entrevista

CULTURA
DE GÊNERO
Por Nancy Dusilek
D
iante de novos desafios
para a família, instituição
criada por Deus,
entrevistamos o Dr. Lourenço
Stelio Rega1, reitor da Faculdade
Teológica Batista de São Paulo.
Como você vê a ideologia de
gênero? E como devemos tratá-
la à luz da Palavra de Deus?
Em primeiro lugar, tenho
preferido utilizar a expressão
“cultura e identidade de gênero”,
uma vez que cultura é muito
maior que ideologia, que em si
mesma está contida no campo
da cultura. Do ponto de vista
bíblico, devemos tratar do
tema a partir dos princípios
matriciais da criação para, daí,
tratar dele com os demais textos
que abordam diretamente a
homossexualidade.
A que você atribui o fato da
homossexualidade vir ganhando
cada vez mais força em nossa
sociedade?
Vivemos na Hipermodernidade,
em que o indivíduo, sua vontade
e suas paixões são a fonte de
verdade. A cultura de gênero
se vale disso para defender
que a pessoa tem o direito de
fazer o que bem entender de
sua vida. Daí a inserção do
conceito de gênero como algo
não necessariamente ligado à
1 PhD, Especialista em Ética, Bioética,
Neurocoaching e Master Coach.
estrutura sexual da pessoa. Para
se ter uma ideia, o Superior
Tribunal de Justiça, enquanto
temos esta entrevista, está
decidindo sobre a legitimidade da
poligamia no Brasil, sendo que o
subprocurador da República no
caso defende que esse formato de
matrimônio é válido “desde que
essa seja a vontade das pessoas”.
Assim, o triunfo do indivíduo
passa a ser terreno fértil para
trazer cada vez mais força para
incentivar o tratamento e a
aceitação da homossexualidade,
entre outros temas.
A Teoria “Queer” diz que somos
“resultados culturais e não
naturais”. Como você entende
isso?
Não conseguindo caminhar pela
via científica, tem sido esse o
caminho dessa abordagem e, no
Brasil, temos o Prof. Leandro
Colling, da Universidade Federal
da Bahia, que afirma ser o
heterossexual assim por pressão
e determinação da sociedade,
não tendo como escolher outra
alternativa. O homossexual
seria, então, superior por seguir
percurso contrário à cultura
estabelecida, não aceitando
sua imposição nem seu
determinismo, de modo a definir
seu gênero diferentemente de sua
constituição neurobiogenética.
Difícil será lidar com o fato
de que, hoje, o que existe é a
mesma imposição cultural, só
que agora invertida: é a pessoa
que não tem opção, pois ou é
homossexual ou é homofóbica,
ou ainda é homossexual ou é
preconceituosa. O indivíduo
não tem escolha diante do que
a “ditadura homossexual” exige
que ele seja.
Existe a “cura gay”? Como
entende isso?
A pessoa escolhe ser gay. Não
é uma enfermidade, para que
exista cura. Artigo publicado na
revista científica New Atlantis,
em 2016, demonstra que não há
sustentação para a argumentação
de que a homossexualidade
possa ter alguma causa ou
origem neurobiogenética.
Vamos lembrar que existe a
constituição genética da pessoa
já definida (cromossomo XX
– mulher / cromossomo XY –
homem). Fora isso, do ponto
de vista médico, em termos
morfológicos, o ser humano
nasce com aparelho sexual
próprio – masculino ou feminino
– com raríssimas exceções, que
são os hermafroditas (aqueles
que nascem com órgãos genitais
masculinos e femininos). A esses
não se aplica a discussão de que
estamos tratando.
A pessoa, tendo o direito
de decidir, escolhe ser
homossexual. Por que, então,
ela não poderia “des”-decidir,
61
isto é, decidir não ser mais
homossexual? Portanto, não
temos aqui uma enfermidade,
mas sim o resultado de uma
escolha.
Como você analisa a arte,
novelas, propagandas, filmes
que exercem influência sobre
a mente das pessoas, nessa
questão de orientação sexual de
cada indivíduo?
A influência sempre existe
e existirá, pois a cultura
é construída por meio da
produção, da circulação, do
consumo e da reprodução de
ideias. O dilema não reside nisso,
mas na ausência de valores que
possam dar à condição humana
segurança para a vivência
histórica contínua.
Nesse trajeto é que os meios
de comunicação entram
dando espaço e insumo
para alimentar as decisões
e escolhas do indivíduo,
demonstrando o quanto
natural é ser homossexual.
Se você avaliar, numa linha
temporal, quanto uma
determinada rede de televisão
brasileira foi aos poucos
fragilizando os valores
normalmente vivenciados
pela sociedade até por
