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Maria Claudia Baima MUITO BARULH Dos corredores da faculdade as raves.e danceterias, os jovens vivem num mundo dominado pelo ruido - e ouvem cada vez pior noticia preocupante.Nossosjovenspodem chegar chamada terceiraidade com a.au digio comprometida por causa dos hibitos nocivos quecultiva novo, io ano 2000, fonoaudisloga Ana Cliudia Fiorini, doutora pela Faculdade de Sate Publica da Universidade de Sio Paulo (FSP-USP),realizava testes de audiometria tonal (ya oquadro superior dap. 43) com 853 universits rios em Sio Paulo obtinha resultados inguietantes. Nada ‘menos de 20,5% tinham a capacidade auditva alterada, dos quai 1369 apresentavam perda auditva induzida por ruido, Outra pesquisa de sua autora, de 1998, mostrou ais sobre esse fendmeno no ambito do ensino superior. Entre os 90 docentes e 900 alunos entrevistados ela apu rou que 73.3%, no primeito grupo, ¢ 63,99, no segundo, tinham conhecimento dos danos do rudo paraa said. ora, Eoalerta nao é grande parte desses entrevistados achava, sim, que a uni versidade é um ambiente ruidoso. ““Existe uma moda perigosa entre os jovens de ouvir sons emalto volume. O ruido é como uma droga que vicia esnesse ponto,a situa seinverte,o silencio éque passa a incomodar’, afirma Alice Penna de Azevedo Bernardi fonoaudidloga docente do Centro de Especializagio em. Fonoaudiologia Clinica (Cefac). Ela e Cléudia Martine, também fonoaudiloga, fizeram uma pesquisa com gar- ons e freqiientadores de bares noturnos. As respostas de ambos foram diferentes do esperado. Os usuarios aceita- riam de bom grado um volume mais baixo para conversar sem gritar e as gargons gostavam do som alto porque esti- ‘mulava a jornada de trabalho atéa madrugada. Esse aspectoestimulante do som écitado em estudo de Pimentel e Souza, de 1992, que descreve 0s efeitos estressantes do ruido no corpo. Segundo os autores, 0 cérebro libera substincias excitantes sob condigdes rui- dosas.O individu ‘motivagdo propria e torna Hide L iyo ‘t ha | se incapaz de suportar o silencio, chegando a ficar deprimido em am. biente silencioso. E 0 aspecto viciante do som que faz muitas pes soas s6 conseguirem dormir com 0 ridio ow TV ligados. Na hora do lazer, as opses confirmam a tendéncia so sempre barulhentas: discotecas, shows, bares e restaurantes. Para muita gente, € habito comegar o dia ligando o som do carro, atravessar avenidas infernais, trabalhar © dia todo com 0 walkman ligado e sara noite para dancar em ambientes em que a intensidade sonora igual ao ron- co de um avido, por volta de 115 ou 220 decibéis (4B) Pela legislago trabalhista, o maximo de exposigao per mitida a sons de 115 dB é de 7,5 minutos. O ag que os danas comegam antes que se tenha consciéncia do incdmodo, Na maior parte do tempo os moradores de grandes centros sio bombardeados pelo chamado ruido crdnico, aquele que fica © tempo todo ao fundo, como uma sala de aula barulhenta, O ruido considerado agudo ‘ou intenso ¢ forte acaba logo, como a explosdo de uma ‘bombs, oestouro de uma bex 2,0 larme (nao raro,fal- so) decarras ou mesmo. ano de descarga de uma moto, EFEITOS NO CORPO INTEIRO No més de agosto, aconteceu no Brasil, pela pri meira vez, 0 Congresso Mundial Internoise, levado a cabo no Rio de Janeiro, Os trabalhos apresentados de- ‘monstram forte preocupacao dos profissionais da rea em estabelecer relagdes entre o incémodo causado pelo rruido e diferentes formas de doengas. Uma pesquisa ‘na Alemanha, por exemplo, mostrou maior ocorréncia de infarto em populagdes expostas a ruidos. Trilego, trugdes, vides ~ componentes basicos do manto sonoro que encobre uma cidade grande — podem pro: vocar lesdes que vo bem além da regio dos ouvides, Osestudlos garantem que ruidos acima de 60 dB preju: ddicam a capacidade de desempenhar trabalhos men: taisqueexi dor de cabeca,ins6nia, desequilibrio hormonal, angi tia, iritabilidade, 2umbido, falta de concentragao e to smatengo econcenttragio. Sintomas como dos os predicados do estresse como vasoconstrigdo, a mento dos batimentos cardiacos e distirbios gastroin: testinais, entre a turma dos universitarios, podem ser resultado de uma overdose de ondas sonora. O lado bom dessa historia é que dirigentes de empre: sas e profssionais da educagao comesam a considerar 0 tratamento aciistico no projeto de construsio deescolas-e tniversidades. “Temos um estudo arquitetOnico que bus ca avaliar a performance de materais’ firma a arquiteta Deise Marques Arai Universidade Anhembi Morumbi, em Sio Paulo. “Nas assessora de obras ¢ projetos da csquadrias usamos vidros laminados para vedagao de ru dos externos e internos. No forro, utilizamos um material que absorve os. sons ¢ também uma dea de gesso. 