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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI


DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA, URBANISMO E ARTES APLICADAS

Tijolo de solo-cimento na construção civil: sustentabilidade aliada à economia

MYLENA BEATRIZ IRWING SILVA

São João del-Rei, Junho de 2018


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MYLENA BEATRIZ IRWING SILVA

Tijolo de solo-cimento na construção civil: sustentabilidade aliada à economia

Trabalho Integrado feito como exigência para o curso


de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
de São João del-Rei.

São João del-Rei, Junho de 2018


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4
2 HISTÓRIA .................................................................................................................. 4
3 O TIJOLO DE SOLO CIMENTO ............................................................................ 5
4 FABRICAÇÃO ........................................................................................................... 6
5 ANÁLISE DE SUAS VIABILIDADES .................................................................... 8
5.1 Viabilidade técnica ..................................................................................................... 8
5.2 Viabilidade econômica ............................................................................................... 8
5.3 Viabilidade sustentável .............................................................................................. 9
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 9
7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 10
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1 INTRODUÇÃO

A produção de tijolos solo-cimento é considerada, hoje em dia, um dos melhores recursos


técnicos e minimizadores de impactos ambientais no ramo da construção civil, visto que,
quando aplicado em grande escala, o produto auxilia na atenuação do consumo de recursos
naturais, como a madeira e a argila.

As características técnicas do mesmo também se apresentam bastante vantajosas, de modo


que a mercadoria exibe uma alta durabilidade e baixa demanda de manutenção das
edificações construídas com o mesmo. De acordo com Ferreira (2003), o produto também
apresenta vantagem em seu processo produtivo, no qual são utilizados equipamentos e
maquinários simples, de pequeno porte e baixo custo. Dessa forma, o tijolo solo-cimento,
também popularmente conhecido como tijolo ecológico, apresenta vantagens desde a sua
fabricação até a fase final de obra.

Portanto, abordando o tema da introdução do tijolo solo-cimento na construção civil, o


presente trabalho busca conhecer de maneira mais aprofundada, através de visita à uma
fábrica da área, o processo de fabricação do produto e também avaliar suas viabilidades
técnicas, econômicas e ambientais, sendo ele utilizado em pequena ou grande escala.

2 HISTÓRIA

O tijolo de solo-cimento, atualmente conhecido como tijolo ecológico, é resultante de um


processo evolutivo das técnicas de construção civil no decorrer dos milhares de anos que
apresentavam métodos iguais ou semelhantes ao usado nos dias atuais, como é o caso da
Muralha da China, erguida com técnicas de solo compactado há mais de dois mil anos.

Nos Estados Unidos, o uso do solo-cimento apresenta grande aplicação no ramo da


construção civil e na construção de bases e sub-bases de pavimentos de estradas desde o
início do século XX, entretanto, as primeiras pesquisas que abordavam o emprego de
determinado material surgiram somente em 1935, junto a PCA (Portland Cement
Associantion).

Em meados da década de 40, os tijolos de solo-cimento começaram a ser utilizados no


Brasil, especificamente na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, onde os tijolos
foram empregados na construção das casas do Vale Florido na Fazenda Inglesa (figura 1).
Posteriormente, em 1953, o material também se mostrou presente na edificação do Hospital
Adriano Jorge em Manaus (figura 2).

Porém, foi a partir dos anos 60 que o solo-cimento passou a ser estudado com maior
abrangência no país – através do incentivo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado
de São Paulo (IPT) e da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) -, sendo assim,
somente na década de 70, com o auxílio técnico do engenheiro Francisco Casanova, que os
tijolos passaram a ter maior aceitação e utilização nas construções brasileiras.
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Figura 1: casas do Vale Florido em Petrópolis/ RJ. Figura 2: Hospital Adriano Jorge em Manaus/ AM.