volta de 1990, observará
que esse processo foi sendo
realizado gradualmente
até o estágio atual, em que
temos não apenas cerimônias
matrimoniais, mas também
beijos entre pessoas do
mesmo sexo, simulação de
atos sexuais, aceitação como
situação de normalidade por
amigos e parentes, inclusive
filhos.
62
Não podemos ser inocentes
neste momento, por isso
precisamos assistir à televisão
e ler notícias, mas sempre
com um roteiro de leitura
crítica de nosso ambiente.
Se a pessoa não deseja ter
essa leitura a partir de ideais
cristãos, por exemplo, posso
oferecer o que chamo de
“ética mínima”, isto é, um
conjunto de princípios que
nos ajudam a construir a
vida com mais segurança,
evitando o “mal-estar da
hipermodernidade”, em
que cada pessoa deve se
valer de sua liberdade, mas
sem referenciais para suas
escolhas.
Naquela famosa exposição
do MAM (Museu de Arte
Moderna), quando uma
criança toca o corpo de
um homem nu, o que pode
acontecer a uma criança
nessa situação?
O Conselho Regional de
Medicina do Estado de São
Paulo (CREMESP), em nota
expedida no mês de fevereiro
de 2018, demonstrou alguns
fatos importantes, do ponto
de vista médico, relacionados
à fragilidade da criança,
e mesmo do adolescente,
no trato de situações no
campo da sexualidade. A
manifestação do CREMESP
indica que a criança é
vulnerável, uma pessoa em
desenvolvimento, e que o ser
humano nasce desprovido
de condições autônomas
para se manter, tanto física
quanto psiquicamente, sendo
dependente e requerendo
cuidados especiais,
distintos em cada fase do
desenvolvimento. Por isso,
é negligente, irresponsável
e alienante consentir que
as crianças façam escolhas
prematuras ou induzi-las a
isso, já que são desprovidas
de maturidade para tal,
e que é função parental
apresentar referenciais para
a educação psicossexual
da criança, podendo se
valer de orientação médica
e psicológica. Por fim, a
educação sexual, direito da
criança e do adolescente, é
muito diferente de incentivo
à indefinição sexual, o que
traz insegurança, inadaptação
e risco, com consequências
para essa população
vulnerável. Em resumo, a
exposição de uma criança a
condições que ultrapassem
seu aparelhamento psíquico a
coloca em risco e tem de ser
evitada.
Como a igreja deve
tratar desse assunto sem
homofobia, sem omissão e
sem aceitação normal?
Não devemos defender a
intolerância ou o preconceito
contra qualquer pessoa,
inclusive as que desejarem
seguir os indicativos culturais
ligados às alternativas
recentes sobre a sexualidade.
O senso de inclusão é
manifesto pelo amor ao
próximo, que se concretiza
em sua transformação,
conforme os ideais divinos da
criação, a ser humano perfeito
e perfeitamente habilitado
para toda boa obra. Assim,
devemos aceitar todas as pessoas, sem distinção, e que, ao
se converterem ao Evangelho, as boas novas de salvação,
alcancem o caminho para sua restauração ao estado original
da Criação pré-queda (Gênesis 3). Entendo, também, que os
ensinos bíblicos são suficientes para indicar que as pessoas,
depois de convertidas ao Evangelho, devem deixar práticas
contrárias aos princípios éticos bíblicos e cristãos, sendo
esse um dos papéis de apoio e suporte a serem exercidos
pela igreja local, em vez de abrir espaço para que continuem
s s i n e j á !
nessas práticas. Temos aqui uma Teologia inclusiva, mas
ao mesmo tempo transformativa. O Evangelho, além de A
inclusivo, tem caráter transformador a partir dos ideais
cristãos que estão na Bíblia.

Qual deve ser a postura de um profissional da área de

Psicologia quando uma pessoa quer refazer sua escolha?
A decisão judicial deixa claro que o profissional da área
de Psicologia não pode ser impedido de atender, de forma
reservada, pessoa que o procure para suporte nessa situação.

O que fazer quando crianças e adolescentes em nossas

igrejas começam a dar sinais da homossexualidade? Que
estratégias podemos usar para evitar que isso aconteça e,
quando detectarmos casos, como devemos agir?
Não podemos continuar pensando que a pessoa, estando
salva, já basta, pois o “salvacionismo”, infelizmente, acaba
nos impedindo de ver a realidade toda da vivência cristã.
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desde a infância, a criança aprenderá os fundamentos
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