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Oposição consoantes surdas / consoantes sonoras

As consoantes que apresentam bloqueios ou constrições à passagem livre do ar através da boca são
as oclusivas – que têm uma obstrução à passagem do ar causada pelos articuladores (lábios ou
língua) – e as fricativas – cuja pronúncia mostra uma constrição ou fricção também causada pelos
articuladores. Tanto o bloqueio como a constrição ocorrem no ponto de articulação das consoantes
que, por isso, se denominam bilabiais, dentais, palatais ou velares conforme os articuladores que
entram na sua pronúncia e conforme o ponto em que toca a língua.
Em Português, são oclusivas as consoantes /p, t, k, b, d, g/ e fricativas as consoantes /f, v, s, z, S, Z/.
Tanto as oclusivas como as fricativas podem ser pronunciadas sem vibração das cordas vocais (ver
figura 4.a.) ou com vibração (ver figura 4.b.). Se as cordas vocais se mantiverem tensas, sem
vibração, as consoantes são surdas (/p, t, k, f, s, S/). Se vibrarem, são sonoras (/b, d, g, v, z, Z/).
A oposição surda / sonora em consoantes oclusivas e fricativas é distintiva em Português, isto é,
contribui para alterar o significado como se pode ver pelos pares de palavras pato / bato, tom / dom,
cacto / gato, faca / vaca, selo / zelo, chá / já. Mas esta oposição não existe em todas as línguas. No
que respeita às línguas analisadas, o Guzerate possui todos os pares de oclusivas (p/b, t/d e k/g) mas
nenhuma oposição nas fricativas e o Mandarim só possui oclusivas e fricativas surdas. Em
consequência ocorrem muitos erros nas representações escritas dos alunos indianos e chineses:
estúpido *estupito, garfo *carfo, vou * fou.
(In: Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa 5)

A vibração das cordas vocais não pode observar-se directamente como se observa o ponto de
articulação ou mesmo o modo de articulação, visto que esses músculos se encontram na glote,
orifício localizado na laringe. Mesmo assim, é possível sentir, pondo um dedo junto da “maçã de
Adão”, uma certa vibração interna quando se pretende pronunciar uma consoante sonora, o que não
acontece se o esforço for feito para pronunciar uma surda. Veja-se as figuras 4.a. e 4.b. que
representam as cordas vocais sem vibração (4.a.) e com vibração (4.b.).
Fig. 4.a. Cordas vocais sem vibração Fig. 4.b. Cordas vocais com vibração
Fonte: Fonética e Fonologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta, p. 69
Por que é que é importante ler em voz alta?

Estranho desaparecimento o da leitura em voz alta. O que teria Dostoievski pensado disto? E Flaubert? E o
direito de se colocar as palavras na boca antes de as introduzir na cabeça? Mais, no ouvidos? Mais, na música?
Mais, no gosto pelas palavras? E depois, ainda que mais? Será que Flaubert não berrou contra isso até furar os
tímpanos da sua Bovary? Será que ele não está definitivamente mais bem colocado que qualquer outro para
saber que a inteligibilidade do texto passa pelo som das palavras, as quais fundem todo o seu sentido?... O
quê, textos mudos por puros espíritos? Socorro Rabelais! Socorro Flaubert! Dosto! Kafka! Michaux! Socorro!
Gigantescos vociferadores de sentido, aqui, imediatamente! Vinde soprar nos nossos livros! Os vossos livros
necessitam de corpos! Os vossos livros necessitam de vida!

PENNAC, Daniel — Como um Romance Asa


Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis,
sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma
espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos
verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand,
fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer
inatingível que estou tendo.

(Data presumível de 1931)

PESSOA, Fernando — Livro do Desassossego, Por Bernardo Soares, Europa - América

Exercícios de articulação

Vibrantes: [R] [r]


1 —"O rato roeu a roupa do rei de Roma;
a rainha com raiva resolveu remendar."

2 —"O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia."

3 —"Um ninho de carrapatos, cheio de carrapatinhos, qual o bom carrapateador que o descarrapateará?"

4 —"Esta burra torta trota. Trota trota, a burra torta. Trinca a murta, a murta brota. Brota a murta ao pé da
porta."

5 —"Três pratos de trigo para três tristes tigres."

6 —"Um tigre, dois tigres, três tigres comem trigo de um trago."

7 —"O original nunca se desoriginou e nem nunca se desoriginalizará."

Fricativas surdas: [∫] [s] [f]


8 —"Qual é o doce que é mais doce que o doce de batata doce?
Respondi que o doce que é mais doce que o doce de batata doce
é o doce que é feito com o doce do doce de batata doce."

9 —"Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se
somos sábios,sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores."

10 —"A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia assobiar."

11 —"Tecelão tece o tecido


Em sete sedas de Sião<br>Tem sido a seda tecida
Na sorte do tecelão."

12 —"Olha o sapo dentro do saco


O saco com o sapo dentro
O sapo batendo papo
E o papo soltando vento."

13 —"No morro chato tem uma moça chata, com um tacho chato no chato da cabeça. Moça chata, esse tacho
chato é seu?"

14 —"A fiadeira fia a farda do filho do feitor Felício."

Lateral: [λ]
15 —"O filho do milhafre mergulhou no milho molhado."
/lh/

Para a articulação do som /lh/ a língua recua a sua ponta ligeiramente e arqueia o seu
dorso na frente e no centro, em direcção ao palato.

Exercício:
O palhaço orelhudo por galhofa empilhou na cangalha de palha de cambulhada com a
colheita de milho, as colheres folheadas do velho recolhido na ilha.

/nh/

na emissão do /nh/ a língua encosta toda a parte anterior do seu dorso no palato e a sua
ponta nos alvéolos dos incisivos inferiores.

Sem nenhum medo o gatinho da sinhazinha em luta renhida afocinhou o sanhaço que
tinha o seu ninho no espinheiro. Acanhado com o nhenhenhém do Nhonhô, deu seu
quinhão ao nhandu.

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