180 permite a melhor propagagio da voz do professor dentro dasala deaula. As paredes tém estrutura estanquee, quan do sio divisorias, possuem manta actistica interna.” Ja a Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), também em 1 Afastar-se do barulho o maximo possivel. No comeco essa atitude pode despertar estranhe- 2a nos outros, mas o ruido é como fumaga de Cigarro —lembre que um da ja fot chique furmar 1m Usar protetor auditivo individual em lugares de muito barulho como academias de ginds: tica, festas, estadios, escritérios de telemar- keting, shoppings ete. | Habituar-se a ouvir TV em volume mais baixo, lm Buzinar 0 minimo possivel, em toques bre ves, © néo usé-la para chamar uma pessoa que esta em casa, prefira descer do carro 6 tocar a campainha. lm Conversar com as pessoas sobre o problema 4 ido, informar 0 plblico ¢ tomar medidas de protecao geral 'm Evitar sons mecanicos e eletrOnicos, dando preferéncia a sons naturais (disponiveis em CD) como o do vento, gua corrente, Ana Cléudia mede 0 Paulo, adotou medidas dlferentes para cada um dos trés ‘stmpique, juntos abrigam 17 mil alunos. principal de ride de rua de Sé0 las foi um signficativo recuo da Regente Feijé,a sempre Poulo: vivemos num movimentada avenida de acesso a uma dessas unidades, mundo-barylhento No caso do campus Anlia Franco, 0s edificios reforma: ds tém janelas de vidro duplo e os rises (do francés brise-solei) de madeira na frente das janelas atenam os, ruidosexternos. As paredes de yess s20 preenchidas com a de lade rocha e as méquinas de ar condicionado foram revestdas com pi ments vedados com portas actisticas, (Outra iniciativa partiu da Comissao de Rusdlos da Pontificia Universidade Catdlica de Sio Paulo (PUC SP), formada por professores de todos 0s cursos, fun is de espuma, em compart cionarios e alunos. Ela promoveu importantes refor ‘mas na tentativa de minimizar os raids internos. De pois de amplo debate pela intranet, os passos ¢ conver sas de alunos nos corredores foram considerados a maior fonte de ruido. A solugio ma trugio de pragas de alims dar votada foi a cons ago no térreo e no 5* an. estimulando 0 esvaziamento dos corredores. INCOMODO x VICIO Sob o ponto de vista médico, ride ¢ todo barulho: indesejavel - conceito, de resto, bastante discutivel, na medida em que envolve gostos pessoais, Mesmo assim, no é dificil admitirse que o barulho intenso, de fato, incomoda muita gente, O choro de crianga, por exem: plo, pode até nem ser tao forte, mas mesmo assim caut= (© médico francés Alfred Tomatis tam um trabalho revolucionéro sobre a aprendizagem e audigéo, Basea- {do no fato de que todos 08 caminhos nourais lavam ao ouvido, Tomas criou um tratamento terapéutico que promave o equillbrio emocional do paciente. O método Tomalis, seguido por educadores © méaieos no mundo intero, inclusive no Brasil, consiste em estimular 0 ouvido com o que ele chamou de “ouvide eletrnieo”. Com musica erudita, de preferéncia Mozart ou cantos gregorianos, o método trata criangas com dficuldades motoras, atrasos de inguagem, problemas de articulagao do palavras e ificuldades de letura, eseritae aprencizagem, e alteragies de comportamento. Os adultos se beneficiam do método para tratar problemas de concentracdo, ‘atengao e aprendizagem,incluindo a depressao. A lagica da terapia de Tomatis esta centrada em um dos 12 nerves cranianos, o nervo vago. Esse nervo mede cerca de 55 cm de comprimento, nos adultos, e tem intima ligagao com os timpanos. Tem sido poca importante nos estudos sobre epilepsia, pois passa por quase toda ‘a parte superior do corpo humana. Quando dizemos “Sou todo ouvidos", quarenio dara entender que estamos atentos a fala de alguém, ndo estamos apenas usando uma metéfora. Tomatis abservou que os sons estimu lam as redes neurais que organizam o oérebro e funcionam como nutrientes vita para seu desenvolvimento, Em sua terapia o paciente toma um auténtico“banho de som’. No caso, por exemplo, do canto gregoriano, as vvozes tenores ressoam nos ossos do corpo amplificando a vibraco sonora e energizam o oérebro. De onde ‘58 supde que o som esté para o sistema narvoso assim como a comida esta para o corpo,

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