Fonte:https://imoveis.mitula.com.br/imoveis/vale-florido-petropolis Fonte: http://www.pedrinhoaguiar.com.br

3 O TIJOLO DE SOLO CIMENTO

O crescimento exponencial da construção civil foi um dos maiores motivadores no


desenvolvimento de uma melhor consciência ambiental, visto que, tal área é responsável
por ser uma das maiores consumidoras de matérias-primas naturais. Além disso, a
construção civil também se apresenta como a maior geradora de resíduos de toda a
sociedade. De acordo com John (2004), o volume de entulho gerados na construção e
demolição das obras chega a ser até duas vezes maior que o volume de lixo sólido urbano.
Sendo assim, Pinto (1999) afirma que a carência por uma maior preservação ambiental e a
predisposição da escassez dos recursos naturais fazem com que o ramo da construção civil
passe a experimentar novos conceitos, almejando sempre soluções técnicas que visem à
sustentabilidade de suas atividades.

Nesse sentido, umas das tecnologias a serem adotadas no mercado atual é o uso do solo para
a confecção de tijolos, em que o processo é basicamente feito pela mistura de solo, cimento
e água, sendo posteriormente compactado e curado à sombra. Portanto, o tijolo em questão
torna-se uma considerável opção devido à sua matéria prima que segundo PISANI (2005,
p.53), “é abundante em todo o planeta, não gasta energia para ser queimado e possui
características isolantes”, dessa forma, promove-se uma maior economia energética tanto
na fabricação quanto no condicionamento de ambientes confortáveis.

Além disso, determinado material garante outras vantagens, sendo elas, uma maior
facilidade no assentamento, uma vez que os tijolos possuem encaixes perfeitos (figura 3) e
podem ser aplicados com cola PVA ou argamassa comum, tornando o processo mais rápido
e prático e gerando obras mais organizadas e livres de entulhos e desperdícios. Na parte
estrutural do projeto, é descartado o uso de madeiras para a composição das caixarias, em
razão de que os dutos que se formam no assentamento são preenchidos com concreto,
formando as colunas estruturais por toda a obra (figura 4). Os dutos que se formam durante
o assentamento e não são concretados formam os condutores para a rede elétrica e hidráulica
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(figura 5), evitando assim, a quebra de paredes como nas obras convencionais. Estes
mesmos dutos permitem que o ar fique em constante movimento na parte interna das
paredes promovendo conforto térmico e acústico para as edificações (figura 6).

À vista disso, a utilização de tijolos solo-cimento resulta em uma obra mais barata, podendo
chegar a 40% de economia, segundo Teixeira (2012). Dessa forma, o emprego deste
determinado material torna-se uma boa alternativa para a construção das mais variadas
tipologias de residências, mas, principalmente, para a construção de casas populares.

Figura 3: Encaixes dos tijolos solo-cimento. Figura 4: Colunas estruturais.

Fonte: https://www.ecycle.com.br Fonte: https://ecomaquinas.com.br/index.php/bra/tijolo-ecologico

Figura 5:Rede elétrica e hidráulica nos dutos.

Fonte: https://www.tijolosolocimento.com.br/2013/07/

Figura 6:Conforto térmico e acústico nas edificações.

Fonte: https://ecomaquinas.com.br/index.php/bra/tijolo-ecologico-quais-as-vantagens

4 FABRICAÇÃO

Em visita a fábrica Ecoforte Tijolos Ecológicos no bairro Matosinhos em São João del Rei,
tornou-se possível um melhor entendimento sobre o processo de fabricação de tijolos de
solo-cimento.

Os tijolos podem ser produzidos por meio de prensas manuais ou motorizadas, como é o
caso da fábrica visitada, tais prensas possuem capacidade de execução de 800 a 1500 tijolos
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por dia. Os maquinários utilizados apresentam pequeno porte, portanto, a área mínima para
sua instalação é de quatro a sete metros quadrados.

O primeiro passo no processo de fabricação do tijolo deve ser uma análise minuciosa do
solo, que deverá atender a alguns requisitos como, possuir uma boa resistência mecânica e
impermeabilidade, para garantir a excelência do produto final. Portanto, o solo deve
apresentar mais de 60% de areia e não conter pedregulhos, sujeiras e materiais orgânicos
em excesso. Para atender a tais exigências o solo deve passar por uma peneira de quatro
milímetros (figura 7).

