1997

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Editor das revistas WC, Diagonal Cero e Hexágono 70. Promotor de uma arte
tocável que facilite a participação lúdica do espectador que se possa situar em
qualquer lugar e não encerrada em Museus e Galerias.
Bibliografia essencial: Poème Mathémathiqe Baroque (1967) e De la Poesía
Proceso a la Poesía para y/o a Realizar (1970).

Clemente Padín
Lascano, Uruguay, 8 de Outubro de 1939.
Director das revistas Los Huevos del Plata e Ovum 10. Cultivou desde a poesia
experimental até à net art, passando pela vídeo arte, a performance e a arte
postal. Comissário da mostra “Exposición internacional de la Nueva Poesía”
(1969).
Bibliografia essencial: Signografías y Textos (1967-1970) e De la
représentation a l’action (1975).

Ulises Carrión
San Andrés Tuxtla, Veracruz, México, 29 de Janeiro de 1941 – Amesterdão,
Holanda, 2 de Outubro de 1989.
Ulises Carrión foi um artista que publicou livros e revistas, e criou uma ampla
rede de distribuição postal. Fundou a editorial Other Books and So, promoveu
eventos e performances, e a sua obra, assim como os seus conceitos teóricos
e críticos sobre a arte, tiveram uma projecção internacional.
Bibliografia essencial: Arguments (1973), O domador de boca (1978) e Ulises
Carrión, ¿Mundos personales o estrategias culturales? (2003).

Guillermo Deisler
Santiago, Chile, 15 de Junho de 1940 – Halle, Alemanha, 21 de Outubro de
1995.
Deu-se a conhecer no Chile, nos finais dos anos sessenta, através do seu
trabalho editorial sob o selo de Ediciones Mimbre. Autor de uma antologia de
poesia experimental internacional intitulada Poesía Visiva en el mundo (1971).
Após o golpe de estado, foi detido e enviado para o exílio, vivendo
sucessivamente em França e na Bulgária, até se finalmente estabelecer na
cidade alemã de Halle em 1986.
Bibliografia essencial: Poemas visivos y proposiciones a realizar (1972) e Le
Cerveau (1975).

Antonio Gómez
Cuenca, 17 de Janeiro de 1951.
Poeta visual e artista experimental. Actualmente é um dos criadores de maior
projecção dentro do experimentalismo poético espanhol.
Bibliografia essencial: Y por qué no si aún quedan margaritas (1972) e De acá
para allá (2007).

José Miguel Ullán


Villariño de las Aires (Salamanca), 30 de Outubro de 1944.
Poeta, jornalista e ensaísta. Durante a última década da ditadura franquista,
viveu exilado em França. Foi fundador e director literário da editorial Ave del
Paraíso.
Bibliografia essencial: Frases (1975), De un caminante enfermo que se

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enamoró donde fue hospedado (1976) e Ondulaciones (2008).

Eduardo Scala
Madrid, 11 de Junho de 1945.
A sua obra poética relaciona-se com o universo da palavra, joga com os
significados das palavras e apresenta-as em distintos suportes, que vão desde
o aço até ao papel, a fotografia ou as fachadas dos edifícios que começou em
1974. Não se considera um poeta visual, mas sim um “verbal-visual".
Bibliografia essencial: Geometría del éxtasis (1974) e Poesía. Cántico de la
Unidad (1999).

Ángel Sánchez
Gáldar (Las Palmas), 17 de Maio de 1943.
Poeta, tradutor e ensaísta.
Bibliografia essencial: Logística del tapir (1976) e A(e)fectos personales (2001).

Bartolomé Ferrando
Valência, 1 de Março de 1951.
Artista de acção e poeta visual. Estudou música e filologia hispânica. É
professor titular de performance e arte intermédia na Faculdade de Belas Artes
de Valência. Fundador da revista Texto Poético.
Bibliografia essencial: Hacia una poesía del hacer (1980) e Jocs. Poesia visual
(2006).

J. M. Calleja
Mataró (Barcelona), 11 de Junho de 1952.
Poeta visual e performer. Realizou instalações e exposições individuais e,
como coordenador, preparou diferentes encontros de criadores que ficaram
reflectidos nos livros e catálogos.
Bibliografia essencial: Llibre de les hores (1981) e Pets (2009).

DO CACAREJAR DE RAMÓN AO SONAR DE FÁTIMA MIRANDA

A poesia fonética, assim como as soirées, foram elementos essenciais


na estratégia renovadora empreendida pela vanguarda internacional. No
âmbito hispânico esta nova forma de afrontar o facto poético não teve uma
presença tão relevante. Os exemplos que se podem citar constituem casos
isolados no conjunto da obra dos seus autores. Como ocorre em Vicente
Huidobro, que culmina a sua obra Altazor (1931) com um canto fonético. O
mais relevante desta época foram, sem dúvida, as conferências de Ramón e a
tournée de conferências/recitais oferecida por Marinetti na América Latina e em
Espanha.
Quando nos anos sessenta se produz o abandono da página pela fita
magnética, dando passagem à chamada poesia sonora, a historia volta a
repetir-se, apesar do trabalho difusor empreendido, através de audições e de
conferencias, por Campal, Vigo e Padín. Deste período merecem ser referidos
os poemas letristas de Juan Eduardo Cirlot.
Será a partir dos anos oitenta quando surge um grupo de criadores com
uma obra de maior projecção que se integra plenamente no circuito

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internacional. Entre eles encontram-se Carles Santos, autor do disco Voices
Tracks (1981), publicado em Nova Iorque, em cujas composições experimenta
com uma voz mecânica baseada nos ritmos e na percussão, Bartolomé
Ferrando, que fundamenta a sua obra no fragmentário e na indeterminação, e
Fátima Miranda, que utiliza a voz não apenas na sua forma tradicional como
também recorre alem disso a técnicas vocais inventadas por ela própria, o seu
sonar vai do “mais transparente e angelical fio de voz ao alarido mais
selvagem”.

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