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SÃO PAULO
2012
A ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL – WAGNER COSTA RIBEIRO
Acordos referentes ao meio ambiente tiveram sua origem no século XX. As premissas
podem ser encontradas em convenções realizadas em 1900, na Inglaterra, sobre a
proteção dos animais, devido aos abusos da caça, e sobre a proteção de aves úteis à
agricultura, entretanto, o primeiro congresso Internacional para proteção da Natureza
foi realizado em 1923, em Paris, comprovando que a questão ambiental não é uma
novidade do século XXI.
Ainda no período em questão, é criada a Organização das Nações Unidas, que passou
a coordenar a maior parte das iniciativas que culminaram na ordem ambiental
internacional. O órgão foi criado com o intuito de evitar conflitos mundiais, que
poderiam ser desencadeados entre os países por falta de alimento ou recursos
naturais. Por isso, em 1945, é instituída a FAO( Food and Agriculture Organization),
que tinha como pólos de ação o controle da produção de alimentos e a conservação
dos recursos naturais.
Além da FAO, outra instituição que abordou as questões ambientais foi a UNESCO
(United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization). Fundada em 1946,
em Paris, a organização passou a interagir com organismos estatais, privados e não
governamentais, adotando, em relação aos debates ambientais, uma postura
conservacionista e não preservacionista, buscando meios racionais, fundados em
conhecimento científico e tecnológico, para uma apropriação cuidadosa dos recursos
naturais. Sua primeira votação foi para a Conferência das Nações Unidas para a
Conservação e a Utilização dos Recursos Ambientais (UNSCCUR), em 1949 nos
Estados Unidos, que buscou criar um discussão acadêmica sobre os problemas
ambientais.
Em suma, a Eco-72 teve grandes propostas, mas pouco foi realizado, uma vez que os
países ainda priorizavam seus interesses nacionais frente aos problemas de ordem
internacional. As medidas debatidas na conferência foram fundamentadas na tradição
do realismo político, que prevê a manutenção da soberania para cada Estado, ou seja,
a liberdade de cada um deles em estabelecer medidas para a conservação dos
habitats naturais
No período entre o fim da Eco-72 para o início da Eco-92, por sua vez, o autor aborda
outras Convenções que tiveram como pauta as questões ambientais, como a
Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Flora e da Fauna em Perigo
de Extinção(CITES), a Convenção sobre Poluição Fronteiriça de Longo Alcance (CPT),
a Convenção de Viena para a proteção da Camada de Ozônio(CV), o Protocolo de
Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio(PM) e a Convenção
da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e
seu Depósito.
Foi, então, a partir da deliberação de uma Assembleia Geral das Nações Unidas, em
1988, que ficou programado o estabelecimento de uma conferência que abordasse os
problemas referentes à conservação ambiental e desenvolvimento. Em 1989, o Brasil
ficou definido como sede dessa convenção que se realizou em 1992, recebendo o
nome de Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
O conceito de segurança ambiental global, por sua vez, é a base para implementação
de ideias políticas. Entretanto, há um descompasso entre os políticos e cientistas, uma
vez que os políticos ao mesmo tempo em que não sabem ao certo quais são os
problemas ambientais, priorizam o crescimento econômico, ideia também expressa na
obra de Bruno Latour. Isso, segundo o autor, faz com que as conferências que buscam
o debate sobre os problemas ambientais sejam vazias e inócuas.
Wagner Costa Ribeiro cita, também, ao decorrer da obra, as ideias de Villa, que
defende que a questão ambiental deve ser um assunto das relações internacionais,
pois cada país dentro dos seus interesses nacionais deve entrar em um acordo para
essa questão de ordem global ser resolvida dentro da diplomacia, ressaltando que os
países não podem, ao discutir os problemas de ordem ambiental, estabelecer uma
relação de acréscimo de poder, mas devem trabalhar em conjunto. Sendo assim, o
conceito de segurança ambiental envolve um processo de conscientização sobre a
natureza e também de respeito aos homens. Isso porque as mudanças necessárias
para preservação do meio ambiente devem ser desenvolvidas por todos os Estados,
dentre o meio diplomático.
Na visão do autor, para que esses resultados sejam efetivos seria necessária uma
movimentação global, mas os Estados só buscam salvaguardar seus interesses
nacionais. Sendo assim, todo o processo por buscas de soluções, vira uma mera
retórica. Wagner Costa Ribeiro afirma que “O que efetivamente tem prevalecido são as
vantagens econômicas e políticas que os países podem auferir a cada rodada de
negociações.”( P. 109). Para preservar a natureza é preciso que o homem se adapte a
ela, ou como o autor Sachs afirma “entrar no jogo da natureza” (P111).
Por fim, na CNUMAD( Rio-92), foi criado um plano de ação para o futuro que pretendia
minimizar os problemas ambientais mundiais e que contava com a participação de
crianças, mulheres e comunidades locais, para transmitir a ideia de integração,
recebendo o nome de Agenda XXI. Nela ficou definido como recursos para as medidas
necessárias, baseadas no desenvolvimento sustentável, seriam captados. A Agenda
XXI trouxe também como temática o problema da pobreza e preservação das
comunidades locais, porque ao analisá-las seria possível ter um modelo para o uso da
natureza de forma adequada. Ela retoma a ideia da Conferência de Estocolmo de
destinar uma parte do PIB para os países periféricos preservarem seus recursos
naturais, uma vez que eles em grande parte são exportadores de matérias primas. O
autor, no entanto, critica a falta de uma data para tais medidas se tornarem efetivas, o
que faz da Agenda XXI muito mais um discurso do que um efetivo plano de ação.
Quanto aos embates sobre as mudanças climáticas, o Protocolo de Kyoto foi o que
obteve maior destaque no meio internacional. Nesse momento duas ideias obtiveram
destaque: uma que transformava a emissão de gases do efeito estufa em um negócio,
através dos créditos de carbono já apresentados no Protocolo de Montreal, e a outra,
idealizada pelo Brasil, que apoiava um fundo para pesquisas ambientais que tinham
como proposta reduzir os índices de gases poluentes, principalmente nos países
desenvolvidos. Entretanto, os países com maiores índices de poluição, como EUA, não
assinaram tal tratado priorizando seu desenvolvimento econômico.
Por fim, dialongando com textos anteriores, como “Políticas da Natureza”, de Bruno
Latour, o autor Wagner Costa Ribeiro também problematiza a questão do
conhecimento da ordem ambiental enquanto resultado de uma fragmentação da
Ciência, por sua vez, que acaba monopolizada por um pequeno grupo de cientistas e
políticos. Da mesma forma, o texto “A Ordem Ambiental Internacional” possui
intertextualidade com a obra de Carlos Walter Porto-Gonçalves, “ A Globalização da
Natureza e a Natureza da Globalização”, pois ambos acreditam que o desenvolvimento
sustentável é um termo contraditório, já que o desenvolvimento econômico é fruto da
dominação e do uso dos recursos naturais, finalizando, portanto, com a ideia de que o
sistema socioeconômico vigente se faz incompatível à preservação da natureza. Como
enfatizado por Ribeiro, as medidas até então têm abordado soluções para os efeitos,
ignorando as causas de tamanha defasagem ambiental.