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NA INTERAÇÃO SIMÉTRICA
ISBN: 978-85-99680-05-6
REFERÊNCIA:
PRELIMINARES
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Oralidade
Marcuschi (2001) definiu a oralidade como uma prática social interativa para
fins comunicativos que se apresenta sob variadas formas fundadas na realidade sonora:
ela vai desde uma realização mais informal à mais formal nos mais variados contextos
1937
de uso. E a fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos
na modalidade oral (situa-se no plano da oralidade, portanto), sem a necessidade de uma
tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Caracteriza-se pelo uso
da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos, bem como
os aspectos prosódicos, envolvendo, ainda, uma série de recursos expressivos de outra
ordem, tal como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica. Pois, não há
dúvida de que a linguagem dos sinais constitui um tipo de fala, embora não se verifique
ali o componente sonoro como decisivo. Contudo, temos uma língua articulada e
completamente eficiente no processo comunicativo. Som, grafia e gesto, quando
tomados como a matéria básica dos elementos da representação, constituem apenas três
modos diversos de representar a língua e não três línguas como tal.
1.2 A Conversação
1938
Segundo Marcuschi (1986), uma das principais características da conversação é,
seguramente, o fato de que os interlocutores alternam-se nos papéis de falante e ouvinte,
caracterizando-a como uma interação verbal centrada, que se desenvolve durante o
tempo em que dois ou mais interlocutores voltam sua atenção visual e cognitiva para
uma tarefa comum.
O falante e o ouvinte são igualmente ativos, mas a participação de ambos ocorre
de forma diferenciada. O falante é aquele que – num dado momento – assume o papel
de condutor principal do diálogo e torna-se o responsável pelo desenvolvimento do
tópico em andamento, podendo dar continuidade a ele, redirecioná-lo, abandoná-lo.
O ouvinte, por sua vez, não é um simples espectador, como sugere o esquema
tradicional da comunicação (emissor-receptor). Aliás, a sua simples presença
(participação implícita) já lhe confere ao ouvinte um papel ativo na conversação, pois o
falante não pode deixar de levá-lo em conta na produção do diálogo. Já na participação
explícita, o ouvinte intervém de modo ativo, para mostrar entendimento ou
concordância, para sinalizar que o falante pode continuar a fala, ou simplesmente, para
demonstrar participação efetiva.
A palavra conversação abrange um grande leque de atividades de comunicação
verbal, desde as falas descompromissadas do dia-a-dia, até diálogos com temas pré-
determinados, que podem, à medida que decorrem, ir-se modificando, em função das
circunstâncias criadas pela própria interação. A rigor, os falantes criam um texto em
conjunto, colaborando ou contra-argumentando ou, às vezes, até completando-se, para
levarem adiante o diálogo. Dino Preti (2002), diz:
1939
As diferentes formas de participação (turnos) demonstram, da parte de quem fala,
o desejo de ser ouvido, e, da parte de quem ouve, a predisposição para ouvir e
compreender. Essa participação é indicada não só por meio lingüístico (palavras ou
expressões, elementos não-lexicalizados; marcadores supra-segmentais), como também
por meios cinésicos ou gestuais (gestos, expressões faciais, riso), e essas duas classes de
meios situam igualmente como sinais de orientação e de verificação do canal. Todos
esses sinais são indispensáveis para uma boa interação falante/ouvinte e a falta dos
mesmos acaba por interferir negativamente na própria interação.
2. ANÁLISE DO CORPUS
1940
Nessa modalidade de troca de falantes, a colaboração do outro interlocutor é
implícita ou explicitamente solicitada. A passagem de turno está centrada nos lugares
relevantes para a transição (LRTs), é um ponto em que o ouvinte percebe que o turno
está completo ou concluído, ressaltando que o conceito de lugar relevante para a
transição estabelecido por SACKS, SCHEGLOFF e JEFFERSON (1974) é intuitivo,
por isso o analista da conversação defronta-se com dificuldade para determinar os LRTs,
ainda que assuma a perspectiva do ouvinte. Há duas modalidades de passagem de turno:
a passagem requerida e a passagem consentida.
O assalto ao turno é marcado pelo fato de o ouvinte intervir sem que a sua
participação tenha sido direta ou indiretamente solicitada. Em outras palavras, o ouvinte
1941
“invade” o turno do falante fora de um lugar relevante de transição, por isso o assalto
apresenta uma violação do princípio básico da conversação, conforme o qual apenas um
dos interlocutores deve falar por vez.
(01) L2 ... vai poder me trazer possibilidade de produzir mais riqueza que seria o caso a
educação... então aí é uma má administração... pois... se eu tenho cem cruzeiros...
eu digo... bom... se eu puser na educação eu vou possibilitar a que esse povo
educado possa produzir riqueza com mai/ maior facilidade... então... ao invés de usar
nas outras coisas uma quantia... eu vou usar setenta desses
L1 [
eh na educação... claro...
(NURC/SP 335, linhas 1509-1517)
(02) L2 cem cruzeiros na educação... porque eu sei que esses setenta cruzeiros
L1 [
vão gerar mais...
(NURC/SP 335, linhas 1518-1521)
1942
3. OBSERVAÇÕES FINAIS
4. Tipologia estabelecida por Galembeck, Silva & Rosa (1990) e retomada por
Galembeck (1993).
REFERÊNCIAS
1943
JUBRAN, C. C. S.; H. URBANO. (1993). Inserção: um fenômeno de descontinuidade
na organização tópica. In: A.T. CASTILHO (org.) Gramática do Português Falado III:
As abordagens. Campinas: Edunicamp/Fapesp.
1944