Logo após o processo de peneiragem, o material passa para a fase de amassamento, no qual
o solo peneirado é misturado na betoneira com o cimento e a água potável (figura 8),
podendo incluir também nessa etapa corantes, para um melhor resultado estético.
Posteriormente, a massa é destinada à fase de moldagem passando pelo maquinário de
prensa (figura 9), onde o tijolo solo-cimento ganha a sua forma, sendo as formas mais
comuns:

• Tijolo convencional com dois furos;


• Meio tijolo convencional com um furo;
• Tijolo com encaixes macho e fêmea;
• Tijolo maciço;

Por fim os tijolos são levados à fase de cura, onde são empilhados (figura 10). A área de
estocagem deve estar totalmente nivelada e não sofrer ação do vento e sol. Durante os sete
primeiros dias de cura é necessário irrigar água sobre os tijolos, mantendo-os umedecidos.
Após esse período o tijolo já apresenta resistência entre 60 a 65%, porém, somente após 28
dias que a cura estará completa, permitindo assim, o transporte e utilização do mesmo.

Figura 7:Peneira de terra e areia. Figura 8:Misturador de solo, cimento e água potável.

Figura 9:Prensa de tijolos. Figura 10:Tijolos em processo de cura.


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5 AVALIAÇÃO DE SUAS VIABILIDADES

5.1 VIABILIDADE TÉCNICA

Conforme todos os materiais empregados na construção civil, espera-se que o tijolo solo-
cimento garanta segurança e funcionalidade na obra. Com isso, é necessário que tal produto
atenda estritamente à norma da ABNT NBR-8492 (ABNT, 1982), que determina a
resistência à compressão e à absorção de água.

Deste modo, por meio da análise de determinada lei, pode-se concluir que o tijolo solo-
cimento se apresenta mais resistente do que o tijolo de alvenaria convencional, o qual possui
resistência de 20kgf/cm². Além disso, seu resultado de absorção de água é de 15,32% menor
que a de um tijolo tradicional, que é de 45,388% (MOTTA et al., 2014).

Conforme Souza (2011), testes aprovam que a mistura de solo-cimento é submetida à


compactação num teor de umidade ótimo para obtenção de máxima densidade, de modo a
formar um material estruturalmente resistente e durável. Dessa forma, o tijolo se torna apto
a atender aspectos importantes da construção civil, em virtude de sua elevada resistência e
boa impermeabilidade, que transforma as construções com ele executadas muito mais
duráveis, reduzindo assim, as necessidades de manutenção.

5.2 VIABILIDADE ECONÔMICA

Um dos maiores desafios presentes na construção civil é o de conciliar praticidade com


economia de custos em uma obra, sendo que, a escolha de técnicas e materiais a serem
utilizados é, na maioria das vezes, influenciada pela economia oferecida pelos mesmos.

Diante disso, o tijolo solo-cimento apresenta-se no mercado proporcionando qualidade,


segurança, beleza e, sobretudo, economia no custo total da obra, tornando-se uma potencial
alternativa.

De acordo com o gerente de projetos Ruston Albuquerque, a unidade de tijolo solo-cimento


ainda é mais cara do que a convencional, sendo que a mesma sai ao consumidor por cerca
de R$0,90, enquanto o tijolo tradicional custa R$0,75. Entretanto, ele afirma que tal
diferença é compensada, visto que, os tijolos de solo-cimento dispensam a utilização de
argamassa para seu assentamento, revestimentos – como reboco-, e acabamento de paredes,
além de proporcionarem uma maior agilidade na obra, devido aos seus encaixes que
facilitam o alinhamento e prumo das paredes.
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Tais peculiaridades do produto resultam em um processo construtivo mais economicamente


viável, principalmente, com a considerável redução de materiais caros, como brita,
madeiras, ferragens e maior demanda de mão de obra. Além de tudo, Dos Santos (2013)
afirma que uma maior utilização do tijolo solo-cimento contribuirá maciçamente na
economia do país, tendo em vista o reaproveitamento de matérias vegetais descartáveis,
pois é um produto que possui as características de ser durável e resistente, além do baixo
custo e potencial de aplicabilidade na construção civil no que se refere à construção de
moradias populares.

5.3 VIABILIDADE SUSTENTÁVEL

Tendo em vista que a construção civil é uma das maiores consumidoras de matérias-primas
– utilizando entre 20 e 50% do total consumido pela sociedade -, e que a mesma tem gerado
uma grande parcela de resíduos sólidos em seus processos produtivos, pesquisadores,
arquitetos e engenheiros buscam constantemente soluções construtivas que visam a
sustentabilidade.

