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“As instituições e a prática institucional” - Breves

comentários sobre George Lapassade

Em março a leitura principal foi o cap. 4 – “As instituições e


a prática institucional” do livro “Grupos, organizações e
instituições” de Georges Lapassade (1977).

Endereçamo-nos a este material a partir da leitura do


primeiro capítulo de “O sujeito social” de Jacqueline Barus-Michel
(2004). Nele a autora apresenta brevemente o percurso teórico da
psicossociologia. A partir disto optamos ler Lapassade e Freud e
depois retornar à Barus-Michel.

Aqui, então, uma breve resenha do texto de Lapassade.

Lapassade apresenta instituição a partir de duas


perspectivas: enquanto grupo social oficial e sistema de regras. O
que ele faz é interessante: escolhe um grupo social e o analisa em
seu sistema de regras, apontando os efeitos subjetivos deste.
Trata-se da escola em sua burocracia.

Segundo o autor há um fenômeno burocrático que formata


as relações humanas na atualidade (escrito em 1977, o texto não
perdeu sua vitalidade de análise) e que coloca a coletividade
como força de produção para um sistema despersonalizado e
amoral. Isto, porque a burocracia, “antes de tudo, aliena
fundamentalmente os seres humanos, retirando-lhes o poder de
decisão, a iniciativa, a responsabilidade de seus atos, a
comunicação” (LAPASSADE, 1977, p.201).
Há uma outra característica apontada quanto ao processo de
exploração a que os indivíduos estão submetidos: o
empobrecimento de ninguém é interessante a ninguém. Muito
menos ao burocrata. Ele sabe que a maior riqueza é fazer
coletividade e sua força de trabalho convergirem para seus
interesses particulares.

Fazendo um parêntese, esta idéia poderia sugerir que a


sociedade burocrática desembocaria em uma sociedade
perfeitamente harmoniosa, pois a felicidade de todos é
interessante a todos. No entanto, é pertinente nos lembrarmos do
Homo sacer de Giorgio Agambem (2001). Ou seja, aquele que
estando fora do universo que a Lei abrange, encontra-se ao
mesmo tempo protegido e desamparado. Isto quer dizer que a
sociedade burocrática está interessada em não empobrecer apenas
os que não forem homo sacer, aqueles que forem passíveis de
serem localizados na condição de sujeitos sociais, de modo
particular ou institucional. Toda a discussão sobre a questão da
exclusão social, também aponta para os limites estreitos em que
os burocratizáveis estariam reunidos. Um gueto ao contrário.

Retornando ao texto de Lapassade, ele demarca a burocracia


como lógica sofisticada, capaz de convencer seus integrantes não
só da impossibilidade de ser de outro modo, como também da
pouca competência destes para questionarem ou decidirem por si
mesmos.

Feito isto, nos oferece alguma esperança: a pedagogia


institucional. Uma aposta em relações não burocráticas. Um
trabalho, que se sustentando a partir do comprometimento de
todos os envolvidos é capaz de engendrar efeitos de produção
de saber, transformação subjetiva em direção à autonomia dos
sujeitos e resistência ao que está (em 1977 e hoje também) posto
como modelo.

Participante do movimento estudantil de Maio de 68, o


autor propõe grupos de autogestão como metodologia de
trabalho. E este texto discute exatamente de que modo seria viável
sua implantação na instituição escolar. O autor responde a
algumas das críticas feitas e afirma ser possível não alienar o
sujeito de sua dimensão social e ainda assim sustentar que ele se
implique de modo absolutamente particular.

Tudo isto seria resultado de um trabalho árduo de abrir mão


do poder que alguns lugares proporcionam. Ao recortar a
instituição escolar, e sua metodologia burocrática, para analisar o
ator responsável por sustentar, por um tempo sozinho, tais
transformações, aparece a figura do professor. E o autor avisa que
“ele [o professor] não pode permitir-se a inocência de agir como
se o antigo estatuto não existisse. É preciso que ele próprio
destrua sua autoridade, onde ele negue a si próprio como
burocrata.” (LAPASSADE, 1977, p. 218).

Neste momento o texto se torna quase clínico, nas


pontuações sobre as fases que serão atravessadas ao sustentar um
trabalho de autogestão e, principalmente, sobre as dificuldades
para o sujeito que se propõe não ocupar um lugar de saber na
relação com o aluno (paciente?).

Entre os objetivos deste tipo de trabalho recorta-se a aposta


corajosa na capacidade de mudança de cada sujeito bem como da
sociedade e o aviso sobre alguns possíveis obstáculos aos
navegantes que não desejem a sedução das sereias do poder
burocrático.

BIBLIOGRAFIA
AGAMBEN, G. (2001). Homo Sacer – o poder soberano e a vida nua.
Belo Horizonte.UFMG.
BARUS-MICHEL, J. (2004) O sujeito social. Belo Horizonte,
PUCMINAS.
LAPASSADE, G. (1977) Grupos, organizações e instituições. Rio de
Janeiro, Francisco Alves.

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