Com isso, o tijolo solo-cimento ganha um destaque significativo na área, uma vez que o
produto não emprega a queima de biomassa em seu processo de cura, sendo assim, são
poupadas grandes quantidades de madeiras, o que sugere que, de forma indireta, a
fabricação do tijolo está relacionada com a preservação dos solos e recursos naturais.

Outra vantagem ecológica do solo-cimento é a redução dos desperdícios, o que resulta em


uma obra mais limpa e organizada, podendo economizar até 15% se comparada à alvenaria
tradicional. É relevante salientar também que, materiais considerados entulhos em obras
convencionais podem ser reutilizados como parte da composição base do tijolo, caso atenda
à análise realizada previamente à fabricação dos mesmos.

6 CONCLUSÃO

A partir do conhecimento alcançado através de pesquisas e visita à fábrica Ecoforte Tijolos


Ecológicos, identifica-se um consenso quanto a viabilidade do emprego do tijolo solo-
cimento na construção civil como um método mais eficiente e sustentável.

Além disso, o produto possui diversas vantagens, apresentando grande facilidade de


manuseio, agilidade, durabilidade e economia de gastos e materiais adicionais. Já na
temática social, também se mostra como um ótimo potencial para a edificação de moradias
populares, sendo que, torna-se possível que o governo construa mais gastando verbas
significantemente menores, ao mesmo que o uso de tijolos solo-cimento revoga o uso de
ferragens, caixarias e pregos.

Com isso, um maior incentivo a novas pesquisas na área técnica de produção dos mesmos
torna-se imprescindível, sendo que, um aumento na demanda por tijolos resultaria também
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em uma maior necessidade de evolução da tecnologia dos maquinários utilizados hoje em


dia, tendo em vista que os mesmos produzem cerca de somente 500 a 2000 unidades por
dia. Dessa forma, somente com um maior conhecimento técnico, seríamos capazes de
introduzir o produto massivamente no mercado da construção civil.

7 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8492: Fabricação de tijolo


maciço de solo-cimento com a utilização de prensa manual: Referências: Elaboração. Rio de
Janeiro, RJ 1989. 3p.

DOS SANTOS, C. W.; SUZART, P. V.; SILVA, F. N. Tendências tecnológicas para o


processo de preparação de compósito à base de solo-cimento e fibra de bananeira para
fabricação de tijolos e tecnologias correlatas através da pesquisa em documentos de
patentes. Bahia: Cadernos de Prospecção, p. 36-44, 2013.

FERREIRA, R. C.; SILVA, E. M.; FREIRE, W. J. Tijolos Prensados de solo-cimento em


alvenaria aparente auto-portante no “Conjunto Nossa Morada”, Goiânia-GO. In:
ECONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS, 3,
2003, São Carlos. Anais...São Paulo (s.n.), 2003.

JOHN, V. M.; A Construção, o Meio Ambiente e a Reciclagem. 2004. Disponível em: <
http://www.reciclagem.pcc.usp.br/a_construcao_e.htm >.

MOTTA, Jessica Campos Soares Silva. Tijolo de solo-cimento: análise das características
físicas e viabilidade econômica de técnicas construtivas sustentáveis. Belo Horizonte,
2014.

PINTO, Tarcísio De Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da


construção urbana. São Paulo, p. 1-218, 1999.

PISANI, J. M. Um material de construção de baixo impacto ambiental: o tijolo de solo


cimento. São Paulo: Sinergia, p. 53-59, 2005.

SILVA, Fabio Henrique Rodrigues Ferreira E. Uso do tijolo ecológico para trazer economia
para construção civil. Brasília, 2015.

SOUZA, C. T.; NUNES, A. G.; SOARES, M. J. Análise preliminar da resistência à


compressão de tijolos ecológicos fabricados no município de Ipaba. Santa Catarina, p. 48-
61, 2011.
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TEIXEIRA, M. F.; REIS, S. A.; FIGUEIREDO, F. M. O uso de resíduos lignocelulosicos na


produção de tijolos de adobe. Rio Grande do Sul: 3º Congresso Internacional de tecnologias
para o Meio Ambiente, 2012.

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